CONCENTRAÇÃO E DISPERSÃO DA FORMAÇÃO DOS PESQUISADORES DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
uma análise da produção científica da Ciência da Informação do Brasil
Edcleyton Bruno Fernandes da Silva[1]
Instituto Federal de Alagoas
Suzana de Lucena Lira[2]
Universidade Federal da Paraíba
Rosilene Agapito da Silva Llarena[3]
Universidade Federal de Rondônia
Marco Antônio Almeida Llarena[4]
Instituto Federal da Paraíba
Danielle Harlene da Silva Moreno[5]
Universidade Estadual da Paraíba
danielleharlene@gmail.com
______________________________
Resumo
Este trabalho objetivou analisar a formação dos pesquisadores da Gestão do Conhecimento, essencialmente os da Ciência da Informação no Brasil, a partir do estabelecimento de relações de concentração e dispersão das formações dos pesquisadores. Para tanto, foram considerados artigos indexados na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação nos últimos cinco anos e verificação dos currículos lattes dos pesquisadores. A metodologia adotada foi de caráter quali-quantitativo, por meio de pesquisa tipo bibliográfica, exploratória e descritiva. Concluiu que a Gestão do Conhecimento é uma área que engloba diversas áreas do conhecimento e formações multifacetadas entre os pesquisadores, e que no Brasil, no âmbito da Ciência da Informação, verifica-se maior número de produções científicas voltadas para a temática, na área de Ciências Sociais Aplicadas. Acredita-se que a investigação pode contribuir para a identificação de tendências e relacionamentos entre outros domínios do saber, a partir do estabelecimento de relações de concentração e dispersão das formações dos pesquisadores de Gestão do Conhecimento.
Palavras-chave: ciência da informação; gestão do conhecimento; produção científica; compartilhamento de informação.
THE CONCENTRATION AND DISPERSION OF THE TRAINING OF KNOWLEDGE MANAGEMENT RESEARCHERS: an analysis of the scientific production of Brazilian Information Science
Abstract
This study aimed to analyze the training of researchers in Knowledge Management, essentially those in Information Science in Brazil, based on the establishment of relations of concentration and dispersion of researchers' training. For this purpose, articles indexed in the Reference Database of Journal Articles in Information Science in the last five years were considered and the researchers' Latte curricula were checked. The methodology adopted was qualitative and quantitative, through bibliographic, exploratory and descriptive research. It concluded that Knowledge Management is one that encompasses several areas of knowledge and multifaceted training among researchers, and that in Brazil, the scope of Information Science, there is a greater number of scientific productions focused on the theme, in the field of Applied Social Sciences. It is believed that the investigation can contribute to the identification of trends and relationships between other domains of knowledge, from the establishment of relations of concentration and dispersion of the formation of Knowledge Management researchers.
Keywords: information science; knowledge management; scientific production; information sharing.
1 INTRODUÇÃO
As novas formas de comunicação, tanto na produção quanto em disseminação de informação na sociedade, trazem em essência uma necessidade de organização, haja vista cada vez mais frequente o compartilhamento de informação e conhecimento em rede. A gestão da produção do conhecimento torna-se um elemento desafiador para a Ciência da Informação (CI), pois as estratégias de organização estão relacionadas às condições nas quais se apresenta a informação.
Nos espaços organizacionais, a cultura do compartilhamento da informação contribui para o crescimento organizacional pela partilha de situações, problemas e busca por possíveis soluções. Esse ciclo é evidenciado, por exemplo, na cultura das comunidades de prática (CoP), especificamente na Gestão do Conhecimento (GC) e, compreende sobretudo, aspectos como a colaboração, o compartilhamento e fonte inspiradora para a inovação nos contextos organizacionais (Lira et al. 2020).
Na CI, as práticas de colaboração e de compartilhamento de informação têm se tornado uma das características da produção científica e, no Brasil, conforme Bufrem (2010), as colaborações vêm sendo evidenciadas na literatura científica da área, tendo como uma das principais causas a coautoria e a internacionalização da produção científica. Essa cultura compartilhada de produção de conhecimento surge enraizada de conjecturas e metodologias subscritas na prática de pesquisa, abrindo espaço para aproximações e distanciamentos de teorias e conceitos por vezes já considerados próximos.
