A PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE GÊNERO EM 2019 E 2020 NOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Anna Raquel de Lemos Vianna[1]
Universidade Federal de Pernambuco
Paulo Ricardo Silva Lima[2]
Universidade Federal de Pernambuco
pauloricardo.silvalimma@gmail.com
João Rodrigo Santos Ferreira[3]
Ministério Público do Estado de Ala
joaorsferreira@gmail.com
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Resumo
A pesquisa investiga a produção científica de gênero nos periódicos de Ciência da Informação da região Nordeste do Brasil nos anos de 2019 e 2020, considerando os impactos da pandemia da Covid-19. A partir das discussões teóricas sobre desigualdade de gênero na ciência e da análise do conceito de campo de Bourdieu (2011), o estudo explora como as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) influenciaram os processos de produção e disseminação do conhecimento, acentuando desafios já existentes para pesquisadoras. A metodologia emprega uma abordagem quantitativa e bibliométrica, analisando publicações indexadas na BRAPCI e nos anais do ENANCIB de 2019. Os resultados preliminares apontam para uma queda significativa na produtividade acadêmica feminina durante a pandemia, especialmente entre mulheres com responsabilidades familiares, reforçando padrões históricos de desigualdade. A pesquisa contribui para a compreensão das dinâmicas de gênero na produção científica e destaca a necessidade de políticas de equidade na Ciência da Informação.
Palavras-chave: gênero; produção científica; ciência da informação; covid-19; produtividade acadêmica, desigualdade.
GENDER SCIENTIFIC PRODUCTION IN 2019 AND 2020 IN SCIENTIFIC JOURNALS ON INFORMATION SCIENCE IN THE NORTHEASTERN REGION DURING THE PANDEMIC
Abstract
The increasing integration of Digital Information and Communication Technologies (DICTs) into daily life has reshaped scientific research, particularly in the field of Information Science. This study examines the impact of the COVID-19 pandemic on gender-related scientific production in Information Science journals from the Northeast region of Brazil in 2019 and 2020. The research follows a descriptive methodology, analyzing articles, reviews, essays, interviews, and experience reports from 16 scientific journals indexed in the BRAPCI database. Additionally, it investigates gender-related research presented at the 2019 National Meeting of Research in Information Science (ENANCIB). The study adopts a bibliometric approach to assess gender disparities in academic productivity during the pandemic, particularly the challenges faced by female researchers due to the increased burden of domestic and caregiving responsibilities. The results indicate a decline in female academic productivity during the pandemic, aligning with previous research on gender inequality in science. The findings highlight the need for more inclusive policies to support women in academia.
Keywords: gender; scientific production; information science; covid-19; academic productivity; inequality.
LA PRODUCCIÓN CIENTÍFICA DE GÉNERO EN 2019 Y 2020 EN LAS REVISTAS CIENTÍFICAS DE CIENCIA DE LA INFORMACIÓN DE LA REGIÓN NORDESTE EN TIEMPOS DE PANDEMIA
Resumen
La creciente integración de las Tecnologías Digitales de Información y Comunicación (TDIC) en la vida cotidiana ha transformado la investigación científica, especialmente en el campo de la Ciencia de la Información. Este estudio analiza el impacto de la pandemia de COVID-19 en la producción científica relacionada con el género en revistas de Ciencia de la Información de la región Nordeste de Brasil en 2019 y 2020. La investigación adopta una metodología descriptiva, examinando artículos, reseñas, ensayos, entrevistas y relatos de experiencias en 16 revistas científicas indexadas en la base de datos BRAPCI. Además, investiga los estudios sobre género presentados en el Encuentro Nacional de Investigación en Ciencia de la Información (ENANCIB) de 2019. A través de un enfoque bibliométrico, el estudio evalúa las disparidades de género en la productividad académica durante la pandemia, destacando los desafíos enfrentados por las investigadoras debido a la mayor carga de responsabilidades domésticas y de cuidado. Los resultados muestran una disminución en la productividad académica femenina durante la pandemia, lo que coincide con investigaciones previas sobre la desigualdad de género en la ciencia. Los hallazgos subrayan la necesidad de políticas más inclusivas para apoyar a las mujeres en la academia.
