APRESENTAÇÃO

 

O professor Flavio Beno Siebeneichler foi pesquisador visitante no Instituto brasileiro de informação em ciência e tecnologia - IBICT no segundo semestre de 2010, convidado pelo grupo de pesquisa Filosofia e política da informação. Naquela época o grupo de pesquisa era coordenado pela pesquisadora Maria Nélida González de Gómez e por mim. Os seus seminários foram denominados “Habermas e seus interesses filosóficos”.

Esta coletânea de artigos reúne os textos usados naqueles seminários como referência para a apresentação e discussão de tópicos selecionados da obra do filósofo alemão Jurgen Habermas. Os textos são guias para estudos filosóficos, especialmente para os estudos filosóficos da informação. Cada um dos artigos foi usado como referência para a discussão dos tópicos, orientando a caminhada pela densa obra de Habermas.

Outro elemento a ser destacado em relação aos textos é o fato do professor Flávio Siebeneichler ter usado as obras de Habermas no original em alemão, para oferecer maior rigor no uso das palavras, dos conceitos e das teorias. Cabe registrar que Siebeneichler é reconhecido tradutor de Habermas para o português, inclusive dos dois volumes da “Teoria do agir comunicativo”.

Flávio Beno Siebeneichler é catarinense. Possui graduação em Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutorado em Teologia e Ciência da religião pela Universidade de Regensburg. É professor aposentado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área da filosofia contemporânea, especialmente no campo da Ética, da Teoria Crítica, da Fenomenologia, da Hermenêutica, da Teoria de Sistemas e da Pragmática. Neste contexto, sobressaem no seu trabalho os seguintes temas: razão comunicativa; filosofia pós-metafísica que trabalha em conexão com as ciências humanas e sociais; busca cooperativa da verdade; interdisciplinaridade; estética crítica; filosofia do direito; mundo da vida e sistema, ética do discurso; justiça; responsabilidade solidária; perspectivas da democracia nas atuais sociedades pluralistas.

Num texto para a coletânea “Informação e Democracia: a reflexão contemporânea da ética e a Política”, organizado pela pesquisadora Maria Nélida e por mim, o professor Siebeneichler situa o pensamento de Habermas frente algumas das principais constelações teóricas do pensamento contemporâneo: “A teoria habermasiana rompe dialeticamente a relação com a filosofia tradicional, configurando-se como pensamento pós platônico, pós kantiano e pós metafísico. Ela compartilha com Niklas Luhmann e outros teóricos contemporâneos, especialmente os que trabalham numa linha pragmática, hermenêutica e analítica, a idéia de que não podemos mais pressupor a existência de algo sublime, ideal ou superior que pudesse servir como ponto de referência de nossas investigações. Isso deriva do fato de que os seres humanos são finitos e contingentes, aliás, duplamente contingentes. Além disso, eles se encontram previamente e desde sempre imersos em um mundo da vida social que é profano, complexo e intransparente, estruturando-se e concretizando-se mediante linguagem. Por isso, eles são extremamente vulneráveis.”

Conheci o professor Siebeneichler em 1989, quando fazia mestrado no IBICT/UFRJ, como participante de um seminário semestral oferecido por ele na UFRJ sobre a obra “Consciência moral e agir comunicativo” de Habermas. Naquele ano o próprio Habermas esteve no Brasil para o lançamento da tradução daquela obra. Eu era orientado pela pesquisadora Maria Nélida.

Este seminário me abriu as portas da Teoria do discurso de Habermas como referência para os estudos filosóficos da informação, particularmente da ética e da política. A teoria habermasiana passou a fazer parte da caixa de ferramentas para discutir ética e política da informação em uma perspectiva humanística.

Reencontrei o professor Siebeneichler em 2008 quando fazia estágio de pós doutorado no IBICT sob a supervisão da pesquisadora Maria Nélida. Ele fez um dos colóquios do estágio, falando das relações entre Habermas e Luhmann para melhor entendimento da informação no mundo da vida e nos sistemas. Neste colóquio o professor Siebeneichler afirmou a possibilidade de pensar uma teoria discursiva da informação.

A investigação desta possibilidade é objetivo do meu projeto no IBICT desde que nele tive ingresso como pesquisador.  Habermas tem muito a oferecer aos estudiosos da informação, iniciantes ou pesquisadores. Por exemplo, o método de confronto entre Habermas e Luhmann abre largas avenidas para pensar a informação como operador sistêmico e como regulador das relações sociais.

A relação entre Habermas e a Filosofia da informação também vem sendo explorada nos Colóquios Habermas e de Filosofia da informação que o grupo de pesquisa Filosofia e política da informação do IBICT vem organizando anualmente no Rio de Janeiro desde 2010. Estes Colóquios reúnem especialistas, estudantes e interessados na obra do pensador alemão e na filosofia da informação. O professor Flávio Siebeneichler participa regularmente dos Colóquios.

Esperamos que a publicação destes oitos textos do professor Flávio Siebeneichler contribua de modo forte e efetivo para o desenvolvimento da Filosofia da informação, particularmente da Filosofia prática. Esta é a principal proposta da revista Logeion, do grupo de pesquisa Filosofia e política da informação do IBICT.

A publicação deste número especial da revista Logeion acontece em uma hora particularmente especial da nossa história, em que estão em questão, de modo agudo, a liberdade de opinião e de expressão, o reconhecimento do outro, o bem estar e a proteção do mundo da vida. É hora de conversar, para construir entendimentos e acordos. É hora do discurso entre sujeitos. É hora de aprender com Habermas. Ele está disponível.

                                                                                                                         

Muito obrigado ao professor Flávio Siebeneichler.

 

Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2018

 

Clóvis Ricardo Montenegro de Lima

Editor