O ACESSO AOS DOCUMENTOS
COM E SEU O USO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Ana Suely Pinho Lopes [1]
IBICT
Jorge Pedro Sousa [2]
Universidade
Fernando Pessoa
______________________________
Resumo
O presente
artigo propõe-se a analisar as vantagens do acesso aos documentos digitais e ao
mesmo tempo, apontar desafios encontrados ao pesquisar em documentos impressos.
Neste intuito, discorre-se brevemente sobre uma experiência vivida ao pesquisar
em acervos físicos e digitais em bibliotecas portuguesas. Como fundamentação
teórica, busca dar ênfase aos documentos de valor histórico e ressaltar a
relevância do uso da tecnologia no acesso à informação. Como resultado, o
estudo permitiu constatar que o uso da tecnologia da informação aplicada ao
patrimônio documental oferece inúmeros ganhos tanto em relação à redução de
tempo quanto aos custos empregados com a reprodução de cópias e da massa
documental acumulada. Por fim, pode-se perceber que ainda é insignificante o
número de instituições que investem nesses recursos, o que dificulta o acesso a
esse patrimônio e consequentemente compromete o papel de responsabilidade
social, o de disponibilizar os documentos à sociedade em tempo hábil.
Palavras-chave: Recursos tecnológicos. Acesso à informação.
Documentos digitais. Preservação Digital.
ACCESS TO DOCUMENTS WITH
AND WITHOUT THE OF INFORMATION TECHHNOLOGY
Abstract
This article
analyzes the research advantages of accessing digital documents and highlights
the unique challenges of research processes relying on printed documents. The
discussion will consider the real experience of the researcher in physical and
digital archives of Portuguese libraries. As a theoretical foundation, this
article emphasizes the historical value of such documents and affirms the
relevance of using technology when accessing information. The study concludes
that the use of information technology in contexts of patrimonial document is
particularly advantageous because it reduces the research time and costs
incurred by producing and storing a large quantity of documents. Finally, the
low number of institutions investing in these resources complicates access to
this patrimonial information, consequently endangering the social
responsibility of providing timely access to these invaluable archives.
Keywords: Technological resources, Access to
information, Digital documents. Digital preservation.
1 INTRODUÇÃO
Os documentos de arquivos servem como instrumento de apoio à
administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de
prova e informação; dentre suas
funções ressalta-se a responsabilidade das instituições que detém esses
acervos; a de disponibilizar a informação com rapidez, bem como o dever de
cumprir o papel de responsabilidade social - o de dar acesso aos documentos
históricos levando esse legado às futuras gerações e preservar a memória.
A UNESCO na sua Carta para a
Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital, recomenda o compromisso com a
aplicação de políticas públicas voltadas para a preservação do patrimônio
arquivístico digital e convoca os setores públicos e privados envolvidos com a
produção e proteção especial dos documentos em formato digital, a envidarem
esforços para garantir sua preservação e acesso
contínuo (grifo nosso), condição fundamental para a democratização da
informação (UNESCO; BRASIL, 2005).
Nesse
contexto, o advento da Tecnologia da Informação, impactou em muitas mudanças
para a sociedade em forma de inovações. Sendo assim seu uso tornou-se
imprescindível e muito aprazível ao célere tempo o qual estamos a viver,
essencialmente para facilitar o acesso e tornar ágil a recuperação da
informação.
Para Dollar (1994), são os “imperativos tecnológicos” que, teriam grande
impacto nos procedimentos e práticas arquivísticas. Como destaque, a produção
do documento arquivístico digital pela sua especificidade, visto que é gerado,
tramitado e armazenado em meio digital. Nesse contexto, insere-se o acesso ao
usuário, alvo desse estudo.
O emprego de
recursos tecnológicos como contribuição à pesquisa traz-se como experiência um
case vivenciado em bibliotecas portuguesas, tendo como pano de fundo,
documentos considerados arquivísticos por seu valor histórico. Busca-se, com
base nesse case apontar tanto as vantagens encontradas em acervos digitalizados
assim como dificuldades encontradas no acesso aos documentos impressos.
