FOTOGRAFIAS COMO ARQUIVOS E OBJETOS DE MEDIAÇÃO CULTURAL

práticas mediadoras e memória no programa entre comunidades

 

Philippe Peterle Modolo[1]

Universidade Federal do Espírito Santo

philippe.modolo@edu.ufes.br

Taiguara Villela Aldabalde[2]

Universidade Federal do Espírito Santo

taiguara.aldabalde@ufes.br

Rosa da Penha Ferreira da Costa[3]

Universidade Federal do Espírito Santo

rosa.costa@ufes.br

Meri Nádia Marques Gerlin[4]

Universidade Federal do Espírito Santo

meri.gerlin@ufes.br

______________________________

Resumo

Objetiva compreender elementos constituintes das fotografias como documentos arquivísticos de valor secundário, isso a partir da análise de práticas documentárias e culturais que incidem sobre produção do arquivo no âmbito do programa extensionista ´Entre Comunidades´. Os procedimentos metodológicos adotados correspondem à pesquisa bibliográfica, documental e arquivística para atender ao objetivo. Evidencia-se que os valores arquivísticos são elementos constituintes das fotografias como documentos arquivísticos de valor secundário, associando-os às práticas documentárias, de ativação da memória e de mediação cultural. Concluiu-se que a fotografia possui valores culturais, notadamente valor estético ou formal, sendo objeto de mediação cultural.

Palavras-chave: fotografias; documentos arquivísticos; mediação cultural; comunidades tradicionais; extensão universitária.

 

 

 

 

 

 

 

PHOTOGRAPHS AS ARCHIVES AND OBJECTS OF CULTURAL MEDIATION

mediating practices and memory in the entre comunidades program

Abstract

The aim is to understand constituent elements of photographs as archival documents of secondary value, based on the analysis of documentary and cultural practices that focus on the production of the archival fond within the scope of the extension program 'Entre Comunidades’. The methodological procedures adopted correspond to bibliographical, documentary and archival research to meet the objective. It is evident that archival values are constituent elements of photographs as archival documents of secondary value, associating them with documentary practices, memory activation and cultural mediation. It was concluded that photography has cultural values, notably aesthetic or formal value, being the object of cultural mediation.

Keywords: photographs; archival documents; cultural mediation; traditional communities; university extension.

LAS FOTOGRAFÍAS COMO ARCHIVOS Y OBJETOS DE MEDIACIÓN CULTURAL

prácticas mediadoras y memoria en el programa entre comunidades.

Resumen

Pretende comprender los elementos constitutivos de las fotografías como documentos de archivo de valor secundario, a partir del análisis de las prácticas documentales y culturales que inciden en la producción de archivos en el ámbito del programa de extensión Entre Comunidades. Los procedimientos metodológicos adoptados corresponden a investigaciones bibliográficas, documentales y archivísticas para cumplir con el objetivo. Es evidente que los valores de archivo son elementos constitutivos de las fotografías como documentos de archivo de valor secundario, asociándolos a prácticas documentales, activación de la memoria y mediación cultural. Se concluyó que la fotografía tiene valores culturales, notablemente estéticos o formales, al ser objeto de mediación cultural.

Palabras clave: fotografías; documentos de archivo; mediación cultural; comunidades tradicionales; extensión Universitaria.

 

1 INTRODUÇÃO

O Programa Entre Comunidades (PEC), é uma ação de extensão formada por três projetos, criada em 2005, na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, como uma proposta de fortalecimento da relação da UFES com as comunidades, os movimentos sociais e culturais.

Nas quase duas décadas de trabalho, os agentes institucionais produziram um arquivo, que decorre de práticas desenvolvidas, com destaque para os documentos de gênero iconográfico, que representam o maior número de itens. Portanto, a delimitação do universo da pesquisa, acha-se nas fotografias e nas práticas do Programa Entre Comunidades.

O estudo insere-se a partir do pensamento sobre a fotografia como documento no contexto de sua produção, atribuindo-lhe o caráter de fonte documental e resgatando sua importância para o trabalho de reconstrução do passado, pois as práticas documentárias institucionalizadas são produtoras e validadoras de documentos (Frohmann, 2004).

Ao observar-se a temática tratada não se encontra na literatura científica dentre as bases de dados pesquisadas, isto é, Brapci e BDTD IBICT, onde figuram a maior concentração de trabalhos em Ciência da Informação no país. Acha-se na base do IBICT 89 resultados de pesquisas nas áreas de Educação, Serviço Social, Sociologia, Comunicação, Psicologia, Arquitetura, História, Antropologia, Geografia, Semiótica, Gestão do Patrimônio Cultural, Artes Visuais, Tecnologia e Sociedade, Arte e Cultura Visual, registrando dois resultados em Ciência da Informação: Rodrigues (2011) e Sá (2016).

