DESMATERIALIZAÇÃO DOCUMENTAL E VÁCUO INFORMACIONAL
o comprometimento da natureza ontológica do documento em um serviço de música streaming
Alexandre Valdevino da Silva[1]
Universidade Federal de Pernambuco
alexandrevaldevino@hotmail.com
Májory Karoline Fernandes de Oliveira Miranda[2]
Universidade Federal de Pernambuco
Murilo Artur Araújo da Silveira[3]
Universidade Federal de Pernambuco
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Este artigo reflete sobre a desmaterialização de um tipo documental e seus arranjos no contexto digital, observando que a desmaterialização do álbum sonoro é marcada por um fenômeno nomeado de vácuo informacional no contexto do serviço de música digital Spotify. A desmaterialização de tipos documentais mostra-se uma realidade consolidada em tempos de informação digital. Com as inovações tecnológicas, mudanças culturais, comportamentais e todo um arcabouço conceitual e epistémico atrelado a essas inovações floresce e se desenvolve num curto espaço de tempo. Revisita a noção de documento e neodocumentação, adotando-se a premissa Neodocumentalista a respeito do valor contextual que a materialidade do documento oferece. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, bibliográfica, documental e telematizada e utiliza como corpus de pesquisa 112 álbuns sonoros da extinta gravadora pernambucana Rozenblit. Constata-se que a desmaterialização dos álbuns sonoros tem como característica principal o comprometimento da natureza ontológica do documento, da marca distintiva deste enquanto documento: a sua natureza informativa.
Palavras-chave: Desmaterialização. Documento. Neodocumentação. Vácuo Informacional. Álbum de Música.
DOCUMENTAL DEMATERIALIZATION AND INFORMATIONAL VACUUM
the commitment to the document's ontological nature in a streaming music service
Abstract
This article reflect on the dematerialization of a documentary type and its arrangements in the digital context, noting that the dematerialization of the sound album is marked by a phenomenon named informational vacuum in the context of the digital music service Spotify. The dematerialization of documentary types is a consolidated reality in times of digital information. With technological innovations, cultural and behavioral changes and a whole conceptual and epistemic framework linked to these innovations, it flourishes and develops in a short period of time. Revisits the notion of document and new documentation, adopting the Neodocumentalist premise regarding the contextual value that the materiality of the document offers. The research is characterized as exploratory, bibliographic, documentary and telematized and uses 112 sound albums from the extinct Pernambuco record company Rozenblit as a research corpus. It appears that the dematerialization of sound albums has as its main characteristic the compromise of the ontological nature of the document, of the distinctive mark of this as a document: its informative nature.
Keywords: Dematerialization. Document. New documentation. Informational Vacuum. Music album.
1 INTRODUÇÃO
A atividade epistemológica de pesquisa, entre muitos objetivos, tem como propósito revisitar e reorganizar conceitos já consolidados. A medida em que o conhecimento avança e os aportes tecnológicos se impõem, o sistema que abarca as definições e os conceitos representam um complexo rizoma relacionado ao fenômeno conhecido como informação, estabelecendo elementos e traços característicos que interessam à Ciência da Informação (CI) (SARACEVIC, 1996). Nessa relação entre os novos conhecimentos e os aportes tecnológicos que se conformam no bojo das discussões e interesses da CI, as definições e os conceitos sobre as tipologias documentais necessitam ser problematizados e discutidos.
Constata-se na pesquisa que há escassez de investigações na CI que tomem o tipo documental álbum de música, e sua consequente desmaterialização no contexto digital, como elementos centrais da corrente chamada Neodocumentação. Em tempos de informação digital, a relação entre desmaterialização da informação e tipologia documental apresenta uma tensão fundamental e que interfere na compreensão dos conceitos consolidados sobre o tipo documental desta pesquisa: álbum de música ou álbum sonoro. Nesta esfera de discussão e problematização, mantem-se as propriedades tradicionais e de vanguarda, sistematizadas por Otlet (1929), mas assume a contemporaneidade latente e dialógica no digital.
A convivência entre o analógico e o digital cria tensões interessantes de entendimento que interfere nos modos de produção, disseminação e utilização desses registros documentais, quer pensemos em livros, mapas, filmes ou músicas. Neste sentido, questiona-se: os registros documentais oriundos das ações humanas em formatos, últimamente, desmaterializados são potenciais de vácuo informacional? A questão indica o caminho a ser percorrido e contribui para demonstrar os vínculos entre o contemporâneo e a tradição.
A desmaterialização abriga “[…] uma série de reflexões em torno das transformações sofridas em variados setores da indústria cultural, com a popularização da internet […]”, conforme pontuam Polivanov e Waltenberg (2015, p. 263). Os mercados gráfico, sonoro e cinematográfico são diretamente afetados pela desmaterialização dos suportes, entendida como a transição de registros produzidos originalmente no formato analógico e migrados para o digital.
