AS CONTRIBUIÇÕES DE PEREGRINO DA SILVA PARA A GÊNESE DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

uma visão sobre seus antecedentes históricos

Richele Grenge Vignoli[1]

Universidade Federal de Rondonópolis

rivignoli@gmail.com

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Resumo

O objetivo deste estudo é salientar que a perspectiva histórica brasileira da Ciência da Informação pode ser compreendida por meio dos esforços do bibliotecário Manuel Cícero Peregrino da Silva a partir de 1898 e de suas ações na Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação. Essas ações foram cruciais para o que viria a ser a Ciência da Informação no Brasil, anos mais tarde. A pesquisa traz também, apontamentos acerca da perspectiva de criação da Ciência da Informação no Brasil a partir do desenvolvimento do primeiro Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do país e da vida de Peregrino da Silva. A pesquisa se caracteriza como um estudo bibliográfico e exploratório com abordagem qualitativa. Ressalta-se a importância da história da Ciência da Informação brasileira na consideração dos esforços de Peregrino da Silva e outros profissionais. Apesar de fundamental, a Ciência da Informação brasileira não surge somente a partir da pós-graduação no país, é preciso resgatar seus antecedentes históricos de formação. Com acentuada relevância, a Ciência da Informação tem crescido em formação, teoria e aplicação, mas ainda assim, é preciso continuar na busca de sua cientificidade e valoração de sua história.

Palavras-Chave: história da ciência da informação; ciência da informação no Brasil; Peregrino da Silva; Manual Cícero Peregrino da Silva; biblioteconomia, bibliografia, documentação e ciência da informação.

THE CONTRIBUTIONS OF PEREGRINO DA SILVA TO THE GENESIS OF INFORMATION SCIENCE

an insight into its historical background

Abstract

The objective of this study is to highlight that the Brazilian historical perspective of Information Science can be understood through the efforts of librarian Manuel Cícero Peregrino da Silva from 1898 onwards and his actions in Librarianship, Bibliography and Documentation. These actions were crucial for what would become Information Science in Brazil, years later. The research also brings notes about the perspective of creating Information Science in Brazil from the development of the first Postgraduate Program in Information Science in the country and the life of Peregrino da Silva. The research is characterized as a bibliographic and exploratory study with a qualitative approach. The importance of the history of Brazilian Information Science is highlighted in considering the efforts of Peregrino da Silva and other professionals. Despite being fundamental, Brazilian Information Science does not emerge only from postgraduate studies in the country, it is necessary to recover its historical training antecedents. With marked relevance, Information Science has grown in training, theory and application, but even so, it is necessary to continue in the search for its scientificity and appreciation of its history.

Keywords: history of information science; information science in Brazil; Pilgrim da Silva; Manual Cícero Peregrino da Silva; librarianship, bibliography, documentation and information science.

1  INTRODUÇÃO

O surgimento da Ciência da Informação costuma ser referido na literatura científica como decorrente do final da Segunda Guerra Mundial (Barreto, 2002; Pinheiro, 2005; Saracevic, 1996), e sobretudo, após publicação dos artigos de Vannevar Bush “As we my think” de 1945, e de Harold Borko “Information Science: what this is?” de 1968. Entretanto, como nenhuma ciência surge sem seus contextos políticos e sociais, e amparada a outros saberes, há outra corrente de pensamento que defende que a Ciência da Informação descende de outros campos do conhecimento, como da Biblioteconomia, da Bibliografia e da Documentação (Almeida, 2006; López Yepes, 1995; Saldanha, 2020). Porém, esta visão não nega a consolidação da Ciência da Informação no pós-guerra, apenas enaltece e discute seus antecedentes históricos que foram importantes para o seu fortalecimento enquanto campo científico.

No Brasil, a Ciência da Informação possui demarcação formativa essencialmente na década de 1970, ou quando o primeiro programa de pós-graduação da área foi instaurado pelo antigo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), que se tornou o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, que completará em 2024, 54 anos de existência, teve fortes influências das correntes estadunidenses e inglesas da Ciência da Informação em sua composição (Almeida, 2006).

Mas, outras práticas condizentes com a Ciência da Informação já eram realizadas no Brasil antes de sua formalização por meio das ações do IBBD e depois, IBICT. Nesse sentido, profissionais e pesquisadores brasileiros ligados às ações da Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação são acrescidos à discussão, como meio de frisar que a Ciência da Informação possui seus antecedentes históricos e práticos calcados nesses saberes, muito tempo antes de 1970 ou da criação do IBBD. Dentre essas ações, destacam-se as inúmeras atividades do bibliotecário Manuel Cícero Peregrino da Silva (Mais conhecido como Peregrino da Silva), que incluíram o Brasil no movimento da Bibliografia e Documentação de Paul Otlet e Henry La Fontaine, e no Repertório Bibliográfico Internacional (Répertoire Bibliographique Universel - RBU) do Instituto Internacional de Bibliografia (International Institute of Bibliography - IIB).

