CORPO-ARQUIVO E AS BANALIDADES
pedagogia-tecnologias ciberculturais no Facebook
Alexandre Luiz Polizel[1]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito alexandre_polizel@hotmail.com
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Resumo
Este trabalho tem por objetivo apresentar a diagnose da pedagogia-tecnologia do corpo-arquivo e das banalidades, enquanto produtora de subjetividade. Este emerge da imersão em um grupo na rede social Facebook, guiado pela analítica do Diagnóstico do presente sob inspirações Foucaultianas, Nietzscheanas e Arenditianas. Organiza-se a analise em três eixos: a) A memória: o olhar para si e a produção de referências; b) Os esquecimentos: (hiper)estímulos e hiper(in)sensibilidades; e c) Banalidades das verdades, banalidades das mentiras.
Palavras-chave: Educação; cibercultura; virtualidade; subjetivação; banalidades.
BODY-ARCHIVE AND BANALITIES
pedagogy-cybercultural technologies on Facebook
Abstract
This work aims to present the diagnosis of the pedagogy-technology of the archive-body and banalities, as a producer of subjectivity. This emerges from immersion in a group on the social network Facebook, guided by the analysis of the Diagnosis of the present under Foucaultian, Nietzschean and Arenditian inspirations. The analysis is organized in three axes: a) Memory: looking at oneself and producing references; b) Forgetfulness: (hyper) stimuli and hyper (in) sensitivities; and c) Banalities of truths, banalities of lies.
Keywords: Education; cyberculture; virtuality; subjectivation; banalities.
1 Preâmbulo
O presente manuscrito é derivativo-constitutivo de uma investigação maior intitulada “Corpos e bio-virtualidades: pedagogia do eu no vale dos homossexuais”, desenvolvida no escopo dos Ensinos das Ciências e das Educações Matemáticas. Este verte-se na busca de compreensão de como as dinâmicas ciberculturais modalizaram modos outros de constituir existências, conhecimentos e pedagogias a partir do questionamento: “Como os corpos constituem-se nas virtualidades?”.
A diagnose da chamada pedagogia do eu verte-se em como as técnicas e tecnologias empregadas – enquanto modos de produção de sentidos, significados, fantasias e discursividades – na enunciação de uma pedagogia cultural contemporânea que centra o Eu como modo de produção.
Neste processo investigativo, deu-se o desígnio das (pedagogia)tecnologias do corpo-arquivo e das banalidades. Aspecto de linha constitutiva de subjetividade (FOUCAULT, 2014a; 2014c), que modaliza os modos de pensar contemporâneos. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a diagnose desta tecnologia – do corpo-arquivo e das banalidades.
2 Notas introdutórias
O pensamento fornece-nos o conceito de uma forma inteiramente nova de realidade: ele é composto de sensação e memória.
– Friedrich Nietzsche
O pensamento... A movimentação de vontades e seus encontros com o mundo via questionamentos e teorizações, taxonomizando-o, criando descrições narrativas deste processo modal. Muitas sensações encontram-se com o corpo e nesses encontros o corpo faz-se sensível ou insensível a essas. Essa triagem é possível, pela operação do pensamento mediado por (re)(des)memorizações e esquecimentos (NIETZSCHE, 2008).
No Vale[2], com suas ecologias – dos corpos e pensamentos – pergunto-me a respeito das relações das memórias e esquecimentos acerca do processo de corporificação neste ecos-sistema. Ecos-sistemas em que os corpos se afetam via (re)(des)produção constante, mediada por uma base binária que de-codifica narrativas textuais-semióticas.
Os corpos, nesse percurso fazem-se ao relatarem-se, deixarem inscritas marcas de sua passagem no sedimento desse (ciber)espaço. Esse processo de relato, é um (de)composto, podendo ser interpretado de múltiplas formas. Uma delas, a qual inspiro-me, é o do corpo[3] que deixa suas marcas-registros, deixando-nos um caminho rastreável de enunciações-enunciados, considerando a localização de onde se fala possibilitada ao clicar na foto-nome do indivíduo que produz o texto e ser redirecionado a essa e, ao mesmo tempo, uma produção de verdade a respeito das sensações e produções deste corpo. Neste sentido, o relato arrasta consigo o narrar si de um corpo que se faz à medida que mostra-compõe suas marcas de si.
Um efeito que não é novo, visto que o relatar a si e a criação de um quadro de referências a respeito do Como chegas a ser quem és é visualizada em diferentes campos de conhecimento que fundam o sujeito-homem (NIETZSCHE, 1974; FOUCAULT, 1999).
