ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL NO ENSINO SUPERIOR

desafios de estudantes com deficiência auditiva na UFPB

Andreza Apolonio Costa[1]

Universidade Federal da Paraíba

andrezaapoloniocos@gmail.com

Fellipe Sá Brasileiro[2]

Universidade Federal da Paraíba

fellipesa@hotmail.com

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Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar os desafios enfrentados por estudantes universitários com deficiência auditiva nos processos comunicacionais relacionados ao ensino. Adota a pesquisa de campo, de abordagem qualitativa e quantitativa, envolvendo estudantes com deficiência auditiva situados no Campus I da Universidade Federal da Paraíba. Constata que os desafios enfrentados abrangem a falta de sensibilização e formação por parte dos professores e colegas, a necessidade de melhorias na acessibilidade física e tecnológica da instituição, a importância da disponibilização de intérpretes de Libras e recursos de acessibilidade, e a necessidade de envolvimento dos/as estudantes com deficiência auditiva na advocacia por suas próprias necessidades. Conclui que mudanças significativas no ambiente acadêmico são necessárias para a garantia de uma educação inclusiva e equitativa, independentemente das capacidades auditivas dos/as estudantes.

Palavras-chave: acessibilidade comunicacional; deficiência auditiva; inclusão.

COMMUNICATION ACCESSIBILITY IN HIGHER EDUCATION

inclusion of students with hearing impairment at UFPB

Abstract

This study aims to analyze the challenges faced by university students with hearing impairments in communication processes related to teaching. It uses field research with a qualitative and quantitative approach, involving students with hearing impairments located on Campus I of the Federal University of Paraíba. The study finds that the challenges faced include a lack of awareness and training on the part of professors and peers, the need for improvements in the institution's physical and technological accessibility, the importance of providing Libras interpreters and accessibility resources, and the need for students with hearing impairments to be involved in advocating for their own needs. The study concludes that significant changes in the academic environment are necessary to ensure inclusive and equitable education, regardless of students' hearing abilities.

Keywords: communicational accessibility; hearing deficiency; inclusion.

 

 

ACCESIBILIDAD A LA COMUNICACIÓN EN LA EDUCACIÓN SUPERIOR

inclusión de estudiantes con discapacidad auditiva en la UFPB

 

Resumen

Este estudio busca analizar los desafíos que enfrentan los estudiantes universitarios con discapacidad auditiva en los procesos de comunicación relacionados con la docencia. Se basa en una investigación de campo con un enfoque cualitativo y cuantitativo, involucrando a estudiantes con discapacidad auditiva del Campus I de la Universidad Federal de Paraíba. El estudio concluye que los desafíos incluyen la falta de concientización y capacitación por parte de profesores y compañeros, la necesidad de mejorar la accesibilidad física y tecnológica de la institución, la importancia de proporcionar intérpretes de Libras y recursos de accesibilidad, y la necesidad de que los estudiantes con discapacidad auditiva participen en la defensa de sus propias necesidades. El estudio concluye que se necesitan cambios significativos en el entorno académico para garantizar una educación inclusiva y equitativa, independientemente de la capacidad auditiva de los estudiantes.

Palabras clave: accesibilidad comunicacional; deficiencia auditiva; inclusión.

1  INTRODUÇÃO

O estigma de incapacidade ainda se manifesta de forma sutil e às vezes explícita. Muitas vezes, as pessoas com deficiência são subestimadas em suas habilidades, seja no ambiente educacional, profissional ou social. Isso pode levar à exclusão de oportunidades valiosas, como uma vida acadêmica e profissional, e à subestimação de seus potenciais. Em muitos casos, as pessoas com deficiência são direcionadas para programas educacionais separados, em vez de serem integradas em salas de aula regulares, perpetuando a crença de que não são capazes de acompanhar o ritmo dos colegas sem deficiência (Wendell, 2021).

            A falta de sensibilização e compreensão das necessidades específicas desses indivíduos tem levado à exclusão, à falta de acessibilidade e à negação de oportunidades educacionais igualitárias. Essa situação restringe a participação efetiva dessas pessoas no ensino, resultando em lacunas educacionais e, por consequência, em oportunidades limitadas no mercado de trabalho e na sociedade em geral (Dias, 2013).

Dado que a Paraíba possui uma das maiores taxas de pessoas com deficiência no Brasil, conforme a pesquisa do IBGE de 2022, é essencial considerar políticas e diretrizes de acessibilidade no contexto regional. Com 10,7% da população apresentando algum tipo de deficiência, a Paraíba fica atrás apenas de Sergipe, que registra 12,3%. Esses dados destacam a urgência de iniciativas inclusivas e reforçam a relevância de estudos que visem avaliar e aprimorar a acessibilidade para assegurar a participação plena dessas pessoas em diversas esferas sociais, incluindo o ambiente acadêmico e digital.

