APRESENTAÇÃO

 

 

A Logeion – Filosofia da Informação, publicação do grupo de pesquisa Filosofia e Política da Informação do IBICT, completa o seu sexto ano de vida. Isto é motivo de imensa gratidão aos leitores, sua razão de existir, mas também aos autores, que contribuem para a qualidade da revista.

São seis anos investindo para formar uma comunidade de comunicação em torno de uma área em demarcação: a Filosofia da Informação. Temos buscado particularmente destacar a filosofia prática: Ética e política. Ela é fundamental para a critica na e da Ciência da Informação.

Isto sem negligenciar na abertura para outros ramos e abordagens, como a Epistemologia, a Estética e Lógica. A consolidação de espaços críticos é necessária para a própria evolução da Ciência da Informação, nascida dentro das tradições das ciências empíricas e das aplicações funcionalistas.

Nesta hora de alegria é importante destacar a colaboração do Comitê Editorial, que nos oferece referências, e o trabalho competente e voluntário de uma Equipe Editorial, que vem garantindo uma boa produção e a ocupação de maiores espaços nas bases de dados e bibliotecas virtuais.

Devemos mencionar o tempo em que este número da revista está sendo publicado: durante a epidemia global de Covid19. Não é um detalhe a mais no contexto: são milhões de infectados e milhares de mortos em todo o mundo. Os impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos são profundos, mas estamos longe de poder avaliar sua extensão e gravidade.

Tudo o que está sendo publicado neste número foi produzido durante a pandemia, quando houve o maior isolamento social da história. As pessoas ficaram em casa para reduzir as taxas de contagio, mas seguiram trabalhando e pensando de modo crítico sobre o seu trabalho.

A “freada de arrumação” do bonde da história está obrigando a todos e a cada um a rever perspectivas e valores. Não é normal todo dia morrerem mil pessoas, por meses, por causa de uma doença transmissível. Michel Foucault nos ensinou que o horizonte da finitude com a morte nos faz rever a relação com Deus e com o humano. Isso é parte do que estamos vivendo.

Não há retorno possível para a situação anterior com total ignorância dos fatos na pandemia. Temos que metabolizar os acontecimentos. Querendo ou não, estamos aprendendo e não sabemos ainda o quê. O ineditismo e amplitude desta pandemia tornam mais difícil entender.

Cada ser humano foi confrontado com sua própria finitude e com a demanda solidaria do isolamento. Uma sociedade desigual produziu respostas desiguais. A vulnerabilidade dos miseráveis, dos pobres e dos trabalhadores precários foi exposta de modo cruel. Os efeitos da pandemia não são os mesmos em toda a sociedade.

Gostaria de sublinhar três fatos entre tantos nesta pandemia: a eclosão das manifestações contra o racismo, a demonstração dos benefícios da renda mínima garantida pelo Estado e a epidemia de informações científicas sobre controle de doenças transmissíveis.

No meio do processo de isolamento social nos EUA, a imagem da morte de um homem negro por asfixia produzida por um policial branco tornou-se o símbolo do tempo presente. Em resposta milhares de jovens vestindo máscaras de proteção foram para as ruas de dezenas de cidades norte americanas para dizer que as vidas negras importam. Foi um basta transmitido em tempo real para o mundo todo.

O segundo fato marcante nestes primeiros seis meses de pandemia é a legitimação dos programas de renda mínima. Nascidos como teoria do pensamento liberal, eles foram apropriados por governos democráticos e populares. Agora eles foram criados ou ampliados em vários países, inclusive no Brasil. Seus benefícios evidentes, garantindo subsistência para dezenas de milhões, incluem o aumento da demanda de produtos básicos e serviços. Isto resultou em enorme popularização do “Bolsa Família”, que agora deve ser ampliando em termos de cobertura e ter aumento do valor por beneficiário.

O terceiro fato relevante foi a intensa disseminação e uso de informação científica referente ao vírus, sua transmissão, modos de prevenção, isolamento, vacinas, sinais clínicos, tratamento da doença e recuperação da saúde. Nunca a expressão “explosão informacional" foi tão verdadeira. Todos querem ter sua opinião informada. Neste cenário emergem controvérsias e fraudes.

Há uma imensa e crescente demanda de trabalho com informação, que inclui sua organização e gestão, publicação, mediação, recuperação e uso. A vontade de aprendizagem quase instantânea traz desafios para a Ciência da Informação. Buscar evidências sobre isolamento social, rastreamento de casos, testagem de vacinas e medicamentos é necessidade quase universal.

A leitura de cada um dos artigos que agora estamos publicando deve considerar este contexto em que foram produzidos. Eles refletem o nosso tempo, e também a resistência e o esforço de critica dos seus autores. Esperamos que esse esforço criativo nos inspire a construir novas e melhores soluções para os problemas que estamos vivendo e a garantir bem estar social para todos.

 

 

Boa leitura!

 

 

Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2020

 

 

Clóvis Ricardo Montenegro de Lima

Editor