Palabras clave: género, producción científica, ciencia de la información, covid-19, productividad académica, desigualdad.
1 INTRODUÇÃO
As novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) estão gradativamente mais integradas às atividades cotidianas e, como consequência, estão criando uma dependência tecnológica cada vez maior. Castells (2006) afirma que há duas décadas o mundo está em processo de transformação estrutural, multidimensional, associado à emergência de um novo paradigma tecnológico. Associadas à popularização da internet, essas tecnologias disponibilizam mecanismos que virtualizam grande parte das atividades tradicionalmente executadas de forma presencial. Considerando o ambiente acadêmico, especificamente o contexto da pesquisa científica, as TDIC redimensionaram os processos de busca, de produção e de disseminação do conhecimento, inclusive com a adaptação dos periódicos científicos que migraram do físico para o digital.
Os processos de produção e de comunicação científicos estão acontecendo de forma mais marcante no ambiente digital. Essa realidade ganhou nova perspectiva com o contexto pandêmico, provocado pela disseminação do novo coronavírus, que atingiu o Brasil no início de 2020. O isolamento social, uma das principais formas de contenção do vírus, potencializou a tendência educacional que já estava se firmando com o ensino remoto: a transferência das atividades acadêmicas para o ambiente doméstico.
Paralelamente, o isolamento social impulsionou também, em muitos casos, o retorno assíduo às atividades domésticas, exigindo um esforço maior dos(as) acadêmicos(as) que precisaram conciliar atividades acadêmicas e trabalhos caseiros/familiares, intensificando problemas ligados à desigualdade de gênero na produção científica. Staniscuaski et al. (2020) explicam que a pandemia está alterando a dinâmica de trabalho de muitos(as) cientistas, especialmente dos pais e mães de crianças pequenas, pois estes(as) enfrentam o desafio extra de acomodar o trabalho remoto com o trabalho doméstico, que inclui as responsabilidades de cuidar das crianças em tempo integral, e como consequência, tem-se a reconfiguração dos processos de produção e de comunicação científicos.
Entendendo a Ciência da Informação enquanto um campo científico que concentra-se no espaço abstrato de relações sociais e são “costuradas” em torno de um fazer científico acerca das propriedades da informação. Estrutura-se em um microcosmo e possui autonomia, leis e dinâmicas sociais específicas. A pesquisa propõe discutir sobre os atores sociais “jogadores” que estão nesse campo, assim como as condições estabelecidas e atuação em busca de troféus, que nesse contexto, são objetos comuns de desejos, ou seja, a publicação como forma de reconhecimento (Bordieu, 2013).
Alinhadas com as discussões de campo de Boudieu (2013), às questões de gênero deixa em evidência a desigualdade presente na Ciência da Informação, partindo do pressuposto em que os(as) pesquisadores(a) não têm as mesmas condições de alcançar os troféus, alguns são dotados de recursos que os credenciam a alcançar êxito com mais facilidades do que os outros e, por estarem em posições satisfatórias e confortáveis, agem de maneira a conservar as relações dentro do campo.
Buscando compreender como a pandemia tem influenciado na produção científica das mulheres, o movimento Parent in Science, a partir de uma pesquisa exploratória constatou que no ano de 2020 houve uma redução na produtividade acadêmica de gênero, período no qual, os grupos mais afetados foram as mulheres com e sem filhos, sendo a dos homens a menos afetada. Nesse sentido, fatores como maternidade e atividades domésticas são elementos contribuintes para a redução da representatividade das mulheres na ciência.