Os protocolos psiquiátricos, registros carcerários, fichas escolares, prontuários médicos, diários íntimos, técnicas que se vertem no sujeito produzir relatos acerca de si e desta forma, compor-se à medida nas negociatas dos jogos de poderes-narrativas fazia-se enunciado-discurso-verdade (FOUCAULT, 1999; 2014b; BUTLER, 2015; NIETZSCHE, 1974). O mesmo operante dar-se quando se verte a analítica aos estudos que se pretendem voltar olhares aos objetos, ou seja, a produção de enunciados-discursos-verdades dar-se pela combinação de técnicas que possibilitam que determinado ator não humano fale (LATOUR, 2011; 2013; 2017).
Entretanto, seria ingênuo considerar que essas técnicas operam da mesma forma na produção dos corpos no ciberespaço. Vê-se uma diferenciação nos modos de produção nesses registros no que tocam as instituições e suas (in)fundações.
Os registros supracitados, davam-se em localidades institucionalizadas, por meio de um conjunto de atores humanos e não humanos que produziam um intelectual especializado chancelado para transformar o relato em um registro legitimado – modus operandi ainda existente na contemporaneidade. Todavia, estas instituições não se limitam mais pelas paredes e certificações executivas-legislativas de suas atuações, essas difundiram-se e na dualidade onda-partícula são lançadas em diferentes frequências de linhas de subjetivação e, ao atravessarem os corpos dos indivíduos, passam a funcionar no interior destes (DELEUZE, 1992).
Este é um efeito tratado como a difusão de especialidades, que faz com que o corpo-Eu contemporâneo requeira para si o estatuto de diagnosticador e produtor de relatos, visto que os mesmos se consideram in-formados na gama de fóruns e textos disponibilizados na web (TIBURI, 2016).
Ao invés de protocolos psiquiátricos, responde-se ao No que você está pensando? do Facebook. Ao invés de relatórios técnicos, apresenta-se O que está acontecendo? em 280 caracteres no Twitter. Ao invés de um álbum de registros fotográficos está capturando e compartilhando os momentos do mundo no Instagram. Ao invés de diários íntimos, diários públicos-virtuais nos formatos de blogs e Thumblrs. Os relatos deslocam-se de uma materialidade tátil a uma materialidade digitalizada. Perdem-se interstícios, divulga-se ao público, compartilha-se os relatos... As Pedagogias do Eu arrastam as narrativas de si às bases logarítmicas da digitalidade, todavia, opera em uma consonância: os relatos ainda se dão em formato de arquivos.
Um arquivo consiste em um dispositivo, um espaço, um recurso de armazenamento de informações, no caso de relatos. Os protocolos psiquiátricos, registros carcerários, fichas escolares, prontuários médicos, diários íntimos, Facebook, Twitter, blogs, Instagram, Tumblr... Muitos registros, marcas deixadas pelos corpos dão-se nesses espaços de arquivamento.
No campo das ciências biológicas, alguns modos de arquivar as vidas: a) Os herbários em que plantas, liquens e fungos são secos, analisados, organizados e estocados com um conjunto de descrições-narrativas que os classificam e conferem aqueles uma existência corporificada; b) As coleções zoológicas repletas de espécimes depositadas em frascos com formol-glicerina, afim de conservá-los, e produzir analíticas a respeito desses; e, até mesmo, modelos deslocados as virtualidades como c) Bancos genômicos-proteômicos, em que sequências-modelagens são disponibilizadas em arquivos digitais.
Percepto que vários são os modos de compor um corpo, considerando o efeito produtivo desse ao narrar-se. Nesta produtiva, o corpo narrado é também um corpo-arquivo e, seu potencial vitalizável encontra-se nos rastros arquivados serem passíveis de serem presentificados por aquele que acessa este arquivamento. Este arquivo-acesso, ou esse acesso-arquivo, é atravessado, ao meu ver, por três operatórios que serão abordados nesse manuscrito: a) A memória: o olhar para si e a produção de referências; b) Os esquecimentos: (hiper)estímulos e hiper(in)sensibilidades; e c) Banalidades das verdades, banalidades das mentiras. É a descrição de tal tecnologia – do corpo-arquivo e das banalidades – e de sua operação que este trabalho se objetiva.
3 Trajetos metodológicos
Em tempos nos quais navegamos em um mar de (semi)informações, de múltiplas possibilidades combinações destas e, das produções de enunciações centradas na superficialidade, crença e centralidades egóicas (SIBILIA, 2016) que emerge esta investigação. Os processos de corporificação modificam-se consideravelmente (SIBILIA, 2015), bem como o potencial de arquivamento e disseminação de informações. Tais balizas (ciber)culturais, levam a inquietações sobre as pedagogias e tecnologias operantes: o mar de informações em que boiamos.
