Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação no Brasil
abordagem a partir dos indicadores nos anais do ENANCIB
Edcleyton Bruno Fernandes Silva[1]
Instituto Federal de Alagoas
Marcos de Souza[2]
Universidade Federal da Bahia
mds@ufba.br
Edivanio Duarte de Souza[3]
Universidade Federal de Alagoas
edivanio.duarte@ichca.ufal.br
______________________________
Resumo
Os indicadores da produção científica são importantes elementos para a compreensão da dinâmica do conhecimento em informação. Nessa perspectiva, a pesquisa objetiva mapear autores referenciais da Ciência da Informação a partir das publicações dos anais do GT1 do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). Buscou-se identificar os acoplamentos bibliográficos desses autores, apresentar seus clusteres / referências a partir do corpus analisado e a coocorrência de palavras-chave. O corpus da pesquisa foi constituído por meio da extração de dados dos resumos expandidos e comunicações completas publicadas entre os anos de 2018 a 2023. Foram extraídos os elementos: tipo de pesquisa, nome do primeiro autor, título, palavras-chave, resumo e as referências. Foram analisados 109 documentos e extraídos 2369 referências. Harold Borko e Tefko Saracevic e suas respectivas pesquisas “Information Science: What is it?” (1968) e “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996) apresentaram maior representatividade, referenciados em 10,09% da produção analisada. Rafael Capurro, com a “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003), e Tefko Saracevic, também com “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996), foram os autores referenciados em 9,17% do universo das pesquisas. A análise da produção resultou também em dois clusters, um com 45 publicações, e outra com 22 publicações. A palavra-chave “Ciência da Informação”, foi o termo com maior ocorrência, totalizando 22,02% do corpus de documentos, seguido pelos termos “Epistemologia”, com 10,09% e “Interdisciplinaridade”, com 7,34% da composição dos clusteres. As obras mais referenciadas, tanto identificadas de maneira singular quanto por acoplamento bibliográfico, estão alinhadas com o escopo do GT1 do ENANCIB.
Palavras-chave: Ciência da Informação; epistemologia da Ciência da Informação; produção científica; ENANCIB.
ESTUDIOS HISTÓRICOS Y EPISTEMOLÓGICOS DE LAS CIENCIAS DE LA INFORMACIÓN EN BRASIL
enfoque baseado en indicadores en los anales de la ENANCIB
Resumen
Los indicadores de producción científica son elementos importantes para comprender la dinámica del conocimiento. Desde esta perspectiva, se pretende mapear autores de referencia en Ciencias de la Información a partir de publicaciones en los anales del GT1 del Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). Se buscó identificar los acoplamientos bibliográficos de estos autores, presenta grupos de autores/referencias del corpus analizado y la co-ocurrencia de palabras clave. El corpus de la investigación se constituyó mediante la extracción de datos de resúmenes ampliados y comunicaciones completas publicadas entre 2018 y 2023. Se extrajeron los siguientes elementos: tipo de investigación, nombre del primer autor, título, palabras clave, resumen y las referencias. Se extrajeron los siguientes elementos: tipo de investigación, nombre del primer autor, título, palabras clave, resumen y referencias. Se analizaron 109 documentos y se extrajeron 2369 referencias. Harold Borko y Tefko Saracevic y sus respectivas investigaciones “Information Science: What is it?” (1968) y “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996) presentaron mayor representación, referenciada al 10,09% de la producción analizada. Rafael Capurro, con ““Epistemologia e Ciência da Informação” (2003), y Tefko Saracevic, también con “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996), fueron los autores referenciados en el 9,17% del universo de investigación. El análisis de la producción también resultó en dos conglomerados, uno con 45 publicaciones y el otro con 22 publicaciones. La palabra clave “Ciencias de la Información” fue el término de mayor ocurrencia, totalizando el 22,02% del corpus de documentos, seguida por los términos “Epistemología”, con el 10,09% e “Interdisciplinariedad”, con el 7,34% del total. Las obras más referenciadas, tanto identificadas de forma singular como mediante acoplamiento bibliográfico, se alinean con el alcance del GT1 de ENANCIB.
Palavras-chave: Ciencia de la Información; epistemología de la Ciencia de la Información; producción científica; ENANCIB.
HISTORICAL AND EPISTEMOLOGICAL STUDIES OF INFORMATION SCIENCE IN BRAZIL
approach based on indicators in the annals of ENANCIB
Abstract
Scientific production indicators are important elements for understanding the dynamics of information knowledge. From this perspective, it aims to map reference authors in Information Science based on publications in the annals of GT1 of the Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). It sought to identify the bibliographic couplings of these authors, presents clusters of authors/references from the analyzed corpus and the co-occurrence of keywords. The research corpus was constituted through the extraction of data from expanded abstracts and complete communications published between 2018 and 2023. The following elements were extracted: type of research, name of the first author, title, keywords, summary and the references. 109 documents were analyzed and 2369 references were extracted. Harold Borko and Tefko Saracevic and their respective research “Information Science: What is it?” (1968) and “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996) presented greater representation, referenced at 10.09% of the analyzed production. Rafael Capurro, with “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003), and Tefko Saracevic, also with “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996), were the authors referenced in 9.17% of the research universe. The production analysis also resulted in two clusters, one with 45 publications, and the other with 22 publications. The keyword “Information Science” was the term with the highest occurrence, totaling 22.02% of the corpus of documents, followed by the terms “Epistemology”, with 10.09% and “Interdisciplinarity”, with 7.34% of the total. cluster composition. The most referenced works, both identified singularly and through bibliographic coupling, are aligned with the scope of ENANCIB's GT1.
Keywords: Information Science; epistemology of Information Science; scientific production; ENANCIB.