O enfoque do primeiro é informacional, centrado na mediação e recuperação da informação no ambiente digital, considerando o que chama de “mediador cultural”. Já na abordagem da segunda, busca-se discutir a mediação cultural como forma de conhecer. Aliás, consta na Brapci, o trabalho de Sá (2020) que aborda a fotografia da Casa de Jorge Amado como dispositivo mediador da informação com enfoque no suporte e como elemento posto em uso em na prática mediação “remontagem verbal”. Neste sentido, vale destacar que aqui, a fotografia será apresentada a partir do gênero e não do suporte. Considerando isso, o estudo acha justificativa, pois contribui para temática inédita.

Dado isso, objetiva-se estudar os elementos constituintes da fotografia como documento arquivístico de valor secundário nas práticas documentárias e culturais do programa extensionista.

Assim, propõe-se, portanto, a análise dos documentos fotográficos sob três categorias principais quanto ao seu uso: enquanto documento arquivístico, para comprovação das atividades institucionais; enquanto recurso para preservação da memória e das práticas culturais – na perspectiva de que "práticas culturais são formas de mediar a cultura, pois representam um processo de construção da sociabilidade que são assumidas por sujeitos singulares em um espaço cultural." (Lamizet (1999) apud Aldabalde (2015, p. 67) –; e por fim, a fotografia como artefato para as práticas de mediação cultural, esta última, entendida como ação que "possui o objetivo de aproximar os artefatos culturais de seus públicos" (Aldabalde, 2015, p. 65).

Para tanto, partiu-se de um levantamento de literatura nas principais bases de dados da Ciência da Informação com palavras-chave do tema abordado. Em seguida, procedeu-se com a pesquisa documental, e arquivística[5]. Desta forma, articulou-se os dados das referências consultadas, a fim de fornecer contribuições ao campo e pertinentes à realidade investigada.

 

2 ENTENDER FOTOGRAFIA COMO ARQUIVO A PARTIR DAS PRÁTICAS DOCUMENTADAS E VALORES

Uma vez que Peralva (2019) aponta que o sistema de ação organizador de relações estabelecidas entre o funcionamento da sociedade é o nível mais abrangente ao passo que no nível mais básico, encontra-se o sistema organizacional, onde as práticas sociais são manifestadas. Portanto, o nível de análise do Programa Entre Comunidades acha-se na organização Universidade Federal do Espírito Santo, sendo assim práticas que demandam, segundo a autora, por recursos materiais e simbólicos mobilizados em nível intermediário no sistema institucional, que por sua vez é lugar da produção de decisões e de normas.

Neste seguimento, os arquivos são lugares de práticas sociais. Para Bellotto (2007), são justificados pelas atividades que incidem sobre sua constituição orgânica cumulativa como documentos acumulados, produzidos e recebidos no exercício destas atividades, e, arquivos permanentes servem de prova ou testemunho para efeitos sociais, científicos e culturais para além da razão administrativa primária que lhe deu origem (Bellotto, 2007, p.161), logo, cabe indagar sobre: O que seriam tais efeitos culturais?

Em termos práticos, a utilização de arquivos da Ufes, particularmente em exposições de documentos fotográficos, principalmente do Programa Entre Comunidades, criado em 2005, em práticas de mediação cultural em uma exposição, vai ao encontro exemplificar um efeito ou resultância cultural dos documentos por seu uso qualificado.

Levando em conta a mediação cultural em relação aos seus fins, conforme indica Fontan (2007) apud Aldabalde (2015), identifica-se este resultado cultural com a finalidade identitária, pois o Programa Entre Comunidades utiliza registros fotográficos pela lógica de documentação da culturas populares por visitar comunidades, articular encontros com lideranças e registrar expressões culturais por meio da fotografia com base territorial abordando a dimensão cultural da Comunidades Tradicionais Quilombolas com manifestação de bandas de Congo capixaba dos municípios de Fundão e Ibiraçu.

Cabe notar que um dos objetivos é o registro, ou seja, a produção de documentos fotográficos. Isso é relevante, pois registrar se configura como prática, de modo que isso enseja o valor probatório das fotografias. A partir disso, pode-se constatar seu valor científico, visto que ao decorrer desta investigação, na busca por organizar as práticas documentadas sob perspectiva diacrônica, obteve-se acesso aos metadados da fotografia digital (Figura 1). A partir deste metadados, descobriu-se que a câmera é Nikon de propriedade particular e que a captura da imagem foi realizada sem registro do fotógrafo, ao passo que a coordenadora do programa estava em tela.

