APLICAÇÃO DE SOFTWARE DE MINERAÇÃO DE TEXTO NA
REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO DE OBRAS ARTÍSTICO-PICTÓRICAS
Wagner Oliveira de Medeiros [1]
UFPE.
Fabio Assis Pinho [2]
UFPE
Renato Fernandes Correa [3]
UFPE
______________________________
Resumo
Esta
pesquisa discute a aplicação da tecnologia da informação nos processos de
representação da informação de obras artístico-pictóricas e teve por objetivo
geral apresentar uma relação possível entre os softwares de mineração de textos
e a sistematização de termos nas práticas de representação da informação a
partir da documentação gerada pela análise de obras artístico-pictóricas pelo
viés da Ciência da Informação. Para isso, a pesquisa consistiu de estudo de
caso, utilizando o software online Sobek para processar uma amostra da
documentação gerada pelas análises de obras artístico-pictóricas, a partir de
três etapas: a) organização textual do conteúdo documental; b) inserção do
conteúdo textual organizado no software Sobek e geração do grafo e; c) análise
do grafo gerado pelo software Sobek. Os resultados indicaram que a utilização
do Sobek demonstra indícios da viabilidade de uso da mineração de texto como
auxílio aos processos de representação da informação de obras
artístico-pictóricas, não obstante apontaram a necessidade de aprofundamento da
questão para realização de futuras propostas metodológicas e de aperfeiçoamento
do software a este fim documentário.
Palavras-chave: Obras artístico-pictóricas. Representação da
Informação. Mineração de Textos. Mapas Conceituais. Mapas Mentais.
APPLICATION OF TEXT
MINING SOFTWARE IN THE REPRESENTATION OF THE INFORMATION OF ARTISTIC-PICTURE
WORKS
Abstract
This
research discusses the application of information technology in the processes
of information representation of artistic and pictorial works and aimed to
present a possible relationship between text mining software and the
systematization of terms in information representation practices from documentation
generated by the analysis of artistic-pictorial works by Information Science
view. For this, the research consisted of a case study, using the online
software Sobek to process a sample of the documentation generated by the
analysis of pictorial works, from three steps: a) textual organization of
documentary content; b) insertion of the textual content organized in the Sobek
software and generation of the graph and; c) analysis of the graph generated by
the Sobek software. The results indicated that the use of Sobek shows evidence
of the viability of using text mining as an aid to the processes of information
representation of artistic and pictorial works, despite the need to deepen the
issue for future methodological proposals and improvement of software to this
documentary purpose.
Keywords: Artistic-pictorial works. Representation
of Information. Text mining. Conceptual Maps. Mental maps.
1 INTRODUÇÃO
As discussões sobre a
representação da informação e do conhecimento de materiais informacionais
não-convencionais abre, lentamente, um caminho de aperfeiçoamento das práticas
de tratamento da informação na área de Organização da Informação e do
Conhecimento. Este caminho aponta horizontes positivos ao avanço da área como
um todo, no que diz respeito, principalmente, a sanar questões metodológicas
que admitam as particularidades informativas de objetos complexos, como as
obras de arte, tratadas em especificidade neste trabalho, através das obras
artístico-pictóricas.
Vislumbrando este
aperfeiçoamento, diversas pesquisas emergem na área de Ciência da informação,
ora apresentando e defendendo a importância destes tipos de suportes, ora
propondo adaptações ou desenvolvendo metodologias para o tratamento
informacional dos mesmos. Como exemplo deste primeiro caso, observamos os
trabalhos que tratam a arte como fonte de informação, já comuns na área,
reconhecendo as mais variadas formas de expressão artística como espaços de
investigação para os estudos em Ciência da Informação. Como exemplo do segundo,
podemos citar trabalhos como os de Agustín Lacruz (2006); Debastiani (2012;
2015); Maimone (2007; 2009); Maimone e Gracioso (2007); Maimone e Tálamo
(2008); Oliveira (2014); Oliveira e Pinho (2014); Medeiros (2014; 2017) e
Medeiros e Pinho (2017; 2018), que refletem e investigam aplicabilidades
metodológicas para representação da informação e do conhecimento de obras
artístico-pictóricas, como segue a linha deste trabalho.
Evidenciando e
reconhecendo a complexidade das práticas de representação voltadas a estes
suportes, que envolvem um alto grau de subjetividade, propomos a reflexão de
alternativas possíveis a estes processos, no que tange a encontrar soluções
práticas, com base em metodologias já existentes, que possam potencializar os
resultados das atividades de representação voltadas a estes suportes.
Propõe-se
considerar aqui, como universo específico de reflexão, a relação entre a
mineração de textos, por meio do software Sobek[4] e a representação da informação de obras
artístico-pictóricas, constantes nas pesquisas de Medeiros (2017), e Medeiros e
Pinho (2017). Estes autores revelam, nos estudos sobre as obras
artístico-pictóricas, espaços para extração de assuntos que predizem uma
investigação discursiva, do conteúdo e do contexto de produção, que ultrapassa
os vieses analíticos já comuns à representação da informação e do conhecimento
de suportes bibliográficos, tradicionalmente conhecidos na área de Ciência da
Informação.
Estes autores, em
síntese, propõem o uso de mapas conceituais para representação da informação de
obras artístico-pictóricas com representações de memória social. Contudo, seu
trabalho não aponta caminhos práticos de uso dos conceitos e termos extraídos
na construção dos mapas para, por exemplo, aplicação em sistemas de recuperação
de informação, nem mesmo perspectivas que possibilitem uso de tecnologias como
auxiliares no processo intelectual de representação.
Percebe-se que a
documentação gerada, entretanto, pelos processos de representação, como, por
exemplo, os dados textuais das análises das obras, textos de descrição e
análise para delimitação de conceitos de Medeiros (2017), e textos
interpretativos dos mapas, se apresentam como objeto importante que, além da
própria delimitação conceitual relativa ao domínio da obra, podem ser
utilizados como elementos de entrada para softwares de mineração de
texto, como auxílio à indexação, através de processos automáticos, com usos
possíveis que deem destinos ainda mais abrangentes a essas discussões
metodológicas.
Para tanto, de
modo a investigar o tratamento temático dessa documentação, considerando o viés
metodológico tratado por Medeiros (2017), discutimos sobre as relações
possíveis entre os softwares de mineração de texto, especificamente o
Sobek, nos processos de representação, com base na documentação gerada pela
análise de obras artístico-pictóricas, como recurso de sistematização de termos
(representativos e/ou derivados dos conceitos) para produção de produtos
documentários, tomando como base o estudo de caso envolvendo a documentação de
três das obras artístico-pictóricas trabalhadas pelo autor.
