ARTIGO  
TECNOLOGIA E REGULAÇÃO DEMOCRÁTICA  
um diálogo entre ciência e ideologia da esfera pública digital  
Lucas Fernandes da Silva  
Faculdade Paulus de comunicação  
Carlos Jacinto Nascimento Motta  
Faculdade Paulus de Comunicação  
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Resumo  
O presente texto busca examina as transformações na esfera pública digital e os desafios da regulação  
democrática, considerando as interseções entre tecnologia, ciência e ideologia. A pesquisa, fundamentada em  
metodologia bibliográfica, utiliza conceitos centrais das obras de Jürgen Habermas: Uma Nova Mudança  
Estrutural da Esfera Pública e a Política Deliberativa, Teoria do Agir Comunicativo, Volume 2, e Técnica e  
Ciência como Ideologia. O estudo começa analisando como a esfera pública foi remodelada na era digital,  
abordando as novas dinâmicas de poder e comunicação introduzidas pelas tecnologias digitais. Em seguida,  
discute a influência da tecnologia como uma forma de racionalidade técnica, explorando a ideologia  
tecnocientífica que muitas vezes orienta a regulação democrática. O artigo investiga os desafios impostos pela  
regulação da internet, especialmente em termos de assegurar uma esfera pública racional e deliberativa. A  
deliberação democrática nas esferas digitais é examinada à luz da Teoria do Agir Comunicativo, destacando os  
impactos da desinformação e a necessidade de uma regulação que defenda a integridade do discurso público.  
Palavras-chave: Esfera pública digital. Regulação democrática. Tecnologia e ideologia. Deliberação  
democrática. Habermas.  
Esta obra está licenciada sob uma licença  
Creative CommonsAttribution 4.0 International (CC BY-NC-SA 4.0).  
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-18, e-7390, nov. 2024.  
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1 INTRODUÇÃO  
O avanço da tecnologia digital transformou profundamente a esfera pública, que ao  
longo dos anos, tem se reconfigurado para melhor adaptar-se às dinâmicas de comunicação  
dos cidadãos. No Brasil, a regulação democrática da internet e das plataformas digitais passou  
a ser tema central nas discussões acadêmicas e políticas. Esse estudo, focado na interseção  
entre a tecnologia, a ciência e a ideologia na esfera pública digital, tem como objetivo central  
analisar como esses fatores moldam a deliberação democrática no cenário contemporâneo.  
Tendo por base os conceitos de Jürgen Habermas, especialmente sua teoria sobre a esfera  
pública e a colonização do mundo da vida pelo mundo dos sistemas, busca-se compreender as  
implicações da regulação (ou sua ausência) no fortalecimento ou enfraquecimento do discurso  
público livre e racional.  
A colonização sistêmica das esferas políticas e digitais, conforme proposto por  
Habermas, ocorre quando a comunicação, que deveria estar ancorada na busca por  
entendimento mútuo e deliberação democrática, é substituída por uma racionalidade técnica  
instrumental. No contexto da esfera pública digital, essa racionalidade técnica manifesta-se  
por meio da influência das grandes corporações tecnológicas e seus algoritmos, que  
fragmentam o debate público e promovem a manipulação da opinião pública para interesses  
econômicos e políticos.  
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Desta forma, este trabalho busca analisar criticamente o impacto da tecnologia na  
esfera pública digital e como a regulação democrática pode atuar para conter a colonização  
sistêmica. Especialmente, toma-se como referência a teoria do agir comunicativo de  
Habermas, e o desafio de preservar um espaço deliberativo em meio à crescente  
instrumentalização tecnológica. Ao longo da pesquisa, serão discutidos temas como a  
desinformação, a manipulação algorítmica e a fragmentação da esfera pública digital,  
apontando possíveis caminhos para uma regulação que proteja a integridade do discurso  
democrático.  
A presente pesquisa fundamentou-se nas obras de Jürgen Habermas bem como de  
outros teóricos que estudam a questão da esfera pública, com o objetivo de construir uma  
análise a base da pesquisa. Adotamos a pesquisa bibliográfica, a partir de uma revisão  
detalhada dessas obras, que permitiu a compreensão das dinâmicas entre tecnologia, ciência e  
ideologia na esfera pública ou esfera pública digital.  
Análise dessas referências forneceu os subsídios teóricos necessários para a elaboração  
do artigo, permitindo a aplicação dos conceitos de Habermas ao cenário contemporâneo,  
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especialmente no que tange à colonização sistêmica da esfera pública e o impacto da  
tecnologia na deliberação democrática.  
Severiano (2013) afirma para a pesquisa documental:  
No caso da pesquisa documental, tem-se como fonte documentos no sentido amplo,  
ou seja, não só de documentos impressos, mas, sobretudo de outros tipos de  
documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações documentos legais. Nestes  
casos, os conteúdos dos textos ainda não tiveram nenhum tratamento analítico, são  
ainda matéria-prima, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação  
e análise (p.95).  
Realizou-se um levantamento nas bases de pesquisa: SciELO, periódicos capes,  
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, Google Acadêmico, Redalyc, nos meses de  
setembro a dezembro usando os descritores: mundo dos sistemas, esfera pública, esfera  
pública digital, mundo da vida, colonização sistêmica. O presente texto está dividido nas  
seguintes partes: Esfera Pública e sua interação no Mundo da Vida, Tecnologia como  
Racionalidade Técnica e a Colonização sistêmica, Desinformação, Esfera Pública e a  
Integridade do Mundo da Vida e as conclusões.  
