COMPREENSÕES EM TORNO DA DIFUSÃO CULTURAL:

Revisão sistemática de literatura

Isadora Rolim da Silva[1]

UFPE

isadorarolimm@gmail.com

Fabio Assis Pinho[2]

UFPE

fabiopinho@ufpe.br

Anna Carla Silva de Queiroz[3]

UFPE

annacarlasq@gmail.com

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Resumo

Trata-se de uma pesquisa sobre a Difusão Cultural enquanto ação promotora e oportuna para as manifestações culturais locais e de conhecimento informacional e histórico cultural, particularmente em Unidades de Informação (UI), cujo objetivo geral foi compreender o conceito de Difusão Cultural nas Unidades de Informação, a partir da produção científica brasileira. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória e bibliográfica com o uso do método de Revisão Sistemática de Literatura (RSL) por conta de seu caráter auditável, reprodutível, imparcial e que reduz o número de vieses na pesquisa, sendo estruturada em 7 etapas: questão de pesquisa, estratégia de busca, critérios de inclusão e exclusão, busca da literatura, avaliação e seleção dos dados, extração dos dados e síntese. As bases de dados pesquisas foram SCIELO, Repositório do IBICT, BDTD, Web of Science e BRAPCI, no período de 2000 a 2021, sendo que o software utilizado para tratamento dos dados foi o StArt. Como conclusão, verificou-se que a Difusão Cultural é utilizada como ferramenta de disseminação da informação, estruturada, dialógica e assertiva que age sobre o usuário na construção do conhecimento, na apropriação da informação e da cultura além de abrir caminhos para divulgação das UI e reconhecimento de seu papel e importância na sociedade.

Palavras-chave: Difusão Cultural. Unidades de Informação. Revisão Sistemática de Literatura. Arquivologia. Biblioteconomia. Museologia.

UNDERSTANDINGS ABOUT CULTURAL DIFFUSION:

Systematic literature review.

Abstract

This is a research on Cultural Diffusion as a promoting and opportune action for local cultural manifestations and cultural informational and historical knowledge, particularly in Information Units (IU), whose general objective was to understand the concept of Cultural Diffusion in the Units of Information, from the Brazilian scientific production. Therefore, an exploratory and bibliographic research was carried out using the Systematic Literature Review (SLR) method, due to its auditable, reproducible, impartial character and that reduces the number of biases in the research, being structured in 7 steps: question of research, search strategy, inclusion and exclusion criteria, literature search, data evaluation and selection, data extraction and synthesis. The research databases were SCIELO, IBICT Repository, BDTD, Web of Science and BRAPCI, from 2000 to 2021, and the software used for data processing was StArt. In conclusion, it was found that Cultural Diffusion is used as a tool for disseminating information, structured, dialogic and assertive, which acts on the user in the construction of knowledge, in the appropriation of information and culture, in addition to opening paths for the dissemination of IU and recognition of their role and importance in society.

Keywords: Cultural Diffusion. Information Units. Systematic Review of Literature. Archival Science. Librarianship. Museology.

1  INTRODUÇÃO

Ao longo da história da humanidade é constatado que as Unidades de Informação (Arquivos, Bibliotecas e Museus), foram de grande importância nos mais diversos aspectos sociais, políticos e econômicos das sociedades e suas divisões histórico-temporais. Isso evidencia sua importância na construção de conhecimento e pertencimento dos sujeitos aos domínios social, cultural e informacional. Assim, assumem a função social não apenas de custodiar e gerir, mas principalmente de promover e incentivar o acesso e uso da informação.

Ainda que possuindo funções orgânicas distintas, essas Unidades de Informação (UI) encontram-se no sentido de seu objetivo final, o de promover o acesso, uso e reuso da informação, colocando-se a serviço da sociedade e estando atentas às necessidades do usuário de modo geral, mantendo viva e útil a memória da instituição através de caminhos pensados dialogicamente com vistas a ofertar seus serviços de modo a cumprir com o seu papel social, disseminar a informação.

Para isso, devemos pensar nas melhores ações, com vistas não apenas a promoção da instituição, mas que agregue valor informacional, de modo a atingir o usuário de forma positiva e envolvê-lo no processo de construção do conhecimento, fornecendo ainda subsídios para análise de melhorias dos serviços ofertados ao público assíduo e em potencial.

