CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA
PARA A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
um panorama dos principais autores e ideias
Marcílio Bezerra Cruz[1]
Universidade Federal de Pernambuco
marcilio.cruz@ufpe.br
Jhoicykelly Roberta Pessoa Silva Cruz[2]
Universidade Federal de Pernambuco
jhoicykelly.pessoa@ufpe.br
Májory Karoline Fernandes de Oliveira Miranda[3]
Universidade Federal de Pernambuco
majory.oliv@ufpe.br
Hélio Márcio Pajeú[4]
Universidade Federal de Pernambuco
helio.pajeu@ufpe.br
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Resumo
A Filosofia da Ciência é um campo de investigação que se dedica a compreender a natureza, os métodos e os fundamentos da práxis científica. Aplicada a Ciência da Informação, suas reflexões podem contribuir para o esclarecimento das questões que permeiam as bases epistemológicas da área, bem como auxiliar na superação dos seus respectivos impasses. Diante disso, o artigo tem como objetivo trazer um panorama dos principais autores e concepções da Filosofia da Ciência, destacando suas possíveis contribuições para a Ciência da Informação. Para isso, foi realizado um levantamento bibliográfico e sua posterior análise hermenêutica, em que foram selecionados escolas e seus principais representantes.Parte da obra de Immanuel Kant por ser precursora da Filosofia da Ciência; destaca as principais ideias dos positivistas que oferecem um exame científico dos fenômenos humanos e sociais;destaca como Karl Popper e Thomas Kuhn oferecem um novo olhar para os problemas científicos; e, finalmente, apresenta o pluralismo epistemológico de Paul Feyerabend como uma perspectiva científica que pode contribuir para a multiplicidade de teorias no interior da prática científica.Metodologicamente, a pesquisa se configura de natureza teórica, exploratória e bibliográfica, e considera que as ideias dos filósofos da ciência podem promover importantes reflexões a respeito da natureza da informação e, em especial, do seu caráter interdisciplinar. Espera-se que o trabalho seja o ponto de partida para novas interfaces entre os campos da Filosofia da Ciência e a Ciência da Informação, estabelecendoum novo campo de investigação acerca do fenômeno informacional: a Filosofia da Ciência da Informação.
Palavras-chave: filosofia da ciência; positivismo; Karl Popper; Thomas Kuhn; Paul Feyerabend.
CONTRIBUTIONS OF THE PHILOSOPHY OF SCIENCE
FOR INFORMATION SCIENCE
an overview ofthemainauthorsandideas
Abstract
The Philosophy of Science is a field of research dedicated to understanding nature, methods and foundations of scientific practice. Applied to Information Science, its reflections can contribute to clarifying the issues that permeate the epistemological bases of the area, as well as helping to overcome its respective impasses. In view of this, the article aims to provide an overview of the main authors and concepts of the Philosophy of Science, highlighting their possible contributions to Information Science. To this end, a bibliographical survey and subsequent hermeneutic analysis were carried out, in which schools and their main representatives were selected. It starts with the work of Immanuel Kant as a precursor of the Philosophy of Science; it highlights the main ideas of the positivists who offer a scientific examination of human and social phenomena; it highlights how Karl Popper and Thomas Kuhn offer a new look at scientific problems; and, finally, it presents Paul Feyerabend's epistemological pluralism as a scientific perspective that can contribute to the multiplicity of theories within scientific practice. Methodologically, the research is configured as theoretical, exploratory and bibliographical in nature, and considers that the ideas of philosophers of science can promote important reflections on the nature of information, and particularly its interdisciplinary character. It is expected that the work will be the starting point for new interfaces between the fields of Philosophy of Science and Information Science, establishing a new field of investigation into the informational phenomenon: the Philosophy of Information Science.
Keywords: philosophy of science; positivism; Karl Popper; Thomas Kuhn; Paul Feyerabend.
APORTES DE LA FILOSOFÍA DE LA CIENCIA
PARA CIENCIA DE LA INFORMACIÓN
una visión general de losprincipales autores e ideas
Resumen
La Filosofía de laCiencia es un campo de investigación dedicado a comprender la naturaleza, los métodos y los fundamentos de la práctica científica. Aplicadas a la Ciencia de la Información, sus reflexiones pueden contribuir a clarificar las cuestiones que permean las bases epistemológicas del área, así como ayudar a superar sus respectivos impasses. Por tanto, el artículo pretende ofrecer una visión general de los principales autores y conceptos de la Filosofía de la Ciencia, destacando sus posibles aportaciones a la Ciencia de la Información. Para ello se realizó un estudio bibliográfico y posterior análisis hermenéutico, en el que se seleccionaron las escuelas y sus principales representantes. Parte de la obra de Immanuel Kant como precursor de la Filosofía de la Ciencia; destaca las ideas principales de los positivistas que ofrecen un examen científico de los fenómenos humanos y sociales; destaca cómo Karl Popper y Thomas Kuhn ofrecen una nueva perspectiva sobre los problemas científicos; y, finalmente, presenta el pluralismo epistemológico de Paul Feyerabend como una perspectiva científica que puede contribuir a la multiplicidad de teorías dentro de la práctica científica. Metodológicamente, la investigación se configura como de carácter teórico, exploratorio y bibliográfico, y considera que las ideas de los filósofos de la ciencia pueden promover importantes reflexiones respecto a la naturaleza de la información y, en particular, su carácter interdisciplinario. Se espera que el trabajo sea el punto de partida para nuevas interfaces entre los campos de la Filosofía de la Ciencia y la Ciencia de la Información, estableciendo un nuevo campo de investigación en torno al fenómeno informacional: la Filosofía de la Ciencia de la Información.
Palabras clave: filosofía de la ciencia; positivismo; Karl Popper; Thomas Kuhn; Paul Feyerabend.
1 INTRODUÇÃO
A Filosofia da Ciência é um campo de investigação que se dedica a compreender a natureza, os métodos e os fundamentos da práxis científica. Ela levanta uma série de questionamentos a respeito das teorias e métodos que fundamentam as bases epistemológicas das ciências, contribuindo para a compreensão e superação dos seus respectivos impasses (Omnès, 1996; Terra; Terra 2023). Ademais, a Filosofia da Ciência também fornece uma perspectiva crítica sobre as implicações das atividades científicas na sociedade, ressaltando o seu valor em meio aos obscurantismos e engessamentos causados pelos discursos que advém do senso-comum e que oferecem uma visão parcial ou até equivocada dos fenômenos naturais, humanos e sociais (Alves, 1990; Firestein, 2019).