Deste modo,
entende-se que a mineração de texto possa auxiliar metodologicamente nos
processos de indexação, possibilitando encontrar termos relevantes em
documentos de texto, estabelecendo padrões e relacionamentos entre eles com
base na frequência e temática dos termos encontrados (SERAPIÃO, 2010 apud
PEZZINI, 2016, p. 59), onde se encontra a oportunidade na qual se embasa a
presente reflexão sobre os softwares de mineração e a representação de
obras artístico-pictóricas.
Submeter a
documentação gerada na atividade de representação ao processamento automático
do software de mineração perfaz-se, não como um desvio metodológico do
que já se observa na pesquisa dos autores supracitados, mas como uma
investigação inicial do uso de instrumentos tecnológicos na busca por
efetividade e eficácia nas atividades de representação, na garantia de que o
acesso à informação e a formação do conhecimento possam ser contínuos através
das discussões e descobertas científicas da área de Ciência da Informação.
Deste modo, o
objetivo geral deste trabalho foi apresentar uma relação possível entre os
softwares de mineração de textos e a sistematização de termos nas práticas de
representação da informação a partir da documentação gerada pela análise de
obras artístico-pictóricas tratadas por Medeiros (2017).
Uma vez que se
faz ausente, ainda, tal relação de abordagem na Ciência da Informação, podem-se
considerar propostas como estas oportunidades de se investigar novos caminhos
para o uso de recursos tecnológicos na representação da informação de suportes
não convencionais de informação, assumindo como justificativa de
desenvolvimento da pesquisa, a necessidade de abrir espaços à discussão,
investigando as possíveis relações através de aplicações práticas, admitindo, contudo,
a constatação de possíveis hipóteses, às descobertas tanto positivas quanto
negativas acerca do objeto estudado, desencadeando, deste modo, o surgimento de
novos vieses de percepção tanto das atividades práticas (neste caso específico
das práticas de representação da informação e do conhecimento), quanto do
desenvolvimento e aprimoramento dos recursos tecnológicos diversos (neste caso,
dos softwares de mineração de texto).
2 REPRESENTAÇÕES EM
MAPAS CONCEITUAIS E MENTAIS DE OBRAS ARTÍSTICO-PICTÓRICAS
O entusiasmo de
atender às necessidades de acesso à informação tem permitido, ao longo dos
anos, e cada vez mais, que a Ciência da Informação e suas subáreas, se
proponham a investigar e desenvolver instrumentos, modelos e tecnologias que
permitam a representação e a recuperação da informação. Observamos, por meio
desta constatação, a exemplo, os estudos sobre o uso de mapas conceituais como
recursos e instrumentos na área de Organização e Representação da Informação e
do Conhecimento - ORIC, como os trabalhos de Rodrigues e Cervantes (2013; 2014;
2016; 2017), Rodrigues, Cervantes e Lunardelli (2016), Cordovil e Francelin
(2018).
Pode-se notar que
na área de ORIC, parte dos trabalhos dedicados a compreender o uso dos mapas
conceituais está relacionada à aplicação deste tipo de metodologia ou
instrumento para aplicação em suportes informacionais de, consequentemente,
áreas diversas. Destacamos, deste modo, os estudos sobre mapas conceituais para
a representação de suportes não convencionais de informação, como as obras
artístico-pictóricos, pelos trabalhos de Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho
(2017).
No caso desses
últimos autores, em específico, dedicados ao suporte artístico de informação, ilustra-se quão complexa a representação da
informação e do conhecimento pode se tornar quando ultrapassa as perspectivas
tradicionais de indexação dos suportes bibliográficos. Ao discutirem vieses metodológicos possíveis
para aplicação de mapas conceituais a estes suportes, uma vez que é que
intrínseca a estas pesquisas, os autores procuram, também, compreender as obras
artístico-pictóricas sob os olhos da Ciência da Informação, respeitando e
valorizando o seu domínio de origem.
Pesquisas como a
acima citada nos dão indícios, na produção científica nacional, da busca por
progresso em relação às metodologias, e a própria perspectiva de indexação de
imagens. A complexidade que acompanha tal processo carece, ainda, de mais
investigação e discussões, assim como mais perspectivas práticas que possam
orientar os possíveis percursos para essa atividade voltada ao suporte
artístico de informação.
Merece atenção,
também, no âmbito da indexação, entender que, muito embora haja os processos de
representação intelectuais e automáticos para a representação de conteúdo
textual, quando o foco é a imagem de uma maneira geral, a automação na
representação ainda é algo pouco discutido. Ainda que ambos os tipos de
representação sejam processos distintos é, no fato de não serem excludentes,
que estes processos de representação se fortalecem, aprimorando e facilitando
as atividades dos profissionais de informação.
Observando para
além da ação objetiva da indexação, as atividades de representação com
processos intelectuais, exigem um maior contato e compreensão do profissional
da informação com o domínio do conhecimento do qual pertence o objeto
documental a ser representado. Os mapas conceituais, como trabalhados para a
representação das obras artístico-pictóricas por Medeiros (2017) e Medeiros e
Pinho (2017), quando utilizados como instrumentos de representação nos estudos
de Ciência da Informação, mostram claramente esta necessidade. Além de serem,
uma vez construídos, produtos da representação, os mapas conceituais são, em
sua compreensão de processo, uma metodologia que possibilita a aproximação do
profissional ao domínio, na formação desta compreensão.
Os mapas conceituais, criados
pelo professor Joseph Novak, na década de 1970, são, segundo Tavares (2007),
estruturas temáticas, que sistematizam conceitos pertencentes a uma mesma rede
de proposições. Tais estruturas de sistematização oferecem a visualização de um
domínio do conhecimento com base na organização lógico-cognitiva de quem a
produziu, permitindo uma visualização que considera a profundidade e extensão
da temática representada.
Moreira (2013), corroborando com
Tavares (2007), aponta os mapas conceituais segundo a sua aplicação aos
domínios do conhecimento diversos, apresentando-os como diagramas que
estabelecem as relações de sentido entre conceitos, segundo uma ordenação
hierárquica. Os mapas conceituais são, assim, conforme apresentam Rodrigues e
Cervantes (2013, 2016), ferramentas fundamentadas na aprendizagem
significativa, de David Ausubel, na busca por representações do conhecimento
armazenado na estrutura cognitiva dos indivíduos.
Ressaltamos, também, os mapas mentais ou os mind
maps, que não tão diferentes dos mapas conceituais, foram desenvolvidos
também na década de 1970, pelo inglês Tony Buzan, com o ideal de ser uma forma
possível de se organizar o conhecimento através de uma representação livre e
não necessariamente linear (CORDOVIL; FRANCELIN, 2018), sendo apresentados
visualmente em formas de diagramas. Muito embora tenha propósitos similares aos
dos mapas conceituais, os mapas mentais possuem uma forma mais livre de construção.