Dentro dessas ações encontra-se a Difusão Cultural (DC), ponto de diálogo entre as três áreas que envolvem as UIs (Arquivos, Bibliotecas e Museus), tema central da nossa pesquisa, pensada de modo interdisciplinar, visto a integração de saberes para o seu desenvolvimento e seu encaixe na organização e distribuição da informação, campos de clara preocupação e atuação da Ciência da Informação (CI).

Nessa perspectiva, entendemos a Difusão Cultural como ação promotora e oportuna para as manifestações culturais locais e de conhecimento informacional e histórico cultural. Esse entendimento voltado às UI, podemos dizer que tem o compromisso de: a) disponibilizar a informação documental ao receptor; b) disponibilizar a informação, promover o acesso, uso e reuso; c) realizar “o ato de comunicar à sociedade os acervos, instigando-a a[sic] pesquisa” (PORTELLA, 2012, p. 26).

Trata-se da realização de atividades que divulgam os serviços oferecidos por UI, disseminando a informação ali existente com vistas a atrair os usuários para a diversidade de conhecimento, cultura e memória contida em tal ambiente social/informacional e sensibilizá-los de quão fundamental são essas entidades e a documentação por elas custodiadas, levando em consideração que tais entidades são organismos sociais vivos que detêm patrimônio documental/cultural/informacional da sociedade, promovendo, ainda, a construção do conhecimento a partir da ação desenvolvida dentro do contexto da Difusão Cultural.

Nesse sentido cultural da ação humana é que enxergamos a Difusão Cultural na Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, especialmente no que diz respeito à guarda e busca pelos registros produzidos pelo sujeito. O ser humano é um sujeito histórico e cultural e, neste sentido, externa suas experiências, sua cultura, para si e para os próximos, produz conhecimento, registra, guarda, busca e disponibiliza a informação produzida para construção de uma sociedade, cultura, política, pertencimento – essa “ação humana” torna-se o ponto matricial para a fundação de Arquivos, Museus e Bibliotecas (ARAÚJO, 2014). Assim, visualizamos a Difusão Cultural como ponto de diálogo entre os campos supracitados.

A Difusão Cultural pode ser pensada ainda a partir de uma perspectiva interdisciplinar, tendo em vista que, para o desenvolvimento de suas atividades, é necessária uma integração de saberes não apenas da área da Informação, mas também da Comunicação, entre outras, a depender do tipo de atividade a ser desenvolvida. A perspectiva interdisciplinar se apresenta, então, como um dos pontos de aproximação que nos permite enxergar Difusão Cultural como ferramenta que possa se encaixar na organização e distribuição da informação, dentro do contexto da Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia, estas que têm a DC como uma de suas claras preocupações e atuações.

Tecendo relações com outras áreas do conhecimento, a CI revela seu caráter interdisciplinar e nos permite sair da ideia de fragmentação, partindo para o sentido de integração, articulação e inter-relação de saberes, à medida que abrange a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia, mas reconhecendo suas especificidades e autonomias. É nesse contexto que Araújo (2014) nos apresenta a possibilidade de diálogo entre Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, onde a CI tece o conceito da informação, transformada em conhecimento, como relação entre possibilidades e áreas evocando uma dimensão social.

Desse modo, para desenvolver esta pesquisa e a partir do contexto apresentado, foi formulada a seguinte questão de pesquisa: como é apontado o conceito da Difusão Cultural, em pesquisas brasileiras, no contexto das Unidades de Informação, nos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia?

Para responder a essa questão, o objetivo geral desta pesquisa foi identificar o conceito de Difusão Cultural, a partir de pesquisas brasileiras, no contexto das unidades de informação, nos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia.

 

 

2  DIFUSÃO CULTURAL

Quando analisamos o termo difusão cultural, percebemos ser um termo composto e que carrega em si uma função informativa, formativa, representativa, dialógica e multidisciplinar, podendo ser adotado de maneira diferente nas áreas que convém utilizá-lo e aplicá-lo. Aqui, nos detemos à Difusão Cultural, no contexto das Unidades de Informação e áreas que as envolve e estudam. Nessa perspectiva, notamos um termo que comporta inúmeras formas de promoção de acesso e uso/reuso da informação pelo usuário.