Nesse contexto, este estudo buscou responder a seguinte problemática de pesquisa: Quais os principais desafios de estudantes universitários com deficiência auditiva nos processos comunicacionais relacionados ao ensino superior? A vivência acadêmica para estudantes universitários com deficiência auditiva apresenta uma série de desafios complexos nos processos comunicacionais. Considera-se que esses desafios muitas vezes não se limitam ao processo de transmissão de informações, mas também afetam a integração social, o acesso ao conteúdo curricular e a participação plena nas atividades acadêmicas.

            O presente estudo tem como objetivo geral analisar os principais desafios de pessoas com deficiência auditiva nos processos sociais de comunicação dentro do ensino superior. Para atingir esse propósito, delinearam-se os seguintes objetivos específicos: (i) traçar um perfil do/a discente surdo do nível de educação superior; (ii) investigar a atual situação da inclusão de indivíduos com deficiência auditiva nos cenários sociais de comunicação presentes no âmbito do ensino superior; (iii) identificar as principais barreiras e desafios que os estudantes surdos enfrentam no ambiente acadêmico no que tange à acessibilidade comunicacional; e (iv) compreender a perspectiva e estratégias dos estudantes com deficiência auditiva na inclusão no ensino superior, a partir de suas próprias vivências.

 

2  ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL NO AMBIENTE DE ENSINO SUPERIOR

A acessibilidade comunicacional é uma questão fundamental para garantir a inclusão social e educacional de pessoas com deficiência auditiva. No entanto, muitas instituições de ensino superior ainda enfrentam desafios para garantir que esses estudantes tenham acesso pleno aos processos de comunicação em sala de aula e em outras atividades acadêmicas. Engloba a adoção de recursos tecnológicos, comportamentais, ambientais e estratégias informacionais para criar um processo de comunicação equitativo entre indivíduos, independentemente de suas capacidades motoras e cognitivas. Em outras palavras, consiste em garantir que a comunicação seja inclusiva, permitindo que todas as pessoas tenham acesso às informações e possam se comunicar de maneira efetiva, sem barreiras ou discriminação baseada em suas habilidades (Sassaki, 2006, 2009; Borges 2014; Sarraf, 2016; Sardagna; Oliveira, 2017; Pimentel, 2017, Alves, 2019; Figueira 2019).

Sendo assim, no fluxo de informações para pessoas com deficiência, a acessibilidade comunicacional é uma abordagem que busca diminuir os obstáculos na comunicação interpessoal. Essa abordagem engloba uma ampla variedade de formatos de comunicação, como língua de sinais, escrita em jornais, revistas, livros, cartas e apostilas, além de considerar a inclusão de textos em Braille e o uso de tecnologia digital (Sardagna; Oliveira, 2017, p. 7). Dessa forma, a acessibilidade comunicacional trabalha para criar um ambiente inclusivo para todos. 

Quando se tratam de processos educativos no ambiente organizacional, como uma instituição de ensino superior, a acessibilidade comunicacional busca garantir que a aprendizagem seja acessível e significativa para todos. Em suma, a acessibilidade comunicacional é uma dimensão crítica para promover a igualdade de oportunidades e a inclusão nesse ambiente organizacional. Ao aplicá-la aos seus processos educativos, a organização pode proporcionar uma experiência de aprendizagem mais significativa, eficiente e abrangente para todos, contribuindo para o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo (Silva, 2001).

A concretização de um ambiente comunicativo acessível requer a combinação de esforços técnicos e culturais. No âmbito acadêmico, conforme apontado por Castro e Almeida (2014, p. 79), “as universidades enfrentam grandes desafios no que diz respeito ao acesso de alunos com deficiência, sendo necessário superar as barreiras existentes, principalmente as atitudinais, e garantir condições de acessibilidade em aspectos físicos, comunicacionais e pedagógicos”. Essas barreiras na comunicação podem se materializar em diversos obstáculos que dificultam ou impedem a expressão e a recepção de mensagens através de diferentes meios ou sistemas de comunicação, independentemente de serem de massa ou não (Brasil, 2000).

A falta de comunicação pode ser um dos principais obstáculos, para indivíduos surdos que encontram dificuldades em interagir com pessoas que não sabem como se comunicar por meio da língua de sinais ou que não estão dispostas a utilizar recursos como intérpretes de língua de sinais ou tecnologia assistiva.

No que diz respeito a acessibilidade no ensino superior, a educação inclusiva “se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade” comunicacional, arquitetônica, nos sistemas de informação, “materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão” (Brasil, 2008).

O ingresso de pessoas com deficiência no ensino superior levanta uma discussão entre inclusão educativa e educação inclusiva, com o intuito de mostrar de maneira didática a experiência que esse indivíduo terá na vida acadêmica. Partindo da análise de Maria Emygdio Silva (2010), a intervenção educativa quando em nome da inclusão centrada no aluno gera uma prática de integração excludente, substituindo o princípio da normalização em sala de aula, gerando isolamento social e experiência limitada do ensino em relação aos seus colegas não deficientes. Contudo, sabe-se que estabelecer e semear políticas públicas inclusivas requer mudanças estruturais, de ordem atitudinal, comunicacional e de acessibilidade, e, necessário se faz, a participação da sociedade como um todo.

