ALERTA VERMELHO
desinformação, pós-verdade e fake news uma ameaça constante a sociedade
Thiago Silva[1]
Universidade Federal de Alagoas
Marcos Aparecido Rodrigues do Prado[2]
Universidade Federal de Alagoas
Marcosparaddo75@gmail.com
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Resumo
Termos como desinformação, fake news e pós-verdade tornaram-se cada vez mais frequentes no dia a dia da sociedade. A Ciência da Informação, que investiga a produção, disseminação e outros fluxos de informação, passou a dar maior atenção a esses tópicos, especialmente após as eleições presidenciais no Brasil. Este estudo teve como objetivo mapear as publicações na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Bracip), utilizando os termos fake news, desinformação e Ciência da Informação no período de 2022 a 2023. Foram encontrados 33 artigos, que foram categorizados após a leitura dos resumos. Os resultados mostram que a maioria dos estudos se concentra no combate à desinformação, abordando temas como competência em informação, competência crítica em informação e mediação, entre outros.
Palavras-chave: desinformação; pós-verdade; fake news; competência em informação.
RED ALERT
disinformation, post-truth and fake news a constant threat to society
Abstract
Terms such as misinformation, fake news and post-truth have become increasingly frequent in society's daily lives. Information Science, which investigates the production, dissemination and other flows of information, began to pay greater attention to these topics, especially after the presidential elections in Brazil. This study aimed to map publications in the Reference Database of Periodical Articles in Information Science (Bracip), using the terms fake news, disinformation and Information Science in the period from 2022 to 2023. 33 articles were found, which were categorized after reading the abstracts. The results show that the majority of studies focus on combating disinformation, addressing topics such as information competence, critical information competence and mediation, among others.
Keywords: disinformation; post-truth; fake news; information competence.
ALERTA ROJA
desinformación, postverdad y fake news una amenaza constante para la sociedad
Resumen
Términos como desinformación, fake news y posverdad se han vuelto cada vez más frecuentes en el día a día de la sociedad. La Ciencia de la Información, que investiga la producción, difusión y otros flujos de información, comenzó a prestar mayor atención a estos temas, especialmente después de las elecciones presidenciales en Brasil. Este estudio tuvo como objetivo mapear publicaciones en la Base de Datos de Referencia de Artículos Periódicos en Ciencias de la Información (Bracip), utilizando los términos noticias falsas, desinformación y Ciencias de la Información en el período de 2022 a 2023. Se encontraron 33 artículos, que fueron categorizados luego de la lectura de los resúmenes. Los resultados muestran que la mayoría de los estudios se centran en combatir la desinformación, abordando temas como la alfabetización informacional, la alfabetización informacional crítica y la mediación, entre otros.
Palabras clave: desinformación; posverdad; fake news; competencia en información.
1 INTRODUÇÃO
A desinformação é um fenômeno presente na era da pós-verdade, e teve sua popularização por meio do acesso facilitado à tecnologia, ao passo em que estes recursos digitais surgem e se atualizam.
Conforme Brisola e Bezerra (2018), a desinformação diz respeito à informação descontextualizada, manipulada, tendenciosa, que interfere na realidade. Tais atributos podem desencadear um cenário caótico a nível global que pode abranger os diversos âmbitos da vida dos indivíduos, prejudicando tanto o seu desenvolvimento pessoal quanto coletivo. No ambiente virtual, sobretudo nas redes sociais, as informações são produzidas de forma vertiginosa, auxiliando na promoção da desinformação na sociedade.
As interações sociais contemporâneas ocorrem em redes e sistemas digitais de comunicação. Bezerra (2017) ressalta o "regime de informação" na visão de Frohmann, definindo-o como qualquer sistema ou rede onde a informação circula através de canais de produção específicos, mediada por estruturas organizacionais específicas e destinada a consumidores ou usuários específicos.
Recentemente, percebe-se que computadores, tablets e smartphones de última geração têm possibilitado a criação de novos regimes de informação. Tarefas que antes levavam horas para serem concluídas agora são realizadas em segundos, tudo isso na palma das mãos das pessoas, o que pode ser visto como um benefício para a sociedade. O fácil acesso à tecnologia permite a disseminação de informações em aplicativos de mídia e redes sociais em tempo real.
