In Memoriam

Laura Maia de Figueiredo (1929-1994)



Gilda Maria Braga
Professora/pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
CNPq/IBICT-UFRJ/Escola de Comunicação

Em 1978, Laura Maia de Figueiredo assumia oficialmente a chefia da Divisão de Ensino e Pesquisa (DEN), atual Departamento de Ensino e Pesquisa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). A equipe responsável pela condução do mestrado e do CDC era basicamente formada por pesquisadores da própria divisão, por professores de outras instituições de ensino superior brasileiras e professores convidados do exterior. As sementes que geraram o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, na sua forma atual, foram plantadas naquela época.

Pela visão de Laura, o mestrado foi além da ciência e da tecnologia e incorporou a informação em seu cunho social, estendendo-se às políticas de informação e de ciência e tecnologia. Para acelerar a integração dos mestrandos egressos das diferentes áreas do conhecimento, foi introduzido, com muito sucesso, o ciclo de nivelamento, que antecedia as disciplinas do mestrado propriamente dito, e que posteriormente, incorporado também ao CDC, serviu como espinha dorsal das suas disciplinas. Ainda nesta época, a pesquisa era a mola mestra do ensino, e os vários projetos existentes atestavam esta indissociação. A pesquisa interinstitucional foi ativada graças a um convênio com o Ministério do Interior. Neste programa, já existia a visão da pesquisa como treinadora de recursos humanos.

Muito importantes também foram as atividades de divulgação científica e de socialização da informação, traduzidas inclusive pela elaboração de programas audiovisuais sobre questões e problemas centrais da ciência da informação. Audiovisuais, estes tão bem feitos que encantaram especialistas da Universidade de Illinois e da própria Unesco, que quiseram comprá-los para divulgação internacional.

Enquanto chefe da DEN e coordenadora do CDC e do mestrado, acumulava ainda as funções de professora e mesmo de orientadora de dissertação.

Uma das habilidades principais de Laura, demonstrada ao longo de sua carreira era a capacidade de treinar pessoal em serviço e estimular e motivar os funcionários para estudos avançados, inclusive no exterior.

A pessoa de Laura traduzia, para a maioria das pessoas, seriedade e competência. Em 1954, assumiu o cargo de chefe da Seção de Ciências Sociais do Serviço de Bibliografia do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), atual IBICT, e dois anos depois, foi promovida a diretora daquele serviço.

O grande prestígio que tinha o IBBD no meio acadêmico devia-se em grande parte às bibliografias que elaborava regularmente nas seguintes áreas do conhecimento: botânica, física, matemática, química, zoologia, documentação, amazônia, ciências sociais, ciências agrícolas, curare, medicina, e toda uma série voltada para as doenças tropicais (febre amarela, bouba, schistosomose, leishmaniose, doença de Chagas). A cada bibliografia era associada uma equipe de notórios especialistas nacionais que avaliava a qualidade da literatura arrolada e garantia o alto nível das publicações. Em vários dos congressos nacionais realizados no país, sobre essas e outras especialidades, o IBBD comparecia com uma tiragem especial de bibliografias (e às vezes até mesmo toda uma bibliografia especial) e com trabalhos sobre a documentação/literatura da especialidade. Estes trabalhos eram apresentados em sessões plenárias e discutidos com todos os presentes.

Como professora de bibliografia geral (1962-1972?) do hoje Curso de Biblioteconomia e Documentação da Unirio, introduziu uma série de mudanças inovadoras na visão da bibliografia como disciplina, aproximando-a muitas vezes de uma histório-bibliografia e sociobibliografia.

Além dos vários trabalhos publicados, Laura Figueiredo participou de inúmeros congressos, seminários, reuniões profissionais etc., além de ter sido uma das molas motoras das duas reuniões brasileiras de ciência da informação (1975 e 1979).

Igualmente importantes são os vários cursos de curta duração, extensão e especialização que contaram com sua colaboração - cursos estes organizados por instituições como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Universidade Santa Úrsula, a Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, o Centro de Treinamento do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas.

Laura, uma das idealizadoras de ciência da informação, foi, durante vários anos, membro de sua comissão editorial - para colocar o número 1 em circulação dentro do prazo marcado, foi para a gráfica e fez o que sabia fazer com muita garra e propriedade: extrapolou suas tarefas de editora chefe e ajudou a alcear os fascículos, supervisionando a arte-final. Alguns de seus trabalhos foram publicados nos números subseqüentes, inclusive a dissertação de mestrado, que foi incluída na bibliografia de cursos de bibliometria de universidades estrangeiras, como a Case Western Reserve University.

Após aposentar-se pelo IBICT, com uma brilhante carreira profissional, foi chefiar no período de 1982 a 1994, as bibliotecas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), onde introduziu, além da automação, uma visão avançada de bibliotecas e serviços/sistemas de informação, por exemplo, associando a pesquisa às rotinas de um sistema integrado de informação, promovendo e estimulando a educação continuada dos profissionais, incentivando a criação de sistemas especializados de informação para aquelas áreas, mesmo dentro da PUC, que necessitavam de tratamento diferenciado para seus documentos - como aconteceu com a economia, com a criação do Centro de Informações em Economia Internacional, associado à Biblioteca Central, mas dela independente para tratamento dos documentos.

Certamente a Biblioteconomia e a Ciência da Informação muito devem a Laura Maia de Figueiredo; profissional e pessoalmente foi uma dessas perdas que são sentidas por muito tempo, enquanto durarem a memória e a saudade daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-la.