PENSANDO A EXISTÊNCIA DE UMA PÓS-INFORMAÇÃO

 

Oswaldo Francisco de Almeida Junior[1]

Universidade Estadual Paulista/Marília

 ofaj@ofaj.com.br

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Resumo

A concepção de informação, hoje, não pode mais seguir as utilizadas e aceitas antes das mudanças que vivenciamos atualmente. Temos uma outra e diferente forma de ler, abrangendo não só o texto escrito e a imagem fixa, como também a imagem em movimento e o som. isso foi possibilitado pela virtualidade que abriga e oportuniza a disseminação e o contato com os quatro grandes segmentos da multimídia. As informações estão disponíveis para serem acessadas quando necessário ou desejada pelo sujeito. Assim, a informação não é, mas se constrói em todos os ambientes e recebendo interferências e significados dos sujeitos mediadores e dos que se apropriam dela. O produtor da informação continua sendo o mesmo, mas, hoje, essa produção pode se valer de trechos de outras falas, de outras imagens, fixas ou em movimento, de outros sons e informações produzidas em vários momentos, sem, no entanto, trazer algo novo além da junção dessas informações. Nós estamos num momento de mudança, mas, não uma mudança simples. Estamos envolvidos em uma mudança que parece radical. Parece que precisamos rediscutir os nossos conceitos de informação, talvez incluir uma outra visão dela e talvez pensar numa pós-informação, numa informação que não mais deva seguir aqueles parâmetros aceitos até agora. A informação, hoje, vai ter que ser entendida a partir de um novo conceito, de uma nova abordagem, assim como nós estamos lidando com a pós-verdade. A informação deve ser entendida, pensando a partir do que foi apresentado, como “pós-informação”. Uma informação que é, sempre, informação em construção, mas que se mescla com seu oposto, a contrainformação. Essa informação se constituiria não isolada, mas junto com a contrainformação. Elas fariam um amálgama, constituído de informação e contrainformação.

Palavras-chave: Informação. Pós-informação. Desinformação. Contrainformação.

THINKING ABOUT THE EXISTENCE OF A POST-INFORMATION ERA

Abstract

The concept of information today can no longer follow those used and accepted before the changes we are currently experiencing. We have a different way of reading, encompassing not only written text and still images, but also moving images and sound. This has been made possible by virtuality, which harbors and facilitates the dissemination and contact with the four major segments of multimedia. Information is available to be accessed when necessary or desired by the individual. Thus, information is not static, but is constructed in all environments, receiving interference and meaning from mediating subjects and those who appropriate it. The producer of information remains the same, but today this production can make use of excerpts from other speeches, other images, still or moving, other sounds, and information produced at various times, without, however, bringing anything new beyond the combination of this information. We are in a moment of change, but not a simple change. We are involved in a change that seems radical. It seems we need to rethink our concepts of information, perhaps including a different perspective on it and perhaps considering post-information, information that should no longer follow the parameters accepted until now. Information today will have to be understood from a new concept, a new approach, just as we are dealing with post-truth. Information should be understood, considering what has been presented, as "post-information." Information that is always information under construction, but which blends with its opposite, counter-information. This information would not exist in isolation, but together with counter-information. They would form an amalgam, consisting of information and counter-information.

Keywords: Information. Post-information. Disinformation. Counter-information.

 

 

REFLEXIONES SOBRE LA EXISTENCIA DE UNA ERA POSTINFORMÁTICA

Resumen

El concepto de información actual ya no se ajusta a los métodos utilizados y aceptados antes de los cambios que estamos viviendo. Nuestra forma de leer es diferente, abarcando no solo texto escrito e imágenes fijas, sino también imágenes en movimiento y sonido. Esto ha sido posible gracias a la virtualidad, que alberga y facilita la difusión y el contacto con los cuatro principales segmentos del multimedia. La información está disponible para ser consultada cuando el individuo la necesita o la desea. Así, la información no es estática, sino que se construye en todos los entornos, recibiendo interferencias y significado de los agentes mediadores y de quienes la apropian. El productor de información sigue siendo el mismo, pero hoy en día esta producción puede utilizar fragmentos de otros discursos, otras imágenes (fijas o en movimiento), otros sonidos e información producida en diversos momentos, sin aportar, sin embargo, nada nuevo más allá de la mera combinación de esta información. Nos encontramos en un momento de cambio, pero no un cambio simple. Estamos inmersos en un cambio que parece radical. Parece que necesitamos replantearnos nuestros conceptos de información, quizás adoptando una perspectiva diferente y considerando la posinformación: información que ya no se ajusta a los parámetros aceptados hasta ahora. Hoy en día, la información debe entenderse desde un nuevo concepto, un nuevo enfoque, al igual que nos enfrentamos a la posverdad. Considerando lo expuesto, la información debe entenderse como «posinformación»: información en constante construcción que se fusiona con su opuesto, la contrainformación. Esta información no existiría aislada, sino junto con la contrainformación, formando una amalgama compuesta de información y contrainformación.