Nesse contexto, as redes sociais atuam como um cenário vibrante, onde as interações sociais se conectam e o poder se expressa de várias maneiras. Essa rede intrincada de relações é influenciada pelas motivações pessoais, que direcionam o uso dessas plataformas e definem seus efeitos na sociedade.
Diversos aplicativos, como WhatsApp, Instagram e Facebook, já estão presentes em nossos smartphones desde o momento da compra, facilitando e incentivando a conexão em redes entre amigos, familiares e o mundo através dessas plataformas. Para tornar essa interação ainda mais acessível, algumas operadoras de telefonia oferecem planos com benefícios exclusivos, como o uso ilimitado do WhatsApp sem consumir os dados do pacote de internet móvel. Essa iniciativa contribui para democratizar o acesso à comunicação e à informação, permitindo que mais pessoas se conectem e compartilhem suas experiências online. A combinação de aplicativos pré-instalados e pacotes de dados com bônus pelas operadoras de telefonia cria um ambiente propício para a inclusão digital e a participação ativa das pessoas na sociedade da informação.
A agilidade com que a informação se propaga nas redes sociais, é inegável. Essa praticidade, no entanto, é uma faca de dois gumes, pois também facilita a proliferação de conteúdos falsos, especialmente aqueles com viés religioso, ideológico e político. O acesso facilitado à tecnologia amplifica esse problema, tornando mais fácil a criação e disseminação de desinformação. E por trás dessa cortina de fumaça, muitas vezes se escondem interesses próprios, já que nesses aplicativos digitais os dados e conteúdos podem ser manipulados por pessoas com agendas específicas.
2 O poder nas redes sociais: um oceano de possibilidades entre motivações e impactos
Nas redes sociais, a informação corre a jato. Uma praticidade indiscutível, mas que se torna perigosa quando usada para propagar conteúdos enganosos. Principalmente aqueles com viés religioso, ideológico ou político, que se aproveitam da facilidade de acesso à tecnologia para se multiplicar como vírus. Nesse turbilhão de informações, nem tudo que parece verdade é de fato. Agendas escondidas se camuflam por trás da desinformação, manipulando dados e conteúdo para alcançar seus objetivos. Navegar na era digital exige responsabilidade, é preciso estar atento para não sermos vítimas da desinformação, que pode ter consequências graves para a sociedade. Compartilhar notícias falsas, por exemplo, pode influenciar opiniões, decisões e até mesmo eleições.
Assim, Araújo (2021) observa uma cultura pós-moderna marcada pelo desprezo e desdém pela verdade, onde a circulação de informações falsas continua a prevalecer. Dessa forma, a verdade muitas das veze continua a ser banalizada, o que facilita a disseminação da desinformação em diversos contextos. A responsabilidade de determinar se um conteúdo é informativo recai sobre quem o recebe e interpreta.
A proliferação de conteúdos falsos nas redes sociais, principalmente aqueles com viés religioso, ideológico e político, não é um mero acaso. Por trás dessa cortina de fumaça se escondem motivações obscuras que visam manipular a sociedade para atender a interesses específicos. Agendas políticas, econômicas e até mesmo religiosas se aproveitam da facilidade de propagação de informações falsas para semear a discórdia, gerar conflitos e minar a confiança em instituições sólidas. Nesse cenário, o "culto ao amadorismo" é exaltado, o senso comum se torna a base para decisões importantes e o conhecimento científico é colocado em xeque. Dados científicos são manipulados para sustentar narrativas falaciosas, trazendo à tona questões já superadas pela humanidade, como a necessidade da vacinação. O movimento antivacina, por exemplo, é um triste exemplo das graves consequências que a desinformação pode ter na saúde pública, colocando em risco vidas e revertendo décadas de progresso científico.
Em um mundo repleto de informações, a verdade nem sempre prevalece. A desinformação e a fake news se espalha rapidamente nas redes sociais, comprometendo a credibilidade das instituições, a saúde pública e a democracia. Nesse contexto, a Ciência da Informação (CI) se destaca como uma luz de esperança, desenvolvendo estratégias e soluções para enfrentar esse desafio da era digital.
