Navegar por Ia información

Angela Crespo
Doutoranda - Universidad Complutense de Madrid -Espanha

Rodriguez de Lãs Heras, António
Navegar por Ia información. Madrid, Fundesco, 1991. 176 p. Prémio Fundesco de Ensayo 1990.

Este ensaio escrito em linguagem amigável, como se costuma dizer atual-mente na terminologia de informação, trata de uma incursão pelo mundo do hipertexto, escrito por um historiador para aqueles que ainda não se familializaram com este tipo de armazenamento e recuperação de texto, imagem e som. Está constituído por cinco capítulos e uma bibliografia: Os novos navegantes; Do biface ao interface; A memória isenta; O hipertexto; O tempo se derrama pelo espaço. Navegar supõe poder recorrerá informação, desde diferentes pontos de partida, onde ao navegante é permitido decidir o rumo, e não deixar-se levar. Ainda assim, decidirá que nível de especificidade e que tipo ou tipos de informação deseja buscar.

Estamos em uma sociedade diante de uma avalanche de informações que necessitam de suportes adequados para armazená-las, como os chamados compactos: discos magnéticos ou discos éticos, já bastante popularizados no mundo da música. Um só disco ótico tem capacidade de guardar 650 livros de 400 páginas cada um. Além disto, a produção de informações em nível mundial está crescendo dia a dia. O que fazer com esta massa de informação? Como buscá-la? Como aproveitá-la ao máximo?

E o autor serve-se do navegar para estabelecer analogias entre navegação/informação, fixando-se na memória, talvez pelo popularismo do termo, mesmo para aqueles que iniciaram na automação. O homem criou uma ferramenta ou conjunto delas para que da mesma maneira, com o barco, seja-nos permitido navegar pela informação. Entre o disco que contém a informação e nós, existe uma série de vínculos materiais e lógicos, que têm interfaces entre si.

O autor propõe uma série de entendimentos do que seja cada instrumento ou palavra para fazer-se mais claro.

Por ferramenta, entende-se qualquer artifício que amplie uma ação natural do homem. Agrega este consenso ao de sistema útil, ou seja, útil no sentido de que as ferramentas formam um sistema onde se influem e, por sua vez, influem sobre uma ferramenta resultante (influência em cada uma das partes e sobre o todo). Este conceito é para que entendamos o valor da navegação pela informação, em face do grande número de componentes de naturezas distintas: mecânicos, eletrônicos, lógicos etc., de maneira que uma parte não prejudique ou interfira em outra.

Outro consenso é o de ecossistema artificial, que é o conjunto dos sistemas úteis, que mantém, por sua vez, relações entre si. A importância que se dá a este consenso é para entendermos que, se a ferramenta é a extensão e ampliação de uma ação natural do homem e este não deixa de construir artifícios, o ecossistema artificial dentro do qual se encontra não deixou de dilatar-se. Assim, a história do homem pode ser vista como um processo constante de extroversão nas coisas que constrói, no ecossistema que o rodeia. Esta extroversão faz com que ações e funções próprias do homem residam parcial ou totalmente em um artifício. Ações como cortar, ver, calcular passam a ser isentas, passam a residir em parte ou completamente na tesoura, nas lentes, na calculadora. Aqui encontramos o que deverá ser entendido por isento, pois o termo será de grande importância em todo o livro, em função da explicação do que seja memória isenta. Neste ecossistema, vão ficando isentas funções próprias do homem. Com as máquinas estas funções ficam liberadas da interveniência humana e na computação a destreza humana passa a residir na ferramenta. O propósito de navegar por informações contidas em discos de alta densidade é navegar pela memória.

O trabalho a que o autor se propõe agora é, então, construir artifícios que reproduzam o funcionamento da memória, a organização da informação e a forma de navegar por ela, em uma memória isenta.

Como o objetivo deste trabalho voltado para novos navegantes é tratar da construção de artifícios, interfaces para navegar pela informação e do desenho de uma memória isenta, será necessário o estudo da relação entre ferramenta e sociedade.

Para isto, o autor utiliza um austero modelo formado exclusivamente por um gráfico orientado, que dizer, construído com pontos e flechas. Neste modelo, são usados inversão, consumo, invenção, ferramenta, obsolescência e dependência. No modelo, são criados o que o autor denomina três bucles e os três passam pelo ponto ferramenta.

