Memória Coletiva diante um painel bibliometrico
arranjos e as inovações da temática nos âmbitos ambiental, político, econômico e cultural
Rosa da Penha
Universidade Federal, Brasil.
rosa.costa@edu.ufes.br
Philippe Peterle Modolo
Universidade Federal, Brasil.
philippemodolo13@gmail.com.br
Marcelo Calderari Miguel
Universidade Federal, Brasil.
marcelocalderari@yahoo.com.br
Resumo
O Brasil, diz Millôr Fernandes, tem um enorme passado pela frente e, esse projeto de nação ergue-se com a memória coletiva. Nessa via, o objetivo do estudo é analisar bibliometricamente como a temática ‘memória coletiva’ se apresenta indexada no acervo da literatura científica da Ciência da Informação - Brapci. A pesquisa estabelece métricas sobre o quantitativo anual de publicações, os periódicos e os autores envolvidos, as palavras chaves mais frequentes. Estabelecido o recorte dos últimos dez anos completos, são recuperados 50 artigos. O diagnóstico nota a sustentabilidade da produção científica relacionada ao tema memória coletiva e, com o debate das práticas patrimoniais e memorialistas alinham-se ações em prol da visibilidade, do acautelamento e da proteção do Patrimônio Cultural. Conclui-se que entre os anos de 2017 e 2021 a temática memória coletiva adentra na Ciência da Informação, cingindo construtos em prol da ética, da transparência e dos direitos humanos. A temática processa amplas provocações e reflexões que, por meio das narrativas da memória e do esquecimento estão ligadas ao status teórico-linguístico inerente às interfaces do Ser Informação.
Palavras-chave: Base dos Dados. Ciência da Informação. Comunicação científica. Justiça social. Patrimônio.
COLLECTIVE MEMORY IN FRONT OF A BIBLIOMETRIC PANEL
arrangements and innovations of the theme in the environmental, political, economic and cultural spheres
Abstract
Brazil, says Millôr Fernandes, has a huge past ahead of it, and this nation project rises with collective memory. In this way, the objective of the study is to analyze bibliometrically how the theme 'collective memory' is indexed in the collection of scientific literature of Information Science - Brapci. The survey establishes metrics on the annual number of publications, the journals and authors involved, the most frequent keywords. Having established the cut of the last ten full years, 50 articles are retrieved. The diagnosis notes the sustainability of scientific production related to the theme of collective memory and, with the debate on heritage and memorialist practices, actions are aligned in favor of visibility, caution and protection of Cultural Heritage. It is concluded that between 2017 and 2021 the theme of collective memory enters Information Science, encompassing constructs in favor of ethics, transparency and human rights. The theme processes broad provocations and reflections that, through the narratives of memory and forgetfulness, are linked to the theoretical-linguistic status inherent in the interfaces of Being Information.
Keywords: Database. Information Science. Scientific communication. Scientific magazines. Social justice. Patrimony.
1 INTRODUÇÃO
[...] me desculpe e acredite.
Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes...
(QUINTANA, 2014, p.17).
O tema memória em Ciência da Informação (CI) é relevante porquanto a memória tem relações intrínsecas com a informação, no sentido de que a memória (individual, coletiva, social) significa a possibilidade de desenvolvimento de sistemas de recuperação da informação a fim de garantir a preservação, a disseminação e o acesso. Além disso, quando se fala de memória social e coletiva, está se falando em uma memória viva, e nesse sentido, a CI coloca-se a serviço dos grupos sociais que com ela mantêm relações, pois "a informação não existe independente dos sujeitos que se relacionam com ela" (ARAÚJO, 2014, p.15).
Nessa via, a Memória Coletiva (MC) compõe e adereça ‘paredes’ e múltiplos painéis devido a sua inerente vicissitude vocabulares. Considerando a polissemia e a interdisciplinaridade do termo, entende-se que a MC é composta de símbolos, artefatos, resenhas, linguagens e imagens que participam da construção identitária de uma coletividade. Logo, se aparte: a MC expressa um estado de seres e instituições ou apenas abrange a reputação ou aparência de algo? A MC pode ou não falar por si só? Ela carece de quais elementos? Desta forma, frisa-se:
A questão da memória tem de certo modo chamada há décadas à atenção por parte das ciências sociais. No caso da ciência da informação, tudo se efetiva com a criação do GT10 da Ancib, em 2010, embora haja estudos que antecedem essa data. Por outro lado, é oportuno ressaltar que o termo “memória coletiva” foi cunhado em 1925, na obra Les cadres sociaux de la memoire, da autoria de Maurice Halbwachs, e reiterado em sua obra ‘A memória coletiva’, publicada postumamente. Tal concepção buscou compreender as relações entre o indivíduo e o social, bem como as representações que são construídas pelos sujeitos (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA; GAUDÊNCIO, 2015, p.235).
Destarte, a história da humanidade foi e ainda é marcada pela presença da MC como um dos principais mecanismos de comunicação entre os homens, que a utilizam na forma direta ou em indiretos questionamentos e discursos. Assim, a alocução interrogativa desse diagnóstico está em estabelecer parâmetros métricos para configurar a produção científica sobre a MC na Brapci.
Busca-se, em síntese, examinar bibliometricamente com a temática (MC) que se apresenta indexada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci). No replicar da alvitrada questão, observa-se os conjuntos de produções científicas da Ciência da Informação (CI), com o mister recorte dos últimos dez anos (2012 a 2021) acerca das métricas sobre as publicações indexadas na Brapci.
Nessa análise, o estudo carrega como justificativa a motivação pessoal de se localizar as lacunas dessa temática e, destarte, requer investigações futuras ou recomendações que venham ampliar o debate e fortalecer a integração das pesquisas na CI. Além disso, a proposta de estudo pode servir de base para ‘estudos comparados’, os quais são cada vez mais demandados e, os quais situam valor a temática em análise no amplo terreno da comunicação, produção científica e internacionalização.
Por conseguinte, as próximas seções retratam o estado da arte, a composição do método, os procedimentos metodológicos adotados, os resultados obtidos e as notas conclusivas.