Diante do acesso
a ambos os acervos, impresso e digital, pode-se concluir antecipadamente que é
imprescindível o uso dos recursos tecnológicos para facilitar o acesso à
informação, assim como para colaborar com a vida dos acadêmicos, uma vez que o
acervo disponível online reduz custos
com a reprodução do material para o pesquisador e ainda contribui com o
resultado da qualidade da pesquisa visto que dá acesso às matérias de interesse
sem ônus para o usuário, além de colaborar com a preservação do patrimônio
documental, ao reduzir o manuseio com a reprodução de cópias.
2 ACESSOS AOS
DOCUMENTOS HISTÓRICOS COM O USO DA TECNOLOGIA
Com o advento e o
avanço célere das tecnologias e o uso no tratamento, controle e recuperação da
informação, o papel das instituições de guarda de documentos foi substituído
por aquele que o situa enquanto gestor de sistema de informação, integrado a
outros sistemas, com o objetivo de garantir o acesso aos usuários das
informações.
Ou seja, o eixo
foi deslocado da questão da guarda para a do acesso. Dentro desta visão, é mais
visado o intercâmbio de informações, entre instituições, recuperando-se os
documentos de interesse do usuário a partir de referências fornecidas por cada
instituição membro do sistema que partilha com as demais o controle da
informação existente (SILVA, 2010, p. 105).
Já não é mais
novidade nos dias atuais de que a tecnologia que temos disponível pode garantir
o acesso online do documento a partir
de digitalização de imagens. Para Silva (2010), mesmo no caso de não haver
infraestrutura econômica que possibilite o uso deste recurso, a simples troca
de instrumentos em pesquisa de listagem já garante o acesso do usuário, não ao
documento, mas a sua referência, auxiliando enormemente a sua pesquisa.
Remete-se a
publicação intitulada “Diretrizes gerais para a construção de websites de
Instituições Arquivísticas”:
Os arquivos,
bibliotecas, museus e centros de documentação cumprirão papel estratégico.
Viabilizarão, para pessoas e comunidades não diretamente conectadas, o acesso
público, gratuito e assistido aos conteúdos da internet. Reproduzirá na
internet a função de operar conteúdos organizados segundo metodologias e
padrões de seleção e qualidade. [...] Para a sociedade da informação que
queremos construir: É preciso facilitar o acesso aos acervos culturais
nacionais. O acesso para os cidadãos, à produção artística cultural e
científica de nossas instituições – bibliotecas, arquivos – museus, coleções
particulares etc. deve ser facultado em formato digital para permitir consultas
de forma mais fácil e eficiente (BRASIL, 2000a, p. 3).
Nesse artigo,
discorre-se sobre o acesso à informação com ênfase no uso dos recursos
tecnológicos, uma vez que o motivo que levou a escrevê-lo foi o grande
diferencial detectado na pesquisa realizada em documentos nas mídias digital e impressa.
Segundo Santos
(2017), a questão do acesso vai muito além de se disponibilizar os documentos
digitais preservados, deve-se garantir a acessibilidade, de modo que os mais
diversos usuários sejam contemplados.
Nesse contexto,
segue Santos (2017), cabe lembrar que elencadas as atividades de acesso estão
estreitamente relacionadas às de preservação, uma vez que se preserva para
prover o acesso, seja por meio da difusão ou por meio de solicitações. Em ambos
os casos, há um diálogo possível, no caso da difusão, parte-se do preservador
para o usuário; e no caso da solicitação, parte-se do usuário ao preservador.
O preservador
deverá oferecer condições de acesso aos usuários, neste sentido, observa-se que
os serviços de referência serão direcionados para diferentes tipos de usuários,
o que afetará tanto os formatos, quanto os mecanismos de referência
implementados. Desta forma, é preciso utilizar métodos simples voltados ao
público geral, o qual poderá possuir computadores muito simples, equipados
apenas com alguns softwares básicos.
Tendo em vista estas questões, o preservador deve considerar a criação de
ferramentas específicas com a finalidade de facilitar o acesso (INTERPARES 2 PROJECT, 2007).
Para efeito desse
artigo, destaca-se à facilidade com que é acessada a informação disponibilizada
online e calhou também para refletir
sobre a importância do tratamento digital como efeito para preservação dos
documentos históricos uma vez que esses, caso não estejam digitalizados estarão
sujeitos à reprodução de cópias, manuseio para efeito de digitalização por
terceiros que impacta no risco de sofrerem degradação no processo de
manipulação.