No primeiro bucle, uma ferramenta não só é o resultado de uma invenção, mas também de uma inversão que permita passar da ideia ao invento, um produto que tenha usuários, já que a ferramenta necessita de consumo, de utilização. Este é o modelo consumo e há que justificara inversão feita, mesmo que seja político, social, e não necessariamente económico. A partir daqui, deriva para esclarecimentos sobre diversos tipos de inversões e seus êxitos e fracassos.

O segundo bucle é o que une a ferramenta com a obsolescência e de novo com a invenção. A sociedade contemporânea se caracteriza por inovar, constantemente, seus utensílios. O homem, no seu ecossistema artificial, está permanentemente inovando, introduzindo nele novas ferramentas. Esta introdução faz com que as antigas não dêem o mesmo rendimento, produzindo então o fenómeno da obsolescência, ou seja, uma disfunção de uma ferramenta pela aparição de outra no ecossistema artificial.

A obsolescência pode servir de estímulo a mudanças, novas invenções no sistema útil e reativar sua função. É também um desajuste que se produz dentro de um sistema útil e no ecossistema artificial, uma vez que, ao abandonar o obsoleto, ativa a invenção para nivelar o desequilíbrio produzido pelo novo.

A visão dos bucles em funcionamento nos mostra seu efeito amplificador: a atividade do bucle 1 afeta o 2, pois cada nova ferramenta produz obsolescência em outra. Por sua vez, o bucle 2 entra no 1, estimulando-o a novas invenções, em uma demonstração da dinâmica da aparição de novas ferramentas.

Esta dinâmica, quando desenfreada, causa sérios danos, e uma maneira de freá-la é colocar um sinal vermelho no ponto ferramenta: conter a saída de novas ferramentas. Isto significa que existe o processo, mas as ferramentas ficam detidas, não saem para o consumo e, por conseguinte, não produzem a obsolescência.

Quanto ao bucle 3, refere-se ao fato de não ser apenas um bucle, como os demais, mas sim dois ramos que saem de ferramenta e chegam à dependência.

O homem cria a ferramenta, e esta o envolve. Há um processo de vai-e-vem entre a ferramenta e seu usuário. Há, no entanto, um efeito geral da ferramenta sobre o usuário: cria dependência, significando que deve haver adequação do homem ao uso da ferramenta, há de ter treinamento, há um processo de ajuste ao novo. Assim é que quando o homem está ajustado e a ferramenta lhe dá resultados, automaticamente, gera-se uma certa resistência a abandoná-la ou trocá-la por outra, pois sabe-se que terá de passar novamente pelo processo de treinamento e adaptação que o novo impõe.

Esta é a parte 3 do modelo: se por um lado a ferramenta cria a dependência, por outro provoca a obsolescência na qual já existe dependência, de modo que a dinâmica e a ampliação dos bucles 1 e 2 se vêem freadas pelo que acontece na parte 3.

E, a partir de agora, para que se inicie a navegação, os usuários devem abandonar seus hábitos livrescos e habituarem-se ao espaço de uma tela de computador. Que resistência apresentará este usuário? Que dificuldades vai ter uma pessoa acostumada a escrever um texto em uma folha de papel para compor um hipertexto em um disco magnético ou ótico? Que atitude terão a comunicação científica e a educação para organizar a informação de uma maneira completamente diferente daquela que até o momento vêm fazendo com as revistas científicas, as teses e os livros de texto? De todas estas questões, em relação ao modelo apresentado, o livro se ocupará, no momento, de uma só delas: o papel como suporte fundamenta) da informação durante séculos e sua situação ante estes fenómenos que estamos estudando.

Ver-se-á o papel como suporte da informação, como componente de um sistema artificial. De como o papel provocou a obsolescência do pergaminho e se integrou no sistema útil da imprensa. Este estava aberto a um ecossistema artificial que há cinco séculos vem evoluindo e se dilatando. Neste ecossistema artificial, desenvolvem-se os sistemas de comunicações, de transmissão de informações e os sistemas de transporte. Paralelamente, não deixa de evoluir o sistema útil imprensa. Demonstra, a partir daqui, que a evolução do segmento de informação em termos de geração e transmissão é superior e improporcional ao suporte papel: revolução científica, dos transportes, das comunicações, económica, social e cultural. Apesar da ameaça de o suporte de papel poder faltar, o sistema útil continua em evolução, embora seja incapaz de manter o ritmo de crescimento, o que o autor chama de síndroma de babelografia (Torre de Babel, torre de papel).