Desse modo, conforme aponta Oliveira (2012), a importância da acessibilidade comunicacional na relação entre a comunicação organizacional e a inclusão torna-se fundamental, uma vez que a inclusão não deve ser apenas uma mera consideração, mas sim uma parte intrínseca da cultura organizacional. Quando as organizações reconhecem a necessidade de adaptar suas práticas comunicacionais para acomodar públicos diversos, como os surdos, elas não apenas demonstram um compromisso com a igualdade de oportunidades, mas também fortalecem sua reputação e impacto social, tornando-se verdadeiramente inclusivas e acessíveis a todos.

 

3 O PROCESSO DA ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL

Para ilustrarmos de modo geral um processo básico de comunicação, é possível lançar mão do modelo clássico de Shannon e Weaver (1975), embora considerado estático e mecânico para uma compreensão profunda. O modelo teórico descreve o processo de comunicação entre um emissor (ou fonte), um transmissor, um canal, um receptor e um destinatário. Este modelo não aborda explicitamente a acessibilidade comunicacional e os aspectos sociais e culturais que envolvem a comunicação, mas suas etapas e componentes podem ser vistos de maneira análoga para mapearmos o processo da acessibilidade relacionada ao fluxo da comunicação: acessibilidade na fonte, ou seja, no emissor; acessibilidade no canal, o meio que é transmitida a mensagem; redução do ruído, que são obstáculos que podem dificultar a compreensão da mensagem; e acessibilidade no receptor e destinatário, que é essencial garantir que o receptor final da mensagem possa decodificar e compreender a informação.

Figura 1 - Modelo Matemático de Comunicação de Shannon e Weaver

             

Fonte: Imagem elaborada pela autora.

No contexto de pessoas com deficiência auditiva, podemos evidenciar como esse modelo pode ser aplicado. Fonte de Informação: a fonte de informação neste contexto pode ser uma pessoa ou entidade que deseja transmitir uma mensagem para pessoas surdas. Isso pode incluir indivíduos, organizações, instituições, ou mesmo um sistema de informações automatizado. Codificação: a codificação refere-se à transformação da mensagem da fonte em uma forma que seja acessível aos surdos. No contexto de acessibilidade comunicacional, isso pode envolver a tradução da informação para a língua de sinais local, a utilização de legendas em vídeos, ou o uso de imagens e gráficos explicativos. Canal de Comunicação: representa o meio pelo qual a mensagem é transmitida aos destinatários surdos. Para acessibilidade, é importante escolher canais que sejam eficazes para pessoas surdas, como vídeo, texto, ou linguagem de sinais em vídeo. Decodificação: é o processo pelo qual os destinatários surdos interpretam a mensagem. Isso inclui a leitura de legendas, a observação de vídeos em língua de sinais ou a interpretação de textos escritos. Destinatário: os destinatários são as pessoas surdas que recebem a mensagem. É fundamental garantir que a mensagem seja adaptada às necessidades individuais dos destinatários, considerando fatores como a língua de sinais preferida, o nível de proficiência na leitura labial, ou quaisquer outras necessidades específicas de comunicação. Ruído: o ruído pode ser qualquer interferência que prejudique a comunicação. No contexto da acessibilidade para surdos, isso pode incluir má qualidade de vídeo, legendas mal sincronizadas ou qualquer obstáculo que dificulte a compreensão da mensagem. Feedback: o feedback é a resposta dos destinatários, que pode ser essencial para avaliar a eficácia da comunicação e fazer ajustes conforme necessário. Isso pode envolver a coleta de comentários dos destinatários surdos sobre a acessibilidade da comunicação.

É importante ressaltar que a acessibilidade comunicacional para pessoas surdas não é uma abordagem única. A comunidade surda é diversa em termos de necessidades e preferências, o que torna fundamental considerar a individualidade de cada pessoa surda ao implementar estratégias de acessibilidade.

 

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa de abordagem mista, visto que envolveu a coleta de dados quantitativos por meio de questionários e a interpretação de relatos de uma entrevista semiestruturada, proporcionando uma compreensão abrangente do assunto no período de agosto a outubro de 2023. A opção por realizar apenas uma entrevista se deu em razão das dificuldades de acesso à comunidade surda, que, por diversos fatores históricos e sociais, tende a ser mais reclusa e de difícil aproximação para fins de pesquisa. Em relação aos objetivos, é exploratória, na medida em que trata de tema pouco abordado na literatura brasileira, e descritiva, uma vez que objetivou detalhar as características dos discentes surdos ativos na UFPB (Gil, 2008).

A pesquisa de campo foi realizada para coletar dados no ambiente informacional em que ocorre o fenômeno estudado. A população do estudo consistiu em 20 discentes com deficiência auditiva matriculados na UFPB, com uma amostra de 12 participantes distribuídos entre todos os cursos da universidade. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários estruturados, contendo questões fechadas e abertas, e entrevistas semiestruturadas, focando na vivência acadêmica, entraves e estratégias dos participantes, e analisados por meio de uma estatística descritiva.