Neste contexto, o objetivo geral da pesquisa é analisar a desmaterialização de um tipo documental e a existência do vácuo informacional em álbuns sonoros no serviço de música streaming Spotify. A perspectiva lançada pretende refletir sobre o elemento de comprometimento da natureza ontológica do documento e contextualizar a premissa neodocumentalista a respeito da materialidade do documento.
A pesquisa é caracterizada como exploratória, bibliográfica, documental e telematizada, adotando o modelo quadripolar sugerido por Silva e Ribeiro (2002). O corpus de investigação está direcionado aos 112 álbuns sonoros da extinta Gravadora Rozenblit. Este corpus é composto por documentos analógicos, consultados fisicamente, e posterior consulta da sua representação na plataforma do Spotify. Identifica-se a existência do vácuo informacional, relacionado aos novos formatos documentais e característico dos documentos digitais.
O artigo está estruturado nas seções epistemológica, teórica, técnica e morfológica, onde se apresentam o problema evidenciado, revisitam-se os conceitos fundamentais para a pesquisa, o instrumental metodológico adotado a interpretação dos resultados da pesquisa e considerações.
2 DOCUMENTO VERSUS NEODOCUMENTAÇÃO
O conceito de documento não é recente nem tampouco consensual. Etimologicamente o termo deriva do latim docere, mesma origem da palavra docente, possuindo o sentido daquilo que ensina, evoluindo na época moderna, lembra Le Goff (2003, p. 526), para o sentido de prova. É neste sentido que Lucien Lefebvre, um dos expoente da conhecida Escola dos Annales[4], afirmou em um curso ministrado na prestigiosa universidade de Sorbonne, em 1945, que “[…] não há notícia histórica sem documento.” (LE GOFF, 2003, p. 529-530).
Para que se possa compreender o conceito de documento utilizado na CI nos dias de hoje, faz-se necessário que retrocedamos algumas décadas, mais precisamente para o ano de publicação do Tratado de Documentação de Paul Otlet, em 1934. Sendo um homem de “dois séculos” - Otlet nasceu em 1868 e viveu até 1944 - e presenciando uma série de mudanças sociais e técnicas, estas influenciaram a elaboração do conceito de documento formulado por Otlet no referido tratado. As inovações técnicas surgidas ao longo do século XIX e início do século XX produziram uma série de documentos até então não existentes, a exemplo da película cinematográfica, da fotografia, além dos registros sonoros por meio do fonógrafo e depois os discos. Ao confrontarmos o tempo vivido por Paul Otlet e a ampliação do conceito de documento que ele elaborou, não há como não lembrarmos da conhecida frase do filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955), segundo a qual “[…] o homem é o homem e suas circunstancias.”
Deslocando-se de uma concepção sedimentada de documento, segundo a qual este seria o resultado da combinação de um suporte e de uma informação escrita, Otlet apresentou uma compreensão inovadora do que seria um documento, chamando-o genericamente de livro em seu tratado.
Livro (bíblion, documento ou grama) é o termo convencional aqui empregado para designar toda espécie de documento. Abrange não apenas o livro propriamente dito, manuscrito ou impresso, mas também revistas, jornais, textos escritos e reproduções gráficas de qualquer espécie, desenhos, gravuras, mapas, esquemas, diagramas, fotografas, etc. A documentação no sentido lato do termo abrange o livro, isto é, meios que servem para representar ou reproduzir determinado pensamento, independentemente da forma como se apresente (OTLET, 2018, p. 11).
Do conceito de documento apresentado por Otlet, dois aspectos chamam a atenção. O mais evidente deles diz respeito a ampliação dada ao entendimento do que seria um documento. O segundo, atrelado ao primeiro, refere-se a compreensão de que o documento era portador do pensamento humano e de que este se “objetificava” naquele (RAYWARD, 2018, p. xiii). Em relação a este segundo aspecto, é interessante observar a presença subjacente da ideia de uma consciência que se projeta sobre um elemento externo, no caso um documento, outorgando a este o valor de registro de conhecimento e experiências singulares do sujeito.
Outra significativa contribuição para este debate foi a publicação, em 1951 na França, da obra Qu’est-ce que la documentation?, de Suzanne Briet, tornando-se este trabalho um marco para os estudos de documentação nos anos seguintes. Considerando como documento novos elementos já contemplados no conceito de Otlet (2018), a exemplo dos registros fotográficos, Briet vai além, reconhecendo as pedras de um museu de mineralogia e animais catalogados e expostos em um zoológico como documento, ampliando a noção de documento e formatando novas possibilidades dos registros documentais (BRIET, 2016, p. 1).