1 Introdução
Os estudos epistemológicos são essenciais para a compreensão histórico-crítica da produção de conhecimento e da conformação de campos científicos a partir do processo de institucionalização cultural da ciência. Assim, é forçoso reconhecer, preliminarmente, que o conhecimento em informação é fruto de uma série de investidas de pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, tais como Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Recuperação da Informação, entre outras.
A Ciência da Informação, neste particular, surgida no contexto da revolução técnica e científica no pós-Segunda Guerra Mundial (Saracevic, 1996), ergue-se a partir de aglomerados de campos multidisciplinares com orientações interdisciplinares, em busca de soluções de problemas informacionais emergentes à época, como a explosão informacional, o caos documental e a recuperação da informação. Por conseguinte, vem se desenvolvendo com base na epistemologia interdisciplinar, sobretudo, com esforços voltados para a organização e a representação da informação, aprofundando-se em questões teóricas e buscando aproximação com o campo social (Souza, 2015).
Os estudos da produção científica destacam-se por aprofundar conhecimentos nas pesquisas desenvolvidas neste campo de conhecimento, caracterizando-se pelo tratamento da informação desde a produção, o tratamento, a organização, a disseminação até o uso final, em uma dinâmica recursiva. A participação de pesquisadores de diversas áreas contribui para a construção de pesquisas colaborativas, desenvolvidas por indivíduos de diferentes campos do conhecimento. É importante ressaltar que, no contexto da produção científica, os autores podem trazer teorias próprias de suas áreas de origem e relacioná-las com a Ciência da Informação, construindo verdadeiras redes interdiscursivas em torno do pensamento informacional.
Essa característica plural pode dificultar a construção e/ou a manutenção da identidade disciplinar em sua produção, pois os pesquisadores de outras áreas têm conhecimentos base de sua área de formação. A colaboração com outros indivíduos, contudo, permite o compartilhamento de informações, de teorias e de conceitos de diversas áreas no campo científico da Ciência da Informação, permitindo abordagens mais complexas em torno dos objetos de estudo.
No Brasil, a Ciência da Informação reúne pesquisadores da área para apresentar estudos desenvolvidos, especialmente na Pós-Graduação, durante o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). Este evento reúne anualmente pesquisadores de diversas regiões do país para discutir e apresentar propostas e resultados de pesquisa realizados nos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação, organizados em 12 Grupos Temáticos (GTs), dentre os quais se destaca o GT1 – Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação, que se dedica a abordar temáticas diversas acerca do campo e do objeto de estudo, a partir dos aspectos epistemológicos, históricos, historiográficos e teóricos.
Este artigo, que resulta da convergência de desdobramentos de três pesquisas de doutorado, tem como objetivo mapear os autores considerados como referenciais para a área da Ciência da Informação, especificamente do GT1, a partir das publicações dos anais do ENANCIB. Além disso, busca identificar os acoplamentos bibliográficos desses mesmos autores referenciais, e apresentar clusteres de autores / referências a partir do corpus analisado e coocorrências de palavras-chave. É forçoso considerar que estudos desta natureza se revestem de relevância no contexto científico, uma vez que pesquisas baseadas em Análise de Redes de Citações, poderão facilitar a identificação de teorias e de conceitos estudados por pesquisadores de outras áreas do conhecimento, imbricadas na produção científica desse campo de conhecimento.
Organizado em cinco seções, o texto, além desta introdução, com contextualização, delimitação temática e objetivos, apresenta na segunda seção, o referencial teórico, que norteia os conceitos sobre a temática abordada, notadamente, Epistemologia da Ciência da Informação e Análise de Citações. Em seguida, na terceira seção, são apresentados os procedimentos metodológicos. Na quarta seção, discorre sobre os resultados e as discussões alcançados. E, por fim, constam as considerações finais, seguida das referências adotadas.
2 O campo da Ciência da Informação: breves considerações
A epistemologia, ramo da filosofia que historicamente se dedicou ao estudo do conhecimento humano, a partir das relações lógico-racionais, ganha novos contornos no século XXI, social e pragmático, ao se dedicar ao estudo dos processos de conhecimento e de construção da realidade. Com efeito, “Essa proposição epistemológica de tipo naturalista e tecnológico questiona, de diversas formas, as teses clássicas metafísica, idealista e transcendental. A tecnologia digital permite a simulação de processos cognitivos em artefatos, como nos mostram a robótica e diversos tipos de sistemas bio-tecnológicos” (Capurro, 2023).
Partindo desse pressuposto, considera-se que o campo da epistemologia é essencial para todas as áreas científicas, pois estabelece os alicerces de cada disciplina, define seus limites, identifica quais fenômenos são válidos para estudo e determina as metodologias aceitas para investigar esses fenômenos. Para a Ciência da Informação, a epistemologia é fundamental devido às seguintes características: é uma ciência relativamente nova; sua constituição resulta de diferentes disciplinas; sua relação com campos existentes, como a biblioteconomia, arquivologia e documentação; e as perspectivas técnicas e tecnológicas, humanas e sociais (Araújo, 2021).
Dentre alguns temas de estudo que abordam a Epistemologia da Ciência da Informação estão: Natureza da Informação - explora o que constitui informação e como ela difere de dado e de conhecimento (Davenport; Prusak, 1998; Floridi, 2011; Semidão, 2014); Processos de Informação - examina como a informação é coletada, organizada, armazenada, recuperada e usada (Bates, 1979; Buckland, 1991); Interdisciplinaridade - analisa como a Ciência da Informação interage e integra conceitos de outras disciplinas (Pinheiro, 2006; Saracevic, 1996; Satur, 2018; Souza, 2015); História da Ciência da Informação - investiga a evolução do campo e as mudanças em suas abordagens teóricas e práticas (Oliveira, 2005; Pinheiro, 2002; Saracevic, 1996); Teorias e Modelos - avalia os diferentes modelos e teorias que explicam os fenômenos informacionais, como a Teoria Matemática da Informação e a Teoria dos Estados Anômalos de Conhecimento (Araújo, 2020; Belkin, 1980; Shannon, 1948) e o modelo teórico conhecido como paradigma de sistemas ou físico (Bawden; Robinson, 2012).
