ARTIGO
funcionamento 24/7 (Crary, 2016). No dizer de Franco Berardi (2024a), trata-se do
hipercapitalismo que se utiliza de semiocapital criando imediatamente mais uma fratura de
classes:
Este capitalismo de plataforma funciona em dois níveis: uma minoria da força de
trabalho dedica-se à concepção e comercialização de produtos imateriais. Eles
ganham altos salários e se identificam com a empresa e com os valores liberais. Por
outro lado, um grande número de trabalhadores geograficamente dispersos dedica-se
a tarefas de manutenção, controle, etiquetagem, limpeza, etc. Trabalham online por
salários baixíssimos e não possuem nenhum tipo de representação sindical ou
política. No mínimo, não podem sequer ser considerados trabalhadores, porque estas
formas de exploração não são de forma alguma reconhecidas e os seus escassos
salários são pagos de forma invisível, através da rede celular. No entanto, as
condições de trabalho são geralmente brutais, sem horários ou direitos de qualquer
tipo (Berardi, 2024a)
Como sabido, é comum que essas plataformas ofereçam seus serviços de forma
supostamente gratuita, pois seu interesse é justamente obter informações de “metadados”, isto
é, informações sobre informações, de modo a traçar um quadro mais fidedigno dos usuários
(perfil), sobretudo de seus hábitos de consumo. São exatamente esses perfis as verdadeiras
mercadorias transacionadas pelas corporações de plataforma a outras empresas que adquirem
informações valiosas sobre as tendências de consumo. Assim, o capitalismo nesta nova fase
consegue segmentar o mercado a nível individualizado, criando a imagem de um
“consumidor-indivíduo” e não mais de um “consumidor-massa”. Essa individualização
extrema dos consumidores é uma das marcas distintivas do neoliberalismo. Com isso nasce a
assim chamada “economia da atenção”: o que as plataformas desejam é manter conectados
full time os usuários, pois elas transformaram em mercadoria o espaço cibernético
(informacional) para atrair, via algoritmos, a atenção (eyeballs) dos usuários-consumidores
individualizados.
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Mas as plataformas não se restringem àquelas de mídias sociais, ou aos buscadores
(como google), mas existem aquelas que intermediam a busca por transporte (Uber, 99), as
entregas (Ifood, Rappi), as de vendas de ingresso (ingresso.com). Todos estes são exemplos
de plataformas que “parasitam” a circulação econômica de mercadorias e serviços. E há
também as plataformas de transmissão (streaming) de músicas ou filmes (Spotify, Netflix,
Amazon TV, Apple TV, etc.) que transmitem a usuários ou residências conteúdos estéticos; há
as plataformas que fornecem videoconferência (Teams, Zoom, Google Meeting), tendo um
limite gratuito e um uso pago; plataformas que proporcionam encontros amorosos e/ou
sexuais (Tinder, Bubble); e plataformas que fornecem serviços de documentos, espaços de
armazenamento e ferramentas de escritório (Onedrive, Google documents). E finalmente, um
dos ramos mais intensivos de plataformização é o de moedas digitais (bitcoins), que a partir
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-19, e-7380, nov. 2024.