O conceito de documento adotado neste artigo considera a pertinência e relevância da ampliação conceitual dada ao termo por Otlet (2018) e Briet (2016), filiando-se a uma leitura que é, na realidade, tributária do amplo espectro dado por esses autores ao termo. Referimo-nos ao conceito de documento adotado na Neodocumentação.
A materialidade da informação possibilita que a entendamos como possuidora das dimensões ação, interação e relações sociais (GONZALEZ DE GOMEZ, 2011), sendo, portanto, objeto de estudos e pesquisas nas ciências sociais.
Compreendemos que documento é o meio através do qual a informação se materializa, quer pensemos em documentos analógicos ou digitais (FROHMANN, 2006). Sendo o documento produzido pelo homem, produto de uma consciência a respeito de, consciência que se projeta para além de si, firmando suas percepções, compreensões, conhecimentos, para distante do tempo e espaço presentes por meio de um suporte, não é demais lembrar a necessidade de se entender as circunstâncias em que se dá esta intencionalidade. Gugliotta (2017, p. 321) lembra que “[…] cada documento fala tanto de si como de seu contexto de produção e das condições que o produziram.”
Reconhecendo a amplitude do que pode ser considerado documento, dado o caráter não só objetivo mas também circunstancial e subjetivo atribuído a este, consideramos documento com a unidade de registro de uma informação, qualquer que seja o suporte ou formato (BRASIL, 2005, p. 73), situado social e historicamente, devendo a análise da informação registrada ser indissociável do suporte de registro.
O surgimento de um conjunto de documentos, durante o século XIX e início do XX, que se afastava da concepção tradicional na qual documento seria o resultado da soma de um registro escrito mais um suporte, contribuiu, sem dúvida, para a reelaboração do conceito de documento no século XX. Um desses novos documentos surgidos foram os álbuns sonoros. Possuidor de características bastante específicas em relação a outros documentos, os álbuns de música destacam-se por apresentar considerável complexidade a ser analisada. Documentos compostos que dizem muito de si e de seu tempo e que merecem, por isso, um olhar mais atento.
3 ORIGENS DE UM DOCUMENTO COMPOSTO: O ÁLBUM SONORO
A pluralidade de novos documentos existentes na primeira metade do século XX apresentava características bastante distintas da ideia de documento tradicional. Imagem e som passaram a integrar, de forma inovadora, com outros documentos que naquele momento apareciam, surgindo assim os documentos compostos.
Os documentos compostos[5] são aqueles que além do tradicional texto escrito contemplam outros elementos, a exemplo dos sonoros e imagéticos (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 133). Percebe-se, portanto, por oposição, que os documentos simples são aqueles que comportam apenas um tipo de registro, quer seja escrito, sonoro ou imagético.
Um álbum musical é um documento composto constituído de elementos dos quais o registro sonoro é um deles. O de maior visibilidade social, é verdade, mas um elemento. Este documento é composto de sons, textos e imagens, distribuídos em suas partes constitutivas.
A origem da ideia de álbum para se referir aos long-plays (LP) remonta a uma tradição norte-americana que, sob influência da música clássica que demandava vários discos para reprodução das peças, exigia um suporte para guardar os discos e organizar a discoteca (LAUS, 1998). Esses álbuns, de música de concerto, ópera e instrumental, passaram a ser personalizados, trazendo “[…] logotipos estampados na capa e lombada e mais textos e fotos sobre o conteúdo, impressos em páginas no interior, as vezes somente nas contracapas internas.” (LAUS, 1998, p. 121). Com a consolidação deste formato que contemplava fotos, imagens e textos, as capas dos discos afirmaram-se como embalagens informativas, sendo genericamente chamado de álbum o conjunto composto pelo disco, ou discos, o selo afixado na parte central do disco, a capa, além de eventuais encartes.
A respeito do surgimento dos primeiros álbuns, Evans (2016, p. 14, grifo nosso) destaca “Em 1910 surgiram os ‘álbuns de discos’, similares a álbuns de fotos, com várias capas vazias dentro das quais se podiam proteger os discos de goma-laca, que se quebravam com muita facilidade”. O surgimento deste tipo documental é parte da história da indústria fonográfica e das tecnologias utilizadas por esta para o registro do som. Ao se deter à trajetória histórica dos discos de vinil e dos álbuns de música, Bartmanski e Woodward (2015, p. 3, tradução nossa) destacam que estes, no formato de longa duração em que se consagraram, foram lançados pela Columbia Records, em 1948, ganhando “[…] proeminência na década seguinte, dominando o comércio na década de 1960 e 1970, e diminuindo na década de 1980, aparentemente substituídos para sempre pelo que foi anunciado como um meio portador de um som superior: o compact disc (CD).”
