Armas teóricas e políticas

produção intelectual em Ciência da Informação

 

Leilah Santiago Bufrem

Universidade Federal de Pernambuco

santiagobufrem@gmail.com

______________________________

Resumo

Considera a produção científica brasileira da Ciência da Informação (CI), de pesquisadores institucionalmente reconhecidos da área, para realçar movimentos de transformação e influências intelectuais sobre o quadro teórico por eles construído. Questiona os conceitos de pós-modernidade e pós-modernismo no contexto destas produções, analisando criticamente a produção científica periódica, indexada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci), dos Bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desde o ano de 1990 até 2022, para descrever o fenômeno do pós-modernismo e da pós-modernidade, tanto como processo de transformação e estímulo à produção sobre as contradições encontradas nessa cultura, quanto para o reconhecimento de teorias, conceitos, posicionamentos políticos e ideológicos. Adota a distinção apresentada por Terry Eagleton, entre pós-modernismo e pós-modernidade, para reconhecer os significados dos termos enfocados e seus correlatos, e em quais contextos são analisados no corpus da pesquisa. Seleciona os textos com potencial de contribuição para uma síntese histórico-evolutiva. Conclui, destacando duas posições mais evidentes. A predominante associa à condição da CI como ciência pós-moderna, à arquivística pós-moderna, ao paradigma pós-custodial, à sociedade pós-moderna e a considerações genéricas sobre o saber e a informação como mercadorias básicas da pós-modernidade. A posição mais crítica fundamenta-se em autores como Terry Eagleton, ao denunciar as ilusões do pós-modernismo e David Harvey, cujos principais argumentos relacionam a ascensão de formas culturais pós-modernas e a emergência de modos flexíveis de acumulação ao ciclo de compressão do tempo-espaço na organização do capitalismo.

Palavras-chave: pós-modernismo; pós-modernidade; produção científica; ciência da informação; influências intelectuais.

THEORETICAL AND POLITICAL WEAPONS: intellectual production in Information

 

Abstract

It considers the Brazilian scientific production of Information Science (IC), by institutionally recognized researchers in the area, to highlight transformation movements and intellectual influences on the theoretical framework constructed by them. It questions the concepts of postmodernity and postmodernism in the context of these productions, critically analyzing periodic scientific production, indexed in the Reference Database of Journal Articles in Information Science (Brapci), of Research Productivity Fellows (PQ) , from the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq), from 1990 to 2022, to describe the phenomenon of postmodernism and postmodernity, both as a process of transformation and stimulation of production on the contradictions found in this culture , as well as the recognition of theories, concepts, political and ideological positions. It adopts the distinction presented by Terry Eagleton, between postmodernism and postmodernity, to recognize the meanings of the terms focused on and their correlates, and in which contexts they are analyzed in the research corpus. Selects texts with potential contribution to a historical-evolutionary synthesis. It concludes by highlighting two most obvious positions. The predominant one associates it with the condition of IC as a post-modern science, with post-modern archival science, with the post-custodial paradigm, with post-modern society and with generic considerations about knowledge and information as basic commodities of post-modernity. The most critical position is based on authors such as Terry Eagleton, when denouncing the illusions of postmodernism, and David Harvey, whose main arguments relate the rise of postmodern cultural forms and the emergence of flexible modes of accumulation to the compression cycle of time-space in the organization of capitalism.

Keywords: postmodernism; postmodernity; scientific production; information science;  intellectual influences.

1  INTRODUÇÃO

A pesquisa sobre os movimentos de transformação presentes na literatura científica de determinado campo do conhecimento pode indicar uma transição radical, fundamentada em crises sociais capazes de afetar a produção científica, de modo a influenciar seus quadros teóricos e metodológicos em construção. Mas, outros fatores contribuem para transformações, como os movimentos endógenos do campo em relação às fases de sua institucionalização, assim como das contradições teóricas, metodológicas ou ideológicas perceptíveis no estudo diacrônico da literatura, convidando o leitor pesquisador a acionar seu potencial crítico diante dos principais aspectos polêmicos e das motivações neles encontradas.

Ao reconhecermos a presença da Ciência da Informação (CI) no cenário científico internacional, destacamos a histórica adoção do termo Information Science, em 1958, quando da criação do Institute of Information Scientists, em Londres. Dez anos após, o fato repercutiu mais amplamente com a mudança de denominação do American Documentation Institute para American Society for Information Science and Technology (Ortega, 2004). Referindo-se aos primeiros anos da década de 1960, Saracevic (1978, p. 4) destaca o início do uso do termo "Ciência da Informação", resultantes não apenas de uma troca de nomes, mas a adoção de um sentido firmado na “possibilidade de criar dimensões científicas para tudo que acontecesse dentro e em torno da recuperação da informação”. Justamente, a partir dessa década, com as discussões sobre a redefinição das dimensões e dos critérios de cientificidade, iniciam-se, nas Ciências Sociais, as primeiras reflexões sobre estarmos ou não vivendo uma nova fase em relação à modernidade. “Os anos 60 testemunharam os sucessos devidos a avanços paralelos nas atividades científicas e profissionais” (Saracevic, 1978, p. 4). É justamente, a partir dessa década, com as discussões sobre a redefinição das dimensões e dos critérios de cientificidade, quando se iniciam, nas ciências sociais, as primeiras reflexões sobre estarmos ou não vivendo uma nova fase em relação à modernidade.

Essa percepção da historicidade de uma ciência adquire sentido ao retomarmos os argumentos de Whitley, favoráveis à correlação entre os dois aspectos da institucionalização científica. De um lado, configura-se uma estrutura cognitiva resultante da evolução intelectual contínua de uma especialização científica, do outro, a estrutura social, referente às instituições formais constituintes do próprio campo, abrangendo a comunidade científica, grupos de pesquisa, cursos de graduação e pós-graduação, periódicos, eventos, reuniões acadêmicas, associações e sociedades científicas. Assim, o desenvolvimento da dimensão cognitiva reflete-se na institucionalização social e, quando as estruturas formais do campo se fortalecem e consolidam, a tendência é o acompanhamento desse movimento pela dimensão cognitiva (Whitley, 1974). Cabe ressaltar a possibilidade de variação das estruturas, de campo para campo, assim como de suas influências sobre as características e manifestações particulares. Para entender a vinculação entre dimensão social e cognitiva de determinada ciência, Whitley (1974) sugere como alternativa a reconstrução da história, especialmente das instituições relacionadas ao campo científico. 