Nesse contexto, o objetivo deste estudo é salientar que a perspectiva histórica brasileira da Ciência da Informação também pode ser compreendida por meio dos esforços do bibliotecário Peregrino da Silva a partir de 1898, e de suas ações na Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação. Essas ações foram cruciais para o que viria a ser a Ciência da Informação no Brasil, anos mais tarde. A pesquisa traz também, apontamentos acerca da vida de Peregrino da Silva. A discussão segue na direção de salientar acontecimentos históricos e as ações de Peregrino da Silva e de outros profissionais na construção das bases de formação e/ou dos antecedentes históricos da Ciência da Informação no Brasil. Uma segunda visão de surgimento da Ciência da Informação no Brasil é discutida, como a partir do primeiro Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação.

 

2 METODOLOGIA

Segundo os preceitos de Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias é realizada com base em materiais ou bibliografias já publicados, e em que o texto se torna a própria fonte de temas a serem pesquisados (Severino, 2007). Apesar de ser construída com base em estudos anteriormente já realizados, a pesquisa bibliográfica não se constitui como uma repetição do que já foi dito ou publicado acerca de um assunto, mas propicia uma nova abordagem, com possíveis conclusões inovadoras (Marconi; Lakatos, 2003). 

A busca bibliográfica foi realizada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) e no Google Scholar. Não foram delimitados períodos específicos para a busca, que ocorreu em português e inglês e se pautou em trabalhos que abordassem, sobretudo, a história e epistemologia da Ciência da Informação e suas relações com a Biblioteconomia, a Bibliografia, e a Documentação, além do bibliotecário Peregrino da Silva. Na BRAPCI, somente três trabalhos foram recuperados utilizando o nome completo e abreviado de Peregrino da Silva como palavra-chave. No Google Scholar, apesar dos 2406 resultados recuperados, somente sete se referiram a trabalhos completos. Há, notoriamente, carência de literatura científica que discuta as contribuições do bibliotecário para a história e fundamentos da Ciência da Informação. Da mesma forma, a literatura da epistemologia da Ciência da Informação necessita ser atualizada.

A abordagem da pesquisa é qualitativa, que se acordo com Flick (2009, p. 24), se baseia em estudos em que “Os objetos não são reduzidos a simples variáveis, mas sim representados em sua totalidade, dentro de seus contextos cotidianos.” Já os estudos exploratórios visam trazer luz a objetos pouco abordados na literatura (Severino, 2007), como o que se desenha em tela: explorar a história de surgimento da Ciência da Informação brasileira para além de sua consolidação por meio da pós-graduação, além de salientar as contribuições de Peregrino da Silva.

 

3 A BIBLIOTECONOMIA, A BIBLIOGRAFIA, A DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL

A introdução da Ciência da Informação na América do Sul e América Latina, e mais especificamente no Brasil costuma ser descrita a partir da criação do primeiro Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Brasil (Pinheiro; Loureiro, 1995). De responsabilidade do IBBD, o primeiro Programa de Pós-Graduação em nível de mestrado em Ciência da Informação ocorreu no Brasil em 1970, por iniciativa de pesquisadores do Instituto e de universidades brasileiras (Vieira, 1995).

Entretanto, na referida visão, esforços de outros profissionais e pesquisadores que antecederam a criação tanto do IBBD/IBICT, quanto da pós-graduação, e ainda, da formalização da Ciência da Informação no Brasil, costumam ser pouco debatidos. É o caso do bibliotecário Peregrino da Silva, que entre outros profissionais, realizaram ações fundamentais para que a Ciência da Informação pudesse ser realidade no país. É, por exemplo, a partir de suas ações e de outros personagens, que houve no país, profissionais, pesquisadores, professores, instituições de ensino e de pesquisa preparados para receber a nova área: a Ciência da Informação. No mesmo sentido, porém de modo mais recente, as atividades de Lydia Sambaquy[2] operam na mesma envergadura. São profissionais e pesquisadores brasileiros que não devem ser esquecidos na trajetória histórica da Ciência da Informação brasileira.