Estes autores ainda destacam que a história do álbum sonoro é indelevelmente ligada à história do vinil, haja vista o disco de vinil ser, como já apontado, não apenas um elemento do documento composto “álbum”, mas o elemento com maior “visibilidade” do documento, espécie de vitrine dele (BARTMANSKI; WOODWARD, 2015, p. 6).
Se durante a década de 1990, com a celebrada afirmação no mercado mundial de outro suporte de registro de áudio, o compact-disc, houve quem vaticinasse o desaparecimento dos álbuns analógicos de música. Os números mais recentemente divulgados pela Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD) e pela Global Music Report[6] (GMR), mostram, por meio de relatórios anuais que visam traçar um raio “x” da indústria fonográfica brasileira e mundial, que esse documento composto continua sendo bastante utilizado em todo o mundo, representando percentual de receita nada desprezível para o mercado bilionário da música.
Há, e os dados disponibilizados pela ABPD e GMR apontam para isso, uma continuidade na utilização de um documento que possui especificidades que agregam valor para aqueles que o consultam. Os usuários, frisam Bartmanski e Woodward (2015, p. 6, tradução nossa), parecem perceber que os álbuns sonoros convidam para uma experiência que se aproxima da leitura de um livro “dividido em partes e capítulos”, haja vista a composição do documento. Os álbuns analógicos de música sugerem um ritual não apenas de audição, mas de leitura e apreciação estética, sendo “[…] a compra de um disco de vinil literal e efetivamente a compra de um pacote […]”, razão provável para as cifras milionárias que a venda deste documento continua gerando (BARTMANSKI E WOODWARD, 2015, p. 6, tradução nossa).
A desmaterialização do documento composto conhecido como álbum apresenta particularidades que se relacionam diretamente com o acesso à informação presente originalmente no documento em seu formato analógico, havendo uma relação diretamente proporcional entre a desmaterialização e o que nomeamos de vácuo informacional.
DESMATERIALIZAÇÃO, VÁCUO INFORMACIONAL E O COMPROMETIMENTO DA NATUREZA ONTOLÓGICA DO DOCUMENTO
O conceito de desmaterialização aqui dotado refere-se à transição de documentos concebidos no formato analógico e migrados para ambiente digital, onde textos, imagens e sons registrados em um suporte impresso transformam-se em bits por meio de uma linguagem nomeada de binária, referência a sua construção composta dos números zero e um. Nesta transição, chama-nos a atenção as implicações daí advindas para a natureza ontológica do documento. Expliquemo-nos: um conceito fundamental na Metafísíca[7] é o de Ontologia, sendo esta a doutrina que estuda as características fundamentais de um ser, aquilo que o caracteriza como um ser de uma dada espécie, o que “[…] o ser tem e não pode deixar de ter […]” (ABBAGNANO, 2007, p. 662) sob o risco de deixar de ser o que é. Ao utilizarmos a expressão “natureza ontológica do documento” estamos nos referindo àquilo que caracterizaria um documento enquanto tal, ou seja, a essência do documento, a marca indelével deste.
Ao compreendermos um documento como possuidor de uma natureza ontológica estamos nos referindo a sua essência, qual seja, sua natureza informativa. Todo documento é, e isto é pré-requisito para se considerar algo como tal, portador de informação. No caso do documento estudado, os álbuns analógicos de música, ele não é apenas portador de uma informação. A ele se associa um corpus informacional de relevante valor contextual.
A transição do documento analógico para o digital é um fenômeno social e tecnológico que interessa diretamente a Ciência da Informação, dada as suas implicações para os estudos em áreas como Usabilidade da Informação, Estudos do Usuário, Filosofia da Informação, Curadoria Digital, dentre outras. Acerca desta transição, Gutiérrez (2011) destaca que:
No entanto, as técnicas e ferramentas documentais foram sendo substituídas por uma tecnologia, um mercado, por forças globalizadoras e complexas que eliminaram as fronteiras entre formatos, natureza e conteúdo dos documentos, produzindo e cobrindo novas aparências, locais e origens, a tal ponto que começou, há não mais de três décadas, uma reinvenção e expansão do documento que não apenas implicou uma novidade poderosa e sedutora baseada na ruptura que promoveu o digital, mas também a drástica redução e desprezo dos suportes analógicos (GUTIERREZ, 2011, p 32, tradução nossa).
