ARTIGO  
HABERMAS E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO PROBLEMA  
FILOSÓFICO  
Giovani Mendonça Lunardi  
Universidade Federal de Santa Catarina/Campus Araranguá  
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Resumo  
Habermas (1968) na sua crítica à filosofia da tecnologia de Marcuse descreve que a sociedade hodierna está  
caracterizada pela denominada “Economia da Inovação”, que é o desenvolvimento do capitalismo em sua fase  
tardia, tendo como paradigma a crescente interdependência entre pesquisa e técnica, transformando a ciência na  
principal força produtiva deste modelo econômico. A cientificização da técnica permitiu aumentar a  
produtividade do trabalho inserindo dentro de um mesmo sistema ciência, técnica e valor econômico. Marx e  
Schumpeter, de acordo com Habermas, já haviam sugerido cada um à sua maneira, que o modo de produção  
capitalista pode ser concebido como um mecanismo que garante uma propagação permanente dos subsistemas  
do agir racional-com-respeito-a-fins e, com isso, abala a "supremacia" tradicionalista do quadro institucional  
diante das forças produtivas. Tal complexidade transforma, assim, a inovação em vetor de exclusão social. Neste  
sentido, examina-se neste trabalho a inovação como problema filosófico e suas implicações em uma sociedade  
tecnológica conforme a análise habermasiana.  
Palavras-chave: Habermas. Economia da inovação. Exclusão social.  
Esta obra está licenciada sob uma licença  
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-11, e-7371, nov. 2024.  
ARTIGO  
1 A MODERNIDADE COMO TEMA FILOSÓFICO E “DESENCANTAMENTO DO  
MUNDO”  
Segundo Habermas, a “modernidade” foi elevada a tema filosófico a partir do século  
XVIII, seguindo o pensamento de Webber, que define o processo de racionalização da  
sociedade ocidental como “desencantamento do mundo” provocado, principalmente, pelo  
surgimento de novas estruturas sociais cristalizadas em torno dos núcleos organizadores da  
empresa capitalista e do aparelho burocrático do Estado (apud Habermas, 2000). Este  
processo de desencantamento denominado de “modernidade” refere-se a um conjunto de  
fatores que ocorrerão na sociedade ocidental: à formação de capital e mobilização de recursos;  
ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento da produtividade do trabalho; ao  
estabelecimento do poder político centralizado e à formação de identidades nacionais; à  
expansão dos direitos de participação política, das formas urbanas de vida e da formação  
escolar formal e à secularização de valores e normas (Habermas, 2000).  
Por sua vez, Adorno e Horkheimer, de acordo com Habermas, “estão convencidos de  
que a ciência moderna voltou a si mesma no positivismo lógico e renunciou à pretensão  
empática de conhecimento teórico em favor da utilidade da técnica” (2000. P. 159). E,  
“deformada pelo capitalismo, a técnica moderna perdeu a inocência de uma simples força  
produtiva; a instituição do mercado como lugar de troca de forças do trabalho prometia justiça  
das equivalências das relações de troca” (Dupas, 2009, p. 110).  
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Em Técnica e ciência como “Ideologia” (1968), Habermas caracteriza o capitalismo  
em fase tardia a partir de uma crescente interdependência entre a pesquisa e a técnica, que  
transformou a ciência na sua principal força produtiva (1968, p. 328). A cientificização da  
técnica permitiu aumentar a produtividade do trabalho inserindo dentro de um mesmo  
sistema: ciência, técnica e valor econômico (1968, p. 330). Como afirma Habermas,  
(...) Só a partir do momento em que o modo de produção capitalista dotou o sistema  
econômico de um mecanismo de regras para o crescimento da produtividade do  
trabalho, crescimento que, embora sujeito a crises, revela-se contínuo a longo prazo,  
é que a introdução de novas tecnologias e de novas estratégias, a inovação como tal,  
foi institucionalizada. Como já haviam sugerido Marx e Schumpeter, cada um à sua  
maneira, o modo de produção capitalista pode ser concebido como um mecanismo  
que garante uma propagação permanente dos subsistemas do agir racional-com-  
respeito-a-fins e, com isso, abala a "supremacia" tradicionalista do quadro  
institucional diante das forças produtivas (1968, p. 324).  