O comportamento da pesquisa científica sobre GC pode incidir em um contexto produtivo, dinâmico e fortalecido, essencialmente ligado à criação, à inovação e à competitividade nos ambientes organizacionais, demandando multiáreas, multifuncionalidades, multimodos, transversalidade e dis, multi, inter, pluri e transdisciplinaridade. Essa característica influi o estudo da GC por diferentes domínios, pesquisadores com as mais diversas formações e comunicações de pesquisas em veículos científicos também distintos. Diante de tal contexto, questiona-se: em quais áreas se situam a formação dos pesquisadores da GC no Brasil, onde se concentram suas produções científicas e como são caracterizadas na CI?
Esse questionamento fez pressupor, nessa investigação, que dentre as áreas de concentração de produção científica, a análise da formação dos pesquisadores da GC na CI no Brasil pode contribuir para a identificação de tendências e relacionamentos entre outros domínios do saber, a partir do estabelecimento de relações de concentração e dispersão das formações dos pesquisadores.
Assim, este artigo tem como objetivo analisar a formação dos pesquisadores da GC no Brasil, com ênfase na CI, por meio da sua produção científica. Para tanto, serão considerados artigos indexados na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), nos últimos cinco (5) anos, de janeiro de 2017 a maio de 2022. Utilizou-se como base o ano de 2022 pelo fato de que algunas revistas não concluiram as edições do ano de 2023. A BRAPCI é uma das principais bases de dados em CI no Brasil e tem por finalidade subsidiar a literatura científica da área no Brasil.
2 GESTÃO DO CONHECIMENTO
A GC está vinculada aos processos de aprendizagem nas organizações, por meio da produção e compartilhamento do conhecimento, agregados ao desenvolvimento de competências que são necessárias à organização (Fleury; Fleury, 2000).
Lira e Llarena (2020) situam a GC como campo científico desenvolvido pela CI em que
[...] vem contribuir com seus processos, ferramentas, modelos e práticas para o desenvolvimento desta nova era, onde os ativos intangíveis, o capital intelectual e os tipos de conhecimento existentes são valorizados e aproveitados no entrelaçamento dos saberes e na evolução do campo científico, onde se insere a Ciência da Informação. (Lira; Llarena, 2020, p. 61).
Conforme Araújo (2018) a GC e também a Gestão da Informação (GI) compõem a subárea da CI, onde a informação pode ser considerada como um recurso importante para as organizações mesmo podendo se apresentar de forma tangível ou não. Isto porque com a evolução e desenvolvimento dos processos sócio-econômicos, culturais, educacionais etc. sob a ótica do novo valor agregado à informação (poder e inovação), “Não bastava gerir os recursos informacionais, era preciso também gerir o conhecimento” (ARAÚJO, 2018, p. 43), de modo que a colaboração se tornou um processo chave.
A partir de então, o compartilhamento de informações passou a viabilizar a comunicação entre os ambientes colaborativos, tornando-se fundamental no gerenciamento do conhecimento gerado pelos indivíduos e influenciando, diretamente, na tomada de decisão e nos processos estratégicos de uma organização.
Nesse sentido, a GC, baseada no estímulo por meio de recursos para promoção da criação, transferência e armazenamento de conhecimento, utiliza o capital intelectual organizacional para estímulo às aprendizagens organizacional, inovação, tomadas de decisão, práticas de colaboração efetivas e criação de novos conhecimentos a partir do conhecimento já existente (Silva Filho; Silva, 2005).
Nesse panorama e a partir do conceito do termo conhecimento definido por Davenport e Prusak (1998) – mistura fluida de valores, informação contextual, insigths, experiência condensada que proporciona estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações e que nas organizações, costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais –, Carvalho e Nassif (2020) compreendem a GC como criação de condições para que as aprendizagens individual e coletiva sejam dinamicamente articuladas em prol do alcance dos objetivos organizacionais.
Conforme mencionam os autores supracitados, gerenciar o conhecimento implica no desenvolvimento de métodos e ferramentas utilizadas como estratégias empresariais. Dessa forma, a GC é adotada nos ambientes organizacionais, levando em consideração os processos de aprendizagem vinculados, por meio da produção e do compartilhamento do conhecimento, agregados ao desenvolvimento de competências necessárias à organização (TERRA, 2005).