As observações de Gutierrez (2011) apontam para elementos importantíssimos na análise aqui pretendida. A associação que o autor faz entre novas tecnologias, mercado e interesses comerciais internacionais que alteram, ou mesmo eliminam, forma e conteúdo de documentos, oferecendo um produto não apenas novo, mas, sobretudo, sedutoramente novo, tem como corolário uma “[…] drástica redução e desprezo dos suportes analógicos […]” (GUTIERREZ, 2011, p 32, tradução nossa). A conclusão a que chega o autor espanhol nos remete ao seguinte questionamento: haveria relação entre a forma de um documento e a maneira como experimentamos o conteúdo deste documento?
A compreensão de Sá (2009) é a de que o tipo de suporte no qual a informação está registrada possui relação direta com a experiência do usuário. Esta afirmação ganha consistência exemplar no caso de registros sonoros, haja vista o consumo de música estar atrelado a um suporte, quer seja ele analógico ou digital. Sá (2009) também salienta que os estudos em Antropologia do Consumo[8] levam em conta a noção de cultura material, conduzindo-nos a observação de que os álbuns de música, enquanto artefatos culturais que são, estão ligados a uma prática de consumo que comporta considerável grau de complexidade, dada as diversas dimensões envolvidas, a exemplo das afetiva, mercantil e cultural.
A respeito da relação continente-conteúdo de um documento, De Marchi (2005) considera que, na sociedade em que vivemos, aos produtos culturais é dispensado um tratamento de mercadoria, havendo, na relação entre meio e conteúdo, uma valorização do meio em detrimento do conteúdo. Filiamo-nos ao entendimento de Sá (2009) e De Marchi (2005), por compreendermos haver na desmaterialização dos álbuns sonoros uma valorização do meio em detrimento do conteúdo, e que o tipo de suporte onde está registrada a informação afeta a experiência do usuário. A migração de álbuns analógicos de música para o formato digital é exemplar do afirmado.
Tomando como referência álbuns analógicos de música, no formato consagrado durante quase toda a segunda metade do século XX e que exerce até hoje fascínio em parte do público apreciador de música – para isto apontam os dados divulgados pela Associação Brasileira de Produtores de Disco e pela Global Music Report - e um dos serviços de música streaming mais consumido no mundo hoje, o Spotify, é possível observar, por meio de uma análise comparativa, as especificidades do documento “álbum”, a sua natureza ontológica, além da característica que consideramos distintiva na transição desses documentos do formato analógico para o digital: o vácuo informacional.
O vácuo informacional diz respeito a um fenômeno observável no processo de desmaterialização dos álbuns analógicos de música, havendo, neste processo, a obliteração da natureza ontológica do documento. O que caracteriza o álbum analógico de música como um documento composto - um complexo interligado de elementos sonoros, imagéticos e textuais - deixa de fazer sentido na plataforma de música digital Spotify. Nesta, se o usuário tem, por um lado, acesso ao elemento de maior visibilidade do documento, o registro sonoro, por outro ele dispões de um conjunto reduzido de dados elementares acerca do documento, existindo, entre esses dois polos[9], um vazio de informações que contextualizem o documento, situando o usuário acerca do momento histórico de sua produção, informações sobre seu(s) autor(es), a participação de pessoas que contribuíram decisivamente para sua produção, a exemplo de músicos, arranjadores, técnicos de som, artistas plásticos, dentre outros.
A obliteração da natureza ontológica do documento em uma plataforma digital aponta para uma questão cara a CI, o que a estudiosa Brenda Dervin (1983) considerou como aspecto fundamental da interação que se estabelece entre indivíduos e sistemas de informação: o acesso à informação. Brenda Dervin é responsável pela elaboração da abordagem teórico-metodológica bastante utilizada na CI, conhecida como sense-making. Como instrumento teórico-metodológico na realização de estudos de usuários no Brasil, a abordagem sense-making é utilizada desde a década de 1970 (GONÇALVES, 2012). O termo sense-making tanto se refere a uma proposição teórica quanto a um método que visa estudar como as pessoas produzem e atribuem sentido as experiências cotidianas. Há, portanto, duas acepções a serem consideradas quando nos referimos a produção de sentidos: a referente ao fenômeno, algo estudado pela teoria, e aquela que se ocupa da abordagem da pesquisa, objeto do método (DERVIN, 1983).
Nesta abordagem proposta, compreende-se que a busca de uma informação por parte do usuário de um sistema é motivada pela constatação da falta de conhecimento a respeito de algo, o que é nomeado de gap cognitivo. Os conceitos de gap cognitivo e vácuo informacional nos parece guardar certa semelhança e dessemelhança que merecem ser referidas. A semelhança refere-se ao fato de que tais definições dizem respeito a situações caracterizadas pela insuficiência de informações, quer nos refiramos a indivíduos ou mesmo a uma plataforma digital. A diferença reside no fato de que enquanto o gap cognitivo refere-se à dimensão subjetiva do sujeito, o vácuo informacional diz respeito a um fenômeno que ocorre fora do sujeito, numa dimensão objetiva, aqui exemplificada no processo de desmaterialização dos álbuns analógicos de música.
