Geografia, (des)interesse e (des)conhecimento em períodos de ultradireita

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21728/logeion.2022v9nesp.p277-291

Palavras-chave:

Geografia escolar, Desenvolvimento regional., Emancipação.

Resumo

A Geografia se institucionalizou na segunda metade do século XIX, na Alemanha e na França, como uma ciência empírico-analítica. Entre 1950 e 1970 se constituiu como uma ciência histórico-hermeneútica e, em seguida, como uma ciência crítica. No Brasil, o saber geográfico atravessou diferentes períodos históricos marcados pela ultradireita. Diante disso, procura-se interrogar em que medida, com o retorno ao ultraconservadorismo pós-Golpe de Estado de 2015 no Brasil, o interesse emacipatório que orienta as ações na área da Geografia acadêmica e escolar sofre um desinteresse político em detrimento do interesse técnico e atrelado aos seus saberes? Neste contexto, objetiva-se analisar a relação entre interesse e conhecimento da ciência geográfica em períodos de conservadorismo e antidemocracia.Trata-se de pesquisa bibliográfica, considerando-se a periodização das escolas de pensamento geográfico positivista, funcionalista e crítico-marxista. Foca-se nas aproximações entre o papel da Geografia escolar e o desenvolvimento do campo acadêmico da Geografia. Como resultados, verifica-se quanto às duas primeiras escolas de pensamento uma apropriação política do saber espacial mediante interesses técnico para a construção da identidade nacional, da ideologia patriótica e do desenvolvimentismo, no contexto de governos de ultra-direita ditatoriais. Conclui-se, porém, que com o governo de  extremadireita eleito democraticamente mediante em 2018, verifica-se um desinteresse pelo conhecimento geográfico academico, isto é do territorio nacional, e um deficit na perspectiva crítica do ensino nas escolas pela via indultora da BNCC.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do autor

Rosalvo Nobre Carneiro, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Doutor em Geografia

Professor Adjunto do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Ensino

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Referências

ALBUQUERQUE. Maria Adailza Martins de. Século de prática de ensino de geografia permanências e mudanças. In: REGO, R; CASTROGIOVANNI, A, C; KAERCHER, N, A (Org). Geografia: práticas pedagógicas para o ensino médio: volume 2. Porto Alegre, Penso, 2011, p. 13-30.

BELTRAME, Matheus Maria. Concepção de emancipação em Jürgen Habermas. Problemata: R. Intern. Fil. v. 9. n. 1, p. 68-95, 2019. doi: http://dx.doi.org/10.7443/problemata.v9i1.38729. Acesso em: 13 set. 2022.

BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. 2. Reimp. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995.

CARNEIRO, Rosalvo Nobre. A produção social pública dos lugares numa perspectiva comunicativa como contraponto à produção social privada. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE AS GEOGRAFIAS DA VIOLÊNCIA E DO MEDO, 1., 2007, Recife. Anais [...]. Recife: UFPE. 2007. 1 CD-ROM.

CARNEIRO, Rosalvo Nobre. A natureza do espaço numa perspectiva comunicativa ou pública. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 29, n. 1, p. 33-46, jan. / jun. 2009. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/bgg/article/view/4959. Acesso em: 20 jul. 2022.

CARNEIRO, Rosalvo Nobre. Prolegômenos a compreensão do espaço como mundo da vida e mundo do sistema. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPEGE: GEOGRAFIA, CIÊNCIA E POLÍTICA: DO PENSAMENTO À AÇÃO DA AÇÃO AO PENSAMENTO, 12, 2017, Porto Alegre. Anais... Dourados: UFGD Editora, 2017. v. 1. p. 5404-5415.

CARNEIRO, Rosalvo Nobre. Espaço como mundo da vida e a teoria do agir comunicativo. Revista da ANPEGE, [S.l.], v. 16, n. 31, p. 44-58, mar. 2021. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/11445. Acesso em: 14 mar. 2022.

CARNEIRO, Rosalvo Nobre. Educação geográfica do agir comunicativo: Geografia escolar do mundo da vida. Curitiba: Appris, 2022.

CAVALCANTI, Lana de Souza. A problemática do ensino de geografia veiculada nos encontros nacionais da AGB (1976-1986). Boletim Goiano de Geografia, v. 15, n. 1, p. 35-55, jan./dez., 1995. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/bgg/article/view/4326. Acesso em: 08/10/2018.

FREITAG, Bárbara. Dialogando com Jurgen Habermas. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2005.

GUELKE, Leonard. Problemas da explicação cientifica na geografia. Geografia, Rio Claro, SP, v. 4, n. 8, p. 1-22, 1979. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/14768. Acesso em: 14 out. 2022.

HABERMAS, Jurgen. Conhecimento e interesse. Tradução de: José N. Heck. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

HABERMAS, Jurgen. Conhecimento e interesse. In: HABERMAS, Jurgen. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa: Edições 70, 2009. p. 129-147.

HORTA, Célio Augusto da Cunha. O neopositivismo regional na Geografia Humana e os (des)interesses pela macroescala. GEOgraphia, v. 18, n. 37, p. 80-94, 15 set. 2016. Disponível em: https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13759. Acesso em: 14 out. 2022.

KIMURA, Szoko. Território de luzes e sombras: a proposta de ensino de geografia da CENP. Terra Livre, São Paulo/SP, ano. 25, v.1, n. 32, p. 17-30, Jan-Jun/2009. Disponível em: https://publicacoes.agb.org.br/index.php/terralivre/article/view/276. Acesso em: 21 out. 2022.