Na visão de Valentim (2008, p. 1):
[...] A gestão do conhecimento é um conjunto de atividades que visa trabalhar a cultura organizacional/informacional e a comunicação organizacional/informacional em ambientes organizacionais, no intuito de propiciar um ambiente positivo em relação à criação/geração, aquisição/apreensão, compartilhamento/socialização e uso/utilização de conhecimento, bem como mapear os fluxos informais (redes) existentes nesses espaços, com o objetivo de formalizá-los, na medida do possível, a fim de transformar o conhecimento gerado pelos indivíduos (tácito) em informação (explícito), de modo a subsidiar a geração de ideias, a solução de problemas e o processo decisório em âmbito organizacional.
Por conseguinte, o compartilhamento do conhecimento tácito entre todos os colaboradores desse processo, na geração do conhecimento explícito, permite o uso da informação para subsidiar novas ideias, produtos, serviços, solução de problemas e criação de processos inovadores (Nonaka; Takeuchi, 1997), de tal forma, que o valor do conhecimento individual ao ser compartilhado é maximizado (Styhre, 2002).
Balancieri et. al. (2005) citam Katz e Martin (1997) e afirmam que a cooperação pode acontecer das seguintes formas: entre indivíduos, grupos de pesquisa, entre instituições, dentro das instituições, de forma nacional ou internacional, haja vista que não há limitação geográfica, devido à expansão da internet, que tornou possível o relacionamento das pessoas de diferentes localidades, juntas num espaço virtual, enfatizando o caráter multidisciplinar nas pesquisas.
Na formação de grupos de pesquisas, a informação é compartilhada, além da experiência entre os pesquisadores somada às suas competências, impulsionando a geração do conhecimento e a colaboração científica (Balancieri et al., 2005). Partindo dessa premissa, os pesquisadores envolvidos em determinado projeto científico colaborativo potencializam tanto o crescimento profissional quanto o desenvolvimento do conhecimento, por terem maior acesso aos recursos informacionais e abarcar diferentes habilidades e conhecimentos.
Dessa maneira substanciam a execução de estudos mais aprofundados com diversas perspectivas e análises. Cabe ressaltar, que um estudo desenvolvido por grupos de pesquisadores demanda menor investimento de tempo na construção do trabalho, por envolver mais pessoas em seu processo de elaboração.
A colaboração entre pesquisadores ocorre com maior probabilidade entre aqueles que estão de alguma forma relacionados, quando eles têm uma ou mais conexões em comum. Essa rede pode aumentar na medida que novos colaboradores vão se conectando e interligando sua rede de colaborações do passado e do presente (Silva, 2015).
Assim, é possível compartilhar experiência, informação, saberes e novos conhecimentos. Quanto mais conhecimento essa rede de colaboração científica produzir, maior será o seu fortalecimento. Neste sentido, os autores unem-se com o objetivo de produzir mais, com maior qualidade e em menos tempo, formando a coautoria na produção de trabalhos científicos.
Duarte (2015) considera a produção científica validada somente após sua publicação, uma vez que passa por avaliação dos pares e contém a chancela de comprovação científica. Para a autora, a ciência corrobora com o desenvolvimento do conhecimento humano exercendo seu compromisso com a sociedade, essencialmente quando voltadas às organizações baseadas em conhecimento.
Barbosa (2020) reconhece que as organizações baseadas em conhecimento, dispõem de diversas fontes de informação, tanto formais, como informais, além de pessoais e digitais, para alcançar os seus objetivos traçados e realizar pesquisas. O autor demonstra a produção científica sobre GC na base SCOPUS, por área de conhecimento, no período de 1990 a 2018, apresentado por décadas, conforme quadro a seguir:
Quadro 1 - Produção Científica sobre Gestão do Conhecimento por Área do Conhecimento
GESTÃO DO CONHECIMENTO |
||||||||
Período |
1990-1999 |
2000-2009 |
2010-2018 |
1990-2018 |
||||
Área do conhecimento |
Núm. |
% |
Núm. |
% |
Núm. |
% |
Núm. |
% |
Ciência da Computação |
107 |
23,21% |
2506 |
27,38% |
2901 |
25,09% |
5514 |
26,04% |
Engenharia |
67 |
14,53% |
1388 |
15,17% |
1341 |
11,60% |
2796 |
13,21% |
Medicina |
17 |
3,69% |
198 |
2,16% |
201 |
1,74% |
416 |
1,96% |
Ciências Sociais |
48 |
10,41% |
1204 |
13,16% |
1485 |
12,84% |
2737 |
12,93% |
Negócios, Gestão e Contabilidade |
108 |
23,43% |
1784 |
19,50% |
2358 |
20,40% |
4250 |
20,07% |
Ciências da Decisão |
17 |
3,69% |
791 |
8,64% |
1233 |
10,67% |
2041 |
9,64% |
Matemática |
25 |
5,42% |
440 |
4,81% |
489 |
4,23% |
954 |
4,51% |
Outras áreas |
30 |
6,51% |
840 |
9,18% |
1553 |
16,97% |
2423 |
11,44% |
Total de indicações de áreas |
461 |
100,00% |
9151 |
100,00% |
11561 |
100,00% |
21173 |
100,00% |
Número de documentos |
268 |
5646 |
6888 |
12802 |
Fonte: Barbosa, 2020.