Dessa forma, compreende-se que a história da Ciência da Informação no Brasil possui precedentes que antecedem o momento em que a pós-graduação foi inaugurada no país, como os advindos dos campos da Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação. Ortega (2009) explica que a Documentação é pouco pesquisada no Brasil, e/ou considerada como um campo de pouco conhecimento no contexto brasileiro. A mesma situação é recorrente com a Bibliografia.[3]

Para Almeida (2006) e López Yepes (1995), a Ciência da Informação é fortemente derivada da Documentação. Pinheiro (2005) explica que a Ciência da Informação tem como uma de suas raízes a Bibliografia e a Documentação em que o foco era o registro do conhecimento científico e a memória da civilização. Para Saldanha (2020), a relação da Bibliografia com a Ciência da Informação é irrefutável, pois a primeira lança segunda, sua função estrutural. Também de acordo com Zaher e Gomes (1972), necessidades sociais emergiram a partir da Bibliografia, que fez surgir a Documentação e consequentemente, a Ciência da Informação.

Ortega (2009) sintetiza que o Brasil seguiu a constituição da Ciência da Informação americana, porém, quando o país já recebia influência anterior do movimento da Documentação, que é europeia. A influência da Documentação europeia no Brasil ocorrida no final do séc. XIX, teria sido efetivada nos anos de 1930. Já sua retomada nos anos de 1950, contou com insumos europeus e estadunidenses, porém, sem encontrar grande importância no Brasil na época. Pinheiro (2020) atribui a Hagar Espanha Gomes, a disseminação da Documentação no Brasil, que na década de 1950 passava por certo declínio em seu reconhecimento mundial. A professora e pesquisadora Hagar Espanha foi quem introduziu as ideias de Otlet na aplicação de suas aulas e em sua tese de livre docência “O Pensamento de Paul Otlet e os princípios do UNISIST” datada de 1975 (Pinheiro, 2020).

Na Bibliografia, que foi iniciada na descrição de registros bibliográficos, essencialmente em livros, agora tem como “[...] propósito primário ajudar na disseminação do conhecimento.” (Spinak, 1996, p. 32, tradução nossa). Para Bálsamo (1998), a bibliografia é um completo sistema de comunicação social, assim como pensa Saldanha (2020), pois a área continua a exercer seu papel por meio de outros produtos derivados de suas práticas, como a comunicação científica (Hjørland, 2018), a pleno vapor na Ciência da Informação. Araújo (2009) reforça os argumentos ao explicar que um dos precedentes mais antigos da Ciência da Informação foi o surgimento da Bibliografia, no séc. XV, por meio da invenção da imprensa e aumento da produção de livros na Europa.

Na Biblioteconomia, alguns embates pouco precisos e que desvirtuam suas inferências na Ciência da Informação são corriqueiramente levantados na literatura científica, como por meio de Silva (2017). As discussões se referem a Biblioteconomia como uma área subordinada a Ciência da Informação, ou ainda, como sua área técnica ou profissional. Para além desses impasses, o discurso que se crê pertinente repousa nas contribuições teóricas e práticas que um campo atribui ao outro, tanto na pesquisa quanto no ensino, como na práxis.

De todo modo, para embasar a discussão tecida no estudo, a pesquisa de Almeida (2006) é acrescida a pesquisa como meio de evidenciar a necessidade de resgate da trajetória história da Ciência da Informação brasileira. Almeida (2006) investigou a percepção de representantes da Ciência da Informação no Brasil (pesquisadores e professores bolsistas de produtividade CNPq), quanto à concepção desses atores na relação de surgimento do campo no país, entre outros pontos abordados.

A pesquisa de Almeida (2006) demonstrou que a maioria dos participantes desconhece a participação da Biblioteca Nacional, assim como de Peregrino da Silva e do movimento em prol de participação brasileira no RBU, ou dos primórdios da Documentação no país. A maioria participante atribuiu o surgimento da Ciência da Informação ao IBBD/IBICT, como responsáveis em inserir a Ciência da Informação no Brasil, o que é uma vertente válida e muito divulgada na literatura. Entretanto, a respeito desse resultado é inferível que, ou os pesquisadores não consideram a Documentação e outros campos do conhecimento como base de fundamento da Ciência da Informação, o que pode ser um ponto de vista particular de cada um, ou pode ser ainda, que talvez desconheçam o trabalho de Peregrino da Silva no Repertório Bibliográfico Universal e na Biblioteca Nacional. Com isso, parece necessário pesquisas que destaquem tanto um ponto de vista quanto o outro.

Portanto, o debate continua atual e cabe a Ciência da Informação e seus pesquisadores, o conhecimento de seus antecedentes históricos, em especial, dos campos do conhecimento e sujeitos que como Peregrino da Silva foram, e são fundamentais para a sua institucionalização e avanço do campo no país.

 

4 QUEM FOI MANUEL CÍCERO PEREGRINO DA SILVA?

A Figura 1 demonstra Peregrino da Silva em dois momentos: em uma fase mais jovem e outra mais madura.

Figura 1 – Manuel Cícero Peregrino da Silva

Fonte: Fundaj e Visconti[4]  (1943).