Os metadados ainda indicaram que a prática ocorreu, segundo os mesmos, em 2009, porém o folder que consta, juntamente com outras fotografias na imagem gerada, expõe na capa uma foto da igreja de Nossa Senhora da Penha no distrito de Timbuí. Essa foi relativa ao “Fórum de Tradição Culturais do município de Fundão” consta na Figura 1, comprovando que a ação documentada ocorreu, na verdade, em 2012 e não em 2009, como sugerem os metadados.

Nesta direção, a fotografia, considerada objeto de arte e também um espaço de comunicação, aqui é identificada como um gênero documental cujo código se caracteriza por sua linguagem visual, sendo possível considerar, também, que há sobreposição de linguagens tais como linguagens digitais embutidas no infoproduto, isto é, o software da câmera que gera a imagem.

A identificação valores, permite que seja evidenciado que as fotografias possuem valores culturais segundo entendimento de Schellenberg (2006), particularmente estéticos ou formais e cognitivos, vide Meneses (2010) apud Aldabalde (2015), mas não somente, pois seu valor probatório presente na Figura 1 permitiu resolver a querela ou desajuste entre as datas crônicas 2009 versus 2012.

Portanto, os valores considerados como secundários na literatura arquivística são constitutivos da fotografia, e, conforme Bellotto (2007), esses arquivos servem para efeitos sociais, científicos e culturais, sendo os últimos patentes na Figura 1, pois a exposição fotográfica ocorrida no Fórum de Tradições Culturais em Fundão possui apelo estético como é possível depreender a partir da imagem abaixo:

Figura 1 - Exposição fotográfica no Fórum de Tradições Culturais do município de Fundão (ES).

Fonte: Acervo Entre Comunidades, coordenadora com fotografias impressas (2012)

Assim, também a fotografia pode ser, uma representação de outra representação, isto é, a representação mnemônica daquele momento (fração de tempo) em que uma representação como uma imagem de um santo está a ser posto em mediação. Aliás, isso é evidente na Figura 1 quando há a fotografia das fotos em exposição, ou seja, representação de outras representações. Isso não é algo menor, afinal as instituições de memória surgiram em ateliês como aqueles retratados em pinturas como ´Allégoire de la vue et de L'odorat´ (1618), de Pierre Paul Rubens et. al.; ´Cabinet d ´Amateur´ (1620), de Hieronymus Francken II; e, ´Exposition au Salon du Louvre en 1787´, de Pietro Antonio Martini, são representações imagéticas sobre outras.

Naturalmente, comparando os registros do Programa Entre Comunidades na Figura 1, há a representação de novos espaços mais democráticos em relação ao passado abordado pelas obras com títulos em língua francesa, incluindo culturas tais como a cultura africana antes excluída e demonizada. Por isso, como uma representação de outras representações podem ativar a memória ou possibilitar a lembrança de ou sobre algo.

A atuação do Programa Entre Comunidades parece, supostamente, influenciar a sociedade e a comunidade universitária, inclusive os arquivos públicos, vide o Estado do Espírito Santo. Um exemplo disto, é o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental do Centro de Educação da UFES realizou em 2014 algo similar registrado por Aldabalde (2015, p. 144). Esse autor, consigna em uma imagem da televisão que uma pesquisadora da Ufes aparece em uma exposição no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo com fotografia da atividade “Mascarados do Congo da Roda D’água”. Ora, se o Programa Entre Comunidades foi criado em 2005 sendo seu trabalho com o Congo e com as comunidades quilombolas percursor no Estado, é possível inferir que atinja públicos internos e externo, sendo referência no próprio espaço organizacional de modo a multiplicar práticas semelhantes.

Ainda, ao observar a Figura 1, fica patente que as fotografias possuem valores estéticos ou formais conforme indica Meneses (2010) apud Aldabalde (2015), ao passo que a preservação desses valores fica refém, caso não sejam impressas, de dispositivos de tecnologias de informação e comunicação.

Não é por acaso que um dos objetivos do Programa Entre Comunidades é registrar, por meio de fotografias, as manifestações consideradas ´festivas´, as comunidades tradicionais. A respeito da busca por registros fotográficos, Sá (2018, p. 96) afirma que “a sociedade buscava uma forma de representação do mundo que atendesse aos seus anseios, à organização social, política, a nível de crescimento e avanço tecnológico atingido. Foi a fotografia a melhor resposta a esse anseio e necessidade [...]”