No caso dos mapas mentais, as relações de associação entre as ideias não
precisam, necessariamente, serem descritas com palavras de ligação, o que é
mais comum nos mapas conceituais.
No caso da
representação de obras artístico-pictóricas o uso de mapas conceituais como
instrumentos de representação da informação e do conhecimento se dá, como
explica e ilustra Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho (2017), como mecanismo
para análise, extração de conceitos e documentação do conteúdo narrativo das obras,
criando novas formas de organização e apresentação desta narrativa para fins
documentários diversos, desde o estudo e compreensão do domínio a usos diversos
para recuperação e uso da informação.
Evidencia-se, com
o uso de mapas conceituais para representação do conteúdo de obras
artístico-pictórica, pela perspectiva metodológica dos autores acima, que esta
atividade gera uma documentação que é desenvolvida no processo de transcrição
do conteúdo visual da imagem para um formato textual nos processos de análise e
interpretação. Neste caso, os autores registram, no momento de construção da
sua análise de conteúdo e extração de conceitos, textos descritivos relativos a
cada obra, que embasaram a construção de mapas conceituais para a representação
e documentação de seus domínios.
Visualizamos
nestes tipos de registros descritivos, relativos à representação das obras
artístico-pictóricas de Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho (2017), por mapas
conceituais, uma perspectiva de evolução dos processos de análise e extração de
conceitos. Dada à complexidade das atividades citadas, que demandam não apenas
de tempo, mas, de grande esforço intelectual dos profissionais de informação,
consideramos oportuna à discussão sobre as possibilidades de automação de
algumas etapas destes processos, com o auxílio de ferramentas tecnológicas.
Esta discussão pode, em um futuro não distante, evoluir ao desenvolvimento de
sistemas mais complexos e completos para representação do conteúdo de imagens
artísticas através de instrumentos para automação destas atividades.
É, a partir do
exposto, que inserimos o uso de softwares de mineração de texto como uma
possível porta de entrada para esta discussão sobre a possibilidade de inserção
de ferramentas tecnológicas para auxílio na representação do conteúdo de obras
artístico-pictóricas. Este tipo de ferramenta – apresentada de forma mais
detalhada na seção seguinte – utiliza documentação textual para sumarização e
criação de índices de assuntos relevantes. Deste modo, nos é ponto de
interseção com a perspectiva metodológica de Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho
(2017), a utilização de textos para extração de conceitos, o que nos permite a
ideia de relacionar ambos os processos, de modo a vislumbrar uma possível
interoperabilidade das práticas manuais e automáticas na representação da
informação de suportes artístico-pictóricos de informação.
De modo a iniciar
na literatura nacional tal discussão, este trabalho, de maneira prática, testa
como um software de mineração de texto se comporta ao utilizar a
documentação gerada pela análise do conteúdo de imagens artístico-pictóricas.
Para este teste, foi utilizado um software de mineração de textos
chamado Sobek, apresentado com detalhes no tópico seguinte. Este software gera,
em seu processo de sumarização, apresentações gráficas em forma de mapas
mentais, com relações estabelecidas pelo grau de relevância dos termos
elencados por ele através de relações estatísticas de proximidade.
No tópico
seguinte, apresentamos a mineração de textos, bem como os softwares de
mineração de textos, especialmente o Sobek.
3 MINERAÇÃO DE
TEXTO E SOFTWARES DE MINERAÇÃO DE TEXTO
A principal
relação que propomos neste trabalho é a dos softwares de mineração de
texto com as atividades de representação da informação e do conhecimento em
obras artístico-pictóricas. No entanto cabe-nos apresentar, inicialmente a
mineração de textos, com a ressalva de que, não é objetivo deste trabalho
apresentar um panorama exaustivo com base na literatura de Ciência da
Informação sobre os conceitos apresentados, mas, elucidar de forma breve estes
conceitos para que seja compreensível a aplicação prática que se segue.
De antemão,
conforme apresenta Kaur e Aggarwal (2013), a mineração de texto pode ser vista
como uma técnica emergente da área de Mineração de Dados. Esta última,
corresponde a uma área que lida com a análise de dados, para extração de
padrões úteis e válidos, sendo, também, um processo que está no centro do KDD - Knowledge
Discovery in Databases (KAUR; AGGARWAL, 2013). KDD pode ser entendido como um
“conjunto de ações de exploração e análise de dados, envolvendo seleção,
pré-processamento, limpeza, transformação [...] interpretação e avaliação”,
incluindo a própria mineração de dados (STOROPOLI et al., 2016, p. 6).
A mineração de
texto, segundo Woszezenki e Gonçalves (2013), se compreende como uma técnica
utilizada para extração de informações importantes de textos. Pode ser
entendida, também, como “o estudo e a prática de extrair padrões, regras e
tendências a partir do texto completo [...] usando princípios da linguística
computacional e métodos analíticos”. (SULLIVAN, 2001; FAIIAZEE et al., 2012
apud WOSZEZENKI; GONÇALVES, 2013).
Já Allahyari et al. (2017), traz uma definição de
mineração que corrobora com a definição de Kaur
e Aggarwal (2013), na qual a apresenta como uma tarefa que ganhou atenção nos
últimos anos, visando extrair informações significativas de textos, fazendo uso
de técnicas e algoritmos com intuito de descobrir padrões úteis.
Para Yoon, Phaal
e Probert (2008), a mineração auxilia na identificação de assuntos relevantes,
numa possível extração de conhecimentos, atentando-se à forma pela qual os
resultados dessa extração podem ser apresentados, com o uso de palavras-chaves,
com apresentações que resumem os conteúdos e estabelecem as relações entre os
documentos.
A descoberta de padrões relevantes e úteis é, sem dúvidas, a principal
característica da mineração de textos, e está presente em grande parte das
definições que se encontra na literatura da área de Ciência da Informação. Do
mesmo modo, Barrera (2014), faz ênfase a esta qualidade, corroborando com os
demais autores e, especialmente com Yoon, Phaal e Probert (2008), no que se refere à extração de
conhecimentos. Para Barrera (2014), a mineração de texto é um processo
responsável pela descoberta de conhecimentos implícitos, emergentes do
relacionamento de vários textos de uma coleção.
