MULHERES NEGRAS NÃO FORAM FEITAS PARA CARREGAR LIVROS: TENSIONAMENTO E RESPOSTA SOCIAL EM REDE NA FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO NO PARÁ

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21728/logeion.2019v6n1.p106-125

Palavras-chave:

Feira Pan-Amazônica do Livro do Pará. Resposta Social. Ativismo Digital. Racismo Institucional. Colonialidade.

Resumo

Este trabalho analisa a repercussão social do cartaz do “Salão do Livro da Região Sul e Sudeste do Pará”, evento da Feira Pan-Amazônica do Livro de 2018, para compreender como o processo de resposta social (BRAGA, 2006) impôs uma mudança institucional por parte da Secretaria de Cultura do Estado. O país homenageado foi a Colômbia e a peça de divulgação destacava uma mulher negra carregando livros na cabeça, representação das palenqueras. O fato gerou repercussão nas redes sociais e na mídia local e nacional. Os protestos voltaram-se contra a reiteração de uma imagem que inferioriza as mulheres negras, reproduzindo colonialidades de gênero, poder e saber. O corpuscompõe-se de postagens no Facebooke de matérias jornalísticas veiculadas em abril de 2018. Duas técnicas metodológicas foram usadas: a netnografia (RECUERO, 2012; KOZINETS, 2014) e a aplicação de um questionário online, por meio do Facebook Whatsapp.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do autor

Rosaly de Seixas Brito, Universidade Federal do Pará

Professora da Faculdade de Comunicação (Facom) e do Programa de Pós-graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom), da Universidade Federal do Pará. Líder do grupo de pesquisa Comunicação, Política e Amazônia (Compoa) e membro do grupo de pesquisa Observatório de Comunicação, Culturas e Resistências na Pan-Amazônia

Lorena Cruz Esteves, Universidade Federal do Pará

Doutoranda do Curso de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia, da Universidade Federal do Pará (PPGCOM/UFPA). Integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Política e Amazônia (Compoa) e do grupo de pesquisa Observatório de Comunicação, Culturas e Resistências na Pan-Amazônia. 

Jússia Carvalho da Silva Ventura, Universidade Federal do Pará

Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA) e Professora do curso de Comunicação Social, da UFPA. Integrante do grupo de pesquisa Interações e Tecnologias na Amazônia (ITA) e do grupo de pesquisa Comunicação, Consumo e Identidade (Consia). 

Referências

AMADOR DE DEUS, Zélia. Espaços africanizados do Brasil: algumas referências de resistências, sobrevivências e reinvenções. Revista Eletrônica: Tempo-Técnica-Território, v. 3, n. 2, p. 059-071, 2013.

AMARAL, Adriana; NATAL, Geórgia; VIANA, Lucina. Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Cadernos da Escola de Comunicação, v. 1, n. 6, 2017.

ARAGÓN, Luis Eduardo. A dimensão internacional da Amazônia: um aporte para sua interpretação/The international dimension of the Amazon: a contribution for its interpretation. Revista Nera, n. 42, p. 14-33, 2018.

BALLESTRIN, Luciana Maria. Feminismos subalternos. Estudos Feministas, v. 25, n. 3, p. 1035-1054, 2017.

BASTHI, Angélica. Guia para Jornalistas sobre Gênero, Raça e Etnia / Angélica Basthi (organização e elaboração) Brasília: ONU Mulheres; Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia (Fundo de Alcance dos Objetivos do Milênio, F-ODM), 2011.

BIROLI, Flávia. Divisão sexual do trabalho e democracia. Revista Dados de Ciências Sociais, v. 59, n. 3, p. 719-754, 2016.

BRAGA, José Luiz. Circuitos versus campos sociais. In: MATTOS, Maria Ângela; JANOTTI

JUNIOR, Jeder; JACKS, Nilda. Mediação & midiatização. EDUFBA, 2012.

______. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática. Paulus, 2006.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 Jun 2018.

______. DECRETO-LEI N.º 5.452, de 1º de maio de 1943, aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 03 Jun 2018.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, v. 49, p. 49-58, 2003.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Zahar, 2017.