O termo “gênero” ganhou maior familiaridade com o protagonismo de Judith Butler nos séculos XX e XXI, quando a mesma rebatia as questões de poder e de submissão das mulheres aos indivíduos do sexo masculino e os discursos sobre a fragilidade do gênero feminino que a sociedade aceitava por levar em consideração apenas comparações relativas aos aspectos físicos, como força e agilidade (Butler, 2003). Na mesma perspectiva, Arán, Zaidhaft e Murta (2008, p. 72) entendem “Em geral, parte-se do pressuposto de que sexo é algo definido pela natureza, fundamentado no corpo orgânico, biológico e genético, e de que o gênero é algo que se adquire através da cultura”.
Diante do exposto, surgiu a necessidade de avaliar a produção científica das mulheres no âmbito da Ciência da Informação. Para isso, a pesquisa quantificou a produção de gênero nos periódicos científicos da região nordeste brasileira, durante os anos de 2019 e de 2020. Para complementar a discussão, foi necessário analisar também o contexto em que as produções dos anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) de 2019 tratavam sobre a temática “gênero”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Espírito Santo (2008) fez uma investigação em produções científicas através de suas linhas de pesquisa, no Brasil e no mundo, entre o período de 2000 e 2007, cujos resultados mostraram que, embora a questão de gênero implique as relações dos estudos da informação e vice-versa, os pesquisadores ainda se interessam pouco pelo tema. Na pesquisa, foram considerados os artigos de revistas internacionais, nacionais e em edições do ENANCIB que, como ponto em comum, buscam defender a necessidade de investir em estudos sobre gênero nas ciências, sobretudo a Ciência da Informação. Trata-se de artigos trabalhados de forma disciplinar, que detectam desigualdades de gênero, com caráter intervencionista e que propõem e apontam alternativas para modificar essa realidade.
Bufrem e Nascimento (2012), partindo de um estudo descritivo de análise bibliométrica, investigaram como a literatura da área da Ciência da Informação, sobretudo no Brasil, vem trabalhando com a temática de gênero. Para isso, utilizaram como levantamento a BRAPCI, usando os seguintes critérios: a assiduidade com que o tema tem sido tratado nos artigos publicados, os(as) autores (as) mais produtivos e suas condições profissionais e acadêmicas. Em relação aos anos de 1972 a 2011, contabilizaram 74 artigos sobre gênero, escritos por 102 autores(as) diferentes, porém somente oito (16,22%) publicaram mais de um trabalho, portanto, um percentual elevado de transitoriedade (83,78%). Esse resultado indica que é preciso refletir sobre a timidez e a incipiência do tema na Ciência da Informação. Não há uma frequência ou preocupação em aprofundá-lo, pois constatamos que é baixo o índice de pesquisadores(as) que publicaram mais de uma vez. Leta (2003) acredita que essa “baixa incidência possa ser resultado de um pequeno número de estudiosos(as) interessados(as) no tema, ou ainda, reflexo da predileção desses(as) pesquisadores(as) em dar visibilidade às pesquisas por meio de canais informais de divulgação científica” (Bufrem; Nascimento, 2012, p. 205). Dias e Lima (2013) constataram que, apesar dos avanços na Década de noventa, ainda há poucos estudos que tenham esse enfoque nas relações de gênero. Em seu trabalho, também é enfatizada a importância da informação para compreender e subverter as desigualdades de gênero, além de concretizar e materializar práticas informacionais que possam atender, de forma efetiva, às necessidades das mulheres, que foram historicamente obliteradas e cerceadas de direito à cidadania, por isso a importância da Ciência da Informação e seu impacto no campo social com Estudos de Gênero.
Analisando sob aspectos de autoria e coautoria, os resultados demonstraram que só as mulheres colocaram em pauta, pesquisaram e apontaram discussões sobre gênero e a importância de estudos sobre gênero para que haja mais inclusão e igualdade. Nascimento e Oliveira (2019 p. 5) também constataram que os estudos acadêmicos relativos a gênero são feitos pelas mulheres: “as teses relacionadas com mulher e gênero demonstra que, no campo da Ciência da Informação, essa temática ainda tem pouco apelo para pesquisa. As autoras das teses são somente mulheres”. Constata-se a quantidade escassa de pesquisas relacionadas ao tema, sugerindo uma reflexão sobre o pouco interesse na Ciência da Informação sobre estudos nessa temática. Espírito Santo (2008) complementa que as mulheres formam um público expressivo como consumidoras de informação, pois, por meio da informação, formam opiniões e interagem socialmente.