Palabras clave: Información. Posinformación. Desinformación. Contrainformación.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As reflexões aqui apresentadas ainda estão em construção, em debate interno e em confronto com meu acervo de conhecimentos, incluindo, claro, as minhas experiências pessoais, minha relação com as teorias e com o real (embora esse termo possa trazer complicações em seu uso). A teoria e o empírico vivem, necessariamente, se envolvendo, se amalgamando.

Assim, todos estão convidados a refletirem também, desde que o tema traga algum interesse dentro das pesquisas que desenvolvem e das preocupações que possuem na área da informação.

Parto sempre da ideia – e da certeza, mesmo que não definitiva – de que o conhecimento é construído individualmente. Cada ser humano constrói seu conhecimento a partir de vivências particulares ou coletivas e de contato com saberes explicitados por pensadores, quer em livros, quer em falas, comportamentos, ações etc., mas sempre e necessariamente na relação. Não há construção de conhecimento que não esteja vinculado a uma relação com o mundo, com a natureza, com o outro. Não há conhecimento que não seja construído na relação sensorial, simbólica, mental etc. com o mundo.

Pensando dessa forma, podemos dizer que essa construção é inacabada, não tem fim, uma vez que nossa relação com o mundo nos segue – e nos persegue – por toda a vida.

Ainda mais: nossa relação com o mundo se dá de maneira consciente e, principalmente, inconsciente. Não temos domínio sobre ela. Vivemos à mercê do que o mundo se nos apresenta. Vivemos à mercê do acaso. Meu conhecimento – e sua construção – não é totalmente determinado. O autor de um romance, por mais elaborada que a história, o enredo, a estrutura, o tempo, os acontecimentos, tenham   sido previamente e minuciosamente elaborados, possuem muito do imponderável, das exigências inesperadas dos personagens, de acontecimentos que se imiscuem no roteiro previsto. E, vale lembrar, em uma história da qual temos total poder de criar e escolher caminhos. Os destinos de todos os personagens estão traçados, mas recebem influências deles.

Nossas pesquisas, mesmo com questões norteadoras, objetivos gerais e específicos, metodologias, locais, momentos, fenômenos de análise, ainda assim, vão trilhando caminhos que não contávamos. Aliás, as pesquisas são exatamente esse não inexorável; lidamos com o imprevisível, até mesmo aquele que contraria nossas hipóteses, nossas certezas iniciais.

A vida, que o acaso nos oferece, por mais que a planejamos, não segue, na maioria das vezes, nossos desejos. Ela se estrutura na relação com o entorno, na relação com os acontecimentos, com as transformações da sociedade.

Outro dado que é importante acrescentar, é que o conhecimento construído sempre está inacabado (como disse anteriormente), mas está menor do que anteriormente, ou seja, quanto mais eu conheço, mais percebo que quase nada, que pouco sei. Quanto mais eu conheço, minhas fronteiras com o desconhecido se ampliam e pedem, formulam questões, perguntas, indagações. Um novo conhecimento, por ampliar o que já está constituído, mesmo que provisoriamente, se relaciona muito mais com o desconhecido. Só posso questionar o desconhecido se conheço um mínimo dele. Assim, quanto mais conhecemos, mais compreendemos que pouco sabemos.

O conhecimento construído na relação; a ideia de que, por mais que buscamos o saber, nada sabemos; que nossa vida se estrutura no acaso oriundo das transformações do coletivo; e que somos seres inacabados, nos leva à certeza de que somos dependentes dos outros.

Dessa forma, precisamos nos valer do que já foi pensado e contribuímos um pouco com esses pensares, com essas reflexões. No âmbito do conhecimento, todo novo só pode existir e surgir se baseando no que já está posto. Precisamos utilizar a linguagem para disseminar o que refletimos, o que propomos como alteração e transformação do que está posto. Precisamos, além disso, das bases teóricas da área em que estou pesquisando. O novo amplia e propõe visões diferenciadas, mas, necessariamente, calcado no que está presente. Isso não significa que não se pode questionar o que está dado; ao contrário, como pesquisadores, pensadores, estudiosos, devemos colocar na berlinda o que é considerado consolidado. Esta é uma das responsabilidades desse grupo – acadêmico ou não.

Somos também dependentes dos outros no próprio conhecimento do mundo. A relação sensorial do homem com o mundo é mínima. Mesmo aquele que viaja muito, que visitou muitas cidades e países, na verdade conhece alguns pequenos lugares, centros de turistas, ruas, praças, monumentos que são indicados pelos guias, ou seja, praticamente nada de cada cidade e de cada lugar. Ele come em restaurantes indicados, toma café da manhã nos hotéis e nunca na casa das famílias que vivem nesses lugares. A cidade onde vivo que, em tese, eu deveria conhecer melhor, de fato assim o é, mas, após anos em que vivo nela, não circulei pela maioria das ruas. Na rua em que eu resido, conheço poucos moradores e trafego nela em períodos determinados, definidos. Sei da existência de muitos bares e restaurantes, mas não os frequento. A comida que servem, o atendimento que prestam, não sei dizer, apenas repito e reproduzo o que outros dizem.

Como eu, de fato, conheço o mundo se, sensorialmente, pouco circulo e quase nada presenciei? Pela mediação.

O mundo é todo mediado. Nós o conhecemos e o entendemos a partir do olhar dos outros, dos pontos de vista dos outros. Todos os lugares que não frequentei, mas ouvi dizer e “sei” da sua existência, foi por intermédio da mediação daqueles que ou tiveram uma relação presencial com eles ou estão reproduzindo o que ouviram de outros.

Confiamos em relatos históricos, muitos sustentados por indícios que resultam em compreensões maiores, em deduções de formas e modos de vida. Os que viveram o momento, o relatam a partir do seu olhar, do seu ponto de vista, da comunidade em que vivia, da classe social à qual pertencia.

Tais relatos não, necessariamente, refletem a realidade que viviam, mas a refratam.

As pesquisam que auscultam um momento, um fenômeno, um grupo, uma área etc., precisam descrever adequadamente, a metodologia utilizada sob pena de não gerar credibilidade. A metodologia, mesmo com seus inevitáveis vieses – e com todos os questionamentos e estranhezas que podemos formular sobre elas –, termina por ser entendida como uma sustentação de veracidade e objetividade, incluindo aquilo que não pode ser objetivável. 

Dentro dessa perspectiva, buscamos controlar o que entendemos como “verdade”, como explicações do mundo e de seus aspectos.

Na busca por encontrar a “verdade”, o ser humano encontrou a leitura e a informação como uma das sustentações, das bases e dos suportes para isso.

A leitura esteve restrita à decifração da palavra escrita – e tão somente. Os suportes dela, em especial, claro, o livro, carregavam e foram considerados como sinônimo da verdade. Se estava escrito, era verdade. A Bíblia se valeu desse entendimento e contribuiu para sua disseminação.

Hoje, trabalhamos com a ideia de que a leitura se realiza, ou tem como suporte, os quatro grandes segmentos da multimídia: a palavra escrita, a imagem fixa, a imagem em movimento e o som. Nós a chamamos de leitura em sentido lato.

Temos uma outra e diferente forma de ler, abrangendo não só o texto escrito e a imagem fixa – forma predominante nos livros e revistas em tempos mais recentes –, como também a imagem em movimento e o som. isso foi possibilitado pela virtualidade que abriga e oportuniza a disseminação e o contato com os quatro grandes segmentos da multimídia. A possibilidade de releitura (uma vez que a leitura é sempre única e momentânea) dá-se no âmbito do texto escrito, no livro por exemplo, como também nas imagens em movimento, os filmes. Podemos também visualizar uma imagem em um tamanho maior, menor, ou em uma velocidade maior, o vídeo é reproduzido em velocidades diferentes da que foi originalmente gravado. O mesmo ocorre com o som. Os quatro grandes segmentos da multimídia continuam representando a realidade, a ressignificando, mas permitindo uma interferência sobre ela, moldando-a para atender entendimentos, concepções específicas. As crianças já se habituaram com essas concepções de tempo, lugar e forma diferenciados do que vivenciamos até hoje.

A leitura do texto escrito não precisa ocupar espaço para ser explicada, bastando considerar o livro como sua mais importante expressão. A imagem fixa abrange a fotografia, o desenho, a pintura, a realia e outros tantos. A imagem em movimento, além de filmes e vídeos, engloba a leitura do homem, da natureza, do mundo. A leitura do som, por sua vez, inclui a música, os ruídos, os sons produzidos pelas pessoas e pela natureza, e – estou tentando dar uma grande ênfase nisto – a oralidade.

Todos esses segmentos são de interesse da Arquivologia, da Biblioteconomia, da Ciência da Informação e da Museologia, embora o paradigma dominante aponte para um objeto dessas áreas muito restrito, cobrindo apenas alguns ou partes de alguns desses.

Defendo que apenas nos apropriamos da informação a partir da leitura, mas da leitura em um sentido lato.

A informação, por sua vez, por ser polissêmica, permite vários entendimentos, vários conceitos, sempre vinculado a pesquisas específicas. Apresento o meu conceito de informação, formulada a partir dos entendimentos da mediação da informação:

 

informação, para mim, é uma construção, elaborada em um processo, constituída de ações, elementos, interferências, situações, interesses, embates e memórias, gerada pela explicitação de segmentos de conhecimentos e que, em um continuum, durante seu ciclo de vida, recebe significados e tende a criar conflitos nos conhecimentos e certezas supostamente constituídos (Almeida Junior, 2019, não paginada).

 

Dentro desse conceito, a informação é um processo e não pode ser considerada como coisa – desejada pelos que seguem Buckland. Ao contrário, a informação é subjetiva, não é tangível, material e não há como controlá-la.

A informação, depois de produzida – já partindo do seu nascedouro com vários significados em seu bojo –, se espraia e vai recebendo significados nos diversos e vários caminhos que percorre. É preciso enfatizar que os caminhos trilhados pela informação, por interferirem nela, vão sendo coprodutores, assim como o ser humano (público, usuário, leitor etc.) que dela se apropria, também deve ser considerado como tal.

Nos caminhos, vários são os personagens que, de uma ou outra forma, interferem na informação. Assim, ela chegará aos apropriadores (prefiro o termo apropriador do que receptor – que nos remete à concepção do modelo matemático de comunicação e o paradigma físico da informação) de maneiras diversas a partir das incorporações que a vida dessa informação possibilitou – ou permitiu ou, pelo acaso, acolheu.

Retomando a construção individual do conhecimento e o conceito de informação apresentado acima, é possível dizer que todas as nossas certezas são temporárias, são momentâneas e que a informação gera dúvidas, gera conflitos no conhecimento provisoriamente estruturado, exigindo posturas diferentes, olhares e entendimentos não mais idênticos aos que embasavam nosso conhecimento.

A falta de informação, ou as incertezas do conhecimento, causam, no mínimo, desconforto. Assim, nós buscamos o controle, buscamos ao menos o sentimento de conter o saber. Queremos poder afirmar que sabemos.

E nos enganamos afirmando isso.

Na área da informação muito se busca o controle. E boa parte do controle se dá com a afirmação de que temos a verdade.

Controle bibliográfico universal, códigos, regras, normas etc., existem para dar a sensação de que dominamos a verdade, de que a possuímos.

Nossa procura é pelo domínio, pela dominação, da verdade e da informação.

O sentimento de dominar a verdade, e a informação oriunda dela, é quase que necessário para nossa sanidade. Mas, ela é ilusória.

As pessoas querem ter essa sensação de domínio, de saber a verdade.

Os alunos - às vezes até da pós-graduação - quando se deparam com concepções diferentes, contraditórias, perguntam qual é a certa, a correta e se desiludem quando dizemos que não há resposta certa. Há respostas que atendem, respondem, se moldam com nossas quase-certezas.

A ideia de desinformação, fake news, misinformação, contrainformação etc., se sustentam nesse desejo de saber, de controlar, de dominar.

Muitos entendem a desinformação como uma informação, enquanto outros a consideram o oposto da informação. São posições que estão postas nas discussões e reflexões sobre o tema.

A informação dissemina, veicula e medeia o entendimento do produtor dela - além dos interesses dele, das compreensões de mundo dele.

Quem domina os veículos disseminadores impõe, embora de maneira relativa, os seus interesses e seus entendimentos de mundo, suas explicações sobre o mundo. Na internet, por exemplo, temos uma aparente democracia da informação, mas o domínio é feito pela distribuição dos conteúdos. Você pode dizer o que quiser, mas seu alcance é pequeno, não importuna, não incomoda a ordem da informação.

Estamos vivendo um momento de muitas mudanças e, entre elas a da informação. Mas, não uma mudança simples. Estamos envolvidos em uma mudança que parece radical. Estamos imersos nessa mudança e vem desse fato a dificuldade que temos para entender, para compreender, para visualizar, para olhar melhor ao que de fato está ocorrendo.

Tivemos mudanças, historicamente, na forma de mediação da informação, da oralidade para a escrita; da leitura em voz alta e da leitura silenciosa; de diferentes suportes informacionais, da rapidez da transmissão e veiculação da informação etc.

Hoje vivemos essa rapidez - exigida por nós - que nos leva a buscar formas de apropriação da informação rápida. Os textos devem ser curtos, simples. Essa é a linguagem da Internet, a linguagem das redes. Melhor com o emprego da imagem - e mesmo essa, não pode ser longa, ao contrário, deve ser rápida, curta.

Se necessário ou desejável, eu posso ver a imagem em outra velocidade - quase sempre mais rápida. Posso pausar uma imagem para vê-la melhor. Eu posso, mesmo que parcialmente, controlar o tempo. A concepção de tempo é outra. O tempo é relativamente manipulado, controlado.

O tempo já mudou, já não é o mesmo, assim como o espaço. E não estou falando da teoria da relatividade.

A rapidez do tempo já não exige aprofundamento das reflexões. Podemos viver na superficialidade da maior parte das dancinhas do TikTok, do número restrito de caracteres do X, da autoimposição de textos curtos no Instagram, do tempo curto em que posts estão disponíveis no Facebook.

Ainda mais: a imagem é captada de um determinado ângulo, de um ponto de vista. Mesmo assim, considera-se como se fosse o único olhar. Aliás, não há discussão sobre isso. Não se questiona isso.

Assim, sem grandes aprofundamentos, nos valemos, para disseminarmos e veicularmos nossas “verdades”, de “slogans”, de resumos da compreensão de momentos, situações, teorias que exigem nossos posicionamentos. É com “slogans” que respondemos ao que o mundo nos questiona. E o mundo engloba, claro, nossos colegas, nossos parentes, os que estão próximos.

O “slogan” é pobre, superficial. Ainda assim, consegue se impor ante discussões mais aprofundadas. É mais fácil decorar algumas frases e apresenta-las como representativa de um pensamento e de posições perante temas que estão gerando debates na sociedade, do que buscar outras posições, outras formas de pensar e confrontá-las até construir uma forma que possa responder aos questionamentos que a sociedade nos faz.

Pensando no que foi exposto, defendo, a partir da ideia de como estamos envoltos nas mudanças, nas transformações que estão ocorrendo, em função do acesso à informação via tecnologia, da rapidez exigida para esse acesso etc., que precisamos de um novo conceito de informação que possa explicar ou nos levar a entender tais mudanças.

O que é novo pode pedir – e pede – um entendimento diferente de algo já conceituado.

Essa nova concepção da informação deve abarcar a desinformação, a misinformação, a fake news, a pós verdade. Eu a estou chamando, embrionariamente de pós-informação.

Para mim, a verdade se faz na relação do homem com o seu meio - incluindo os outros. Ela é essa mescla e se constrói também a partir dos interesses de determinados grupos e não apenas da relação individual. A pós verdade, por sua vez, é uma aparente verdade, uma não verdade que se passa por verdade. Vamos lembrar e pensar em desnudar o mundo, em desnudar a verdade, encoberta pelos interesses dos dominantes, dos excludentes.

A concepção de informação, hoje, não pode mais seguir as utilizadas e aceitas antes das mudanças que vivenciamos atualmente.

As informações estão disponíveis para serem acessadas quando necessário ou desejada pelo sujeito. Mas, são elas muitas e, depois de produzidas e disseminadas, se multiplicam, se proliferam, recebendo outros significados e interferências.

Assim, a informação não é, mas se constrói em todos os ambientes e recebendo interferências e significados dos sujeitos mediadores e dos que se apropriam dela. O produtor da informação continua sendo o mesmo, mas, hoje, essa produção pode se valer de trechos de outras falas, de outras imagens, fixas ou em movimento, de outros sons e informações produzidas em vários momentos, sem, no entanto, trazer algo novo além da junção dessas informações. Claro que a junção de informações cria uma nova informação, mas isso deve estar claro, pois há uma compilação deliberada e as fontes devem ser explicitadas. O ChatGPT, por exemplo, faz essa compilação e, apesar de uma informação nova, o uso das fontes não é explicitado. O conceito de autoria, dentro dessas ações, não é mais o mesmo daquele que aceitamos e está exposto hoje, apesar de considerarmos concepções diferentes que convivem e buscam o espaço da hegemonia.