Sua gênese remonta aos primórdios da Filosofia Antiga, destacando-se em meio às questões ontológicas e epistemológicas que são tratadas nos diálogos platônicos e nos diálogos aristotélicos, tais como o Teeteto e o Organum. Apesar das grandes contribuições destes filósofos para o pensamento germinal acerca da episteme, costuma-se, no entanto, atribuir a Modernidade e, em especial, a teoria do conhecimento de Immanuel Kant, o verdadeiro ponto de partida para o nascimento da Filosofia da Ciência, uma vez que o próprio pensamento científico na Antiguidade ainda estava profundamente atrelado às concepções metafísicas e religiosas (Omnès, 1996; Terra; Terra, 2023).
Apenas quando Kant percebeu a necessidade de estabelecer critérios para demarcar a práxis científica, no intuito de auxiliar a Metafísica na consecução de suas atividades, é que os filósofos passaram, de fato, a se concentrar na reflexão a respeito da natureza e dos métodos da ciência. Diante dos novos contornos cientificistas que imperavam na Modernidade, houve até quem defendesse que essa seria a principal tarefa da filosofia, deixando de lado suas pretensões ontológicas de compreender a essência das coisas ou oferecer diretrizes universais para as ações humanas diante das suas relações interpessoais e intergrupais. A obra dos positivistas lógicos do Círculo de Viena, nesse sentido, se concentra justamente nos esforços de valor às contribuições da Filosofia da Ciência (Quelbani, 2009).
Desde Kant, portanto, a Filosofia da Ciência adquiriu novos contornos, somando ideias variadas, que podem, de fato, ampliar as atividades dos novos campos de atuação que foram gestados na Pós-Modernidade, tais como a Ciência da Informação. Embora os problemas que forçaram o seu nascimento tiveram origem desde a Revolução Científica, os estudiosos tendem atribuir seu verdadeiro surgimento a partir do artigo de Vannevar Bush, Como Podemos Pensar, de 1945, que apontou, dentre outros problemas relacionados a ciência e a tecnologia do seu tempo, o crescimento exponencial do conhecimento e a dificuldade de disseminar toda essa informação. Ao problema da information explosion, o autor propôs o uso da própria tecnologia para elaborar mecanismos capazes de associar ideias e, de maneira artificial, recuperar informações quase que de modo instantâneo (Bush, 1945).
Desta forma, por meio da elaboração de instituições voltadas ao uso prático da informação, tornou-se necessário o desenvolvimento de uma ciência que buscaria estudar e potencializar tal fenômeno. Diversos cientistas, em campos distintos do conhecimento, voltaram-se para áreas mais antigas de organização do conhecimento e, com o auxílio das novas tecnologias, se autoproclamaram ‘cientistas da informação’ (Araújo, 2018). Para Harold Borko, um dos principais precursores da Ciência da Informação, ela pode ser definida como “uma área interdisciplinar que investiga as propriedades e os comportamentos da informação, bem como as forças que governam os seus fluxos e as principais técnicas utilizadas para o seu processamento” (Borko, 1968, p. 3).
Em seus sessenta anos de existência, a Ciência da Informação passou por diversas transformações que modificaram e acrescentaram outras formas de vê-la e defini-la. O contexto próprio de cada país, bem como as múltiplas especificidades criadas por conta da variedade de objetos tecnológicos, surgidos nas últimas décadas, exigiu que a área se tornasse multifacetada e dinâmica, promovendo o surgimento de diversos segmentos, teorias e métodos. Além disso, a apropriação contínua e crescente dos conceitos elaborados por outras áreas do conhecimento, fez com que ela se distanciasse de um corpus teórico próprio que garantisse sua independência e, principalmente, sua consolidação (Cardoso, 1996).
O seu caráter interdisciplinar, apesar de inviabilizar demarcações teóricas, promove a criação e o uso constante de novas proposições. Ao contrário da marca determinista e linear própria do espírito moderno, o nosso tempo lida com casualidades e ambivalências gestadas em um mundo pós-guerra, randômico, paradoxal e profundamente cético quanto ao alcance de verdades universais. A Ciência da Informação, portanto, por ser um saber oriundo desses novos tempos, angariou um número destacado de conceitos, teorias e definições que, conforme as inúmeras transformações científicas e tecnológicas, foram se tornando imprecisas e até, por vezes, obsoletas (Rabelo, 2008).
No Brasil, a história da Ciência da Informação é ainda mais recente, encontrando suas primeiras aparições em Teses e Dissertações das décadas de 1970 e 1980(Souza; Stumpf, 2009). Esses trabalhos, ao discutirem técnicas de organização e disseminação da informação utilizadas pelos profissionais da Biblioteconomia e áreas correlatas, apontaram a importância de tratar temas relacionados ao uso e fluxo da informação. Desde então, inúmeros programas de pesquisa relacionados a informação foram se constituindo a partir dos departamentos acadêmicos que antes se dedicavam exclusivamente às áreas de organização da informação. A Ciência da Informação tornou-se, pouco a pouco, a ‘ciência guarda-chuva’ da Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, que as engloba e unifica, fornecendo a base teórica para o questionamento e a ampliação das técnicas utilizadas por essas respectivas áreas (Boeres et al., 2014).
Todavia, mesmo acerca desses pontos não há um consenso. Há estudiosos que não aceitam esse estatuto ‘diferenciado’ e ‘privilegiado’ da Ciência da Informação; ou que a colocam como uma área correlata a Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, sem fazer distinções qualitativas (Silva; Freire, 2012, p. 18-19). Outros, desconfiam do seu caráter interdisciplinar, pois não notam uma troca efetiva entre os componentes, mas apenas o uso de conceitos e teorias externos por parte da Ciência da Informação (Paim et al., 2001, p. 21).
Essas e outras questões, que são de natureza epistemológica, podem ser respondidas à luz da Filosofia da Ciência e dos principais critérios filosóficos estabelecidos sobre a prática científica. Muitas áreas como a Física, a Astronomia e a Psicologia, desfrutaram da análise promovida pelos filósofos da ciência, respondendo questionamentos similares sobre a natureza do seu objeto de estudo e os métodos que são utilizados para examiná-los. Assim, o presente artigo tem como objetivo trazer um panorama dos principais autores e concepções da Filosofia da Ciência, destacando suas possíveis contribuições para a Ciência da Informação.