Para isso, os dados foram coletados eletronicamente, via plataforma Google Forms, e-mails e chat de mensagens. Foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para assegurar os princípios éticos e a compreensão dos participantes acerca de todos os aspectos relevantes do estudo.

Já para os dados das entrevistas, adotou-se a análise de conteúdo, conforme proposto por Bardin (1977). Essa abordagem envolveu a identificação e categorização sistemática do conteúdo das mensagens contidas na entrevista semiestruturada. Por meio desse processo, foi possível extrair informações qualitativas e significativas dos relatos dos participantes, identificando as principais dificuldades que enfrentam no ambiente acadêmico, avaliando as políticas de acessibilidade comunicacional da universidade e compreendendo as estratégias desenvolvidas por esse grupo para enfrentar os desafios do ensino superior. Para desagregar as mensagens em unidades de análises, foram usadas unidades de registros e as unidades de contexto (Bardin, 1977). Pela unidade de registro, optou-se pelo “Tema”, através do qual podem-se formular inúmeras observações, e que é uma abordagem bastante responsável para respostas abertas em questionários.

Essa análise combinada proporcionou uma compreensão aprofundada das experiências dos alunos com deficiência auditiva no ambiente acadêmico, considerando tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos.

 

5 RESULTADO E DISCUSSÃO

A seguir é apresentada a análise dos resultados do questionário projetado para investigar e identificar os problemas que estudantes surdos enfrentam no ambiente acadêmico do ensino superior, e as estratégias utilizadas pelos mesmo para tentar enfrentá-los. Ao analisar os dados coletados, buscamos identificar as principais barreiras atitudinais, comunicacionais e estruturais que afetam a participação plena e bem-sucedida dos estudantes surdos no ensino superior.

O primeiro ponto analisado é o perfil dos estudantes surdos participantes. A maioria (58,3%) se identifica como surda total, enquanto 41,7% possui algum grau de audição. Embora esses dados sejam específicos do contexto da UFPB, eles ajudam a desenhar um panorama sobre a diversidade dentro do próprio grupo de pessoas com deficiência auditiva. Essa diferença, no entanto, não diminui a existência de barreiras comuns. O fato de todos enfrentarem obstáculos semelhantes mostra que o foco da inclusão precisa estar mais nas condições oferecidas do que nas classificações médicas. Sobre o gênero, os dados indicam uma divisão igual entre homens e mulheres. Apesar de não parecer relevante em um primeiro olhar, é importante lembrar que a inclusão não se faz apenas com acessibilidade física e comunicacional, mas também considerando recortes sociais que podem atravessar a experiência universitária, como gênero, raça e classe.

Quanto à distribuição dos horários de estudo, metade dos estudantes surdos se encontra matriculada em período integral, enquanto a outra metade se distribui entre turnos matutino, vespertino e noturno. Essa carga horária mais extensa pode contribuir significativamente para a sensação de isolamento no ambiente acadêmico, principalmente quando os serviços de acessibilidade, como intérpretes de Libras, não acompanham todas as atividades curriculares. A ausência de suporte integral ao longo da rotina diária compromete a vivência universitária desses estudantes, que passam a ocupar o espaço sem, de fato, estarem incluídos nele. Esse cenário, embora identificado na UFPB, não é exclusivo desta instituição. Estudos como os de Skliar (1998) e Quadros (2004) já apontam que a simples presença de estudantes surdos nas universidades não garante inclusão, especialmente quando os recursos de acessibilidade não estão disponíveis de forma contínua e integrada ao cotidiano acadêmico. A inclusão não deve ocorrer apenas de forma pontual ou simbólica, mas precisa ser estruturada de modo a garantir a participação plena e autônoma dos estudantes em todas as dimensões da vida universitária. Quando a acessibilidade está condicionada a momentos específicos (aulas teóricas, por exemplo), e não se estende a outras experiências formativas (como grupos de estudo, eventos, estágios ou atividades extracurriculares), cria-se um ambiente fragmentado, no qual o estudante está presente, mas não consegue participar com equidade. Essa lógica acaba por reforçar a exclusão simbólica: o estudante está no mesmo espaço, mas com uma vivência profundamente diferente dos colegas ouvintes, o que pode comprometer tanto seu desempenho acadêmico quanto seu bem-estar subjetivo e social.

Em relação à faixa etária, a maioria dos participantes (66,7%) tem 30 anos ou mais, indicando uma maturidade acadêmica significativa, fato devido a uma parcela considerável dos participantes pertencerem ao programa de pós-graduação. As graduações em que estão matriculados incluem pedagogia, pedagogia do campo, fonoaudiologia, direito, letras libras, mestrado em letras libras e gastronomia. As áreas de formação também revelam um interesse voltado para campos onde a comunicação e a mediação social estão no centro, isso sugere que essas pessoas também buscam transformar os espaços que as atravessam.Este contexto multifacetado destaca a necessidade de abordagens inclusivas e estratégias de apoio específicas para atender às características desta população discente.