O autor apresenta a ciência da computação com maior percentual de produção científica sobre GC: 26,04%. Separa coerentemente a ciência social, das ciências sociais aplicadas, as quais se apresentam como: Negócios, Gestão e Contabilidade; e Ciências da Decisão, que ao serem somadas representam o maior percentual de produção científica sobre GC (29,71%).
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa configura-se do tipo bibliográfica por ter como principal característica de seu desenvolvimento, a base de material já elaborado. Então, de acordo com Gil (2002), neste trabalho, utilizou-se como procedimento de coleta de dados a técnica de levantamento bibliográfico. O levantamento foi realizado na BRAPCI e caracteriza-se como exploratório e descritivo (Gil, 2002).
A pesquisa é exploratória por apresentar um determinado domínio de estudo, aprofundando o conhecimento sobre um conteúdo específico e relacionado a uma temática de interesse da comunidade acadêmica da CI no Brasil, a saber, a formação dos pesquisadores da GC. É descritiva pela capacidade de enunciar a formação dos pesquisadores da temática GC na área da CI no Brasil.
Para tanto, fez-se a busca do termo composto “gestão do conhecimento” inserido no título dos trabalhos. A amostra foi composta pelas publicações encontradas na BRAPCI entre os anos de janeiro de 2017 a maio de 2022. Na caracterização dos autores utilizou-se a Plataforma Lattes para identificar sua formação.
A partir de então, obteve-se um quadro da formação dos pesquisadores da temática GC na área da CI no Brasil, que permitiu o mapeamento das formações mais presentes no campo em níveis de Graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado no período selecionado da pesquisa.
Assim, as categorias analisadas foram: Titulação, Áreas do conhecimento e Canal de Comunicação. Em seguida foram verificadas as áreas de concentração às quais pertencem os cursos dos pesquisadores. A análise permitiu também verificar as concentrações e as dispersões de áreas do conhecimento dos autores da produção científica da GC no campo da CI no Brasil.
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Em busca de analisar a formação dos pesquisadores da GC no Brasil, verificou-se qual a titulação dos pesquisadores conforme os resultados encontrados na pesquisa. Foram recuperados 261 artigos que totalizaram 718 pesquisadores. O percentual de titulação dos pesquisadores apresenta-se no gráfico 1.
Gráfico 1 - Titulação dos Pesquisadores em GC no Brasil
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
O gráfico 1 mostra que 69,6% dos pesquisadores da GC no Brasil possuem doutorado, 22,4% possuem mestrado, 4,9% possuem graduação e apenas 3,1% possuem especialização. Percebeu-se, a partir dos resultados apresentados no gráfico 1, que a maior parte dos pesquisadores da CG no Brasil possui curso de Doutorado como maior titulação. A formação em cursos de Pós-Graduação, principalmente stricto sensu (mestrado e doutorado) cria condições para o desenvolvimento da GC, conforme aponta Carvalho e Nassif (2020) pelo fato de que durante essa formação são realizadas pesquisas na área de GC, haja vista o grande número de pesquisadores com interesse em publicação de pesquisas nessa temática.
Outro aspecto importante a ser destacado é que os pesquisadores que têm esse nível de formação geralmente desenvolvem pesquisas aprofundadas, o que contribui de forma significativa para o desenvolvimento da GC.
O quadro 1, apresentado por Barbosa (2020) apresenta os resultados encontrados relativos aos pesquisadores da GC por área do conhecimento, na qual está situado o curso de doutorado de cada pesquisador. Já o quadro 2 mostra que a maior parte dos cursos dos pesquisadores concentra-se na área de Ciências Sociais Aplicadas (444 pesquisadores), seguido de Ciências Exatas (115 pesquisadores) e Engenharias (100 pesquisadores).
Quadro 2 - Pesquisadores em GC no Brasil por Área de Conhecimento
ÁREAS DO CONHECIMENTO / CAPES |
DOUTORADO |
MESTRADO |
ESPECIALIZAÇÃO |
GRADUAÇÃO |
TITULAÇÃO / ÁREA |
Ciências Exatas e da Terra |
88 |
18 |
2 |
7 |
115 |
Ciências Biológicas |
2 |
2 |
0 |
0 |
4 |
Engenharias |
76 |
22 |
0 |
2 |
100 |
Ciências da Saúde |
8 |
2 |
0 |
0 |
10 |
Ciências Agrárias |
0 |
1 |
1 |
0 |
2 |
Ling., Letras e Artes. |
1 |
1 |
1 |
1 |
4 |
Ciências Sociais Aplicadas |
297 |
112 |
15 |
20 |
444 |
Ciências Humanas |
28 |
3 |
3 |
5 |
39 |
AUTORES POR TITULAÇÃO |
500 |
161 |
22 |
35 |
718 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Percebeu-se no quadro 2 acima, maior concentração dos pesquisadores na área de Ciências Sociais Aplicadas. De acordo com Barbosa (2020) essa é a área onde estão situados campos importantes para a Gestão Organizacional, tais como: Negócios, Gestão e Contabilidade, áreas de decisão no ambiente organizacional. Segundo Silva Filho e Silva (2005) são nesses ambientes que a cultura do compartilhamento de conhecimento está em constante evidência na gestão estratégica para a tomada de decisão.
Sob outro prisma, áreas como Linguística, Letras e Artes e Ciências Humanas têm representatividade de pesquisadores em todos os níveis de titulação, mas com baixo número de pesquisadores. Outras áreas com baixa representatividade são Ciências da Saúde e Ciências Biológicas com pesquisadores em nível de mestrado e doutorado. Essas áreas apresentam pouca produtividade sobre GC necessitando ampliar a cooperação científica e estabelecer conexões de forma a aprofundar as pesquisas em suas áreas de atuação. Ao verificar os cursos mais presentes na formação dos pesquisadores da GC no Brasil, o quadro 3 apresenta sua distribuição na área de Ciências Sociais Aplicadas.
Quadro 3 - Pesquisadores em GC no Brasil nas Ciências Sociais Aplicadas
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS |
DOUTORADO |
MESTRADO |
ESPECIALIZAÇÃO |
GRADUAÇÃO |
TITULAÇÃO/ ÁREA |
DIREITO |
1 |
- |
- |
- |
1 |
ADM. PÚBLICA E DE EMPRESAS, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO |
96 |
31 |
4 |
- |
131 |
ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN |
2 |
- |
2 |
- |
4 |
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL / DEMOGRAFIA |
1 |
- |
- |
- |
1 |
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (Arquivologia) |
- |
1 |
2 |
1 |
4 |
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (Biblioteconomia) |
1 |
3 |
- |
15 |
19 |
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (Ciência da Informação) |
148 |
59 |
1 |
2 |
210 |
MUSEOLOGIA |
- |
- |
- |
- |
- |
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (Comunicação) |
39 |
5 |
1 |
1 |
46 |
SERVIÇO SOCIAL |
- |
- |
- |
- |
- |
OUTRAS DENOMINAÇÕES |
9 |
13 |
5 |
1 |
29 |
AUTORES POR TITULAÇÃO |
297 |
112 |
15 |
20 |
444 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
O quadro 3 acima mostra que a maior parte dos pesquisadores da GC no Brasil tem cursos na subárea Comunicação e Informação, sendo sua grande maioria em CI totalizando 210 pesquisadores com essa formação, seguido de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo com 131 pesquisadores e Comunicação com 46 pesquisadores.
Percebeu-se que grande parte dos pesquisadores se situam em áreas consideradas interdisciplinares, onde o ambiente científico é propício para o compartilhamento de ideias, ou seja, onde a informação é compartilhada proporcionando a cooperação científica mencionada por Balancieri et. al. (2005) como elemento gerador do conhecimento.
Quanto ao canal escolhido pelos pesquisadores para publicação de pesquisas sobre GC no Brasil, o gráfico 2 permite vislumbrar os meios mais utilizados para disseminação dos resultados das pesquisas.