Partindo do entendimento do valor permanente da fotografia, observou-se que o conjunto de documentos do Programa Entre Comunidades, parece necessitar de integração com o Sistema de Arquivos da Ufes ou a criação de um Arquivo de Cultura Negra, provavelmente o primeiro do país e da América Latina, se for criado na institucionalidade. Isso pois constitui-se de um número significativo de itens documentais, provenientes das visitas periódicas  à  comunidades durante as práticas de mediação cultural chamadas de ´festejos´ ou ´festas´, "a fim de registrar com fotografias e filmagens as imagens do Congo."(Oliveira; Pirchiner, 2015, p. 35).

O documento fotográfico, segundo Dubois (1994, p.25), pode ser entendido como “aquele que não pode mentir, pois a necessidade que se tem de ver para acreditar é plenamente satisfeita com a fotografia. Por isso, ela é vista como prova daquilo que representa em sua superfície [...]". Para Otlet (1934, p.199) a fotografia é a mais importante das máquinas intelectualmente inventadas pelo homem.

Neste entendimento, o papel das fotografias na produção documental, analisada a partir das práticas do Programa Entre Comunidades, parece, por seus valores, constituir-se como documentos arquivísticos, ou seja, provas das atividades finalísticas da Ufes, mas, sobretudo, insere na extensão.

A partir da análise dos arquivos do Programa Entre Comunidades, constatou-se o desenvolvimento de práticas sociais e culturais com uso da fotografia, como no caso da exposição "O Congo entre nós", realizada na Galeria Francisco Schwarz, em 2015, no Museu Capixaba do Negro - MUCANE, em 2016, e na Escola da Ciência, Biologia e História, SEME, Prefeitura Municipal de Vitória, em 2016/2017.

Tais práticas revelam o entendimento dos produtores deste acervo fotográfico, que neste estudo, categorizamos como fundo aberto (archival fond), na concepção de que a imagem fotográfica - enquanto artefato capaz de ativar a memória - favorece o reconhecimento de eventos significativo.

Dentre as práticas de mediação cultural elencadas por Aldabalde e Rodrigues (2015), observaram-se práticas documentadas pelo Programa Entre Comunidades sob as seguintes espécies: relatórios, atas, cartazes, fotografias, vídeos e folhetos - oriundos de práticas tais como rodas de conversa, efemérides, seminários, oficinas, mostras e exposições, sendo que nas três últimas, a fotografia desempenhou papel central na mediação da cultura das comunidades tradicionais.

 

3 A MEMÓRIA ATIVADA E A CULTURA MEDIADA

Os arquivos do Programa Entre Comunidades, incluem os documentos fotográficos e o registrar por via da fotografia pode ir ao encontro da construção da memória individual e coletiva, porque "o propósito de registrar e guardar uma quantidade de documentos, como sendo um meio para o não esquecer, para a não perda das memórias e as lembranças, também está presente no ato de fotografar." (Pinho, 2014, p.207)

Felipe e Pinho (2018, p.96), referindo-se especificamente ao documento fotográfico, afirmam que "um dos elementos constituintes da memória são os documentos e, entre eles, está a fotografia, as quais atestam visivelmente a memória". Nesta perspectiva, a fotografia pode converter-se num dispositivo que ativa a memória ao remeter o espectador a um novo conhecimento quando diante de um relato de vida, possibilitando (re)viver histórias, permitindo inserir-se no ambiente narrado (Mendonça; Pinho, 2016, p.93).

Aos presentes na prática de mediação cultural do tipo ´roda de conversa´ (Aldabalde, 2015), é possível ativar as memórias a partir do acesso aos registros de áudio de modo que os participantes podem ouvir uns aos outros, recuperando-se depoimentos sobre as dificuldades sociais, preconceitos, discriminações, falta de recursos e racismo.

É notável que as memórias individuais tornam-se, ao menos potencialmente, coletivas a partir do momento em que são produzidas no contexto de uma prática de mediação cultural em grupo e inseridas em uma documentação produzida por uma instituição Ufes, particularmente, a Proex, fundamentando-se nas práticas sociais com vistas à ação coletiva em nível mais alto, como ação histórica combate ao racismo estrutural conforme as categorias de Alain Touraine em Peralva (2019).

Os participantes desta prática mediadora ou de outras similares, podem ter também memórias sensoriais ativadas ao olharem a Figura 2, pois essa foto registra a performance musical que coloca em tela o instrumento designado por ´a casaca´ realizada por um membro da Banda de Congo da Comunidade Timbuí, conforme pode ser visto na figura 02:

Figura 2 - Membro da Banda de Congo de Timbuí com instrumento casaca sendo performado no decorrer do concerto na abertura da prática de mediação cultural ´roda de conversa´

Fonte: Modolo (2019)

Deste modo, por seus valores estéticos ou formais e emotivos ou afetivos vide Meneses (2010) apud Aldabalde (2015), a fotografia, enquanto gênero de predominância da linguagem visual, evoca nos indivíduos sentimentos para além da mera recepção de informação.