Quando se trata do acesso aos recursos de inclusão institucional, todos os participantes demonstraram conhecer o Comitê de Inclusão e Acessibilidade da UFPB. Esse reconhecimento é um ponto positivo, pois mostra que o comitê está visível dentro da universidade. No entanto, apenas metade conseguiu, de fato, utilizar os serviços de intérprete em Libras ao longo do curso. Isso indica que conhecer o serviço não garante o acesso real a ele.

 Essa diferença entre o que está disponível e o que é, de fato, acessado aponta para uma falha na articulação entre as políticas e a vivência cotidiana dos estudantes. Muitas vezes, o problema não está na ausência da política, mas na sua pouca efetividade prática. Como destaca Borges (2014), não basta existir uma política de inclusão, ela precisa ser compreendida, acessível e estar presente na rotina da universidade. Quando a informação sobre esses recursos não circula bem, ou quando o acesso depende de processos burocráticos, cria-se uma barreira invisível, mas que impacta diretamente a permanência desses estudantes.

A maioria dos participantes (75%) relatou experiências desafiadoras, destacando problemas de colaboração por parte de alguns docentes, que não se mostraram dispostos a facilitar sua adaptação em sala de aula. Além disso, os alunos enfrentam obstáculos na compreensão dos conteúdos devido a diversas fontes de ruído, como o barulho no ambiente, o eco na sala e a velocidade da fala de colegas e professores, assim descritas por eles. A necessidade de aprender de maneira mais simplificada é uma demanda recorrente, pois os alunos com deficiência auditiva requerem mais tempo para assimilar as informações, como já foi trabalhado por Marta Gil (2005). A dificuldade em acompanhar as aulas é agravada quando a expressão labial dos professores não é clara. Esses relatos colocam em evidência que a acessibilidade comunicacional vai muito além da presença de intérpretes em sala. Trata-se de uma experiência mais ampla, que envolve atitudes pedagógicas, condições físicas do ambiente, ritmo das aulas e até mesmo o modo como o docente se comunica visual e oralmente. Quando essas variáveis não são consideradas, o processo de aprendizagem se torna fragmentado e, muitas vezes, frustrante para o estudante surdo.

Adicionalmente, conforme apontado por Romeu Sassaki (2006), barreiras comunicacionais e atitudinais são muitas vezes invisíveis, mas profundamente limitadoras, impactando negativamente a experiência educacional de estudantes com deficiência. Ele argumenta que a acessibilidade comunicacional deve ser um esforço contínuo, envolvendo não só recursos, mas também mudanças culturais no ambiente educacional. Esse entendimento é ampliado por Pletsch e Glat (2012), que reforçam que as barreiras mais difíceis de romper são justamente aquelas que não estão evidentes no espaço físico, mas que se expressam nas interações cotidianas, na falta de preparo docente e na ausência de escuta ativa às demandas dos estudantes com deficiência. Para as autoras, garantir o acesso à comunicação é tão fundamental quanto garantir o acesso físico às salas e isso só acontece quando a instituição reconhece a diferença como parte da sua composição.

Existe uma disparidade na percepção sobre a integração de estudantes surdos em seus cursos que pode estar diretamente relacionada ao contexto acadêmico em que estão inseridos. Um elemento que se destaca nesta pesquisa é o fato de parte dos participantes (25%) estar vinculada ao curso de pós-graduação em Letras Libras, uma formação que tem como base a própria Língua Brasileira de Sinais. Esse curso naturalmente oferece um ambiente mais favorável à inclusão, não apenas por facilitar a comunicação entre professores e alunos, mas também por valorizar e reconhecer a cultura surda como parte legítima da vivência acadêmica. A convivência com outros colegas com deficiência auditiva que também cursam o mestrado em Letras Libras pode desempenhar um papel crucial na integração desses estudantes, pois compartilham experiências semelhantes e podem oferecer apoio mútuo, que vai além da simples adaptação de recursos, mas também se estende ao desenvolvimento de um ambiente acadêmico mais inclusivo e acolhedor. Esse apoio mútuo entre colegas com deficiência auditiva é essencial para a construção de um espaço acadêmico verdadeiramente inclusivo, pois ajuda a fortalecer a identidade surda e proporciona um senso de pertencimento, enfatiza que a inclusão não é apenas sobre a oferta de recursos, mas também sobre a criação de uma cultura institucional que valorize as diferenças e promova a equidade (Figueira, 2019).

Em contrapartida, a parcela de estudantes surdos que estão inseridos em turmas de graduação mistas, onde a maioria dos colegas não possui deficiência auditiva, frequentemente enfrentam desafios significativos de comunicação, levando ao fato de não se sentirem integrados em suas respectivas turmas.