A ciência e a técnica moderna são concebidas por Habermas tendo como pano de  
fundo o modelo econômico capitalista, no qual é possível identificar uma pressão institucional  
para intensificar a produtividade do trabalho através da introdução de novas técnicas,  
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denominadas por Joseph A. Schumpeter (1883-1950) de Inovação. O termo Inovação  
ganhou um novo significado na obra “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, escrita por  
Schumpeter e publicada originalmente em inglês em 1912. Esta foi à primeira obra a colocar a  
inovação no centro da dinâmica econômica (Santos; Fazion; Meroe, 2011). Mas afinal, o que  
é Inovação? Segundo o próprio Schumpeter (1988), a Inovação é o impulso fundamental que  
inicia e mantém a máquina capitalista em movimento, e decorre dos novos bens de consumo,  
dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de  
organização industrial que a empresa capitalista cria. Esse processo de destruição criativa é o  
fato essencial acerca do capitalismo.  
Schumpeter é uma das figuras mais destacadas da teoria econômica moderna  
sendo influenciado pelo pensamento marxista, no qual considera que crises econômicas  
conjunturais não obedecem apenas a fatores externos, mas estavam igualmente relacionadas  
com a atividade empresarial, com o sistema de créditos e com a tecnologia que, em sua  
opinião, eram causas diretas do desenvolvimento econômico. Em 1932, Schumpeter criou  
outro marco teórico ao estabelecer o papel fundamental da inovação e mudança estrutural na  
organização da sociedade e o papel do empreendedor como impulsionador do  
desenvolvimento. A teoria Schumpeteriana das inovações atesta a importância das inovações  
na concorrência e na dinâmica capitalista. Seu argumento principal é que o desenvolvimento  
econômico é conduzido pela inovação por meio de um processo dinâmico em que as novas  
tecnologias substituem as antigas, um processo por ele denominado “destruição criadora”  
(OCDE, 2005, p. 36). Da mesma forma, também relações de trabalho passam a ser mediadas  
pelas inovações tecnológicas.  
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Foi de Schumpeter a observação de que longas ondas dos ciclos do desenvolvimento  
no capitalismo resultam da conjugação ou da combinação de inovações, que criam um setor  
líder na economia, ou um novo paradigma, que passa a impulsionar o crescimento rápido  
dessa economia. Segundo ele, os investimentos nas novas combinações de produtos e  
processos produtivos de uma empresa repercutem diretamente em seu desempenho financeiro,  
de modo que o moderno empresário capitalista deve ocupar ao mesmo tempo um papel de  
liderança econômica e tecnológica. O comportamento empreendedor, com a introdução e a  
ampliação de inovações tecnológicas e organizacionais nas empresas, constitui um fator  
essencial para as transformações na esfera econômica e seu desenvolvimento no longo prazo.  
Schumpeter definiu inovação como sendo uma invenção já criada que está sendo usada para  
alterar as formas existentes de produzir, possibilitando alterações e crescimentos no sistema  
econômico vigente (Freitas Vian, 2007, p. 3,4).  
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Habermas considera que o modo de produção capitalista exige permanentemente a  
inovação tecnológica para operar seu conceito motor schumpeteriano de destruição criativa,  
ou seja, novos produtos a serem promovidos como objeto de desejo, sucateando cada vez  
mais rapidamente o produto anterior e mantendo a lógica da acumulação em pulso (Dupas,  
2009). Esta relação entre economia e inovação tecnológica, citadas por Habermas, no século  
XX foram explicitadas nas teses seminais de Schumpeter sobre o desenvolvimento e a  
evolução do sistema capitalista.  
2 A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO TERMO TÉCNICO-FILOSÓFICO  
Para Habermas, ciência, técnica, a investigação industrial e a revalorização do  
capital fazem parte de um único e grande sistema. Segundo essa abordagem, a ciência e a  
técnica passam a ser compreendidas como uma primeira força produtiva (Szczepanik,  
2014). Habermas (1968, 314) escreve que:  
Na medida em que a técnica e a ciência penetram os setores institucionais da  
sociedade, transformando por esse meio as próprias instituições, as antigas  
legitimações se desmontam. Secularização e “desenfeitiçamento” das imagens do  
mundo orientam o agir, e de toda a tradição cultural, são a contrapartida de uma  
“racionalidade” crescente do agir social.  