Tal problemática modaliza-se na compreensão de que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação são editadas com a expansão das dinâmicas ciberculturais. Com isso são modificadas as relações com o tempo e espaço, geolocalizações, os acessos as informações e processamentos de dados; os próprios modos de constituir-se sujeitos são deslocados. Paula Sibilia (2012) aponta que os constructos pedagógicos tem sido metamorfoseados em tempos de redes e paredes, no que toca a própria constituição dos sujeitos.
Michel Foucault (2014a;) contribui ao pensar as constituições das subjetividades, dos modos de pensar e instauração de sujeitos dão-se por meio de linhas discursivas operara por técnicas e tecnologias. Tais técnicas consistem, em um sentido gregário, a modos de produção, criação e constituição de novos possíveis. São a partir de tecnologias que mundos, pensamentos e existências são criados e instituídos.
As ciberculturas assim levaram a efetuação de técnicas e tecnologias outras, e a esta buscamos desenvolver uma diagnose: identifica-las e nomeá-las. Para tal, realizamos uma imersão no ciberespaço, em um grupo na rede social facebook entre os anos de 2017 e 2019. Tal grupo foi selecionado devido as suas características: a) Devido seu endereçamento, voltado a jovens, que se autoidentificam pró-diversidade, LGBTs[4], membros do “Vale”[5]; b) Amplitude no número de participantes, sendo 951.064 membros[6], o que conferia também a intensa interatividade; c) A presença de um dos pesquisadores no grupo desde a criação deste (no ano de 2013), sendo este já imerso neste espaço e reconhecendo o emergir espontâneo e contingencial de práticas que possibilitariam pensar o corpo optou por desenvolver escrituras sobre estes movimentos.
Neste imergir, acompanhamos o fluxo do agrupamento a partir de a partir de uma lente analítica de inspiração Foucaultiana (FOUCAULT, 2014a; ARTIÉRRES, 2004; MARTINS, 1998) e Nietzscheana (NIETZSCHE, 1974; 2008), que denominamos como “Diagnóstico do Presente”. Tal perspectiva verte-se a analise guiada por aspectos genealógicos, voltados à recusa de uma ideia de origem, bem como centrados nas noções de proveniências e emergências dos corpos-tecnologias que fazem-se. Proveniências que consideram a inexistência de categorias de semelhança e continuidades e, inclinam-se a observar marcas sutis, singulares e produtoras de diferenças – do corpo (de analise) que se relaciona consigo mesmo e produz diferenças, localizado em um contexto histórico, localizado e, portanto, emerge-se desta articulação.
As conceptualizações que nos auxiliam nas balizas para interpretação dos fluxos em que navegamos é o empréstimo dos conceitos de: i) corporificação dados por Michel Foucault (1986; 1999; 2014a; 2014b; 2014c) e Friedrich Nietzsche (1974; 2008), no qual a composição dos saberes-poderes-verdades dá-se a medida que é possível a produção de um quadro de referencias a partir do qual validam a discursividade em vigência-corporificada; ii) as banalidades a partir de Hannah Arendt (1998; 2000), acerca do usos de recursos sem reflexão, criticidade, autonomia – é a operação alienada e não pensada, reproduzindo uma lógica dominante-egóica.
É neste empréstimo conceitual para compreender os fenômenos contemporâneos, como a pós-verdade, fake news e autoverdades (TIBURI, 2017; SAFATLE, 2017); que compreende-se que tais fenômenos são derivativos da corporificação de si, do Outro – enquanto saberes-poderes-verdades que situam os sujeitos –, que evidencia-se um desejo pelas informações falsas, pela falta de critérios nas verdades (e mentiras) e pela tentativa de validação de saberes per si, pelo próprio Eu e seus interesses egóicos.
Em suma, pela compreensão das corporificações – de saberes e dos sujeitos – que é possível compreender o que faz com que agrupamentos desejem supostas verdades que rompem critérios de validação e quadros de referências.
4 Memórias: O olhar a si e a produção de referencias
Memória, uma palavra polissêmica que arrasta consigo muitos significados. Essa pode ser considerada o ato-capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis. Pode ser considerada uma capacidade de conservar e lembrar estados de consciência passados e seus associados. A memória pode ser um conjunto de dispositivos que permitem um determinado maquinário a armazenar e processar dados, de modo temporário ou permanente. Essa polissemia tem pontos de encontros, de cruzamentos, que se vertem na capacidade de arquivar e de processar determinado registro.