3 PROCESSO METODOLÓGICO
Quanto ao processo metodológico adotado trata-se de uma pesquisa descritiva. De acordo com Neuman (2014) esse tipo de pesquisa é utilizado quando o pesquisador busca descrever os fenômenos, processos e realidade do objeto em investigação. Nesse sentido, procurou-se compreender em que contexto as produções dos anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) do ano de 2019 relacionadas a gênero foram desenvolvidas, e como a pandemia da Covid-19 tem intervido na produção científica de homens e mulheres brasileiros nos anos de 2019 e 2020 em 16 periódicos científicos da região nordeste no campo da Ciência da Informação. Devido a pandemia, o ENANCIB não ocorreu no ano de 2020, estando sua próxima edição programada para o mês de outubro de 2021.
Oportuno destacar que a pesquisa se trata de um estudo em andamento, tendo por objetivo principal investigar a produção científica de gênero na Ciência da Informação no contexto brasileiro antes e durante a pandemia, sendo apresentados neste momento os primeiros resultados da região nordeste. Os periódicos foram selecionados a partir da lista de periódicos disponível na Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI), sendo consultado cada um deles para verificar se eram da região nordeste, se estavam com volumes publicados nos dois anos de análise, e se estavam disponíveis para acesso.
Em relação à abordagem, trata-se de uma pesquisa quantitativa, tendo por objetivo analisar as variáveis das produções de homens e mulheres, de forma isolada e em co-autoria. Como apresenta Creswell (2010), a pesquisa quantitativa se refere àquela na qual são realizados procedimentos matemáticos e estatísticos para facilitar na compreensão de determinadas variantes. Logo, foram criados gráficos com as principais variáveis encontradas na pesquisa com o intuito de ajudar no entendimento da realidade da produtividade científica nos anos de 2019 e 2020.
Para auxiliar no levantamento dos dados referentes às produções de gênero, foi realizado um estudo bibliométrico. Para Lima (1986, p. 128) a bibliometria refere-se a “[...] todas as análises quantitativas que, aplicando modelos e métodos matemáticos e estatísticos, se propõem a estudar o comportamento e os efeitos da informação registrada”. É importante destacar que para esta pesquisa, as produções científicas analisadas foram artigos, resenhas, ensaios, entrevistas, relatos de experiências, entre outros.
O período de coleta de dados foi de janeiro a maio de 2021, sendo excluídos aqueles periódicos que não publicaram nenhum volume nos anos de investigação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para constituir o corpus da pesquisa, utiliza-se como fontes de informações os trabalhos publicados nos anais do ENANCIB, que são distribuídos em 11 grupos de trabalhos com focos em temas diferentes. A palavra usada para recuperar foi “gênero” no campo do título, e palavras-chave, para saber em quais grupos temáticos e como foram desenvolvidos os estudos sobre gênero nesse ano, com a finalidade de solicitar ao sistema a recuperação de estudos com todas essas terminologias. Foram recuperados apenas três artigos.
Quadro 1 – Trabalhos recuperados do ENANCIB 2019 com o termo gênero
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Título |
Autoras |
Universidades |
Linha de pesquisa |
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Mulher e gênero na produção científica da Ciência da Informação |
Araújo, Claudialyne da Silva Côrtes, Gisele Rocha |
Universidade Federal da Paraíba |
GT1 – Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação |
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Primeiras impressões da pesquisa autodenominada “Estudos de Gênero” Em uma base de dados internacional e multidisciplinar |
Hoppen, Natascha Helena Franz Vanz, Samile Andréa de Souza |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul |
GT7 – Produção e Comunicação da Informação em Ciência, Tecnologia & Inovação |
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Memória e a importância das políticas públicas de gênero no enfrentamento da violência contra mulheres. |
Nascimento, Maria Ivonete Gomes do Oliveira, Eliane Braga |
Universidade de Brasília |
GT10 - Informação e Memória |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.