A percepção dos estudantes surdos sobre a disposição de seus colegas em participar de atividades acadêmicas conjuntas revela nuances importantes sobre a cultura de inclusão no ambiente universitário. Ainda que haja sinais de abertura por parte de alguns colegas, a experiência relatada mostra que essa disposição não é homogênea nem plenamente consolidada. Em muitos casos, a colaboração ocorre, mas de forma pontual e condicionada a situações específicas, o que sugere que a convivência ainda não foi naturalizada como prática cotidiana. Esse cenário aponta para uma inclusão que, embora prevista institucionalmente, ainda encontra obstáculos quando colocada em prática.

As diferentes percepções sobre inclusão no contexto da UFPB parecem estar diretamente ligadas às experiências distintas vividas pelos estudantes surdos da pós-graduação em Letras Libras e pelos que frequentam cursos de graduação com turmas mistas. No primeiro caso, o próprio desenho do curso voltado para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e para a valorização da cultura surda já proporciona um ambiente mais receptivo e sensível às necessidades desses estudantes. Ali, a comunicação flui com mais naturalidade, o pertencimento é fortalecido, e os desafios da inclusão são atenuados por um espaço mais preparado, tanto linguística quanto culturalmente. Por outro lado, os cursos com turmas mistas tendem a enfrentar limitações mais evidentes. A ausência de formação em Libras por parte de colegas e professores, a escassez de intérpretes qualificados e a falta de adaptação estrutural e pedagógica dificultam a vivência plena da inclusão. Isso gera, nos estudantes surdos desses contextos, uma sensação de desvantagem, não necessariamente por falta de capacidade, mas por carência de suporte institucional. 

Diante disso, fica evidente que coexistem duas realidades muito diferentes dentro da mesma universidade. Enquanto uns vivenciam um ambiente mais acolhedor e culturalmente alinhado às suas necessidades, outros enfrentam obstáculos cotidianos que impactam sua percepção sobre a efetividade das políticas de inclusão. Essa disparidade reforça a importância de se pensar a inclusão não como uma ação isolada, mas como um princípio que precisa atravessar todos os cursos e espaços da instituição.

Além disso, a maneira como os próprios estudantes surdos enfrentam essas barreiras revela um cenário de resistência e criatividade. Estratégias como leitura labial, apoio de intérpretes, uso de recursos tecnológicos e adaptação do ritmo de aprendizagem mostram o esforço contínuo para permanecerem ativos na vida acadêmica, mesmo diante das dificuldades. Esse movimento, no entanto, não deve ser interpretado como solução autossuficiente. Pelo contrário: ele evidencia a urgência de uma universidade que acompanhe esse esforço com políticas mais eficazes, ações concretas e ambientes verdadeiramente acessíveis.

Além dos dados dos questionários, foi realizada uma entrevista no sentido de complementar o entendimento sobre a perspectiva do aluno com deficiência auditiva e as estratégias abordadas por ele para se manter no ensino superior. Assim foram elaborados três (3) quadros para auxiliar essa etapa de pré-análise, observando-se as questões mais relevantes respondidas pelo entrevistado, de acordo com o objetivo 4 da pesquisa. No Quadro 1 podem ser observadas as respostas do entrevistado.

Quadro 1 – Questões e respostas da entrevista

Questões

Respostas

Como funciona quando você tem trabalhos que exigem apresentação, como um seminário por exemplo, você participa ou faz outro tipo de avaliação? Se participa tem ajuda de intérprete?

Quando se trata de trabalhos que envolvem apresentações, como seminários, a situação pode ser desafiadora para mim como discente surdo. Em muitos casos, a disponibilidade de um intérprete de língua de sinais pode ser limitada devido a restrições orçamentárias ou à falta de intérpretes qualificados na instituição, como estamos no momento. Isso significa que, frequentemente, não tenho acesso a um intérprete para traduzir o conteúdo da apresentação para a língua de sinais, o que torna difícil a minha participação direta. Em casos excepcionais em que não é possível encontrar uma solução alternativa viável para as apresentações, os professores podem considerar avaliações alternativas que não envolvam apresentações orais. Isso pode incluir avaliações por escrito, projetos individuais ou outras formas de avaliação que não dependam do formato de apresentação tradicional.

Como funciona a dinâmica em trabalhos em grupo?

 

A dinâmica de trabalhar em grupo pode ser um aspecto desafiador da minha experiência acadêmica como discente surdo, mas também oferece oportunidades para aprendizado e crescimento. Quando é possível trabalhar em grupo é importante que entendam que talvez precise de uma flexibilidade maior e um prazo de entrega extra, como também sempre pontuo a questão do desempenho da avaliação individual.

Como está sendo sua rotina de estudos na universidade em acompanhamento de intérpretes?

Minha rotina de estudos na universidade sem o acompanhamento de um intérprete tem sido conturbada, mas também me motivou a desenvolver habilidades de autodidatismo e buscar maneiras alternativas de acesso aos conteúdos. Sempre tento fazer uma preparação antecipada solicitando materiais de leitura e recursos que possam ser disponibilizados e, quando possível, aplicativos de legendagem.