As fotografias permitem apreciar os detalhes formais que os textos, por mais minuciosos que sejam redigidos, jamais seriam capazes de narrar, pois o documento fotográfico é " imagem congelada, uma cópia fiel que a torna mecanismo da memória individual, coletiva e social. A fotografia toca cada um à sua maneira, é objeto de construção social, mediação cultural [...] " (Felipe; Pinho, 2018, p. 96)         

Os documentos fotográficos parecem conferir sentido a memórias individuais, porque os indivíduos pertencem a determinados grupos, e, portanto, encontram referências de si e para si na memória coletiva, inclusive Mãe Paula é rainha da Banda de Congo do Timbuí, mãe de santo, podendo ser identificada como indivíduo que transita entre a identidade da comunidade LGBTQIA+ e a comunidade quilombola praticante da cultura do Congo Capixaba.

Julga-se pertinente destacar que Ricoeur (2018) associa a imagem com a teoria da representação, sendo a imagem um objeto e uma operação dependentemente de sentido. É notável que o autor reconheça nos símbolos ou signos da imagem coisas a serem objetos de crença. A partir disso, é possível levantar a questão: Como a fotografia representa o passado? Ricoeur (2018) parece evidenciar que a imagem permite fazer-se presente aquilo que está ausente. Esta representação, que é também presentificação, pode ser associada com a lógica da mediação cultural, pois na performance da banda de Congo de Três Barras, o homem santificado, morto, se faz presente pela imagem mediada pela prática mediadora chamada ´cortejo´, conforme a Figura 3.                         

Na presentificação que representa o ausente, esse que acha-se em ausência não por razão geográfica, mas antes por não localizar-se no tempo presente, ocorre pela prática de mediação cultural, a efeméride ou ´festividade´ a fim de estabelecer processos de identificação do sujeito com o coletivo por meio da cultura e da memória coletiva.

Lissovsky (2012, p.17) afirma que “as fotografias atravessam os tempos, como os fantasmas atravessam as paredes, ambos condenados a fazer a incessante mediação entre o foi, o que é, e o que será [...]”. Desta forma, a fotografia materializa os elementos da cultura, permitindo a produção de discursos sobre esta cultura.

Não por acaso que as imagens representam os santos que nomeiam a efeméride intitulada ´Festa de São Benedito e São Sebastião´ em que ocorrem sequencialmente a derrubada, a roubada, o escondimento do mastro, e, depois, seu cortejo (Figura 3) com cânticos, indumentárias, uso de instrumentos típicos de bandas de Congo Capixabas e performance com dança até a fincada do mastro.

 

 

 

 

 

Figura 3 - Representação de São Sebastião em estandarte de tecidos em cortejo de Congo

Fonte: Arquivo fotográfico do Projeto Entre Comunidades (2014) em atividade em Três Barras

No percurso investigativo envolvendo a pesquisa documental, podem ser observadas por meio de registros para consulta a posteriori práticas realizadas a partir dos arquivos fotográficos produzidos pela coordenação do Programa Entre Comunidades. Tais práticas, potencialmente práxis, encontram-se no campo da mediação da cultura das comunidades tradicionais, tais como a Folia de Reis, as Bandas de Congo, dentre outras. Para entender melhor isso, recorre-se a Aldabalde e Rodrigues (2014, p.257), esses afirmam que:

Mediação Cultural é o processo cujo objeto é a cultura dirigida com uma dinâmica interativa em relação ao público, para o qual se volta a estratégia da construção, com o objetivo de promover a democratização e a democracia cultural, resultando em produtos e serviços tais como a produção audiovisual, efeméride histórica, recital, mesa-redonda, mostra de arte, oficina e concerto.

Esse "movimento de extensão do arquivo para a comunidade pela via cultural"(Aldabalde; Rodrigues, 2014, p.257) vai ao encontro de novas expectativas colocadas sobre as instituições de custódia dos arquivos como a Proex Ufes. Para que a prática torne-se práxis cabe atuação do profissional qualificado responsável pela gestão e mediação cultural da documentação em um trabalho que a ser feito "junto com seus patrocinadores e com a sociedade" (Nesmith, 2010, p.16).

Uma vez que os arquivos são permanentes devendo ser mantidos e preservados permanentemente pela Ufes, o Programa extensionista, além de produzir relevante documentação fotográfica sobre as comunidades atendidas como já o faz, pode, encaminhar valorização e utilizações ou explorações dos documentos por parte das comunidades, recorrendo às linguagens acessíveis para efetiva fruição dos arquivos como bens culturais.

Cabe destacar que o público escolar já é meta de práticas do Programa Entre Comunidades, vide o projeto “Aulões para o Enem”, que vai ao encontro dos anseios de adolescentes de baixa renda em municípios, alcançando os discentes das escolas de territórios marginalizados e periferizados com prática de mediação do conhecimento.

Na lógica de Sá (2016), a mediação cultural é uma forma de conhecer. Nesta direção Aldabalde (2011), aponta que há uma pedagogia arquivística, isto é, o ensino por meio de arquivos. Com isso o autor aponta que é necessário colocar em prática o trinômio arquivo, formação e educação.

Nesta direção, fotoregistros como documentos podem ser utilizados como material didático, na educação infantil, pois a imagem antecede a escrita e, consequentemente, a interpretação de textos.

Vale ressaltar que a cultura escrita parece declinar em tempos de audiência para TikTok e Instagram, espaços cuja cultura visual impõe-se de modo que a interface destas plataformas é pensada para a imagem. Por isso, associar as imagens com a cultura escrita parece ser uma possibilidade didática relevante a fim de preservar a cultura escrita dos povos. No caso em tela, o Projeto Entre Comunidades realiza práticas de mediação cultural que podem sensibilizar professores e estudantes, ou seja, podem atingir o público escolar vide a exposição documentada no folder, conforme a Figura 4:

Figura 4- Folder da Exposição Fotográfica ‘O Congo entre nós’

Fonte: Arquivo do Projeto Entre Comunidades (2016)

Considerando a possibilidade de interligar a atuação dos projetos no programa, levando-se em conta os públicos escolares, pode-se fazer uso de fotografias para elaborar questões para trabalhar conteúdos do Enem. Isso é relevante para a formação dos sujeitos e para o processo de identificação dos sujeitos que podem ligar registros da realidade local com conteúdos exigidos a nível nacional.

Neste sentido, a imagem fotográfica se insere em um território particular, pois parece oferecer ao leitor a possibilidade de "ver, através das imagens, situações e circunstâncias que efetivamente tomaram lugar na dimensão factual – funcionando como uma espécie de experiência de mundo emprestada" (Santos, 2009, p. 1). Contudo, ao contrário do que afirma Santos (2009), não é possível identificar o lugar da dimensão factual em usos estéticos ou formais Meneses (2010) apud Aldabalde (2015) que implicam em transcendência. Assim, assinala-se a fragilidade da fotografia em abarcar a realidade, achando-se superficial em relação aos acontecimentos que ocorrem no mundo interior onde processam-se ideias individuais, emoções, percepções, interesses, intencionalidades, desejos, fantasias, crenças, valores pessoais, visões, pensamentos, lembranças, memórias, juízos, conceitos, preconceitos, sensos, personalidade, imagens mentais e outras coisas.

Portanto, a captura da fotografia permite verificar elementos do mundo exterior, muito embora a maioria da produção dos registros fotográficos esteja imbricada em infoprodutos digitais como softwares e hardwares sendo de fácil manipulação ou adulteração. Tal questão não é menor, pois pode prejudicar o valor de prova da fotografia como documento arquivístico possui base nas qualidades arquivísticas authenticity, reliability, integrity, trustworthiness, credibility, immutability, admissibility, privacy e stability (Society Of American Archivists, 2020).

Estas qualidades não estão dadas e por isso o valor probatório das fotografias pode ser questionado. Para além disso, como já foi exposto, cabe identificar que o valor estético ou formal, conforme Meneses (2010) apud Aldabalde (2015), implica também em transcendência. Porém há limites sobre aquilo que pode ser pensado a partir da fotografia, pois a experienciação subjetiva de um momento no tempo que ocorre em um espaço, particularmente no terreno religioso é de difícil inteligibilidade.

O que pode o leitor inferir sobre o que sentem, pensam ou intencionam as quatro pessoas retratadas na Figura 5? As pessoas estão de olhos fechados, de modo que o grupo carrega cuidadosamente com as mãos a representação do Santo Benedito. Essa representação é realizada por escultura que está com terço de pérolas em procissão, ou cortejo, no contexto da Festa de São Benedito na comunidade Piabas, no município de Fundão, conforme a Figura 5:

 

 

 

Figura  5 -   Festa de São Benedito na comunidade Piabas

Fonte: Arquivo do Programa Entre Comunidades (2017)

Por fim, nos documentos do Programa Entre Comunidades, constam registros documentais que atestam a visita às comunidades quilombolas que praticam o Congo Capixaba, a fim de produzir registros dos festejos para posterior divulgação institucional, como "uma tentativa de produzir um acervo comprobatório da existência do grupo garantindo visibilidade, reconhecimento, valorização e divulgação da sua cultura, uma riqueza que se perpetua através das gerações." (Oliveira; Pirchiner, 2015, p. 33).