2 ENFOQUES PARA A MC: o ressonar e o repercutir das diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade
A memória - tema ou conceito em permanente pauta - pode ser entendida de “alguma forma, no campo da ciência da informação. Nas últimas duas décadas, contudo, tem tido maior destaque, passando a designar áreas de investigação, linhas de pesquisa em programas de pós-graduação e grupos de trabalhos em associações científicas” (ARAÚJO, 2018, p.75).
O termo ‘MC’ traz em sua essência alta carga polissêmica e a torna passível de inúmeros significados. De um lado há a cancha denotativa concebida de forma literal e inerente por aquilo que ‘se vê’ registrado em seu suporte físico ou digital, e sua acepção conotativa vai ao encontro da polissemia do próprio vocábulo. Ademais, os apontamentos de Le Goff (1990, p. 419) destacam que como propriedade de “conservar certas informações”, a Memória “remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode utilizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”.
Para Araújo (2018) a apropriação do conceito de memória na Ciência da Informação é um fenômeno recente no Brasil, tendo ocorrido com o surgimento de linhas de pesquisa específicas para programas de pós-graduação em Ciência da Informação stricto sensu. Nesse sentido, cabe destacar que a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB), criada em 1989, também contribuiu de forma significativa ao implementar no ano de 2010, durante o XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), o Grupo de Trabalho (GT) número 10, intitulado Informação e memória.
A primeira contribuição deste GT para a área foi e[sic]evidenciação das questões de memória dentro dos estudos da CI, que antes ficava submerso dentro do GT 02. Além disso, vincula o fenômeno informacional, através da perspectiva da memória, como algo que só tem existência dentro de redes e dinâmicas sociais (AZEVEDO NETTO, 2014, p. 209).
A partir das contribuições de teóricos vinculados às Ciências Humanas e do conhecimento por eles produzidos, o conceito de memória passa “a ser incorporado paulatinamente no campo da Ciência da Informação, apresentando um constante diálogo com outros estudiosos, em especial, com a contribuição de sociólogos e historiadores” (SILVA; MARTINS, 2022, p.402). Dessa forma, pode-se entender que a memória não se restringe a nenhuma área específica do conhecimento. Ela sempre é passível de ser incorporada e adaptada a novas interpretações.
Com essa definição, também fica evidente um elemento importante para a memória coletiva: os lugares de memória. Ao se perguntar o que deve estar ali, laconicamente responde o historiador francês Pierre Nora, argumentando que os ‘lugares de memória’ partem de três características/vértices: o lugar de memória é material, físico, como museus, arquivos, cemitérios, coleções, comemorações, monumentos, santuários, associações, etc.; é funcional, pois garante ao menos por hipótese, a cristalização da lembrança e, consequentemente sua transmissão é simbólica e, remete a um acontecimento vivido por um grupo minoritário de pessoas que muitas vezes já nem estão vivas, e, ainda assim, trazem uma representação para uma maioria que não participou do acontecimento. Assim, a seguir se aludi outras considerações, vejamos:
Quadro 1 - O que se entende (concebe, define, exprimi) como a Memória Coletiva
AUTOR |
CONCEITO DE MEMÓRIA COLETIVA |
ANO |
Pierre Nora |
É “o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que os grupos fizeram do passado” (NORA, 1978, p. 112). |
1978 |
Jacques Le Goff |
Nas sociedades sem escrita a memória coletiva parece ordenar-se em torno de três grandes interesses: a idade coletiva do grupo que se funda em certos mitos, mais precisamente nos mitos de origem, o prestígio das famílias dominantes que se exprimem pelas genealogias, e o saber técnico que se transmite por práticas fortemente ligadas à magia (p.431). |
1990 |
Maurice Halbwachs |
A memória coletiva é essencialmente mítica, deformada, anacrônica, mas constitui o vivido desta relação nunca acabada entre o presente e o passado (HALBWACHS, 2006). Se essas duas memórias coletiva e individual se penetram frequentemente e podem se confundir momentaneamente; nem por isso deixa de seguir seu próprio caminho. A memória coletiva envolve as memórias individuais, mas não se confunde com elas e, ela evolui segundo suas leis e se algumas lembranças individuais penetram algumas vezes nela, mudam de figura e são recolocadas num conjunto que não é mais uma consciência pessoal. |
2006 |
Michael Pollak |
A memória é coletiva, mas isso é apenas uma parte do que ela é. Assim é construída socialmente, assim como os documentos também são, logo, a “fonte oral é exatamente comparável à fonte escrita” (1992, p. 8). |
1992 |
Maria Luisa S. Schmidt & Miguel Mahfoud |
A memória coletiva é o trabalho que um determinado grupo social realiza, articulando e localizando as lembranças em quadros sociais comuns. |
1993 |
Myrian Sepúlveda dos Santos |
Está diretamente relacionada ao coletivo, porque a memória é parte de um processo social, no qual os indivíduos são vistos em coletivo, interagindo uns com os outros, ao longo de suas vidas e determinados por estruturas sociais. |
2003 |
Olga Rodrigues de Moraes Von Simson |
A memória coletiva é formada por fatos e aspectos julgados importantes e que são guardados como a memória oficial da sociedade mais ampla. Se expressa no que chamamos de lugares da memória. Eles são os memoriais, documentos e artes que expressam a versão consolidada de um passado coletivo de uma dada sociedade e, é aquela formada pelos fatos e aspectos julgados relevantes pelos grupos dominantes e que são guardados como memória oficial mais ampla. |
2003 |
José D'Assunção Barros |
Deve-se pensar na Memória como instância criativa, como uma forma de produção simbólica, como dimensão fundamental que institui identidades e com isto assegura a permanência de grupos.
|
2009 |
Jöel Candau |
A metamemória e a memória coletiva, ao sofrerem confusão podem causar a ilusão de uma memória compartilhada. Para Candau a memória coletiva existe no plano discursivo, mas não no concreto (2012, p.35). |
2012 |
Maria Cristina Clorinda Vendra |
Alega que o conceito é difícil de definir. Ancorada na leitura crítica de Jeffrey Barash da interpretação de Paul Ricœur, diz que memória coletiva só pode ser compreendida por meio da elaboração de uma teoria adequada do símbolo que possa dar conta das complexas mediações entre a experiência pessoal do ser humano e a memória na esfera comum. A analogia que Ricœur estabelece entre a memória pessoal e a memória coletiva está ligada às suas fontes simbólicas e metapessoais e, pode ser coerentemente concebida como uma “teia de experiências lembradas incorporadas em símbolos comunicáveis coletivamente”. |
2019 |
Fonte: os autores, dez. 2022.