Manuel Cícero Peregrino da Silva nasceu no Recife em 1866 e faleceu em 1956 no Rio de Janeiro. Peregrino da Silva se gradou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife em 1883, após dois anos recebeu o título de doutor em Direito pela mesma instituição.

Em 1889 foi nomeado bibliotecário da Faculdade de Direito do Recife. Por seu trabalho desempenhado na biblioteca da Faculdade de Direito, em 1900 foi convidado por Epitácio Pessoa, então Ministro da Justiça, a mudar-se para o Rio de Janeiro e assumir o cargo de diretor da Biblioteca Nacional (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2014). Em 13 de julho de 1900 tomou posse e se tornou diretor da Biblioteca Nacional, cargo que ocupou até 1924.  Peregrino da Silva acumulou outras funções durante seu tempo na Biblioteca Nacional e ocupou outras posições importantes após sair dela. Foi prefeito interino do Distrito Federal (1918-1919), reitor da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (1926-1930), e presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1938-1939). Em 1947, foi agraciado com o título de Professor Emérito da Faculdade Nacional de Direito (Fundação Biblioteca Nacional, 2010).

No ano de 1925, construiu-se um prédio, em estilo eclético, com características classicizantes, que foi cedido à Prefeitura do Distrito Federal para a instalação da Escola Profissional Álvaro Batista, com o objetivo de servir à população da Vila Operária Orsina da Fonseca, existente nas imediações. Com a mudança desta escola para outro prédio, neste, passou a funcionar a Escola Manoel Cícero. O nome da escola é uma homenagem a Manoel Cícero Peregrino da Silva.

Peregrino da Silva foi também bibliógrafo e escritor e foi quem conseguiu viabilizar a construção do prédio atual da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, que demorou cinco anos para ser construído. Um acordo realizado com os Correios possibilitou a intensificação do Serviço de Intercâmbio Bibliográfico e do cumprimento da lei do Depósito Legal, que resultou no decreto de 20 de dezembro de 1907. O decreto estipulava o envio à Biblioteca Nacional de exemplares de tudo o que fosse publicado no país, com o intuito de preservar o patrimônio bibliográfico brasileiro, no que é conhecido atualmente como Depósito Legal. Instalou na Biblioteca em 1902 uma oficina de encadernação e uma tipografia, com a qual a instituição passou a imprimir suas obras. Criou um Catálogo Coletivo das bibliotecas da cidade, a catalogação cooperativa e incentivou a introdução da Classificação Decimal Universal (CDU). Visitou diversos países para consultar os serviços de bibliotecas importantes. Integrou muitas associações culturais e internacionais, principalmente de suas especialidades, História, Direito e Educação, entre elas a Hispanic Society of América, a Societé das Américanistes, Academia Nacional de la Historia (Argentina), a Sociedade Brás. de Direito Internacional., Junta de Historia Nacional (Uruguai) e IHG do Uruguai (Instituto Histórico e Geógrafo Brasileiro, [200-]).

Em 1911 aprovou-se o novo Regulamento da Biblioteca, criando um Conselho Consultivo que discutia os problemas da Casa, apresentando sugestões e planejando eventos culturais. Ao perceber a carência de formação do quadro de funcionários da própria biblioteca, criou em 1911, o primeiro curso de Biblioteconomia do país. Foi na verdade, o primeiro curso da América Latina e do terceiro no mundo. O curso de Biblioteconomia seguia o modelo da École de Chartres, na França (Fundação Biblioteca Nacional, 2010).

Peregrino da Silva foi advogado, bibliófilo, bibliotecário, documentalista, político e entre outras ações e atividades, contribuiu significamente com a Biblioteca e com a Biblioteconomia, com a Bibliografia e com a Documentação brasileiras.

 

4.1 CONTRIBUIÇÕES DE PEREGRINO DA SILVA À FORMAÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL

O ano de 1898 marca a participação brasileira nos projetos de Otlet e La Fontaine por meio das iniciativas de Peregrino da Silva (Fonseca, 1973; Juvêncio, 2018). Por suas ações e iniciativas no Repertório Bibliográfico Universal, Peregrino da Silva foi considerado como o Otlet brasileiro (Juvêncio, 2018). Com visão moderna e atenta aos avanços tecnológicos e de disseminação do conhecimento no mundo, Peregrino da Silva conhece o Instituo Internacional de Bibliografia e, em 1898, faz o primeiro contato com o Instituto para inserção do Brasil no importante projeto (Juvêncio, 2018).