Para isso, se realizou um levantamento bibliográfico e que, após a análise hermenêutica dos textos, foram selecionadas algumas escolas e seus principais representantes. O texto parte da obra de Immanuel Kant por ser precursora da Filosofia da Ciência; destaca as principais ideias dos positivistas que oferecem um exame científico dos fenômenos humanos e sociais; destaca como Karl Popper e Thomas Kuhn oferecem um novo olhar para os problemas científicos; e, finalmente, apresenta o pluralismo epistemológico de Paul Feyerabend como uma perspectiva científica que pode contribuir para a multiplicidade de teorias no interior da prática científica.
A pesquisa se configura de natureza teórica e com abordagem qualitativa, uma vez que promove um estudo dos principais autores e ideias que fundamentam a Filosofia da Ciência. Em relação aos fins, é um trabalho exploratório, por ter a pretensão de aprofundar às discussões que tratam da práxis científica. Já em relação aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, visto que parte do levantamento bibliográfico e da revisão dos textos fundamentais acerca da temática examinada.
Os textos utilizados para a revisão bibliográfica podem ser classificados em dois grupos fundamentais: a) manuais e obras generalistas que tratam da História da Filosofia e da Filosofia da Ciência; e b) obras específicas de alguns filósofos da ciência. Para leitura e compreensão dos textos, foi utilizado o método hermenêutico que, dentre outras importantes características, pressupõe uma análise imanente dos pontos discursivos da obra, no intuito de compreender, a partir dos principais termos e conceitos, o desenvolvimento das ideias do(s) autor(es) (Gadamer, 2008; Schleiermacher, 2015).
A partir da leitura do primeiro grupo foi possível concluir as escolas e autores mais pertinentes; enquanto a leitura do segundo, trouxe uma maior verticalização das ideias destes respectivos autores. A lista dos textos utilizados na análise hermenêutica, organizada a partir dos dois grupos supramencionados e disposta em ordem alfabética, se encontra no quadro a seguir:
Quadro 1 – Lista de textos utilizados para revisão bibliográfica
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Manuais e obras generalistas |
Obras específicas |
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ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras.13ª ed. São Paulo: editora brasiliense, 1990. AYER, A. J. El Positivismo Lógico. Ciudaddel México: Fondo de Cultura Económica, 2020. CUPANI, A. Sobre a Ciência: Estudos de Filosofia da Ciência. Santa Catarina: Editora UFSC, 2018. GREGO, J.; SOSA, E. Compêndio de Epistemologia. Trad. de Alessandra Fernandes e Rogério Bettoni. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012. FIRESTEIN, S. Ignorância: como ela impulsiona a ciência. Trad. de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. FREIRE-MAIA, N. A Ciência por Dentro. 8ª ed. São Paulo: Editora Vozes, 2008. NOUVEL, P. Filosofia das Ciências. Trad. de Vanina Carrara Sigrist. São Paulo: Papirus, 2022. OMNÈS, R. Filosofia da Ciência Contemporânea. Trad. de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Editora UNESP, 1996. REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: do humanismo a Kant. 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2007. Vol II (Coleção Filosofia). REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: do Romantismo até nossos dias. 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2007. Vol III (Coleção Filosófica). ROVIGHI, S. V. História da Filosofia Moderna: da Revolução Científica a Hegel. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. ROVIGHI, S. V. História da Filosofia Contemporânea: do século XIX à neoescolástica. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011. TERRA, W. R.; TERRA, R. R. Filosofia da Ciência: fundamentos históricos, metodológicos, cognitivos e institucionais. São Paulo: Contexto, 2003.
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CARNAP, R.; HAHN, H.; NEURATH, O. A Concepção Cientifica Do Mundo – O Círculo De Viena. Trad. do panfleto original publicado em 1929 por Fernando Pio de Almeida Fleck. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, n. 10, p. 5-20, 1986. COMTE, A. Discurso sobre o Espírito Positivo: ordem e progresso. Trad. de Walter Solom. São Paulo: Edipro, 2016. COMTE, A. Seleção de obras. Sel. de textos de José Arthur Giannotti; trad. de José Arthur Giannotti e Miguel Lemos. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (Col. Os Pensadores). DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Abril, 1978. FEYERABEND, P. K. A Ciência em uma sociedade livre. São Paulo: Editora UNESP, 2011. FEYERABEND, P. K. Adeus à razão. Trad. de Vera Joscelyne. São Paulo: Unesp, 2010. FEYERABEND, P. K. Contra o método. 2ª. edição. Trad. de Cezar Augusto Mortari. São Paulo: Editora Unesp, 2011. KANT, I. Crítica da Razão Pura. Trad. de Fernando Costa Mattos. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. (Coleção Pensamento Humano). KANT, I. Prolegômenos a qualquer Metafísica que possa apresentar-se como Ciência. Trad. de José Marques. São Paulo: Edição Liberdade, 2014. KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Trad. de Beatriz Boeira e Nelson Boeira. 11ª ed. Perspectiva: São Paulo, 2011 (Debates 115). KUHN, T. S. O Caminho desde a Estrutura: ensaios filosóficos, 1970-1993, com uma entrevista autobiográfica. Trad. de Cezar A. Mortari. São Paulo: Editora Unesp, 2017. POPPER, K. R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1972 POPPER, K. R. Conhecimento objetivo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975. |
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Fonte: Autores, 2025. |
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Por fim, a pesquisa aponta que as ideias dos filósofos da ciência, que foram trabalhados no artigo, podem promover importantes reflexões a respeito da natureza da informação e, em especial, do seu caráter interdisciplinar. Espera-se que o trabalho seja o ponto de partida para novas interfaces entre os campos da Filosofia da Ciência e a Ciência da Informação, estabelecendo, mutatis mutandis, um novo campo de investigação acerca do fenômeno informacional, a saber: a Filosofia da Ciência da Informação.
2 A OBRA DE KANT COMO PRECURSORA DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA
A Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant, redigida e revisitada entre os anos de 1781 e 1787, tornou-se o marco do pensamento moderno por unir duas correntes epistemológicas que durante séculos se apresentaram de maneira profundamente antagônicas: o racionalismo, que defendia o papel exclusivo da razão no processo de apreensão do conhecimento, e o empirismo, que atribuía às sensações o fundamento basilar de compreensão da realidade. Essas correntes, quando tomadas de modo isolado, prejudicam o desenvolvimento do pensamento científico e filosófico, pois a competência humana de elaborar teorias válidas acerca do mundo, exige, por um lado, a habilidade empírica de distinguir os fenômenos e, por outro, a capacidade mental de universalizar casos particulares (Silveira, 2002).