Ademais, a compreensão dos paradigmas em um campo científico possibilita, em certa medida, o acompanhamento da dinâmica dos processos e dos progressos dos conhecimentos, inclusive por intermédio das crises que são instauradas no interior deles, sejam elas de crescimento ou de degenerescência, que, no entendimento de Kuhn (2005), resultam, respectivamente, em consolidação de paradigma (ciência normal) e em rupturas paradigmáticas (ciência revolucionária). Em que pese esta dicotomia, deve-se considerar, de modo complexo, que:
[...] crises, rupturas, erros, mal entendidos, equívocos, analogias, dados empíricos, conceitos, hipóteses, dúvidas, retrocessos e buscas sem saída assim como as instituições, os instrumentos, as visões e paixões que suportam por assim dizer os processos cognitivos, constituem o cerne mesmo, em parte latente e em parte explícito, de todo campo científico, pois o êxito ou o predomínio de um paradigma científico está sempre em parte condicionado às estruturas sociais e aos fatores sinergéticos, incluindo eventos fora do mundo científico, cujo efeito multicausal não só é difícil de prever, como também de analisar a posteriori (Capurro, 2023).
Então, nesse horizonte de procurar compreender a organização do campo de conhecimento, Capurro (2003) identifica três paradigmas epistemológicos principais na Ciência da Informação, a saber, o paradigma físico, o cognitivo e o social. O paradigma físico teve seu início como uma teoria da recuperação de informação, associada à referida Teoria Matemática da Informação de Claude Shanon e Warren Weaver (1949/1972), aos experimentos de Cranfield e à Teoria da Informação-como-Coisa” de Michael Buckland (1991b). Essencialmente, esse paradigma sugere que há um objeto físico (uma coisa, um sinal, etc.) que é transmitido de um emissor para um receptor.
O paradigma cognitivo evoluiu da recuperação de informação para focar nos processos cognitivos dos usuários, em uma perspectiva idealista e individualista. Este paradigma reconhece a importância do usuário como sujeito cognoscente e explora como os processos informacionais transformam seus modelos mentais, abordando a interação entre os processos informativos e as transformações cognitivas dos usuários, sem, contudo, considerar os contextos em que eles se encontram inseridos ou as condicionantes sociais e materiais do existir humano (Capurro, 2003). Neste domínio, destaca-se a Teoria dos Estados Anômalos de Conhecimento de Nicholas Belkin, segundo a qual a informação corresponde ao que transforma o estado de conhecimento do sujeito (Belkin, 1980).
O paradigma social, conforme apresentado por Capurro (2003), engloba diversas teorias e pontos de vista pragmáticos fundamentados em autores como Frohmann (1995), Wittgenstein (1958), Heidegger (1973), Hjørland e Albrechtsen (1995), Luhmann (1987), Cornelius (1996), Kuhlen (1996), e Peirce (1839-1914). Em suma, o paradigma social enfatiza a importância dos contextos sociais e pragmáticos na produção e na interpretação da informação, criticando a visão isolacionista e idealista do paradigma cognitivo. Ele propõe uma abordagem mais integrada e contextualizada, reconhecendo a natureza polissêmica da informação e a necessidade de considerar as redes sociais e pragmáticas que sustentam os diversos processos informativos.
Renault (2007) discorre sobre a importância de identificar paradigmas e modelos, especificamente para a Ciência da Informação, uma vez que, até então, surgiam dúvidas sobre sua cientificidade à luz da obra de Kuhn (2005), na qual paradigmas estabelecidos, uma vez esgotados, deveriam ser quebrados para não obstruir o avanço da ciência. Dessa forma, ocasionaria na ruptura do paradigma vigente e o surgimento de um espaço para a composição de um novo paradigma.
Então, resta claro que o conhecimento em informação é fruto das crises instauradas naqueles três paradigmas epistemológicos predominantes na Ciência da Informação, inclusive com a possibilidade de emergência de outros, conforme anunciado por Capurro (2003) e proposto por Souza (2023, 2024). Na virada do século, observa-se que:
[...] as proposições epistemológicas atuais são tecnológicas e naturalistas, no sentido de que o lugar privilegiado do conhecer humano é, pelo menos parcialmente, questionado, não só através dos esforços para explicar cientificamente, por exemplo, a emergência da consciência ou da identidade pessoal, como também em relação à tendência niveladora de tais teorias com relação a processos cognitivos no mundo natural não humano, que levam a outros novos projetos tecnológicos, como o da inteligência e o da vida artificial (Capurro, 2023).
Observando os desdobramentos técnico-científico dos últimos anos, Souza (2023, 2024) pondera sobre o que se pode chamar da fronteira do paradigma social, sobretudo, com a emergência de novos estados de conhecimento mediados pelo Inteligência Artificial. De fato, o desenvolvimento de tecnologias digitais de ponta, especialmente, com a aplicação desse tipo de inteligência pelas chamadas Big Tech, com base em algoritmos e no capitalismo de vigilância (Morozov, 2018; Zuboff, 2020), as relações dinâmicas entre o fato (a coisa) e o ato (a ação), presente no processo informacional (Silva; Ribeiro, 2008), já não se mostra suficiente, na medida em que essas tecnologias requerem, especialmente, o redimensionamento do “ato” e do “fato” na constituição da informação (Souza, 2024).