A babelografia se deixa perceber, principalmente, no âmbito da comunicação científica, embora não esteja circunscrita neste campo.

O papel, como suporte, não permite alterar a informação sobre ele impressa, impondo uma leitura linear da informação, isto é, a informação vai-se acumulando uma página após outra, um livro após outro. A babelografia é, portanto, a dificuldade crescente, em termos de tempo, que se tem de superar para alcançar a nova informação, à medida que cresce a produção bibliográfica. A babel moderna está nas bases de dados, onde sua consulta consiste num fabuloso empilhamento de páginas.

Por intermédio de uma figura, Rodriguez de Lãs Heras mostra o que acontece com as torres de Babel de Brueghel e a de Escher, onde existem torres imensas, inacabadas, fundeadas em um mar que continua sem limites, fora do quadro - ou seja, por um lado, a verticalidade das torres e, por outro, a horizontalidade do mar. A torre significa o suporte papel; o mar, o suporte magnético e ótico, mostrando, portanto, a disfunção do papel como suporte principal de informação. No entanto, o papeie parte de um sistema útil das técnicas de impressão, as quais têm evoluído muito ao longo destes 500 anos. Estas técnicas, estando integradas no ecossistema artificial (comunicações, transporte etc.), permitiram que as informações pudessem ser armazenadas, mostrando como o papel vem-se mantendo como suporte perante todos os desenvolvimentos. Descreve suas características, como sua pouca capacidade de armazenar informação por unidade de superfície de papel; a inalterabilidade da informação uma vez registrada, onde, para mudar, ampliar ou atuali-zar-se, necessita de mais papel, causando um grande acúmulo em termos de volume.

Isto tudo para mostrar que, à medida que cresce a massa de informação, aumenta também a dificuldade de mover-se por ela. Aqui está o grande desafio: nada pode crescer ilimitadamente. O autor tenta mostrar como detectar a disfunção de informação sobre papel, com dados de produção de papel, comparando com outros setores da economia, concluindo que, no momento atual, o setor impressão continua em plena vitalidade, esperando que se estabilize dentro de uns anos. Heras volta ao processo dos bucles-comportamento do crescimento, da expansão, do desenvolvimento e rendimento dos artifícios criados pelo homem (sistema útil) - ao qual, está vinculada a uma curva logística, ou de saturação, isto é, a partir de um determinado tamanho ou quantidade, ou de uma determinada evolução deste sistema, ele começa a encontrar barreiras que desaceleram seu desenvolvimento. O papel parece estar tocando o teto em termos de saturação-babetograf ia.

A partir desta situação, novos suportes, com princípios físicos diferentes e integrados no sistema útil - o informático - também novo, vão iniciar uma rápida decolagem porque suas propriedades podem responder à exigência a que não pode o papel. É um processo crítico intenso, de adaptação, de profundas mudanças entre os usuários, de aquisição de novas atitudes, de notáveis influências em nossa sociedade. Sem provocar desaparições, mas uma substituição por outro sistema útil.

A informática oferece melhores rendimentos em tarefas que eram realizadas por outras ferramentas. O papel continua sendo o suporte final onde se coloca a informação processada; o suporte magnético fica em um plano intermediário do processo. E mais: a inclusão de informação em um disco ótico se faz com a mesma estrutura que está sobre o papel.

O primeiro passo importante para que os novos suportes deixem de ser intermediários de processos é que se associe ao novo suporte seu novo espaço de escrtta-leitura, ou seja, de acesso e registro da informação. A tela do computador é para os novos suportes o que é a página para o papel.

A crescente "telação" da nossa sociedade é um fenómeno muito claro, onde cada vez mais informações se oferecem por meio de uma tela. Desde acesso a bancos, ao teletexto, desde uma tela gigante em um estádio, a um simples relógio, o homem vai-se acostumando a este nova espaço de leitura e também de escrita, vai-se habituando a escrever e corrigir uma carta fia tela, antes de decidir sua versão no papel. A tela nos impõe outras formas de tratar a informação, os novos suportes nos ofereeerrvoutras possibilidades e mais potentes que nos permitia o suporte papel. No entanto, para a leitura, a tela não pode substituir o papel. Há seus limites e possibilidades, mas pode ser passo intermediário antes da impressão sobre o papel.