Como o painel acima, verifica-se que a essência norteadora da memória coletiva exprime um conceito polissêmico, de difícil definição (VENDRA, 2019, p.89). As discussões sobre a memória em CI têm como principal referência os estudos desenvolvidos por Maurice Halbwachs (2006), sociólogo que se baseia nos pensamentos de Emile Durkheim, o qual compreende a sociedade a partir do comportamento dos grupos, "ultrapassando a ideia de memória apenas como fator biológico e psicológico" (AMARAL; ALVES, 2017, p.113).
Peralta (2007), afirma que o conceito de memória coletiva teria sido cunhado por Halbwachs a partir das suas principais obras, notadamente : Os quadros sociais da memória (1925) [Les Cadres Sociaux de la Memóire]; Topografia legendária dos Evangelhos na Terra Santa (1941) [La Topographie Légendaire dês Évangiles en Terre Sainte: Étude de Mémoire Colective]; e A memória coletiva (1950) [La Mémoire Collective]. Pode-se afirmar, portanto, que Halbwachs pensa a memória a partir dos quadros ou contextos sociais de referências, que denominou de Memória Coletiva (DUVIGNAUD, 2006).
Nesse sentido, Peralta (2007, p.5) complementa que:
É Halbwachs que, acusando a influência de Durkheim, viria a inaugurar uma conceptualização da memória enquanto fenômeno eminentemente colectivo, introduzindo este conceito no léxico das ciências sociais. Para Halbwachs a função primordial da memória, enquanto imagem partilhada do passado, é a de promover um laço de filiação entre os membros de um grupo com base no seu passado colectivo, conferindo-lhe uma ilusão de imutabilidade, ao mesmo tempo que cristaliza os valores e as acepções predominantes do grupo ao qual as memórias se referem.
A memória coletiva, portanto, é considerada por Halbwachs (2006), como o locus onde a identidade do grupo se apoia, garantindo a sua continuidade e permanência num determinado território ao longo do tempo. Para Vendra, (2019, p.89), abordando a interpretação de Ricœur sobre a noção de memória coletiva, argumenta que a experiência coletiva e a memória coletiva só estão diretamente associadas e "só podem ser compreendidas por meio da elaboração de uma teoria adequada do símbolo que possa dar conta das complexas mediações entre a experiência pessoal do ser humano e a memória na esfera comum." (VENDRA,2019, p.89).
Partindo desta perspectiva, compreende-se que o conceito de memória coletiva está associado às lembranças comuns a um grupo específico. Tais recordações desse passado comum é que promovem a unidade deste coletivo. A memória coletiva se define a partir destes vínculos coletivos que se estabelecem por meio das lembranças de um passado em comum. Tais lembranças, constituídas também de relatos de acontecimentos passados, são tão significativas que podem ser lembradas até no tempo presente Alves e Oliveira (2011, p.18).
Para Magalhães e Almeida (2011), seguindo o pensamento de Halbwachs (2006), a memória não provém de indivíduos isolados, mas sim dos quadros sociais de uma dada sociedade, da interação entre os indivíduos inseridos nesses grupos sociais. Desta forma, até mesmo a memória individual reveste-se dos atributos da memória coletiva, tendo em vista que “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda segundo o lugar que ali ocupa e que esse mesmo lugar muda segundo as relações que mantém com outros ambientes” (HALBWACHS, 2006, p. 69).
É nesse sentido que se pode afirmar que a memória coletiva abrange também as memórias individuais, muito embora não se confunda com elas. Ocorrendo de determinadas lembranças individuais invadirem as coletivas, estas mudam de aspecto na medida em que “são substituídas em um conjunto que não é mais uma consciência pessoal” (HALBWACHS, 2006, p. 72). Quanto à memória individual, o sociólogo francês argumenta:
Ela não está inteiramente isolada e fechada. Para evocar seu próprio passado em geral a pessoa precisa recorrer às lembranças de outras, e se transportar a pontos de referência que existem fora de si, determinados pela sociedade. Mais do que isso, o funcionamento da memória individual não é possível sem esses instrumentos que são as palavras e as ideias, que o indivíduo não inventou, mas toma emprestado de seu ambiente (HALBWACHS, 2006, p. 72).
Desta forma, na concepção halbwachiana, "a memória necessita do lastro de materialidade, não uma materialidade pura, individual, [...] mas sim uma materialidade relacionada a um determinado contexto social" (OLIVEIRA; BERTONI, 2019, p.249). Ora, o ato de recordar remete sempre a uma relação com algo ou alguém, seja este o outro, o espaço, o tempo etc. alegam Oliveira e Bertoni (2019, p.249).
Oliveira e Bertoni (2019, p.249) argumentam que a memória, para Halbwachs "necessita dessa materialidade, que por sinal é construída socialmente, ao passo que a recordação, nessa perspectiva, sempre nos leva a uma dimensão relacional com um determinado espaço e um determinado tempo". Jacques Le Goff defende que:
O uso das letras foi descoberto e inventado para conservar a memória das coisas. Aquilo que queremos reter e aprender de cor fazemos redigir por escrito a fim de que o que se possa reter perpetuamente na sua memória frágil e falível seja conservado por escrito e por meio das letras que duram sempre." (LE GOFF, 1990, p. 450).
A partir de então, a pesquisa de Fidelis e Gomes (2022, p.99) indica que ao se transmitir uma memória e fazer viver, constrói uma identidade e uma maneira de estar no mundo e, nesses termos, “o mundo da vida pode se configurar como memória viva de informações e saberes significativos que se renovam ou, no escopo dos mecanismos universais, que formam o próprio mundo da vida: a cultura, a sociedade e a personalidade”.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os estudos bibliométricos vêm ampliar os entendimentos de um determinado assunto, e ajudam a demonstrar os aspectos da produtividade científica dos autores, instituições e as revistas científicas. No que tange a bibliometria, Machado Junior, Souza, Parisotto e Palmisano (2016) alegam que ela se insere na área da CI e está utilizada em todas as áreas do conhecimento para medir a produção científica.