Isso significa que até Kant, dependendo de qual corrente epistemológica se fazia parte, a investigação científica e/ou questionamento filosófico nascia enviesado metodologicamente e, por isso, era incapaz de garantir conclusões extensivas. As mais diversas e importantes teorias que o antecedeu, mesmo elaboradas por figuras de destaque em suas respectivas áreas de atuação, correspondiam apenas a uma parcela da realidade – devendo ser revisitadas ou mesmo reformuladas. Desde a Antiguidade Clássica e, em especial, no Medievo, a supervalorização da razão em detrimento das sensações, somada a clivagem estabelecida entre esses dois âmbitos, inviabilizou o estudo da natureza e promoveu o crescimento exponencial de questões metafísicas.
A Crítica da Razão Pura, portanto, desconstruiu quase dois mil anos de história e ensinou aquilo que para nós agora parece tão óbvio: o ser humano possui duas facetas indissociáveis: razão e sensação, mente e corpo. O dualismo ontológico inviabiliza uma compreensão integral da realidade, desconsiderando um desses dois aspectos. Ora, tanto a Ciência quanto a Filosofia devem partir do pressuposto de que todo conhecimento é oriundo das sensações, mas organizado a partir de certos critérios mentais, estabelecidos de maneira inata pela nossa estrutura cognitiva.
Em outras palavras, o filósofo de Konisberg nos ensina que: “pensamentos sem conteúdos são vazios, intuições sem conceitos são cegas” (Kant, 2013, p. 97). Conhecer a realidade é compreender o modo como a nossa razão entende e organiza os dados sensoriais do mundo. A essa nova forma de encarar o conhecimento, que mistura aspectos racionalistas e empiristas, Kant nomeou de Idealismo Transcendental e teceu, por meio dela, duras críticas às filosofias precedentes:
Apenas por meio da crítica, portanto, podem ser cortadas as raízes do materialismo, do fatalismo, do ateísmo, da descrença livre-pensante, da visionariedade e da superstição, que podem ser universalmente prejudiciais, mas também, afinal, do idealismo [dogmático] e do ceticismo, que são mais perigosas para as escolas e dificilmente podem chegar ao público (Kant, 2013, p. 97).
A Metafísica e a Religião, que eram áreas de estudo privilegiadas pelo dualismo ontológico, adquiriram, a partir do Idealismo Transcendental, inúmeras ressalvas: se todo conhecimento é oriundo das sensações e das experiências, como podemos conhecer entidades pertencentes a um outro plano, não-físico? Se a nossa razão possui o papel exclusivo de organizar o conhecimento que advém dos sentidos, como podemos compreender e discursar sobre a ‘Alma’, a ‘Substância Primeira’, ‘Deus’ ou uma ‘Verdade’ invariável e universal? A Metafísica e a Religião, nesse sentido, realmente podem ser consideradas ‘ciências’, isto é, saberes passíveis de técnicas específicas, tais como a observação e a experimentação? É possível criar teorias metafísicas ou religiosas com o mesmo rigor existente nas ciências naturais?
Todavia, embora a Crítica da Razão Pura tenha sido revolucionária, poucos estudiosos haviam compreendido sua verdadeira importância. Como aponta Marques (2014, p. 9): “Kant apercebeu-se de que, apesar de todo o esforço despendido para elucidar sua posição, restava ainda muito espaço para a incompreensão de suas ideais centrais”. Isso porque, como o próprio filósofo havia apontado, a tendência de recusarmos as opiniões que nos contraria ou que exige uma mudança radical em nosso modo de enxergar o mundo, inviabiliza o entendimento de novas posturas.
Além disso, a escrita da obra é densa e pouco convidativa, escondendo, em meio aos tantos parágrafos prolixos e abstrusos, as teses principais do autor e os seus argumentos mais consistentes: “nem todos têm o dom de escrever de forma tão refinada e, contudo, ao mesmo tempo tão atraente quanto David Hume, ou de maneira tão profunda e elegante quanto Moses Mendelssohn” (Kant, 2013, p. 30). Foi por esses motivos que o filósofo criou, dois anos após a conclusão da primeira versão da Crítica, um outro texto, de caráter mais sintético e objetivo, capaz de sanar as dificuldades levantadas pelos críticos e conduzir o leitor a uma compreensão adequada do seu Idealismo Transcendental: o Prolegômenos a qualquer Metafísica futura que queira se apresentar como Ciência.
O objetivo central da Crítica da Razão Pura, que antes estava subentendido e diluído nas duas partes da obra, agora era destacado de maneira direta já no título: qualquer estudioso da Metafísica que queira, porventura, apresentá-la como uma ciência, deverá, em primeiro lugar, considerar o Idealismo Transcendental proposto por Kant:
todo aquele que se propõe a julgar ou até mesmo a construir uma metafísica [em termos científicos] deve, porém, satisfazer inteiramente as exigências aqui colocadas, seja para adotar minha solução, seja para oferecer-lhe uma sólida refutação e pôr outra em seu lugar – pois não é possível ignorá-la (Kant, 2014, p. 32).
Na verdade, se transpormos essa discussão para além do âmbito metafísico, qualquer tipo de conhecimento que deseja se apresentar como uma ciência, deverá analisar se ela atende a certos critérios próprios do saber científico. Ao olhar de Kant, a prática científica não pode ser vista como uma busca por uma verdade transcendente e absoluta, isto é, independente da percepção humana. Em vez disso, ela é uma atividade essencialmente humana que busca entender a realidade de acordo com as categorias e os conceitos que a nossa razão utiliza para organizar e estruturar os dados sensoriais que apreendemos dos fenômenos.
A obra de Kant se tornou, portanto, a pedra angular não apenas nos estudos da Metafísica, mas também da Filosofia da Ciência que, a partir do século passado, se fortaleceu como uma proeminente área da Filosofia, capaz de preservá-la em meio ao crescente desenvolvimento científico e tecnológico. O objetivo desse novo campo do conhecimento é auxiliar as ciências, por meio do rigor lógico e conceitual, a desenvolver maneiras distintas de compreender o seu objeto de estudo, bem como elaborar e reformular conceitos para expressar, da melhor maneira possível, as descobertas adquiridas (Quelbani, 2009).
Nomes como Auguste Comte, Karl Popper, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend se apresentaram na vanguarda desses novos estudos, contribuindo para o alargamento dos critérios iniciados por Kant na Crítica da Razão Pura e popularizados no Prolegômenos a qualquer Metafísica futura que queira se apresentar como Ciência.