A reflexão epistemológica, então, nunca será de fato concluída, uma vez que “Respostas produzidas num contexto logo depois mostram-se limitadas ou superadas diante de mudanças ocorridas tanto no mundo real, no plano da empiria, como também nos resultados da evolução do próprio conhecimento científico” (Araújo, 2021, p. 2). Essa condição de sistema epistemológico aberto, por assim dizer, evidencia a importância de realizar estudos sobre os elementos que compõem a dinâmica de produzir conhecimento em informação.
Em síntese, observa-se que os modelos podem ser empregados sob os aspectos epistemológicos, metafísicos, éticos e estéticos diversos, conforme condições de produção e de apreensão da realidade estudada. Fundamentados em teorias, os modelos estão próximos dos métodos, considerando os exemplos: o modelo de comunicação decorrente da Teoria Matemática da Informação; o modelo de classificação baseado na Teoria da Classificação Facetada de Ranganathan; o modelo de atuação social estabelecido pela Teoria da Epistemologia Social de Jesse Shera. Dentro do contexto, um paradigma pode abrigar várias teorias, bem como também uma teoria pode abrigar diferentes modelos (Renault, 2007).
Araújo (2014) evidencia os desafios contemporâneos da Ciência da Informação a partir dos sujeitos que produzem e usam o conhecimento, dialogando com as áreas de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Dentre as implicações epistemológicas, aquele campo de conhecimento teve o seu plano conceitual constituído a partir da diferenciação dos campos mencionados, bem como da consolidação dessas áreas no final do século XIX e no início do século XX. Exemplos dessa abordagem são “[...] Arquivística Integrada, a Nova Museologia, os estudos sobre Mediação Bibliotecária, sobre Competência Informacional, sobre os museus virtuais, sobre o patrimônio imaterial [...]” (Araújo, 2014, p. 25-26).
Além dessa diversidade de paradigmas e modelos, em geral, a participação de sujeitos advindos dessas e de outras áreas contribui com a formação de um campo poli epistemológico em torno da Ciência da Informação, que, no entendimento de Souza (2015), aponta para a interdisciplinaridade como um dos pilares, tendo como base as múltiplas formações e titulações dos pesquisadores que atuam neste campo científico. De modo mais preciso, Silva e Souza (2017) destacam a relação desses aspectos a partir de três pontos, a saber, a complexidade do objeto informacional; a formação plural de seus pesquisadores; e a consequente convergência disciplinar presente na área.
Como pode ser observado nas discussões a seguir, pelo menos parte da produção científica, continua evidenciando essa conformação em torno do conhecimento em informação, em que pesem os progressos técnico-científicos que vem sendo realizados, inclusive com a forte presença das tecnologias digitais.
3 Procedimentos metodológicos
De modo geral, trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, operacionalizada via levantamento bibliográfico e abordagem quantitativa. Ademais, para fundamentar teoricamente as análises e discussões aqui empreendidas, foram utilizados artigos científicos e livros disponíveis no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na Scientific Electronic Library Online (SciELO). O corpus da pesquisa foi constituído por meio da extração de dados das duas modalidades de trabalhos apresentados no evento, a saber, resumo expandido e trabalho completo, publicados nos anais do GT1 do ENANCIB, entre os anos de 2018 a 2023, exceto para o ano de 2020 devido à ausência do evento por conta da pandemia COVID-19. Neste universo, foram analisados 109 documentos e extraídos 2369 referências das pesquisas publicadas no referido GT. Dentre os dados extraídos dos documentos, estão os seguintes elementos da comunicação científica: tipo de pesquisa, nome do primeiro autor, título, palavras-chave, resumo e as referências.
É importante esclarecer que o uso de conceitos de termos de dicionários, referências a congressos, notícias do tipo magazine e legislações nacionais e internacionais foram descartados do corpus por não estarem alinhado ao objetivo da pesquisa e/ou por apresentarem resultados irrisórios, como, por exemplo, serem referenciados uma única vez em todos os documentos analisados. Neste universo, pode-se citar o termo Hermeneutics publicado no dicionário de Cambridge; o I Congresso Internacional em Humanidades Digitais; o UOL Confere, que diz respeito a uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos; o UOL Notícias, 2022; a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional; a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência; e o Regulamento de Lei nº 7.202 do Sistema Nacional de Arquivos da Costa Rica.
No tratamento e na organização dos dados, foi realizada a sistematização das referências por meio de um software de planilha eletrônica. O arquivo que constitui o corpus desta pesquisa está em um arquivo de texto no formato .txt e disponibilizado para download no Figshare[4]. Para a análise das referências e de clusterização, foi utilizado o software CitNetExplorer[5] e os dados tabulados na planilha eletrônica. Já para a identificação da coocorrência de palavras-chave, foi utilizado o software VosViewer[6].
Nas análises e discussões dos resultados, foram consideradas as publicações que obtiveram a partir de cinco menções como referências das produções estudadas, que, como já descrito acima, compreenderam os resumos expandidos e os trabalhos completos. Trataram-se, portanto, de 27 publicações, que compreende temáticas gerais e específicas, notadamente, nos domínios da epistemologia, da metodologia e da Ciência da Informação.
4 Resultados e discussões
De início, importante observar os indicadores de publicação de trabalhos no GT 1, conforme o Gráfico 1 que apresenta o número de pesquisas publicadas anualmente no evento durante o período analisado.
Gráfico 1 - Quantitativo de publicações por ano
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
No ano de 2018, foi registrada a publicação de 29 pesquisas no GT1 do ENANCIB. Em 2019, esse número diminuiu para 27, representando uma redução de 6,9% em relação ao ano anterior. No subsequente ano de 2021, o número de publicações diminuiu para 19, o que corresponde a uma queda de 29,63% em relação a 2019. Em 2022, houve um decréscimo para 16 publicações, representando uma queda de 15,79% em relação ao ano anterior. Em contraste, em 2023, o número de publicações aumentou para 18, o que reflete um incremento de 12,5% em comparação com 2022. Todos os percentuais foram calculados em relação ao ano imediatamente anterior à realização do evento.