Em diálogo com
representação da informação e do conhecimento em obras artístico-pictóricas
desenvolvidas por Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho (2017), observamos que a
mineração de texto é uma alternativa que nos ajuda a pensar meios de
manipulação de documentos textuais relativos ao processo intelectual de
indexação para descoberta de assuntos relevantes. Importante, também, que,
muito embora este trabalho se detenha a esta documentação, esta reflexão pode
se ampliar às demais documentações relativas às imagens artísticas, inclusive,
documentações textuais de outras fontes, que, combinadas com as da análise do
profissional de informação podem, quem sabe, ampliar ou evidenciar novas
relações importantes de assuntos, que mereçam ser indexadas.
A mineração de
textos pode, assim como coloca Barrera (2014), contribuir não apenas na
identificação de assuntos relevantes, mas ajudar a encontrar desvios e
associações que passam despercebidas no manuseio de um documento ou de um
conjunto deles. Assim como apresentam Gupta e Lehal (2009), estas descobertas
possíveis através da mineração de textos são realizadas por computadores, em um
processo de extração automático de um ou diversos recursos escritos.
Embora
os softwares de mineração de textos tenham muitas aplicabilidades,
especialmente para quais fins forem utilizados, em relação ao uso da mineração
de texto em unidades de informação, por exemplo, Barrera (2014), salienta a
importância desta técnica para as bibliotecas digitais e seus usuários,
situando o uso da mineração de textos, como recurso integrado aos sistemas de
gerenciamento de coleções de texto. Existem muitos softwares de
mineração de texto disponíveis e muitos deles livres. Dentre estes utilizados
em unidades de informação temos, os citados por Barrera (2014), que são o
Greenstone, que é utilizado para o gerenciamento de bibliotecas digitais, e
libViewer que utiliza métodos de agrupamento, para organização de documentos em
bibliotecas digitais e afins, com base em grupos temáticos.
De maneira geral,
os softwares de mineração de texto estão, segundo Pezzini (2016),
relacionados a um paradigma de programação que nasce da busca por entender as
relações textuais, por vezes ambíguas, dos documentos virtuais, que até então
não foram resolvidas por outros paradigmas de desenvolvimento de software
estando, por sua vez, ligadas a diversas outras áreas, dentre elas à
Recuperação da Informação.
Embora
existam outros softwares de mineração de texto, recortamos para tratar
neste trabalho o software Sobek, que é uma ferramenta de mineração de textos desenvolvida para criar
representações em grafos dos termos mais relevantes extraídos de
documentos textuais. O software foi desenvolvido pelo Programa de
Pós-graduação em Informática na Educação, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFRGS, e se encontra disponível tanto a versão de uso online quanto a
versão para download do software.
O
Sobek se destaca entre os demais softwares de mineração de texto, dentro
de nossa discussão, por já ter sido utilizado com textos em português em
pesquisas anteriores e, especialmente, por gerar como resultado uma
representação visual do texto, semelhante a um mapa mental. A forma de
apresentação dos resultados do Sobek se assemelha, portanto, aos mapas
conceituais desenvolvidos por Medeiros (2017) e Medeiros e Pinho (2017).
A
mineração de texto desenvolvida pelo Sobek faz a tarefa de sumarização de
texto, de forma não supervisionada, baseada em modelo de grafo e análise
estatística do texto, sendo aplicado a textos individuais, visando gerar um
sumário ou resumo gráfico do texto. O software utiliza o modelo de
mineração textual conhecido como n-simple, que faz uso de um
[...] algoritmo
que realiza uma análise estatística dos termos presentes no texto e os
seleciona a partir do valor absoluto de sua ocorrência e [...] considera
também as relações de proximidade entre os componentes do texto, ligando cada
termo estatisticamente relevante a N subsequentes palavras também relevantes (SCHENKER,
2003 apud COSTA et al 2017, p. 94, grifo nosso).
Assim
como os mapas conceituais e mentais, as apresentações em grafos geradas pelo
Sobek têm sido utilizadas como ferramentas para compreensão de conteúdos
diversos, na sua assimilação e estudo, também no âmbito educacional. De maneira
muito simples, o software exige apenas a inserção do conteúdo escrito na sua
caixa de texto e automaticamente, com base em cálculos estatísticos – que não perfaz
como objetivo deste trabalho detalhar - extrai e relaciona os principais
termos.
Autores como
Klemann, Reategui e Lorenzatti (2009), definem os grafos gerados pelo
Sobek como mapas conceituais. Consideramos que tal apresentação de grafo
se assemelha mais às estruturas livres dos mapas mentais, o que não diminui a
sua usabilidade, nem seu potencial. De certo modo, a sua apresentação como um
mapa mental restringe, contudo, à características mais complexas de
relacionamentos que são construídas nos mapas conceituais com uso de expressões
e frases de ligação que direcionam a formação de sentido nas relações entre
conceitos.
Assim, este
trabalho ao iniciar a discussão sobre o uso da mineração de texto nas
atividades de representação do conteúdo de obras artístico-pictóricas, vê em softwares
como o Sobek, um forte candidato a aliado ao processo de manuseio da
documentação gerada nas atividades intelectuais de representação, uma vez que,
tendencialmente, este tipo de software já se propõem a apresentar seus resultados
graficamente com diagramações que relacionam os assuntos extraídos em esquemas
similares aos mapas mentais.
Deste modo,
buscando visualizar o comportamento do Sobek ao ser utilizado com documentos
oriundos das atividades de representação da informação e do conhecimento de
obras artístico-pictóricas, propomos com um teste inicial, inserir uma amostra
da documentação gerada por Medeiros (2017), no software e analisar os grafos
gerados, fazendo uma breve comparação com os mapas conceituais resultantes
das representações dos autores citados.
4 METODOLOGIA
Considerando a
realidade das obras artístico-pictóricas tratadas por Medeiros (2017) e
Medeiros e Pinho (2017), documentos visuais, para extração de assunto, se faz
clara, para o processo de representação como um todo, a necessidade de um
processamento manual de análise, para extração de assuntos relevantes, seguido
da delimitação de conceitos e por fim, da criação de uma representação.
O processo de
análise desenvolvido manualmente pelos autores gerou uma documentação
importante, em formato textual, com registros descritivos e interpretativos dos
conteúdos visuais das obras artístico-pictóricas das quais eles tratam. Dentre
esta documentação, foram escolhidos do trabalho de Medeiros (2017) – visto que
este é o trabalho mais abrangente, três (3) textos descritivos extraídos de um
conjunto de 16, referentes à análise de obras artístico-pictóricas, de uma
série intitulada Linguagens do Agreste, de 2014, do artista plástico
pernambucano Joaz Silva. Estes textos descritivos formam as compilações das
informações mais importantes pelas quais Medeiros (2017), pôde extrair as
temáticas das obras, bem como delimitar os principais conceitos e suas relações
para, a partir disso, confeccionar os mapas conceituais do seu trabalho.