Sem a pretensão de reconstruirmos exaustivamente o movimento histórico da consolidação da CI no Brasil, a proposta de problematizar a produção intelectual de seus pesquisadores, relativa a uma condição ou linha de pensamento, impõe-se ao pesquisador crítico, diante das contradições presentes. Dessa forma, os fenômenos denominados pós-modernidade e pós-modernismo adquirem sentido pelas influências e as relações semânticas incorporadas ao núcleo conceitual expresso pelos termos dele derivados. Essa curiosidade foi decisiva para os questionamentos sobre o polêmico acolhimento da transição de uma condição moderna para outra, a pós-moderna, considerando-se os sentidos emprestados aos termos na CI. Mas qual seria o significado concreto e a influência dos conceitos de pós-modernidade e pós-modernismo para o contexto da produção científica da área? Como e em quais condições históricas o pós-modernismo e as construções teóricas e políticas a ele relacionadas emergiram no contexto da produção científica de pesquisadores brasileiros?  Seria possível observar uma relação orgânica entre essa produção e o contexto de seu aparecimento ou perceber interesses e necessidades como seus determinantes? Essas questões “situantes”, longe de auxiliarem a delimitação do problema, provocam a busca pelos principais argumentos e críticas, com apoio teórico inicial de autores seminais, para ampliar nossa compreensão em direção às respostas específicas dos pesquisadores em foco. Propostas as questões, com esta comunicação não ambicionamos discutir todas as expressões da polêmica gerada pelo impacto dos conceitos relativos à condição pós-moderna para a área da CI no Brasil. Tampouco procuramos esgotar as possibilidades bibliográficas a respeito das suas implicações para a área, embora sejam vastas e possam ser consideradas diante da prolixidade e amplitude de temas abrangidos, origens teóricas, ideológicas e correntes de pensamentos de áreas diversas. Ainda que implícita, em certos casos, a relação estabelecida entre o significado adquirido pelos conceitos na literatura, representada em periódicos científicos e as posições ideológicas e políticas dos seus autores, vem adquirindo um sentido polêmico. Quando se pensava estarem esgotadas as possibilidades de discussão a respeito das contradições sugeridas entre a adoção dos termos e o significado para as posições dela decorrentes, o debate visibiliza-se na produção científica, talvez por ainda sustentar a ideia de superação de uma modernidade, incomoda ou perversa para alguns, pertinente e adequada para outros. Assim, buscamos definir o significado concreto adquirido pelos conceitos de pós-modernidade e pós-modernismo no contexto da produção científica periódica, publicada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci), no período de vigência da produção científica dos Bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na área de CI. A seleção dos pesquisadores resulta da valorização institucional de sua produção científica, em processo, embora compreendamos a natureza muito peculiar das instâncias de consagração científica, analisadas por Bourdieu (2011). Assim, ao selecionarmos a produção dos PQs para estudo do seu conteúdo, não estamos diante de uma realidade evidente e “notável”, mas contextualizada na CI no Brasil, entre 1990 e 2022, sujeita a análises e movimentos interpretativos realizados a partir de suas relações e determinações graças ao período suficientemente extenso para a compreensão do objeto.

Impõe-se, portanto, a compreensão de posições relativas a esse grupo distinto de pesquisadores e suas concepções sobre o fenômeno representado pelos termos do núcleo conceitual em foco. Ainda que implícita, a relação estabelecida entre o significado adquirido pelos conceitos na literatura representada em artigos de periódicos sugere posições ideológicas e políticas dos seus autores.

O texto está estruturado, além desta Introdução, em quatro outras seções: os Pressupostos Teóricos; a Trajetória metodológica; os Resultados e discussões e as Considerações finais.

 

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

 

            Considerando-se a possibilidade de reconstrução teórica sobre as transformações de ordem sociopolítica, econômica e tecnológica e suas inevitáveis consequências no meio acadêmico, podemos perceber alternativas para estudos, exames e reexames das questões relacionadas ao poder, à política e à vida em sociedade. E, sob uma visão diacrônica, podemos ampliar as discussões complexas, porém necessárias, como aquelas relacionadas à dimensão ideológica do uso dos termos para representar conceitos. Embora reconheçamos modos imprecisos de absorção do termo ideologia, representada pelo famoso encontro entre Eagleton e Bourdieu (1996), podemos compreender a persistência do primeiro autor no uso do termo “ideologia”, enquanto o segundo dá prioridade aos termos “dominação simbólica”, “potência simbólica” e “violência simbólica”. Ao definir ideologia como um conjunto de crenças motivadas por interesses sociais e políticos, apontando para a representação das formas de pensamento dominante em uma determinada sociedade, Eagleton (1996) nos chama a atenção sobre o envolvimento de algumas formulações com questões de cunho epistemológico, por sua dependência em relação ao conhecimento de mundo. Como crítico marxista de cultura, o autor reforça a ideia de que se efetivamente as ideologias não morreram, o estudo de seus mecanismos de funcionamento e suas consequências na vida em sociedade não pode ser negligenciado, sob qualquer pretexto, sob pena de estar sujeito a surpresas inesperadas. Aqui, analisadas as lições de seu sugestivo livro, As ilusões do pós-modernismo (Eagleton 1998),

Quanto à posição em relação ao pós-modernismo e à pós-modernidade, é possível considerar inicialmente duas categorias, como sugere Boaventura de Sousa Santos (1999), a respeito dos conceitos sugestivos das concepções de uma sociedade pós-moderna nos moldes de uma pós-modernidade de oposição, por um lado e de uma pós-modernidade de celebração, por outro.