Criadora de informações, a Inteligência Artificial (IA) não nasce de geração espontânea, mas tem uma base pessoal em sua origem; e essa base não é gerada por uma máquina. A interferência da IA na construção das informações e da própria realidade é cada vez maior e pode nos levar a olhares e explicações do mundo que passam pelos entendimentos dela.

Parece que precisamos rediscutir os nossos conceitos de informação, talvez incluir uma outra visão dela e talvez pensar numa, repetindo, pós-informação, numa informação que não mais deva seguir aqueles parâmetros aceitos até agora. A informação, hoje, vai ter que ser entendida a partir de um novo conceito, de uma nova abordagem, assim como nós estamos lidando com a pós-verdade.

A informação deve ser entendida, pensando a partir do que foi apresentado, como “pós-informação”. Uma informação que é, sempre, informação em construção, mas que se mescla com seu oposto, a contrainformação. Essa informação se constituiria não isolada, mas junto com a contrainformação. Elas fariam um amálgama, constituído de informação e contrainformação.

A informação carrega em seu bojo, dentro dessa concepção, a sua antítese. Esta vive latente na informação, se sobressaindo em muitos momentos. Elas não existiriam separadas, mas fazendo um conjunto dialético.

Defendi, em momentos passadas, a ideia de que a informação desaparecia quando absorvida e incluída no conhecimento existente no sujeito. Hoje, acredito que a informação continua viva e se transformando a partir dos significados oriundos de outras tantas informações que são apropriadas pelos sujeitos. Ela continua latente e interferindo, mesmo que de maneira não consciente. Assim, a noção de uso da informação se perde, pois eu, como apropriador, apenas faço uso do meu conhecimento transformado pela informação. Não se usa a informação isolada.

A informação apropriada se sujeita ao conhecimento construído individualmente, e passa a não mais ser a mesma originariamente disseminada pelo seu produtor, uma vez que abarca todo o acervo de conhecimento (seja das experiências, seja de teorias, reflexões etc.) pré-existente.

Um amigo, certa vez, ouviu e me passou o seguinte canto (infelizmente, este trabalho não tem som):

“Não, não importa a chegada,

“É preciso amar a estrada

“que a jornada é só partida.”

Por mais que o produtor da informação queira que todos os que com ela se relacionem a entendam e se apropriem dela como inicialmente intencionado, as interferências são inegáveis, não só do apropriador, mas de todos os personagens que surgem no decorrer da vida da informação.

Isso não significa que a informação não tenha um propósito inicial, ao contrário, o produtor se propõe, de alguma forma, a interferir no mundo, a veicular suas ideias e concepções, seus entendimentos do mundo. Ela pretende, sempre, desnudar a realidade, descobrir o que impede o olhar do sujeito, mas, não há como se impor a todos. A manipulação é sempre relativa e não atinge a maior parcela da sociedade.

  Retomando: é preciso uma nova concepção de informação para atender às exigências de um momento em que o tempo, o espaço, a imagem, a circulação, a realidade, a verdade, não são mais o que eram, pois sobre elas há novas interferências.

A própria sociedade, o que entendemos como realidade, está se transformando. Vivemos em um mundo virtual que permite aos sujeitos se travestirem de personagens, de atuarem como outros seres.

É preciso, além de um novo conceito, uma nova concepção de paradigma dos estudos da informação, mais geral, mais ampla, que possa responder ao que hoje, é pedido.

Nesse novo conceito serão abarcados a desinformação, a misinformação, a fake news, a pós verdade e a contrainformação, esta última muito pouco usada e esquecida dos estudos atuais.

A esse novo conceito ou a esse novo paradigma estou chamando, como já dito, de pós-informação – na falta de um outro termo. As reflexões podem nos levar a outro ou outros termos, mas não podemos nos antecipar e criar esse termo.

A proposta está aberta e aguardando contribuições, no caso dos que se interessarem por ela.

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. O que é informação? In: ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Infohome [Internet]. Marília: OFAJ, 2019. Disponível em: http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=1177. Acesso em: 10 jul.2025.

 



[1] Doutor - UNESP/Marília

 

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