Há um fenómeno de interatividade entre máquina e usuário, urna vez que este pode intervir no peocesso. Por outro lado, o número de opções que a tela coloca à disposição do usuário gera nele uma certa indecisão e fragilidade para mover-se pela informação armazenada nos suportes de alta densidade. A organização da informação e a forma de apresentar estes .espaços de indecisão, de interatividade, estão inseparavelmente relacionados.

Há densos suportes de informação, processadores potentes e rápidos, telas de alta resolução, telas de cristal líquido com bom contraste e velocidade, mecanismos diversos para interagir com o computador, como o "ratão" ou a tela tatu, canais para introduzir informação nos suportes, como os digitadores gráficos e de som e o Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCR). Além das ferramentas lógicas, como a "programação orientada ao objeto", concepções novas que facilitam precisamente a interatividade.

A este sistema útil há de integrar-se agora um artifício lógico para a organização de grandes massas de informação e a criação de interfaces que, no espaço da tela, permitam ao leitor atuar sobre esta e se faça navegante por esta infomação.

Aqui volta o conceito de isento, uma vez que, para navegar por estes mares, é necessária uma memória isenta, tentar reproduzir o mais adequadamente possível a navegação da nossa memória com uns artifícios mecânicos e lógicos, como as telas, os discos de alta densidade, os digitadores, mas também com uma lógica de organização da informação diferente daquela para registro sobre papei.

O autor, de maneira esquemática, procura mostrar a construção desta memória isenta a partir do uso de uma caixa de madeira, como se nela existisse uma tela e partículas e, com os movimentos destas partículas, vai construindo peças, como em um mosaico, mas não como um puzzle. Uma das propriedades da memória é guardar, reter informação. Chega-se a uma observação que considera importante da lógica com que funciona a memória. Toda composição que se fornia no interior de uma tela permanece? Não, pois as partículas se desprendem, assim que uma parte, por menor que seja, é sacrificada. A memória é também um filtro, é seleção de informação. Tão-importante para o funcionamento de uma memória é o reter, o recordar, como também o esquecer, o apagara informação que antes retinha. Há um constante processo dialético de recordar e esquecer, um constante f lu-xo-reftux^ de composição. Composi-ção "funua palavra-chave, no sentido desto construção. O autor vai explicando, passo a passo, como as partículas vão-se organizando e formando o mosaico.

A memória atualiza constantemente sua informação, e o mais resistente é o antigo, o mais vulnerável é o novo. Outro conceito importante é o de tempo que nos proporciona e que é muito' diferente do relógio. O resultado que se obtém é uma composição só, e não uma série de composições desconexas. Ao final, a tela volta a apresentar-se vazia para nova composição. É chegada a hora de substituir a caixa de madeira por outras caixas como os suportes magnéticos e óticos, substituir o conteúdo da caixa, as partículas, por massa de informação. Agora, como guardar esta massa?

Apresenta-se um quadro, uma relação não exaustiva, de materiais utilizados peto homem para este fim, classificados em rígidos, flexíveis e densos. É feito todo um apanhado sobre cada suporte e sua capacidade.

A construção a partir de materiais diferentes segue uma regularidade que se encontra no processo de evolução de qualquer ferramenta. Há uma tendência à miniaturização, no sentido dos valores relativos ao rendimento que proporciona. As ferramentas evoluem necessitando cada vez menos de volume para proporcionar mais capacidade de suas funções. Fundamentalmente são os materiais magnético e óti-co os que conseguem uma capacidade elevadíssima e crescente para a informação em um espaço de disco muito reduzido.

Neste capítulo O hipertexto "a caixa é um cubo"..., de Escher", inicia-se a construção da memória isenta do hipertexto. As formas de que se dispunha para armazenar informação, até agora, apresentam caixas com formas cilíndrica, discai e paratelepípidica, onde existiam duas dimensões que correspondem à superfície onde o texto se estende linearmente.

Se um texto é a organização da informação em uma superfície, em um espaço de três dimensões seria um hipertexto. Em duas dimensões, ao chegar a uma determinada palavra do texto, o discurso de leitura poderia continuar sobre esta superfície ou seguir outra que se abra a partir deste ponto, mas por uma página que estivesse em um plano perpendicular ao da página em que estamos agora. É uma encruzilhada para o leitor: seguir por um mesmo plano que está lendo agora ou um plano que se abre em dois caminhos, além de poder cruzar outros caminhos perpendiculares. É o que permite o hipertexto. Seria um texto em um espaço tridimensional, de diferentes planos, contendo cada um um texto; a interse-ção de dois planos, que mantêm a relação entre os textos.