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2 DESENVOLVIMENTO  
2.1 ESFERA PÚBLICA E SUA INTERAÇÃO NO MUNDO DA VIDA  
Com o surgimento da esfera pública como um espaço dedicado ao uso racional da  
linguagem, os participantes são incentivados a utilizar a opinião discursiva e a vontade  
política com base nas normas institucionais daquele ambiente. No entanto, a esfera pública  
também pode ser influenciada por sistemas que não estão orientados para o entendimento ou  
para a deliberação, como ocorre no mundo dos sistemas.  
Mas antes se faz necessário entendermos como a esfera publica e concebida dês da sua  
origem até a esfera pública moderna, a esfera pública em Habermas(1984) pode ser entendida  
como um espaço social onde os cidadãos podem se reunir para discutir questões de interesse  
comum, formando uma opinião pública crítica e racional a parti de suas ações teleológicas.  
Caracterizada pela deliberação e pela racionalidade do consenso e autonomia em  
relação às influências do Estado, a esfera pública desempenha um papel essencial na  
democracia deliberativa, ao entre o "mundo da vida" e as interseções do mundo dos  
“sistemas” formados pelo poder político e econômico74, ao qual mais a frente abordaremos  
melhor.  
A economia pode ser entendida como a personificação do mundo dos sistemas.  
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Para Habermas, a integridade desse espaço é fundamental para a formação de uma  
opinião pública que possa orientar e legitimar as decisões políticas em uma sociedade  
democrática. Esse modelo foi primeiro compreendido na polis grega com o modelo do  
“publico” e “privado” ao qual foi ao longo dos anos sendo também incorporado na Europa  
Medieval, que foi dando o ordenamento politico ate que surge a esfera pública burguesa que  
mantem o status cor das cidades gregas no que tange as categorias sociais da época.  
Para Habermas (1984) a esfera pública burguesa e concebida:  
A esfera das pessoas privadas reunidas em um público; elas reivindicam esta esfera  
pública regulada pela autoridade, mas diretamente contra a própria autoridade, a fim  
de discutir com ela as leis gerais da troca na esfera fundamentalmente privada, mas  
publicamente relevante, as leis do intercâmbio de mercadorias e do trabalho social.  
(p.42)  
Dentro dessa perspectiva surgi na era moderna o neoliberalismo e o mercado, ambos  
concebidos pelo mundo dos sistemas, ao qual sempre tenta colonizar o mundo da vida, e a  
esfera publica e um dos âmbitos com o qual as deliberações dos atores da comunicação usam  
para expressar suas opiniões e assim criarem consenso no mundo da vida, mas com a  
colonização do mundo dos sistemas no cotidiano das pessoas, a esfera publica passou a ter a  
influência do liberalismo econômico, portanto uma esfera que tinha sua ação voltada para a  
mútua compreensão e com processos de comunicação assim sendo intersubjetiva, passa a  
adotar uma noção de ação instrumental voltada para certos interesses de grupos, grupos esses  
com seus interesses econômicos e políticos que distorcem a esfera publica participativa.  
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A esfera pública liberal sugeria a separação entre Estado e sociedade. Quando o  
setor público se interpenetra com o privado, esse modelo se torna inútil, perde suas  
funções de “mediação”. Então, o quadro institucional precisa ser repolitizado. Este  
processo também atinge, fatalmente, a esfera pública, numa influência progressiva  
dos sistemas tecnocráticos sobre o quadro institucional da sociedade. Isso significa:  
a despolitização da esfera pública, ou seja, a exclusão estrutural da possibilidade de  
discussão pública nos quadros institucionais da esfera do poder público, as decisões  
políticas caem fora da discussão racional da esfera pública. (Lubenow, 2007, p.101)  
Em relação à esfera pública, Habermas sustenta que:  
Esfera ou espaço público é um fenômeno social elementar do mesmo modo que a  
ação, o ator, o grupo ou a coletividade; porém, ele não é arrolado entre os conceitos  
tradicionais elaborados para descrever a ordem social. A esfera pública não pode ser  
entendida como uma instituição, nem como uma organização, pois ela constitui uma  
estrutura normativa capaz de diferenciar entre competências e papéis, nem regula o  
modo de pertença a uma organização, etc. Tampouco ela constitui um sistema, pois  
mesmo que seja possível delinear seus limites internos, exteriormente ela se  
caracteriza através de horizontes abertos, permeáveis e deslocáveis. A esfera pública  
pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos,  
tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicativos são filtrados e  
sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas  
específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida tomado globalmente, a esfera  
pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de  
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uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da  
prática comunicativa cotidiana. (Habermas 2014, p. 435)  
Sobre o mundo da vida:  
O mundo da vida forma para o que é falado, discutido e abordado, um contexto  
mediato, que certamente é acessível em princípios, mas não pertence ao âmbito de  
relevância da situação de ação, delimitado pelo tema. O mundo da vida forma a rede  
intuitivamente presente, nesse aspecto familiar e transparente mas ao mesmo tempo  
inacabável, constituída de pressuposições que devem ser preenchidas para que um  
proferimento atual tenha sentido de modo geral, isto é, possa ser valido ou invalido  
(Habermas, 2022, p. 207-208, V.2).  
No âmbito da esfera pública participativa, o "mundo da vida" é essencial, pois sustenta  
o diálogo e a deliberação entre os cidadãos. As ações “teleológicas75 ao qual compreendem e  
debatem questões de interesse comum de maneira mais profunda e engajada, promovendo  
uma comunicação orientada pela compreensão mútua e pela busca de consenso.  
No âmbito da teoria da ação comunicativa de Habermas (2012), a colonização é  
identificada quando a racionalidade comunicativa que deveria ser orientada pela compreensão  
livre e mútua entre os indivíduos é substituída por uma lógica instrumental.  