De acordo com Schumpeter, muitos autores elaboraram teorias do desenvolvimento  
econômico, entre eles Mill e Ricardo. Estes autores consideram as causas do desenvolvimento  
exógeno à economia, ou seja, "o desenvolvimento advém de mudanças em variáveis externas  
ao sistema econômico, tais como o percentual de crescimento populacional e do capital, além  
de mudanças nos gostos dos consumidores dando menos ênfase às mudanças na técnica e  
no processo produtivo, as quais requerem análise especial e causam algo diferente de  
perturbações no sentido teórico" (Freitas Vian, 2007, p. 3). De forma contrária, para  
Schumpeter o fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico” é a utilização de  
novas combinações de recursos produtivos, tais como: novos produtos, novos processos de  
produção, novos mercados, novas fontes de oferta de matéria-prima e novas formas de  
organização industrial, ou seja “fazer coisas de forma diferente”, incorporando novas técnicas  
produtivas e de gestão à produção de bens (1982, p. 112). Schumpeter denomina este  
processo de inovação tecnológica. As inovações geram o desenvolvimento capitalista a partir  
de dentro, sendo um fenômeno endógeno ao sistema capitalista, gerando um processo de  
mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura econômica desde o seu  
interior, destruindo incessantemente a antiga, criando incessantemente uma nova”. A partir de  
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Schumpeter, a palavra “Inovação” foi introduzida como termo técnico na ciência econômica  
estabelecendo a relação interna entre inovação tecnológica e a dinâmica capitalista.  
Neste viés, a partir de 1960 a Organização para Cooperação e Desenvolvimento  
Econômico (OCDE) elaborou o Manual Frascati que consolidou conceitos e definições  
sobre atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e permitiu a criação de sistemas de  
indicadores de inovação tecnológica para empresas e países (Bastos Tigre, 2006, p. 71). Em  
seguida, a OCDE, com uma abrangência muito maior, lançou o Manual de Oslo (1992, 1997,  
2005), já em sua terceira versão, que colocam o monitoramento das inovações tecnológicas  
como ponto crucial para o desenvolvimento econômico da sociedade ocidental. A inovação  
torna-se um valor tangível mensurável que determina o grau de evolução tecnológica de uma  
empresa ou país do ponto de vista econômico. Conforme Dagnino (2004, p. 34-35),  
Merecem destaque as condições em que, no Primeiro Mundo, o conceito de  
inovação foi cunhado e passa a ter como objetivo primordial a competitividade dos  
países. Lá é onde surge o novo paradigma tecno-econômico baseado na  
eletroeletrônica, onde um Estado de bem-estar garante um nível razoável de  
desenvolvimento social, onde o término da Guerra Fria acirra a concorrência  
intercapitalista e onde o crescimento depende das oportunidades de exportação e,  
portanto, da competitividade (sempre entendida em relação ao exterior). (...) O  
conceito de “sistema nacional de inovação” foi cunhado nesses países como um  
modelo descritivo de um arranjo societal típico do capitalismo avançado – arranjo  
no qual uma teia de atores densa e completa gera, no interior de um ambiente  
sistêmico propício proporcionado pelo Estado, sinais de relevância que levam ao  
estabelecimento de relações virtuosas entre pesquisa e produção, à inovação nas  
empresas e à competitividade do país. Posteriormente se transforma num modelo  
normativo para que esses países, ao mesmo tempo semelhantes no plano  
socioinstitucional e complementares no econômico, orientem seus governos e  
grandes empresas em busca da competitividade.  
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A inovação se tornou tema obrigatório nas discussões sobre competitividade e  
desenvolvimento econômico. Ainda mais, como sinônimo de novidade, aparece na mídia em  
anúncios colocados em páginas de jornal e revistas, em outdoors e em veículos eletrônicos. A  
vulgarização do termo afastou-o do significado inicialmente estabelecido por Schumpeter e  
que até hoje serve como conceito básico na maioria dos estudos acadêmicos sobre o tema – de  
que a inovação se vincula à geração de valor econômico (Bignetti, 2011).  
Diante do exposto, podemos comprovar que a teoria Schumpeteriana destaca  
aquilo que é fundamental para o desenvolvimento econômico na contemporaneidade: a  
inovação tecnológica. Ou seja, a inovação é fator fundamental para o processo de geração de  
lucro no sistema capitalista. Este fator coloca a busca pela inovação como meta de  
sobrevivência para empresas e países inseridos na dinâmica capitalista. Hodiernamente a  
busca pela "inovação", torna-se a pedra filosofal a ser descoberta pelos gestores de empresas e  
instituições. Todas as empresas e instituições possuem hoje o seu "departamento de  
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inovação". Multiplicam-se os cursos e livros dos "gurus" da inovação que ensinam o caminho  
da criatividade tecnológica. A inovação é no século XXI, o mantra invocado para garantir o  
sucesso profissional e empresarial nesta sociedade em rede como definida por Castells.  