Você sente que está em desvantagem em relação aos seus colegas?

 

Embora eu enfrente desafios específicos devido à minha surdez, não diria necessariamente que estou em desvantagem em relação aos meus colegas. Acredito que todos os estudantes têm suas próprias forças e desafios individuais, e a diversidade de experiências e perspectivas enriquece nosso ambiente acadêmico. No entanto, é importante reconhecer que minha experiência acadêmica pode ser diferente da dos meus colegas ou exigir esforços adicionais para superar obstáculos de acesso.

Já passou por alguma situação discriminatória em sala de aula?

 

 

Sim, infelizmente já passei por algumas situações discriminatórias em sala de aula devido à minha surdez. É importante falar que a discriminação pode assumir várias formas, desde a falta de compreensão até comportamentos preconceituosos ou insensíveis.

Quais recursos você utiliza para conseguir acompanhar aulas com intérprete?

 

 

Para acompanhar as aulas sem a presença de um intérprete de língua de sinais faço uso de transcrições automáticas (legendagem), solicitação de material antecipado, quando consigo, raramente, leitura labial. Não sou muito bom nessa última.

Em relação a porcentagem remota (EAD) do teu curso, como aulas palestras online, você consegue acompanhar ou se sente prejudicado?

Pode representar um desafio adicional para mim, mas como uso de recursos de acessibilidade estratégias adequadas, é possível superar esses obstáculos. A minha capacidade de acompanhar aulas online depende muito disso.

Juntamente as palestras presenciais, consumam ser traduzidas em libras? Senão, como faz pra acompanhar?

 

Normalmente as palestras do curso são traduzidas apenas se tem recurso disponível, como estamos sem disponibilidade de intérpretes no momento é bem difícil de acontecer

Fonte: Elaborado pela autora

 

No Quadro 2 foram elencadas as seguintes percepções que resumem as respostas do entrevistado: Avaliação Flexível; Solicitação de Material Antecipado; Legendagem ou Transcrições; Disponibilidade de Intérpretes; Desenvolvimento de Habilidade e Autodidatismo. A Disponibilidade de Intérpretes (62,5%) ocupou maior parte do discurso do entrevistado quando este foi perguntado sobre fatores importantes para sua vida acadêmica, principalmente no que diz respeito à aulas e palestras, síncronas e assíncronas, e apresentações de avaliações, sendo tido como fundamental para integração total e fator equitativo para o acesso ao ensino de maneira mais acessível.

Na sequência, observa-se que para se manter no nível da turma é preciso que o entrevistado solicite materiais e recursos de maneira antecipada aos seus docentes (25%), ponto que considera necessário para conseguir assimilar o conteúdo durante a exibição das aulas. Com a mesma frequência, notou-se que Avaliação Flexível (25%) é algo que faz parte da adaptação de ensino do entrevistado, já que no segmento da educação nem sempre existe o conhecimento necessário para assistir às suas necessidades, sendo um ponto essencial para validar seu desempenho acadêmico. Ainda com a mesma taxa de 25% tem-se as tecnologias assistivas de Legendagem ou Transcrições. O entrevistado pontua que usa esses recursos para garantir que consiga acompanhar suas aulas e palestras quando está sem a presença de um intérprete de Libras. Sassaki (2006) argumenta que o uso de tecnologias assistivas é essencial para minimizar as barreiras de comunicação, proporcionando maior autonomia aos estudantes com deficiência auditiva. Por último, é citado pelo entrevistado o desenvolvimento de Habilidades e Autodidatismo (12,5%) para lidar com as situações em sua rotina acadêmica. A criatividade é vista como necessária para criar estratégias que consigam barrar a falta de acessibilidade. Quanto à categorização, as respostas foram agrupadas pelos cenários: Desafios e Estratégias. O percentual apresentado em cada categoria indica a proporção de menções feitas pelo entrevistado a cada cenário em relação ao total de respostas analisadas. Assim, conforme a entrevista, tem-se o Quadro 3:

Quadro 2 – Cenários

Cenários

Proporções

DESAFIOS

“Quando se trata de trabalhos que envolvem apresentações, como seminários, a situação pode ser desafiadora para mim como discente surdo.”

“A dinâmica de trabalhar em grupo pode ser um aspecto desafiador da minha experiência acadêmica como discente surdo.”

“Pode representar um desafio adicional para mim” (Referente ao EAD)

50%

ESTRATÉGIAS

“Desenvolver habilidades de autodidatismo e buscar maneiras alternativas de acesso aos conteúdos.”

“Sempre tento fazer uma preparação antecipada solicitando materiais de leitura e recursos que possam ser disponibilizados e, quando possível, aplicativos de legendagem.”

“Para acompanhar as aulas sem a presença de um intérprete de língua de sinais faço uso de transcrições automáticas (legendagem), solicitação de material antecipado, quando consigo, raramente, leitura labial. Não sou muito bom nessa última.”