Esta pesquisa visa explorar esse campo essencial, analisando os trabalhos publicados nos últimos dois anos na base de dados da Brapci sobre desinformação e fake news. Nosso objetivo é responder às seguintes perguntas: A CI tem encontrado maneiras eficazes de combater a desinformação? Há uma colaboração produtiva com outras áreas do conhecimento para enfrentar esse problema?
Para responder a essas questões, investigaremos as produções científicas nas bases de dados selecionadas, utilizando os termos: desinformação, fake news e Ciência da Informação como guia. Acreditamos que, ao identificar as pesquisas mais relevantes nessa área, poderemos obter uma visão mais clara do papel da CI na luta contra a desinformação. Com base em dados concretos, poderemos apontar as lacunas existentes, as áreas que necessitam de mais investimento e as melhores práticas já em uso.
Na era da internet instantânea e das redes sociais em alta, a maneira como consumimos e compartilhamos informações mudou drasticamente. O que antes era transmitido de forma linear por rádios, TVs e jornais impressos, agora flui em um turbilhão de conteúdos criados e disseminados por todos nós, os cidadãos. Essa democratização da informação é, sem dúvida, um grande avanço. As vozes, as perspectivas e as possibilidades de acesso ao conhecimento se multiplicaram. No entanto, surge um novo desafio: a desinformação. Notícias falsas, boatos e conteúdos enganosos proliferam em um ambiente onde a verificação dos fatos e a busca por fontes confiáveis nem sempre são práticas comuns. Essa desinformação empoderada tem impactado profundamente a sociedade, alterando o processo de comunicação e, muitas vezes, colocando em risco a democracia e a própria verdade.
Veículos tradicionais de comunicação, como jornais e TVs, que antes eram os guardiões da informação, agora enfrentam a difícil missão de navegar nesse mar de conteúdos, tentando discernir o que é real do que é falso. A responsabilidade de verificar a veracidade das informações se torna cada vez mais difusa, exigindo um esforço conjunto de todos os envolvidos no processo comunicativo.
A internet e as redes sociais revolucionaram a comunicação e o acesso à informação. Contudo, essa liberdade trouxe um desafio significativo: a disseminação de conteúdos de qualidade duvidosa e, em muitos casos, completamente falsos. Informações sem embasamento científico se espalham rapidamente, frequentemente apresentadas como verdades absolutas. Essa desinformação pode ter sérias consequências, afetando opiniões, decisões e até mesmo colocando em risco a saúde pública. Figuras públicas, que deveriam ser modelos de responsabilidade e ética, também participam desse jogo sujo. Utilizando sua influência para divulgar notícias falsas intencionalmente, buscam alcançar objetivos políticos ou econômicos, muitas vezes em detrimento do bem-estar da sociedade.
Diante desse cenário, destacamos o perigo de viver em uma sociedade marcada pela desinformação, onde a população é facilmente manipulada, incapaz de exercer plenamente sua cidadania e vulnerável a eventos preocupantes. Além disso, enfatizamos que a Ciência da Informação (CI), responsável pelos estudos da informação em todas as suas dimensões, deve incluir a desinformação em suas investigações, considerando os impactos que esta tem sobre os usuários da informação.
2.1 Desvendando a face obscura da informação: A Ciência da Informação no combate à desinformação.
A desinformação, fake news e pós-verdade são semelhantes a vírus que se espalhando rapidamente, um problema grave da era digital que requer soluções imediatas. Nesse cenário, a Ciência da Informação (CI) se destaca como uma luz de esperança, possuindo as ferramentas e o conhecimento necessários para enfrentar essa ameaça informacional. Diferente de outros problemas relacionados à informação, a desinformação possui características únicas que a tornam um desafio ainda mais complexo. Sua natureza enganosa e intencional, frequentemente mascarada como verdade, demanda uma análise cuidadosa e crítica por parte da CI.