A partir dos resultados apresentados, confirma-se a ausência de interesse dos pesquisadores(as) da Ciência da Informação em discutir a temática gênero como observado por Bufrem e Nascimento (2012), ratificando assim a necessidade dos programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação desenvolverem formas de incentivo nas produções relacionadas à gênero, informação e sociedade.
A fim de investigar os efeitos da crise sanitária da Covid-19 nas questões de gênero, recuperou-se a quantidade de publicações de autoria feminina e masculina nos períodos científicos da região do Nordeste no ano de 2019 e 2020. No total, foram analisados 16 periódicos científicos no período de coleta e identificados os estados os quais estes estão situados, conforme quadro abaixo:
Quadro 2 – Periódicos recuperados.
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Periódicos |
Estado |
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Archeion Online |
Paraíba |
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BiblioCanto |
Rio Grande do Norte |
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Biblionline |
Paraíba |
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Ciência da Informação em aberto (CIAB) |
Alagoas |
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Ciência da Informação em Revista |
Pernambuco |
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Informação & Sociedade: Estudos |
Paraíba |
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Informação e Tecnologia |
Ceará |
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Informação em Pauta |
Paraíba |
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IRIS - Informação, Memória e Tecnologia |
Pernambuco |
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Perspectivas em Gestão & Conhecimento |
Paraíba |
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Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia |
Paraíba |
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Revista Cajueiro |
Rio Grande do Norte |
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Revista Eletrônica Internacional de economia, política da informação, da comunicação e da cultura |
Bahia |
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Revista Folha de Rosto |
Maranhão |
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Revista Informação na sociedade contemporânea |
Sergipe |
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Revista Ponto de Acesso |
Sergipe |
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Revista Bibliomar |
Ceará |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.
No primeiro momento, foram verificados o total de produções de autoras e autores que produziram nos anos de análise, sendo identificada a seguinte realidade:
Gráfico 1 – Total de publicações de autoria
feminina e masculina no ano de 2019 e 2020.
Fonte: Dados dos autores, 2021.
Os resultados do levantamento deixam em evidência a desigualdade de gênero na pandemia, no ano de 2019 foram recuperados 57 artigos de autoria masculina, em 2020 houve um aumento de 3 artigos, enquanto que as mulheres que produziram 72 artigos, no ano de 2020 houve uma queda de 3 artigos. Isso pode ser justificado pela dificuldade do trabalho de maneira remota, aliada às demandas - ainda majoritariamente atribuídas às mulheres- como cuidar da casa e dos(as) filhos(as). Pesquisa desenvolvida pelo grupo Gênero e Número e SOF Sempreviva Organização Feminista (2021), mostrou que entre os(as) pós-doutorandos(as), 13,9% das mulheres e 27,9% dos homens afirmam estar conseguindo trabalhar remotamente. A desigualdade fica clara também ao mostrar que entre os(as) docentes, somente 8% entre as mulheres consegue produzir remotamente, enquanto os homens 18,3%. Repetindo no cenário da Pós-Graduação com 27% das mulheres e 36,4% dos homens conseguindo trabalhar no formato home office. Esses resultados mostram que as formas de avaliação de produção ainda não se preocupam, de fato, com a dimensão da carga mental ainda maior para mulheres nesse período. Os dados mostram a necessidade de introduzir questões ainda invisibilizadas no campo da Ciência da Informação.