Uma dinâmica desenvolvida no Vale, nos permite refletir acerca da memoração (FIGURA 1):
Figura 1 - Memória e o karma
Fonte: dados da pesquisa
Uma imagem que envolve um recorte do aplicativo de comunicação WhatsApp acerca de 2018 ser o “ano do karma” e, devido a isto estar acontecendo uma série de acontecimentos negativos: um roubo, um termino de namoro, uma demissão. Acima desse recorte, um escrito de introdução: “O karma está vindo pesado para vocês também?”. Aproximadamente, onze mil reações e comentários, onze mil corpos que interagem com essa narrativa e produzem outros relatos. Que viajam por essa publicação que se tornou um tour. Duas palavras me saltam aos olhos a pensar essa publicação e outras que são semelhantes a mesma, sendo: “lembra” e “vocês também”.
Ambas palavras que remetem aos corpos que direcionam está escrita e que interagem com essa um olhar a si, uma busca na memória de acontecimentos similares a esse e, um convite indireto para que seja produzido um relato sobre o mesmo. Uma postagem gaveta, em que um relato chama outros a serem dispostos juntamente com este. Não é uma pasta com um nome presente no interior de uma instituição com muros porosos, mas um questionamento digital que convida os envolvidos a mobilizarem relatos acerca de outros tempos passíveis de fazerem-se presentes.
Este convite a olhar a outros tempos passíveis dos corpos-Eu fazerem-se presentes, como imagens no pensamento que ainda tem cores, aromas e cheiros, arrastam consigo uma “[...] atenção ao corpo e a aparência” e mobilizam “[...] tantas referências, tantas políticas” (SOARES, 2011, p. 75) e tantas existências. Essa possibilidade de olhar ao passado é localizada, um trabalho, um emprego de si que utilizada do enunciar essas imagens-pensamentos e desta maneira “[...] desenvolver e sustentar um senso de unidade e propósito pessoal” (REGO, 2010, p. 183), uma identidade narrativa.
A memória, portanto, instaura, no presente, uma imagem-pensamento do que foi-está-sendo, uma hibridação temporal que se dá na duração, que capitamos por meio do rastro que deixa no registrar-se. Esse registro remete, ao meu ver, uma dualidade de um procedimento identitário no ciberespaço: é ao mesmo tempo um registro em texto fixo e cristalizado e, um fluído identitário.
O texto encontra-se, supostamente, fixo, calcado, como um ator semiótico que emana luzes-cromáticas aos olhos daquele que acessa este relato na tela de um dispositivo remoto. É como mais uma linha textual, um registro colaborativo para aquele que acessa. Esse registro-marca efetua uma possibilidade de produção de múltiplas linguagens, de movimentos de diferenciação que exprimem diferentes modos de ler e interpretar o mundo. Neste sentido, todos arrastariam saberes colaborativos, ampliando e complexificando os modos de pensar o mundo à medida que os corpos-Eu produzissem suas narrativas que verteriam um olhar a si, em sua relação com a duração (tempo-espaço-pensamento-memória) e os fenômenos da vida com os quais se esbarraria. Essa grande colaboração seria positiva, compondo uma inteligência coletiva (LEVY, 1993). Como se os relatos fixos não apenas representarem os saberes sobre si – e consequentemente, sobre o outro – mas, possibilitassem uma rememoração coletiva, em que vários indivíduos poderiam acessar memórias relatadas.
As memórias, nesse sentido, seriam arrastadas do interior mais íntimo do sujeito ao analista coletivo – que no ciberespaço não é mais o psicanalista ou o esquizoanalista, mas, qualquer indivíduo com acesso aquela narrativa que se sente no direito de operar sob aquela memória. Pierre Levy (1993; 2000) via isso como uma potencialidade positiva, pois permitiria que os múltiplos corpos-Eu experimentassem as pluralidades de modo de ser e então, desenvolver-se-ia empatia, alteridade e reconhecimento para com o Outro; esse é um modo possível de pensar. Outra possibilidade seria que essa exposição da memorística remetesse a uma metástase panóptica, no sentido Foucaultiano (2014b), sendo não uma torre de vigília central, mas todos tornando-se vigilantes. Instaura-se, portanto, uma polícia da memória, em que não é necessária autorização para vasculhar os prontuários psicológicos do outro, nem de ética para analisar esses e expô-los.