Sobre o mundo dos sistemas Habermas (2022, v.2) diz:  
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Em relação aos sistemas de ação, organizados formalmente e controlados por  
processos de poder e troca, os membros se comportam como se fossem parte da  
realidade natural, pois nos subsistemas da atividade teleológica a sociedade se  
coagula numa segunda natureza. Certamente, os atores podem abandonar a qualquer  
momento a orientação pelo entendimento, adotando um enfoque estratégico e  
objetivando contextos normativos como algo no mundo objetivo; porém nas  
sociedades modernas surgem esferas de organização formal e de relações sociais  
controladas por meios, as quais não permitem mais atitudes regidas por normas ou  
por pertenças sociais formadoras de identidade, relegadas para a periferia (p. 278-  
279).  
Segundo Rosalvo Nobre Carneiro (2022), no mundo dos sistemas, o espaço social é  
estruturado e explicado por meio de fatores como o dinheiro e o poder. Em contraste, no  
mundo da vida, a esfera pública é entendida de forma mais complexa e tripartite, baseada na  
cultura, na organização social em grupos específicos, e nas características individuais das  
pessoas, incluindo suas dimensões subjetivas.  
Além disso o capitalismo avançado a esfera publica deixa de ser o único meio de  
legitimar o poder, mas coloca em cerne o potencial da esfera publica pois ela seria nessa nova  
etapa uma articuladora para a formação de uma rede de comunicação e articularia o debate  
para com a vontade articulada pelo agentes dessa ação para a chegada do consenso entre os  
argumentos e aquele que tivesse maior poder de persuasão.  
Para Habermas, é aquela orientada por fins específicos, onde os indivíduos agem estrategicamente para alcançar objetivos previamente definidos.  
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A esfera pública não é mais tanto o “lugar”, o “espaço”, mas uma “rede pública de  
comunicação discursiva”. A esfera pública não está mais arraigada nas feições  
burguesas como a única fonte de legitimação. Isso significa: Habermas não se  
restringe mais a procurar um potencial normativo para a esfera pública no conjunto  
de instituições situadas no tecido social, mas numa rede de comunicação e  
articulação de fluxos comunicativos, na qual a formação da opinião e da vontade  
vêm a público. A noção de “mundo da vida” seria capaz de fornecer essas  
“condições” (Lubenow, 2007, p.112)  
A esfera pública no capitalismo avançado deixou de ser um espaço físico delimitado e  
passou a ser compreendida como uma rede dinâmica de comunicação. Nesse novo cenário, a  
legitimidade das opiniões e vontades não se baseia mais em instituições tradicionais, mas  
emerge de interações discursivas espalhadas por uma rede complexa de fluxos comunicativos.  
Habermas, ao expandir sua visão da esfera pública, identifica essa rede de comunicação como  
o novo espaço onde a opinião pública é formada, indagando as experiências e as interações  
cotidianas dos médiuns, que agora desempenham um papel central na configuração  
gestacionado pelo mundo da vida.  
A racionalização do mundo da vida possibilita por um lado a diferenciação de  
subsistemas independentes e ao mesmo tempo abre o horizonte utópico de uma  
sociedade civil burguesa, na qual os âmbitos formalmente organizados de Bourgeois  
(economia e aparato estatal) constituem os fundamentos para um mundo da vida  
pós-tradicional de Homme (esfera privada) e Citoyen (esfera pública) (Habermas,  
2022, p. 480, V.2).  
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Esse duplo efeito da racionalização do mundo da vida, permite a diferenciação entre  
subsistemas, como a economia e o regime estatal, que se tornam independentes e formalmente  
organizados com isso abre para uma sociedade civil burguesa, onde esses subsistemas formam  
a base para a emergência de um mundo da vida pós-tradicional, dividido entre a esfera  
privada, e a esfera pública, onde o sujeito participa ativamente. Essa separação reflete a  
complexidade dessas esferas e as novas formas de vida capitalista e política.  
Entre capitalismo e democracia se estabelece uma indissolúvel relação de tensões,  
pois competem pela primazia dos princípios opostos de integração social [...] Estes  
dois imperativos colidem sobretudo na esfera da opinião público-política, na que há  
de se acreditar a autonomia do mundo da vida frente ao sistema de ação  
administrativo. A “opinião pública” que se articula nessa esfera significa da  
perspectiva do mundo da vida algo distinto que da perspectiva sistêmica do aparato  
estatal (Habermas, 2022, p. 508, V.2).  
De acordo com Lubenow (2007), ao considerar a relação entre sistema e mundo da  
vida, a esfera pública assume a função de proteger e garantir a autonomia do mundo da vida  
frente às imposições sistêmicas. Além disso, desempenha um papel simbólico de promover a  
integração social, cultivando a solidariedade derivada da cooperação. A esfera pública, nesse  
sentido, configura-se como o espaço social onde a prática comunicativa se manifesta,  
conferindo vitalidade ao mundo da vida e assegurando sua reprodução simbólica, função que  
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o sistema, por si só, não consegue cumprir, dessa forma, a esfera pública assume também o  
papel de ser a intermediaria entre os mundos da vida e sistema, sendo a autonomia do mundo  
da vida perante os regimes do mundo dos sistemas, pois dentro desse espaço as deliberações  
da esfera publica e da esfera política ainda não age de forma instrumentalizada para a  
colonização, mas sendo ela a intermediadora para a não colonização sistêmica dessas esferas,  
mas que com o capitalismo tardio acaba sendo engolida os interesses deliberativos  
Nesse contexto, a educação geográfica auxilia a esfera pública desempenhando um  
papel essencial na formação do cidadão capaz de participar ativamente dessa esfera ao  
promover a compreensão crítica dos espaços deliberativos, a educação geográfica não só  
desenvolve a consciência espacial e ambiental, mas também fortalece a capacidade de analisar  
e discutir questões sociais, políticas e econômicas. Assim, ela contribui para a criação de uma  
cidadania informada e engajada, capaz de intervir de forma deliberativa e consciente nas redes  
discursivas que moldam a esfera pública moderna.  