Esta busca também ocorreu e ocorre nos países periféricos como o Brasil, onde se  
tenta emular a criação de “sistemas nacionais (e locais) de inovação” em busca da  
competitividade, mas com enormes dificuldades, pois as condições e arranjo societal são  
diferentes (Dagnino e Thomas, 2001). Ou seja, segundo Rafael Dias, a análise do que vem  
ocorrendo nos últimos anos no Brasil mostra que o processo que alguns autores têm chamado  
de assunção do “inovacionismo” como modelo de política na área de ciência e tecnologia vem  
ganhando força, com a injeção de cada vez mais dinheiro público para fomentar a inovação  
no setor privado, com foco na hipótese de que o desenvolvimento nacional e a redução das  
desigualdades vão advir unicamente da inovação empresarial (Dias apud Antunes, 2013).  
3 A DUPLA FACE DE JANUS: INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E DESIGUALDADE  
SOCIAL  
No entanto, o problema é que - e esta é uma das hipóteses deste trabalho -  
simplesmente o investimento em inovação tecnológica não é suficiente para garantir os  
direitos humanos fundamentais e a redução das desigualdades sociais, para além do  
desenvolvimento econômico. Rutkowski (2005, p. 190) faz a seguinte afirmação:  
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A dinâmica econômica (contemporânea) baseia-se em intenso processo de inovação  
tecnológica, o qual reduz cada vez mais os ciclos de vida e aumenta a diversidade  
dos produtos e, ao mesmo tempo, reduz as oportunidades de inserção de grupos  
sociais, cujas características socio-econômicas e culturais não correspondam às  
condições sociais exigidas por esses novos padrões de produção e de consumo. Tal  
complexidade tecnológica transforma, assim, a tecnologia em vetor de exclusão  
social.  
Segundo Dupas (2009), deformada pelo capitalismo, a técnica moderna perdeu a  
inocência de uma simples força produtiva. Ao mesmo tempo, pesquisas recentes mostram que  
não há uma evidência empírica de que a produtividade de um país esteja vinculada  
diretamente a relação burocrática entre inovação tecnológica (patentes) e o sistema capitalista.  
Neste mesmo sentido, o pesquisador francês Thomas Piketty em seu livro -"O Capital  
no Século XXI" - mostra que o sistema capitalista permite mais concentração de renda e  
desigualdade social do que crescimento econômico. Ou seja, o incentivo à inovação  
tecnológica para incremento do sistema capitalista apenas produz mais desigualdade social.  
Desde 1840 os críticos do capitalismo já apontavam o seguinte questionamento:  
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De que serve o desenvolvimento industrial, de que servem todas as inovações  
tecnológicas, todo esse esforço, todos esses deslocamentos populacionais, se ao cabo  
de meio século de crescimento da indústria, a situação das massas continua tão  
miserável quanto antes (...) (Piketty, 2014, p.16).  
Nos Estados Unidos, matriz das maiores empresas de tecnologias do Mundo (Apple,  
Amazon, Google, Microsoft, Facebook, IBM, etc.), a desigualdade social “aumentou nas  
últimas décadas atingindo níveis que não eram vistos desde a década de 1930” (Sandel, 2011,  
p. 327).  
Da mesma forma, considerando reflexões oriundas da filosofia da tecnologia,  
destacamos contribuições de David Dicson no seu livro - Tecnologia Alternativa (1978) - que  
apresenta críticas à visão determinista e neutra da tecnologia:  
A partir da Revolução Industrial, e particularmente durante os últimos cinquenta  
anos, passou a ser geralmente aceito o fato de que uma tecnologia em contínuo  
desenvolvimento é a única que oferece possibilidades realistas de progresso humano.  
O desenvolvimento tecnológico inicialmente consistiu na melhora das técnicas  
artesanais tradicionais e posteriormente se estendeu à aplicação do conhecimento  
abstrato aos problemas sociais, prometeu conduzir a sociedade pelo caminho que  
leva a um próspero e brilhante futuro. As revoluções tecnológicas reorganizaram de  
forma significativa  
o
sistema econômico na contemporaneidade.  
O
desenvolvimento da tecnologia tem servido inclusive como indicador do progresso  
geral do desenvolvimento social, fazendo com que se tenda a julgar as sociedades  
como avançadas ou atrasadas segundo seu nível de sofisticação tecnológica  
(Dicson apud FBB, 2004, p. 26)  
O modelo implícito de evolução social é baseado freqüentemente no conceito de  
determinismo tecnológico, isto é, a ideia de que o desenvolvimento social se encontra  
determinado quase inteiramente pelo tipo de tecnologia que uma sociedade inventa,  
desenvolve, ou que nela é introduzido. O determinismo tecnológico tem origem no  
pensamento de que o desenvolvimento tecnológico é sempre positivo para a sociedade, é  
linear, inexorável, inevitável e segue uma lógica autônoma, regida pela eficácia e pela  
eficiência (Feenberg, 2010).  