O Sobek admite a
inserção textual para extração de assuntos e delimitação de termos descritores.
Neste caso, é possível verificar de que modo o software se comportaria e
como seriam os grafos gerados por este, caso fossem inseridos os textos
da documentação de Medeiros (2017). Assim, como metodologia, utilizamos um
estudo de caso para verificar o comportamento do Sobek ao lidar diretamente com
a documentação gerada pelas análises de Medeiros (2017).
O estudo de caso
admite o estabelecimento de um contato inicial com a questão, tendo como
propósito maior observar, com uma aplicação prática, o comportamento do objeto
estudado para, em possíveis futuras pesquisas, tomar profundidade no
desenvolvimento de aplicações mais complexas de manipulação da documentação, do
software em questão ou mesmo, o desenvolvimento de novos softwares e
ferramentas para mineração voltadas a tipos específicos de textos
documentários.
Assim, tomou-se
como corpus escolhido para realização do estudo de caso a documentação das 3
obras, propondo a sua inserção no software de modo a verificar também os
grafos gerados. A documentação escolhida trata-se dos textos descritivos
das análises das obras Aprendiz de Artesanato, Feira de Caruaru e Faroeste
Caruaruense. Estes textos foram escolhidos sem um critério específico, uma vez
que todos os textos da documentação de Medeiros (2017), seguem a mesma linha de
construção, numa perspectiva descritiva que segue uma metodologia comum para
todos. Da mesma forma, buscou-se fazer a aplicação com apenas 3 documentos
textuais, visto que a ampliação deste número tornaria demasiado extensa a seção
de análise deste trabalho, e possivelmente redundante, visto a similaridade
estrutural e informativa dos documentos.
Os textos
descritivos gerados pela análise de Medeiros (2017), reúnem 3 níveis de
descrição de Panofsky (1991), para descrição de imagens artísticas, que foram
registrados em forma de textos corridos. Como cada uma das obras tratadas por
Medeiros (2017), tratam de temáticas distintas, que foram analisadas pelo mesmo
na sua individualidade, optou-se, também, por utilizar a documentação de 3
obras com referências visuais relativas a assuntos distintos, de modo a
observar se a temática teria influência na extração de assuntos pelo Sobek.
Seguiram-se como
etapas para realização do estudo de caso, para cada uma das documentações, as
três seguintes: a) Organização textual do conteúdo documental; b) Inserção do
conteúdo textual organizado no software Sobek e geração do grafo
e; c) Análise do grafo gerado pelo software Sobek. A seguir
seguem as descrições de cada um dos passos:
a) Organização textual do conteúdo
documental – esta etapa consiste na verificação de linearidade do conteúdo
textual da documentação a ser inserida no software, de modo que, caso
necessário, se estabeleça uma organização com a remoção de espaços, parágrafos,
imagens ou elementos diversos (não textuais) que possam vir a atrapalhar o
processamento do software;
b) Inserção do
conteúdo textual organizado no software Sobek e geração do grafo – uma vez realizada a etapa anterior,
o conteúdo textual é inserido e processado pelo software de modo a gerar
o grafo representativo do conteúdo, com termos descritores e suas
relações;
c) Análise do grafo
gerado pelo software Sobek – por fim, nesta terceira etapa, verificam-se os grafos
gerados pelo software de modo a aferir constatações sobre o processo e
sobre a apresentação visual do grafo, sobre as relações estabelecidas
entre os termos, sua funcionalidade para este fim de representação e as
possíveis relações com os mapas conceituais de Medeiros (2017).
As etapas foram
aplicadas de forma individual para cada documentação, na ordem a, b e c, sendo
que, uma vez que as três documentações[5] utilizadas possuem a mesma forma de apresentação
textual, a etapa a, ocorreu da mesma forma para todas, com a exclusão de recuos
e do seccionamento em parágrafos, deixando o texto contínuo, de modo que não
houve nenhum caso especial de mudança que exigisse especificação detalhada. A
etapa b traz os grafos gerados para as três documentações, estando estes
apresentados ao longo do texto à medida que se discorrem as considerações da
etapa c, que está posta a seguir, considerando os três grafos
simultaneamente, estabelecendo, por sua vez, considerações particulares para
cada um dos grafos à medida que necessário.
Pôde-se observar
que o processo de utilização do Sobek consiste em uma ação simples e muito
prática, sem exigir muitas etapas. O software possui duas versões
disponíveis na sua página, uma para download e uma para uso online, sendo esta
segunda a versão utilizada. Em relação à etapa b, de inserção do conteúdo
textual, a versão online não admite a inserção de arquivos diretamente, sendo
necessário, assim, que o conteúdo seja copiado e colado para a área designada,
o que dificulta por sua vez, que se trabalhe com conteúdos muito extensos.
5 ANÁLISE DOS
RESULTADOS
Uma vez que a
documentação que compôs o corpus deste trabalho foi inserida no software
de mineração de textos Sobek, pontuamos neste tópico as principais
observações que foram constatadas a partir dos grafos gerados,
apresentados neste trabalho em apêndices.
De antemão,
constatou-se que o software em questão possui um processamento rápido,
gerando automaticamente os grafos a partir dos textos. Os grafos, por sua vez, se constroem
de forma fluida, seguindo uma organização dinâmica de seus elementos, sejam
estes os termos apresentados em balões. Do mesmo modo as ligações entre os
termos acompanham a fluidez, de maneira em alguns pontos, as linhas se
interceptam formando grandes emaranhados de ligações.
De uma forma
positiva, observou-se como positiva a extração de termos, para uma possível
avaliação de conteúdos/assuntos presentes no domínio representado. Sendo
possível, deste modo, apontar termos a serem considerados ou não como
descritores representativos de assuntos relevantes. Tais termos podem, de algum
modo, não serem percebidos em um processo de indexação manual, o que já traz
indícios de que a utilização do software de mineração de textos pode
contribuir para o levantamento de conceitos dentro de grandes domínios. De
outro modo, a visualização prévia do grafo pelo indexador poderia
permitir maior agilidade na indexação dos documentos no momento da indexação
das obras artísticas, fazendo com o que software, ainda que não automatizando
por completo a atividade, oriente o processo de extração de conceitos.
O Sobek também
apresenta os termos com tamanhos variados nos grafos. É positivo
considerar que o destaque dos termos pode direcionar, também, o olhar do
profissional indexador a termos importantes, como observando os três
apresentados a seguir. Vê-se no grafo do Apêndice A, os termos obra,
artesanato, produção e criança em destaque. Já no grafo do Apêndice B,
têm-se os termos obra, feira e igreja, e, por fim no grafo do Apêndice
C, os termos colagem, paisagem e cidade de Caruaru. Neste caso, o destaque dado
a estes termos, pelo Sobek, sinaliza que segundo os seus cálculos de
relevância, estes termos possam expressar assuntos de maior importância em
relação ao domínio do texto submetido.