Por fim trago as palavras de Carneiro (2022) sobre a educação geográfica do agir  
comunicativo:  
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A educação geográfica do agir comunicativo ou a Geografia escolar do mundo da  
vida simbolizam uma mesma ideia por serem conceitos complementares; por  
enfatizarem os processos da reprodução cultural, da solidariedade e das  
personalidades da nossa existência pela interação simbólica; ou por destacarem os  
processos de descolonização frente aos imperativos de reprodução material do  
mundo do sistema e de suas patologias humanas e sociais, o que cabe ás interações  
sociais pelo paradigma intersubjetivo da linguagem (p.111).  
2.2 TECNOLOGIA COMO RACIONALIDADE TÉCNICA E A COLONIZAÇÃO  
SISTÊMICA  
O mundo dos sistemas, na teoria do agir comunicativo de Habermas, está relacionado  
à esfera dos mundos, sendo caracterizado pelo uso da ação instrumental para atingir seus  
objetivos. Esse mundo dos sistemas busca, de várias maneiras, colonizar o mundo da vida. Ele  
é dividido entre o poder econômico e o poder político, e emerge antes do mundo da vida,  
organizando os meios para ações não teleológicas, atuando de maneira predominantemente  
instrumental. Em contrapartida, o mundo da vida surge como uma oposição ao mundo dos  
sistemas, organizando as ações teleológicas com o objetivo de gerar consenso entre os  
participantes, com base na comunicação e no entendimento mútuo.  
Sobre o mundo dos sistemas Habermas argumenta:  
Em relação aos sistemas de ação, organizados formalmente e controlados por  
processos de poder e troca, os membros se comportam como se fossem parte da  
realidade natural, pois nos subsistemas da atividade teleológica a sociedade se  
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ARTIGO  
coagula numa segunda natureza. Certamente, os atores podem abandonar a qualquer  
momento a orientação pelo entendimento, adotando um enfoque estratégico e  
objetivando contextos normativos como algo no mundo objetivo; porém nas  
sociedades modernas surgem esferas de organização formal e de relações sociais  
controladas por meios, as quais não permitem mais atitudes regidas por normas ou  
por pertenças sociais formadoras de identidade, relegadas para a periferia  
(Habermas, 2022. V2. p. 278-279).  
Dentro desse contexto olhar para o mundo dos sistemas com uma visão critica e antes  
de tudo entender como os subsistemas (político e econômico) são atualizados de formal  
estrutural, pois e essa estrutura que visa o controle e até a eficiência, pois não procuram o  
consenso ou a racionalidade da ação buscando assim uma colonização sistêmica dentro do  
munda da vida, e essa colonização implica também a esfera pública que antes servia para  
legitimar o munda da vida.  
A racionalidade deste tipo só se refere à correta eleição entre estratégias, à adequada  
utilização de tecnologias e à pertinente instauração de sistemas (em situações dadas  
para fins estabelecidos), ela subtrai o entrelaçamento social global de interesses em  
que se elegem estratégias, se utilizam tecnologias e se instauram sistemas, a uma  
reflexão e reconstrução racionais. Essa racionalidade estende-se, além disso, apenas  
às situações de emprego possível da técnica e exige, por isso, um tipo de ação que  
implica dominação; quer sobre a natureza ou sobre a sociedade. A ação racional  
dirigida a fins é, segundo a sua própria estrutura, exercício de controles (Habermas,  
1915, p. 46).  
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Para reconhecer o mundo dos sistemas exige a observação de suas estruturas  
burocráticas e organizacionais da sociedade moderna, com seu viés instrumental,  
frequentemente suprimem a comunicação e a ação comunicativa dos indivíduos, com isso  
acontece uma marginalização da esfera publica participativa, pois o entendimento não esta  
mais voltado para a mutua compreensão mais sim para os interesses de controle econômico ou  
até mesmo o controle dos grupos que pertence a esfera pública. “A integração sistêmica é um  
tipo de diferenciação segmentária que ocorre através das relações de troca e da estratificação  
das esferas de poder, resultando em dois níveis distintos de diferenciação no sistema: o  
econômico e o estatal” (Bettine, 2021, p. 81).  
Com isso, a esfera pública76 participativa perdem gradualmente espaço, permitindo que  
a colonização sistêmica colonize sobre a esfera pública. Através de um agir instrumental,  
interesses políticos e econômicos são impostos, resultando em uma esfera pública cada vez  
mais restrita a determinados grupos de poder onde a participação democrática é marginaliza  
os agentes da comunicação passam a adotar um regime autoritário, em contraste com os  
princípios do mundo da vida, que busca o consenso por meio da participação e do diálogo.  
Dentro da esfera pública, podemos identificar os espaços destinados à deliberação dos interesses dos médiuns.  
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Tanto a esfera pública política quanto a digital acabam sendo igualmente colonizadas por  
esses agentes sistêmicos.  
Os mecanismos de integração sistêmica se aplicam aos efeitos da ação. Enquanto  
atravessam as orientações da ação de maneira subjetivamente discreta, eles podem  
deixar estruturalmente inalterados os contextos de ação da integração social que  
utilizam de modo parasitário – postulamos um tal entrelaçamento de integração  
sistêmica e social. Mas a descrição subjetiva de coerções sistêmicas que  
instrumentalizam um mundo da vida comunicativamente estruturado obtém o caráter  
de ilusão, de uma consciência objetivamente falsa (Habermas, 2022. p.282, V.2,  
grifo nosso).  
