A Fenomenologia de Habermas e suas Contribuições para a Hermenêutica
Sandro Roberto de Santana Gomes[1]
Universidade Federal de Alagoas
Anderson de Alencar Menezes[2]
Universidade Federal de Alagoas
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Resumo
A fenomenologia no pensamento de Jürgen Habermas e suas contribuições para a hermenêutica representam uma abordagem crítica e engajada na compreensão do Mundo da Vida e da interpretação dos fenômenos sociais. Habermas enfatiza a importância da intersubjetividade e da comunicação autônoma na construção do conhecimento e na formação de significados compartilhados. Ele crítica a hermenêutica tradicional por negligenciar a dimensão social da interpretação e propõe uma hermenêutica emancipatória que busca revelar as estruturas de poder e as ideologias presentes na sociedade. Suas contribuições incluem a ênfase na comunicação discursiva, na crítica ideológica e na promoção da participação democrática na interpretação das vibrações comunicativas e dos contextos sociais. A fenomenologia no pensamento de Habermas destaca a importância da intersubjetividade e da comunicação na construção do conhecimento e na formação de significados compartilhados. Ele enfatiza que a linguagem e a interação social são essenciais para a reconstrução da Democracia, permitindo uma troca de perspectivas e a construção de consensos em torno da justiça social.
Palavras-chave: fenomenologia; hermenêutica; mundo da vida.
HABERMAS’ PHENOMENOLOGY AND ITS CONTRIBUTIONS TO HERMENEUTICS
Abstract
Phenomenology in the thinking of Jürgen Habermas and his contributions to hermeneutics represent a critical and engaged approach to the understanding of the World of Life and the interpretation of social phenomena. Habermas emphasizes the importance of intersubjectivity and autonomous communication in the construction of knowledge and in the formation of shared meanings. He criticizes traditional hermeneutics for neglecting the social dimension of interpretation and proposes an emancipatory hermeneutics that seeks to reveal the power structures and ideologies present in society. His contributions include an emphasis on discursive communication, ideological critique, and the promotion of democratic participation in the interpretation of communicative vibes and social contexts. Phenomenology in Habermas' thinking highlights the importance of intersubjectivity and communication in the construction of knowledge and in the formation of shared meanings. He emphasizes that language and social interaction are essential for rebuilding Democracy, allowing for an exchange of perspectives and the building of consensus around social justice.
Keywords: phenomenology. hermeneutics. life world.
1 INTRODUÇÃO
A fenomenologia de Jürgen Habermas e suas contribuições para a hermenêutica representam uma importante abordagem filosófica que busca compreender a natureza da experiência humana e a interpretação do significado dos fenômenos sociais. Neste artigo, exploraremos os principais conceitos e ideias de Habermas, bem como sua influência no campo da hermenêutica. Destacaremos em nossa abordagem a Fenomenologia de Habermas, trabalhando dois conceitos fundamentais, a saber, a Intersubjetividade e Comunicação. Habermas desenvolve sua teoria fenomenológica com base na ideia de que a comunicação é essencial para a compreensão da experiência humana. Ele argumenta que a linguagem e a intersubjetividade são fundamentais para a construção do conhecimento e do significado compartilhado.
Outro aspecto importante em nossa análise será o Mundo da Vida e Mundo dos Sistemas. Nelas, Habermas realiza uma distinção entre o "mundo da vida" e o "mundo dos sistemas". Para ele o mundo da vida refere-se à esfera das interações sociais cotidianas, onde os indivíduos compartilham significados e constroem consensos. E o mundo dos sistemas representa as estruturas institucionais e burocráticas que muitas vezes alienam os indivíduos e restringem a comunicação autêntica.
Buscaremos identificar as contribuições de Habermas para a Hermenêutica, partindo da crítica à Hermenêutica Tradicional, onde o autor realiza uma crítica a hermenêutica tradicional, que se concentra exclusivamente na interpretação textual, negligenciando a dimensão social da compreensão. Ele argumenta que a hermenêutica deve se expandir para além da interpretação literária e abordar os aspectos sociais e históricos da compreensão.