Com o objetivo de apresentar resultados coesos, onde conceitos abordados pelo mesmo autor e em diferentes artigos não fossem divididos por particularidades como diferentes edições de publicações ou traduções em outros idiomas, foi necessário realizar a normalização das referências. Por exemplo, uma das obras do autor Tefko Saracevic foi citada por diferentes autores ao qual referenciam a Conferência para a Comemoração do 20º Aniversário do Departamento de Estudos da Informação, realizado pela Universidade de Tampere, na Finlândia, no ano de 1991. Já outros autores utilizaram como referência a tradução do artigo em português, publicado no ano de 1996 pelo periódico Perspectivas em Ciência da Informação, da Universidade Federal de Minas Gerais. Dessa maneira, os artigos que referenciam a publicação de 1991, passaram a referenciar a publicação de 1996.
Dada a composição e o tratamento do corpus, o Quadro 1 apresenta os autores e as obras mais referenciadas no conjunto de documentos analisados.
Quadro 1 - Autores e obras mais referenciados do GT1
Autor(es), obra e ano de publicação. |
f(x) |
SARACEVIC, T. Ciência da informação: origem, evolução e relações. 1996. |
26 |
CAPURRO, R. Epistemologia e ciência da informação. 2003. |
22 |
BORKO, H. Information Science What is it. 1968. |
19 |
BUCKLAND, M. K. Information as thing. 1991. |
17 |
CAPURRO, R.; HJØRLAND, B. O conceito de informação. 2007. |
16 |
LE COADIC, Y. F. A ciência da informação. 2004. |
14 |
OTLET, P. Tratado de documentação o livro sobre o livro teoria e prática. 2018. |
13 |
WERSIG, G. Information science the study of postmodern knowledge usage. 1993. |
9 |
ARAUJO, C. A. A. O que é Ciência da Informação? 2018. |
8 |
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2008. |
|
SHERA, J. H. Epistemologia social semântica geral e biblioteconomia. 1977. |
|
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 2011. |
7 |
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 2016. |
|
ROUBAKINE, N. Introduction à la psychologie bibliologique. 1998. |
|
SARACEVIC, T. Interdisciplinary nature of information science original. 1995. |
|
BRIET, S. O que é a documentação? 2016. |
6 |
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 2007. |
|
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. Regime de informação construção de um conceito. 2012. |
|
HJØRLAND, B. Epistemology and the socio cognitive perspective in Information Science. 2002. |
|
SILVA, A. M.; RIBEIRO, F. Das Ciências Documentais à Ciência da Informação ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. 2002. |
|
ARAUJO, C. A. A. A ciência da informação como ciência social. 2003. |
5 |
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 2005. |
|
CASTELLS, M. A sociedade em rede. 2016. |
|
FROHMANN, B. Taking information policy beyond information science applying the actor network theory. 1995. |
|
GINZBURG, C. Mitos emblemas e sinais: morfologia e história. 1989. |
|
GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. Metodologia de pesquisa no campo da Ciência da Informação. 2000. |
|
SHERA, J. H. Toward a theory of Librarianship and information Science. 1973. |
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
O artigo de Tefko Saracevic, “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996), foi referenciado em 26 trabalhos e representa 23,85% do total de pesquisas que compõem o corpus. A obra de Rafael Capurro, “Epistemologia e ciência da informação’’ (2003), por sua vez, foi referenciada em 22 trabalhos, representando 20,18% das pesquisas. Na sequência, o artigo “Information Science: What is it?” (2004), de Harold Borko, apareceu referenciado em 19 trabalhos, ou 17,43% das pesquisas. Com indicadores aproximados de referências a esses, encontra-se a obra de Michael Keeble Buckland, “Information as thing” (1991b), que foi referenciada em 17 trabalhos ou 15,60% das pesquisas. Logo após, Rafael Capurro e Birger Hjørland, com “O conceito de informação” (2007), foram referenciados em 16 trabalhos, ou 14,68% das pesquisas. Por fim, Yves-François Le Coadic, com “A ciência da informação” (2004), foi referenciado em 14 trabalhos, representando 12,84% das pesquisas.
É forçoso considerar que, em se tratando das pesquisas comunicadas no principal evento brasileiro do campo científico, essas produções se apresentaram nos últimos anos como principais referências para a Ciência da Informação. Ademais é importante destacar que, como não poderia deixar de ser, resta claro o alinhamento dessas seis às principais temáticas da ementada do GT1 do ENANCIB, justificando assim o representativo número de referências.
Estudos históricos e epistemológicos da Ciência da Informação (escolas de pensamento, correntes teóricas, autores e obras de fundamentação, leituras teórico-metodológicas e conceituações). Constituição, desenvolvimento e inovação conceitual, teórica e metodológica do campo científico informacional. Os objetos de estudos da Ciência da Informação e suas transformações teórico-conceituais. Reflexões e discussões sobre disciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade (ANCIB, 2023).
A Figura 1, por consequência, apresenta o mapa de acoplamento bibliográfico das referências bibliográficas utilizadas nas pesquisas, que compõem o corpus, publicadas nos anais do ENANCIB. Faz-se necessário destacar, complementarmente, que o mapa em questão apresenta os acoplamentos de maior frequência.
Figura 1 - Mapa de acoplamento bibliográfico do GT1 do ENANCIB
Fonte: Dados de pesquisa (2024).