3 O POSITIVISMO E A BUSCA PELO RIGOR METODOLÓGICO NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
As Ciências Humanas e Sociais, tendo sido desenvolvidas durante o período das revoluções científica e industrial, foram influenciadas pela perspectiva cumulativa do conhecimento e por uma busca incessante pelo progresso científico que era característico da Modernidade. Os estudiosos não estavam seguros quanto aos critérios utilizados em um saber que tinha como objeto de pesquisa algo tão circunstancial e dinâmico quanto as relações interpessoais e intergrupais, e acabaram por se valer das teorias e métodos próprios das ciências naturais nos estudos dos fenômenos humanos e sociais (Giannoti, 1978).
Foi o caso de Auguste Comte, considerado um dos primeiros filósofos da ciência, fundador da corrente Positivista, amplamente difundida e utilizada em diversos campos científicos das Humanidades. Para ele, as Ciências Sociais seriam o coroamento do pensamento científico que, seguindo uma linha sucessiva de progresso, desembocaria, inevitavelmente, no estudo do homem como um ser social (Comte, 1978). Na medida em que a razão foi tomando a consciência de sua capacidade intelectual, o ser humano foi se livrando dos ‘pseudos’ saberes que o afastava da real compreensão das coisas. Seu entendimento foi superando certos estágios até chegar ao estado atual, oferecido pela ciência.
A sua principal obra, Curso de Filosofia Positiva, escrita entre 1830 e 1842, é dividida em seis livros, nos quais três se dedicam a estudar o progresso natural das ciências em direção a Sociologia; e três que buscam a definição do objeto e do método desses novos saberes (Comte, 1978). Ao fazer isso, Comte contribui para as discussões iniciadas por Kant acerca da Filosofia da Ciência, pensando quais critérios são fundamentais para determinar a práxis científica, seja em relação aos fenômenos naturais ou humanos.
No caso do progresso natural das ciências, Comte (1978) elabora uma estrutura hierárquica dos saberes, de tal modo que cada área contribua com o surgimento da outra. Desse modo, as ciências ditas ‘positivas’, iniciam com a Matemática e seguem com a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Uma vez que a Biologia estuda os seres vivos em seus respectivos habitats, ela contribui diretamente para a consolidação da Sociologia, que seria a última das Ciências, analisando um tipo de ser vivo específico – o homem – e suas relações com outros de sua espécie.
Nas palavras do próprio Comte (1978, p. 22):
as matemáticas possuem o maior grau de generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada. A astronomia acrescenta a força ao puramente quantitativo, estudando as massas dotadas de forças de atração. A física soma a qualidade ao quantitativo e às forças, ocupando-se do calor, da luz etc. que seriam forças qualitativamente diferentes. A química trata de matérias qualitativamente distintas. A biologia ocupa-se dos fenômenos vitais, nos quais a matéria bruta é enriquecida pela organização. Finalmente, a sociologia estuda a sociedade, onde os seres vivos se unem por laços independentes de seus organismos.
No caso da busca pela definição do objeto e do método que deve ser utilizado nessa nova ciência, deve-se seguir os mesmos métodos utilizados pelas suas antecessoras: reconhecer, como regra geral, que toda proposição que não seja estritamente redutível ao simples enunciado de um fato, seja particular ou geral, não pode oferecer nenhum sentido real ou inteligível. Em outras palavras, objetos sociais que não sejam passiveis de serem observados e testados devem ser descartados, tais como os entes transcendentais da Metafísica.
Ademais, deve-se recorrer a métodos objetivos de análise das forças que determinam a ordem e a mudança social. O cientista social deve manter certa distância do seu objeto de estudo e procurar universalizar casos particulares, pois é assim que as Ciências Naturais garantem teorias válidas e aplicáveis a todos os casos:
O progresso é o desenvolvimento da ordem. Já conveniente em matemática, semelhante lei aplica-se tanto melhor quanto mais os fenômenos se complicam; porque a distinção entre o estado estático e o estado dinâmico torna-se, então, mais pronunciada, ao passo que a simplificação proveniente desta ligação de estudos adquire também mais valor. A sociologia devia, portanto, oferecer a melhor aplicação deste grande princípio e a verdadeira fonte de sua sistematização (Comte, 1978, p. 473).
Outros pensadores seguiram Auguste Comte na tentativa de estudar a sociedade a partir da paridade com as ciências naturais. A compreensão da estrutura social como um organismo, conforme proposta por Émile Durkheim, é profundamente influenciada pelo desenvolvimento da Biologia no século XIX. A partir da analogia entre a sociedade e um organismo vivo, os indivíduos podem ser vistos como peças estruturantes de um complexo sistema social, desempenhando papéis variados e complexos, assim como os órgãos de um ser vivo trabalham juntos para manter a homeostase e a sobrevivência do organismo (Oliveira, 2012).
Nesse modelo de sociedade, as Ciências Humanas e Sociais são chamadas a estudar os fenômenos sociais como ‘coisas’ ou, na linguagem do próprio Durkheim, ‘fatos sociais’, que são considerados como entidades objetivas, independentes das manifestações pessoais e subjetivas dos indivíduos. Esses fatos sociais são caracterizados por três aspectos fundamentais: a objetividade, a generalidade e a coercitividade.
A objetividade se refere ao fato de que os fenômenos sociais são considerados como entidades independentes das percepções e interpretações individuais, possuindo uma existência própria e uma realidade objetiva. A generalidade, por sua vez, se refere à ideia de que os fatos sociais são comuns a muitas pessoas, sendo compartilhados por uma coletividade e não sendo exclusivos de um indivíduo ou grupo específico. Finalmente, a coercitividade se refere à capacidade dos fatos sociais de impor determinados tipos de comportamentos sociais nos indivíduos, limitando sua liberdade e condicionando suas ações de acordo com as normas e expectativas da sociedade (Durkheim, 1978).
As Ciências Humanas e Sociais levaram um tempo considerável para repensar seu próprio horizonte de atuação e estabelecer teorias e métodos próprios, distintos daqueles utilizados nas Ciências Naturais. Mesmo no século XX, o positivismo lógico do Círculo de Viena continuou a exercer uma influência profunda nos estudos das Humanidades, buscando unificar as ciências por meio da análise lógica de seus conceitos fundamentais (Reale; Antiseri, 2007). A ideia ainda era eliminar qualquer resquício de Metafísica presente nas discussões científicas, concentrando-se exclusivamente nos fenômenos que podem ser verificados empiricamente.