A ubiquidade de vigília do outro não centra-se em uma torre no centro das instituições (FOUCAULT, 2014b), nem mesmo uma ubiquidade de câmeras de vigilância (DELEUZE, 1992); a ubiquidade da vigília-policiamento é ciborgue, visto que o panóptico agora encontra-se no ‘interior’ da hibridização homem-tecnologias, que está a todo momento visitando as redes sociais e os enunciados memorísticos do Outro.
O olhar a essas memórias-relatos textuais, vigiadas constantemente e deixadas em arquivos, podendo ser acessadas a qualquer momento, interagem com o outro lado da dualidade: as identidades fluidas – identidades que consiste na estratificação de diferentes identificações que são construídas e reconstruídas a partir de diferentes discursos, representações, práticas e símbolos que convocam cada pessoa a tomar-se da forma como diz que é.
Stuart Hall (2002) tracionava as identidades como cambiantes de acordo com as contingências em que o corpo-Eu encontra-se inserido. Como um fenômeno pós-moderno, o mesmo ressalva que as âncoras da identidade se levantam e o sujeito encontra-se em navegação constante, incorporando, sendo que as identidades se fazem em flashs. Esse consiste em um efeito de uma identidade fluida, liquida, que passa dá-se em hipervelocidade. Várias podem ser as possibilidades desta identidade tomada fluida, arrisco em duas: o uso dos espaços e as políticas de existência.
O uso dos espaços encontra-se relacionado com a organização da experiência (FOUCAULT, 2014b), visto que opera uma maquiaria de organização de tempos, espaços e, relações de saberes-poderes-verdades. Os usos de espaço tomam outra relação com o advento da modernidade, que cria possibilidades de deslocamentos, contatos interculturais e superação de barreiras físicas: aviões, transportes coletivos, carros, motocicletas... Criam uma dinâmica que possibilita tais deslocamentos em uma velocidade mais rápida em comparação com anteriores meios de transporte – cavalos, barcos a vela... O desenvolvimento de motorizações permitiu outras relações com espaços e instauraram outras relações identitárias, relacionadas usos diferenciados do espaço. Todavia, as motorizações consistem em processos de cunho analógico, de engrenagens e interstícios. O advento do ciberespaço altera ainda mais essa dinâmica, visto que arrasta os usos das espacialidades ao campo do digital – perdem-se os interstícios e aceleram-se as relações. As identidades, então, passam a fluidificarem-se ainda mais, visto que o barco identitário que dependia, inicialmente, do vento, após de um motor, agora se move a velocidade pixalizada, ou seja, na velocidade da luz (SIBILIA, 2016; BAUMAN, 2011). Operantes que liquefazem a identidade, que sempre foi liquefeita, mas é acelerada e fluidificada.
Outra operação que contribui para a identidade fluida é verte-se na política das existências, instaurada pela subjetivação da crise. Instaura-se uma bruma que reitera, continuamente, que estamos localizados em uma crise. Essa crise é produzida à medida que é movimentada a discursividade de que existe um Outro que perturba a ordem, coloca o sistema em burnout, torna o regime vigente em risco. Todos os corpos-Eu são passíveis de serem eliminados-sacrificados na crise afim de (re)estabelecer uma norma(lidade). Em tal cenário, as identidades são chamadas a campo, como identidades estratégicas, para clamar que determinadas existências são legítimas e passíveis de serem vividas (COMITÊ INVISIVEL, 2015; HALL, 2002) e precisam ter considerados sentidos que são enunciados com significados que atravessam suas experiencialidades. À medida que o discurso das crises se intensifica e faz-se necessário delinear campos de significação de suas falas, as identidades intensificam sua frequência enunciativa mobilizada pelas vontades. A vontade de identidade é, assim, uma vontade de existência e, nos fluxos informacionais essas precisam constantemente reiterar-se e reinventar-se: fluidificam-se como possibilidade de manter-se (r)existente.
Nesse sentido, as identidades fluidas estabelecem um dualismo paradoxal com os textos fixos no ciberespaço – um aparato quântico. As buscas por fixar o Outro via referências de suas produções-exposições textuais fazem-se conflitantes com as referências que contradizem uma identidade desse Outro. Se as referências de si e dos Outros eram uma possibilidade de identificações e memorísticas que estabeleciam uma referenciação, agora o aumento de complexidade desta dinâmica quântica gera um burnout de corpos-Eu e corpos-Outros.
Essa queima das cadernetas de referência por superaquecimento, encontra-se associada a uma perca de estabelecimento de objetividade-materialidade das legitimações discursivas (LATOUR, 2017). Um superaquecimento da memória, visto que traz, a todo momento, recortes de inscrições paradoxais sobre os corpos, esses têm por efeito desde a deslegitimação do mesmo via posicioná-lo como contraditório – recortes de posicionamento de tempos passados ou, em grupos diferentes –, quanto o superaquecimento do esquecimento.