As conexões entre
os termos, por sua vez são naturalmente um ponto positivo apresentado nos grafos
gerados pelo software, uma vez que explicita possíveis relações
conceituais que possibilitam uma interpretação mais profunda do conteúdo na
leitura do grafo e, na compreensão do domínio do conhecimento
representado. Estas relações são importantes por enfatizarem sob quais esferas
os temos se conectam dentro do domínio como um todo, dando-nos aporte a investigar
tais conexões.
O tipo de relação entre termos,
que o Sobek apresenta difere dos mapas conceituais de Medeiros (2017), por duas
características específicas, que são a ausência de setas, que nos mapas
conceituais direcionam o movimento que a leitura perfaz do mapa e a ordem da
ligação entre conceitos e, a ausência de palavras ou frases para estabelecer
quais as relações diretas entre os termos/conceitos são visíveis dentro do
contexto do conteúdo do documento representado. Essa diferença se justifica pelos
fins que ambas as representações possuem, e ainda assim, não diminui a
complexidade da teia formada, pois pode, a qualquer momento, identificar
relações que na construção manual dos mapas não esteja explícito.
O processo de organização
automática dos termos deixa a desejar, por vezes ao permitir que os termos
extraídos se apresentem de forma sobreposta, o que dificulta a visualização das
linhas que apontam as relações, o que é possível observar nos grafos dos
Apêndices A e C. Os grafos estão apresentados neste trabalho da forma
que foram geradas.
Ainda que o Sobek gere os grafos
automaticamente, este disponibiliza as funções de ajuste e edição dos termos,
onde também se podem estabelecer novas conexões entre estes com possível
exclusão e inserção deles, se preferível. Esta função de reorganização dos
termos é importante, para, em casos de usos reais, possam ser solucionados os
casos de arranjos onde os termos se sobrepõem, o que pode dificultar a leitura,
como no grafo do Apêndice A, com os termos “criança” e “trabalho”.
Relacionando o Sobek com a
extração e representação de documentações como as de Medeiros (2017),
documentações estas que possuem um caráter muito particular, de serem
descrições de conteúdos visuais, extraídos com base em análises e, neste
sentido, observando uma utilização que busca atender a perspectivas da Ciência
da Informação, é importante considerar algumas questões.
A primeira delas é que um teste,
com uma aplicação como a deste trabalho, é ciente de que as funções do
software, com base na sua proposta primária de desenvolvimento, não incluem,
por exemplo, que este seja apto a se comportar positivamente ao caso pelo qual
ele está sendo testado. Sendo assim, o estudo de caso realizado busca observar
no processo o comportamento do Sobek durante seu uso, para gerar possíveis
discussões e, fomentar tal ideal de interoperabilidade para, em propostas
futuras, serem testadas novas formas de aplicação e, desenvolvimento de outros
softwares que desempenhem pais similares.
A segunda questão é que,
diferentemente dos mapas conceituais de Medeiros (2017), o Sobek gera esquemas
que não admitem inferências intelectuais durante a construção primária do
grafo, onde se estabelecem as relações. Uma vez que este processo admite um
cálculo estatístico automático. Assim, não é possível, neste momento, a
intervenção de quem manipula o processo, o que se exprime em arranjos menos
densos em relação a abarcar as subjetividades dos textos e, com possíveis
desvios temáticos, uma vez que, termos não necessariamente importantes da
análise intelectual possam aparecer nos grafos, o que pode deixar a desejar,
quando considerados como textos para representação os de Medeiros (2017), com
intencionalidades definidas de apresentação de informações descritivas.
Outra questão evidente nos grafos
gerados pelo Sobek é a aparição de termos isolados, ou seja, sem ligações
estabelecidas diretamente a outros termos, o que pode permitir, dentro de um
processo de compreensão do conteúdo representado, que estes termos, que
nomeamos aqui como “flutuantes”, gerem possíveis confusões, ou seja, por vezes
irrelevantes aos próprios grafos, o que se mostra visível nos três grafos
gerados a partir das documentações deste trabalho, apresentados nos grafos
dos Apêndices A, B e C, onde no grafo do Apêndice A, o termo flutuante “paisagem”, muito embora na
documentação tenha um papel importante na análise da obra artístico-pictórica,
sendo utilizada para designar um aspecto de localidade envolvida na narrativa
visual, aparecendo sem relação nenhuma com os demais termos do grafo, perde,
neste, seu sentido.
Já o grafo do Apêndice B,
por sua vez, traz o mesmo caso com os termos “Senhora da Conceição” e
“Comercialização”, que soltos também deixam de expressar sentidos qualitativos
importantes para compreensão do grafo em sua leitura geral, o que também
acontece com os termos “autor” e “obras” no grafo do Apêndice C. No
entanto, de uma maneira geral, a aparição de termos isolados pode se dar pelo
fato de que o software não encontrou coocorrência no texto deste termo com
outros considerados importantes, o que dentro do processo estatístico o impediu
de estabelecer conexões.
Um caso particular se apresenta
no grafo do Apêndice B, que são os termos “Caruaru PE” e “Barracas”, que
estão ligados entre si, porém desligados de todo o restante do grafo. Estes
dois termos, dentro do contexto textual da documentação, têm ligação direta,
pois, relacionam a cidade à prática de comércio representadas na descrição da
obra, entretanto, a ausência de ligação entre esses termos e o restante das
ideias do grafo, consequentemente, reduz o potencial lógico da apresentação do
gráfico como um todo, uma vez que as relações ausentes podem inibir
constatações lógicas distintas.
Entre as questões destacadas,
observa-se que o Sobek, ainda que de forma menos profunda que os mapas
conceituais de Medeiros (2017), permitem uma visualização geral do conteúdo dos
textos. Isto é um ponto positivo, principalmente, por este apresentar tal
resultado mesmo com a especialidade do texto utilizado neste trabalho, que não
é comumente utilizado nos estudos que envolvem o software em linhas
gerais. Se faz, nesse sentido, admissível considerar estudos mais abrangentes
sobre este tipo de aplicação.
Este estudo de caso nos aponta um
potencial evidente de uso do Sobek como aliado às práticas de representação da
informação e do conhecimento de obras artístico-pictóricas, demonstrado pela
sua agilidade de produção de arranjos com termos, ainda que com as questões já
citadas na sua apresentação visual. Esta agilidade pode, sem dúvidas,
contribuir na visualização prévia das possíveis relações e dos possíveis
caminhos de arranjo que o conteúdo documental das análises das obras pode ter
para representações futuras, até mesmo para a construção de mapas conceituais mais
densos.