 

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que fundo aberto em que estão contidos os documentos fotográficos constitui-se como prova de ações administrativas institucionais do programa extensionista junto à sociedade, fonte de informação, documento e registro para as atividades de extensão, isto é, na produção de material de difusão, no planejamento de ações, na sensibilização, e, também para iniciar novas práticas de mediação cultural. Isso pode ser depreendido a partir do exemplo da efeméride intitulada ´Festa de São Benedito e São Sebastião´ (2012) em Piabas. Esse é o território de comunidades quilombolas, distrito do município de Ibiraçu. Tal efeméride possibilitou a captação de recursos financeiros advindos da Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo, para a comunidade quilombola com expressão cultural do Congo Capixaba.

Entende-se este conjunto documental fotográfico como um fundo aberto cuja identidade está fixada no produtor Pró-Reitoria de Extensão, sendo autores/criadores variados e sob comando do Setor de Integração com Educação Básica, da Diretoria de Interlocução com a Sociedade. Contudo, não trata-se de uma coleção de itens apenas com os valores informativo e probatório, pois nota-se que o acervo possui valores culturais e também valor científico sendo, portanto, de interesse social e para a pesquisa. Portanto, ao que tudo indica, o material carece de tratamento documental por procedimentos técnicos a fim de torná-lo amplamente acessível e publicizado. Para tanto, pode-se fazer uso do software-livre ´Atom´ como indica Silveira (2018).

Portanto, o arquivo fotográfico revela que o Programa Entre Comunidades, desenvolve ações, produz documentos e realiza sua difusão e mediação, contribuindo diretamente para a manutenção  da cultura das comunidades tradicionais, o que implica que este arquivo deve ser integrado ao Sistema de Arquivos da Ufes, preservado permanentemente com acessibilidade, a fim de que pesquisadores, acadêmicos, e a sociedade possam utilizá-los.

REFERÊNCIAS

ALDABALDE, Taiguara Villela; RODRIGUES, Georgete Medleg. Mediação cultural no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Transinformação, 2015 n.27, v.3, 255–264. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-37862015000300007. Acesso em: 12 ago. 2022

ALDABALDE, Taiguara Villela. Arquivologia e Pedagogia Arquivística: bases para uma habilitação que ensine o arquivista educar. Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro | Móbile Editorial: Rio de Janeiro: 2011. p.198-212

ALDABALDE, Taiguara Villela. Mediação cultural em instituições arquivísticas: o caso do arquivo público do estado do Espírito Santo. 2015. 221 f., il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Universidade de Brasília, Brasília, 2015. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/19742. Acesso em: 13 jul. 2022.

BELLOTTO, Heloísa. Arquivos Permanente: Tratamento documental. Editora FGV: Rio de Janeiro: 2007.

DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus,1994.

FELIPE, Carla Beatriz Marques; PINHO, Fabio Assis. Fotografia como dispositivo da Memória Institucional. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 89–101, 2018. Disponível em: http://revista.ibict.br/fiinf/article/view/4339. Acesso em: 10 jul. 2022

FROHMANN.O caráter social, material e público da informação na contemporaneidade. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 7., 19 a 22 nov. 2006, Marília. Anais... Marília: 2006.

GERLIN, Meri Nadia Marques.Tecendo redes e contando histórias:competências em informação e narrativa na contemporaneidade.Brasília:Faculdade de Ciência da Informação / Universidade de Brasília, 2018.

LISSOVSKY, Mauricio. Os fotógrafos do futuro e o futuro da fotografia: Impacto das novas mídias no estatuto da imagem. Porto Alegre: Sulina, p. 13-28, 2012.

MENDONÇA, Roseane Souza de; PINHO, Fabio Assis. Memória institucional por meio da organização documental de fotografias. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, Ribeirão Preto, v. 7, n. 1, p. 90-110, 2016. DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v7i1p90-110.

NESMITH, T. Conhecimento e educação para a sociedade dos arquivos. Arquivo & Administração, v. 9, n. 2, 2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/51080. Acesso em: 10 abr. 2023.

OLIVEIRA, Marlene Martins de; PIRCHINER,Juliana Casotto. Banda de Congo Piabas/Irundi: Tradição e Cultura.Vitória. Revista Guará, n.4. 2015. p. 31-41. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/guara/article/view/11481/8054. Acesso em: 03 jan. 2023.