Segundo Martins (2019), “Assim como há uma ciência das ideologias, no campo da sociologia do conhecimento, há também a muito pouco analisada ideologia de cada ciência e, por isso, a da ideologia na ciência”. Este argumento refere-se às limitações impostas pelas ideologias não científicas dos cientistas ao trabalho científico. Em nome de religião que eventualmente professe, um cientista pode cercear-se na pesquisa, suprimindo temas e problemas de investigação que contrariem suas convicções religiosas. Ou, em nome de determinada opção político-partidária, mesmo um cientista social, pode fazer danosas correções de interpretação para que não colida com suas ideias não científicas.

A curiosidade relativa à ideologia na CI, por exemplo, leva-nos a pensar na atribuição de uma natureza pós-moderna à CI como elemento motivador para compreender esse processo, recorrendo-se a uma análise diacrônica dessa manifestação. Definindo-se como objeto a produção da área, no Brasil, sobre a noção de pós-modernismo, pós-modernidade e conceitos derivados, justifica-se o recorte devido às condições especiais em que ocorreu a institucionalização da CI no país. Se as discussões sobre o tema envolvendo modernismo e pós-modernidade têm provocado amplo debate, especialmente em passado recente, quando alcançou grande projeção em discussões científicas, literárias e artísticas, nos meios acadêmicos, universitários ou culturais, na CI esses debates não parecem ter repercutido tão amplamente. A consideração crítica acerca dessas discussões, com vistas a ampliar nossa compreensão a propósito das relações explicitadas na literatura sobre a aceitação pacífica dessa “natureza” pós-moderna, exigiu inicialmente um esforço de apreensão conceitual, para definir os termos representativos dos conceitos aqui analisados. Assim, com o intuito de reconhecer as principais determinações presentes nas relações entre as condições e os movimento pós-modernos, ou do pós-modernismo, mobilizamos a atenção para compreender historicamente o debate sobre o pós-modernismo, localizando certas articulações entre o desenvolvimento teórico e o processo histórico subjacente.  Elementos fundantes do pensamento científico ocidental têm sido criticados por correntes “desconstrutivistas” para as quais os critérios de verdade, de coerência interna dos objetos, de causa e efeito, próprios da tradição cartesiana, são depreciados em prol de novos modos de conceber e produzir o conhecimento, bem como de conceber o mundo e a própria realidade cotidiana.

Pressupostos do debate sobre o pós-modernismo são encontrados na literatura da CI, com base na contribuição do antropólogo francês Edgar Morin, especialmente na obra O Método (Morin, 1987). Mais recentemente, um texto de Marques (2022) alerta para três armadilhas a evitar, como desafio ao se analisar o mundo contemporâneo: o idealismo, o determinismo tecnológico e o fetichismo, considera os princípios a “guiar o campo da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura”, imprescindíveis para que a CI se afaste do “pântano nebuloso do pós-modernismo”.

O fetichismo “muito popular no campo da Ciência da Informação, incorre também em outro erro correlato: tomar a tecnologia como um mito moderno, pois “[…] tanto atualiza a ideia de destino quanto funciona como explicação da gênese da uma nova sociedade” (Romero, 2007, p. 23).

Considerada a modernidade como resultado de um amplo processo histórico de transição do feudalismo para o capitalismo, o termo refere-se à totalidade das relações sociais existentes no modo de produção capitalista, cuja determinação fundamental seria, conforme Braga (2011), a produção de mercadorias, correspondendo à produção e expropriação de mais-valor: Sendo assim, nessa relação de produção e expropriação prevalece a exploração de uma classe social sobre outra e, consequentemente, a luta contra a exploração de classes na modernidade. (Braga, 2011)

Uma leitura preliminar mostra relativa concordância entre pesquisadores quanto à atribuição do “status” de pós-moderna à CI, especialmente considerada sua interdisciplinaridade, aliada ao pluralismo metodológico, às suas características e ao seu objeto, sobre o qual não há unanimidade.

Quanto a um dos autores mais representativo desse grupo entre os mais citados pelos pesquisadores no corpus analisado, Wersig (1993) considera a ciência pós-moderna na sua busca em resolver ou enfrentar problemas decorrentes das complexidades e contradições no atual contexto, não buscando um entendimento completo do funcionamento do mundo, razão de ser considerada um campo caótico e carente de estruturação. Portanto, a CI não poderia ser considerada uma disciplina clássica, mas como um protótipo de um novo tipo de ciência, ou seja, uma ciência pós-moderna (Wersig 1993).

Vale destacar o uso dos termos pós-moderno, pós-modernidade e pós-modernismo na literatura corrente da CI, com diversidade de significados e controvérsias quanto à sua pertinência. A pós-modernidade pode significar uma resposta pessoal a uma sociedade pós-moderna, as condições de uma sociedade que a tornam pós-moderna ou o estado de ser associado a uma sociedade pós-moderna, bem como a uma época histórica. Na maioria dos contextos, deve-se distinguir do pós-modernismo, ou seja, a adoção de traços ou filosofias pós-modernas nas artes, cultura e sociedade. De fato, hoje, perspectivas históricas sobre os desenvolvimentos da arte pós-moderna (pós-modernismo) e da sociedade pós-moderna (pós-modernidade) reduzem-se a dois termos genéricos para processos envolvidos em um relacionamento dialético contínuo, tal como o pós-pós-modernismo, cujo resultado é a cultura evoluindo do mundo contemporâneo.

“A palavra pós-modernismo refere-se em geral a uma forma de cultura contemporânea, enquanto o termo pós-modernidade alude a um período histórico específico. Pós-modernidade é uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a ideia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. Contrariando essas normas do iluminismo, vê o mundo como contingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível, um conjunto de culturas ou interpretações desunidas gerando um certo grau de ceticismo em relação à objetividade da verdade, da história e das normas, em relação às idiossincrasias e a coerência de identidades. Essa maneira de ver, como sustentam alguns, baseia-se em circunstâncias concretas: ela emerge da mudança histórica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo – para o mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços, finanças e informação triunfam sobre a produção tradicional, e a política clássica de classes cede terreno a uma série difusa de ‘políticas de identidade’ (Eagleton, 1998, p. 7).