Em seu artigo Testabilidade e Significado, publicado em duas partes entre 1936 e 1937, Rudolf Carnap apresentou uma formulação rigorosa do ‘critério de verificabilidade’, no qual toda sentença sintética, isto é, que é capaz de estabelecer uma relação entre dois fenômenos distintos, deve ser submetida a testes e confirmação empírica para ser considerada significativa. Apenas as afirmações que pudessem ser comprovadas por meio de observações e experimentos empíricos eram consideradas científicas, enquanto as questões mais abstratas, geralmente oriundas de discussões metafísicas e filosóficas, deveriam ser vistas como não científicas e, portanto, irrelevantes (Ayer, 2020).
Esse método, tornou-se uma das principais réguas de medida do neopositivismo, determinando o que pode ou não ser considerado ‘científico’. No entanto, tal abordagem foi criticada por ser demasiado restritiva e por não levar em conta a complexidade e a riqueza das questões humanas e sociais. Muitos críticos posteriores, argumentam que as Ciências Humanas e Sociais não podem ser reduzidas a um simples critério de verificabilidade, e que é necessário um enfoque mais amplo e mais flexível para entender as questões humanas e sociais. Outros, como Karl Popper e Thomas Kuhn de maneira ainda mais ousada, vão preferir renunciar aos critérios positivistas para destacar a importância dos problemas e contradições que circundam as teorias científicas.
4 KARL POPPER E THOMAS KUHN: UM NOVO OLHAR PARA OS PROBLEMAS CIENTÍFICOS
Dentre os mais importantes pensadores da Filosofia da Ciência no século XX, destacam-se Karl Popper, com seu célebre conceito de ‘Falseabilidade’, e Thomas Kuhn, com sua monumental obra: A Estrutura das Revoluções Científicas, de 1962. Apesar das particularidades das suas ideias, ambos promoveram uma crítica similar àpráxis científica: a ideia de que o progresso da ciência só é possível a partir da superação dos principais impasses que circundam as teorias. A tendência dos estudiosos em ocultar os problemas dispostos nas mais diversas teorias, acaba por inviabilizar a mudança radical dos ‘paradigmas’ estabelecidos pela ciência, porém o progresso só ocorre realmente com essas mudanças estruturais. É mister, portanto, não apenas aceitar tais equívocos, mas, principalmente, destacá-los.
Assim, Popper, na década de 1930, aponta dois importantes tipos de enunciados para o desenvolvimento da ciência: a) aqueles originados a partir da observação dos casos particulares: ‘esta ave voa’; e b) aqueles que universalizam fenômenos por conta de sua constante repetição: ‘todas as aves voam’ (Popper, 1972). A passagem que ocorre do primeiro tipo ao segundo foi, durante séculos, tida como necessária para o progresso científico. Contudo, se seguirmos essa concepção até as últimas consequências, caso haja um só contraexemplo que desvalide as sentenças universais – do tipo: a galinha é uma ave que não voa –, as teorias científicas caem completamente no descrédito, podendo serem até mesmo abandonadas.
Com isso, o filósofo destaca que a práxis científica não se constrói apenas com saberes cumulativos, que se somam em busca de uma especialização, mas também por meio de regressos ou reformulações de premissas fundamentais que podem levar ao abandono de teorias. Isso significa que o a prática de buscar contraexemplos – a falseabilidade – é indispensável para o progresso científico, pois auxiliam na superação dos principais impasses que fundamentam as bases epistemológicas de uma ciência:
A ciência não está interessada em teorias que pareçam ter a probabilidade de oferecer-nos melhor apreensão dos fatos. A ciência não está interessada em ter a última palavra, se isso significar o fechamento de nossas mentes ao falseamento das experiências, mas sim em aprender com as nossas experiências; isto é, em aprender com os nossos enganos (Popper, 1975, p. 331).
As teorias que, porventura, são capazes de passar pelo teste da falseabilidade e superam seus impasses, devem ser vistas como teorias científicas mais seguras. Assim, o papel do cientista é, mais do que encontrar novas descobertas que se adequem as teorias vigentes da sua área de estudo, promover contraexemplos que ressaltem os seus problemas (Popper, 1972). É por isso que a Lei Gravitacional de Newton continua sendo utilizada após a Teoria da Relatividade de Einstein. O físico alemão acusou vários problemas na teoria do cientista inglês, mas ela continua resistente e válida em diversos casos – como no estudo das marés – e por isso ainda pode ser utilizada.
Já Kuhn, ao analisar a estrutura das revoluções científicas, percebe que a maior parte dos cientistas não querem, de fato, progredir. O progresso exige, em muitos casos, o abandono de certos ‘paradigmas’, isto é, modelos científicos nos quais estão ancorados o trabalho de inúmeros pesquisadores (Kuhn, 2011). Hipóteses e teorias que foram estudadas durante o curso de uma vida e que, ao se depararem com novos modos de compreender a realidade, precisam ser reinventadas ou até mesmo abandonadas.
Pensemos, a título de exemplo, nos inúmeros trabalhos que foram interrompidos ou abandonados por conta da passagem do modelo astronômico geocêntrico para o heliocêntrico; ou por causa das mudanças empregadas por Einstein na Física Newtoniana. Há, desse modo, sempre uma resistência a instituição de novos paradigmas, o que interfere diretamente no progresso das Ciências:
A assimilação de um novo tipo de fato exige mais do que um ajustamento aditivo de uma teoria. Até que tal ajustamento tenha sido completado – até o cientista tenha aprendido a ver a natureza de um modo diferente, o novo fato não será considerado completamente científico (Kuhn, 2011, p. 78).
Tudo tem a ver, é claro, com o ego e a incapacidade de certos indivíduos de se livrar dos seus ídolos baconianos. O progresso científico sempre vem acompanhado de perdas e que já são postas em evidência a partir do surgimento dos primeiros impasses de uma teoria. Ora, os problemas presentes nas ciências – aquilo que Kuhn chamou de ‘anomalias’ – servem justamente para destacar as incoerências dos paradigmas vigentes. Eles devem ser vistos como mecanismos que impulsionam o descobrimento de novos modelos, capazes de solucionar os impasses sofridos pelas demais concepções. O que ocorre, no entanto, é que boa parte dos cientistas prefere deixar de lado tais anomalias para seguir dedicando toda a atenção às descobertas que melhor se adequam ao paradigma atual:
Embora possam começar a perder sua fé e a considerar outras alternativas, não renunciam ao paradigma que os conduziu à crise. Por outra: não tratam as anomalias como contraexemplos do paradigma, embora, segundo o vocabulário da Filosofia da Ciência, estas sejam precisamente isso (Kuhn, 2011, p. 107).