A possibilidade de uso de uma
ferramenta de mineração de texto como o Sobek, aliada aos processos
intelectuais de representação, especialmente de representações que admitem
níveis de subjetividades maiores, é um indício de novas perspectivas metodológicas
que trazem praticidade aos profissionais da informação que lidam com suportes
não convencionais, como as obras artístico-pictóricas, na utilização de
ferramentas tecnológicas que auxiliam nos processos intelectuais demorados como
o estabelecimento de relações entre termos e diagramação de mapas.
O estabelecimento de ligações
conceituais, embora se perfaça como processo cognitivo inerente ao homem, pode
ganhar auxílio à medida que as relações de relevância entre os termos possam
ser visualizadas por esquemas automáticos como os grafos gerados pelo Sobek,
numa ação precedente ao aprofundamento com outros tipos de representação.
Não se fazem justo estabelecer
comparações equiparadas entre as infinitas possibilidades relacionais que os
mapas conceituais e mentais permitem em processos intelectuais manuais, com
esquemas gerados pelo Sobek, que tem limitações no estabelecimento de relações,
presas às especificações do texto analisado, enquanto máquina, mas, não se pode
negar que esse tipo de usabilidade é uma tendência aos processos de
representação da informação e do conhecimento, como esse trabalho discute,
especialmente na busca a atender às particularidades de suportes como as obras
artístico-pictóricas, no viés de tratamento pela Ciência da Informação, como o
desenvolvido por Medeiros (2017).
Constata-se a viabilidade de
aprofundamento na discussão de uso do Sobek nos processos de representação da
informação e do conhecimento de obras artístico-pictóricas, como instrumento
auxiliar no processo de delimitação de termos e estabelecimento de relações
entre estes, admitindo, contudo, que esta discussão é, ainda, inicial, e exige
maiores estudos para possíveis propostas metodológicas de uso e, por que não
dizer, de possíveis adaptações do software ou desenvolvimento de novos,
utilizando a lógica do Sobek, para fins de representações com base nas análises
de obras artístico-pictóricas.
6 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Consideramos, com
a reflexão levantada neste trabalho, relevante compreender que há possíveis
aplicações que softwares de mineração de textos e que estes podem, inclusive,
contribuir nos processos de representação da informação de obras
artístico-pictóricas. Abrindo, assim, espaço a novas investigações sobre
alternativas de aprimoramento das práticas de tratamento de suportes não
convencionais de informação.
Trabalhos como
este buscam inovação às práticas de extração de assunto, delimitação de
conceitos, sistematizações de domínios do conhecimento, com o diálogo entre
técnicas já existentes na área de Ciência da Informação, como os processos de
análise de conteúdo, comuns às atividades de representação da informação e do
conhecimento e a mineração de textos, utilizada como técnica para
sistematização de termos e sumarização de conteúdos relevantes de textos,
sugerindo a inserção de alternativas tecnológicas como apoio ao tratamento
temático dos registros de informação, como as obras artístico-pictóricas.
As
particularidades do software Sobek somam muito às discussões de Medeiros
(2017), por direcionarem também, além de um caminho possível de automação de
parte dos processos de representação de obras artístico-pictóricas, novas
possibilidades de, através da mineração, potencializar a delimitação de termos
aplicáveis aos sistemas de busca, uma vez que esse tipo de técnica permite a
criação de índices de assunto, por exemplo, que possam ser utilizados para
ampliar os resultados na recuperação da informação desses suportes e, da
documentação relacionada a estes, em sistemas de recuperação da informação das
unidades de informação e memória, bem como de ambientes virtuais diversos, que
agrupam e disseminam esses tipos de materiais, como galerias, museus,
pinacotecas virtuais e repositórios e bibliotecas digitais.
Por fim,
estimamos como passos seguintes, a realização de novos estudos, sobre
perspectivas metodológicas de representação mista, que possam englobar a
atividade analítica do profissional da informação e o uso de ferramentas
tecnológicas como o Sobek ou outros instrumentos de mineração de textos, na
representação de obras artístico-pictóricas, ou mesmo uma proposta de
desenvolvimento de software, embasado nos princípios da mineração de
texto voltado especificamente para representação de conteúdos documentais
gerados do tratamento desse tipo de suporte artístico.
REFERENCIAS
AGUSTÍN LACRUZ, M. del C. Análisis documental de contenido del
retrato pictórico: propuesta epistemológica y metodológica aplicada a la
obra de Francisco e Goya. Cartagena: 3000 Informática, 2006. 271p. Disponível
em: http://www.brapci.inf.br/index.php/article/view/0000006258/65bc5fc4cfb65d3ca76c36aad3029772/. Acesso
em: 22 jul. 2018.
ALLAHYARI, M. et al.
A brief survey of text mining: Classification, clustering and extraction
techniques. arXiv preprint. 2017. (Submitted on 10 Jul 2017 (v1), last revised 28 Jul 2017 (this version, v. 2)). Disponível em: https://arxiv.org/abs/1707.02919. Acesso em: 18 jul. 2019.
BARRERA,
M. C. Minería de texto: una visión
actual. Biblioteca Universitária,
México, v. 17, n. 2, p. 129-138, 2014.
Disponível em: http://biblio.unam.mx/rbu/index.php/rbu/article/view/72/68. Acesso em: 18 jul. 2019.
CORDOVIL, V. R. S.; FRANCELIN, M.
M. Organização e representações: uso de mapa mental e mapa conceitual. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 19., 2018, Londrina, PR. Anais... Londrina, PR: ANCIB, 2018.
COSTA, A. P. M. et al. Emprego de um software baseado em
mineração de texto e apresentação gráfica multirrepresentacional como apoio à
aprendizagem de conceitos científicos a partir de textos no ensino fundamental.
Ciência & Educação, Bauru, v. 23, n. 1, p. 91-109, 2017.
DEBASTIANI, A. M. Imagens: polissemia versus indexação e
recuperação da informação. 2015. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) –
Universidade de Brasília, Brasília, 2015. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/19050. Acesso
em: 22 jul. 2018.
DEBASTIANI, A. M. Obras
de arte como fonte de informação: uma análise da verossimilhança das
informações contidas em obras pictóricas que representam o Estado do Rio Grande
do Sul. 2012. 92f. Trabalho de Conclusão de Curso (Biblioteconomia)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/54309. Acesso
em: 22 jul. 2018.