No tocante às produções em coautoria, evidenciou-se o seguinte cenário:
Gráfico 2. Relação de coautorias em 2019 e 2020

Fonte: Dados dos autores
Em relação às coautorias, a dinâmica percebida revela o aumento de produção em coautoria entre mulheres, sendo 98 em 2019 e 128 em 2020. Já os homens produziram 40 artigos em 2019 e 39 em 2020. Indica que a colaboração científica foi uma estratégia de trabalho adotada pelas pesquisadoras como forma de viabilizar, facilitar e potencializar as produções científicas na Ciência da Informação, pois no cenário atual, o compartilhamento de informações, a junção de competências e a união de esforços das pesquisadoras na busca de metas em comum impulsionam a produção de conhecimento, com economia de tempo e recursos (Balancieri et al., 2005).
5 CONCLUSÃO
A pandemia provocada pelo novo coronavírus além de impactar as relações humanas, também têm afetado a produção científica ao redor do mundo na medida em que forçou o isolamento social, sendo que as mulheres foram as mais afetadas, visto que, elas ainda estão culturalmente/tradicionalmente mais envolvidas com atividades domésticas.
Como observado, no campo da Ciência da Informação, a produção relacionada à temática gênero ainda é tímida, sendo recuperados poucos trabalhos nos anais do ENANCIB do ano de 2019. Em relação à produção científica de homens e mulheres da área, nos periódicos científicos da região nordeste, percebeu-se que no ano de 2020 houve uma redução da produção individual delas e um aumento nas produções em co-autoria, seja entre mulheres, seja entre homens e mulheres. A partir disso, infere-se que as mulheres têm buscado desenvolver redes de parcerias para manterem-se produzindo, tendo em vista que, as obrigações laborais domésticas (cuidar de filhos(as), do lar e outros dependentes) requerem maior tempo e atenção.
Portanto, é necessário repensar nas formas de avaliação de produtividade acadêmica, evidenciando, por exemplo, questões vivenciadas por mulheres que influenciam diretamente no campo científico.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro por meio da bolsa de doutorado, que foi fundamental para a realização desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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coletiva. Psicologia & amp; Sociedade, v. 20, n. 1, p. 70-79, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/cfC8WZVP68cGFdkH7KRHPVC/abstract/?lang=pt. Acesso em: 17 maio 2024.
BALANCIERI, R. et al. A análise de redes de colaboração científica sob as novas tecnologias de informação e comunicação: um estudo na plataforma lattes. Ciência da Informação, v. 34, n. 1, 2005. Disponível em: https://brapci.inf.br/v/21053. Acesso em: 23 maio 2024.
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BUFREM, L. S.; NASCIMENTO, B. S. A questão do gênero na literatura em Ciência da Informação. Em questão, v. 18, n. 3, p. 199-214, 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/33285. Acesso em: 23 maio 2024.
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução
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CASTELLS, M.; CARDOSO, G. (org.). A Sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Conferência. Belém (Por): Imprensa Nacional, 2005. Disponível em: https://diegodelpasso.com/wp-content/uploads/2016/05/manuel-castells-a-sociedade-em-rede.pdf. Acesso em: 15 maio 2021.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto.
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ESPÍRITO SANTO, P. Os estudos de gênero na Ciência da Informação. Em Questão, v. 14, n. 2, p. 317–332, 2009. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/6389. Acesso em: 25 jun. 2024.
LETA J. As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estudos avançados, v. 17, n. 49, p. 271-284, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/F8MbrypqGsJxTzs6msYFp9m/. Acesso em: 26 maio 2024.
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NEUMAN, W. L. Social research methods: qualitative and quantitative
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[1] Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCI/UFPE). Mestra em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFPB), Especialista em Ciência de Dados e Big Data Analytics pela Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo (FAMEESP).
[2] Doutor em Ciência da Informação - Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (2021-2024). Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Alagoas- UFAL (2019-2021). Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL (2013-2016). Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL (2017-2021).
[3] Doutorando em Ciência da Informação - PPGCI/UFPB. Mestre em Ciência da Informação - PPGCI/UFAL. Especialista em Gestão de Documentos e Informação pela Faculdade Unyleya (2017) e graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Alagoas (2009). Atualmente é Biblioteconomista do Ministério Público do Estado de Alagoas.