Na Figura 1, observa-se, com efeito, que Harold Borko e Tefko Saracevic e suas respectivas produções, “Information Science: What is it?” (1968) e “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996), apresentaram a maior representatividade do corpus analisado, sendo referenciados em 11 comunicações, ou seja, 10,09% do total de pesquisas. Já Rafael Capurro, com a pesquisa “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003), e Tefko Saracevic, também com “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996), foram citados em 10 comunicações, que corresponde a 9,17% do total das pesquisas.
Pode-se constatar ainda outros dois acoplamentos bibliográficos destacados, a saber, Harold Borko, com “Information Science: What is it?” (1968), e Yves-François Le Coadic, com “A ciência da informação” (2004), bem como Harold Borko “Information Science: What is it?” (1968) e Rafael Capurro “Epistemologia e ciência da informação” (2003), ambos referenciados em 6 ou 5,50% do total das pesquisas.
Dentre outros acoplamentos bibliográficos encontrados no corpus analisado estão Rafael Capurro “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003) e Yves-François Le Coadic “A Ciência da Informação” (2004), Tefko Saracevic “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996) e Yves-François Le Coadic “A Ciência da Informação” (2004), Harold Borko “Information Science: What is it?” (1968), Rafael Capurro “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003) e Tefko Saracevic “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996). Os três acoplamentos bibliográficos foram referenciados 5 veze, o que corresponde a 4,59% cada do total de pesquisas analisadas.
A formação de clusters se refere a outra importante perspectiva de análise para compreender da dinâmica da produção.
Figura 2 - Análise de cluster do GT1 do ENANCIB
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
Dentre os autores mais referenciados que pertencem ao cluster azul, estão Borko, H. “Information Science: What is it?” (1968); Shera, J. H. “Epistemologia social semântica geral e Biblioteconomia” (1977); Saracevic, T. “Ciência da informação origem evolução e relações” (1996); Capurro, R. “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003); e Le Coadic, Y. F. “A Ciência da Informação” (2004). Já para no cluster verde, são destacados os seguintes autores: Buckland, M. K. “Information as thing” (1991); Capurro, R. e Hjørland, B. “O conceito de informação” (2007); e Otlet, P. “Tratado de documentação o livro sobre o livro teoria e prática” (2018).
Para a configuração do layout da rede de referências, foi estabelecido inicialmente no software CitNetExplorer o número de 20 publicações por camada. Esse número interfere unicamente na exibição da visualização da rede, uma vez que os dados sobre o número de referências continuam intactos no software. Então, é importante esclarecer que, quanto maior o número de referências no corpus e maior o número de publicações a serem exibidas, maior o volume de informações e maior a poluição visual para realizar a análise.
Na Figura 3, lado esquerdo, é possível identificar os dados da referência selecionada, quais sejam, autor, título, fonte, ano e pontuação. Neste exemplo, o autor é Le Coadic e sua obra intitulada “A Ciência da Informação” (2004), referenciada 14 vezes no corpus analisado.
Figura 3 - Análise de cluster do GT1 do ENANCIB
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
Ainda na Figura 3, à direita, observa-se o grafo indicando quatro dos 14 autores, obras e ano de publicação que referenciam Le Coadic, a saber, Andrade, W. O. “A informação na Arquivologia contemporânea: indícios do processo de tradução conceitual interdisciplinar” (2018); Karpinski, C. “Epistemologia e Ciência da Informação: fundamentos teóricos e produção bibliográfica nacional” (2018); Hott, D. F. M. “Ciência da Informação e interações teórico-sistêmicas com a acessibilidade” (2018); e Oliveira, M. L. P. “A competência crítica em informação no contexto das fake News: os desafios do sujeito informacional no ciberespaço” (2018).
Quando realizado o update do número de publicações a serem exibidas, de 20 para 109 documentos, tornou-se possível identificar e explorar o mapeamento de toda a rede de referências utilizadas conforme apresentado na Figura 4.
Figura 4 - Rede de citações das publicações do GT1 do ENANCIB, anos de 2018, 2019, 2021, 2022 e 2023
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
Os grafos das redes de citações destacando as referências podem ser explorados de duas maneiras, denominadas de top-down (de cima para baixo) e down-top (de baixo para cima). Na Figura 5 (coluna A), os dados foram explorados de forma top-down, na medida em que, ao selecionar a referência Saracevic, T., por exemplo, apresentam-se abaixo todos os autores que a referenciam, inclusive, de diferentes clusters. Já na Figura 5 (segunda B), os dados são explorados de forma down-top. Neste caso, ao selecionar a pesquisa dos autores Cavalheiro, U. M. e Santos, C. A. C. M., foi possível identificar que os autores utilizaram três das quatro referências mais utilizadas no corpus, quais sejam, SARACEVIC, T. “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996); BUCKLAND, M. K. “Information as thing” (1991) e Borko, H. “Information Science: What is it (1968).
Figura 5 - Análise de cluster do GT1 do ENANCIB
A |
B |
|
|
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
Essa análise em questão permite, de maneira visual, identificar os nós e os laços relacionados, bem como o pertencimento de cluster, quando realizando a clusterização e a delimitação temporal.
As palavras-chave são outro indicador importante das temáticas das fontes analisadas. Com efeito, a Figura 6, complementarmente, apresenta a coocorrência de palavras-chave, cadastradas pelos autores das pesquisas que compõem o corpus de documentos.
Figura 6 - Coocorrência de palavras-chave
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pelos autores (2024).
A palavra-chave “Ciência da Informação”, no centro da Figura 6, foi o termo com maior ocorrência, totalizando 24 ou 22,02% do corpus de documentos. Os termos “Epistemologia” com 11 ou 10,09% e “Interdisciplinaridade” com 8 ou 7,34% formam um dos clusteres, destacado na cor vermelha, utilizados como palavras-chave nas pesquisas. O segundo cluster, que apresenta relação de grau menor, é formado pelo termo “Ciência da Informação” com os termos “Documento” e “Informação”, respectivamente, com sete ocorrências ou 6,42% cada. Por fim, o terceiro cluster é constituído por “Ciência da Informação” com “Epistemologia da Ciência da Informação”, resultando em uma ocorrência ou 0,92% do total de palavras contidas em 109 documentos.