A colonização sistêmica busca de forma desenfreada a retirada da conscientização  
política como Habermas discute nas ideias sobre a esfera pública e a participação deliberativa,  
pois a esfera pública política e uma das áreas da deliberação participativa ao qual foi cada vez  
mais se reduzindo a racionalidade da técnica que adentrou o mundo da vida, pois reduziu a  
ação comunicativa a mera tarefas praticas.  
Pois com isso as pessoas deixariam a esfera pública participativa e se voltariam cada  
vez mais ao uso da técnica para a resolução de seus problemas, isso pode ser observado a parti  
do ponto onde a economia entrou nas participações políticas, isso demonstra a colonização  
sistêmica dentro do mundo da vida, a colonização consiste na imposição das estruturas  
culturais, econômicas e sociais de um poder dominante sobre outras culturas ou sociedades.  
A colonização sistêmica não se limitou às esferas públicas e políticas tradicionais, mas  
também se expandiu para a esfera pública digital, conforme propõe Habermas (2023) em sua  
obra: Uma nova mudança estrutural da esfera pública e a política deliberativa. Pois junto do  
avanço das tecnologias o capitalismo adentrou a essa esfera e usa da tecnologia e da ciência  
para legitimar seus interesses.  
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Sobre isso Habermas diz que:  
Assim a esfera publica também poderia ser examinada em sua contribuição  
funcional para a integração da sociedade e, especificamente, tendo em vista a  
integração política dos cidadãos. Embora esteja ciente de que a esfera pública é um  
fenômeno social que vai muito além da contribuição funcional para a formação  
democrática da vontade em estados constitucionais. (Habermas, 2023. p.28)  
Essa expansão da colonização sistêmica para a esfera pública digital reflete a crescente  
instrumentalização da tecnologia, que passa a ser usada não apenas como meio de  
comunicação, mas como ferramenta de controle e manipulação. As plataformas digitais,  
dominadas por interesses estratégicos, moldam as interações sociais e políticas transformando  
o debate público em um processo cada vez mais direcionado por algoritmos e pela lógica  
mercadológica. Assim, o espaço que antes favorecia a deliberação democrática e o diálogo  
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entre cidadãos se torna um ambiente de segmentação e polarização, onde a busca por  
consenso é elevada pela imposição de agendas específicas  
A racionalidade técnica que penetra no mundo da vida acaba por enfraquecer as  
dinâmicas comunicativas, gerando um distanciamento entre os cidadãos e as questões  
políticas e sociais que afetam suas vidas. Ao preferir favorecer a emancipação e a construção  
de uma esfera pública verdadeiramente inclusiva e deliberativa, a tecnologia se converte em  
um mecanismo que fortalece as estruturas de poder e controle. Nesse cenário, a esfera pública  
digital, em vez de promover uma renovação democrática e um espaço de participação  
ampliado, tende a perpetuar as desigualdades e as dinâmicas excludentes do mundo dos  
sistemas.  
A nova configuração ideológica baseia-se na distribuição de compensações sociais  
que constroem um sistema de estratos dentro de uma classe que serve para evitar que  
outro grupo social seja afetado, o que significa que a classe média nada mais é do  
que um escudo protetor para os grupos dominantes. Esse esquema de compensação  
da nova ideologia mantém a lealdade das massas e a interpretação das conquistas  
não deve ser política; ela se refere imediatamente à distribuição de dinheiro e tempo  
de trabalho gratuito e, mediatamente, à justificativa tecnocrática da exclusão de  
questões práticas (Artica; Almeida; Ghedin, 2023, p. 553).  
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A colonização sistêmica, ao se estender para o ambiente digital, consolida a  
fragmentação do espaço público, restringindo a participação de grupos que já detêm poder,  
enquanto marginaliza vozes dissidentes e críticas ao status quo. Assim, a promessa de uma  
esfera pública digital inclusiva e democrática se vê comprometida pela lógica instrumental  
que governa suas plataformas, perpetuando as dinâmicas de dominação e controle existentes.  
Com a secularização do poder estatal, surgiu uma lacuna legitimação. Dado que nas  
sociedades modernas o poder legitimador da crença na vocação divina das dinastias  
dominantes tornou-se insuficiente, o sistema democrático precisou se legitimar a  
parti de si mesmo, por assim dizer, e mais precisamente pela força geradora de  
legitimidade do procedimento legalmente institucionalizado de formação  
democrática de opinião. (Habermas, 2023. p.38)  
É necessário que este tenha se diferenciado da respectiva cultural majoritária a tal  
ponto que, em uma sociedade pluralista, todo cidadão possa se reconhecer na cultura  
politica comum. O vinculo social de uma sociedade, por mais que tenha uma  
composição heterogênea, só não será rompida se a integração politica garantir  
universalmente uma solidariedade cidadã que de modo algum requer um altruísmo  
incondicional. (Habermas, 2023. p.48)  
A questão da ideologia sistêmica dentro da esfera pública digital aprofunda ainda mais  
o processo de colonização do mundo da vida, conforme descrito por Habermas. Uma  
ideologia sistêmica é alimentada por uma racionalidade instrumental que permite as  
interações digitais, estabelecendo normas e práticas que reforçam os interesses dos  
subsistemas políticos e econômicos. Isso se manifesta por meio de plataformas digitais que  
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não apenas operam como mediadoras neutras de comunicação, mas moldaram o discurso  
público, promovendo valores e prioridades inseridas aos participantes da ação.  
A colonização sistêmica na esfera pública digital, ao consolidar o controle econômico  
e político sobre as plataformas de comunicação, intensifica a fragmentação do debate público  
e marginaliza vozes que poderiam contribuir para um consenso democrático. A lógica  
instrumental que rege essas plataformas reduz o espaço para a deliberação livre, substituindo  
o diálogo aberto por uma agenda dominada por interesses estratégicos.  