A estrutura e a prática do termo apresentam uma ampla gama de possibilidades, de atividades, que conduzem à reflexão sobre o tratamento de algo dotado de uma completude no que tange às intencionalidades de disseminação da informação e serviços das Unidades de Informação. O termo difusão já traz em si a força para o papel social da Unidades de Informação, entendido como “ato ou efeito de difundir(-se); estado do que é difuso” e, por analogia é “divulgação (de culturas, ideias etc.); propagação, multiplicação”, disseminação. Já o vocábulo “cultural”, o complementa sendo entendido como uma herança ao indivíduo, o meio pelo qual se adquire conhecimento, refletindo como experiência adquirida pelas gerações (LARAIA, 2007), é memória, é filtro social, é a amplitude característica da humanidade em seu desenvolvimento. 

Desse modo, a Difusão Cultural pode ser compreendida como meio de preservação e compartilhamento de informação e conhecimento à sociedade ou, como coloca Laraia (2007) como os empréstimos culturais que fomentam os padrões culturais de um dado sistema. As Unidades de Informação são espaços propícios e efetivos para concretização desse entendimento.

É atribuição das UIs, dentro do contexto de seu papel social, as ações de preservação e promoção da cultura e da identidade, atuando como agente transformador da comunidade onde estão inseridas, o que coincide com que ora apresentamos até o momento, cabendo a estas aproximar cada vez mais o usuário dos espaços físicos, por isso as UIs devem avaliar suas atividades gerenciais e incluir a elas as atividades de DC, as quais ligam a Unidade de Informação e a sociedade, estabelecendo um elo de formação e identificação entre a instituição e o sujeito.

 Nesse quadro, a Difusão Cultural torna-se ação promotora e oportuna para as manifestações culturais, de conhecimento informacional e histórico cultural nas UI, é “o ato de comunicar à sociedade os acervos, instigando-a a pesquisa”, a construção do conhecimento e sentimento de pertencimento, bem como do resgate da identidade coletiva (PORTELLA, 2012, p. 26), é a disposição da informação documental ao receptor, a disponibilização da informação, a promoção ao acesso, uso e reuso.

Por meio da fusão entre os conhecimentos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, aqui representados por Almeida Júnior (2003), Bellotto (2006) e Cury (2007), identificamos as atividades de Difusão Cultural e as caracterizamos a seguir:

 

Quadro 1 – Síntese das atividades de Difusão Cultural identificadas na literatura.

TIPO DE ATIVIDADES

DE

DIFUSÃO CULTURAL

 

DESCRIÇÃO

MEIO DE DESENVOLVIMENTO


Exposições

É a ação de expor, colocar o patrimônio à mostra, aproximando Unidade de Informação e patrimônio à sociedade.

Exposições Permanentes

Exposições temporais  (fixas ou itinerantes)

Exposições digitais

(temporais ou permanentes)

 

Eventos Culturais

É a promoção de algo que coloque a Unidade de Informação como agente cultural na sociedade; aproximam o usuário do espaço como agente direto do processo de construção cultural.

Recitais

Saraus

Exibição de Filmes

Lançamento de livros

Concursos culturais

etc. 

 

 

Ação Educativa 

É vista como educação não formal e como meio de fortalecer a Unidade de Informação como espaço educativo e de construção do conhecimento, levando em consideração a experiência pessoal do sujeito, aproximando o cidadão das UIs. A Ação Educativa pode estar sob competência das UIs ou das escolas. 

Oficinas

Exposições

Palestras

Exibição de Curta metragem

Visitação ao acervo

Acesso físico ou virtual ao acervo

etc. 

 

 

 

 

 

 

Visitas Guiadas

Consiste na visitação guiada por servidores das Unidades de Informação, levando o usuário a conhecer, de modo mais aprofundado, a instituição, o acervo. Contribui não só para a aproximação entre sujeito e instituição, mas também entre sujeito e profissional da informação, como cocriadores do conhecimento e ativos no processo informacional. 

Acontecem nos espaços das Unidades de Informação

 

 

 

Palestras

É o ato de dialogar sobre determinado assunto em um nível profissional e técnico. Aproxima usuários, Unidades de Informação e profissionais da informação. Podem ser sobre determinada coleção, acervo, conjunto de obras etc. 

Palestras fixas

Palestras itinerantes



Minicursos

São atividades pedagógicas que suscitam a criatividade do usuário, podendo levá-lo ao interesse de desenvolver estudos sobre as temáticas abordadas na Unidade de Informação ou até mesmo propor atividades a serem desenvolvidas junto às UIs.