O estudo tem uma abordagem quantitativa, uma vez que analisa dados numéricos por meio de uma visão interpretativista, devido à necessidade de coleta e análise de dados por meios estatísticos e o auxílio da análise quantitativa bibliométrica. Quanto aos objetivos, o estudo se caracteriza pelo caráter descritivo (HAYASHI, 2012). Ainda, do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa se rotula como um estudo descritivo e, essencialmente emprega o método quantitativo, situado em torno de indicadores bibliométricos para a abordagem do problema.
Assim, essa pesquisa busca investigar a temática memória coletiva (MC), que se encontra indexada na Brapci, por via de indicadores bibliométricos. Nessa via, Araújo (2006), Machado Junior, Souza, Parisotto e Palmisano (2016) e Miguel, Gabriel Junior e Silveira (2022) alegam que a análise bibliométrica objetiva identificar características comuns entre os artigos científicos, ou seja, possui diversas leis, com a finalidade de analisar estatisticamente os números de documentos, autores e as revistas mais produtivas de um campo científico.
Assim, além da perspectiva científica da literatura, a sistematização e descrição dos dados ocorrem sob um prisma quantitativo e bibliométrico[1], visando obter parâmetros métricos que permitam a geração de informações relativas às condições de produção/recepção dessa temática. Nos aspectos até então pontuados e, a fim de atingir os objetivos propostos, em 02 de dezembro de 2022 foi realizada a busca na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci).
O levantamento (período 01 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2021) considerou-se o termo de busca “Memória coletiva” e as variações em outros idiomas (inglês e espanhol), utilizando na plataforma o campo indicativo ‘Todos’ – que se esquadrinham em torno de autores, título, palavras-chave, resumo e texto completo e, totalizando assim 85 artigos de periódicos e 50 deles se enquadram na temática MC.
Figura 1 - Percorrendo a temática e o passo a passo da pesquisa
Fonte: os autores, refinamento em termos ‘Busca Avançada’, 2022.
No que diz respeito à circunscrição da informação sobre a MC é pertinente afirmação e reafirmação que a Brapci indexa os periódicos (nacionais e internacionais) da CI, e, o que facilita o acesso direto a mais de 60 revistas científicas (SILVA; MIGUEL; COSTA, 2021). Não obstante, os pesquisadores frisam que a Brapci está auxiliando na disseminação das pesquisas e na análise documentária. Logo, após a finalização busca documental, os metadados são reunidos nas planilhas (exportar. xls) para posterior conferência de consistência dos registros e abertura de inferência para resultados.
A análise bibliométrica pauta os indicadores/construtos métricos que servem para constatar e ratificar aspectos da temática de sua memória. O recorte temporal (2012 a 2021) situa 10 anos a produção científica como critério de inclusão, isto é considerar a esfera dinâmica da MC – em âmbito recente das publicações na CI. Ademais, a escolha da base de dados Brapci, justifica-se por ser de dados abertos, sendo especializada da área de CI.
O diagnóstico (Quadro 2) reporta as fases de tratamento e averiguação dos dados, tendo como critério para a inclusão de periódicos aqueles que tratam do tema MC. O total finalístico expressa o somatório de itens documentais indexados na Brapci e que tem relação com a MC (termo mais em voga e, mais de uma aparição). Foram excluídos todos os artigos repetidos, sendo contada uma única vez. A segunda etapa de filtragem administra procedimentos para trazer clareza a questão da busca e a captura de itens documentais. Nas etapas 2 e 3 de filtragem utiliza-se os procedimentos/funções do software Microsoft Office Excel e o panorama perfaz a soma de 50 artigos de periódicos indexados pela Brapci (ver quadro a seguir).
Quadro 2 - O situar de dados da pesquisa.
Documentos localizados na busca da Brapci | 85 = itens documentais |
||||
Fases |
Eliminação de itens |
Itens remanescentes |
||
1ª etapa – Crivo temporal |
05 |
|Critério de exclusão: recorte (2012 a 2021)| |
80 |
94,12% |
2ª etapa – Especificação dos veículos de comunicação |
15 |
|Critério de exclusão: eventos e encontros, editoriais e entrevista |. |
65 |
81,25% [E1] |
3ª etapa - Pertinência textual e |
15 |
|Critério de exclusão: escopo temático, duplicatas de registros |. |
50 |
76,92% [E2] |
Fonte: os autores, com base na Brapci (todos os campos), dez. 2022.
De modo geral, foram recuperados 85 itens documentais indexados na Brapci e, após as exclusões dos artigos repetidos e aqueles não relacionados com a temática MC, foram analisados 50 artigos, agrupados conforme recorte temporal de 2012 a 2021.
O agrupado de dados levou em consideração a segunda e terceira etapas a enfoque da pertinência temática — verifica-se assim a coerência, atinência e representatividade que vem sendo produzido, discutido, relatado, compartilhado na comunidade científica e no campo temático da CI. Também, foram identificados seis campos da planilha eletrônica que servem para conduzir aos indicadores: a) title (título do artigo); b) author (publicação por autor / e o gênero); c) source (nomenclatura do periódico); d) year/issue (publicação por ano); e, e) keywords (palavras-chave).
Assim, o levantamento documental/bibliográfico ocorreu em 02 de dezembro de 2022 e, foram excluídos os anais de evento da amostra que não foram publicados em periódicos científicos. Para tabulação e sistematização dos dados coletados utilizou-se o software Microsoft Excel (que organiza, filtra, e sintetiza elementos de análise) e, foi elaborado um banco de dados (Excel. xls) que originou tabelas e gráficos para interpretação dos resultados.
4 EXPOSIÇÃO DOS RESULTADOS
Dada à relevância do tema MC, busca-se examinar bibliométricamente com a temática apresentada e indexada na Brapci. Após busca, averiguação e filtragem com o termo de busca ‘Memória Coletiva’ se resgata, no acervo Brapci, 50 artigos no recorte dos dez últimos anos (2012 a 2021). Assim, o diagnóstico situa os seguintes painéis: i) o número de artigos de periódicos - a evolução temporal; ii) o painel de referencial dos periódicos e das autorias mais expressivas - em termos quantitativos; e, iii) as palavras-chaves representativas da esfera temática, de acordo com o pormenorizar uníssono das subseções a seguir:
4.1 O Situar Da Produtividade Documental
A pesquisa localiza o termo ‘Memória Coletiva’ em todos os campos possíveis de busca da Brapci, e, com o recorte temporal de 2012 a 2021 se enfoca o lastro mais recente dessa temática. O gráfico a seguir (Figura 2) demonstra o quantitativo de artigos de periódicos e, situa o recorte temático com agrupamento anual, isto é:
Figura 2 - Gráfico da sondagem métrica anual das publicações científicas
Fonte: os pesquisadores, dez. 2022.