Por fim, buscaremos compreender como Interpretação Emancipatória realizado por Habermas propõe uma hermenêutica emancipatória que visa libertar a interpretação das estruturas de poder e das distorções comunicativas. Ele argumenta que a interpretação deve ser um processo democrático, no qual todas as vozes tenham a oportunidade de serem ouvidas e contribuir para a construção do significado. Habermas enfatiza a importância de uma hermenêutica crítica que desmascare as ideologias ocultas nas estruturas sociais e nas formas de comunicação. Ele acredita que a interpretação deve revelar as distorções que surgem das relações de poder e promover a busca por uma sociedade mais justa e igualitária.
Destacamos que a fenomenologia de Habermas e suas contribuições para a hermenêutica têm desempenhado um papel significativo na compreensão da experiência humana e na interpretação dos fenômenos sociais. Sua ênfase na intersubjetividade, comunicação autêntica e crítica ideológica tem enriquecido o campo da hermenêutica, levando a uma compreensão mais abrangente e engajada das práticas interpretativas. Ao integrar as perspectivas fenomenológicas e hermenêuticas, Habermas oferece uma abordagem filosófica que busca a emancipação e a transformação social por meio da interpretação consciente e crítica.
A intersubjetividade e a comunicação: apresentando os conceitos.
Intersubjetividade e comunicação são conceitos intrinsecamente ligados e desempenham um papel fundamental na compreensão das relações humanas e da construção do conhecimento compartilhado. Vamos explorar cada um desses conceitos.
A intersubjetividade refere-se à interação e interconexão entre sujeitos conscientes. É a capacidade de compreendermos e partilharmos significados com outros indivíduos dentro de um contexto social. A intersubjetividade é baseada na ideia de que a nossa compreensão do mundo é construída em relação aos outros, através do diálogo, da linguagem e das interações sociais.
A intersubjetividade reconhece que os seres humanos são seres sociais, e nossa compreensão do mundo e de nós mesmos é moldada pela interação com os outros. Nós interpretamos e atribuímos significado às experiências com base em nossas relações e trocas com os demais. Assim, a intersubjetividade é essencial para a construção do conhecimento e para a formação da identidade individual e coletiva.
Formar um sujeito crítico e transformador, disseminar a racionalidade como fonte de todo conhecimento, como compreensão universal; eis o ideal pedagógico do iluminismo. A compreensão universal envolve tanto o desenvolvimento da capacidade cognitiva como a da prático-moral; o que é comum a ambos é a capacidade explicativa última, ou seja, a capacidade de fundamentar os conhecimentos e as ações por meio de argumentos e princípios racionais. A principal atitude pedagógica é a autonomia do sujeito no questionamento dos fundamentos últimos do seus atos prático-morais e cognitivos.[3]
A comunicação é o processo pelo qual os indivíduos trocam informações, ideias, sentimentos e significados. Ela ocorre através de diferentes formas, como a linguagem verbal e não verbal, gestos, expressões faciais, escrita, entre outras modalidades de expressão. A comunicação permite a transmissão de mensagens entre os indivíduos e é fundamental para a interação social.
A comunicação não se resume apenas à transmissão de informações, mas também envolve a compreensão mútua e a criação de significado compartilhado. Ela é um processo dinâmico no qual os participantes interagem, interpretam e respondem uns aos outros. Através da comunicação, os indivíduos expressam suas ideias, emoções, intenções e estabelecem relações interpessoais.
A comunicação desempenha um papel crucial na construção da intersubjetividade, uma vez que é por meio da interação comunicativa que compartilhamos significados e estabelecemos consensos. Através do diálogo e da troca de perspectivas, os indivíduos constroem entendimentos compartilhados e negociam seus significados, possibilitando a coexistência e a colaboração social.
Entendemos que a preocupação central da teoria crítica sempre foi a de restabelecer o poder crítico-libertador da razão humana através do revigoramento da teoria dialética. Os teóricos de Frankfurt preocuparam-se tanto em interpretar a sociedade contemporânea quanto em transformá-la. A emancipação constitui-se, pois, no desafio que preocupa todos os teóricos frankfurtianos e Habermas é o herdeiro dessa preocupação. Da mesma forma que seus antecessores, Habermas acredita na possibilidade da fundamentação racional do agir humano no mundo, ou seja, na possibilidade de identificar princípios ou pressupostos universais que possam orientar e pensar e o fazer do homem enquanto histórico. A Teoria da ação comunicativa, no nosso entender, apresenta esse potencial na medida em que o seu projeto se volta para a preocupação de encontrar uma saída racional em contraposição às abordagens reducionistas atuais, sem cair, no entanto, em nova metafísica.[4]
A intersubjetividade e a comunicação são conceitos interdependentes que desempenham um papel central nas interações humanas. Através da intersubjetividade, reconhecemos que nossa compreensão do mundo é moldada em relação aos outros, e a comunicação nos permite compartilhar significados, estabelecer relações e construir conhecimento coletivo. Esses conceitos são fundamentais para a compreensão da experiência humana e para a construção de sociedades interativas e cooperativas.
A intersubjetividade e a comunicação em Habermas
Em sua teoria, Jürgen Habermas atribui grande importância à intersubjetividade e à comunicação como elementos fundamentais para a construção de uma sociedade democrática e para a busca do conhecimento compartilhado. Aqui estão algumas características desses conceitos em Habermas:
Intersubjetividade em Habermas: Habermas enfatiza a intersubjetividade como uma dimensão central das interações humanas. Ele argumenta que os indivíduos constroem significados e entendimentos compartilhados por meio do diálogo e da comunicação. A intersubjetividade é vista como um processo no qual os participantes interagem, trocam perspectivas e buscam o consenso.
Para Habermas, a intersubjetividade é baseada na ideia de que os seres humanos são capazes de entender e interpretar o mundo de forma coletiva, por meio da comunicação. É por meio desse entendimento mútuo que as normas, os valores e os significados são negociados e estabelecidos. A intersubjetividade é fundamental para a formação da identidade e para a construção de uma sociedade democrática.
Habermas considera a comunicação como um processo crucial para a intersubjetividade e para a busca da verdade e do entendimento mútuo. Ele destaca a importância da comunicação autêntica, na qual os participantes se engajam em um diálogo livre e aberto, buscando expressar suas opiniões, trocar ideias e argumentar de forma racional.
O conhecimento é formulado na interação dos indivíduos, a partir da infraestrutura linguística que lhes é comum. Essas condições infraestruturais da linguagem, considera Habermas, devem estar necessariamente presentes para que haja entendimento. Essas condições ou pressupostos argumentativos são propriedades intrínsecas da linguagem com as quais podemos produzir argumentos concludentes, resgatando ou rejeitando pretensões de validez do conhecimento, do agir prático e da expressividade. Compreendem regras que se apresentam em três planos: no plano lógico-semântico, no plano dialético dos procedimentos e no plano retorico dos processos. Ou seja, em todo o agir comunicativo, os indivíduos em interação devem respeitar, para não caírem em contradição performativa, regras lógico-semânticas, regras procedurais e regras processuais.[5]
Em sua teoria, Habermas diferencia entre duas formas de comunicação: comunicação estratégica e comunicação discursiva. A comunicação estratégica é orientada para a manipulação e o controle, visando a obtenção de vantagens pessoais. Já a comunicação discursiva é caracterizada por um diálogo baseado na argumentação racional e na busca pela verdade e pelo consenso.
Habermas defende que a comunicação discursiva é essencial para a construção de uma esfera pública democrática. Ela promove a participação igualitária, a inclusão de diferentes perspectivas e a resolução de conflitos por meio do diálogo. Através da comunicação discursiva, os indivíduos têm a oportunidade de se expressar, de ouvir e de serem ouvidos, contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa e participativa.
Neste sentido, Habermas, a intersubjetividade e a comunicação desempenham papéis cruciais na construção de uma sociedade democrática e na busca do conhecimento compartilhado. Através da intersubjetividade, os seres humanos constroem significados e entendimentos mútuos por meio da comunicação autêntica.
A comunicação discursiva, baseada na argumentação racional e na busca pela verdade, é vista como fundamental para a participação igualitária e para a construção de uma esfera pública democrática. Portanto, tanto a intersubjetividade quanto a comunicação são conceitos centrais na teoria de Habermas e têm como objetivo promover a interação democrática e a busca do consenso na sociedade.
3 Mundo da Vida e Mundo dos Sistemas em Habermas
Em sua teoria, Jürgen Habermas distingue entre o "mundo da vida" (Lebenswelt) e o "mundo dos sistemas" (Systemwelt) como duas esferas sociais distintas que desempenham papéis diferentes na experiência humana. Essa distinção é importante para compreender a dinâmica social e a influência dos sistemas institucionais sobre os indivíduos. Vamos explorar cada um desses conceitos em detalhes:
Mundo da Vida (Lebenswelt): O mundo da vida refere-se à esfera das interações sociais cotidianas, onde os indivíduos se engajam em atividades e práticas comuns. É nesse contexto que ocorre a intersubjetividade, a comunicação autêntica e a construção do significado compartilhado. O mundo da vida inclui as interações familiares, os relacionamentos pessoais, as atividades culturais e as práticas sociais informais.
Habermas enfatiza que o mundo da vida é o local onde a intersubjetividade e a comunicação genuína podem florescer. É nessa esfera que os indivíduos têm a oportunidade de se expressar livremente, de compartilhar suas perspectivas e de construir entendimentos compartilhados. O mundo da vida é caracterizado pela autenticidade, pela diversidade de experiências e pelo fluxo contínuo de interações sociais.
Mundo dos Sistemas (Systemwelt): Por outro lado, o mundo dos sistemas refere-se às estruturas institucionais e burocráticas que regulam e organizam a vida social. Esse mundo inclui instituições políticas, econômicas e jurídicas, como governos, corporações, sistemas de justiça, entre outros. No mundo dos sistemas, as interações são reguladas por normas e procedimentos formais, muitas vezes visando à eficiência e à funcionalidade.
Habermas argumenta que o mundo dos sistemas tem o potencial de alienar os indivíduos e restringir a comunicação autêntica. Ele destaca a influência dos sistemas sociais no mundo da vida, afirmando que a racionalidade instrumental dos sistemas pode prejudicar a liberdade e a participação dos indivíduos. A lógica dos sistemas muitas vezes impõe restrições às interações sociais, priorizando objetivos funcionais em detrimento das necessidades humanas.
Relação entre Mundo da Vida e Mundo dos Sistemas: Habermas argumenta que uma sociedade saudável e democrática requer um equilíbrio adequado entre o mundo da vida e o mundo dos sistemas. Ele busca superar as limitações do mundo dos sistemas, garantindo que as estruturas institucionais sejam permeáveis ao mundo da vida, promovendo a participação democrática e a inclusão social. Para Habermas, a comunicação autêntica e a intersubjetividade do mundo da vida devem ser preservadas e valorizadas, mesmo no contexto dos sistemas sociais.
A distinção entre o mundo da vida e o mundo dos sistemas em Habermas permite compreender a complexidade das interações sociais e a influência das estruturas institucionais na vida dos indivíduos. Enquanto o mundo da vida é o espaço onde a intersubjetividade e a comunicação autêntica ocorrem, o mundo dos sistemas representa as estruturas formais e burocráticas que podem limitar essas interações. Habermas busca estabelecer um equilíbrio entre essas esferas, garantindo que a participação democrática e a liberdade de expressão sejam preservadas em todos os níveis da sociedade.
4 Fundamente a crítica de Habermas a hermenêutica tradicional
A crítica de Habermas à hermenêutica tradicional baseia-se na ideia de que essa abordagem interpretativa negligencia a dimensão social da compreensão. A hermenêutica tradicional, em sua forma clássica, concentra-se principalmente na interpretação textual e na compreensão do significado dentro de um contexto específico. No entanto, Habermas argumenta que essa abordagem é insuficiente para lidar com as complexidades da sociedade contemporânea e as dinâmicas da comunicação humana.
Uma das principais críticas de Habermas à hermenêutica tradicional é sua ênfase excessiva na subjetividade do intérprete. Segundo ele, a hermenêutica tradicional tende a considerar o processo interpretativo como um empreendimento solitário, no qual o intérprete busca compreender o significado do texto com base em suas próprias experiências e perspectivas individuais. Essa abordagem subjetiva limita a possibilidade de um entendimento mais abrangente e compartilhado do texto ou fenômeno em questão.
Além disso, Habermas critica a hermenêutica tradicional por não levar em consideração o contexto social e histórico em que ocorre a interpretação. Ele argumenta que a compreensão plena de um texto ou de qualquer fenômeno requer uma análise das condições sociais, políticas e culturais que moldam sua produção e recepção. A hermenêutica tradicional muitas vezes falha em abordar essas dimensões, resultando em interpretações limitadas e descontextualizadas.
Outra crítica de Habermas à hermenêutica tradicional é sua falta de atenção à dimensão comunicativa da interpretação. Ele ressalta que a interpretação não é apenas um ato individual, mas também um processo intersubjetivo que ocorre por meio da interação e da troca de perspectivas. A comunicação desempenha um papel central na construção do significado compartilhado, e a hermenêutica tradicional muitas vezes negligencia essa dimensão social da interpretação.
Diante dessas críticas, Habermas propõe uma abordagem hermenêutica mais abrangente e engajada, que ele chama de hermenêutica emancipatória. Essa abordagem busca incorporar a dimensão social da compreensão, considerar o contexto histórico e social e promover uma comunicação autêntica e participativa. A hermenêutica emancipatória de Habermas visa superar as limitações da hermenêutica tradicional, buscando uma interpretação mais inclusiva, crítica e comprometida com a transformação social.
5 Interpretação Emancipatória em Habermas
A interpretação emancipatória é um conceito-chave na teoria de Jürgen Habermas. Refere-se a uma abordagem interpretativa que busca a emancipação, a transformação social e a promoção da justiça e da igualdade. Essa abordagem é uma resposta crítica à tradição hermenêutica e busca superar as limitações da interpretação conservadora, que tende a manter as estruturas de poder existentes.
Habermas argumenta que a interpretação emancipatória não pode ser uma atividade isolada e subjetiva, mas deve estar enraizada na intersubjetividade e na comunicação autêntica. Ela envolve a análise crítica das condições sociais, históricas e políticas em que ocorre a interpretação, levando em consideração as estruturas de poder e as desigualdades presentes na sociedade.
A interpretação emancipatória busca revelar as dimensões ocultas de dominação e opressão presentes nas estruturas sociais e nas práticas culturais. Ela procura desafiar e subverter essas estruturas, promovendo a participação ativa dos sujeitos e a construção de uma esfera pública inclusiva. Essa abordagem interpretativa busca criar uma sociedade mais justa e democrática, onde todos os indivíduos tenham igualdade de oportunidades e possam exercer sua autonomia e liberdade plenamente.
Uma interpretação emancipatória também enfatiza a importância da crítica e da autocrítica. Ela reconhece que a interpretação não é um processo neutro, mas está enraizada em valores, pressupostos e perspectivas específicas. Portanto, é necessário questionar constantemente a validade e as implicações das interpretações, buscando aprimorar e aprofundar a compreensão dos fenômenos sociais.
No contexto da hermenêutica emancipatória, Habermas propõe o conceito de "interesses emancipatórios" como orientações normativas para a interpretação. Esses interesses referem-se à busca de igualdade, justiça, liberdade e solidariedade na sociedade. Eles fornecem critérios para avaliar as estruturas sociais existentes e para orientar a transformação social por meio da interpretação e da ação comunicativa.
Em suma, a interpretação emancipatória em Habermas busca ir além da mera compreensão do significado dos textos ou fenômenos. Ela procura revelar as estruturas de poder e as desigualdades presentes na sociedade, desafiá-las e promover a participação ativa dos sujeitos na construção de uma sociedade mais justa e democrática.
6 Considerações finais
A crítica ideológica é um elemento fundamental na teoria de Jürgen Habermas. Ele se baseia na tradição da Teoria Crítica e busca revelar as estruturas de dominação, as distorções comunicativas e as ideologias presentes nas sociedades contemporâneas. A crítica ideológica de Habermas envolve uma análise profunda das relações de poder, das desigualdades sociais e das formas de manipulação presentes nas esferas políticas, econômicas e culturais.
Habermas argumenta que as ideologias são mecanismos de legitimação do status quo e que elas servem para perpetuar as estruturas de dominação e opressão. Ele se concentra nas formas sutis de dominação ideológica, nas quais a comunicação é distorcida, as vozes dissidentes são silenciadas e as desigualdades são naturalizadas. Essas distorções ideológicas ocorrem principalmente nas esferas públicas e privadas, onde as instituições e os meios de comunicação têm um papel significativo na reprodução e perpetuação de ideologias.
Uma crítica ideológica em Habermas busca desmascarar essas distorções comunicativas e questionar as narrativas dominantes. Ela visa trazer à tona os interesses ocultos, as assimetrias de poder e as injustiças que são perpetuadas por meio da ideologia. Habermas enfatiza a importância de uma esfera pública crítica, na qual os cidadãos possam se envolver em discussões abertas e participativas, desafiando as narrativas ideológicas e promovendo uma deliberação pública autêntica.
A crítica ideológica de Habermas também está intimamente ligada à sua noção de racionalidade comunicativa. Ele argumenta que a dominação ideológica ocorre quando a comunicação é instrumentalizada e usada para manipular as pessoas, em vez de ser um processo de compreensão mútua e construção de entendimentos compartilhados. Através de uma crítica ideológica, Habermas busca resgatar a dimensão emancipatória da comunicação e promover uma esfera pública na qual todos os participantes possam contribuir igualmente e influenciar os processos de tomada de decisão.
Em resumo, a crítica ideológica em Habermas visa desvelar as estruturas de dominação, as distorções comunicativas e as ideologias que permeiam as sociedades contemporâneas. Ela busca desafiar as narrativas dominantes, promover a participação igualitária e construir uma esfera pública crítica e emancipatória. A crítica ideológica é uma ferramenta importante para a transformação social, ao expor as desigualdades e promover a conscientização sobre as estruturas de poder que moldam as estruturas sociais.
REFERÊNCIAS
HABERMAS, Jürgen. A Ética da discussão e a questão da verdade. 4. ed. São Paulo. WMF Martins Fontes, 2018.
MÜHL, Eldon Henrique. Habermas e a educação: ação pedagógica como agir comunicativo. 2. Ed., revisada e atualizada. Editora CRV, Curitiba, 2020.
[1] Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Alagoas. Graduado em Filosofia e Teologia (licenciatura). Pós-Graduado em Metodologia do ERE e Mestrado em Ciências da Religião.
[2] Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas. Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco, Bacharel em Teologia pelo Centro Unisal - Campus Pio XI (São Paulo), Graduando em Psicologia pela Faculdade Estácio - Maceió- Alagoas. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade do Porto/Portugal. Pós-Doutorado em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco.
[3] MÜHL, Eldon Henrique. Habermas e a educação: ação pedagógica como agir comunicativo. 2ª edição, revisada e atualizada. Editora CRV, Curitiba, 2020, p. 31.
[4] MÜHL, Eldon Henrique, 2020, p. 49.
[5] Idem, p. 51.