GUPTA,
V.; LEHAL, G. S. A Survey of Text Mining Techniques and Applications. Journal
of Emerging Technologies in Web Intelligence, Finland, v. 1, n. 1, 2009.
Disponível em: http://www.jetwi.us/uploadfile/2014/1230/20141230112729939.pdf. Acesso em: 7 jul. 2019.
KAUR, R.; AGGARWAL, S. Techniques for mining text documents. International
Journal of Computer Applications, New York, v. 66, n. 18, 2013. Disponível
em: https://www.ijcaonline.org/archives/volume66/number18/11184-6318. Acesso em: 7 jul. 2019.
KLEMANN, M.; REATEGUI, E.;
LORENZATTI, A. O emprego da ferramenta de mineração de textos Sobek como apoio
a produção textual. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, 20., 2009, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2009.
MAIMONE, G. D. Estudo do tratamento informacional de obras
artístico-pictóricas: cenário paulista: análises e propostas. 2007. 140 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação), Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, 2007. Disponível em: http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/808. Acesso
em: 22 jul. 2018.
MAIMONE, G. D. Imagem artística:
fonte de informação ou contemplação. Cultura
em Recorte: Revista Eletrônica de Museologia e Ação Cultural, Campinas, v.
1, n. 1, p.18-33, jan./jun. 2009. Disponível em: http://www.culturaemrecorte.org/ojs-2.2/index.php/capa/article/view/34/37. Acesso
em: 26 jul. 2018.
MAIMONE, G. D.; GRACIOSO, L. S.
Representação temática de imagens: perspectivas metodológicas. Informação & Informação,
Londrina, v. 12, n. 1, jan./jun. 2007. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/1760. Acesso
em: 22 jul. 2018.
MAIMONE, G. D.; TALAMO, M. F. M.
Tratamento informacional de imagens artístico-pictóricas no contexto da Ciência
da Informação. Datagramazero, Rio de
Janeiro, v. 9, p. 2, 2008.
MEDEIROS, W. O. A
representação da informação em obras artístico-pictóricas como elemento de
compreensão da memória. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação)
– Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
2017. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/24626. Acesso
em: 22 jul. 2018.
MEDEIROS, W. O. A obra pictórica como fonte de informação: a
representação imagética das obras de Marcus Jussier. 2014. 80p. Trabalho de
conclusão de curso (Bacharel em Biblioteconomia) – UFCA, Juazeiro do Norte,
2014.
MEDEIROS, W. O.; PINHO, F. O uso
de mapas conceituais na representação da informação memorialística de obras
artístico-pictóricas. In: PINHO, F.
A.; GUIMARÃES, J. A. (org.). Memória,
tecnologia e cultura na organização do conhecimento. Recife: Ed. UFPE,
2017, p. 297-305. Disponível em: http://isko-brasil.org.br/wp-content/uploads/2013/02/livro-ISKO-2017.pdf. Acesso
em: 22 jul. 2018.
MEDEIROS, W. O.; PINHO, F.
Reflexões sobre a análise documentária em séries artístico-pictóricas. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. 19., 2018, Londrina, PR. Anais... Londrina, PR: ANCIB, 2018.
MOREIRA, M. A. Aprendizagem
significativa, organizadores prévios, mapas conceituais, diagramas e unidades
de ensino potencialmente significativas. In:
ENCONTRO REGIONAL DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (ERAS NORTE),1., 2013, Belém. Anais... Belém: UEPA, 2013.
OLIVEIRA, R. A. Obras
de arte e memória imagética: uma análise dos métodos de representação.
2014. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação). Centro de Artes e
Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014.
OLIVEIRA, R. A.; PINHO, F. A.
Análise dos métodos de representação em obras de arte. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, out. 2014.
PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1991.
PEZZINI, A. Mineração de textos:
conceito, processos e aplicações. REAVI, Santa Catarina, v. 5, n. 8, dez.
2016. Disponível em: http://www.revistas.udesc.br/index.php/reavi/article/viewFile/6750/6415. Acesso
em: 15 out. 2018.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B.
M. N. Identificação de conceitos por
meio de mapas conceituais no âmbito da organização e representação do
conhecimento. In: ENCONTRO NACIONAL
DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 18., 2017, Marília. Anais... Marília, SP: ANCIB, 2017.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B.
M. N. Os mapas conceituais para a
visualização de conceitos de áreas do conhecimento em unidades de informação. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa
Catarina, Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 752-776, jan./jun., 2013.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B.
M. N. Organização e representação do conhecimento por meio de mapas conceituais.
Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 41 n. 1, p.154-169, jan./abr.,
2014.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B.
M. N. Organização e representação do conhecimento por meio de mapas
conceituais. Ciência da Informação,
Brasília, DF, v. 41 n. 1, p.154-169, jan./abr., 2016.
RODRIGUES, M. R.; CERVANTES, B.
M. N.; LUNARDELLI, R. S. A. Mapas conceituais para representação do
conhecimento na perspectiva de Barité. In:
COLÓQUIO EM ORGANIZAÇÃO, ACESSO E APROPRIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO,
2016, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2016.
STOPOROLI, J. E. O uso do
Knowledge Discovery in Database (KDD) de informações patentárias sobre o ensino
a distância: contribuições para instituições de ensino superior. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GESTÃO DE
PROJETOS, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, 5., 2016, São Paulo. Anais... São
Paulo: FAPESP, 2016.
TAVARES, R. Construindo mapas
conceituais. Ciências & Cognição,
Rio de Janeiro, v. 12, p.72-85, 2007.
WOSZEZENKI, C. R.; GONÇALVES, A.
L. Mineração de textos biomédicos: uma revisão bibliométrica. Perspectivas em Ciência da Informação,
Belo Horizonte, v. 18, n. 3, p.2 4-44, jul./set. 2013.
YOON, B.; PHAAL, R.; PROBERT, D.
Morphology analysis for technology roadmapping: application of text mining. R&D Management, v. 38, n. 1, p.
51-68, 2008.
APÊNDICE A – Grafo da
documentação sobre a obra Aprendiz de Artesanato
APÊNDICE B – Grafo da documentação da obra Feira de Caruaru
APÊNDICE C - Grafo da documentação da obra
Faroeste Caruaruense
[1] Doutorando
em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFPE.
[2] Docente do PPGCI/UFPE. Doutor em Ciência da
Informação.
[3] Docente do PPGCI/UFPE. Doutor em Ciência da
Computação.
[4]
Disponível em: http://sobek.ufrgs.br/
[5]Disponível para consulta na dissertação de
Medeiros (2017), nas páginas 94, para a documentação da obra “Aprendiz de
artesanato”, 128, para a obra “Feira de Caruaru” e, 161, para a obra “Faroeste
Caruaruense”.