APRESENTAÇÃO

 

 

O grupo de pesquisa Filosofia e política da informação do IBICT tem a satisfação de publicar outro número da sua revista Logeion – Filosofia da informação. Nunca é demais destacar que é uma revista com abordagem humanística dentro do Ministério da Ciência e tecnologia do Brasil.

A revista Logeion quer oferecer espaço de interação entre pesquisadores, professores, estudantes e demais interessados na Filosofia da informação. Escrever, publicar e ler faz parte da discussão que dá sentido à conceitos, teorias, críticas e argumentos. Assim, define -se o próprio território do que é Filosofia da informação.

Nosso trabalho abre este território para a epistemologia e a estética, mas também para a filosofia pratica: a ética e a política. Queremos principalmente fomentar a critica na Ciência da informação, com seus limites funcionalistas e sistêmicos.

Este numero da revista abre com o artigo “Protagonismo social e mediação da Informação”, de Henriette Ferreira Gomes, professora titular da Universidade Federal da Bahia. A autora defende que o trabalho informacional tem como objetivo o protagonismo social e que a mediação da informação é a sua ação central.

A professora da UFBA apresenta os resultados de estudos críticos na Ciência da Informação referentes ao protagonismo e a mediação da informação, assim como de estudos de pensadores que abordam os aspectos sociais e políticos da comunicação e da formação de sujeitos socialmente ativos. A autora conclui que o desenvolvimento do protagonismo é a principal responsabilidade do trabalho com informação.

O artigo “A Lei de acesso à informação e a consolidação institucional do Ministério Público Federal no Brasil", de Edna Gusmão de Góes Brennand e Alexsander de Carvalho Silva, da Universidade Federal da Paraiba, analisa o desenvolvimento do MP na defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade. Os autores focam na violação dos direitos humanos. 

Ronald E. Day, da Universidade de Indiana, apresenta “Right wing populism, information and knowledge”. O autor faz uma discussão fundamental para a sociedade contemporânea: se a distinção das tecnologias entre velhas e novas midias fazem o fascismo ser uma impossibilidade.  Day destaca que através de novas tecnologias de informação e comunicação, a 'massa' política é supostamente substituída pela 'multidão' e uma nova mídia serve as 'necessidades de informação' individuais.

Entretanto, o que se observa é a emergência de formas sofisticadas de disseminação de informações falsas e de disparos massivos para grupos sociais segmentados. A campanha do “Leave" no plebiscito sobre a permanência da Inglaterra na Comunidade Europeia e a campanha de Donald Trump para presidente dos EUA são marcos desta mudança. A campanha de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil também está dentro deste processo.

Day afirma que o populismo político e a invasão do fascismo são fenômenos mundiais, particularmente  nos países desenvolvidos. Nós sabemos que eles estão presentes na América Latina. O pesquisador norte americano considera que isto acontece não apenas apesar das novas mídias, mas em parte por causa delas. O seu artigo faz uma indagação necessária e instigante: Como isso é possível?

Luciana Gracioso, professora da Universidade Federal de São Carlos, escreve sobre “A origem dos conhecimentos humanos no contexto dos Estudos informacionais". A autora observa que historicamente os estudos da informação se relacionam diretamente com os estudos da linguagem, mas que recentemente a tecnologia entra nesse cruzamento.

A autora procura identificar caminhos que possam servir aos estudos informacionais para pensar a relação entre linguagem e mediação do conhecimento. Seu ensaio indaga o lugar da linguagem na obra Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos (1746) de Étienne Bonnot de Condillac. Ela conclui que Condillac pode contribuir para distinguir linguagem, conhecimento e uso da informação.

Giulia Crippa, professora da Universidade de Bolonha, escreve “Conhecimentos para que? Transformações da ordem dos saberes no tempo". Em seu artigo discute, dentro da Ciência da Informação, como se orienta o conhecimento em função de suas finalidades. A autora usa a perspectiva genealógica, observando como se orientam os registros de informação perante a finalidade atribuída ao conhecimento.

A professora quer nos fazer entender como se estrutura a organização cientificista do conhecimento. Em seu artigo ela observa as mudanças ocorridas entre um sistema de conhecimento fundamentado em bibliotecas e outro atrelado às Tecnologias de Informação e Comunicação. Analisa também  aspectos da organização do conhecimento nas bibliotecas na modernidade, destacando elementos constitutivos da confiabilidade dos registros.

Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda e Fábio Gomes da Silva, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, apresentam o artigo “Religião e cultura periféricas: a representação do Islamismo na Classificação Decimal de Dewey". O artigo analisa a representação de informações referentes à identidade e a religião islâmica no esquema de classificação bibliográfica mais usado no mundo.

Os autores investigam a existência de desvios na representação de assuntos referentes a culturas “periférica” na 23ª. edição da Classificação Decimal de Dewey (CDD). Os resultados do estudo da representação do Islamismo na CDD23 demonstraram a existência de desvios de representação históricas. Isto é, evidenciado tanto na seleção terminológica quanto em sua estrutura conceitual.

Os autores destacam que o viés na organização do conhecimento torna invisíveis os documentos relativos à cultura e à identidade de grupos sociais “periféricos". Eles concluem sobre os aspectos ético-políticos do trabalho com informação, particularmente do profissional na classificação de assuntos que denominam “não alinhadas a cultura ocidental”.

Arthur Walber Viana e Valdir José Morigi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentam o artigo “As inscrições de si da população de rua no jornal Boca de rua". Os autores questionam como a população de rua, que são os sujeitos criativos por trás dos textos, usam a relativa liberdade de “definir a si”.

Os autores fazem um estudo do que moradoras e moradores de rua fazem nos textos; que linguagem usam; com quem e com o que se relacionam. Eles concluem que apesar dos limites sintático, sociopolítico ou econômico, há no jornal Boca de Rua a expressão  sincera e profunda contra as dificuldades que esmagam as vidas precárias. 

“Especulações sobre a autopoiese da narrativa literária" de Guilherme Preger, traz a proposta de uma reflexão especulativa sobre a narrativa literária como subsistema autopoiético social. O autor trabalho  como o conceito de Niklas Luhmann de autopoiese (autopoiesis). A sua hipótese parte de que a narrativa literária pode ser descrita como uma forma de comunicação social  e de “observação de segunda ordem” (observação da observação).

Entretanto, a narrativa literária se distingue da narrativa social como “auto-observação” narrativa ou narrativa da narrativa. O que interessa à narrativa literária não é a descrição de fatos, ações ou personagens, mas as relações de níveis narrativos no momento de sua autorreprodução.

O autor propõe o cruzamento entre  a Teoria dos Sistemas de Luhmann e a Teoria da Narratologia apresentada  por Gerard Genette. A diferença entre o nível narrativo (diegesis) e o nível de focalização da história corresponde à diferença entre observação de segunda e de primeira ordens. O autor afirma que a resolução dos paradoxos surgidos na circularidade da auto-observação do sistema literário é realizada pela formação de “cronotopos”, conceito de Mikhail Bakhtin: uma extensão no tempo e no espaço do domínio do imaginário.

Roberto Unger nos traz “Breve estudo filosófico sobre a elaboração de categorias em revisões de literatura: a perspectiva da Ciência da Informação”.

O autor faz uma conversa entre a elaboração das categorias na construção das revisões de literatura e  a elaboração das categorias. A categorização é usada como meio para definir a que classe pertence determinado conceito, considerando o esforço intelectivo de síntese como método cognitivo que reúne e integra estudos. Agrupar o conhecimento em categorias facilita a sua ordenação e sumarização.

O artigo “Criterios éticos e estéticos como apoio válido para pesquisa”, de Darlei de Paula, busca mostrar a relação estética e o valor ético possível de ser encontrado em texto teológico. O autor indaga se quando analisamos o comportamento estético, pode-se considerar os resultados encontrados como valores intrínsecos que podem ser comparados em diferentes momentos. A questão que traduz sua dúvida é: Como podemos considerar os valores éticos e estéticos descritos em diferentes épocas?

Acreditamos que neste número da Logeion oferecemos mais uma vez aos nossos autores e leitores uma pequena colagem de artigos criativos, inovadores e instigantes. É uma discussão critica que não se esgota, mas pode ampliar o entendimento e proporcionar acordos para melhor pensar e fazer o trabalho com informação.

 

 

Rio de Janeiro, 15 de março de 2019

 

Clóvis Ricardo Montenegro de Lima Editor