50%

Fonte: Elaborado pela autora

Assim, conforme o Quadro 3, percebe-se que, para o entrevistado, os Desafios (50%) se destacam como o cenário mais relevante, reunindo pontos que dificultam seu acesso ao Ensino Superior. Na mesma proporção (50%), surgem as Estratégias, que representam as ações adotadas pelo participante para se manter no ambiente acadêmico, ainda que exponham a carência de assistência e de acessibilidade frente às suas necessidades.

Segundo Lima (2017), a ausência de intérpretes de Libras em contextos acadêmicos figura entre as principais barreiras para a inclusão de estudantes surdos, aspecto igualmente ressaltado pelo entrevistado ao reforçar a importância da presença desses profissionais em sala de aula. Estratégias como o uso de transcrições automáticas e a solicitação antecipada de conteúdos, como apontado por Bersch (2020), são recursos utilizados para atenuar as dificuldades comunicacionais. Sanches & Silva (2019) também evidencia as limitações enfrentadas em atividades de dinâmica em grupo, sobretudo em turmas mistas e sem conhecimento da Língua de Sinais, o que constitui um obstáculo adicional à participação plena desses estudantes nas avaliações e discussões acadêmicas.

Metodologicamente, essa etapa envolveu a identificação e categorização sistemática do conteúdo da entrevista semiestruturada, de forma a quantificar e qualificar os principais pontos destacados pelo participante.

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do estudo foi alcançado ao investigar de forma detalhada os principais desafios enfrentados por pessoas com deficiência auditiva nos processos sociais de comunicação dentro do ensino superior, com ênfase na acessibilidade comunicacional para a inclusão desses discentes. A pesquisa permitiu traçar um panorama sobre a situação da inclusão de indivíduos surdos, evidenciando as barreiras e dificuldades que eles enfrentam nos contextos acadêmicos da UFPB.

É evidente que os desafios enfrentados por estudantes universitários com deficiência auditiva nos processos comunicacionais são complexos e multifacetados. As descobertas destacaram a importância de promover uma mudança significativa no ambiente acadêmico para garantir uma educação inclusiva e equitativa para todos os estudantes, independentemente de suas capacidades auditivas.

Nesse sentido, algumas recomendações surgem a partir deste trabalho. Primeiramente, é importante investir na formação de professores, funcionários e colegas, a fim de garantir que todos compreendam as necessidades dos estudantes com deficiência auditiva. Além disso, é imperativo melhorar a acessibilidade física e tecnológica das instituições de ensino, fornecendo recursos como amplificadores de som e sistemas de loop de indução. A disponibilização de intérpretes de Libras e recursos de acessibilidade, como transcrições e legendas, também é essencial. Promover a inclusão social, incentivar a formação de grupos de apoio e redes de estudantes, bem como continuar a pesquisa para avaliar as políticas de inclusão, são ações complementares importantes.

Por fim, é fundamental envolver os estudantes com deficiência auditiva na advocacia por suas próprias necessidades e desenvolver recursos educacionais adaptados às suas necessidades específicas. Ao adotar essas medidas, as instituições de ensino superior podem desempenhar um papel fundamental na promoção da igualdade de oportunidades e na criação de um ambiente acadêmico inclusivo onde todos os estudantes possam prosperar plenamente.

As limitações deste estudo são inerentes ao seu escopo e à complexidade do tema abordado. Primeiramente, vale ressaltar a quantidade restrita de participantes, o que pode limitar a generalização dos resultados. Além disso, a dificuldade de acesso à comunidade de surdos da UFPB e a escassez de intérpretes disponíveis para auxiliar nas traduções foram obstáculos significativos para a coleta de dados. Também é importante mencionar a necessidade de abordar outras dimensões da comunicação no questionário, como o papel das tecnologias para o acesso à informação. Como também, a falta de uma comunicação efetiva 31 dentro da universidade sobre o tema da surdez e da inclusão de surdos pode ser vista como uma barreira adicional. Essas limitações apontam para a necessidade de futuras pesquisas e ações que abordem essas questões de forma mais abrangente e aprofundada, visando promover uma inclusão mais efetiva e acessível para a comunidade surda na UFPB e em outras instituições de ensino

 

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[1] Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba; Grauada em Relações Públicas- UFPB, atualmente produzindo pesquisa no campo da Acessibilidade Comunicacional.

[2] Pós-Doutorado em Ciências e Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro (UA), Portugal. Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduado em Comunicação Social - Relações Públicas - pela UFPB. Professor Adjunto do Departamento de Comunicação da UFPB. Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPB. Professor Visitante no DigiMedia do Departamento de Comunicação e Arte da UA (2019-2020) pelo Programa de Professor Visitante no Exterior (PVEx/CAPES). Vice-Coordenador e Coordenador do Curso de Relações Públicas da UFPB (2018-2020 e 2021). Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB (2023-2025). Editor da Revista Culturas Midiáticas (2019-2020). Co-lider do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sociologia, Comunicação e Informação (GEPSCI/UFPB/CNPq). Colabora com o Grupo eHealth and Wellbeing do DigiMedia (UA).

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