OTLET, Paul. Tratado de documentação: o livro sobre o livro, teoria e prática. Tradução de Taiguara Villela Aldabalde et. al. Briquet de Lemos. Brasília.2018. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/32627/1/LIVRO_TratadoDeDocumenta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 08 ago. 2022.

PERALVA, Angelina. CONFLITO E MOVIMENTOS SOCIAIS NO ACIONALISMO DE ALAIN TOURAINE. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, n. 106, p. 160-194, abr. 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0102-160194/106. Acesso em: 06 maio 2024.

PINHO, Fábio Assis. Representação do conhecimento em documentos fotográficos e sua conexão com a memória. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DA REDE MUSSI, 3.; As transformações do documento no espaço – tempo do conhecimento p. 203-223. UFBA. BA. 2014. Anais.... Disponível em: https://remussi.org/wp-content/uploads/2019/04/Anais-Mussi-2014.pdf. Acesso em: 02 jul. 2022.

PIRCHINER, Juliana Casotto. Banda De Congo Piabas/Irundi Do Espírito Santo: Educação, Ciência e Cultura. 2018. Dissertação. Mestrado Profissional em Educação em Ciência e Matemática. Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória.

PROJETOS. PORTAL DOS PROJETOS, 2022. Programa de Extensão n. 323 - Entre Comunidades SIEX #500372. Disponível em: https://projetos.ufes.br/#/projetos/323/informacoes. Acesso em: 12 jul. 2022.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François [et al.]. Editora da Unicamp, Campinas: 2018.

RODRIGUES, Bruno César. Reflexões acerca do museu virtual de arte e seu papel como mediador cultural.  Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação. USP: São Paulo, 2011.

SÁ, Alzira Tude de. A imagem fotográfica como representação e documento: um estudo a partir das fotografias de objetos da sala de visitas do escritor Jorge Amado. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 28, n. 1, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/37898. Acesso em: 08 jul. 2022.

SÁ, Alzira Tude. A potencialidade da imagem fotográfica como mediadora. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 62-86, 13 set. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.21728/logeion.2020v7n1.p62-86. Acesso em: 06 maio 2024.

SANTOS, Luiz Miguel Oliveira. Os novos territórios da fotografia: os arquivos fotográficos e a fotografia digital. Dissertação. Criação Artística Contemporânea. Universidade de Aveiro. Aveiro. 172p. 2009. Disponível em: https://ria.ua.pt/handle/10773/1181?mode=full. Acesso em: 05 ago. 2022

SCHELLENBERG, Theodore Roosevelt. Arquivos Modernos: princípios e técnicas. Tradução de Nilza Teixeira Soares. 6. ed.  FGV: Rio de Janeiro.. 2006

SILVEIRA, M. M. G. da. O Uso do Software-Livre “Atom” na gestão e na difusão de acervos: um projeto-piloto do Centro de Referência da Música de Minas - Museu Clube da Esquina para a Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/moci/article/view/17038. Acesso em: 07 maio 2024.

SOCIETY OF AMERICAN ARCHIVISTS. SAA Dictionary. Chicago, 2020. Disponível em: https://dictionary.archivists.org. Acesso em: 14/04/2023

UNESCO. Convenção para a salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Paris. 2003.Tradução do Ministério das Relações Exteriores, Brasília, 2006.

VENTRESCA, Marc J., MOHR, John W. Archival Research Methods. In: The Blackwell Companion to Organizations. Blackwell Publishing, Oxford: 2017. p. 805–828. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/9781405164061.fmatter. Acesso em: 12 jul. 2022



[1] Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - UFES, graduado em Pedagogia, graduando em arquivologia.

[2] Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e do curso de graduação em Arquivologia - UFES.

[3] Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e do curso de graduação em Arquivologia - UFES.

[4] Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e do curso de graduação em Biblioteconomia - UFES.

[5] Os métodos de pesquisa arquivística incluem uma ampla gama de atividades aplicadas para facilitar a investigação de documentos e materiais textuais produzidos por e sobre as organizações. Em seu sentido mais clássico, métodos arquivísticos são aqueles que envolvem o estudo de documentos históricos; isto é, documentos criados em algum ponto de um passado relativamente distante, fornecendo-nos acesso que de outra forma não teríamos às organizações, indivíduos e eventos daquela época. No entanto, os métodos arquivísticos também são empregados por estudiosos envolvidos em investigações não históricas de documentos e textos produzidos por e sobre organizações contemporâneas, muitas vezes como ferramentas para complementar outras estratégias de pesquisa (métodos de campo, métodos de pesquisa, etc.) textos digitais, incluindo bancos de dados eletrônicos, e-mails e páginas da web (Ventresca; Mohr, 2017, p. 02, tradução da autoria).