Geralmente fixos, ocorrem no ambiente das Unidades de Informação ou em locais adequados ao seu desenvolvimento 

 

 

 

 

Publicações

São os canais de comunicação das Unidades de Informação com o mundo exterior. Abordam desde os serviços ofertados até a divulgação de eventos. São instrumentos que facilitam o uso da informação custodiada e também aproximam o usuário da instituição.

Publicação de revistas

Publicação de boletins informativos

Publicação de Guias

Publicações científicas

Publicação de periódicos

Publicação de conteúdo interativo

Publicações na internet

 

Materiais Didáticos

Também são chamados de ações extra muros, que conseguem ir além dos espaços das Unidades de Informação; ajudam na divulgação da instituição, facilitam no desenvolvimento das atividades e na construção do conhecimento. 

Materiais para empréstimo

Materiais para posse do usuário

Materiais para uso em oficinas, palestras e minicursos

Fonte: Síntese e adaptação de Almeida Júnior (2003), Bellotto (2006) e Cury (2007).

 

Assim, entendemos que as atividades de Difusão Cultural se apresentam de forma ampla, com especificidades e características individuais, devendo ser pensadas, antes de sua execução, de acordo com os objetivos da UI e o perfil do público usuário, levando em consideração os processos informacionais, as variações de necessidade do usuário e o fluxo informacional.

A Difusão Cultural possui ainda uma amplitude de direcionamentos científicos e abordagens do tema, visto que a prática demanda planejamento para construção das atividades e de sua execução. Torna-se imprescindível embarcar na diversidade de ligações epistêmicas do termo, as quais estabelecem relações diretas para representação de sua ideia na consciência humana e no campo científico, faz-se mister compreender cada parte para se chegar ao todo do que propõem as Ações de Difusão Cultural, atendendo às necessidades e objetivos de quem as promove. 

Sendo via ao cumprimento do papel social das Unidades de Informação, que não são apenas espaços de guarda e preservação da construção intelectual e cultural humana, mas são espaços ativos dessa construção, espaços disseminadores de diversidade, de apropriação cultural, ambientes que geram informação, inovação e constroem conhecimento e sentidos. Isto porque é necessário compreender a Difusão Cultural nos espaços das UIs, investigar o nível de produção científica sobre o assunto, ao mesmo tempo que chamar a atenção para sua importância e necessidade de desenvolvimento no quadro de atividades de primeiro plano.

 Nesse contexto, Mariz (2012, p. 21) destaca que, “a informação é elemento essencial e determinante de todos os campos do conhecimento, e isso faz com que ela seja dotada de enorme diversidade de conceitos”, logo é mister olharmos com atenção para os caminhos e atividades disponíveis ao cumprimento do papel social das UIs, como via de acesso, uso e reuso da informação gerando frutos para a sociedade, transcendendo o espaço físico e atingindo o intelectual, produtor e motor da sociedade.

 

3 PERCURSO METODOLÓGICO

Foi desenvolvida uma pesquisa exploratória e bibliográfica, que fez uso do método de Revisão Sistemática de Literatura (RSL), a qual “observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los” (CERVO; BERVIAN, 2006, p. 66), com vistas a atingir o objetivo da pesquisa, evitando vieses e mantendo o caráter auditável, reprodutível e imparcial das pesquisas que se utilizam da RSL para o seu desenvolvimento. Utilizou-se ainda o software StArt (State of the Art through Systematic Review), desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Engenharia de Software (LAPES), do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para as análises.

A RSL é aplicável às pesquisas científicas, envolvendo o levantamento de dados, a seleção das fontes de pesquisa e a sistematização dos resultados de modo detalhado, a partir de um protocolo de pesquisa. Isso permitiu que a pesquisa fosse auditável e reproduzível, abrindo espaço para a atualização da revisão e estudos futuros. O uso da ferramenta tecnológica StArt contribuiu para a qualidade e agilidade no desenvolvimento da pesquisa.