Gráfico 2 - Canal de Publicação dos Pesquisadores em GC no Brasil
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
O gráfico 2 mostra que, na CI, 81,6% das publicações sobre GC no Brasil se verificam em periódicos, seguidos pelo Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (ENANCIB) – 13% –, mais precisamente no Grupo de Trabalho 4 (GT4) que trata da Gestão da Informação e do Conhecimento. Verificou-se que a maior parte do canal de comunicação dos pesquisadores são os Periódicos Científicos, o que credibiliza a informação por atribuir validação na ciência, uma vez que essa produção científica passou por avaliação entre os pares da comunidade da GC, conforme aponta Duarte (2015).
Outro canal de comunicação dos pesquisadores da GC são os eventos científicos como o ENANCIB que apresentou o segundo maior. A formação de grupos de pesquisadores em diversos espaços de comunicação sobre a GC é importante porque na visão de Balancieri et al. (2005) fortalece, potencializa e aprofunda os estudos sobre essa temática, pois, desenvolve-se a partir de grupos que pesquisam, compartilham e discutem experiências científicas na área, proporcionando maior colaboração entre os atores da rede de pesquisadores da área.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta Pesquisa teve como objetivo analisar a formação dos pesquisadores em GC no Brasil, essencialmente aqueles atuantes na CI. A investigação se deu por meio de mapeamento na BRAPCI e na Plataforma Lattes, podendo ser ampliada para outra base de dados e outras plataformas sobre currículos e formação de pesquisadores. Outra limitação desta pesquisa foi o espaço temporal, estabelecendo-se entre os anos de 2017-2022, podendo, também, este período ser ampliado para maior aprofundamento.
Sabe-se que a GC é uma área considerada interdisciplinar, por vezes até dis, multi, trans e pluridisciplinar, que engloba diversas áreas do conhecimento. No Brasil percebeu-se que as pesquisas sobre a temática se verificaram em maior número na área de Ciências Sociais Aplicadas, essencialmente nos campos da Administração e da CI. Uma das razões é que nas Ciências Sociais Aplicadas estão inseridas subáreas importantes para o desenvolvimento da GC, como a própria gestão e administração de organizações, empresas públicas e privadas, de conflitos, de pessoas, de recursos humanos, de informação, de redes, de documentos etc. As áreas de Engenharia, Ciências Exatas e da Terra também possuem pesquisadores com interesse na CG.
Um fator de relevância destacado na pesquisa é que a maior parte dos pesquisadores possui titulação de mestrado e doutorado. Isso aponta que no Brasil, especificamente na CI, a formação dos pesquisadores em GC situa-se em cursos de Pós-Graduação stricto sensu.
A pesquisa aponta também que o canal de divulgação das produções científicas em GC, na CI está situado, em sua maior parte, em periódicos científicos. Percebeu-se, então, que o canal de comunicação de preferência dos pesquisadores da GC é o periódico científico. Entretanto, nos anais do ENANCIB estão situadas grande parte das publicações, uma vez que se configura como o principal evento de Pós-Graduação da CI. Este fato reitera a afirmação de que a formação dos pesquisadores em GC está situada na Pós-Graduação.
Ao perceber uma elevada produção e consequentemente um grande número de pesquisadores, torna-se uma inquietude verificar quais os assuntos que estão mais em evidência relacionados à GC.
Outra perspectiva de aprofundamento desta pesquisa sugere a busca pela identificação das subáreas que tangenciam as pesquisas em GC nos distintos domínios do saber citados nesse documento, assim como a verificação dos periódicos com maior frequência e avaliação qualis que mais publicam sobre GC na CI no Brasil.
REFERÊNCIAS
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[1] Docente do Programa de Pós-Gaduação em Gestão das Organizações Aprendentes (PPGOA-UFPB), Doutor em Gestão e Organização do Conhecimento (PPGGOC-UFMG), Bibliotecário do Instituto Federal de Alagoas (IFAL-Campus Santana do Ipanema).
[2] Doutora em Ciência da Informação.
[3] Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI-UFAL), Docente da Univesidade Federal de Rondônia, Pós-Doutora em Ciência da Informação (PPGCI-UFPB).
[4] Doutor em Ciência da Informação (PPGCI-UFPB), Docente do Instituto Federal da Paraíba.
[5] Doutoranda em Ciência da Informação (PPGCI-UFPB), Mestre em Ciência da Informação, Bibliotecária da Uniersidade Estadual da Paraíba.