O documento analógico analisado, o álbum de música, apresenta uma estrutura de informações e uma experiência estética totalmente diversa daquela verificada no universo digital do aplicativo de música streaming Spotify. Se os documentos sonoros digitais presentes no aplicativo Spotify têm, entre suas características, a concisão de dados associados a eles, o documento analógico é complexo, comportando elementos de natureza, além da sonora, textual e imagética (MARCHI, 2005, p. 15).
4 PERCURSO METODOLÓGICO
O modelo quadripolar (SILVA; RIBEIRO, 2002) adotado pela pesquisa ofereceu-nos uma estrutura que relaciona a construção epistemológica do problema de pesquisa, documento e neodocumentação, a escolha da estratégia teórica, com a justificativa dos conceitos de desmaterialização e vácuo informacional, os procedimentos técnicos empregados, como a exploração documental, bibliográfica e telematizada, e, por fim, a análise morfológica, apresentando os resultados alcançados.
Com o objetivo de “[…] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito […]” (GIL, 2002, p. 41), este artigo vale-se do modelo exploratório de pesquisa, estratégia utilizada em qualquer produção que se pretenda científica. Por meio da pesquisa bibliográfica em artigos de periódicos eletrônicos, livros e trabalhos de pós-graduação stricto sensu em CI, História, Filosofia e Música, instrumentalizamos conceitualmente a presente pesquisa, procurando dar consistência teórica ao estudo.
Prestando-se a revelar semelhanças e diferenças entre objetos pesquisados (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 107), a análise comparativa foi utilizada, conduzindo a observação do conjunto de informações presentes nos documentos analógicos consultados e examinando como essas informações foram, se foram, migradas para o universo digital no serviço de música Spotify.
A pesquisa documental adotada implicou na consulta de uma amostra de 112 álbuns da extinta Gravadora pernambucana Rozenblit, das décadas de 1950 a 1980, constantes do acervo fonográfico do Memorial Denis Bernardes, localizado na Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco, observando-se o conjunto de informações presentes nesses documentos e a forma de representação destes no serviço de música Spotify.
A análise dos álbuns representados no serviço de música streaming investigado fez uso da pesquisa telematizada, sendo este tipo de pesquisa utilizado quando se “[…] buscam informações em meios que combinam o uso de computador e telecomunicações.” (VERGARA, 1998, p. 46).
Destacamos ainda que a pesquisa empreendida neste artigo é um esforço “[…] de busca de conhecimento constituído de aproximações sucessivas e nunca esgotado; ou seja, não é uma situação definitiva diante da qual já não haveria mais o que descubrir.” (MICHEL, 2009, p. 36). A investigação realizada neste trabalho reflete uma dedicação no sentido de se aproximar e compreender um fenômeno, a desmaterialização de um tipo documental, que dada as suas implicações interessa à Ciência da Informação.
5 RESULTADOS
O Spotify é um serviço de música streaming[10] que permite ao usuário escutar a música que deseja, porém, não sendo possível armazená-la em seu equipamento. O sistema permite o consumo de registros musicais pelo usuário sem que ele viole direitos autorais, haja vista a impossibilidade de download e armazenamento da obra sem o devido pagamento legal, o que configuraria a pirataria.
O Spotify começou a operar no Brasil em maio de 2014, inicial e exclusivamente por meio da versão para desktop, ampliando em seguida os serviços para os aplicativos móveis com sistema operacional Android e iOS. A partir de 2015, o Spotify inicia o serviço streaming de música, agregando podcasts, vídeos e notícias à sua plataforma. Além disso, o Spotify também se configura como uma rede social de música, ou seja, é um espaço virtual de sociabilidade onde os laços emergem tendo como elemento de conexão a afinidade musical entre os indivíduos.
Para a presente pesquisa, o foco da análise está naquele que é o principal serviço do Spotify, espécie de “carro-chefe” da plataforma: a secção de música streaming. Segundo dados divulgados anualmente pela International Federation of the Phonographic Industry (2019), o segmento de música streaming vem crescendo ano a ano em todo o mundo. Cresceu em 2018 34% em comparação com 2017, representando uma receita para o setor fonográfico mundial de US$ 8.9 bilhões[11].
Todo documento ao ser produzido contempla um conjunto de informações que o acompanha durante sua existência. Aos documentos produzidos originalmente no formato analógico e convertidos para o digital associam-se informações de natureza intelectual e artísticas, e a manutenção dessas informações associadas ao objeto quando da sua disponibilização diz respeito a sua integridade. No caso em tela, ter acesso ao arquivo sonoro e a todo o conjunto de informações associadas a ele é pré-requisito essencial para a demarcação da integridade desses documentos.