“Pós-modernismo é um estilo de cultura que reflete um pouco essa mudança memorável por meio de uma arte superficial, descentrada, infundada, auto-reflexiva, divertida, caudatária, eclética e pluralista, que obscurece as fronteiras entre cultura “elitista” e a cultura “popular”, bem como entre a arte e a experiência cotidiana” (Eagleton, 1998, p. 7).

Por outro lado, ao olhar para a teoria a encontra magnífica (de fato, várias delas o são). Olha para a realidade e a encontra muito menos coerente e atraente. Fica enfim com a teoria, dando as costas para a realidade. Essa é a postura espontânea dos intelectuais, cuja prática está vinculada a atividades acadêmicas, nem sempre vinculadas à prática política.

A práxis em Marx “representa a interação entre consciência e atividade, configurando um ciclo teórico-prático em que a teoria é constantemente posta à prova na prática, e a reflexão sobre as contradições entre teoria e prática estimula novas teorias a serem colocadas em prática, fazendo desse movimento dialético o motor da própria história” (Bezerra, 2021, p. 6).

O conceito de pós-modernismo relacionado com o de ideologia, cuja repercussão já mereceu acalorado debate, especialmente a partir da obra de Jean-François Lyotard, A Condição Pós-moderna, publicada em 1979, tem sido objeto de múltiplas interpretações, segundo posições ideológicas divergentes. O relatório, assim o denomina Lyotard (1989, p. 13), é um “escrito de circunstância”, sobre as condições de produção do conhecimento nas sociedades desenvolvidas, como resposta de Lyotard a um convite formulado pelo Conselho das Universidades, junto ao governo de Quebec. Passou a ser referência obrigatória para o debate em torno do pós-modernismo e da pós-modernidade, diante das mudanças decisivas à própria "condição humana". Segundo Lyotard, a pós-modernidade, fruto do advento da sociedade pós-industrial define uma sociedade constituída como um grande conjunto de jogos de linguagem, diversos e incomensuráveis entre si. Em suas palavras, o termo pós-moderno "[...] designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX." (Lyotard, 1989, p. 11), que legitimariam os metadiscursos característicos da ciência moderna (Lyotard, 2004, p. XVI, p.69). As interpretações possíveis fazem sentido, além disso, quando relacionadas aos fenômenos culturais e estéticos.

Na tentativa de encontrar o momento de cisão entre o moderno e o pós-moderno, Michael Köhler (1989), em seu artigo “Pós-modernismo: um panorama histórico-conceptual”, propõe três hipóteses. Na primeira, o modernismo teria abandonado suas características de inovação formal e objetividade com a segunda guerra, para então retomar, sob uma nova acepção, o verso métrico e o realismo. Outra hipótese sugere que os primeiros traços da pós-modernidade tenham sido prenunciados nos anos 50 do século XX, embora o surgimento de uma nova sensibilidade só tenha se efetivado na década de 1960. Segundo Köhler (1989), no entanto, se a ideia de modernismo for concebida num sentido mais amplo, abrangendo tanto o “moderno clássico" (p. 21) quanto as experiências alternativas, não há como considerar que o pós-moderno nasce nos anos 60, os quais apenas concretizam o chamado "...primeiro moderno", (Köhler, 1989), ou antes radicalizam algumas de suas propostas.

Linhas de pesquisa e vertentes intelectuais, em qualquer campo da produção e comunicação científica, são categorias privilegiadas para investigar a origem, a evolução, a disseminação e a permanência de autores, áreas, domínios do conhecimento e influências intelectuais, em prol da construção da memória científica. Essa vertente intelectual dos estudos genealógicos, voltada a correntes teóricas ou metodológicas, recebidas, transmitidas e oriundas das relações de pesquisadores com autores fundantes ou seminais, pelos quais são influenciados, apresenta especificidades na literatura das áreas científicas. Revela, portanto, tipos de relação peculiares, concretizadas na trajetória do pesquisador ao selecionar e citar, direta ou indiretamente, a produção a sua disposição.

Mas, por outro lado, o estudo das produções de pesquisadores, distintas por suas correntes de influências inclui, também, aqueles por eles influenciados, refletindo peculiares posições epistemológicas e ideológicas, assim como opções teórico metodológicas na linhagem observada. Assim, as divergências, as contradições, mais ou menos inconciliáveis, configuram-se ocultando ou naturalizando essas posições.

Em artigo de Marques (2022), sua contribuição à discussão sobre o tema apresenta um contraponto a um dos argumentos centrais da vaga pós-modernista, segundo o qual, na sociedade contemporânea, a lei do valor revelada por Karl Marx teria perdido seu caráter explicativo diante da expansão da produção de bens intangíveis como os conteúdos audiovisuais digitais, ebooks e programas de computadores. Nesse sentido, o artigo tem como objetivo analisar como Marx incorporou em seu arcabouço teórico as dinâmicas socioeconômicas envolvidas na produção imaterial.

 

3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

 

A trajetória da pesquisa inicia-se com o levantamento da literatura científica em Ciência da Informação, produzida por pesquisadores da área, bolsistas do CNPq, sobre os conceitos representados pelos termos pós-modernidade e pós-modernismo e seus derivados, pós-moderna e pós-moderno. A estratégia de busca na base Brapci, utiliza-se a expressão pós modern* em todos os campos, entre os anos de 1972 e 2022.