Sob a ótica da desinformação, fake news e pós-verdade como fenômenos ligados a questões informacionais, introduzimos essa discussão no contexto da Ciência da Informação. Concluímos que, do ponto de vista social, a CI deve oferecer à sociedade maneiras de lidar com conteúdo (des)informativos, além de esclarecer o que são esses fenômenos, suas características e consequências.
O fenômeno da desinformação, sendo uma ambivalência da informação, situa-se claramente no âmbito da CI. Seja oferecendo uma discussão robusta, seja indicando meios de enfrentamento a esse fenômeno, a CI pode assumir o protagonismo de quem tem a informação como seu objeto. (Heller; Jacobi; Borges, 2020, p. 199).
Considerando que a informação é essencial para o avanço humano, científico e social, ela atua como um agente transformador, gerando conhecimento e alterando realidades. Le Coadic (1996, p. 27) afirma que "[...] a informação é o sangue da ciência. Sem informação, a ciência não pode se desenvolver e viver. Sem informação, a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria." Portanto, a desinformação e suas manifestações são prejudiciais para a ciência e, consequentemente, para a Ciência da Informação.
Pinheiro e Brito (2014) propõem um desafio significativo para a Ciência da Informação (CI): ultrapassar a simples análise da informação em seu estado puro e positivo, e explorar sua "dimensão negativa", que é a desinformação. Essa faceta sombria da informação, frequentemente disfarçada de verdade, demanda da CI uma abordagem crítica e o desenvolvimento de ferramentas eficazes para enfrentá-la.
Na era digital, onde a informação circula abundantemente, termos como desinformação, fake news e pós-verdade frequentemente se misturam, causando confusão entre os usuários. É essencial, portanto, distinguir esses conceitos, compreendendo suas nuances. Desinformação: Não se trata apenas de mentiras ou falta de informação, mas de uma manipulação intencional para enganar o público, muitas vezes mascarada como verdade. Fake news: São notícias falsas criadas com o propósito de enganar e manipular a opinião pública, geralmente explorando temas sensacionalistas para distorcer a realidade. Pós-verdade: Vai além da simples negação da verdade, representando um estado onde emoções e crenças pessoais prevalecem sobre fatos objetivos, resultando em narrativas subjetivas e opiniões infundadas.
Heller (2021, p. 55) explica que a desinformação, ou a distorção da verdade, não é um fenômeno novo, pois “a manipulação da verdade sempre existiu. O que mudou atualmente é a forma como as pessoas reagem à informação: os manipulados cada vez mais apoiam as intenções dos manipuladores.”
Demo, (2000, p. 39) apresenta uma reflexão interessante ao afirmar que "Desinformação faz parte da informação, assim como a sombra faz parte da luz. Trata-se do mesmo fenômeno, apenas com sinais inversos". O autor argumenta que é impossível separar a desinformação da informação, essa consideração é essencial para discutir o conceito de desinformação, pois existe o risco real de manipulação da informação por aqueles que a produzem e divulgam.
Além disso, é importante ressaltar que a desinformação não se limita apenas a informações falsas. Ela também pode envolver informações verdadeiras que foram tiradas de contexto ou apresentadas de maneira intencional em determinadas circunstâncias. Ela não se resume a meras mentiras. É um jogo de espelhos quebrado, onde a verdade se distorce, se fragmenta e perde sua forma original. Essa distorção da realidade pode assumir diversas faces, nem sempre óbvias aos olhos desatentos.
2.2 Pós-verdade: Um Desafio Instigante para a Ciência da Informação
Em um mundo inundado por informações, onde a verdade e a mentira se entrelaçam como fios em um tecido complexo, surge o conceito da pós-verdade. Mas antes de desvendarmos suas nuances, é crucial reconhecer sua profunda conexão com a desinformação, um fenômeno de escopo mais amplo que serve como base para entendermos a pós-verdade. De acordo com Silva (2018, p. 340), um dos principais aspectos da prática da pós-verdade é a maneira como a informação é gerada para ser utilizada, assimilada, compreendida e apropriada. Com isso, percebemos que a pós-verdade tem como objetivo confundir o usuário da informação durante o desenvolvimento do conhecimento.