Pode-se dizer que a Documentação no Brasil foi decorrente primeiramente de ações e esforços de bibliotecários e profissionais de áreas distintas e, em especial, de Peregrino da Silva. Também a Classificação Decimal Universal (CDU), outro grande feito de Otlet começa a ser utilizada e tem como principais dissipadores, Juliano Moreira, Oswaldo Cruz e o engenheiro civil Vítor Alves da Silva Freire (Fonseca, 1973). Nesse contexto, Vítor Alves da Silva Freire publicou um significativo artigo denominado “A Bibliografia Universal e a Classificação Decimal” em 1901, que unia duas grandes ideias de Otlet, a bibliografia universal e a forma de organizá-la, a CDU.

O artigo de Freire foi o primeiro trabalho em português a receber o número de publicação do Instituto Internacional de bibliografia no ano de 1931 e na International Federation for Information and Documentation (FID) - (Fonseca, 1973).  Freire discursou a respeito da necessidade da participação do Brasil na organização da bibliografia científica internacional. Um dos destaques do seu texto está no trecho “Com um pequeno esforço de cada um, a bibliografia brasileira será uma realidade dentro de pouco tempo.” (Freire, 1901 citado por Juvêncio, 2018, p. xxxii). O conselho do engenheiro demonstrava a necessidade e urgência de aptidões que colocariam o Brasil em consonância aos demais países que participavam do movimento do Repertório Bibliográfico Universal (Juvêncio, 2018). Peregrino da Silva agiu nesse sentido quando decidiu participar do movimento internacional da bibliografia Otletiana.

Conta Fonseca (1973), que após quatro anos de fundação da FID, Juliano Moreira já havia utilizado a CDU na revista por ele editada e dirigida “Annaes da Sociedade de Medicina e Cirurgia” da Bahia, e participava como membro brasileiro do Repertório Bibliográfico Internacional.  A biblioteca da Câmara dos Deputados coordenada pelo escritor Mário de Alencar (filho de José de Alencar e amigo íntimo de Machado de Assis) foi igualmente, umas das instituições pioneiras a utilizar a CDU no Brasil (Fonseca, 1973). As ações demonstram não somente a inserção de profissionais ao Repertório Bibliográfico Universal, mas o uso da CDU em consonância com as práticas europeias.

Em 1911, Peregrino da Silva, em reforma na Biblioteca Nacional estabeleceu um Serviço de Bibliografia e Documentação em correspondência com a FID em Bruxelas. Essa ação do bibliotecário parece ter sido decisiva para a construção do IBBD em 1954 (Araújo, 2014; Vieira, 1995). Também em 1911, e em ação solene, a Biblioteca Nacional recebeu cerca de 600 mil fichas do Instituto a serem incluídas no que seria o Repertório de Assuntos Gerais. As fichas foram entregues em cerimônia protocolar ao embaixador do Brasil, e contou com participantes de entidades diplomáticas belgas, francesas e de grande parte dos países sul-americanos. O Brasil seguia engajado no movimento bibliográfico e documental europeu. Outra iniciativa ímpar de Peregrino da Silva foi o envio do bibliotecário Cícero de Brito Galvão em 1913, para Bruxelas na FID com intuito de aprender e se instrumentalizar na Bibliografia e Documentação de Otlet (JUVÊNCIO, 2018).  Peregrino da Silva apreciava que se aprendesse um ofício diretamente na fonte.

Segundo investigações de Juvêncio (2018), um dos frutos da participação da Biblioteca Nacional com a FID foi à edição do “Boletim Bibliográphico da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro” organizado por Cícero de Brito Galvão e editado entre 1918 e 1921. O material possuía quatorze volumes produzidos segundo normas do Instituto, inclusive com uso de ficha idêntica a utilizada no Repertório Bibliográfico Universal. As ações de Peregrino da Silva, de outros bibliotecários e profissionais brasileiros foram realizadas no sentido de inserir o Brasil no movimento internacional proposto por Otlet e La Fontaine e na criação de um serviço de Bibliografia e Documentação na Biblioteca Nacional. Havia naquele momento, o dever de cumprimento do decreto de n.º 1825, de 20 de dezembro de 1907, a respeito do Depósito Legal Brasileiro, função assumida pela Biblioteca Nacional desde então. Dentre todas as ações realizadas por Peregrino da Silva e colaboradores, Juvêncio (2018, p. xii) destaca que:

Como um centro de informações, a biblioteca cria um serviço para auxiliar as pessoas a acharem o que desejam, mesmo que estivesse em outros lugares. Reorganiza os acervos, de modo a melhor acomodá-los e a tratá-los conforme os preceitos da Documentação. Estimula a criação de bibliografias, por meio da proposta de concursos bibliográficos, da determinação contida na lei de depósito legal e das atribuições dos Serviços de Bibliografia e Documentação.

Em suas palavras, Juvêncio (2018) inicia seus apontamentos aos sintetizar o ideal da Documentação, que é propor um serviço em que seja possível conhecer o que há de informação e onde estão localizadas, isto é, a sua representação, mas sem a pretensão de formar coleções, que é função da Biblioteconomia.  Há igualmente, indicação da informação organizada nos moldes da Documentação e estímulo para a criação de bibliografias que representariam os registros bibliográficos.