5 Esquecimentos: (hiper)estímulos e hiper(in)sensibilidade
No ciberespaço, as redes sociais, estimulam a possibilidade de produção de relatos de si, que por sua vez são cristalizados em textos imagéticos que se projetam na tela das novas tecnologias de informação e comunicação. Essa proliferação de narrativas, possibilita que aquele que produz sua textualização olhe para si e, olhe ao Outro, em um exercício de visita analítica (REGO, 2010). Todavia, ao passo que se produz cada vez mais narrativas sobre o corpo-Eu, que a exomologese e exagoreusis é intensificada e acelerada em frequência, ainda continua possível um exercício de conhecimento-cuidado de si?
Este é um questionamento que toca as Pedagogias do Eu em meu interessar. Encontramo-nos com a memória saturada e, devido a essa intensificação, o retorno e revisita as experiencialidades e a própria imersão nas lembranças do Outro, as tours, levanta a indagação sobre as possibilidades de uma reflexão autoritária e empática ao considerar a vivências do Outro e do si – reflexão busca de aproximação e distanciamento do Outro-si e do si-Outro, que é substrato do cuidado de si (FOUCAULT, 2014c).
A narrativa de si, registrando-se em diários íntimos e/ou cartas aos amigos, é um exercício de reconhecimento. A exomologese, a expressão do conhecimento de si e afirmação do corpo-Eu em uma posição de sujeito em seu ato público e ritualizado, que marca a si e ao Outro na carne e no exílio, é um exercício de reconhecimento. A constante confissão na exagoreusis, faz-se no exercício da escuta e do reconhecimento. Nesse modo, a memória como (re)visita e reflexão é um exercício que requer os reconhecimentos. O relato como produto de si, que articula ao corpo que o compõe só se valida à medida que o Outro o reconhece. Esse reconhecimento tem como operação o ser visto e produzir narrativas de si, todavia, também necessita de um espaço de olhar e de escuta (BUTLER, 2015). Com o excesso de narrativas em produção, evidencia-se a seguinte situação (FIGURA 2):
Figura 2 - Nenhuma reação, nenhum comentário
Fonte: dados da pesquisa
Vários comentários que consideram que “Não sei se isso é Karma, mas tá vindo pesado”, que “aconteceu o que eu mais queria” ou até mesmo comparações com o “Ano passado” – em referência ao questionamento a respeito do “Karma vindo”. Possibilidade de comparação do ano anterior com o atual, que podem remeter a uma reflexão a respeito do si, mas focalizo minha atenção ao seguinte aspecto: nos comentários desse e de outros posts não existem reações nem respostas aos comentários – quando existem são risórias. A produção de relatos de si só se multiplica, mas as interações com essas que deixam rastros não se fazem presentes. Isto indica uma ampliação no número de visitas a si e produções textuais sobre o corpo-Eu e, não (re)visitas na produção textual do corpo-Outro em comentários, sugerindo uma degeneração do reconhecimento enquanto potência em operação.
Nesse seguimento, os relatos de si poderiam ser alinhados mais a uma produção de si enquanto potência imagético, do corpo-Eu espetacularizado que se faz capital e coloca-se a capturar a atenção do corpo-Outro (DEBORD, 1997) do que de uma plataforma de reconhecimento (BUTLER, 2015) e produção de inteligência coletiva (LEVY, 1993).
O operante do transformar-se em espetáculo remete a um esquecimento no Outro e a um desejo de ser lembrado, estar em atenção e deixar suas marcas nas calçadas do espetáculo globalizado (DEBORD, 1997). Vejo que este esquecimento em cenários espetaculosos deixa opaco a lente de ver-reconhecer-ouvir o Outro e, esse funcionamento encontra-se alinhado ao cenário de hiperestímulo e hiper(in)sensibilidade.
Esse operante é articulado aos regimes de visibilidades contemporâneos que se instalam com a política das luzes-iluminações. Friedrich Nietzsche (1974) já refletia que o esclarecimento é um fenômeno perceptório, que pode ser interpretado a nível epistêmico e ópticos, no sentido que o iluminismo e as maquinarias da modernidade proliferam agentes semióticos: em suas inscrições que supostamente validam conhecimentos científicos e, no desenvolvimento de luzes artificiais que nos permite uma outra relação com os escuros.