Como a pós-verdade presume o descompromisso com a realidade, os conteúdos precisos e relevantes assumem uma condição secundária nos processos de produção e circulação de informações, e as informações aparentes e falaciosas relevam-se como ‘verdades’ indubitáveis. (Santos, Santos, Lavigne, 2020, p. 321).
Em um cenário global cada vez mais interligado e repleto de informações, a pós-verdade se apresenta como um fenômeno complexo e desafiador para a Ciência da Informação (CI). De acordo com Araújo (2021), essa nova realidade demanda da CI uma abordagem inovadora e o desenvolvimento de ferramentas inéditas para sua compreensão e enfrentamento.
Considerando que neste texto a pós-verdade é marcada pela diminuição da importância da verdade objetiva e pela prevalência de crenças pessoais e emoções, frequentemente disseminadas através da desinformação e das fake news. Nesse cenário, a Ciência da Informação enfrenta um conjunto de fatos e processos inéditos, que ainda estão sendo explorados e compreendidos.
2.3 Fake News: O Lobo em Pele de Cordeiro na Era Digital
Quanto Fake News, pode inferir que elas não são apenas erros ou informações imprecisas; elas são mensagens enganosas que se passam por notícias, criadas com a intenção deliberada de manipular pessoas, instituições e grupos sociais. Conforme Brisola e Bezerra (2018), as fakes news aparentam ter uma autoridade informativa e são criadas e disseminadas por duas principais razões. Primeiramente, elas são um negócio rentável, pois geram tráfego e publicidade para os sites onde são publicadas. Em segundo lugar, há uma motivação ideológica por trás de sua produção e circulação.
Pessoas que acreditam em uma determinada ideologia e querem atrapalhar, humilhar, desacreditar etc. o “outro lado”, “ajudando” assim o “seu lado” [...] a ideia de uma supremacia ideológica justifica o uso de fake news como meio aceitável para um fim legítimo. (Brisola; Bezerra, 2018, p. 3326)
Esses supracitados termos, transcenderam o status de meras palavras e se transformaram em temas de investigação científica, atraindo a atenção de várias áreas, como a própria CI. Especialistas de diferentes campos se dedicam a explorar as sutilezas desses fenômenos, com o objetivo de entendê-los em toda sua profundidade e complexidade.
Zarocostas (2020) destaca que, nas redes sociais, esse fenômeno se espalhou rapidamente, semelhante a um vírus. O autor também menciona uma epidemia global de desinformação e cita o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que afirmou que não estamos apenas enfrentando uma epidemia, mas também uma "infodemia". Em outras palavras, a desinformação não está relacionada à qualidade ou veracidade da informação, mas ao seu excesso.
Essa transformação no cenário informacional estimulou o desenvolvimento de novas áreas de pesquisa e estudos científicos focados em entender as características, os impactos e as possíveis soluções para combater a desinformação. No campo da Ciência da Informação, essa questão é essencial para compreender como as tecnologias de comunicação e os processos informacionais contribuem para a propagação de informações falsas ou enganosas, e como podemos usar essas mesmas ferramentas para promover a produção, o acesso e a circulação de conteúdos confiáveis e verdadeiros.
3 PECURSO METODOLÓGICO E RESULTADOS
Para a coleta de dados, foi realizado um levantamento na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci), focando nas publicações do período de 2022 a 2023. Utilizaram-se os seguintes termos na pesquisa: desinformação, pós-verdade e fake news. O objetivo da pesquisa foi analisar a produção nacional de materiais sobre o fenômeno da desinformação dentro do Enancib nas duas últimas edições. A delimitação do período tem por finalidade acompanhar o período em que ocorreu a última eleição presidencial.