Para Fonseca (1973), os pontos mais altos da brilhante administração de Peregrino da Silva foi a construção do edifício da Biblioteca Nacional, a reorganização geral da repartição, a criação do primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina e, principalmente, a fundação de um Serviço de Bibliografia e Documentação em correspondência com o Instituo Internacional de Bibliografia que incluiu o Brasil do movimento mundial.

Por isso, acredita-se que a inserção do Brasil na Ciência da Informação tenha surgido também, nas ações e iniciativas de Peregrino da Silva e outros bibliotecários e profissionais, com base em Otlet e La Fontaine e seus princípios da Bibliografia e Documentação a partir de 1898 e na própria Biblioteconomia, intrínseca nas ações da Biblioteca Nacional, de seu diretor e profissionais. Célia Ribeiro Zaher e Hagar Espanha Gomes (1972), ex-presidente e vice-presidente do IBBD salientam que a Ciência da Informação passa a considerar a Biblioteconomia, a Bibliografia e a Documentação como possibilidades na aplicação e nos resultados de suas investigações. No entanto, parece ter havido uma espécie de apagamento das contribuições desses campos do conhecimento na trajetória da Ciência da Informação, especialmente no Brasil. É preciso resgatar a história e os antecedentes que formam a base de formação da Ciência da Informação.

 

5 CONTRIBUIÇÕES DO PRIMEIRO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL

Outra perspectiva de surgimento da Ciência da Informação no Brasil segue no fluxo das ações do IBBD, que na década de 1970 se torna o IBICT e, na criação do primeiro Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação no Brasil. No entanto, acredita-se que também essa perspectiva só foi possível devido aos esforços e contribuições de Peregrino da Silva e da Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação.

 Em sua constituição em 1954, o IBBD amplia seu campo de atuação e oferece cursos de aperfeiçoamento e traz ao Brasil, importantes nomes da Ciência da Informação mundial, como de Jesse H. Shera (1957) e Jacques Samain (1958). Há acordos com universidades para formação de catálogos coletivos regionais, filiação a FID, articulação com os trabalhos da International Organization for Standardization (ISO) por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e por publicação da CDU em português (em colaboração com o Instituto de Alta Cultura de Portugal) – (FONSECA, 1973). Todas essas ações comprovam esforços realizados em território brasileiro que preparam a consolidação da Ciência da Informação no país. Reforçam do mesmo modo, que o contexto de surgimento da Ciência da Informação no Brasil aconteceu em detrimento de ações provenientes de bibliotecários e outras profissionais, assim como de instituições e campos ligados à biblioteca, à Biblioteconomia, à Bibliografia e à Documentação.

Contudo, na segunda visão de inserção da Ciência da Informação no Brasil, estima-se que o campo teve progresso principalmente por meio dos programas de pós-graduação em Ciência da Informação, com destaque ao IBBD/IBICT como pioneiro nesse quesito (ODDONE, 2006). Em 1955, o IBBD disponibilizava um curso de Pesquisas Bibliográficas em Ciências Médicas e Agrícolas que depois se tornou um curso de especialização intitulado por “Curso de Documentação Científica” (CDC) – (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995). O CDC foi criado no IBBD em 1954 e perdurou por 35 anos (MARTELETO, 2009; PINHEIRO, 2005; VIEIRA, 1995), tal era a importância da Documentação no período. O CDC foi desenvolvido nas visões pioneiras de renomados pesquisadores da Ciência da Informação brasileira como Lydia de Queiroz Sambaquy, Célia Ribeiro Zaher, Aldo de Albuquerque Barreto e Hagar Espanha Gomes (BRAGA, 1995; PINHEIRO, 2020), que foram igualmente responsáveis pelo primeiro curso e Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Brasil e da América Latina.

Em sua trajetória, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) participou dos ditames iniciais do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) do IBBD, com mandato acadêmico até 1981. O Programa de Pós-Graduação em Ciência da informação se associou também a Universidade Federal Fluminense (UFF), e retomou a sociedade com a UFRJ e com a Escola de Comunicação (ECO) até o ano de 2024 (Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação PPGCI IBICT-UFR, 2019). Somente a partir de 1986, em recomendação do Ministério da Educação (MEC), o mestrado do IBBD se distancia da Comunicação e se volta exclusivamente à Ciência da informação (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995). Entretanto, ressalta Vieira (1995) que os cursos de Informação Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o Curso de Gerência de Recursos Informacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não devem ser negligenciados na história da Ciência da Informação no Brasil, na mesma linha do CDC do IBBD. Braga (1995) enaltece a participação dos programas de doutorado da UFMG e da Universidade de Brasília (UNB) nesse sentido.