Em suma, os álbuns analógicos de música são documentos compostos de textos, imagens e sons que integram um conjunto de informações que contextualizam a obra e seu tempo, a esses documentos compostos associam-se, na plataforma do Spotify, um conjunto reduzido de dados que sinalizam duas ressalvas registradas por Miranda (2010) em relação às informações disponibilizadas em plataformas digitais.
A primeira delas refere-se ao fato de que as plataformas digitais de informação se arvoram em pressupor quais informações o usuário necessita, mutilando, nesse processo de escolha, o documento e as informações constantes nele. A segunda diz respeito às informações que são eliminadas e desmembradas para atender as características especificas de abrangência temática que o sistema possui (MIRANDA, 2010). O Quadro 1, expresso a seguir, apresenta os elementos que integram os dados disponíveis no Spotify que referenciam os álbuns de música constantes na plataforma.
Quadro 1- Dados presentes no Spotify referentes aos álbuns de música |
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Título do álbum |
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Nome do artista/intérprete |
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Ano do fonograma |
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Quantidade de faixas |
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Tempo total do álbum |
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Nome das faixas |
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Duração de cada faixa |
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Detentores dos direitos autorais |
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Imagem da capa |
10 |
Intérprete |
11 |
Compositor |
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Produção da faixa |
13 |
Fonte das informações |
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Letras das Músicas |
Fonte: elaborado pelos autores (2019). |
Estas ressalvas mostram que, ao não contemplar e disponibilizar ao usuário o complexo de informações constantes no documento em sua versão analógica, constantes nas contracapas, encartes e selos dos álbuns, o serviço de música Spotify compromete a própria integridade dos documentos.
Para ilustrar o objetivo da pesquisa, dois exemplos de como a natureza ontológica do documento aqui contemplado é comprometida no seu processo de desmaterialização, na transição dos álbuns analógicos de música para o formato digital.
Na contracapa do álbum Pastoril (1975), referente ao formato analógico (Figura 1), há a presença de duas colunas de texto com informações pertinentes à manifestação cultural típica do Nordeste brasileiro, com detalhes sobre a música, a dança e os elementos culturais que caracterizam o pastoril.
Figura 1- Contracapa do álbum Pastoril (1975) |
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Fonte: Acervo Fonográfico do Memorial Denis Bernardes/Biblioteca Central da UFPE (2019). |
A Figura 2 apresenta o álbum sonoro intitulado Pastoril (1975) no formato digital disponibilizado na plataforma Spotify. O álbum em questão destaca informações básicas dos intérpretes, dados de tempo e de lançamento do álbum e títulos e tempo de execução das faixas.
Figura 2- Descrição do álbum Pastoril (1975) na Plataforma Spotify |
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Fonte: Spotify (2019). |
As Figuras 3 e 4, referentes ao álbum sonoro no formato analógico intitulado Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários (1973), descrevem os títulos das faixas de um dos lados do LP, com detalhes acerca das performances, dos instrumentos e o tempo de execução de cada gravação (Figura 3) e a ficha técnica do álbum (Figura 4).
Figura 3 - Trecho da contracapa do álbum Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários (1973) |
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Fonte: Acervo Fonográfico do Memorial Denis Bernardes/Biblioteca Central da UFPE (2019). |
Figura 4 - Ficha Técnica do álbum Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários (1973). |
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Fonte: Acervo Fonográfico do Memorial Denis Bernardes/Biblioteca Central da UFPE (2019). |
Por seu turno, a Figura 5 destaca o álbum intitulado Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários (1973) em seu formato digital, disponibilizado na plataforma do Spotify. A partir da figura, percebe-se que o álbum disponibiliza elementos básicos que compõem o item: título do álbum, intérprete, ano de gravação, quantidade e tempo total do álbum e os títulos das faixas e seu tempo de execução.
Figura 5- Descrição do álbum Marconi Notaro no Sub Reino dos Metazoarios (1973) na Plataforma Spotify. |
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Fonte: Spotify (2019). |
As informações disponíveis nos documentos em seus formatos analógicos agregam valor à experiência do usuário, repercutindo positivamente no acesso às informações e aos elementos relativos que incidem na compreensão sobre álbum sonoro. Mais ainda, nota-se que o hiato entre os elementos constituintes dos álbuns sonoros e seus formatos, nos dois casos, impossibilitam dimensionar os contextos de produção, disseminação e uso da informação. Enquanto registro do conhecimento, fica perceptível que o formato digital tem a preocupação exclusiva de fornecer um dos elementos que compõem o álbum sonoro: a gravação.