Nos anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2021 encontra-se entre três a seis artigos de periódicos indexados e remetem à temática da MC. Já os anos de 2017, 2019 e 2020 foram publicados em cada período, sete ou mais itens referentes ao tema. Assim, a ilustração (figura 2) situa a evolução sobre o quantitativo de artigos de periódicos relacionados à MC no período de 2012 a 2021.
Identifica-se que, a priori, o ano de 2019 é o ponto/moda extremo culminante da temática; e, nesse ano, há indexados dez artigos de periódicos na Brapci. Nota-se no mesmo painel, que 2017 importa em um crescimento anual de 125% em relação ao período anterior (ano de 2016), assim sendo, registra-se um quantitativo de nove artigos indexados para o tema MC.
Nota-se também que a mediana ou conjunto central desse conjunto de itens se situam no ano de 2017. Assim, pode-se dizer que, os artigos de periódicos científicos têm uma distribuição flutuante, e o último triênio totaliza 20 artigos (40,00%) localizados com a indexação da Brapci.
Acerca dos periódicos, o que diz respeito ao destaque dado ao painel referencial que acolhem a temática inclui o quantitativo de 25 periódicos que trazem essa temática MC na CI. Ao percorrer à classificação qualis de periódicos na área de avaliação da comunicação e informação do quadriênio 2013-2016, estrutura-se o painel a seguir:
Tabela1 – Periódicos que publicaram artigos sobre a Memória ColetivaFonte: os autores, dados recuperados na Brapci (2012/2021), dez. 2022.
Revista Científica (source) |
ISSN |
Qualis |
Itens |
Perc % |
Ágora |
0103-3557 |
B1 |
1 |
2,00% |
Archeion Online |
2318-6186 |
C |
1 |
2,00% |
Arquivo & Administração |
0100-2244 |
B1 |
1 |
2,00% |
Biblionline (João Pessoa) |
1809-4775 |
B5 |
5 |
10,00% |
BIBLOS - Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação |
0102-4388 |
B3 |
1 |
2,00% |
Ciência da Informação em Revista |
2358-0763 |
B5 |
1 |
2,00% |
Comunicação & Informação |
1415-5842 |
B2 |
2 |
4,00% |
Convergência em Ciência da Informação |
2595-4768 |
- |
3 |
6,00% |
Em Questão |
1808-5245 |
A2 |
3 |
6,00% |
InCID: Revista de CI e Documentação |
2178-2075 |
B1 |
1 |
2,00% |
Informação & Informação |
1414-2139 |
A2 |
3 |
6,00% |
Informação@Profissões |
2317-4390 |
B5 |
2 |
4,00% |
Liinc em revista |
1808-3536 |
B1 |
3 |
6,00% |
Múltiplos Olhares em Ciência da Informação |
2237-6658 |
B5 |
1 |
2,00% |
Páginas A&B, Arquivos e Bibliotecas |
2183-6671 |
- |
1 |
2,00% |
Perspectivas em Ciência da Informação |
1981-5344 |
A1 |
2 |
4,00% |
Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia |
1981-0695 |
B1 |
2 |
4,00% |
Ponto de Acesso |
1981-6766 |
B1 |
2 |
4,00% |
Revista Analisando em Ciência da Informação |
2317-9708 |
C |
1 |
2,00% |
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD) |
1980-6949 |
B1 |
4 |
8,00% |
Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som - Policromias |
2448-2935 |
- |
1 |
2,00% |
Revista Eletrônica da ABDF |
2447-5750 |
- |
1 |
2,00% |
Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde - Reciis |
1981-6278 |
B1 |
2 |
4,00% |
Revista Fontes Documentais |
2595-9778 |
- |
2 |
4,00% |
Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação (TPBCI) |
1983-5116 |
B1 |
4 |
8,00% |
Totalizando = 25 periódico |
- |
- |
50 |
1 |
Fonte: os autores, dados recuperados na Brapci (2012/2021), dez. 2022.
Nota-se que há nove periódicos (Tabela 1) no extrato de classificação Qualis Capes, quadriênio avaliativo 2013-2016, para área de avaliação da comunicação e informação. Estes nove somam 20 artigos (40,0%) dos itens documentais indexados na Brapci com o tema MC. Cabe também destacar que três revistas são classificadas no Qualis A1/A2, somando oito artigos (16,0%) indexados (de 2012 a 2021) na Brapci.
Já os três periódicos com maior quantitativo de artigos são: i) Biblionline (Inss 1809-4775, qualis B5) com cinco publicações (10,0%); e, ii) com quatro itens e classificadas no extrato B1 se destacam a ‘Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação’ (RBBD, INSS 1980-6949) e a TPBCI (INSS 1983-5116). Assim, em conjunto, os três periódicos agrupam 13 artigos (26,0%) da produtividade científica no tema MC para a segunda década do século XXI.
Observa-se, em síntese, que a MC se mantém na pauta dos principais veículos de comunicação, exposição e divulgação científicas no âmbito da CI. O painel de análise a seguir, apresenta a Tabela 2 situando à fruição acerca da autoria.
Tabela 2- A composição das publicações na Brapci da CI com tema MC
ARTIGOS: 50 artigos (2012 a 2021) |
Autoria única - 1 autor |
18 trabalhos (36,0%) |
Duplas - 2 autores |
16 artigos (32,0%) |
|
Trios - 3 autores |
12 itens (24,0%) |
|
Quartetos - 4 autores |
03 trabalhos (6,0%) |
|
Cinco ou mais autores |
01 documento (2,0%) |
|
AUTORIA: 83 pesquisadores (2012 a 2021) |
Uma publicação |
~ 70 pesquisadores |
Duas publicações |
~ 09 pesquisadores |
|
Com três itens ou mais itens documentais/publicações |
ELLIOTT, Ariluci Goes JORENTE, Maria José Vicentini MAIA, Manuela Eugênio OLIVEIRA, Bernardina Ma Juvenal Freire |
|
Gênero (has gender) |
~ 62 mulheres (74,7%) |
|
~ 21 homens (25,3%) |
Fonte: os autores, dados da Brapci, em dez. 2022.