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O ponto chave é que investir em inovação tecnológica apenas para garantir  
crescimento econômico, como mostra Piketty, é insuficiente para "satisfazer as esperanças  
democráticas e meritocráticas, que devem se apoiar em instituições específicas, e não apenas  
nas forças do progresso tecnológico e do mercado" (2014, p. 100). Estudos mostram que para  
o futuro, ondas de inovação amparadas principalmente nas tecnologias da informação e  
comunicação, possuem um potencial de crescimento sensivelmente inferior (comparadas com  
as mudanças provocadas, por exemplo, desde as máquinas a vapor e o advento da  
eletricidade), alteram os modos de produção de forma menos radical e trazem melhorias  
menos significativas para a produtividade do conjunto da economia (Piketty, 2014, p. 98).  
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Com esta visão crítica surgem propostas alternativas para constituição de estudos e  
pesquisas voltados para a inovação tecnológica não somente para o crescimento econômico,  
mas também o desenvolvimento social. Tal visão insere-se no marco analítico-conceitual do  
que, nas palavras de Lopez Cerezo (2000, p. 1), denomina-se de:  
Estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade (CTS), que constituem hoje um  
vigoroso campo de trabalho em que se trata de entender o fenômeno científico-  
tecnológico no contexto social, tanto em relação com seus condicionantes sociais  
como no que se refere a suas consequências sociais e ambientais. O enfoque geral é  
de caráter crítico, com respeito à clássica visão essencialista e triunfalista da ciência  
e da tecnologia, e também de caráter interdisciplinar, concorrendo disciplinas como  
a filosofia e a história da ciência e da tecnologia, a sociologia do conhecimento  
científico, a teoria da educação e a economia da permuta técnica. A CTS se originou  
há três décadas a partir de novas correntes de investigação empírica em filosofia e  
sociologia, e de um incremento da sensibilidade social e institucional sobre a  
necessidade de uma regulação pública de permuta científico-tecnológica. A CTS  
define hoje um campo de trabalho bem consolidado institucionalmente em  
universidades, administrações públicas e centros educativos de diversos países  
industrializados.  
A alternativa que podemos considerar enquanto política pública é que a inovação  
tecnológica, em essência, é um processo de difusão e partilha de conhecimento e deve ser  
tratado como um bem público e não somente como mecanismo de mercado (Piketty, 2014, p.  
28).  
4 CONCLUSÃO  
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Como podemos verificar ao longo deste trabalho, Habermas aponta para necessidade  
de investigarmos os impactos da Inovação Tecnológica, de um ponto de vista filosófico, no  
âmbito de uma “mudança estrutural da esfera pública” já delineada desde o seu primeiro  
livro de 1962, que descreveu o surgimento da esfera pública no século XVIII, passando pela  
sua obra Técnica e ciência como “Ideologia” de 1968.  
Após 60 anos, com o seu novo livro, Uma nova mudança estrutural da esfera  
pública e a política deliberativa (2022), Habermas a partir, principalmente, das inovações  
tecnológicas que produziram um avanço exponencial das tecnologias de informação e  
comunicação, especialmente da Internet, mostra que as novas mudanças que surgiram na  
esfera pública, consideradas também por vários autores como parte dos sintomas de uma  
condição pós-moderna, teriam dado origem a novas formas de interação social e a novos  
espaços públicos. Mais especificamente, Habermas examina hodiernamente como as  
inovações tecnológicas representadas pelas plataformas digitais estão modificando a esfera  
publica. Em sua investigação, ele apresenta que o caráter de plataforma dos novos meios de  
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comunicação termina por criar, com a esfera pública editorial, um espaço de comunicação em  
que leitores, ouvintes e telespectadores podem assumir espontaneamente o papel de autores. O  
avanço tecnológico marcado pela comunicação digitalizada fomenta inicialmente tendências  
para a dissolução de fronteiras, mas também para a fragmentação da esfera pública (Oliveira,  
2024). Ou seja, Habermas aborda um problema central de nossa sociedade atual: o impacto da  
digitalização na esfera pública e no processo deliberativo, por meio do que ele chama de  
“plataformização da esfera pública” (2023, p. 56).  
Com estas perspectivas habermasianas apresentadas, delineiam-se temas para futuras  
pesquisas, com a conclusão de Gilberto Dupas, “Se Habermas tinha razão em 1968, imagine-  
se quando olha o mundo de hoje” (2009).  
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