Nesse cenário, é urgente resgatar os princípios do agir comunicativo e da participação  
cidadã como meios de combater essa colonização e revitalizar a esfera pública, tanto política  
quanto digital, para que ela possa, de fato, ser um espaço inclusivo e deliberativo.  
3 DESINFORMAÇÃO, ESFERA PÚBLICA E A INTEGRIDADE DO MUNDO DA  
VIDA  
No ambiente digital, essa ideologia sistêmica se expressa pela criação de um ambiente  
de comunicação que promove a eficiência técnica a maximização de lucros e a manutenção de  
estruturas de poder existentes, em detrimento de uma verdadeira deliberação pública e  
inclusiva. Assegura Habermas (2023) a esfera pública política está profundamente ligada à  
sociedade civil, que atua como uma espécie de amplificadora das perturbações geradas por  
sistemas específicos relevantes que refletem de ajustes, facilitando, assim, as conexões  
comunicativas entre a política e os contextos sociais que a circundam.  
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Sobre a estrutura midiática digital Habermas nos traz que:  
O progresso tecnológico da comunicação digitalizada promove em primeiro lugar  
tendências que dilatam os limites da esfera pública, mas também provocam sua  
fragmentação. O caráter horizontal [Plattformcharakter] da nova mídia, ao lado da  
esfera pública editada [redaktionellen Öffentlickeit], cria um espaço de comunicação  
no qual os eleitores, ouvintes e espectadores podem assumir espontaneamente o  
papel de autores. O alcance da nova mídia pode ser visto no resultado de um  
levantamento longitudinal sobre o uso dos serviços de mídia ampliados. (Habermas,  
2023. p.29)  
Habermas sugere que o avanço tecnológico na comunicação digital tem um efeito  
duplo na esfera pública. Por um lado, ele expande os limites da esfera pública, permitindo que  
mais indivíduos participem do debate público. Por outro lado, esse mesmo progresso causa  
fragmentação pois a comunicação se torna mais dispersa e polarizada. A mídia digital, com  
seu caráter horizontal, permite que os usuários assumam o papel de produtores de conteúdo,  
ou que democratizem o acesso à informação. No entanto, essa abertura também cria um  
ambiente onde a diversidade de opiniões pode levar à fragmentação do discurso público.  
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-18, e-7390, nov. 2024.  
ARTIGO  
De acordo com Gontijo (2005), o enfraquecimento das interações comunicativas entre  
sujeitos concretos, conforme Habermas, resulta na repressão da ética em favor da lógica dos  
sistemas, cuja organização se baseia na tecnociência e no mercado. Em oposição a essa  
perspectiva, o teórico alemão sugere a possibilidade de um racionalismo substancial, ancorado  
no agir comunicativo, que orientaria as ações sociais dos indivíduos com base em um sentido  
compartilhado pela comunidade.  
A consciência tecnológica é “menos ideológica” do que todas as ideologias  
anteriores; a ideologia dominante de hoje, que transforma a ciência em um fetiche, é  
mais irresistível e mais abrangente do que as ideologias antigas, uma vez que o véu  
prático justifica um interesse dominante parcial de uma determinada classe e oprime  
a necessidade parcial de emancipação por parte de outra classe, uma vez que  
também atinge o interesse emancipatório da espécie humana como tal (Habermas,  
1978, p. 325).  
A regulação da mídia nesse contexto se torna um fator crucial. As plataformas digitais,  
sendo grandes agentes da esfera pública, têm o poder de moldar as percepções políticas,  
sociais e culturais dos indivíduos. Contudo, a falta de uma regulação eficaz sobre essas mídias  
digitais permite que a colonização sistêmica avance sem restrições. Empresas de tecnologia,  
orientadas pela lógica do mercado, têm grande influência sobre o tipo de informação que é  
divulgada e quais vozes são amplificadas ou silenciadas.  
12  
A racionalização do plano da estrutura institucional só pode ser alcançada em um  
meio de interação verbalmente mediado por meio de uma descompressão no  
domínio comunicativo. As instituições seriam modificadas em sua composição  
específica além dos limites de uma mera mudança de legitimação (Habermas, 1978,  
p. 231).  
A ausência de uma regulação adequada não só perpetua as desigualdades no acesso à  
informação, mas também consolida o poder dos grandes conglomerados de mídia e tecnologia  
sobre a esfera pública digital. Esses atores, movidos por objetivos econômicos, têm o poder de  
definir as restrições do debate público, o que resulta na exclusão de perspectivas alternativas e  
na marginalização de vozes dissidentes. portanto, a ideologia sistêmica que domina a esfera  
pública digital é mantida pela ausência de mecanismos regulatórios eficazes que possam  
limitar o poder das grandes corporações tecnológicas e garantir que a esfera pública mantenha  
um espaço de verdadeira deliberação democrática.  
Aspecto  
Colonização Sistêmica  
Desinformações nas Mídias Digitais  
Plataformas digitais algoritmos que  
Grandes mídias, corporações  
governos que controlam informações promovem conteúdo sensacionalista  
digitalmente. polarizador.  
e
e
Agentes  
Ação  
da  
e
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Imposição de lógica econômica  
política sobre a esfera público.  
e
e
Maximizar lucros e manipular a opinião  
pública com informações distorcidas.  
Objetivo  
Impacto  
na Redução da participação cidadã  
Fragmentação da opinião pública  
e
Esfera Pública  
enfraquecimento  
democrática.  
da  
deliberação dificuldade em alcançar consenso.  
Mecanismos de Algoritmos que favorecem conteúdos Disseminação de fake news e teorias da  
Ação de interesse sistêmico. conspiração.  
Fonte: Elaboração própria, 2024.  
A regulação da mídia, nesse sentido, não deve ser vista apenas como uma tentativa de  
controlar o fluxo de informações, mas como uma ferramenta essencial para garantir que o  
espaço público digital possa resistir à colonização sistêmica e promover a participação cidadã,  
a necessidade de regular a mídia digital vai além da simples proteção contra desinformação.  
Trata-se de criar um ambiente onde a diversidade de opiniões e a pluralidade de vozes sejam  
garantidas, possibilitando uma esfera pública mais inclusiva e resistente à manipulação por  
interesses econômicos e políticos. Sem essa regulação, o espaço digital corre o risco de se  
tornar uma arena dominada pela lógica instrumental, na qual os valores democráticos estão  
comprometidos em nome da eficiência, do lucro e da manutenção de estruturas de poder.  
A racionalidade deste tipo só se refere à correta eleição entre estratégias, à adequada  
utilização de tecnologias e à pertinente instauração de sistemas (em situações dadas  
para fins estabelecidos), ela subtrai o entrelaçamento social global de interesses em  
que se elegem estratégias, se utilizam tecnologias e se instauram sistemas, a uma  
reflexão e reconstrução racionais. Essa racionalidade estende-se, além disso, apenas  
às situações de emprego possível da técnica e exige, por isso, um tipo de ação que  
implica dominação; quer sobre a natureza ou sobre a sociedade. A ação racional  
dirigida a fins é, segundo a sua própria estrutura, exercício de controles (Habermas,  
1975, p. 46).  
13  
Como traz Castro e Rocha (2015) a realidade externa, que se refere às nossas  
percepções e sensações, é independente do pensamento de qualquer indivíduo específico, mas  
não do pensamento em geral. Com isso, Peirce garante a objetividade da "opinião final" da  
comunidade, alinhando-a com o real e tornando a verdade e o real coincidentes com o objeto  
dessa opinião final. Se a realidade é o objeto da opinião final, e se essa opinião se restringisse  
a um grupo particular, então as externalidades correspondentes poderiam ser apenas  
concepções desse grupo, resultando em uma visão idealista.  
A tecnologia não se limita a dispositivos mecânicos ou eletrônicos; sua essência está  
ligada ao saber-fazer e à capacidade de usar a razão; ela abrange qualquer forma de  
instrumentalização e manipulação do mundo que permita a transformação e a  
utilização de recursos. A tecnologia, em seu sentido moderno, busca a verdade e  
abrange mais do que um meio para atingir objetivos; ela, enquanto ambiente onde  
“mora” o humano, muda a forma como percebemos e interpretamos a realidade.  
Portanto, altera radicalmente nossos mecanismos internos de percepção e  
representação do mundo. (Artica; Almeida; Ghedin, 2023, p. 557)  
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No Brasil, atualmente observamos uma fragilidade na esfera pública que não se limita  
apenas ao país, mas que merece uma atenção especial. Em particular, é possível perceber a  
utilização exagerada da esfera pública digital pelo poder político para influenciar os rumos  
das eleições. A esfera pública digital tem sido empregada para disseminar fake news74, com o  
uso de plataformas como Instagram, WhatsApp e Telegram. Estes aplicativos de mensagens,  
que são abertos a qualquer tipo de discurso, têm servido para propagar discursos de ódio.  
Como aponta Habermas (2023), a desconfiança em relação à mídia estatal está ligada à  
corrupção e à falta de integridade dos ideais da classe política, o que gera dúvidas e ceticismo  
entre os ouvintes.  
Determinados fins e interesses de dominação não são outorgados à técnica apenas  
«posteriormente» e a partir de fora – inserem-se já na própria construção do  
aparelho técnico; a técnica é em cada caso, um projeto histórico-social; nele se  
projeta o que uma sociedade e os interesses nela dominantes pensam fazer com os  
homens e com coisas. Um tal fim de dominação é «material» e, neste sentido,  
pertence a própria forma da razão técnica (Habermas, 1968, p. 47)  
Além do período eleitoral, o pós-eleitoral também foi marcado pelo uso das mídias  
sociais para descredibilizar as instituições democráticas do país e promover o caos. Diversos  
grupos de extrema-direita, a serviço de um verdadeiro "gabinete do ódio", foram responsáveis  
pelo maior ataque à democracia desde o golpe de estado de 1964. Esses grupos desafiaram a  
legitimidade das eleições, utilizando a esfera pública digital para mobilizar seus seguidores  
em um verdadeiro espetáculo de desordem. Historicamente, o próprio presidente da República  
na época, jair bolsonaro75, utilizou suas redes sociais para propagar mentiras sobre o sistema  
eleitoral que o elegeu em 2018. Esse fenômeno foi influenciado pelo movimento semelhante  
ocorrido nos Estados Unidos, onde o chefe de Estado, também se valendo de sua influência na  
esfera pública digital, incitou seus apoiadores a invadir o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.  
Sobre as fake news no governo Trump Habermas diz que:  
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Ainda mais notável e outra tendência. Obviamente, a crescente infiltração de fake  
news na esfera pública política, especialmente a espetacular evolução para uma post-  
truth-democracy [democracia da pós-verdade], que durante o governo Trump se  
tornou uma normalidade assustadora nos Estados Unidos, também aumentou a  
desconfiança a mídia na Europa (Habermas, 2023, p. 66).  
No contexto brasileiro, podemos observar que as mídias sociais foram frequentemente  
utilizadas para a disseminação de discursos de ódio direcionados a grupos ou indivíduos  
específicos, sobretudo aqueles associados à esquerda política. Isso evidencia o grau de  
Fake news são informações falsas ou enganosas divulgadas como se fossem verdadeiras, com o objetivo de manipular a opinião pública.  