Os resultados demonstram que quatro (4,8%) pesquisadores publicaram três ou mais itens documentais, somente quatro artigos (8,0%) tem procedência de grupos com mais de três pesquisadores. O subconjunto de dois e três pesquisadores agrupam 28 (56,0%) itens da Brapci. Há impossibilidade de fazer de forma intuitiva a aplicabilidade da lei de Lotka, contudo, por meio dos resultados da produtividade dos pesquisadores se percebe que apesar de haver uma grande taxa de autores (~ 70 sujeitos) pouco foi produzido, ou seja, em geral os pesquisadores publicaram um artigo nessa temática. Destarte, observa-se que a produção de 10,8% pesquisadores que publicaram muitos artigos (mais de um item) foi menor do que a proposta por Lotka, pois de acordo com o autor 20% dos autores publicam muitos artigos.
No que tange a autoria, a bibliométrica sondagem assinala um rol de 62 (74,7%) mulheres e 21 (25,3%) homens envolvidos nas publicações com o tema MC. Assim, se totaliza 83 pesquisadores em torno de 50 artigos recuperados na Brapci e, frisa-se que a maior parte das publicações são produções em única autoria (18 artigos). As publicações quando analisadas cronologicamente por si só, já apontam para os avanços das pesquisas, tornando novos territórios imprescindíveis para a expansão do tema.
Foram identificados pesquisadores que produziram e, assim, se destacam: i) com oito artigos Bernardina Maria Juvenal Freire De Oliveira (UFPB); e, ii) com três documentos indexados Ariluci Goes Elliott (UFCA), Maria José Vicentini Jorente (UNESP) e Manuela Eugênio Maia (UEPB).
De outra feita, na plataforma do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) se visualiza os Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (DGP). A busca o descritor/termo MC no DGP ratifica o registro de quatro grupos, isto é:
i) Na área da CI dois Grupo de Pesquisa (GP): a) GP Memórias da repressão e da resistência e justiça transicional no Cone Sul,; da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que tem como líder a professora Maria Guiomar da Cunha Frota; b) GP ‘Memória Social, Tecnologia e Informação’ da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e que tem como Líder as professoras Vera Lucia Doyle Louzada de Mattos Dodebei e Ana Amélia Lage Martins.
ii) Na área da museologia também há dois GP: a) o GP ‘Gestão de Acervos e Direitos Humanos’ (GADH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tendo como líderes os docentes Jeniffer Alves Cuty e Henri Stephan Schrekker; b) O GP Memória e patrimonialização de processos traumáticos, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que está com a liderança da pesquisadora Maria Leticia Mazzucchi Ferreira.
Ao se direcionar o olhar para a frequência das palavras-chave, observa-se a ocorrência de 218 termos, sendo – 158 diferentes palavras-chave (72,5%). Já os termos mais frequentes associados a MC são: ‘Memória’ em 18 artigos (36,0%); ‘Memória Social’ em sete vezes (14,0%); ‘Redes sociais’ cinco (10,0%); ‘Patrimônio cultural’ em quatro itens (8,0%) e ‘Ciência da informação’ em quatro (8,0%) artigos.
Na sondagem acerca das palavras-chaves mais frequentes ainda é possível ressaltar que além dos cinco primeiros termos, existem alguns representativos vértices, isto é:
i) núcleos atinentes a Memória Científica, Memória coletiva, Memória Histórica e Social, Memória Individual, Memória Institucional, Memória na Internet (memória digital) e a Memória Social;
ii) subáreas/temas da CI como: a MC em arquivos, bibliotecas, museus, nas coleções especiais, centro de documentação, centro de memória, para a indexação imagens/ de fotografias, em núcleo de arte, lugares de memória, na pauta da preservação e da sociologia das profissões; e,
iii) cernes atinentes à ambiência da disseminação da informação, isto é: blogosfera, booktubers, cibercultura, curadoria digital, folksonomia, mídia social empresarial, plataforma facebook e Instagram, web colaborativa, web social semântica e as esferas da Gestão de Riscos de Segurança da Informação e Comunicação (GRSIC).
Em suma, a vitrine da Brapci, que amplia a desmarginalização da MC e do saber restritas as práticas documentais, museais, arquivísticas e biblioteconômicas, para amplos imprescindíveis campos institucionais e memoriais da paisagem social. Assim, a MC faz diversas interfaces com a CI e, observa-se o seguinte subgrupamento (arranjo) com o contexto dos artigos indexados:
Figura 3- Núcleo categórico de termos nos resumos dos artigos sobre a MC (2012 a 2021)
Fonte: os autores, com apoio do wordart e com os dados recolhidos na Brapci, dez. 2022.
Outro
aspecto importante a se destacar a memória – os memoriais, são eles, os
monumentos mais importantes, os hinos oficiais, quadros célebres, obras
literárias e artísticas que expressam a versão consolidada de um passado
coletivo de uma dada sociedade (SIMSON, 2003). Destarte, a frequência das
palavras-chaves constitui possibilidades e construtos que ampliam o painel
analítico sobre memória que pode ser cotidiana e/ou social. Alguns artefatos
são condição sine qua non para destacar que o papel da MC estabelece
novas fronteiras e identidades e, assim, deve-se que frisar que:
A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas Maurice Halbwacbs, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a memória deve ser entendida também, ou, sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes (POLLAK, 1992, p. 201).
Em suma, os artigos mostram amplas possibilidades como: a análise do discurso, a representação social de um coletivo, o integracionismo, a diversidade cultural (música, arte, dança, festividades), as formas de governabilidade (no Maranhão, Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande Do Sul), a ditadura militar e o impeachment, o imaginário e a extensão rural, os festejos e a religiosidade popular (presbiteriana, umbanda, candomblé), a intervenção seletiva e arquitetônica e os usos da cidade, o indigenismo e a territorialização, o produto turístico e as Políticas Públicas de Saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e nas ‘Escritas de Si’.