Para a coleta de dados, utilizou-se um Protocolo de Pesquisa da Revisão Sistemática de Literatura (PRSL), que segue sete etapas norteadoras da RSL, desde a formulação da questão de pesquisa  até a síntese da RSL:

a) Formulação da questão de pesquisa: a questão de pesquisa que norteou o processo da RSL nesta nossa investigação foi: como é apontado o conceito da Difusão Cultural, em pesquisas brasileiras, no contexto das Unidades de Informação, nos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia?   

b) Estratégia de busca: foram criadas 31 strings a partir dos termos: “difusão cultural”, “mediação cultural”, “difusão da informação”, “disseminação da informação”, “práticas de difusão cultural”, arquivo, biblioteca, museu, “unidades de informação”, “arquivologia”, “biblioteconomia”, “museologia”, “Ciência da Informação”, utilizando os operadores booleanos AND, OR e NOT.

c) Definição dos critérios de inclusão e exclusão: os critérios de inclusão foram: ter acesso público e gratuito, ser tese, dissertação ou artigo, possuir similaridade com a temática (Difusão Cultural em UI), ser das áreas da Arquivologia ou Biblioteconomia ou Museologia, estar disponível de forma integral nas bases de dados buscadas, estar dentro do recorte temporal de 2000 a 2021 e ser publicação brasileira. Os critérios de exclusão foram os de negação aos critérios de inclusão.

d) Busca da literatura: as buscas foram realizadas nas bases de dados Scielo, Web of Science, BDTD, Repositório do IBICT e BRAPCI, no período de 2000 a 2021.

e) Avaliação e Seleção dos dados: foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão e também foram verificados se os termos das strings estavam no título, resumo e/ou palavras-chave, se os trabalhos estavam dentro dos campos estabelecidos na pesquisa, se eram estudos em formato integral e se apresentavam caráter científico.

f) Extração dos dados: avaliação descritiva baseada em itens que identificaram os estudos, as informações consideradas relevantes, limitações e desfecho do estudo (GOMES; CAMINHA, 2014).

g) Síntese e Disseminação da informação: combinou-se toda informação levantada, a fim de se obter a abrangência dos estudos levantados e as informações que respondem à questão de pesquisa. A partir das informações recolhidas comunicam-se os resultados (OKOLI, 2019).

Ressaltamos que para o levantamento de dados levou-se em consideração as particularidades de cada base de dados, onde na base BDTD e Repositório do IBICT, priorizaram-se os estudos indexados no departamento, programa e área da Ciência da Informação, conforme interesse e viabilidade da pesquisa e por interessar à Ciência da Informação.

 

4 RESULTADOS

As buscas realizadas nas bases de dados, string por string, em cada uma delas, gerou um total de 640 resultados, onde de acordo com as configurações do software StArt, 1 dos estudos (0%) refere-se à inserção manual;  48 (8%) referem-se aos resultados do Repositório do IBICT; 72 estudos (11%) referem-se aos resultados da base BDTD; 76 (12%) referem-se ao resultado de estudos recuperados na base de dados Scielo; 137 (21%) foram as pesquisas recuperadas na Web of Science; e 306 (48%) foram os resultados das pesquisas recuperadas na base de dados BRAPCI, conforme Figura 1, a seguir.

 

Figura 1 – Identificação das pesquisas recuperadas nas bases de dados.

Fonte: A pesquisa.

 

Aplicados os critérios de inclusão e exclusão, identificou-se um total de 388 documentos duplicados (60%), diante do resultado das buscas nas cinco bases de dados; foram rejeitados 189 documentos (30%), por não estarem dentro dos critérios de inclusão dos estudos como resultado. Desse modo, foram aceitos para análise 63 estudos, correspondente a (10%) do quantitativo total de estudos recuperados, para o processo de leitura integral e extração dos dados, integrando o relatório da RSL, conforme apresentado na Figura 2, a seguir.

 

Figura 2 – Resultado da etapa de seleção dos estudos no software StArt.

Fonte: A pesquisa.

 

O resultado da etapa de seleção dos estudos contemplou como fontes as produções científicas que se caracterizavam como artigos (52), dissertações (9) e teses (2). Quanto à caracterização dos estudos selecionados, com relação à área de publicação, identificou-se 15 estudos na área da Arquivologia, 5 estudos na área da Biblioteconomia, 42 estudos na área da Ciência da Informação e 1 estudo na área da Museologia. É importante apontar que os estudos identificados na área da CI também podem corresponder às áreas da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, tendo em vista a interdisciplinaridade da CI; no entanto, classificamos de acordo com a área dos programas e periódicos de publicação.

Os estudos foram caracterizados a fim de compreendê-los em suas especificidades, onde estabeleceu-se três categorias, como mostra a seguir, o Quadro 2.

 

Quadro 2 – Categorização dos estudos selecionados.