O autor agrupa as atuais prioridades de pesquisa sobre o hipertexto em três níveis: 1) Ideias e conceitos fortes; 2) realizações; 3) ferramentas. Historia o terna fazendo uma análise pelo tempo e passa à sua construção. As ferramentas agora são lógicas e com elas vai apresentar uma arquitetura, um sistema de escrita para organizar o texto, a imagem e o som em um hipertexto - a este estudo é que se dedica o livro. O hipertexto é antes um conceito nuclear. Como conceito é um forte atratK/o em tomo do qual devem girar as realizações concretas; umas muito próximas, outras traçando órbitas tão longínquas que se toma difusa sua participação no sistema de que o conceito hipertexto é o centro. E mostra que o centro de preocupação deste livro é justamente a lógica de organização da informação para poder navegar por ela. Todo o livro está ofgani-zado em hipertexto, fora, portanto, do papel, em três dimensões, sobre suporte magnético. Cita "mãos desenhando", de Escher, como modelo. Uma mão que desenha sobre um papel uma mão, que, por sua vez, desenha aquela e tudo permanece em uma superfíciegravada. Um hipertexto do texto que é um texto do hipertexto, colocado neste livro do qual não se pode sair.

Neste momento, o autor coloca o leitor perante a tela do computador e, como se estivesse com o mesmo ligado, com um "ratão" nas mãos, vai, passo a passo, apresentando cada conceito, empregando seus fundamentos e conceitos formulados anteriormente, como budes, por exemplo, e comparando cada peça com o seu par em termos de navegação. Assim, o "ratão" passa a ser o timão para manter o rumo; o que acontece com o elicar em cada parte de uma tela, o que aparecerá; os efeitos que serão criados; como se complementam texto e imagem. Aqui estão também apresentadas as ferramentas materiais que permitem a "captura" da imagem que se encontra em um papel, em uma tela de televisão ou em uma fita de vídeo e as ferramentas lógicas que permitem, uma vez digitalizadas as imagens-fon-te, trabalhar como elas, alterá-las e animá-las. Poder-se-ia dizer que compor um texto, em um hpertexto, demandaria as seguintes tarefas: 1) escrever o texto necessário para expor o que se deseja; 2) setectonar uma imagem que vai servir de base; 3) cortar o texto para que as partes possam encaixar-se na imagem associada; 4) fazer tantas cópias da imagem quantas forem as partes em que se cortou o texto; 5) colar cada parte em uma cópia da imagem.

Depois passa à arquitetura de memória que requer o hipertexto, chamando a este capítulo de "Penétope: a memória de uma espera". Recorre aos bucles mais uma vez e aos demais conceitos, mas aqui as interfaces são naves que se constróem com ferramentas infomáticas, de material teórico.

Uma das teses deste livro é que, para iniciar-se a era das navegações por mares de informação, dispomos atual-mente de ferramentas suficientes, mas esperam-se concepções teóricas atrevidas que dêem forma e materialização a estas ferramentas. Desta forma, apresenta geometricamente a navegação pelo hipertexto em forma de cubo e como fica guardada a informação, sua hierarquia e passos - o que é permitido e o que não é, e o porquê, usando desenhos para tomar o processo mais inteligível. Vai até a integração da memória isenta em uma rede telemática. Há comunicação direta entre leitor e escritor, tudo pode ser permitido: tomar notas sobre escritos, abrir textos conversacionais. Há, enfim, permissão para uma ampla gama de utilização desta ferramenta. Haverá, pelo processo educativo, a formação de experientes navegadores, com imediato campo de aplicação. O processo de aquisição de conhecimentos, seu ritmo e os caminhos a seguir se adequam ao indivíduo.

Finalmente, apresenta uma bibliografia, mostrando primeiramente o crescimento, por ano, até 1990, da produção bibliográfica sobre o tema, referenciado em algumas bases de dados internacionais, além de orientar o leitor em temas específicos tratados no livro.

Embora a tecnologia neste segmento esteja mudando muito rapidamente, este livro é válido para conhecermos como se processam os mecanismos de construir e acessar um hipertexto e toda uma engenharia lógica de organização do conhecimento.

Não vamos nos esquecer de que se trata de um ensaio escrito por um catedrático de história contemporânea, um humanista, que se interessa pelas inovações tecnológicas da informação enquanto historiador, e não um livro escrito por um especialista em informática ou informação.