5 RELEXÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
Havia um tempo de cadeiras na calçada [...]. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo [...] E quantas vezes [...] sentimos uma vaga inquietação, uma falta de não sei o quê. Vai-se ver, é que um simples lanço de muro que demoliram e que, tijolo a tijolo, fazia parte da nossa construção interior, da nossa estabilidade, em suma (QUINTANA, 1979, p. 44-48).
Na atual senda de multitransformações e mediações globais, a agradabilidade das palavras de Quintana (1979; 2014) vem ao encontro da modernidade ao anunciar que épocas de mudança arquitetônica há uma maior instabilidade social e individual, e, o relógio é o mais feroz dos animais domésticos (devora gerações) e, nesse caso, se mais vida/dias tiver nem se pensaria em olhar para o relógio. Assim, o tempo passa, e as MC ora encontra assentamento, ora mostra desmatamento (físico e simbólico) de projetos para além do mundo icônico do olhar.
Desta forma, esse estudo esquadrinha a temática MC que está indexada na Brapci e, leva em consideração alguns parâmetros da abordagem bibliométrica para se situar um breve diagnóstico do tema na CI. Com a análise observa-se que a MC é potencial fonte criativa, científica e documental — direcionadora de importantes provocações sociais e ambientais como relatam Sousa, Azevedo Netto e Oliveira (2018). No que tange o diagnóstico, utilizamos as técnicas bibliométricas para estabelecer indicadores sobre: a evolução temporal, a identificação dos periódicos, a esfera autoria e pesquisadores envolvidos, as palavras-chaves mais representativas da temática.
A sondagem métrica e exploratória envolve o painel com 50 periódicos (nacionais e seis estrangeiros) que publicaram artigos abrangendo a MC. Além disso, salienta-se que os periódicos em foco incluem diferentes níveis de abertura a essa esfera temática. Assim, o recorte e perfil da produção científica estão relacionados aos artigos científicos indexados na Brapci entre os anos de 2012 a 2021 e as publicações com o tema MC evocam aspectos sociais alinhados a inovação nos âmbitos ambiental, político, econômico e cultural.
Nota-se, quantitativamente, que a revista Biblionline (ISSN 1809-4775, qualis B5) é a principal expoente na captação de trabalhos (cinco artigos, 10,0% do total) que enfocam na questão da MC. Desta forma, o periódico Biblionline é um espaço de reflexão e crítica,; reúne trabalhos da materialidade discursiva da MC, integrando aspectos da linguagem em diferentes áreas de produção simbólica, histórica e social do conhecimento humano.
Já ao que tange a autoria, quatro são mulheres, que são as mais profícuas na temática, com três ou mais publicações sobre a MC. As pesquisadoras são: Ariluci Goes Elliott (UFCA), Bernardina Maria Juvenal Freire De Oliveira (UFPB), Manuela Eugênio Maia (UEPB) e Maria José Vicentini Jorente (UNESP). Ainda a análise bibliométrica reporta a constituição de um grupo de 83 pesquisadores, sendo 3/4 mulheres e 1/4 homens. Em relação à questão da composição da autoria, verifica-se que a maior parte dos manuscritos são produções que tem único autor (18 artigos, 36,0%) e na sequência aquelas associada a dois autores (16 artigos, 32,0%), sendo 50 artigos indexados sobre essa temática (2012 a 2021, na Brapci).
Em relação aos assuntos mais elencados, observa-se que as palavras-chaves de maior realce são: a ‘Memória’ em 18 artigos, ‘Memória Social’ em sete publicações, e no encadeamento os itens Redes sociais, Patrimônio cultural, Arquivos, Museus, ‘Bibliotecas’ e CI. Posto assim sugere-se que futuros estudos possam enfatizar a rede de coautoria e citações, além do cruzamento de dados que amplia o estado da arte e o avanço dos estudos da CI. Ademais, a MC vincula narrativas, leituras e legados que também reafirmam a sua posição como signo, política e linguagem.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Maria Elisabeth Baltar Carneiro de; OLIVEIRA, Bernardina Maria Juvenal Freire; GAUDÊNCIO, Sale Mário. Memória de poetas populares na internet: Uso da plataforma wordpress na preservação e acesso a artefatos poéticos da literatura de cordel brasileira. Liinc em revista, v. 11, n. 1, 2015. DOI: 10.18617/liinc.v11i1.783 Acesso em: 02 dez. 2022.
ALVES, Ana Elizabeth Santos; OLIVEIRA, Edileusa Santos. Memória e Identidade social do trabalho. In: LOMBARDI, J. C., CASIMIRO, A. P. B S., MAGALHÃES, L. D. R (orgs.). História, memória e educação. Campinas-SP: Editora Alínea, 2011.
AMARAL, Urânia Teixeira; ALVES, Ana Elizabeth Santos. A Memória Coletiva, Trabalho e Tradições Na Configuração Espacial do Povoado de Itaipu-Ba. PEGADA - A Revista da Geografia do Trabalho, Presidente Prudente, v. 18, n. 1, 2017. DOI: 10.33026/peg.v18i1.4668. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/view/4668. Acesso em: 6 dez. 2022.
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, 2006. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/index.php/res/v/10124. Acesso em: 17 set. 2021.
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da Informação. Belo Horizonte: KMA, 2018. 126p.
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é ciência da informação? Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 1, p. 1-30, 2014. DOI: 10.5433/1981-8920.2014v19n1p01 Acesso em: 05 dez. 2022.
AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier. Entrevista com o Professor Doutor Carlos Xavier Azevedo Netto [Entrevista realizada em 11 de setembro de 2014]. Revista PerCursos, Florianópolis, v. 15, n. 29, p. 207-210. jul./dez. 2014. Entrevistadoras: Eva Cristina Leite da Silva; Marcia Silveira Kroeff.
BARROS, José D’Assunção. História e memória: uma relação na confluência entre tempo e espaço. Mouseion, Canoas, v. 3, n.5, p. 35-67, 2009. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/documentos/documentos/Mouseion/Vol5/historia_memoria.pdf. Acesso em: 03 dez. 2022.
BRAPCI: BASE DE DADOS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Nossa coleção. Brapci: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Laboratório de Práticas Biblioteconômicas, Porto Alegre, jul. 2022. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/collections. Acesso em: 03 dez. 2022.