3 O ARQUIVAMENTO E
O FORMATO DOS DOCUMENTOS DIGITAIS
A idealização de
arquivamento digital de documentos é defendida por Baggio e Flores (2012) em
que evidenciam a fragilidade da rápida degradação física, a complexidade de
arquivamento de documentos físicos e o consequente custo para tal. Como
resolução, tem-se a possibilidade de estratégias de preservação digital.
Neste contexto a
alternativa como a digitalização de documentos, tornou-se uma solução adequada,
conforme Freitas; Knauss (2009):
A digitalização
tem por finalidade possibilitar que o órgão produtor ou aquele que tem a
custódia da documentação disponibilize seu acervo à consulta, sem necessidade
do manuseio dos originais. Os documentos submetidos ao processo de
digitalização são armazenados em suportes magnéticos e ópticos, e a pesquisa é
feita por meio de terminais de computadores. A facilidade de acesso – “a possibilidade
de consulta a documentos e informações” – permite que um determinado documento
seja utilizado de maneira rápida e eficiente, sem qualquer preocupação quanto a
sua integridade física. A reprodução digital de documentos se instala, assim,
no campo da conservação de documentos, ao mesmo tempo em que renova a consulta
e o acesso à informação. Desse modo, a tecnologia desafia campos tradicionais
do pensamento arquivístico e reconceitua os campos do acesso e da conservação
de documentos (FREITAS; KNAUSS, 2009).
A digitalização
de documentos, ou seja, o processo de conversão de documentos físicos em
formato digital maximiza o acesso e a disseminação rápida, fácil e econômica
das informações; caracterizando, assim, uma forma inovadora de processos de
administração de documentos no setor público, considerando a mudança na forma
em que os produtos/serviços são criados e entregues (TIDD; BESSANT; PAVITT,
2008). O formato digital de um arquivo é o modo como um processo computacional
pode identificar as informações geradas por meio de um sistema computacional. A
finalidade desse processo é a intenção em preservar a integridade, a
originalidade e a acessibilidade das informações contidas nos documentos
(MÁRDERO ARELLANO, 2004).
A digitalização
de documentos trata-se de uma inovação cada vez mais comum nas organizações
públicas brasileiras, fato decorrente da necessidade da agilidade na
recuperação e utilização da informação, afirmam Schafer & Flores (2014).
Esses autores também relacionam os seguintes benefícios à digitalização de
documentos: simplicidade no compartilhamento de documentos; rapidez na produção
de cópias; rapidez na recuperação da informação em comparação ao suporte físico
(desde que adotadas rotinas consistentes de organização de arquivamento), entre
outras aplicações. Outros recursos fundamentais no contexto tecnológico é o
emprego dos metadados.
4 OS METADADOS
O e-ARQ Brasil
tem como principal finalidade a incorporação dos conceitos arquivísticos em
sistemas eletrônicos, caracterizando-se como um sistema confiável para a
produção e manutenção de documentos arquivísticos, em suas normas apresenta
Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos, dentre os quais incluem-se os metadados.
Os metadados são fundamentais, por se configurarem como importantes
componentes digitais de um documento arquivístico, sendo agentes de informações
relevantes ao seu contexto tecnológico, necessários para a sua preservação. A
implementação de esquemas de metadados permite um histórico das mutações dos
documentos digitais, podendo tornar-se um importante fator para comprovar a sua
fidedignidade.
A definição para
emprego de metadados é muito importante numa política de preservação digital,
visto que esses são estratégias essenciais na preservação dos documentos
arquivísticos digitais, por se tratar de dados que descrevem outros dados,
formando uma estrutura abstrata denominada esquema ou conjunto de metadados.
Tratam-se de componentes dos documentos arquivísticos digitais que descrevem
suas propriedades e componentes necessários à manutenção e comprovação da
integridade, autenticidade e fidedignidade dos documentos, constituindo-se como
instrumentos de análise diplomática dos documentos, ademais, fornecem uma
descrição ampla do documento digital, considerada fundamental para comprovação
de sua fidedignidade.
Sendo assim, os
padrões metadados são importantes para informar o contexto tecnológico dos
documentos digitais, para que os futuros usuários compreendam o ambiente em que
foi criado, bem como o seu histórico de manutenção. Por meio desses padrões é
possível registrar a cadeia de custódia dos documentos digitais e de seus
respectivos componentes.
Além disso, os
metadados podem identificar os documentos de forma única, tanto interna, quanto
externamente, em relação ao acervo ao qual pertencem. Logo, os metadados de
preservação tornam-se componentes-chave para grande parte das estratégias de
preservação digital, pois têm a função de documentar todas as ações proferidas
sobre os documentos.
Os metadados de
preservação são fundamentais para a garantia de acesso fidedigno em longo
prazo, fornecendo assim um histórico que irá auxiliar na interpretação dos
documentos digitais.
5 REPOSITÓRIOS
INSTITUCIONAIS E TEMÁTICOS
As publicações
científicas online, que adotam os softwares recomendados pela OAI e o Movimento
de Acesso Livre, também estão presentes em espaços integrativos online que
possibilitam sua identificação, seleção e uso pelos pesquisadores em um só
local, como se este fosse uma espécie de portal, dispensando o acesso
individual a cada título de revista ou tese, por exemplo. Esses espaços
integrativos são na verdade repositórios temáticos ou institucionais que
funcionam como fontes secundárias na estrutura da literatura científica. Um
repositório digital é um arquivo digital que reúne uma coleção de documentos
digitais. Os repositórios digitais que adotam o modelo OAI, isto é, que adotam
o protocolo OAI-PHM (Open Archive Initiative – Protocol for Metadata
Havesting), compartilham os mesmos metadados, tornando seus conteúdos
interoperáveis entre si. Seus metadados podem ser coletados por sistemas
“virtuais” globais (provedores de serviços), que funcionam como fontes
terciárias. Esse esquema permite a navegação de forma integrada por qualquer
usuário, conforme é feito em uma base de dados, mas com a vantagem do acesso ao
texto completo (PINFIELD, 2004). De um modo geral, os termos “repositórios
institucionais” ou “temáticos” são adotados para caracterizar os repositórios
digitais que reúnem respectivamente a produção científica de uma instituição e
de uma área.
6 O DOCUMENTO
ARQUIVISTICO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL
Os documentos
arquivísticos são produzidos e mantidos por organizações e pessoas para
registrar suas atividades e servirem como fonte de provas e informação. Para
tanto, eles necessitam permanecer fidedignos e autênticos, tal qual foram
gerados, para cumprir fielmente sua função ao longo do tempo, portanto faz-se
necessário implantar políticas, fazer uso de estratégias, métodos e sistemas,
visto que fornecerem evidência de suas ações e contribuir para a ampliação da
memória de uma comunidade ou da sociedade como um todo.
Sendo assim, os
documentos arquivísticos de valor histórico registram as ações governamentais
de uma determinada época da história do país e comprovam os fatos que compõem
parte da memória de um povo, uma vez considerados patrimônio cultural em forma
de legado para a posteridade dada a sua função como documento arquivístico.
A preservação, a
classificação ou o tombamento de objetos móveis e imóveis decorre do
significado simbólico que atribuímos a ele. Todo o produto material das
culturas humanas é dotado de uma funcionalidade, um fim para o qual é
executado. O valor simbólico que atribuímos aos objetos, artefatos, é
decorrente da importância que lhe atribui à memória coletiva. É essa memória
que nos impele a desvendar significado histórico-social, refazendo o passado em
relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro dos limites possíveis,
estabelecidos pelo conhecimento (CAMARGO, 2002, p. 30).
Sendo que, com o
patrimônio documental não é diferente, visto ser reconhecido como patrimônio
cultural podendo ser definido como um conjunto de bens que possui valor
próprio, uma representação da memória da sociedade, considerado de valor
relevante para a memória da sociedade, e a herança do passado a ser preservada
para gerações futuras.
No que se refere
aos acervos documentais das instituições culturais ocorre o mesmo; manter-se
preservada e acessível, para tornar-se um legado e cumprir sua função, a de
transmitir a história às futuras gerações.
Entende-se que
diante dos avanços tecnológicos, com o aumento crescente da produção do
documento arquivístico digital, torna-se cada vez mais complexa a forma de
fazer a gestão dos documentos arquivísticos, diante da sua finalidade que é a
execução eficiente do ciclo vital do documento de forma que garanta que estes
estejam disponíveis, tratados, organizados, arquivados, classificados e
preservados ao longo do tempo. Com as mídias de suporte “base física sobre a
qual a informação é registrada” (BRASIL, 2014b), parte do processo, não foi
diferente, elas também evoluíram e sofreram alterações conforme tendências
tecnológicas.
Diante deste
cenário, vale ressaltar que a ideia de documento assim como a de suporte,
sofreu modificações e passou a exigir mais atenção num instante em que também
sofre impacto da obsolescência tecnológica provocada pela evolução com o passar
do tempo em período remoto. Para Rondinelli (2002) essa razão, inspira cautela
principalmente por sua característica de forma fixa e conteúdo estável, no que
diz respeito ao acesso do conteúdo de caráter informacional no mundo real,
sendo este pura e simplesmente digital. Para Ferreira (2006)
Nos dias de hoje,
uma parte significativa da produção intelectual é realizada com o auxílio de
ferramentas digitais. A simplicidade com que o material digital pode ser criado
e disseminado através das modernas redes de comunicação e a qualidade dos
resultados obtidos são fatores determinantes na adoção deste tipo de
ferramentas. No entanto, o material digital carrega consigo um problema
estrutural que coloca em risco a sua longevidade. Embora um documento digital
possa ser copiado infinitas vezes sem qualquer perda de qualidade, este exige a
presença de um contexto tecnológico para que possa ser consumido de forma
inteligível por um ser humano. Essa dependência tecnológica torna-o vulnerável
à rápida obsolescência a que geralmente a tecnologia está sujeita (FERREIRA,
2006, p.17-18).
Entende-se que,
como resultado do avanço tecnológico que os suportes, grandes vilões da ameaça
tecnológica, têm sido levados a modificações frenéticas caracterizando a sua
natureza mutável e sua durabilidade tem se tornado cada vez menor se comparado
às mídias anteriores na história da sociedade, mesmo aquelas que antecederam ao
papel.
Ressalta-se a
gravidade do problema vez que as mudanças tecnológicas põem em risco a
autenticidade da informação registrada e ameaçam a preservação dos documentos
digitais considerando-se que, num pouco espaço de tempo, em menos de meio
século, a partir do surgimento dos equipamentos de hardwares e programas de
softwares estes passaram a fazer parte das nossas atividades no dia a dia.
Em decorrência do
aumento da produção digital, acesso e recuperação, a preservação dos documentos
em meio digital, passou a ser fator de preocupação como um desafio imposto aos
arquivistas, com a necessidade de busca por soluções de preservação em longo
prazo desses documentos pela exigência em pouco espaço de tempo do uso de novas
ferramentas que superem essas questões e atendam a modernidade. Sedo assim, há
que contextualizar a preservação segundo os meios os quais os documentos
estarão armazenados pensando na Preservação Digital.
A Preservação
Digital segundo Márdero Arellano “compreende os mecanismos que permitem o
armazenamento em repositórios de dados digitais que garantem a perenidade dos
seus conteúdos”. Segundo este autor, “a condição básica à preservação digital
seria a adoção de métodos e tecnologias que integrariam a preservação física,
lógica e intelectual dos objetos digitais” (MÁRDERO ARELLANO, 2008, p.44).
Para preservação
dos registros em meio digital e para resguardar fundos da memória e história da
humanidade armazenados em meio digital é fundamental a adoção de estratégias de
preservação digital. “A aplicação de estratégias de preservação para documentos
digitais é uma prioridade, pois sem elas não existiria nenhuma garantia de
acesso, confiabilidade e integridade dos documentos a longo prazo.” (MÁRDERO
ARELLANO, 2004, p.15).
Nessa abordagem
voltamos a falar sobre os suportes de armazenamento que assim como os demais
aparatos tecnológicos, estão ameaçados pela obsolescência tecnológica e
expostos a fragilidade devido a manipulação, tempo de uso e qualidade da mídia,
falhas no processo de fabricação e a obsolescência tecnológica isto sem citar
os fatores naturais.
Embora o advento
dos meios de armazenamento eletrônico seja bastante novo, uma quantidade
substancial de informações armazenadas eletronicamente tem se deteriorado e
desaparecido. Existe um dilema: a capacidade de registrar informações aumentou
exponencialmente ao longo do tempo, enquanto que a longevidade dos meio
utilizados para armazená-la cresceu de modo equivalente (LIMA, 2007, p. 24).