 

CATEGORIA

 

QUANTITATIVO

Conceito

57 estudos

 

Uso

39 estudos

 

Aspectos Epistêmicos

8 estudos

 

Fonte: A pesquisa.

 

Dos 66 estudos selecionados para a RSL, 57 se encaixam na categoria Conceito, o que representa 90,47% do total; 39 estudos se encaixam na categoria Uso, ou seja, 61,90% do total de estudos; e 8 estudos se encaixam na categoria Aspectos Epistêmicos, representando 12,69% do total desses estudos. É interessante observar que um mesmo estudo pode se encaixar em apenas uma categoria ou também em mais de uma delas, ou seja, ao mesmo tempo que um estudo aborda o Conceito pode trazer consigo também os Aspectos Epistêmicos ou a forma de Uso da pesquisa ou os três pontos de abordagem.

Após o processo de categorização nos foi possível identificar os usos desses estudos, os quais os quantificamos em 24 usos que apontam a variedade de abordagens da temática bem como a aproximação entre Difusão Cultural e o que vem a ser Mediação na Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Não é nosso objetivo aqui investigar as proximidades e distanciamentos dos conceitos, mas consideramos notar a proximidade das ações e a presença dos termos É possível observar os usos identificados no Quadro 3.

 

 

Quadro 3 Usos dos estudos selecionados.

USOS

Mapeamento de práticas de mediação cultural

Uso da Cultura

Bibliotecário como mediador da informação

Arquivista e a mediação

Ação de aproximação entre acesso e usuário

Práticas de mediação

Práticas de mediação na Web

Difusão Cultural na Web

Apropriação cultural

Expografia

Difusão e Mediação

Mediação no Museu

Infoeducação

Difusão como precursora da mediação cultural

Atividade de Difusão

Função social dos Arquivos

Interação socioinformacional

Atuação do Bibliotecário com o uso da Difusão Cultural

Prática sociocultural

Função social da mediação

Integração cultural, educacional e informacional

Práticas de Difusão

Biblioterapia

Apropriação da informação

Curadoria e ação cultural

Difusão em ambientes virtuais

Fazer pedagógico do profissional da informação

Fonte: A pesquisa.

Após a leitura e análise das pesquisas na RSL, observou-se os pontos de convergência entre a Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia no que diz respeito à Difusão Cultural, levando a compreensão de que da DC como como ponto e meio de aproximação dos usuários frequentes e potenciais junto às Unidades de Informação, além de ser um compromisso do profissional da Informação, do ponto de vista da organização, distribuição e disseminação da informação, com a UI e com a sociedade, tendo em vista que a Difusão Cultural se configura como uma ferramenta não apenas disseminadora mas formativa do sujeito social e das práticas informacionais.

A Difusão Cultural é vista não só como ferramenta da informação, mas como ferramenta de apropriação dessa informação e promotora da construção do conhecimento. É possível observar isso em cada termo-chave dos Mapas Mentais (Figuras 3, 4 e 5), nas três áreas de conhecimento.

 

Figura 3 – Mapa mental da Difusão Cultural enquanto ferramenta de apropriação da informação no âmbito da Arquivologia.

Fonte: A pesquisa.

 

 

Figura 4 - Mapa mental da Difusão Cultural enquanto ferramenta de apropriação da informação no âmbito da Biblioteconomia.

Fonte: A pesquisa.

 

 


 

Figura 5 - Mapa mental da Difusão Cultural enquanto ferramenta de apropriação da informação no âmbito da Museologia.

Fonte: A pesquisa.

 

Compreendemos que se trata, portanto, de uma ferramenta que pode e deve ser posta em prática a partir de atividades pensadas de modo amplo, com vistas a criar o momento e a situação ideal para divulgar a Unidade de Informação, atrair o usuário frequente e o potencial, possibilitar meios que façam a informação chegar ao usuário de modo objetivo, abrir o leque de possibilidades de ação e participação do usuário antes, durante e depois da atividade de Difusão Cultural e proporcionar momentos guiados e autodidáticos. Para tanto, é de mister importância a construção de um plano de atividade que venha a ser dialógico, prático, objetivo, didático e direcionado a um público amplo.