CASTRO, Edna. Territórios em transformação na Amazônia - saberes, rupturas e resistências / Edna Maria Ramos de Castro - organizadora. – Belém: NAEA, 2017.

CAVALLINI, Marta. Mulheres ganham menos que os homens em todos os cargos e áreas, diz pesquisa. G1/Economia. Publicado em: 07/03/2018. Atualizado em: 07/03/2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/mulheres-ganham-menos-que-os-homens-em-todos-os-cargos-e-areas-diz-pesquisa.ghtml>. Acesso em: 02 Jun 2018.

CONRADO, Mônica; CAMPELO, Marilu; RIBEIRO, Alan. Metáforas da cor: morenidade e territórios da negritude nas construções de identidades negras na Amazônia paraense. Afro-Ásia, n. 52, p. 213-246, 2015.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução Heci Regina Candiani. - I. ed. - São Paulo: Boitempo, 2016.

DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil / Mary Del Priore (org.); Carla Bassanezi Pinsky (coord. de textos) 10 ed., 1ª reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2011.

FAUSTO NETO, Antonio. As bordas da circulação. Alceu. Rio de Janeiro, v.10, n. 20, jan-jun 2010, p. 55-69. ISSN 1518-8728 (Impresso) ISSN 2175-7402 (On-line).

_______. Fragmentos de uma «analítica» da midiatização. Matrizes, v. 1, n. 2, p. 89-105, 2008.

G1/PA. Feira do Livro 2019 vai homenagear Zélia Amador de Deus e João de Jesus Paes Loureiro. Publicado em 22 abr 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/04/22/feira-do-livro-2019-vai-homenagear-zelia-amador-de-deus-e-joao-de-jesus-paes-loureiro.ghtml>. Acesso em 12 jul 2019.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, v. 2, n. 1, p. 223-244, 1983.

JANOTTI JR, Jeder; JACKS, Nilda (Org.) Mediação & midiatização (Livro Compós). Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós, 2012, p. 32-53;

KOZINETS, Robert. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Porto Alegre: Penso, 2014.

LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Edgardo Lander (org). ColecciÛn Sur Sur, CLACSO, Ciudad AutÛnoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, 2005.

LOPES, Cristiane Maria Sbalqueiro. Direito do trabalho da mulher: da proteção à promoção. Cadernos Pagu, v. 26, n. 1, p. 405-430, 2006.

LUGONES, María. Coloniality and gender. Tabula rasa, n. 9, p. 73-102, 2008.

_______. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, v. 22, n. 3,

MATTA, Maria Cristina. De la cultura masiva a la cultura mediática. Diálogos. N.56, Lima: Felafacs, 1999.

MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, p. 71-103, 2005.

RECUERO, Raquel. Jogos e práticas sociais no Facebook: Um estudo de caso do Mafia Wars. Realidade Sintética: Jogos Eletrônicos, Comunicação e Experiência Social. São Paulo: Scortecci, 2012.

SANTINI, Rose Marie; TERRA, Camyla; DE ALMEIDA, Alda Rosana Duarte. Feminismo 2.0: a mobilização das mulheres no brasil contra o assédio sexual através das mídias sociais (# primeiroassedio). P2P e Inovação, v. 3, n. 1, p. 148-164, 2016.

SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho. Petrópolis: Vozes, 2010.

________. Sobre a episteme comunicacional. MATRIZes. N.1, São Paulo, outubro de 2007, p. 15-26;

_______. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In: MORAES, Denis. Sociedade midiatizada. Mauad, Rio de Janeiro, 2006.

VAZ, Paulo. Prefácio. BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática. São Paulo: Editora Paulus, 2006, p. 13-18.

WAINBERG, Jacques. As redes e os protestos sociais: A difusão da mensagem dissidente. Reinvenção comunicacional da política: Modos de habitar e desabitar o século XXI. Brasília: Compós, 2016.

Matérias analisadas

CARAJÁS O JORNAL. Organizador do Salão do Livro diz que escritora paraense não conhece a Região Norte. Publicado em: 26 Abr 2018. Disponível em: <https://correiodecarajas.com.br/entretenimento/organizador-do-salao-do-livro-diz-que-escritora-paraense-nao-conhece-a-regiao-norte/>. Acesso em: 12 Mai 2018.

DOL - Diário Online. Secult muda cartaz de Feira do Livro após acusação de racismo e machismo. Publicado em: 25 Abr 2018. Disponível em: <http://m.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-503614-secult-muda-cartaz-de-feira-do-livro-apos-acusacao-de-racismo-e-machismo.html>. Acesso em: 12 Mai 2018.

FLÁVIO PINTO, Lúcio. Cartaz muda. E a feira do livro?. Publicado em 25 Abr 2018. Disponível em: <https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2018/04/25/cartaz-muda-e-a-feira-do-livro/>. Acesso em: 12 Mai 2018.

FRANCA, Luka. Feira Pan Amazônica do Livro: Organizadores apenas reafirmam racismo e machismo ao responder denúncias. Opera Mundi/Blog Bidê/UOL. Publicado em: 02 Mai 2018. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/blog/samuel/bide/racismo-feira-pan-amazonica-paloma/>. Acesso em 28 Mai 2018.

______. Exclusão racista e machista marcam XXII Feira Pan Amazônica do Livro. Opera Mundi/Blog Bidê/UOL. Publicado em: 20 Abr 2018. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/blog/samuel/bide/exclusao-racista-e-machista-marcam-xxii-feira-pan-amazonica-do-livro/>. Acesso em 12 Mai 2018.

G1/PA. Secretaria de Cultura do Pará altera cartaz de Feira do Livro após polêmicas envolvendo racismo. Publicado em: 25 Abr 2018. Atualizado em: 26 Abr 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/secretaria-de-cultura-do-para-altera-cartaz-de-feira-do-livro-apos-polemicas-envolvendo-racismo.ghtml>. Acesso em: 12 Mai 2018.

GELEDÉS - Instituto da Mulher Negra. Secretaria de Cultura do Pará altera cartaz de Feira do Livro após polêmicas envolvendo racismo. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/secretaria-de-cultura-do-para-altera-cartaz-de-feira-do-livro-apos-polemicas-envolvendo-racismo/>. Acesso em: 12 Mai 2018.

GEPEM ACONTECE. Nota de repúdio ao cartaz machista e racista da XXII Feira Pan-Amazônica do livro. Publicado em: 24 Abr 2018. Disponível em: <http://gepemacontece.blogspot.com/2018/04/nota-de-repudio-ao-cartaz-machista-e_24.html>. Acesso em: 12 Mai 2018.

MENON, Isabella. Após queixas sobre racismo, Secretaria da Cultura do Pará muda cartaz de feira. Folha de São Paulo. Publicada em: 25 Abr 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/04/apos-queixas-sobre-racismo-secretaria-da-cultura-do-para-muda-cartaz-de-feira.shtml>. Acesso em: 12 Mai 2018.

SEREZA, Haroldo Ceravolo. O piloto automático das feiras de livros (e da imprensa). PUBLISHNEWS. Publicado em: 23 Abr 2018. Disponível em: http://www.publishnews.com.br/materias/2018/04/23/o-piloto-automatico-das-feiras-de-livros-e-da-imprensa. Acesso em: 12 Mai 2018.

SRZD. Secretaria da Cultura do Pará muda cartaz de feira considerado racista. Publicado em: 25 Abr 2018. Disponível em: <http://www.srzd.com/brasil/secretaria-da-cultura-do-para-cartaz-racista/>. Acesso em: 12 Mai 2018.

Downloads

Publicado

15/09/2019

Como citar

BRITO, R. de S.; ESTEVES, L. C.; VENTURA, J. C. da S. MULHERES NEGRAS NÃO FORAM FEITAS PARA CARREGAR LIVROS: TENSIONAMENTO E RESPOSTA SOCIAL EM REDE NA FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO NO PARÁ. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, RJ, v. 6, n. 1, p. 106–125, 2019. DOI: 10.21728/logeion.2019v6n1.p106-125. Disponível em: https://revista.ibict.br/fiinf/article/view/4848. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos