APRESENTAÇÃO

 

É com satisfação que o grupo de pesquisa Filosofia e Política da Informação do IBICT apresenta mais um número da revista Logeion – Filosofia da Informação. Nossa revista é espaço de apresentação de pontos de vista e de argumentos críticos nas diversas áreas que trabalham com Informação.

O pensamento e as teorias criticas são particularmente relevantes no atual cenário da pandemia global de Covid-19, que se transformou em uma catástrofe social no Brasil. A tragédia não são apenas os milhões de infectados e as milhares de mortos, mas também o desemprego, a fome e a miséria.

Se não bastasse a doença viral e a doença social, o Brasil enfrenta graves conflitos em torno das políticas públicas no contexto da pandemia. A política conservadora de ajuste fiscal com cortes do gasto público tem cobrado o seu preço: a redução do investimento em saúde, educação e pesquisa afeta a capacidade de resposta a pandemia.

Ao mesmo tempo o governo federal brasileiro é protagonista da recusa em reconhecer tanto a agressividade da doença viral pandêmica quanto o modo adequado uso dos meios de proteção, diagnóstico e tratamento. Os efeitos deste negacionismo tem sido devastadores.

Assim, pensar torna-se uma necessidade social para enfrentar racionalmente uma situação aguda de ameaça a vida, que está em desequilíbrio profundo. E pensar de modo crítico é fundamental para enfrentar a crise social, a pandemia e o negacionismo superpostos.

Neste número da Logeion reafirmamos nosso compromisso com uma visão e uma abordagem ampla e critica da Filosofia da Informação. Trabalhamos com todas as áreas da Filosofia: a Ética, a Política, a Epistemologia, a Lógica, a Metafísica e a Estética.

Este número abre com o artigo “Influências teóricas de Jürgen Habermas na ciência da informação indexada na Brapci”, de Rene Faustino Gabriel Junior, Leilah Santiago Bufrem Bufrem, Marcia Heloisa Tavares; e “Análise do discurso: diálogos epistemológicos em Foucault e Heidegger", de Mariana Rodrigues Gomes de Mello e Marta Lígia Pomim Valentim.

Um segundo grande grupo de artigos apresenta discussões teóricas e  críticas da Informação e da Ciência da Informação: o tratamento temático, a desinformação, a competência informacional, as fontes de informação, e a folksonomia.

Os artigos deste grupo são os seguintes: “Questões éticas em tratamento temático da informação e o impacto sobre a acessibilidade informacional”, de Lais Pereira de Oliveira; “Desinformação, verdade e pós-verdade”, de Mariana Rodrigues Gomes de Mello e Daniel Martínez-Ávila; “Competência em informação para a igualdade racial”, de Arthur Ferreira Campos, Erinaldo Dias Valério e Gleyce Kelly Alves Sousa; “O olhar teórico sobre as fontes de informação e o universo literário e biográfico de Clarice Linspector", de Roberia de Lourdes de Vasconcelos Andrade e Sanielly Ianar Alves Lima; “Análise da folksonomia em grupos colaborativos do Passei Direto”, Jéssica Pereira de Oliveira e Fabio Assis Pinho.

Há um outro grupo de artigos que traz questões da sociedade contemporânea: o digital e o virtual, o conceito de cultura e a transparência. Os artigos são os seguintes:  “Virtual e digital à luz da teoria sociológica e filosófica contemporânea”, de Júlio Marinho Ferreira;  “A influência  de Williams para a construção do conceito de cultura na ciência da informação no Brasil”,  de Ísis Trindade da Silva Cunha, Rafael Silva da Câmara e Leilah Santiago Bufrem”; e “Redes sociais como ferramentas de transparência em tempos de Covid-19", de Paulo Ricardo Silva Lima, Francisca Rosaline Leite Mota e Ana Paula Orico Marques.

Finalmente, há um último grupo com dois artigos que fala de memória e de arquivos na sociedade da informação digital. São eles: “Relações dinâmicas entre memória e esquecimento: das ambivalências às antinomias no mundo digital”, de Paulo Ricardo Silva Lima e Edivanio Duarte de Souza; “O futuro não é mais como antigamente: visões sobre o Arquivo do Futuro diante os reptos do presente”, de Marcelo Calderari Miguel e Rosa da Penha Ferreira da Costa.

Esperamos assim contribuir para a apresentação e a difusão do pensamento crítico. As sociedades democráticas pluralistas estão fundadas na modernidade que se atualiza na crítica. Não pode haver entendimento nas sociedades onde não existe liberdade de expressão e de crítica.

Trabalhar em uma sociedade desigual como a brasileira requer ir além do conhecimento funcional. Temos que construir os nossos caminhos para a justiça. Certamente este rumo não está dado pelas ideias dominantes, produto da colonização exploradora e da dominação que tinha barões e escravos.

Se queremos ser uma sociedade democrática e soberana temos que mudar. Não podemos mais ser reduzidos a uma eterna fazenda, exportadora de grãos e minerais. Assim como não podemos mais aceitar  ser prisioneiros da violência de jagunços e milicianos. Devemos investir na educação emancipadora.

Boa leitura!

Rio de Janeiro, 21 de março de 2021

 

Clóvis Ricardo Montenegro de Lima

Editor