Quadro 1 – Publicações dos 2022-2023 na Base Brapci
Autores |
Tema sobre desinformação |
Fonte |
FARIAS, M. W. N.; GOMES, M. A - 2022. |
Acesso e uso da internet no brasil: desinformação e suas consequências legais. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200244 |
SILVA, F. B.; SOUSA, P. C. C. - 2022. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200300 |
|
SILVA, F. B.; SOUSA, P. C. C - 2022. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200300 |
|
MARQUES, J. F.; ALVES, E. C - 2022. |
Negacionismo e desinformação como narrativas da pandemia de covid-19 |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200640 |
SANTOS, J. S. J.; MATA, M. L. -2022. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200708 |
|
SANTOS, W. A. L.; PAJEU, H. M -2022. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/200957 |
|
SILVA, A. J.; WILKE, V. C. L. - 2022 |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/201187 |
|
MENEZES, P. L.; SILVA, T. E.; LEAO, M. A. C. - 2022. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/201296 |
|
NOGUEIRA, C. A.; DOMINGUES, R. P.; ARAUJO, C. A. A - 2022. |
Desinformação no contexto da ciência da informação: um breve panorama (2019-2022) |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/201470 |
ACQUOLINI, N. T.; SOUSA, R. S. C. - 2022. |
Desinformação de gênero: práticas informacionais que contribuem ao seu combate |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/202088 |
PINTO, B. B. B.; OLIVEIRA, H. P. C. - 2022. |
Desinformação, agências de fact checking e identificação de fake news. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/202146 |
MACHUY, C.; SCHNEIDER, M.; AGUIAR, J. - 2023. |
Bolhas da extrema-direita e validação instituicional da desinformação. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257696 |
MESQUITA, D. L.; GOMES, H. F.; VIANA, F. C. - 2023. |
Mediação da informação no combate à desinformação: contributos da biblioteca escolar |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257704 |
MOTA, D. A. R.; SAMPAIO, D. B.; MARTINS, G. K. - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257709 |
|
CRUZ, H. P.; et al... - 2023. |
Informação e potencial desinformação no twitter de parlamentares brasileiros |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257734 |
MARQUES, J. F.; et al... - 2023. |
Educomunicação e ciência da informação no combate à desinformação |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257808 |
FIGUEIRA, M.; SILVA, A. J.. - 2023. |
Desinformação: equívoco conceitual ou neologismo para falsa consciência? |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257872 |
CAMOSSI, G.; et al.. - 2023. |
Search engine optimization e desinformação: a otimização na construção das fontes verificadas. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257941 |
VAZ, G. A.; et al.. - 2023. |
Desinformação e práticas informacionais: uma análise do contexto étnico-racial no brasil |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258133 |
CASTRO, M. F. F.; PRESSER, N. H. - 2023. |
Estratégias de enfrentamento à desinformação nos processos eleitorais |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258197 |
CABRAL, F. C.; SOUSA, R. S. C. - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258249 |
|
ARAUJO, R. F.; et al.. 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258256 |
|
FURTADO, R. L.; FEITOSA, A. Y. B.. - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258532 |
|
VIANA, A. R. L.; et al.. - 2023. |
Tendências de pesquisas em desinformação de gênero na web of science e scopus. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258629 |
CRUZ, H. P.; SILVA, M. B.; PINTO, B. B. B- 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258644 |
|
ARAUJO, C. A. A.; et al.. - 2023. |
Dinâmicas da desinformação: investigando os diferentes níveis do fenômeno. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258710 |
Autores |
Tema pós-verdade |
Fonte |
MENEZES, P. L.; SILVA, T. E.; LEAO, M. A. C. - 2022.
|
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/201296 |
|
Autores |
Tema fake news |
Fonte |
LIRA, S. L.; et al... - 2022. |
Checagem de fake news: uma abordagem por meio de indícios de comunidades virtuais de prática |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/201617 |
PINTO, B. B. B.; OLIVEIRA, H. P. C. - 2022. |
Desinformação, agências de fact checking e identificação de fake news |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/202146 |
MOTA, D. A. R.; SAMPAIO, D. B.; MARTINS, G. K. 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257709 |
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COSTA, M. P. - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257874 |
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CRUZ, H. P.; BEZERRA, T. D.; SILVA, J - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/257926 |
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OLIVEIRA, D. F.; MARQUES, R. M. - 2023. |
Acesso em: 15 jul. 2024. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/258053 |
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Fonte: Pesquisa de dados 2024.
