EDITORIAL

Toda grande inovação, toda grande revolução, traz no seu bojo a questão da exclusão. Quando Gutenberg inventou a imprensa, automaticamente criou os iletrados e os analfabetos. A revolução tecnológica, apesar dos inquestionáveis benefícios, criou os excluídos digitalmente.

A questão da exclusão é tão antiga quanto a humanidade. Há diversas explicações sociológicas sobre o fenômeno. Alguns culpam o processo de colonização; outros, a hegemonia do poder etc. No entanto, na área da ciência da informação, é possível observar que os anglo-saxões possuem uma produção científica de grande magnitude.

A explicação desse fato nos leva ao seguinte raciocínio: eles têm maior capacidade de leitura que historicamente se relaciona à leitura daBíblia ou de outros textos religiosos. Portanto, a questão histórica de acesso ao livro e à leitura é de vital importância para a criação e disseminação da informação em ciência e tecnologia.

Na América Latina, a maioria dos países enfrenta grandes dificuldades para implantar a sociedade da informação. Um dos grandes problemas é a falta de público leitor. A explicação histórica é que passamos rapidamente de uma cultura oral para uma cultura audiovisual. Não houve tempo suficiente e decisão política adequada para consolidar uma política de leitura e escrita.

A falta dessa política gerou alguns vícios culturais que enfrentamos até hoje, tais como o processo de escolarização da biblioteca pública, onde os pseudo-usuários copiam dicionários e enciclopédias e chamam esse processo de pesquisa. Ou ainda a utilização, em larga escala na Internet, do control c e do control v.

É óbvio que a produção de patentes nessa região é bem inferior à dos países considerados desenvolvidos.

Assim sendo, ao Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, cabe um papel de grande relevância no cenário nacional. Papel que se inicia com o processo de construção de hábitos de utilização da informação, o que implica o incentivo à alfabetização em informação e à alfabetização digital. Em seguida, a construção de facilidades para o acesso e compreensão da chamada informação em ciência e tecnologia, envolvendo a capacitação de recursos humanos. E também uma linha editorial não só de preservação da memória, mas fundamentalmente voltada para a inovação em ciência e tecnologia com a utilização de metodologia adequada, cujo grande objetivo seja a geração de emprego e renda.

Outro passo importante é a valorização da revista Ciência da Informação, indiscutivelmente a revista da área mais acessada na América Latina, cujo indicador mais relevante são as citações das dissertações e teses de doutorado na ciência da informação.

EMIR JOSÉ SUAIDEN

Diretor do IBICT