DUVIGNAUD, Jean. Prefácio. In: HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p. 7-16.
FERNANDES, Millôr. O livro vermelho dos pensamentos de Millôr. Coleção L&PM Pocket, vol. 464. 2a. reimp. Porto Alegre, Brasil: LPM, 2007.
FIDELIS, Marli Batistq; GOMES, Henriette Ferreira. Mediação da informação e ação comunicativa Habermasiana. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, RJ, v. 9, n. 1, p. 91–111, 2022. DOI: 10.21728/logeion.2022v9n1.p91-111. Disponível em: https://revista.ibict.br/fiinf/article/view/6104. Acesso em: 9 fev. 2023.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2006. 222 p. ISBN 9788588208742 (broch.)
HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Sociologia da ciência, bibliometria e cientometria: contribuições para a análise da produção científica. In: SEMINÁRIO DE EPISTEMOLOGIA E TEORIAS DA EDUCAÇÃO - EPISTED, 4., 2012, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Faculdade de Educação (FE): Universidade Estadual de Campinas Unicamp, 2012, p. 1-29. Disponível em: www.marilia.unesp.br/Home/Graduacao/PETBiblioteconomia/soc-da-ciencia-pet.pdf. Acesso em: 21 nov. 2022.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP, 1990. 353p. (Repertórios). ISBN 8526801805 (broch.).
MACHADO JUNIOR, Celso; SOUZA, Maria Tereza Saraiva de; PARISOTTO, Iara Regina dos Santos; PALMISANO, Ângelo. As Leis da Bibliometria em Diferentes Bases de Dados Científicos. Revista de Ciências da Administração, Florianópolis, v. 18, n. 44, p. 111-123, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/view/2175-8077.2016v18n44p111. Acesso em: 21 fev. 2022.
MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha; ALMEIDA, José Rubens Mascarenhas de. Relações simbióticas entre Memória, História e Educação. In: História, Memória e Educação. Campinas: Alínea, 2011.
MIGUEL, Calderari Miguel; GABRIEL JUNIOR, Renê; SILVEIRA, Rogério Zanon da. Governança e o Exprimir Documental, Interfaces Da Ciência Da Informação: Estudo Bibliométrico Na Brapci. Ponto de Acesso, Salvador, v. 16, n. 2, p. 24–43, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistaici/article/view/47127. Acesso em: 11 dez. 2022.
NORA, Pierre. Mémoire collective. In: LE GOFF, J. et alli (orgs). La nouvelle histoire. Paris: Retz, 1978. Disponível em: https://excerpts.numilog.com/books/9782725682723.pdf. Acesso em: 02 dez. 2022.
OLIVEIRA, Janderson Carneiro de; BERTONI, Luci Mara. Memória Coletiva e Teoria das Representações Sociais: confluências teórico conceituais. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, Uberlândia, v. 12, n. 2, p. 244-262, 2019. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2019/07/1006225/18413-78082-1-sm.pdf. Acesso em: 26 out. 2022.
PERALTA, Elsa. Abordagens teóricas ao estudo da memória social: uma resenha critica. In. Arquivos da Memória: Antropologia, Escola e Memória, Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa, CEEP - nova série n. 2, p. 4-23, 2007.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212. Disponível em: http://www.pgedf.ufpr.br/memoria%20e%20identidadesocial%20A%20capraro%202.pdf. Acesso em: 06 nov. 2022.
QUINTANA, Mario. Hein? Paredes. In: FONSECA, Juarez. Ora Bolas: o humor de Mario Quintana: 130 histórinhas compiladas e adaptadas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 17.
QUINTANA, Mario. Na volta da Esquina. Porto Alegre: Globo, RBS, 1979.
SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Memória coletiva e teoria social. São Paulo: Annablume, 2003.
SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval; MAHFOUD, Miguel. Halbwachs: memória coletiva e experiência / Halbwachs: colective memory and experience. Psicologia USP: PePSIC; v. 4, n. 2, jan.-dez. 1993. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicousp/v4n1-2/a13v4n12.pdf. Acesso em: 06 dez. 2022.
SILVA, Igor Oliveira da; MARTINS, Gracy Kelli. Apropriação da memória pela ciência da informação e o papel legitimador das instituições de memória. Em Questão, Porto Alegre: Fabico, v.28, n. 2, 2022. DOI: 10.19132/1808-524500.%p . Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/170929. Acesso em: 13 dez. 2022.
SILVA, Luiz Carlos; MIGUEL, Marcelo Calderari; COSTA, Rosa da Penha Ferreira da. Patrimônio documental no enfoque da literatura científica: um estudo bibliométrico na base de periódicos em ciência da informação. Brazilian Journal of Information Science, Marília, v. 15, p. e02104, 2021. DOI: 10.36311/1981-1640.2021.v15. e02104. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjis/article/view/10170. Acesso em: 20 nov. 2022.
SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes. Memória, cultura e poder na sociedade do esquecimento. Augusto Guzzo Revista Acadêmica, São Paulo, n. 6, maio 2003. ISSN 2316-3852. Disponível em: http://www.fics.edu.br/index.php/augusto_guzzo/article/view/57. Acesso em: 05 dec. 2022. doi: https://doi.org/10.22287/ag.v0i6.57.
SOUSA, Rosilene Paiva Marinho de; AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier; OLIVEIRA, Bernardina Maria Juvenal Freire. A Efetividade dos Mecanismos de Proteção do Patrimônio Cultural na Preservação da Memória Coletiva. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, Ribeirão Preto, n. 2, v. 9 n. 2, p. 27-47, 2018. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/105716. Acesso em: 05-dez. -2022.
VENDRA, Maria Cristina Clorinda. Paul Ricœur sobre memória coletiva: a coesão da vida social. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v. 10, n. 3, p. 87–107, 2019. DOI: 10.5902/2179378639936. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/voluntas/article/view/39936. Acesso em: 8 dez. 2022.
[1] As métricas e leis e bibliométricas são o fio condutor da análise e, servem para levantar os construtos acerca da produtividade de periódicos (Bradford), das produtividades de autores (Lotka) e a frequência de palavras-chaves (Zipf) como aponta Araújo (2006).