O conjunto de dados analisados e discutidos reflete, em grande medida, a dinâmica teórico-metodológica adotada na produção e na comunicação das pesquisas em parte da Ciência da Informação, no Brasil, permitindo tecer uma série de constatações e considerações.
5 Considerações finais
Os indicadores da produção científicas são importantes elementos para a compreensão da dinâmica do conhecimento. Nesse universo, destacam-se as comunicações realizadas nos encontros científicos, que, a um só tempo, evidenciam os resultados da pesquisa e as características da produção delas decorrentes.
Este artigo, em particular, buscou retratar essa dinâmica na análise de parte da produção da Ciência da Informação, por meio da identificação dos autores, títulos das obras e anos de publicação, no corpus constituído por 109 documentos e 2.369 referências utilizadas em pesquisas publicadas no GT1 do ENANCIB, entre os anos de 2018 a 2023, exceto para o ano de 2020. Dentre os autores referenciais, estão Tefko Saracevic, com a obra “Ciência da Informação: origem, evolução e relações” (1996), utilizada em 23,85% dos documentos, e Rafael Capurro, com “Epistemologia e Ciência da Informação” (2003), referenciado em 20,18% das pesquisas.
Entre os acoplamentos bibliográficos mais citados estão Harold Borko e Tefko Saracevic, com suas respectivas produções “Information Science: What is it?” (1968) e “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996), sendo referenciados em 10,09% do total de pesquisas. Seguem a esses Rafael Capurro, com a pesquisa “Epistemologia e ciência da informação” (2003), e Tefko Saracevic, também com “Ciência da informação: origem, evolução e relações” (1996), com 9,17%.
As obras mais referenciadas, tanto identificadas de maneira singular quanto por acoplamento bibliográfico, estão alinhadas com o escopo do GT1 do ENANCIB, enfatizando os Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação e suas transformações teórico-conceituais. Além disso, constatou-se que, entre as 11 produções mais referenciadas, nove são de autoria de estrangeiros. Entre os brasileiros, destacam-se Araujo, C. A. A. e Gil, A. C.
A pesquisa também incluiu uma análise de clusterização utilizando o software CitNetExplorer, abrangendo documentos citados entre 1968 e 2023, resultando em dois clusters: um com 45 publicações (cor azul) e outro com 22 publicações (cor verde). Esclarece, contudo, que este software permite diferentes ajustes que, consequentemente, alteram os resultados de acordo com as necessidades da pesquisa. No primeiro cluster, destacam-se Borko, H., Shera, J. H., Saracevic, T., Capurro, R., e Le Coadic, Y. F., ao passo que, no segundo cluster, sobressaem os autores Buckland, M. K., Capurro, R. e Hjørland, B., e Otlet, P.
Além dessas, considera-se que outras análises são possíveis com estes e outros dados, inclusive com parte da produção cientifica comunicada dos demais GTs do EANCIB. Assim, sugere-se para pesquisas futuras a realização da análise de conteúdo das pesquisas que se enquadram nos acoplamentos bibliográficos com maior frequência, a fim de identificar os diferentes domínios da Ciência da Informação e as relações com os principais conceitos e teorias presentes nas publicações do corpus dos autores referenciais.
Importante também averiguar a formação e a titulação dos autores mais referenciados, conforme resultados da pesquisa em busca de compreender o comportamento e o desenvolvimento de pesquisadores que podem ter tantas formações e/ou titulações próximas quanto distantes, além da sua contribuição teórico-metodológica, tanto para o campo da Ciência da Informação quanto para o ENANCIB.
E, por fim, outra sugestão compreende a elaboração de um relato de pesquisa detalhando a metodologia utilizada para elaboração da rede de citações, especificamente no que diz respeito à elaboração da rede de referências, uma vez que o software livre Open Journal Systems (OJS), onde estão publicados os anais do ENANCIB, não possuem mecanismo de exportação de metadados padronizados para softwares de Análise de Rede Social (ARS).
Referências
ARAÚJO, C. A. Á. Novos desafios epistemológicos para a ciência da informação. Palavra clave, La Plata, v. 10, n. 2, p. 1-30, abr./set. 2021. Disponível em: http://sedici.unlp.edu.ar/handle/10915/119516/. Acesso em: 9 jun. 2024.
ARAÚJO, C. A. Á. O que é Ciência da Informação? Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 1, p. 01–30, 2014. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/15958/. Acesso em: 9 jun. 2024.
ARAÚJO, C. A. Á. O que é Ciência da Informação. Belo Horizonte: KMA, 2020.
BATES, M. J. Information search tactics. Journal of the American Society for information Science, Washington, DC, v. 30, n. 4, p. 205-214, 1979. Disponível em: https://asistdl.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/asi.4630300406/. Acesso em: 9 jun. 2024.
BAWDEN, D.; ROBINSON, L. Introduction to information science. Londres: Facet, USA, 2012.
BELKIN, N. J. Anomalous States of Knowledge as Basis for Information Retrieval. The Canadian Journal of Information Science, Canadá, v. 5, p. 133-143, 1980.
BUCKLAND, M. K. Information and information systems. Nova Iorque: Greenwood Press, USA, 1991a.
BUCKLAND, M. K. Information as thing. Journal of the American Society for Information Science (JASIS), [s. l.], v. 45, n. 5, p. 351-360, 1991b.