Para desvendar os detalhes da desinformação, pós-verdade e fake news, realizamos uma pesquisa abrangente em 33 artigos. Analisando os resumos de cada um, identificamos e examinamos cuidadosamente as categorias que compõem esse campo complexo e desafiador. Dos artigos, 26 focaram na desinformação, 5 investigaram as fakes news, e apenas 1 abordou a pós-verdade. Vale destacar que 1 artigo tratou simultaneamente de desinformação e fake news.
Em nosso estudo aprofundado sobre desinformação, categorizamos as publicações em 27 áreas temáticas distintas. Entre elas, a competência em informação se destaca com o maior número de artigos, totalizando 13. Essa relevância aponta para a Coinfo como uma ferramenta poderosa no combate à desinformação, conforme sugerido pelos autores.
Outra temática que merece atenção é a das fake news nas redes sociais e na tecnologia, com um total de 6 artigos. É reconhecido que o acesso à tecnologia é um fator crucial para a propagação de fake news, devido à velocidade com que as notícias falsas alcançam um grande número de pessoas.
Entre outros temática encontra-se; 4 artigos que sobre categoria de saúde mental causados pelas fake news; 3 sobre a relação entre vacina e negacionismo; 3 sobre o fact-checking; 2 artigos que fizeram revisões de literatura sobre fake news e desinformação; práticas profissionais na CI. As temáticas apresentam problemas cada vez mais comuns e estratégias para combatê-los, como é o caso da checagem de fatos. O negacionismo e o movimento antivacina tem trazido problemas complexos para a sociedade, pois é uma questão de pacto social.
A disseminação de informações falsas, conhecida como desinformação, tornou-se um foco importante nos estudos da Ciência da Informação (CI) a partir de 2018, conforme indicado por Heller, Jacobi e Borges (2020). Esse aumento nas pesquisas é justificado pelo impacto crescente da desinformação na sociedade, especialmente na era digital. Araújo e Vogel (2021) apoiam essa visão, destacando a CI como a área que mais tem investigado a fake news nos últimos anos. No entanto, os autores apontam a falta de estudos anteriores sobre o tema, indicando um vasto campo de pesquisa a ser explorado pela CI.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo investigar as pesquisas sobre desinformação nas duas edições mais recentes do Enancib, sem a pretensão de analisar exaustivamente como esses fenômenos estão sendo abordados na área. Em vez disso, procurou destacar alguns desdobramentos desse tema que, como mencionado anteriormente, é um processo utilizado para manipulação desde tempos antigos, mas que, com o avanço tecnológico, adquiriu novas dimensões e maneiras de enganar em diversos aspectos.
A fake news frequentemente ligadas às redes sociais e à tecnologia, agora apresentam uma forma ainda mais complexa e preocupante: a infiltração nas corporações de mídia. Esse novo ataque à imprensa livre e à verdade demanda uma vigilância maior e ações eficazes para combatê-lo. É essencial entender que as fakes news não se restringem ao ambiente digital. Elas também podem surgir dentro das próprias empresas de comunicação, disfarçadas como notícias legítimas. Essa prática maliciosa tem como objetivo desacreditar a imprensa livre, manipular a opinião pública e promover agendas específicas. Combater as fakes news nas corporações de mídia é uma luta vital para proteger a imprensa livre e assegurar o acesso à informação confiável. Através da cooperação entre empresas de comunicação, profissionais da área, entidades da sociedade civil e o público em geral, podemos criar um ambiente midiático mais ético, responsável e comprometido com a verdade.
Refletindo sobre os pressupostos iniciais desta pesquisa, destaca-se que, segundo os trabalhos analisados, a Coinfo e a Competência Crítica em Informação são estratégias eficazes no combate à desinformação, com as quais a Ciência da Informação pode contribuir significativamente. Além disso, é evidente a necessidade de a Ciência da Informação fortalecer sua colaboração com áreas da comunicação, como o jornalismo, que também se dedica à utilização de fontes confiáveis e à verificação da veracidade das notícias.
Ao final desta análise, fica claro que a desinformação se insere de forma persistente nas interações sociais influenciadas pela mídia e pela internet. Essa situação preocupante demanda um compromisso contínuo com pesquisas em Ciências da Informação para investigar e combater esse problema da era digital.
REFERÊNCIAS
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