ARTIGO
De que serve o desenvolvimento industrial, de que servem todas as inovações
tecnológicas, todo esse esforço, todos esses deslocamentos populacionais, se ao cabo
de meio século de crescimento da indústria, a situação das massas continua tão
miserável quanto antes (...) (Piketty, 2014, p.16).
Nos Estados Unidos, matriz das maiores empresas de tecnologias do Mundo (Apple,
Amazon, Google, Microsoft, Facebook, IBM, etc.), a desigualdade social “aumentou nas
últimas décadas atingindo níveis que não eram vistos desde a década de 1930” (Sandel, 2011,
p. 327).
Da mesma forma, considerando reflexões oriundas da filosofia da tecnologia,
destacamos contribuições de David Dicson no seu livro - Tecnologia Alternativa (1978) - que
apresenta críticas à visão determinista e neutra da tecnologia:
A partir da Revolução Industrial, e particularmente durante os últimos cinquenta
anos, passou a ser geralmente aceito o fato de que uma tecnologia em contínuo
desenvolvimento é a única que oferece possibilidades realistas de progresso humano.
O desenvolvimento tecnológico inicialmente consistiu na melhora das técnicas
artesanais tradicionais e posteriormente se estendeu à aplicação do conhecimento
abstrato aos problemas sociais, prometeu conduzir a sociedade pelo caminho que
leva a um próspero e brilhante futuro. As revoluções tecnológicas reorganizaram de
forma significativa
o
sistema econômico na contemporaneidade.
O
desenvolvimento da tecnologia tem servido inclusive como indicador do progresso
geral do desenvolvimento social, fazendo com que se tenda a julgar as sociedades
como avançadas ou atrasadas segundo seu nível de sofisticação tecnológica
(Dicson apud FBB, 2004, p. 26)
O modelo implícito de evolução social é baseado freqüentemente no conceito de
determinismo tecnológico, isto é, a ideia de que o desenvolvimento social se encontra
determinado quase inteiramente pelo tipo de tecnologia que uma sociedade inventa,
desenvolve, ou que nela é introduzido. O determinismo tecnológico tem origem no
pensamento de que o desenvolvimento tecnológico é sempre positivo para a sociedade, é
linear, inexorável, inevitável e segue uma lógica autônoma, regida pela eficácia e pela
eficiência (Feenberg, 2010).
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O ponto chave é que investir em inovação tecnológica apenas para garantir
crescimento econômico, como mostra Piketty, é insuficiente para "satisfazer as esperanças
democráticas e meritocráticas, que devem se apoiar em instituições específicas, e não apenas
nas forças do progresso tecnológico e do mercado" (2014, p. 100). Estudos mostram que para
o futuro, ondas de inovação amparadas principalmente nas tecnologias da informação e
comunicação, possuem um potencial de crescimento sensivelmente inferior (comparadas com
as mudanças provocadas, por exemplo, desde as máquinas a vapor e o advento da
eletricidade), alteram os modos de produção de forma menos radical e trazem melhorias
menos significativas para a produtividade do conjunto da economia (Piketty, 2014, p. 98).
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-11, e-7371, nov. 2024