Nos primeiros anos do curso de mestrado do IBBD, diversos professores americanos e ingleses da Ciência da Informação lecionaram e orientaram trabalhos no corpo discente do programa, como Tefko Saracevic, Wilfrid Lancaster, LaVahn Marie Overmyer, Bert Roy Boyce, Jack Mills, Derek Langridge, John Joseph Eyre, Engetraut Dahlberg, Sumana Datta, além de Derek de Solla Price. Esses professores puderam orientar as primeiras dissertações do programa e lecionar a respeito da Ciência da Informação praticada em seus países (Almeida, 2006; Marteleto, 2009; Pinheiro, 2005, 2020; Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação PPGCI IBICT-UFR, 2019).

A influência da Ciência da Informação estadunidense e inglesa é perceptível perante a nacionalidade da maioria dos professores convidados à participação nas disciplinas e orientação de trabalhos no curso de mestrado (ALMEIDA, 2006). É possível verificar a mobilização do Brasil e de responsáveis pelo programa na internacionalização da Ciência da Informação no país, assim como as influências que o campo sofreu em seu início, tal qual fez Peregrino da Silva quando se afiliou ao movimento do Repertório Bibliográfico Universal de corrente europeia. Entretanto, há nesse momento, um certo distanciamento das correntes de pensamento europeu, para um fortalecimento da corrente estadunidense. Conceitos e ideias advindos de teóricos como de Mikhailov e de instituições de ciência e tecnologia de ponta como o Instituto Estatal de Informação Cientifica e Técnica (VINITI) surgem como influência para pesquisadores brasileiros (Santos Júnior; Pinheiro, 2009) com a visão da informação científica e voltada a informatika.

Em 1968, o IBICT foi responsável pela primeira reunião realizada no Brasil com discussão a respeito da Ciência da Informação no “Seminário de Informática” e em 1971, no “Seminário sobre Documentação e Informação e Informática” promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nesse momento, as discussões a respeito da Documentação voltam a acontecer no Brasil. Confusões terminológicas entre Ciência da Informação e informatika foram dissolvidas a partir de modificação no título do programa de mestrado do IBICT em 1970, e na publicação do primeiro periódico específico da nova ciência no Brasil intitulado por “Ciência da informação.” O periódico Ciência da informação publicou em 1972, seu primeiro número com um artigo que abordou a Bibliografia, o surgimento da Ciência da Informação e os problemas terminológicos subjacentes ao campo, de publicação de Célia R. Zaher e Hagar E. Gomes (PINHEIRO, 2005; Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação PPGCI IBICT- UFR, 2019). Também a Bibliografia é retomada nas discussões da recente área Ciência da Informação no contexto brasileiro.

Araújo (2014) demonstra que os estudos da Ciência da Informação se consolidaram na prerrogativa que o campo tinha na investigação dos fluxos e nos caminhos da informação até sua materialização em produtos e serviços diversos. Advinda principalmente das perspectivas dos Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética e Rússia, a proposta de atuação da Ciência da Informação no país foi disseminada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1970 (ALMEIDA, 2006; ARAÚJO, 2014). No mesmo ano, a Unesco se dispôs a desenvolver políticas de informação científica e tecnológica para países em desenvolvimento, como o Brasil. Decorrente da referida iniciativa, o Manual de Claire de Guinchat e Michel Menou traduzido para diversos idiomas foi publicado no país. No Brasil, o IBICT adotou a visão da Unesco em seus documentos e pesquisas na década de 1970 (Araújo, 2014; Fonseca, 1973).

Araújo (2014) explica que entre as décadas de 1980 e 1990, as faculdades, escolas ou departamentos de Biblioteconomia brasileiros mudaram aos poucos sua designação para Ciência da Informação. No entanto, a maioria dos cursos de graduação em Biblioteconomia mantiveram a mesma denominação, fato que persiste atualmente na maioria dos cursos de graduação no Brasil.  Já os cursos de pós-graduação, continuaram em sua grande maioria, a manter a alteração para Ciência da Informação. Ocorreu dessa forma, um distanciamento e a tentativa em separar a Documentação da Ciência da Informação. Entretanto, como já discutido, a história dos campos do conhecimento se entrelaça, especialmente nos antecedentes da Ciência da Informação no Brasil. Entretanto, é importante destacar que se trata de campos distintos do conhecimento.

Em 1989, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia (ANCIB) é constituída no país com apoio de cursos e programas de pós-graduação do Brasil e professores, pesquisadores e profissionais da área (Almeida, 2006; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia, [2020]). Além das atribuições de fomentar debates e organizar as atividades de ensino e pesquisa nos programas de pós-graduação brasileiros, a ANCIB proporciona por meio do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), profícuas e necessárias discussões da área no contexto brasileiro. O evento tem sido um importante momento para discutir tendências e estudos basilares da Ciência da Informação nacional e internacional.