Nunca tivemos tantos instrumentais que produzissem inscrições, ou seja, que tabulassem dados em agentes semióticos, em materialidades mostráveis que arrasta para o Outro a responsabilidade de reconhecer como legítimo determinado conhecimento (LATOUR, 2011; 2017) como atualmente: aparelhos de eletroforese, de sequenciamento genético, computadores, softwares utilizáveis em bioinformática, enzimas bioluminescentes, confissões de si em prontuários digitais, fotografias, vídeos, gravadores de áudios... Somados as luzes artificiais que estimulam os corpos manterem-se acordados e produtivos. Luzes epistêmicas e estimulativas que multiplicam a produção de relatórios e papers, que se proliferam e nutrem controvérsias. Informações armazenadas em BigDatas de acesso aberto. Tantas informações que arrastam consigo articulações de seus regimes de verdades que hiperestimula e hipersensibiliza os corpos.
Essa hiperestimulação coloca o corpo em uma necessidade de seletividade daquilo que será colocado em lembrança-memoração e o que será esquecido. O que provocará reações e atividades nos encontros com o corpo-Eu e, o que será desconsiderado. O hiperestímulo e a ativação constante das sensibilidades no ciberespaço produz insensibilidades que se expressam no esquecimento. Esse esquecimento é um operatório seletivo, que não volta o olhar às singularidades dos eventos (SIBILIA, 2015; 2016; NIETZSCHE, 1974; 2008), perde-se essa porque não reconhece e não reconhece por impotência, devido ao anestesiamento dos sentidos ou, não vontade de olhar como autêntico a existência do Outro. São os corpos-Outros que são esquecidos nessa processualidade.
Esses corpos-Outros são esquecidos enquanto o reconhecimento e interações discursivas, eles não são vistos nem ouvidos, entretanto esses são autenticados enquanto corpos que estão presentes. Os autores da postagem, que convocam os Outros a comentarem, assentem que esses far-se-ão presentes, mas não interagem com esses, ou seja, esses tem uma importância numérica de comentar e reagir ao post inicial, mas seus relatos não são visitados – ao menos não é deixado rastros desta visita. Destarte, o corpo-Outro é quantitativo, mas não qualitativo; importa que este Outro se pronuncie como presente, mas não o que esse pronuncia. Importa porque o Outro confere ao interagir com as postagens que estas estão sendo visitadas, assistidas, que a atenção do Outro foi capturada, que o Outro assiste ao espetáculo (DEBORD, 1997). Que ao ver o espetáculo do corpo que se faz ao se produzir como ator semiótico e demarcar-se como plateia interativa deste, que alguém vê este existir no fazer-se (SIBILIA, 2016). Coloca-se em uma dubiedade de não estar sozinho, pois o Outro faz-se presente e, ao mesmo tempo estar sozinho em meio à multidão (BAUMAN, 2011).
É este transformar o corpo-Outro em multidão, para validar a própria existência e considera esse como quantitativo, mas não qualitativo, que se esquece a singularidade do Outro – se é que é possível existir o Outro sem singularidade – (NIETZSCHE, 2008); é nesse processo de esquecimento que o corpo-Eu se torna insensível ao Outro, fazer esquecível a diferença (LATOUR, 2008). Talvez a hiperestimulação tem como produto uma hiperinsensibilidade, um esquecimento, ao Outro...
6 Banalidade das verdades, banalidades das mentiras
As movimentações de fazer-se escrito via relatos de si envolvem movimentos de memória e de esquecimentos. Esses escritos passam, por conseguinte, a compor um arquivamento do corpo-Eu e, possibilidade de acesso, (re)exibição dos relatos ou mantê-los encaixotados. Várias combinações nesse sentido são possíveis, desde trazer à tona escritos contraditórios afim de deslegitimar determinado modo de pensamento, acusando incoerência discursiva – desconsiderando a identidade como movimentos fluidos e a enunciação como jogos políticos –, via seletividade do que lembrar; até esquecer determinados escritos afim de manter uma determinada anuência a uma discursividade-identidade.
Portanto, uma chave de leitura operante ao considerar como uma pedagogia-tecnologia-apreensão-ontologia do corpo que se faz, é que o corpo se compõe como arquivo e joga, assim, com regimes de verdades tomados por exegeses do que lembrar e do que esquecer. Esse jogo de memórias-esquecimentos, são dadas em meio as relações de poder (NIETZSCHE, 2008; FOUCAULT, 1986; DELEUZE, 2005).