No que concerne às divergências, como já observado, citamos a presença do termo Mediação Cultural como referência às atividades observadas como prática de Difusão. Essa “divergência” ocorre, em sua maioria, nas áreas da Biblioteconomia e Museologia, onde o termo aparece com maior frequência. Observando a semelhança entre os conceitos e práticas, optamos por não enxergar isso como divergência, mas como uma espécie de dualidade, já que a essência é a mesma nos dois termos.

Não foi objeto desta pesquisa buscar a definição de Mediação, que, como coloca Almeida Júnior (2008), ainda é um termo em construção na CI e áreas correlatas. Ainda assim, nos cabe a responsabilidade de citar esse termo de aproximação, devido à grande importância que representa quando o entendemos, junto ao termo Difusão Cultural, como caminho para disseminação da informação, construção do conhecimento e ação socioeducacional, de modo que ambos possuem práticas iguais e/ou similares e quando compreendidos juntos uma atividade abre espaço para  outra no fazer do profissional da informação e no cumprimento do papel social das UIs.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como papel social a disseminação da informação e a promoção do acesso e uso desta é mister que as UI desenvolvam, lado das práticas de gestão, as práticas de Difusão Cultural, de modo dialógico, interativo prezando pela participação ativa do profissional da informação em todo o processo de desenvolvimento da prática das atividades de Difusão Cultural, colocando sempre o usuário como parte do processo.

Através do desenvolvimento dessa pesquisa observamos a Difusão Cultural como caminho para construção do conhecimento e formação do usuário, bem como ponto de diálogo e interação entre a Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, caracterizando-se ainda como termo interdisciplinar que pode ser trabalhado em conjunto por profissionais das áreas supracitadas. 

Observamos, ainda, que ainda são incipientes as investigações que versam sobre esta temática, o que nos faz crer que haverá que com o passar do tempo e ao passo que perceptível quanto às mudanças sociais refletem nas Unidades de Informação e nas suas práticas, será possível a ampliação no número de pesquisas sobre o assunto, tendo em vista que a  Difusão Cultural está interligada a todos os processos de tratamento da informação e dos processos informacionais do usuário, logo merece maior atenção, o que permitirá a atualização desta RSL.

Como conclusão, tomamos como conceito de Difusão Cultural, no contexto das Unidades de Informação: Ferramenta de disseminação da informação a ser executada pelo profissional da informação através de atividades lúdico-educativas, estruturadas, dialógicas e assertivas, de acordo com o estudo de perfil do usuário, com vistas a alcançá-lo de modo positivo, agindo sobre ele na construção do conhecimento, na apropriação da informação e da cultura, contribuindo para a geração de mais informação e conhecimento e para o despertar social, para o sentimento de pertencimento e divulgação das UIs, bem como atentando para o seu papel e importância na sociedade.

 

NOTAS

Agradecimento à FACEPE pelo financiamento.

 

 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA JÚNIOR, O. F. Biblioteca pública: avaliação de serviços. Maringá: Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2003.

ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da Informação: o diálogo possível. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2014.

BELLOTTO, H. L. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2006.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

CURY, M. X. Comunicação museológica em museu universitário: pesquisa e aplicação no Museu de Arquivologia e Etnologia-USP. Revista CPC, São Paulo, v. 3, p. 69-90, 2007. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/15598/17172. Acesso em: 26 jul. 2021.

GOMES, I. S.; CAMINHA, I. O. Guia para estudos de revisão sistemática: uma opção metodológica para as ciências do movimento humano. Movimento: Revista de Educação Física da UFRGS, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 395-411, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/41542/28358. Acesso em: 21 jul. 2021.

LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

MARIZ, A. C. A. A informação na internet: arquivos públicos brasileiros. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2012.

OKOLI, C. Guia para realizar uma revisão sistemática da literatura. EaD em Foco, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 1-40, 2019. Disponível em: https://eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/Revista/article/view/748/359. Acesso em: 21 jun. 2021.

PORTELLA, V. P. Difusão virtual do patrimônio documental do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. 99 f. 2012. Dissertação (Mestrado em Patrimônio Cultural) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012.

 



[1] Bacharel em Arquivologia pela UEPB e Mestra em Ciência da Informação pela UFPE.

[2] Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela UFSCar. Mestre e Doutor em Ciência da Informação pela UNESP. Docente e pesquisador na UFPE. Bolsista de Produtividade do CNPq.

[3] Licenciada em História pela UFPB. Bacharel em Arquivologia pela UEPB. Mestra em Ciência da Informação pela UFPB. Doutoranda em Ciência da Informação pela UFPE.