Almeida (2006) esclarece que a Ciência da Informação no Brasil teve crescimento lento e bastante derivado e expressivo na institucionalidade e fortalecimento dos programas de pós-graduação. O surgimento do primeiro Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação no Brasil, representou uma espécie de inauguração da nova área no país, a Ciência da Informação. A partir desse momento, a Ciência da Informação passou a ser um campo concreto no Brasil.

A trajetória da Ciência da Informação brasileira a partir dos programas de Pós-graduação é importante e possui evidência quando no fortalecimento e emancipação do campo de estudo. No entanto, acredita-se que seus antecedentes históricos não devem deixar de ser evidenciados em sua trajetória ainda recente enquanto campo do conhecimento.

 

6 CONSIDERAÇÔES FINAIS

A história da Ciência da Informação brasileira poderia ser contada por outros diversos profissionais e pesquisadores que foram e são fundamentais para o seu fortalecimento contínuo. A opção em abordar as ações de Peregrino da Silva foram baseadas na intenção de evidenciar um passado longínquo, porém, de renomada importância para a constituição do que viria a ser Ciência da Informação no Brasil. Ainda que o campo avance em seu escopo investigativo, tanto em ciência quanto em tecnologia, outros campos do conhecimento como a Biblioteconomia, a Bibliografia e a Documentação são áreas de seu fundamento e que continuam a influenciar em seu amplo núcleo de pesquisa e aplicação. São também, campos do conhecimento que ainda existem e que continuam com sua trajetória científica e prática.

Nesse sentido, buscou-se resgatar o papel de Peregrino da Silva na história da Ciência da Informação brasileira como uma tentativa de enaltecer suas ações. Também foi intenção resgatar as relações da Biblioteconomia, da Bibliografia e da Documentação com a Ciência da Informação. Fica claro que discutir e resgatar a trajetória da Ciência da Informação, sua relação com campos do conhecimento antecessores e seus personagens são ações que não devem sair de sua agenda investigativa. É evidente que a Ciência da Informação é um campo único com suas teorias e práticas, mas que recebeu ou recebe contribuições da Biblioteconomia, Bibliografia e Documentação, além de outros campos para continuar em desenvolvimento.

A pesquisa demonstra de outro lado, que aparentemente, a Ciência da Informação teve visão mais voltada aos correntes europeias nas ações de Peregrino da Silva, tanto no envolvimento com a Bibliografia e Documentação, quanto na participação do Repertório Bibliográfico Universal e criação do primeiro curso de Biblioteconomia baseado em escola francesa. Já em sua institucionalização por meio do IBBD, observa-se que a corrente de pensamento estadunidense, e em menor proporção, soviética-russa, tiverem um empoderamento sobressalente derivado dos professores convidados a inaugurarem o curso de pós-graduação no Brasil.

Diante do exposto, ressalta-se a importância da história da Ciência da Informação brasileira na consideração dos esforços de Peregrino da Silva e outros profissionais. Também foi importante relatar a respeito de quem foi Peregrino da Silva, assim como seus feitos em diversos campos e atividades. Entretanto, o discurso não nega a importância dos programas de pós-graduação para o fortalecimento da Ciência da Informação no Brasil, mas evidencia a história de seu passado, fato que contextualiza o que é o campo de estudos na atualidade. Com acentuada relevância, a Ciência da Informação tem crescido em formação, teoria e aplicação, mas ainda assim, é preciso continuar na busca de sua cientificidade e valoração de sua história.

 

REFERÊNCIAS

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[1] Docente na Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) no curso de Biblioteconomia. Doutora em Ciência da Informação no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Unesp, campus de Marília, SP.

[2]   A professora e bibliotecária Lydia de Queiroz Sambaquy foi uma das principais idealizadoras do IIBD que o presidiu entre 1954 e 1965 e que fomentou a abordagem da informação nos processos e trabalho do Instituto, o que também propiciou ambiente profícuo para receber a “nova ciência.” (Oddone, 2006).

[3]     Entretanto, tem havido na Ciência da Informação, uma movimentação em prol de enaltecer o papel da Bibliografia na atualidade. Dois exemplos podem ser visualizados no dossiê temático publicado no periódico Encontros Bibli, v. 25, n. esp. 2020, de título “A arte da Bibliografia” e no evento “Seminário Internacional a Arte da Bibliografia” de responsabilidade da Universidade de Bolonha, Itália.

[4] Visconti foi o mesmo artista que criou o ex-libris da Biblioteca Nacional a pedido de Peregrino da Silva.