Recensões 

Fontes para o estudo da comunicação


Maria das Graças Targino
Doutoranda em Ciência da Informação
Universidade de Brasília.

Melo, J. M. de. Fontes para o estudo da comunicação. São Paulo:Brasil, 1995. 253 p. (Coleção Intercom, 4).

No atual estágio da sociedade, ocorre, além de constantes mutações tecnológicas, inflacionária produção de discursos e, portanto, crescente proliferação de dados e textos. Para sobreviver como indivíduo e profissional, em qualquer área, todos são forçados a assimilar um vasto corpo de conhecimentos que se amplia a cada segundo. Consciente desta realidade, José Marques de Melo, perseguindo o que ele próprio denomina de uma de suas "obsessões universitárias", ao longo de sua trajetória acadêmica, vem tentando sistematizar essa avalanche de informações, visando à qualidade do ensino e da pesquisa em comunicação.

Já em 1971, publicou como apêndice do livro Comunicação Social: teoria e pesquisa, uma lista bibliográfica brasileira, com 138 títulos. Em 1978, agora com 235 itens, nova listagem incorporada ao novo livro Comunicação, Modernização e Difusão de Inovações no Brasil. Com a criação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), em 1977, semeou o cultivo da documentação. Os suplementos bibliográficos do Boletim Intercom e, posteriormente, da Revista Brasileira de Comunicação, as edições anuais da Bibliografia Brasileira de Comunicação, a criação do Centro de Documentação da Comunicação nos Países de Língua Portuguesa (PORT-COM) e os produtos então gerados são alguns exemplos do empenho pessoal do autor e de seus adeptos para preservar e disseminar os conhecimentos gerados no âmbito da comunicação.

Esta, aliás, é a função maior da sua bibliografia analítica ora analisada, editada, em 1995, pela Intercom, sob o título Fontes para o estudo da comunicação. Representa um marco para a comunidade envolvida com a área, em nível de Brasil. São, hoje, no país, quase 100 cursos universitários de comunicação, os quais integram cerca de 50 mil discentes e 3 mil docentes em torno da graduação e pós-graduação. E Fontes ... é indispensável tanto para o aluno de graduação que enfrenta a tarefa de elaborar seu trabalho de conclusão de curso, como para o doutorando para quem, de forma similar, "... o respaldo das fontes documentais torna-se decisivo, permitindo compatibilizar sincronia e diacronia, geografia e história, cenários construídos e vida cotidiana." (p.17).

A publicação, na verdade, integra "... o projeto de revisão seletiva da literatura das ciências da comunicação..." (p.22), com base no acervo bibliográfico acumulado pelo próprio autor, ao longo de sua vida profissional. Arrola o total de 690 referências, nacionais e internacionais, restritas às edições em português, espanhol, francês e inglês. 
São 498 publicações monográficas, lançadas de 1984 a 1993, agrupadas em três grandes classes (à semelhança da classificação adotada para os Grupos de Trabalho da Intercom), as quais se subdividem por sua aproximação temática: 
1) Estudos Teóricos e Metodológicos - epistemologia, metodologia etc. (75 referências); 
2) Estudos Sócio-Culturais - antropologia, semiologia etc. (149 referências); 
3) Estudos Ético-Profissionais - cinema e vídeo, jornalismo etc. (274 referências).

A seguir, estão inventariadas, independentemente do ano de edição, 192 obras de referência, também nacionais e internacionais, entre guias e catálogos; bibliografias gerais e especializadas; dicionários e periódicos. A este respeito, contrariando a concepção em voga na área de documentação, Melo utiliza o termo "nacional" apenas para o material editado no Brasil, considerando internacionais todas as demais obras de referência, independentemente de sua abrangência e objetivos básicos. Por exemplo, a Bibliografia Portuguesa de Comunicação Social está categorizada como internacional, embora consista em bibliografia nacional, pois tem como função "... repertoriar a literatura lusitana sobre comunicação social..." (p.173), como descrito pelo autor. Ao final da obra, índices específicos de assunto, de autor e de local de publicação permitem a recuperação mais rápida do material.

Sem obedecer à norma vigente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) quanto às referências bibliográficas (NBR 6023), Fontes ... carece de sistematização no que se refere à indexação, tanto pela diversificação de técnicas utilizadas como pela excessiva generalização de alguns termos. Alguns dos resumos informativos não permitem uma visão panorâmica dos trabalhos. No entanto, sem dúvida, esta é uma bibliografia que constitui obra essencial como fonte para o estudo da comunicação, permitindo acompanhar as tendências desse ramo de conhecimento, no mundo atual, a despeito da quantidade de informações lançadas, diariamente, no mercado editorial.