Ao referir-se aos
suportes de armazenamento que envolve a preservação dos registros em meio
digital, entende-se que estes devem ser tratados como um fator de alerta no
sentido de mantê-los contínuos, vez que se tratam de meios que fazem parte do
contexto da longevidade digital e que exigem, portanto, cuidado especial tendo
em vista que serão além de 62 condutores, complementos para o armazenamento
local e de relevância para garantir o acesso, a recuperação e a preservação da
informação em longo prazo.
Outra
característica essencial para a preservação dos documentos arquivísticos
digitais por longo prazo é a autenticidade. O Glossário de Documentos
Arquivísticos Digitais (BRASIL, 2014a, p. 8) traduz o termo autenticidade como
“credibilidade de um documento enquanto documento, isto é, a qualidade de um
documento ser o que diz ser e que está livre de adulteração ou qualquer outro
tipo de corrupção”.
Mediante essas
constatações e tendo em vista o risco da adulteração e a insegurança que
permeia o mundo digital, e principalmente considerando-se o fator preservação
digital confiável, focamos a atenção em busca de estratégias que assegurem a
autenticidade dos documentos digitais e preserve-os diante das ameaças causadas
pela tecnologia digital.
Entende-se assim,
que a preservação digital aplica-se a garantir que as informações sejam
preservadas de forma legível e acessível, mantendo simultaneamente as suas
características de autenticidade e integridade pelo tempo que se fizer necessário.
Dessa maneira, a preservação digital é uma política de contenção as ameaças e
riscos, para colaborar com a manutenção de um legado cultural, histórico e
científico.
7 O DOCUMENTO
ARQUIVÍSTICO COMO MEMÓRIA
O documento arquivístico
é tratado como memória, visto que registra fatos históricos seja de
instituições ou de pessoas, reconhecido pela UNESCO, como patrimônio
arquivístico digital, tendo em vista que traz o registro de uma sociedade sendo
assim um patrimônio a ser preservado (UNESCO; BRASIL, 2005). Diante dessa
compreensão, busca-se promover a interação dos termos discutidos neste estudo -
patrimônio cultural e patrimônio documental e para tal, faz-se um elo com o
pensamento intrínseco da correlação ao significado de patrimônio cultural
definido por Bellotto (2014):
A preservação do
patrimônio cultural significa a preservação da memória de toda uma sociedade
que tenha produzido e acumulado aquele patrimônio, que é a soma de todos os
saberes, fazeres, comportamentos e experiências que, a partir dos seus objetos,
registros e produtos concretos, foram produzidos no evoluir dessa sociedade
(BELLOTO, 2014, p. 135).
A autora aborda a
importância dos registros, frutos dos fazeres da sociedade que se tornam
patrimônio cultural, cabendo aqui uma referência aos documentos arquivísticos.
São esses documentos que passaram por critérios de avaliação, tidos como de
valor permanente que preservados, passaram a ser considerado patrimônio
documental, conforme expresso abaixo:
Os documentos que
se acham nos arquivos públicos foram criados por razões administrativas,
jurídicas, técnicas, científicas etc. e que, considerados de valor
informacional permanente dentre os que foram criteriosamente eliminados, foram
preservados, passando a integrar o patrimônio cultural na categoria de
patrimônio documental de uma comunidade, região ou país.
Bellotto (2014)
faz uma analogia entre patrimônio documental e elementos do patrimônio
histórico, considerando a temporalidade de produção e uso:
Os acervos
documentais permanentes são patrimônios documentais e integram o patrimônio
histórico. Este é considerado, por alguns autores, como um segmento do
patrimônio cultural de uma nação ou de um povo (Lemos, 1981 apud Bellotto,
2014). Mas, com a diferença que os elementos do patrimônio cultural estão em
constante produção e em uso imediato, enquanto os elementos do patrimônio
histórico são produtos acabados. São mais que tudo, testemunhos, provas e,
frequentemente, restam apenas amostras daquilo que já fora utilizado dentro da
sua finalidade imediata de criação. Assim, o conteúdo formal e informativo dos
arquivos permanentes é patrimônio histórico/cultural, tanto quanto o patrimônio
edificado.
Na perspectiva de
patrimônio cultural e documental, inserem-se os documentos arquivísticos seja
qual for o formato, a mídia em que se encontram desde que comprovem valor
legal, informativo e cultural, tidos como documentos históricos, aptos de serem
preservados às futuras gerações e no caso específico registrem os fatos
históricos registrados em determinada época referentes a um país, no caso,
vivenciado, o registro da imagem do Brasil em revistas ilustradas portuguesas,
pelo colonizador.
8 CONCLUSÕES
Pode-se concluir
que o investimento em recursos tecnológicos para os acervos documentais é ainda
muito pequeno, imagina-se que se tem em vista o alto custo dos serviços de
digitalização e com a manutenção das bases de dados.
As bibliotecas
que detém os acervos que foram pesquisados são detentores de documentos
históricos valiosos que guardam a imagem da história do Brasil, uma vez que se
buscou as revistas ilustradas portuguesas referente ao primeiro século
pós-independência (1822-1922). Fisicamente, ainda encontram-se em bom estado de
conservação, mas com o tempo, caso não conte com um projeto de digitalização e
disponibilização online corre o risco
de sumir, pois uma vez que não estão disponíveis em formato digital, na
maioria, ainda em papel, além do manuseio, expostos a degradação, de difícil
acesso e podem comprometer a qualidade do trabalho final do pesquisador, tendo
em vista o alto custo com a reprodução dos mesmos.
Das quatro
bibliotecas frequentadas para a pesquisa apenas uma conta com parte do acervo
disponível online, o que somou muito à satisfação ao realizar a pesquisa; sendo
este o acervo que mais contribuiu com a pesquisa embora todas disponibilizem
sistemas de base de dados com as referências acessíveis, o que contribui de
certa forma com a recuperação da informação impressa.
Pode-se notar, em
contato com os profissionais que há projetos em andamento para digitalização do
acervo, mas, a justificativa do ainda não realizado, é a inexistência de verba,
o que não é novidade na nossa área.
Um fator que
dificultou a pesquisa em acervos impressos foi a burocracia imposta na busca
pelo acesso aos documentos, o apego demonstrado na postura profissional que
também dificulta a pesquisa.
De
acordo com Heed (2015), as práticas profissionais
arquivísticas permanecem praticamente inalteradas e essencialmente voltadas
para o papel e para atender as demandas atuais; há que entender que, diante da
evolução tecnológica desenfreada e do impacto causado nos arquivos não há mais
como continuar com as mesmas regras, práticas, modelo de comportamento;
alterações profundas estão a ocorrer com a transição do analógico para digital,
cenário esse que exige um pensar e atuar mais pró-ativo para assim garantir uma
vida longa aos documentos permanentes de modo que assegure a integridade e a
autenticidade em longo prazo.
Considera-se ter obtido respostas às inquietudes da pesquisa, uma vez que foi possível apontar as diferenças encontradas entre acessar um acervo digital e outro impresso numa pesquisa acadêmica.
Percebe-se que o uso de recursos tecnológicos faz-se irreversível e essencial para o acesso, visto que, na era da informação a qual vivemos, a produção informacional e o campo da comunicação estão pautados na tecnologia da informação.
Os resultados encontrados neste trabalho permitem-nos refletir sobre a baixa utilização dos recursos tecnológicos em instituições documentos o que vem a dificultar o acesso à informação, uma vez que não é dado como prioridade o uso desses recursos para viabilizar o acesso à informação, parece que ainda está distante de ser prioridade dentre as perspectivas estratégicas de gestão.
Conclui-se assim que as instituições de guarda de documentos, no caso, as bibliotecas que serviram de fontes de pesquisas ainda não adotam o conceito de responsabilidade social estratégica, que seria um estágio inicial do conceito atual de responsabilidade social, considerando a literatura em referência.
Com a pesquisa sobre o acesso à informação e a experiência
pode-se constatar que a literatura aponta o acesso como requisito essencial nos
serviços de informação e que o uso de recursos tecnológicos para a gestão dos
documentos históricos é fundamental para auxiliar na recuperação da informação
e colaborar com o acesso, o que foi constatado tanto como facilidade nos
acervos digitais, assim como desafio nos acervos impressos.
Uma vez que,
colocado por Bellotto (2004), o tratamento documental nos documentos, é
fundamental para solidificar as bases que permitem assegurar o acesso à
informação. Visto que a tecnologia da informação aplicada aos documentos deve
suceder a observância aos fundamentos da teoria arquivística.
REFERENCIAS
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