Como toda relação de poder, nas operações operam tecnologias de governamento, em que o corpo-Eu negocia com tecnologias de si e, tecnologias de dominação (FOUCAULT, 2014a). Essa interação compõe um regime de crédito, de receber algo no processo de negociata, envolvendo assujeitamentos-subjetivações (CASTELO BRANCO, 2015). Dessa maneira, o assujeitar-se mediante a um pagamento produz um espaço de manifestação de outros poderes, o que Hanna Arendt (1998; 2000) trataria como uma banalidade.
A banalidade consiste em uma categoria política, história e contingencial, um espaço de manifestação. Ela não é de cunho ontológico, de natureza ou metafisica, mas compõe modos ontológicos enquanto opera para tal. Hanna Arendt (1998; 2000) arrasta a banalidade para refletir acerca de valores ético-morais acerca do mal banal e do esquecimento do bem, aqui pretendo arrastar a banalidade para pensar relações de verdade-mentira.
As relações de verdade-mentira obedecem a regimes de produção, envolvendo campos epistemológicos e de critérios de validação em diversas possibilidades de modos de pensamento. O campo das ciências jurídicas pela apreensão de processos, as ciências naturais e suas metodologias-refutabilidades, as religiosidades aos ritos, a psicologia seus prontuários (LATOUR, 2013) ... Na operação de combinações de enunciados e validações de enunciações, bem como a manutenção reiterada e reverberantes dessas em funcionamento discursivo (FOUCAULT, 1986; 1999). E nos processos de memória e esquecimento, ou seja, na seletividade do que se mantém, esforçosamente, colocado em lembrança e quais singularidades são esquecidas (NIETZSCHE, 2008).
Ao voltarmos o olhar ao ciberespaço e as possibilidades de enunciar-se como verdadeiro, bem como a seletividade da memória-esquecimento dos corpos arquivados na BigData colocados em acessos facilitados – também os jogos discursivos de texto cristalizado e identidade fluida – multiplicam as possibilidades de combinação dos corpos-inscritos e invenção de regimes de verdades diversificados. Esse potencial (re)(des)combinatório dos corpos-arquivos produzem linhas de subjetivação de banalidades das verdades e das mentiras, ou seja, corpos se assujeitam nas negociatas mediante a alguma recompensa – nos regimes de visibilidade, tornar-se personalidade visível é a mais almejada (SIBILIA, 2016) – e amplia as possibilidades de verdades e mentiras possíveis, de legitimidades e deslegitimidades, de validade e invalidade. As articulações que mantêm tais regimes como válidos podem não durar muito e, pela sua característica de não duração, as banalidades tornam-se mais efetivas. Esse é o cenário de instauração das Fake News, das pós-verdades (em que são dissimulados acontecimentos históricos), e das autoverdades, em que o que importa é o ato de dizer ritualizado. Esse é o cenário em que a banalização e consideração de verdades e mentiras enfoca-se na recompensa e no esquecimento do Outro, em prol dos modus de existência que têm por intuito privilegiar. A banalidade das verdades e mentiras é um processo de esquecimento do Outro e de memoração de si, de sua imagem e semelhança, é um operante de homogeneização: um aspirar neonarcísico, que só reconhece o espelho d’água e se afoga.
Referências
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[1] Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo. Doutor (2019-2023) e Mestre (2017-2019) no Programa de Ensino de Ciência se Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina.
[2] O Vale aqui pontuado consiste na nominação dada ao campo em que imergimos, no ciberespaço, para melhor compreender como os fenômenos, tecnologias e pedagogias se dão e modificam nossas percepções de conhecer, ensinar, aprender e constituir conhecimento sobre os múltiplos modos de existência.
[3] O corpo aqui é utilizado como metáfora em um sentido posto por Michel Foucault (1986; 1999; 2014a) e Friedrich Nietzsche (1972; 2008), como um modo de organização e constituição de um campo de saber-poder-verdade. A exemplo a constituição de si é uma corporificação, uma organização dos fenômenos, sensações, pulsões, subjetivações... A constituição das pedagogias consistem em uma organização, corporificação de modos de aprender, ensinar e constituir conhecimento... O corpo é o espaço de organização, constituição, instauração de modos de existência a partir da caoticidade.
[4] Sigla representativa para Lésbicas, Gays, Bissexuais, pessoas trans e demais identificações posicionadas enquanto grupos de identidades sexuais minoritárias.
[5] O termo “Vale” é utilizado constantemente pelos membros do grupo, sendo utilizado para autoidentificar-se de modo debochado e contra-hegemônico a discursividade judaico-cristã que condena práticas homoafetivas ao “Vale dos Homossexuais”.
[6] Contagem de membros realizadas no dia 16 de março de 2018