CAPURRO, R. Epistemologia e Ciência da Informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., 2003, Belo Horizonte. Anais [...] Belo Horizonte: ECI/UFMG, 2003. Disponível em: http://www.capurro.de/enancib_p.htm. Acesso em: 9 jun. 2024.
DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Working knowledge: How organizations manage what they know. Boston: Harvard Business School Press, USA, 1998.
ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ASSOCIAÇÃO, 23., 2023, São Cristóvão - SE. Coordenações e ementas de GT. Enancib, 2023. Disponível em: https://eventos.galoa.com.br/enancib-2023/page/2740-gts. Acesso em: 9 jun. 2024.
FLORIDI, L. The philosophy of information. Nova Iorque: Oxford University Press, USA, 2011.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
MOROZOV, E. Big tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Ubu, 2018.
OLIVEIRA, M. Origens e evolução da Ciência da Informação. In: OLIVEIRA, M. (org.). Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. Cap. 1, p. 9-28.
PINHEIRO, L. V. R. Ciência da Informação: desdobramentos disciplinares, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. In: GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida (org.). DILL ORICO, E. G. (org.). Políticas de memória e informação. Natal: EDUFRN, 2006. p. 111-142.
PINHEIRO, L. V. R. Gênese da Ciência da Informação ou sinais anunciadores da nova área. In: AQUINO, M. A. (org.). O campo da Ciência da Informação: gênese, conexões e especificidades. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2002. p.61-86.
RENAULT, L. V. Paradigmas e modelos: proposta de análise epistemológica para a Ciência da Informação. Informação & Sociedade: estudos, João Pessoa, v. 17, n. 2, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ies/article/view/636/1446/. Acesso em: 9 jun. 2024.
SARACEVIC, T. Ciência da informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, 1996. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/22308/. Acesso em: 9 jun. 2024.
SATUR, R. V. A pesquisa interdisciplinar na Ciência da Informação. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 3, n. 1, p. 9-25, 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/31039/. Acesso em: 9 jun. 2024.
SEMIDÃO, R. A. M. Dados, informação e conhecimento enquanto elementos de compreensão do universo conceitual da ciência da informação: contribuições teóricas. 2014. 198 f. Dissertação (Mestrado acadêmico em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, Universidade Estadual Paulista, 2014. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/items/7916db3c-1196-4aa1-ad24-b18411923635/. Acesso em: 9 jun. 2024.
SHANNON, C. E. A mathematical theory of communication. The Bell system Technical Journal, [s. l.], v. 27, n. 3, p. 379-423, 1948. Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/abstract/document/6773024?casa_token=z2Y9kMv0XNwAAAAA:v-ozMQLva4v3Ucf6mdG4s-uvvnBcuVbj2waPoowscWn7h4a9EzHDXRwfWbbc4qR5HVBrhPDDHS6E/. Acesso em: 9 jun. 2024.
SILVA, A. R.; RIBEIRO, F. Das ciências documentais à Ciência da Informação: ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. 2. ed. Porto: Edições afrontamento, 2008.
SILVA, E. B. F.; SOUZA, E. D. A formação da autoria na produção colaborativa na ciência da informação do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 18., 2017, Marília, Anais [...]. Marília, UNESP, 2017. Disponível em: http://enancib.marilia.unesp.br/index.php/XVIII_ENANCIB/ENANCIB/index. Acesso em: 27 ago. 2024.
SOUZA, E. D. A Ciência da Informação face às exigências disruptivas da informação digital. In: SILVA, L. C. (Org.). Estudos e Pesquisas em Ciência da Informação. São Paulo: Abecin, 2024. No prelo.
SOUZA, E. D. A Ciência da Informação face às exigências disruptivas da informação digital. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 1., Goiânia, 2023. Palestra de abertura [...]. Goiânia: UFG, 28 jun. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fr764iTsMbw. Acesso em: 29 set. 2024.
SOUZA, E. D. A Ciência da Informação: fundamentos epistêmico-discursivos do campo científico e do objeto de estudo. Maceió: Edufal, 2015. 222p.
ZUBOFF, S. Capitalismo de vigilância: a luta pelo futuro na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.
[1] Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Das Organizações Aprendentes (PPGOA-UFPB). Doutor em Gestão e Organização do Conhecimento (PPGGOC-UFMG). Mestre em Ciência da Informação (PPGCI-UFPB). Bibliotecário-Documentalista do Instituto Federal de Alagoas (IFAL)
[2] Professor Adjunto do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Doutor em Gestão e Organização do Conhecimento (PPGGOC-UFMG).
[3] Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. Doutor (UFMG, 2011) e Mestre (UFPB, 2004) em Ciência da Informação, e Graduado em Direito (ESTÁCIO FAL, 2014) e em Biblioteconomia (UFPB, 1999), com atuação nas áreas/temáticas de Epistemologia da Ciência da Informação; Epistemologia Interdisciplinar; Fundamentos Teóricos da Ciência da Informação; Formação e Desenvolvimento de Coleções; Gestão da Informação e do Conhecimento; Propriedades, Atributos e Estruturação da Informação; Direito à Informação; Direito à Memória; Direito ao Esquecimento; e Propriedade Intelectual e Direitos Conexos.
[4] Dados de pesquisa. Disponível em: Acesso em: https://figshare.com/articles/dataset/_i_Corpus_i_Epistemologia_da_Ci_ncia_da_Informa_o/23113643?file=50595339. Acesso em: 21 nov. 2024.
[5] CitNetExplorer – software para visualizar e analisar redes de citações de publicações científicas. Disponível em: https://www.citnetexplorer.nl/. Acesso em: 9 jun. 2024.
[6] VosViewer – software para construção e visualização de redes bibliométricas. Disponível em: https://www.vosviewer.com/. Acesso em: 9 jun. 2024.