LEVY, Wilson; MASSONETTO, Luis Fernando. Habermas, 90 anos: a relação entre conhecimen¬to e interesse e a atualidade da teoria crítica. Dissertatio - Volume Suplementar 9, p. 75-78, set., 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/dissertatio/article/view/19568. Acesso em: 13 set. 2022.

MAZZOTTI, T. B. Retórica, a Ciência da Educação. Educação em Foco, [S. l.], v. 20, n. 1, p. 83-112, 2016. DOI: 10.22195/2447-524620152019626. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/edufoco/article/view/19626. Acesso em: 17 out. 2022.

MEDEIROS, Arilene Maria Soares de; MARQUES, Maria Auxiliadora de Resende Braga. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.5, n.1, p.1-24, dez. 2003. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/627/642. Acesso em: 12 set. 2022.

MOMBEIG, Pierre. A geografia no ensino secundário. Boletim geográfico, v. 13, n. 127, p. 423-432, jul./ago., 1958. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/19/bg_1958_v16_n145_jul_ago.pdf. Acesso em: 08 out. 2022.

MOREIRA, Igor Antonio Gomes. A geografia como ciência humana e de síntese e as implicações no ensino secundário. RBG, ano 29, n. 218, p. 76-81, set./out., 1970. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/19/bg_1970_v29_n218_set_out.pdf. Acesso em: 08 out. 2022.

OLIVEIRA, Clarice Gonçalves Souza de. A geografia como disciplina: trajetória nos currículos escolares do Brasil e o seu ensino como questões centrais da discussão. In: TRINDADE, Gilmar Alves; CHIAPETTI, Rita Jaqueline Nogueira (org.). Discutindo Geografia: doze razões para si (re)pensar a formação do professor. Ilhéus: Editus, 2007. p. 17-61.

PEDROSO, Tabajara. A geografia no curso secundário. Boletim geográfico, v. 25, n. 194, p. 475-496, set./out., 1966. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/19/bg_1967_v26_n200_set_out.pdf. Acesso em: 08 out. 2022.

PELUSO, Marília Luiza. O desafio de compreender a natureza na obra de Milton Santos. Revista Eletrônica: Tempo - Técnica - Território, v.4, n.1, p. 22-31, 2013. DOI: https://doi.org/10.26512/ciga.v4i1.16317

PINZANI, Alessandro. Habermas. Porto Alegre: Artmed, 2009.

ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da. Geografia no currículo escolar brasileiro (1837-1942). Revista de educação, cultura e meio ambiente. v. II, n. 12, p. 1-12, dez. 1998. Disponível em: http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/12genyltonodilonregodarocha_geografianocurriculoescolar.pdf. Acesso em: 25/09/2018.

SANTOS, Juliana Silva dos. Licenciatura em estudos sociais e a geografia: política curricular de formação docente na paraíba durante o regime militar. João Pessoa. 2021. 129 f. Disertacao (Mestrado) - Programa de pós-graduação em Geografia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2021. Disponivel em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/23037. Acesso em: 13 out. 2022.

SANTOS, Lucíola Licínio C. P. História das Disciplinas Escolares: outras perspectivas de análise. Educação & Realidade, [S. l.], v. 20, n. 2, 1995. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71716. Acesso em: 13 set. 2022.

SANTOS, Milton. O trabalho do Geógrafo no terceiro mundo. São Paulo: Hucitec, 1978.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. 2. reimpr. são Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

SILVA, Adriana Brito da; BRITES, Cristina Maria; OLIVEIRA, Eliane de Cássia Rosa; BORRI, Giovanna Teixeira. A extrema-direita na atualidade. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 119, p. 407-445, jul./set. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/nTk6JtjrXGqcpGVcr8Rj4Wx/?lang=pt. Acesso em: 13 out. 2022.

SILVA, André; KRITSCH, Raquel. O papel da reconstrução na teoria crítico-normativa de Jürgen Habermas. BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, [S. l.], n. 85, p. 104–125, 2018. Disponível em: https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/446. Acesso em: 17 out. 2022.

VERDI, Elisa Favaro. Produção geográfica e ruptura crítica: a geografia uspiana entre 1964 e 1985. São Paulo. 2016. 261 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, São Paulo, 2016. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-08042016-123008/pt-br.php. Acesso em: 13 out. 2022.

VERDI, Elisa Favaro. Pensar radicalmente sob a repressão: a geografia crítica brasileira no contexto da ditadura civil-militar. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 22, n. 3, p. 539-558, dez. 2018. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/152423. Acesso em: 13 out. 2022.

VESENTINI, José William. Geografia crítica e ensino. In: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. (org.). Para onde vai o ensino de geografia? 5 ed. São Paulo: Contexto, 1988. p. 30-38.

VLACH, Vania Rubia Farias. Ideologia do nacionalismo patriótico. In: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. (org.). Para onde vai o ensino de geografia? 5 ed. São Paulo: Contexto, 1988. p. 39-46.

ZARUR, Jorge. A geografia no curso secundário. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 3, n.2, p. 227-266, abr./jun., 1941. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1941_v3_n2.pdf. Acesso em: 08 out. 2022.

Downloads

Publicado

15/12/2022

Como citar

CARNEIRO, R. N. Geografia, (des)interesse e (des)conhecimento em períodos de ultradireita. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, RJ, v. 9, p. 277–291, 2022. DOI: 10.21728/logeion.2022v9nesp.p277-291. Disponível em: https://revista.ibict.br/fiinf/article/view/6132. Acesso em: 27 abr. 2024.