Escrevemos em letras minúsculas para minimizar a importância  
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fragmentação que atingiu tanto a esfera pública digital quanto a esfera pública política. As  
redes sociais também serviram como plataforma para a organização de protestos e greves,  
com o Telegram sendo amplamente utilizado para esse fim, uma vez que não possui  
mecanismos de bloqueio de conteúdos como os que existem no WhatsApp. Foi por meio de  
grupos no telegram76 que, por exemplo, a greve dos caminhoneiros foi articulada, ainda que  
com pouca adesão. Além disso, a ocupação das frentes dos quartéis, amplamente promovida  
por esses grupos no telegram, também contou com convites via whatsApp e até mesmo pelo  
instagram, onde mentiras foram divulgadas para um público específico, que, por sua vez,  
mobilizou outras pessoas, resultando em acampamentos diante de quartéis em diversas partes  
do Brasil.  
Sobre a desinformação na esfera publica Habermas aponta:  
Pois as plataformas digitais não apenas convidam a criação espontânea de mundos  
próprios confirmados de maneira intersubjetiva, como também, ao mesmo tempo,  
parecem dar a obstinação dessas ilhas de comunicação o posto epistêmico de esferas  
publicas concorrentes. Mas antes de podermos avaliar esse lado subjetivo das  
atitudes dos destinatários alteradas pela oferta da mídia, devemos olhar para a  
dinâmica econômica que distorce cada vez mais a percepção subjetiva da esfera  
pública editada. Pois os traços idiossincráticos desses modos de recepção  
promovidos pela mídia social não devem distorce a ancoragem econômica da  
transformação da estrutura midiática esboçada em linhas gerais e, por enquanto,  
largamente não regulamentada do ponto de vista político (Habermas, 2023, p. 67-  
68).  
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Isso mostra além da fragmentação da esfera pública digital, uma ruptura daqueles que  
estão ligados a esses atos antidemocráticos, que trouxeram riscos a nossa democracia, isso  
também traz o debate sobre a regulamentação dessas redes, pois sem filtros que impeçam  
esse tipo de pratica os mesmos ainda continuaram a fazer esses mesmos tipos de praticas,  
fragmentando cada vez mais essa esfera, e ate mesmo a esfera política, pois muito se fala em  
liberdade de expressão, mas se confundem liberdade de expressão com ataques a governos e  
ate mesmo a pessoas ou grupos raciais.  
No brasil vivemos um episódio de bloqueio de uma rede social o X77, que antes  
cumpria as determinações da justiça brasileira, mas que foi comprada por um grande  
bilionário Elon Muks, que não esta interessado na democracia de nenhum pais, ou ate mesmo  
nas consequências que os atos de certos grupos extremistas podem fazer com o alcance dessa  
rede social, sua preocupação e nada mais do que com os lucros, isso mostra que o agente  
sistêmico econômico busca de qualquer forma se apropriar colonizando o mundo da vida  
daqueles que fazem o uso dessas redes sociais e propagar a fragmentação desse mundo.  
A partir deste ponto, os nomes das redes sociais serão escritos em letras minúsculas para não desviar o foco da mensagem principal.  
Antigo Twitter.  
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4 CONCLUSÃO  
A investigação realizada neste estudo permitiu uma compreensão aprofundada dos  
desafios contemporâneos impostos pela digitalização da esfera pública e a influência exercida  
pelas estruturas de poder econômico e político sobre as dinâmicas de comunicação. A  
colonização sistêmica, tema central do pensamento habermasiano, foi contextualizada à luz  
das tecnologias digitais e das plataformas mediadas por algoritmos, evidenciando como essas  
plataformas têm instrumentalizado a esfera pública, restringindo a deliberação democrática e  
ampliando a fragmentação social.  
Habermas destacou a importância de uma esfera pública aberta e inclusiva, onde o  
debate racional pode prosperar livre de coerção. Contudo, o cenário atual revela uma  
crescente colonização da esfera pública digital por interesses econômicos, promovidos por  
grandes corporações tecnológicas. Esta instrumentalização não apenas distorce o espaço  
público, mas também marginaliza vozes críticas, limitando o potencial de uma deliberação  
verdadeiramente democrática.  
16  
A pesquisa explorou como a desinformação e as fake news são consequências diretas  
dessa colonização, que utiliza as ferramentas digitais não para facilitar a comunicação, mas  
para manipular opiniões e consolidar poder. A racionalidade técnica, que permeia as  
plataformas digitais, opera de forma a moldar as interações, reduzindo o debate público a uma  
lógica instrumental voltada para o lucro e para a manutenção das estruturas de dominação.  
Dessa forma, a regulação democrática das tecnologias digitais se apresenta como uma  
necessidade urgente para resgatar o papel emancipatório da esfera pública. Ao contrário de  
limitar a liberdade de expressão, essa regulação deve buscar reequilibrar as dinâmicas de  
poder, garantindo que a esfera pública digital seja um espaço inclusivo, onde a deliberação  
democrática possa ocorrer sem a interferência desmedida de interesses econômicos ou  
políticos. Somente assim será possível promover uma esfera pública digital que esteja à altura  
dos desafios da contemporaneidade, fortalecendo a cidadania ativa e a participação política  
em um contexto cada vez mais mediado pela tecnologia.  
Em síntese, a colonização sistêmica da esfera pública digital é um fenômeno que exige  
reflexão crítica e ação regulatória, sob o risco de a esfera pública se tornar uma ferramenta de  
controle e segmentação, em vez de um espaço para o exercício da autonomia democrática e da  
deliberação racional. O desafio posto à democracia contemporânea é assegurar que o  
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desenvolvimento tecnológico sirva à emancipação humana, e não à sua subordinação a  
interesses privados.  
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LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-18, e-7390, nov. 2024.