Com os resultados do total de artigos mapeados, foram selecionados apenas aqueles publicados pelos pesquisadores da área de CI do CNPq, históricos ou com bolsas vigentes, conforme o Quadro 1, construído pelo Grupo Educação, Pesquisa e Produção Científica (E2PC), a partir dos registros encontrados nas teses de Bruno Alves (2018) e de Willian Melo (2020), na literatura científica, em documentos e no site do CNPq. O corpus de pesquisa constituiu-se dos artigos selecionados, os quais foram submetidos a um procedimento analítico de seu conteúdo. Levou-se em conta a concepção dos autores sobre os conceitos relacionados à pós-modernidade e ao pós-modernismo e seus fundamentos teóricos, assim como as posições teóricas e ideológicas perceptíveis.  Distinguem-se quatro fases relativas aos procedimentos:

a) identificação dos PQ-CNPq da área de CI, no mês de agosto de 2023, utilizando-se a página eletrônica de bolsas e auxílios vigentes do CNPq para a complementação do quadro histórico representativo do universo composto por 123 pesquisadores dessa área com bolsas vigentes e históricas, nas categorias PQ 1 e PQ 2;

b) coleta de dados na Brapci, no dia 02 de agosto de 2023, com as seguintes expressões de busca nos idiomas português, espanhol e inglês: “pos-modernismo”, “pos-moderno”, “modernismo”, “moderno”, “moderna”, “pos-modernidade”, “pos-modern*”, “pos-modern”, “modern”, “modern*”, “posmoderno", “posmodernidad”, “posmodernismo", “postmodernity”, “postmodernism”, “modernism”, “post-modernity” e “post-modernism”. Os termos em português não foram pesquisados com acentos, pois isto limitaria os resultados. Ao analisar os metadados de títulos, palavras-chave e resumo, constatou-se que estes temas não estavam acentuados. O recorte temporal foi entre os anos de 1972, ano inicial de cobertura da base Brapci, a 2022, para identificar os artigos resultantes da estratégia de busca em todos os campos disponíveis (incluindo autores, título, palavras-chave, resumo e referências);

c) seleção dos artigos publicados pelos PQs para a construção de gráficos representativos dessa produção;

d) análise dos artigos: foram lidos os resumos dos artigos publicados cuja autoria fosse de pesquisadores PQ e os trechos em que foram mencionados os termos e sua contextualização, a fim de identificar seus fundamentos teóricos e ideológicos e como essa produção se caracteriza.

A delimitação do corpus constituído pelos artigos dos pesquisadores, como ocorre com qualquer tipo de recorte ou amostra de um universo dado, embora tenha possibilitado o trabalho de pesquisa e organização dos dados, implicou a ausência de outras modalidades de comunicação científica ou mesmo de artigos não indexados pela Brapci, capazes de iluminar a discussão, de modo especial sobre a relação da CI com as questões levantadas nos textos sobre o pós-modernismo e a pós-modernidade. O reconhecimento desses artigos foi favorecido graças à análise de citações e autocitações e seu efeito “bola de neve”. Após o levantamento dos trabalhos científicos, os seguintes metadados foram extraídos e organizados com base nos seus atributos, em planilhas eletrônicas e softwares de análise de redes: autores da publicação, título da publicação, título do periódico, ano em que o trabalho foi publicado, palavras-chave utilizadas nos trabalhos publicados e autores referenciados pelos autores mais produtivos. Os resultados das análises são representados em ilustrações de grafos, gráficos e tabelas.

 

4 RESULTADOS

 

O total dos resultados da pesquisa nos idiomas português, espanhol e inglês foi de 7.937 registros. No entanto, foi percebido que uma elevada quantidade destes registros inicialmente recuperados não se enquadraria na perspectiva de análise. Por exemplo, foi observado que muitos dos trabalhos que continham os termos “moderno” e “moderna”, tratavam de temas relacionados à evolução tecnológica, com ênfase em modernização de espaços como biblioteca, museus, arquivos, cidades inteligentes, cultura organizacional, sociedade moderna, perfil profissional de bibliotecários, arquivistas, museólogos e a alfabetização moderna.

Sendo assim, novos filtros foram aplicados nos dados recuperados. Neste conjunto, foram eliminados os documentos duplicados e aplicados outros filtros ou expressões estratégicas de busca na planilha eletrônica dos dados como, por exemplo, “s-modern” para reforçar a identificação dos documentos potencialmente relevantes para a pesquisa. Desta forma, também foram aplicadas as seguintes expressões de busca nos campos de Título, Palavras-chave e Resumo: a) “pos-modernismo”; b) “pos-moderno”; c) “pos-modernidade”, d) “pos-modernista” e e) pós-moderna.

Para complemento de constatação dos dados, estes mesmos procedimentos também foram aplicados na Base Pesquisadores do CNPq em Ciência da Informação (BPQ-CI), desenvolvida a partir de 2013, como construção acadêmica institucional, para subsidiar o projeto “Genealogia intelectual dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Ciência da Informação no Brasil”, constituindo um corpus referente à produção científica em artigos de periódicos, dos pesquisadores PQ-CI, identificados na Plataforma Lattes e com apoio da Base Brapci.

Após este novo processo de refinamento, foram identificados 131 documentos que tratavam destes temas, constituindo assim o corpus final. A Figura 1 ilustra a distribuição temporal destas produções científicas.

 

 

 

 

Figura 1 – Distribuição temporal

Fonte: a autora (2023)

 

            Conforme Figura 1, a primeira produção sobre o tema foi identificada em 1987 e a frequência se manteve baixa até o final do século XX, variando entre um ou dois artigos por ano. No novo século XXI, ampliado o horizonte de leitura, ocorreu um aumento mais notável na produção sobre o tema, especialmente no final da primeira década. A partir da segunda década, a elevação desta frequência se torna mais perceptível, principalmente no ano 2012 com um pico de 13 artigos publicados. Nos últimos dez anos, a produção científica sobre o tema se encontra oscilada, mas com frequência ainda expressiva, principalmente nos anos 2017 e 2018.

            Foram identificados 173 autores referente ao corpus. Os autores mais produtivos na área da Ciência da Informação que publicaram sobre os temas pós-modernidade, pós-modernismo, pós-moderno e pós-moderna, estão representados na Figura 2.

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2 – Autores mais produtivos

Fonte: a autora (2023)

 

A seleção dos autores mais produtivos na Figura 2 foi apontada pelos que apresentam o mínimo de duas publicações no recorte temporal, resultando em 20 autores. Deste recorte ilustrado na Figura 2, seis também fazem parte do quadro de pesquisadores PQ em CI: Silvana Drumond Monteiro (n=7), Marilda Lopes Ginez de Lara (n=3), Marta Lígia Pomim Valentim (n=3), Carlos Cândido de Almeida (n=2), Mariângela Spotti Lopes Fujita (n=2) e Gustavo Silva Saldanha (n=2). Nesta Figura 2, ficam ressaltadas as duas autorias com mais publicações. A autoria mais produtiva encontrada foi a pesquisadora Silvana Drumond Monteiro, docente do departamento e da pós-graduação em CI, na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Silvana também foi bolsista PQ 2 de forma ininterrupta no período entre os anos 2006 e 2021. Já a segunda autoria mais produtiva encontrada foi a pesquisadora Jessica Câmara Siqueira (n=5), atualmente identificada como uma profissional autônoma.

Até o mês de outubro de 2023, o quadro de pesquisadores que recebem ou já receberam Bolsas de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq, é composto por 123 pesquisadores, com início em 1990, enquanto a última bolsa atribuída tem previsão de duração até o ano 2027. No quadro 1 pode-se observar a composição dos PQ’s desde a década de 1990 até 2027. Dentre estes, os que publicaram trabalhos com o tema pesquisado na Brapci e após o refinamento dos artigos selecionados.  Esses pesquisadores estão listados no Quadro 1.

 

 

Quadro 1 – Pesquisadores PQs em CI do corpus sobre o tema

Pesquisador

Nível PQ1

Nivel PQ2

ALMEIDA, Carlos Cândido de.

X

PQ2 (2016-2025)

ALMEIDA, Marco Antônio de.

X

PQ2 (2012-2025)

ARAÚJO, Carlos Alberto Avila.

X

PQ2 (2019-2025)

BEZERRA, Arthur Coelho.

X

PQ2 (2020-2026

BRASCHER, Marisa.

X

PQ2 (2011-2020)

CAFÉ, Ligia Maria Arruda.

X

PQ2 (2017-2020)

CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman.

X

PQ2 (2023-2026)

CRIPPA, Giulia.

X

PQ2 (2018-2021)

DODEBEI, VERA Lucia.

X

PQ2 (2006-2009)

PQ2 (2012-2024)

FREIRE. Gustavo Henrique de Araújo.

X

PQ2 (2020-2023)

FUJITA. Mariângela Spotti Lopes.

PQ1C (2009-2016)

PQ1B (2017 - 2025)

PQ2B (1997 - 2002)

PQ2 (2003 - 2008)

GRACIOSO, Luciana de Souza.

X

PQ2 (2022-2025)

GUIMARÃES, José Augusto Chaves.

PQ1C (2004-2011)

PQ1B (2012-2019)

PQ1A (2020-2025)

PQ2A (1999-2003)

KOBASHI. Nair Yumiko.

PQ1D (2013-2021)

 

PQ2B (2000-2002)

PQ2 (2007-2012)

PQ2 (2022-2025)

LARA, Marilda Lopes Ginez de.

PQ1D (2006-2009)

PQ1C (2010-2012)

PQ1B (2013-2022)

PQ2C (2002-2003)

PQ2 (2004-2005)

MARAÑON, Eduardo Ismael.

X

PQ2 (2008-2017)

MARQUES, Rodrigo Moreno

X

PQ2 (2023-2026)

MARTELETO, Regina Maria.

PQ1B (2007-2009)

PQ1A (2010-2025)

PQ2A (1994-2006)

MONTEIRO, Silvana Drumond.

X

PQ2 (2007-2021)

MORAES, João Batista Ernesto de Moraes.

X

PQ2 (2009-2024)

MUELLER, Suzana.

PQ1A (1995-2001)

PQ1D (2005-2007)

PQ1C (2008-2010)

PQ1A (2011-2016)

X

OLIVEIRA, Marlene.

X

PQ2 (2005-2011)

ORRICO, Evelyn Goyannes Dill.

X

PQ2 (2004-2022)

PINHEIRO, Lena Vania.

PQ1C (2002-2008)

PQ1B (2009-2019)

PQ1A (2020-2025)

PQ2A (1998-2001)

SALDANHA, Gustavo Silva.

X

PQ2 (2016-2025)

SCHNEIDER, Marco André Feldman.

X

PQ2 (2018-2024)

SMIT, Johanna Wilhelmina.

X

PQ 2A (2000-2002)

SUAIDEN, Emir José.

PQ1C (2002-2011)

PQ1B (2012-2024)

PQ2A (1996-2001)

TÁLAMO. Maria de Fátima Gonçalves Moreira.

PQ1D (2013 –2020)

PQ2A (1993-2002)

PQ2 (2007-2012)

 

VALENTIM, Marta Lígia Pomim.

PQ1D (2019-2023)

PQ2C (2002-2003)

PQ2 (2004-20018)

 

VARVAKIS, Gregório.

X

PQ2 (2020-2026)

Fonte: a autora (2023)

 

            Dos 183 autores identificados no corpus, 31 estão inseridos no universo de pesquisadores PQ em CI, sendo alguns ainda vigentes e outros que já foram bolsistas PQ em anos anteriores. Estes pesquisadores produziram 42 artigos sobre os temas buscados na Brapci e estes trabalhos foram analisados individualmente.

            As pesquisas comunicadas pelos PQs foram publicadas nos seguintes periódicos científicos, conforme Tabela 1.

 

 

 

 

 

Tabela 1 – Periódicos dos artigos publicados pelos PQs

PERIÓDICO

QUANT.

Perspectivas em Ciencia da Informacao

6

Informacao & Informacao

5

Informacao & Sociedade: Estudos

4

Ciencia da Informacao

3

Datagramazero

3

Brazilian Journal of Information Science

2

Liinc em Revista

2

Logeion: Filosofia da Informacao

2

Transinformacao

2

Agora

1

Biblios

1

Cajur

1

Complexitas: Revista de Filosofia Tematica

1

Em Questao

1

Encontros Bibli

1

Fronteiras da Representacao do Conhecimento

1

Ibersid

1

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentacao

1

Revista Brasileira de Educacao em Ciencia da Informacao

1

Revista Ibero-Americana de Ciencia da Informacao

1

Scire

1

Tendencias da Pesquisa Brasileira em Ciencia da Informacao

1

TOTAL

42

Fonte: elaborado pela autora (2023)

 

Conforme Tabela 1, se destacam periódicos tradicionais e reconhecidos no cenário brasileiro da pesquisa em CI no Brasil. Foi realizada a análise das citações de cada um dos 42 artigos dos PQs. As referências contidas nos artigos publicados pelos pesquisadores PQs foram coletadas individualmente, dispostas em ferramenta de edição textual para correção e padronização ortográfica. Após esta unificação, os dados foram inseridos em planilha eletrônica. Foram aferidas as frequências de citação. Na realização das aferições, identificou-se 1.620 autores. A Figura 3, representa os 20 autores mais citados.

 

 

 

 

 

 

Figura 3 – Autores mais citados

Fonte: elaborado pela autora (2023)

           

Karl Marx é o autor mais citado nesta análise, com 26 ocorrências. A pesquisadora PQ Maria de Fátima Gonçalves Moreira Tálamo (n=23) é a segunda que mais aparece nas referências dos artigos pesquisados.

Também foi realizada a análise das palavras-chaves de cada um dos 42 artigos dos PQs, para verificar os assuntos mais pesquisados e estabelecer as correlações entre estes. Para tanto, as palavras-chaves contidas nos artigos publicados pelos pesquisadores PQ’s foram coletadas individualmente, dispostas em planilha eletrônica para correção e padronização ortográfica, ranqueadas e inseridas em matriz de análise.

Ao todo, foram identificadas 118 palavras-chaves correspondentes aos 42 artigos, totalizando 164 quanto a frequência absoluta. Foram selecionadas 18 palavras-chaves como sendo as mais produtivas, com frequência mínima de duas vezes como ponto de corte. Desta forma, verificou-se que a palavra-chave mais utilizada foi “Ciência da Informação” (n=19). Apesar de ser uma expressão genérica, considerando a área de conhecimento estudada nesta pesquisa, foi possível observar que a discussão sobre a atuação do próprio campo tem sido muito pertinente para as reflexões sobre a pós-modernidade e a ciência pós-moderna. Portanto, o uso desta palavra-chave se torna muito representativo.

As seguintes palavras-chaves no topo das mais utilizadas foram: “Pós-Modernidade”, (n=6), “Informação” (n=4), “Interdisciplinaridade” (n=4), “Ciberespaço” (n=3), “Documento” (n=3) e “Organização do Conhecimento” (n=3).

Logo mais, as outras palavras-chaves também verificadas, todas elas utilizadas duas vezes, foram: “Epistemologias Feministas”, “Arquivistas”, “Arquivo”, “Arquivologia Pós-Custodial”, “Ciência Moderna”, “Ciência Pós-moderna”, “Conhecimento”, “Modernidade”, “Pós-moderno”, “Web Semântica” e “Tecnologias de Informação e Comunicação”.

Estas palavras-chaves foram submetidas a uma matriz de correlação nos softwares Ucinet e Netdraw. O resultado desta análise pode ser visualizado na Figura 3, que apresenta um grafo de conexões entre os termos.

Figura 3 – Correlação entre os termos mais pesquisados pelos PQs

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

 

Na Figura 3, O tamanho dos nós na rede ressalta os destaques que cada termo possui nestas correlações, além das espessuras nas linhas que também representam o grau das conexões entre os nós. Apesar da palavra-chave “Web Semântica” ter sido identificada duas vezes, ela não se correlacionou com nenhuma das outras palavras-chaves no recorte das mais frequentes e por isso não aparece nesta ilustração.

Na Figura 3, é possível observar que a “Ciência da Informação” é o assunto que mais se conecta diretamente com outros, senda estas outras de importância para a área. Em termos de frequência, a maior correlação foi entre “Ciência da Informação & Interdisciplinaridade” (n=3), mas esta interdisciplinaridade aparentemente foi discutida no âmbito do assunto sobre “Arquivo”, entre nem isso se mostra uma palavra-chave tão protagonista no contexto da rede.

Os clusters mais representativos foram do agrupamento entre a “Ciência da Informação” com os nós de “Ciência Moderna”, “Ciência Pós-moderna”, “Documento” e “Organização do Conhecimento”, bem como o agrupamento entre a “Pós-modernidade”, “Modernidade”, “Conhecimento” e “Informação”.

Como resultados de uma análise de conteúdo de 42 artigos, dos quais os PQs foram autores ou coautores, observamos a acolhida dos fenômenos denominados pós-modernidade e pós-modernismo na literatura científica produzida pelos pesquisadores PQ do CNPq, procurando delinear as influências e as relações semânticas incorporadas ao núcleo conceitual expresso pelos termos derivados e representativos da transição de uma condição moderna para outra, a pós-moderna.

As posições dos pesquisadores PQs em relação à condição pós-moderna traduzem prioritariamente uma postura crítica à ciência moderna, suas características, objetivos e dimensões, assim como de sua relação com a sociedade. De forma expressiva, embora preliminar, essa crítica adquire contornos e contradições específicos, prenunciando a relação do tema com a Ciência da Informação.

Consideramos, assim, os sentidos emprestados aos termos na CI, sendo possível destacar cinco categorias abrangentes para representá-los em suas relações com: a dimensão epistemológica; a dimensão social; a dimensão tecnológica; as relações com a CI e as relações com a Arquivologia.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 A atribuição de sentidos dada aos termos pós-moderno e pós-modernismo e sua utilização como qualificativo é sempre uma resposta intencional diante da condição pós-moderna percebida pelos autores. Ao buscarmos realizar uma consideração crítica sobre as contradições relativas à condição pós-moderna, tentamos ampliar nossa compreensão a propósito do capitalismo contemporâneo e, nesse sentido, por um lado, foi realizado um esforço de apreensão conceitual, com o intuito de relacionar as principais determinações ideológicas do pós-modernismo com as posições dos autores em foco. Foi possível delinear, também, um panorama capaz de evidenciar articulações entre o desenvolvimento teórico das forças perceptíveis no processo histórico.

A percepção do termo pós-moderno faz-se presente como superação do moderno, ou da sua representação como passado, não mais representativo da concepção relativa ao suposto   novo “paradigma”. Essa argumentação perpassa a literatura com maior ou menor convicção, traduzindo, por exemplo, a ideia de Smit, Tálamo e Kobashi (2004) sobre a passagem da disciplinarização para a interdisciplinaridade, de modo equivalente à passagem da modernidade para a pós-modernidade. Em decorrência, a CI foi se constituindo sem uma trajetória disciplinar autônoma, mas condicionada aos campos estruturantes, com uma diversidade de teorias e pontos de vista. Embora não haja total concordância, devido à diversidade de proposições e premissas, de eventuais incompatibilidades e contradições, há pontos de consenso pautados em argumentos sobre a atribuição do status de ciência pós-moderna à CI.

Assim, se destacam duas posições mais evidentes. A predominante associa à condição da CI como ciência pós-moderna, à arquivística pós-moderna, ao paradigma pós-custodial, à sociedade pós-moderna e a considerações genéricas sobre o saber e a informação como mercadorias básicas da pós-modernidade. A posição mais crítica fundamenta-se em autores como Terry Eagleton, ao denunciar as ilusões do pós-modernismo e David Harvey, cujos principais argumentos relacionam a ascensão de formas culturais pós-modernas e a emergência de modos flexíveis de acumulação ao ciclo de compressão do tempo-espaço no capitalismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

ALBERNAZ, R. O.; REIS, M. G. O processo de patrimonialização e a cibercultura: mobilização no ciberespaço através de grupos na rede social Facebook. Comunicação & Informação, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 21-35, 2014. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/65596. Acesso em: 12 ago. 2023.

 

ALVES, B. H. A Sociologia de Pierre Bourdieu e os pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Ciência da Informação. 2018. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Marília, 2018. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/e5d0256e-8c0f-409e-94d6-0a3e99d0819f/content. Acesso em: 25 out. 2023.

 

BARTHES, R. A morte do autor. In: BARTHES, R. O rumor da língua. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 57-64.

 

BEZERRA, A. C. From critical information literacy to a critical theory of information. The International Review of Information Ethics, Edmonton, v. 30, n. 1, 2021. Disponível em: https://informationethics.ca/index.php/irie/article/view/411. Acesso em: 29 oct. 2023.

 

BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2011.

 

BOURDIEU, P.; EAGLETON, T. A doxa e a vida cotidiana: uma entrevista. In: ZIZEK, S. (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 265-278.

 

BRAGA, L. R. A. As ilusões do pensamento pós-moderno segundo Terry Eagleton. Estácio de Sá Ciências Humanas, [S. l.], v. 2, p. 155-169, 2011.

 

EAGLETON, T. As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro Zahar, 1998.

 

EAGLETON, T. A ideologia e suas vicissitudes no marxismo ocidental. In: ZIZEK, S. (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 179-226.

 

HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. 352 p.

 

KÕHLER, Michael. Crítica: estética da pós-modernidade. Lisboa: Editorial Teorema,

1989. 124p. Pós-modernismo: um panorama histórico, p. 2 

 

LYOTARD, J. F. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. 135p.

 

LYOTARD, J-F. Moralidades pós-modernas. Campinas: Papirus, 1996. 222p.

 

MARQUES, Rodrigo Moreno. Fetichismo da informação e da cultura: contribuições à crítica da ciência da informação. In: SILVEIRA, F. J. N. da; FROTA, M. G. da C; MARQUES, R. M. (orgs). Informação, mediação e cultura: teorias, métodos e pesquisas. Belo  Horizonte, MG: Letramento: PPGCI, 2022.

 

MARQUES, Rodrigo Moreno. Intelecto geral: origem e superação de um equívoco de Karl Marx. Trabalho & Educação, v. 31, n.1| p. 47-67, jan-abr., 2022.

 

MARTINS, José de Souza. Ideologia na ciência no Brasil. Valor Econômico, 15 de março de 2019. Disponível em: https://www.valor.com.br/cultura/6161277/jose-de-souza-martins-ideologia-na-ciencia-no-brasil Acesso em: 11/09/2023.

 

MARX, K. Elementos fundamentales para la crítica de la Economia Política (borrador). V. I. Argentina: Siglo Veintiuno, 1973. 500p.

 

MARX, K. Contribuição à crítica da Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 1977. 351 p.

 

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural: Livro I, Tomo I, 1996. (Os Economistas). 496 p.

 

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro II. São Paulo: Victor Civita, 1984. (Os Economistas). 365 p.

 

MARX, K. Capítulo sexto (inédito): manuscritos de 1863-1867, O Capital: resultados do processo de produção imediato. São Paulo: Boitempo, 2022.

 

MELO, Willian Lima. O processo de institucionalização científica na Ciência da Informação no Brasil: um campo disciplinar sob a perspectiva transversalista. Recife, 2020.

264 f.

 

ORTEGA, C. D. Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 5, n. 5, out. 2004. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out04/Art_03.htm>. Acesso em: 21 jun. 2023.

 

ROMERO, Daniel. Marx e a técnica: um estudo dos manuscritos de 1861-1863. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

 

SADER, E. A crítica crítica (crítica, crítica, crítica). Blog da Boitempo. São Paulo, 14 jan. 2015. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2015/01/14/a-critica-critica-critica-critica-critica/. Acesso em: 24 out. 2023.

 

SARACEVIC, T. Educação em ciência da informação na década de 1980. Ciência da Informação, v. 7, n. 1, 1978. DOI: 10.18225/ci.inf..v7i1.120 Acesso em: 04 set. 2023.

 

WHITLEY, R. Cognitive and social institutionalization of scientific specialities and research áreas. In: WHITLEY, R. (Ed.). Social processes of scientific development. London: Routledge and Kegan, 1974. p. 69-95.