Estas ressalvas mostram que ao não contemplar e disponibilizar ao usuário o complexo de informações constantes no documento em sua versão analógica, informações constantes nas contracapas, encartes e selos dos álbuns, o serviço de música Spotify compromete a própria integridade dos documentos e na preservação da memória. Além disso, verifica-se que todo o conjunto de informações dos álbuns sonoros no formato analógico, trazidos à discussão, não estão presentes na plataforma Spotify, como também não há instrumentos, ferramentas ou serviços que auxiliem o acesso às informações constantes originalmente no documento.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A premissa conceitual adotada neste artigo, de matriz neodocumentalista, compreende que os documentos dizem muito não apenas de si, mas também do contexto de sua produção. O documento carrega as marcas do seu tempo, na forma e no conteúdo, devendo sua integridade ontológica quando de sua representação em ambientes digitais, a bem da memória que ele comporta.
Considerando que os documentos são produzidos por pessoas que vivem, sentem e criam em um determinado contexto sociocultural, procuramos destacar que a elaboração do documento álbum sonoro é resultado de uma intencionalidade que, por meio do registro, prolonga-se para além do aqui e agora, produzindo registros memoriais. O acesso às informações presentes no documento em seu formato original ajuda-nos, é evidente, a compreender o contexto histórico e social em que se deu a sua elaboração, o seu universo de tessitura.
A crença de que o acesso às ferramentas tecnológicas, como aplicativos e programas, resultaria inexoravelmente no acesso a qualquer informação, quando se quisesse, uma ubiquidade da informação corolário de uma espécie de infotopia, revela-se um engano crasso.
Ao analisar a desmaterialização de um tipo documental, os álbuns de música, procuramos ressaltar que este processo é marcado pelo que nomeamos de vácuo informacional, havendo o comprometimento da natureza ontológica do documento, ou seja, da sua marca distintiva enquanto documento: sua natureza informativa. Se o álbum analógico de música é um documento e o que identifica este é sua natureza informativa, esta marca ontológica está indelevelmente comprometida em tais documentos representados no serviço de música Spotify.
À vista do exposto, acreditamos que as análises apresentadas apontam para um vasto campo de pesquisa, com reverberações em temas como o acesso à informação e preservação da memória, temas candentes para a CI.
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[1] Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco. Bibliotecário-documentalista da Universidade Federal de Pernambuco.
[2] Doutora em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais pela Universidade do Porto, Portugal. Professora do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco.
[3] Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco.
[4] Boa parte da corrente hoje conhecida como Nova História deriva de um pequeno grupo de estudiosos associados à revista Annales, criada na França em 1929. Deste grupo faziam parte historiadores como Fernand Brudel. Georges Duby, Jacques Le Goff, Marc Bloch, Lucien Febvre e Emannuel Le Roy Ladurie. Resumidamente, propunham uma nova prática historiográfica que contemplasse a substituição da tradicional narrativa dos acontecimentos por uma história-problema, uma história de todas as atividades humanas e não apenas a política ou dos grandes acontecimentos, além do diálogo com outras ciências.
[5] O que aqui nomeamos de Documento Composto, o Arquivo Nacional, por meio do Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivistica, chama de Documento Especial. Estes são documentos, “em linguagem não textual, em suporte não convencional [...] cujo acesso depende, na maioria das vezes, de intermediação tecnológica” (BRASIL, 2005, p. 74).
[6] Disponível em: https://www.ifpi.org/. Acesso em 01 de maio 2020.
[7] A Metafísica é o ramo de estudo da Filosofia que se ocupa com aquilo que está além da experiência sensível, física. Aristóteles a compreendia como a ciência primeira, a ciência que forneceria “[…] a todas as outras o fundamento comum, ou seja, o objeto a que todas elas se referem e os princípios dos quais todas dependem.” (ABBAGNANO, 2007, p. 661).
[8] A Antropologia do Consumo se ocupa das práticas de consumo dos sujeitos sociais, da sociabilidade relacionada ao consumo e das relações de troca que se estabelecem numa dada cultura, enfatizando que para se entender o consumo de artefatos e bens simbólicos é necessário compreender a própria cultura onde se efetiva este consumo. A este respeito, o estudo de Douglas e Isherwood (2004), intitulado O Mundo dos Bens: para uma Antropologia do Consumo, é esclarecedor.
[9] A noção espacial de dois pontos referida no conceito de vácuo informacional remete à Teoria Atomística de Demócrito (460 a. C.), segundo a qual todo o universo seria composto por partículas indivisíveis – átomos - e que entre essas partículas haveria um vazio, o vácuo (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1994, p. 104).
[10] Forma de distribuição de dados na rede através de pacotes.
[11] Disponível em: https://pro-musicabr.org.br/wp-content/uploads/2019/04/GMR2019.pdf. Acesso em 01 de maio de 2020.