ARTIGO
o conceito de diferença como propriedade elementar da informação, cristalizada na sua
célebre definição de informação como a diferença que produz diferença.
Mas o que é uma diferença? Uma diferença é um conceito muito peculiar e obscuro.
Certamente não é uma coisa ou um evento. Este pedaço de papel é diferente deste
atril de madeira. Há muitas diferenças entre eles – de cor, textura, forma, etc. [...]
Obviamente, a diferença entre o papel e a madeira não está no papel; e obviamente
não está na madeira; obviamente não está no espaço entre eles, e obviamente não
está no tempo entre eles. (A diferença que ocorre ao longo do tempo é o que
chamamos de “mudança”) (Bateson, 1987, p. 458, tradução nossa).
Se por um lado a aplicabilidade da teoria de Shannon (1975) fez parecer que a
informação podia ser considerada como alguma quantidade ou qualidade uniforme de
variedade em qualquer que fosse o seu domínio, por outro, a informação de Bateson (1987)
teria tudo a ver com o significado, estando, portanto, intimamente associada à dinâmica
característica da matéria informativa. Desse modo, o autor revelava uma propriedade
elementar do fenômeno informativo que é a relatividade característica dos efeitos de sua
transmissão. Com isso, a informação não é uma invariante, como pode nos fazer supor o
formalismo da teoria clássica, ela é totalmente dependente dos quadros de referência,
contextos e ambientes nos quais é utilizada e é a partir do contato com esses elementos que
adquire sentido. Referindo-se a dinâmica da informação na produção de sentidos Bateson
(1987) pontuou:
6
Sugiro a você, agora, que a palavra “ideia”, em seu sentido mais elementar, é
sinônimo de ‘diferença’. Kant, na Crítica do Juízo - se eu o entendo corretamente –
afirma que o ato estético mais elementar é a seleção de um fato. Ele argumenta que
em um pedaço de giz há um número infinito de fatos potenciais. O pedaço de giz,
nunca pode entrar em comunicação ou processo mental por causa dessa infinitude.
Os receptores sensoriais não podem aceitá-lo, eles filtram. O que eles fazem é
selecionar certos fatos fora do pedaço de giz, que então se tornam, em terminologia
moderna, informação (Bateson, 1987, p. 459, tradução nossa).
Sobre o particular processo infocomunicacional apresentando por Bateson, Anthony
Wilden, outro importante teórico associado à estirpe da 2ª geração cibernética, apontou em
System and Structure ([1972] 1980) que essa lógica de compreensão comunicativa é
eminentemente “qualitativa”, ou seja, a razão de sua existência está na problematização do
valor do significado, e desse modo se ocupa de questões filosóficas, históricas, éticas, sócio-
econômicas e ideológicas, próprias da ordem social humana, questões essas, que a lógica
métrica ou quantitativa de Shannon não poderia abranger, justamente por se ocupar de uma
forma limitada de comunicação. Wilden (1980, p. 233) sublinhou que, ao passo que a teoria
“quantitativa” da informação é uma medida de padrão, complexidade ou organização - o que
“a rigor, é uma medida do grau de liberdade (semiótica), em uma dada situação, para escolher
entre os sinais, mensagens ou padrões disponíveis a serem transmitidos (o repertório)” -, o
LOGEION: Filosofia da informação, Rio de Janeiro, v. 11, ed. especial, p. 1-20, e-7389, nov. 2024.