Desse modo, em palavras gerais, Kuhn (2011) está nos alertando para dois fatos fundamentais acerca da Ciência: a) a revolução científica, que oferece o verdadeiro progresso das ciências, só ocorre por meio das anomalias das teorias vigentes; e b) a maior parte dos cientistas, por conta do ego ou do comodismo, evita os impasses e as mudanças de paradigma que se originam a partir destas anomalias.
É possível perceber a distância que separa as ideias propostas pelos positivistas das concepções apresentadas por Popper e Kuhn. Ao querer se ver livre do dogmatismo e da verdade estabelecida pela igreja na Idade Média, os cientistas e filósofos da ciência positivistas se apegaram profundamente a Ciência e a tomaram como o único caminho seguro do conhecimento. Não colocavam em suspensão o valor das novas descobertas e nem pareciam perceber ou simplesmente ignoravam que, apesar do seu incontável caráter positivo, é necessário se dedicar também aos seus aspectos negativos.
Com esse novo olhar para os problemas científicos, Popper e Kuhn abrem espaço para uma práxis científica mais crítica e pluralista, que servirá como base para compreensões ainda mais dinâmicas e revolucionárias, tais como aquelas propostas por Paul Feyerabend e o seu pluralismo epistemológico.
5 POR UM PLURALISMOEPISTEMOLÓGICO DAS PRÁTICAS CIENTÍFICAS
Paul Feyerabend foi um filósofo austríaco-britânico que se destacou por suas contribuições radicais e provocativas para a Filosofia da Ciência. Em obras como Contra o Método, de 1975, e Adeus à Razão, de 1989, fica-se evidente a crítica ao modelo de racionalização europeu que, desde a Antiguidade, estabeleceu condutas universalistas que pouco contribuíram para o progresso da ciência. O filósofo argumenta que a Modernidade foi influenciada por uma visão excessivamente racionalista e universalista, que buscou impor uma única forma de pensamento e método de investigação como o único válido. Essa abordagem ignora a complexidade e a diversidade da prática científica, que é sempre influenciada por fatores contextuais, culturais e históricos (Feyerabend, 2010).
É dessa forma que Feyerabend lança uma crítica contundente às figuras proeminentes da ciência moderna, acusando-as de terem cristalizado a prática científica com suas assertivas dogmáticas sobre métodos e linguagens universais. Em contrapartida, ele sustenta que “nem a ciência, nem a racionalidade são parâmetros universais de excelência, pois são tradições específicas, desprovidas de consciência sobre suas raízes históricas e culturais” (Feyerabend, 2011b, p. 273). Isso significa que a ciência e a racionalidade não são entidades abstratas e universais, como querem os positivistas, mas sim construções humanas específicas, influenciadas por contextos históricos, culturais e sociais.
O exemplo de Galileu Galilei ilustra perfeitamente a sua ideia. O método utilizado pelo cientista da luneta, apesar de ter desempenhado um papel de destaque na Revolução Científica, não foi a única condição necessária para a análise dos fenômenos naturais naquela época. O desejo de compreender os fenômenos, nesse sentido, deve sempre preceder o uso de um método, pois é a curiosidade e a busca por conhecimento que devem guiar a investigação científica, e não o inverso. Inverter essa lógica é fossilizar a práxis científica, tornando-a rígida e inflexível. Isso ocorre quando se prioriza o método sobre a substância, quando se valoriza a forma sobre o conteúdo. A ciência, nesse sentido, se torna uma atividade burocrática e ritualística, em vez de uma busca apaixonada por conhecimento e compreensão.
Assim, Feyerabend propõe uma abordagem epistemológica que ele mesmo caracterizou como ‘anarquismo’ ou ‘pluralismo epistemológico’, no qual busca-se demonstrar que todas as metodologias científicas têm limitações e restrições inerentes, tornando-se improvável a existência de um conjunto único, fixo e universal de regras que possam ser aplicadas a todas as situações e contextos científicos (Leal, 2023). Isso não implica, contudo, que as metodologias devam ser completamente descartadas ou abandonadas, mas que a supervalorização dessas regras e métodos pode levar a tantos equívocos e erros quanto a sua negação ou rejeição.
Ademais, a supervalorização de um método universalista pode levar a uma forma de ‘dogmatismo metodológico’, no qual a adesão a um conjunto específico de regras e métodos se torna mais importante do que a busca por conhecimento e compreensão. A ciência deve ser vista como uma atividade humana complexa e multifacetada, que envolve não apenas a aplicação de métodos e regras, mas também a criatividade, a imaginação e a intuição. Portanto, em vez de buscar o dogmatismo, os cientistas devem estar dispostos a explorar diferentes abordagens e perspectivas, e a adaptar seus métodos e regras às necessidades específicas de cada problema ou questão:
A unanimidade de opinião pode ser adequada para uma igreja rígida, para as vítimas assustadas ou ambiciosas de algum mito (antigo ou moderno), ou para os fracos e voluntários seguidores de algum tirano. A variedade de opiniões é necessária para o conhecimento objetivo. E um método que estimula a variedade é também o único método compatível com uma perspectiva humanitarista (Feyerabend, 2011b, p. 58).
Feyerabend também se revela um defensor entusiasta do relativismo político, que ele considera essencial para o desenvolvimento de seu pluralismo epistemológico. Para o filósofo, existe uma conexão profunda e inerente entre as questões políticas e o avanço da ciência (Feyerabend, 2011a). Uma sociedade que é estruturada de maneira a permitir a coexistência de diferentes ideologias e perspectivas, oferece um ambiente propício para a proliferação de teorias e métodos científicos inovadores.
Além disso, Feyerabend enfatiza que a práxis científica deve ser pensada como uma atividade humana coletiva, que é construída e desenvolvida em conjunto por cientistas e não-cientistas. Essa atividade é incapaz de sobreviver em ambientes antidemocráticos, onde a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões são reprimidas. Em vez disso, a ciência floresce em sociedades que valorizam a liberdade, a tolerância e a diversidade, e que permitem a convivência pacífica de diferentes ideologias e perspectivas.
6CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas principais ideias propostas pelos filósofos da ciência que foram tratados nas seções anteriores, podemos levantar uma série de considerações a respeito da práxis científica exercida pela Ciência da Informação. Se tomamos a filosofia kantiana como ponto de partida, por exemplo, devemos ressaltar a necessidade de se estabelecer critérios recorrentes de demarcação das atividades exercidas pela Ciência da Informação, no intuito de distingui-la de outras formas de produção do conhecimento, tais como o Senso-Comum, o Mito e a Religião, bem como em relação a outros campos do conhecimento que também tratam do fenômeno informacional. Ao olhar de Kant, isso seria fundamental para garantir a validade e a confiabilidade dos resultados obtidos na área.
Além disso, é importante que a Ciência da Informação se distancie de abordagens metafísicas ou essencialistas, que buscam compreender o fenômeno informacional de forma transcendente e absoluta, ou mesmo objetivada. Seguindo uma linguagem kantiana, é abandonar a pretensão de compreender a essência da informação para lidar com os seus fenômenos, isto é, as múltiplas maneiras como ela se apresentam ao processo de cognição humana. Isso significa que A Ciência da Informação deve se concentrar no exame do fenômeno informacional em seu contexto social, cultural e histórico, levando em conta as perspectivas e as experiências dos indivíduos e dos diálogos e relações entre as comunidades que produzem, compartilham e utilizam a informação.
Já em relação as concepções propostas pelos positivistas, a Ciência da Informação necessita refletir e questionar constantemente seu objeto de estudo, bem como os métodos adequados para sua compreensão. A área deve basear métodos e técnicas rigorosos e precisos, que permitam a coleta e análise de dados de forma confiável e válida. Isso é especialmente importante em uma área que lida com a informação, que é um recurso fundamental para a tomada de decisões e a resolução de problemas. A Ciência da Informação deve se esforçar para produzir conhecimentos que sejam precisos, confiáveis e relevantes para as necessidades da sociedade.
A negação de pseudos-saberes também seria, nesse sentido, uma questão fundamental a ser tratada na Ciência da Informação. Numa perspectiva positivista, a área deve se opor a hipóteses mal formuladas, teorias não comprovadas e ideias equivocadas. Isso é especialmente importante em uma era em que a informação é facilmente acessível e disseminada, e em que é fácil para informações falsas ou enganosas se espalharem rapidamente. A Ciência da Informação deve se esforçar, portanto, para produzir conhecimentos que sejam baseados em evidências e que sejam submetidos a um rigoroso processo de revisão lógica.
Por sua vez, com as ideias de Karl Popper e Thomas Kuhn, a Ciência da Informação necessita examinar e destacar os impasses que circundam as suas próprias teorias, uma vez que o progresso só é possível a partir da superação de tais ‘anomalias’. Isso é fundamental para garantir que a área esteja sempre em evolução e que os conhecimentos produzidos sejam relevantes e úteis para a sociedade. Ela deve se basear em uma abordagem crítica e reflexiva, que permita a identificação de lacunas e limitações nos conhecimentos atuais, bem como a proposição de novas perspectivas e abordagens.
Os contraexemplos são, nesse sentido, fundamentais na Ciência da Informação, pois servem como ‘molas propulsoras’ de investigação científica. Eles permitem que os pesquisadores identifiquem as limitações e as falhas das teorias e hipóteses atuais, e que proponham novas abordagens e soluções. Além disso, os contraexemplos também permitem que os pesquisadores avaliem a robustez e a validade das teorias e hipóteses, e que identifiquem as áreas que necessitam de mais investigação e desenvolvimento. Assim, a Ciência da Informação deve se basear em uma abordagem que valorize os contraexemplos e que os utilize como uma ferramenta para o avanço do conhecimento.
As ideias de Karl Popper e Thomas Kuhn ainda são fundamentais para entender a importância de se esforçar para auxiliar no combate ao ego e a incapacidade de certos pesquisadores em se livrar dos seus ídolos. Isso é fundamental para garantir que a área esteja sempre aberta a novas ideias e perspectivas, e que os conhecimentos produzidos sejam relevantes e úteis para a sociedade. A Ciência da Informação deve se basear em uma abordagem que valorize a humildade e a disposição para aprender e se adaptar, e que rejeite a ideia de que certos indivíduos ou grupos possuem uma verdade absoluta ou uma visão única e correta, considerando-se, e até mesmo se autointitulando, a ‘elite da área’.
Por fim, de acordo com o pluralismo epistemológico de Paul Feyerabend, A Ciência da Informação deve adorar uma postura científica que evidencie as diferenças entre as teorias e promova uma compreensão horizontal do fenômeno informacional, considerando a informação como objeto cultural, dinâmico e polifônico. Isso significa que a área deve se abrir para diferentes perspectivas, abordagens e métodos, e reconhecer que a verdade é complexa e multifacetada. O pluralismo epistemológico permite que a Ciência da seja mais crítica e reflexiva, e que os pesquisadores sejam mais conscientes das suas próprias limitações e pressupostos.
Ademais, uma postura política progressista se mostra fundamental para o florescimento de pluralismo epistemológico na Ciência da Informação. Tal abordagem permite que a área seja mais inclusiva e diversa, e que os conhecimentos produzidos sejam mais relevantes e úteis para a sociedade. Isso significa que a Ciência da Informação deve se basear em uma abordagem que valorize a justiça social, a igualdade e a liberdade, e que busque promover a inclusão e a diversidade em todos os aspectos da sociedade.
As ideias que aqui foram tratadas formam apenas um esboço inicial das possíveis contribuições que a Filosofia da Ciência pode oferecer à Ciência da Informação. Sendo apenas um panorama generalista, o artigo abre espaço para novas pesquisas que busquem se aprofundar nas diferentes teorias propostas pelos filósofos da ciência, mas em função da práxis científica realizada pela Ciência da Informação. Essa interface, pode, mutatis mutandis, reconfigurar nosso modo de compreender a informação, suas interfaces e o que temos nomeado de ‘paradigmas’, trazendo a consolidação de um novo campo de investigação que ofereça benefícios mútuos a essas duas grandes áreas do conhecimento, a saber: a Filosofia da Ciência da Informação.
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[1] Graduado em Licenciatura em Filosofia e Bacharelado em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco.
[2] Graduada em Biblioteconomia, mestre e doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco.
[3] Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais/Ciência da Informação pela Universidade do Porto. Professora Associada do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco e membra permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPE.
[4] Graduado em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre e Doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos. Possui pós-doutorado em Estudos Teatrais pelo Institut de Recherche en Etudes Théâtrales da Université Sorbonne Nouvelle. É professor do Departamento de Ciência da Informação e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco.