APRESENTAÇÃO

 

 

A Logeion é uma publicação semestral do grupo de pesquisa Filosofia e política da informação do IBICT. Faz cinco anos que trabalhamos para oferecer a pesquisadores, professores e estudantes de Ciência da informação e de Filosofia, além de áreas fronteiriças, um espaço público para conversar sobre a Filosofia da informação.

Contudo, não se pode publicar este número da revista sem reconhecer que estamos vivendo um tempo absolutamente distinto. A Organização Mundial de Saúde declarou alerta global sanitário em função de uma pandemia de gripe por coronavírus19. É uma epidemia que, até agora, tem um alto nível de contágio e uma baixa letalidade. Esta pandemia tem causado centenas de milhares de doentes e dezenas de milhares de mortes. Não temos vacina nem tratamento específicos. Os governos um a um estão aplicando medidas de controle que incluem quarentena, isolamento social, internação compulsória, fechamento de fronteiras, proibição de transporte público, férias escolares, máquinas paradas.

Uma das coisas que esta pandemia está nos ensinando é que o problema com informações não são as notícias fraudulentas. Existem conflitos nas conclusões das pesquisas científicas, nas normas técnicas das autoridades sanitárias e nas declarações dos governos. Informações diferentes são causa, registro e consequência destes conflitos. Outro acontecimento relevante nesta pandemia de gripe por coronavírus pertinente a ser mencionado é aquilo que se pode chamar de epidemia de informações. Há uma onipresença da doença nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais. É quase impossível não ser bombardeado por fatos, análises, opiniões e ironias.

Os cientistas da Informação e os filósofos devem investigar de modo crítico estes acontecimentos para entender e desenvolver teorias e métodos de validação da informação. Sabe-se que não basta evocar o argumento da autoridade e que pode haver acordos discursivos sem correspondência com o mundo da vida.

A pandemia de gripe por coronavírus escancarou os limites das teses neoliberais do Estado mínimo. Só a ação orquestrada dos governos, em todos os níveis, pode enfrentar esta epidemia de modo efetivo. A ação eficaz requer sistemas de saúde de acesso universal e métodos e meios com poder de resolução. Isto demanda pesquisa científica e tecnológica. A pandemia de gripe por coronavírus está mostrando a relevância da ciência e da tecnologia. Isto vai contra ações do governo brasileiro para reduzir o investimento em pesquisa, com corte de verbas e bolsas. Quem quer ter um sistema de saúde eficaz e sustentável precisa de pesquisa e ensino de qualidade.

Cabe aqui o registro que a rede básica de saúde do Sistema Único de Saúde – SUS poderia ser a linha de frente contra a gripe por coronavírus. Contudo, esta rede foi danificada por ações do próprio governo. Em primeiro lugar, pelo fim do programa Mais médicos em 2019, que garantia a presença de médicos em pequenos municípios e nas periferias urbanas. Em segundo lugar, com os cortes de recursos para o Sistema Único de Saúde por um governo que gasta 1 trilhão de reais por ano com juros e amortização da dívida pública (38% do orçamento da União). Uma emenda constitucional criou um teto de gastos com saúde que a pandemia está expondo como absurda.

Assim, a publicação deste número da revista não deve ser confundida com apologia de uma situação de normalidade. Estamos publicando porque temos compromisso com autores e leitores, mas estamos com os olhos bem abertos para a realidade. E queremos que nossos parceiros também tenham clareza nestes tempos difíceis.

Finalmente, gostaríamos de sugerir aos nossos leitores que neste tempo de isolamento social vasculhem também os números anteriores da nossa revista. Vocês vão encontrar pérolas preciosas e artigos que trazem contribuições extremamente originais, algumas delas que ainda não estão devidamente exploradas.

 

 

 

Boa leitura!

 

 

Rio de Janeiro, 22 de março de 2020

 

 

Clóvis Ricardo Montenegro de Lima

Editor