Sociedade da informação para as comunidades indígenas

 

] Quando nós, os povos indígenas, tivermos acesso às informações detalhadas de cada aldeia, evidenciando as nossas diferenças, nos tornaremos mais resistentes para preservar a nossa identidade das invasões. Estaremos conversando entre nós e com os demais povos, por meio de sistemas de comunicação mais atualizados sobre os nossos negócios, nossas cerimônias, nossos cânticos e sempre realizando estudos comparativos para que não sejamos confundidos ou direcionados pelos sistemas externos. Esta é a importância de ter as tecnologias nas comunidades indígenas.[...] Nós precisamos desse diálogo para contar novamente a nossa história.[...]

MARĨ YÉ MAKÃRĨ KHÃSÉ MHASĨRÃ, MARĨ NISHETI SHERE ÑÕ'ORÃ, PITI MARĨ KHITI MO'ÕRĨRẼ MA'IRÃSA MARI YERE ÚKỮRÃ HAPẼRÃ ME´RÃ, DA'RASHERÉ, BHASESHERE, BHASA MO'ÕRĨRẼ AÑURÕ ÚKỮ MIPÕTEO NI'KÕRÃSÁ. THO WERÃ ATÉ “TECNOLOGIA” WAMETISHÉ ME'RA DA'RÃRÃ ÃÑURO MARI YERE UKU WE MHORÕ NĨ'KORÃ...

 

APRESENTAÇÃO 1

Esta entrevista surgiu da demanda de Álvaro Tukano, líder indígena da etnia Tukano 2, Amazonas, ao diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), professor Emir José Suaiden, para incluir digitalmente as comunidades indígenas do Alto Rio Negro (Balaio, Pari Cachoeira e Taraquá) na sociedade da informação.

As questões relacionadas à solicitação do líder indígena no que se refere à inclusão na sociedade da informação têm sido analisadas por especialistas do Instituto, contemplando-se os aspectos sociais demandados de maneira conscienciosa.

Para o levantamento dessas questões, adotou-se preliminarmente a abordagem etnográfica de Ludke e André3 (1996), que consiste na utilização do ambiente natural como principal fonte de dados e também no envolvimento direto do pesquisador com seu objeto de estudo.

A aplicação desta metodologia no tratamento das questões delineou duas ações: entrevista com o líder indígena e visita ao local para melhor identificação da demanda.

A partir da entrevista realizada, abaixo transcrita, aspectos de relevância quanto à complexidade da solicitação proposta pelo líder indígena apontaram para a necessidade de articulação com instituições especializadas tanto em questões indígenas, educacionais e em infra-estrutura tecnológica, quanto com consultores especializados e/ou pesquisadores, em reuniões promovidas conjuntamente com o Instituto.

Como resultado dessa articulação e das reuniões realizadas, encontra-se atualmente em desenvolvimento um estudo conjunto entre Ibict (Ministério da Ciência e Tecnologia), Funai (Ministério da Justiça) e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Ministério da Educação) para a implantação posterior de um projeto-piloto. E, também, estão sendo consideradas outras iniciativas relacionadas à natureza deste estudo.

1 Epígrafe da entrevista apresentada em língua tucano.

2 Álvaro Fernandez Sampaio é funcionário da Diretoria de Assistência da Fundação Nacional do Indio (Funai), Brasília.

3 LUDKE, M.; ANDRÉ, M.D.A. Pesquisa em educação : abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

Neste estudo preliminar, pretende-se analisar as condições de implantação de um programa para a capacitação tecnológica que favoreça a aprendizagem informacional e digital, a elaboração de material de apoio adequado à realidade local e inclua a doação de microcomputadores, impressora e scanner, infra-estrutura e suporte tecnológico nas três comunidades designadas pelo líder indígena.

Paralelamente à realização deste estudo, a doutora Cecília Leite de Oliveira agregou ao Programa de Inclusão Social do Ibict, sob sua coordenação, uma ação denominada Corredor Digital das Etnias Indígenas.

Inclusão Social – Como o termo etnia é trabalhado na sua concepção e que implicações ele exerce no significado do “ser índio”?

Álvaro Tukano – Na nossa autodenominação, somos Yepá Mahsã, ou Yepá Diró Mahsã, significa que somos os habitantes desta terra – que é composta de água e composta pelos animais, dentre os quais nós figuramos como parte do mundo. Então, nós somos animais desta terra: nós somos o povo Yepá Mahsã.

Depois de muito tempo, nós fomos considerados como Tukano, que é um apelido que, por ser muito recente, não condiz com a nossa realidade. Esse apelido refere-se a um pássaro – tucano – que, quando come, fica quietinho. O nosso povo, quando visitava uma cidade, ao comer, ficou “quietinho”. Nesse momento, uma menina que nos observou, disse: “Vocês mais parecem tucanos: quando comem, ficam quietos; quando não comem, fazem muito barulho”. E, até hoje, esse apelido ficou difícil de ser apagado na mente de muita gente.

Igualmente, acontece com o uso da palavra índio aplicada ao nosso povo. Nós somos chamados índios pelos não-índios, como pessoas que já habitavam aqui, com comportamentos diferentes dos portugueses, dos espanhóis, pois pensamos bem diferente deles. E, hoje, continuamos pensando como os nossos antepassados. No entanto, outros índios – que hoje são letrados – acham que nós temos de “deixar de ser índios”. Mas isto é muito difícil, porque a “nossa cabeça é muito dura”. Preferimos ser índio a sermos portugueses, romanos, russos ou japoneses. Eles, por sua vez, também são “cabeça dura”, pois não querem ser índios. Yepá Mahsã não quer ser português ou japonês. Essa é a dificuldade que nós encontramos.

Nós não somos índios, nós somos o povo Yepá Mahsã. Nós não somos Tukano, nós continuamos Yepá Mahsã. Mas, como é mais cômodo para quem nos observa, tratar-nos como “tukano”, nós continuamos como tal e vivemos hoje no Rio Negro, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela. Somos um povo simples, como tantos outros, mas temos lembranças do passado e vivemos mais no tempo dos antepassados do que na modernidade.

Nós não prevíamos que este mundo daria tantas voltas. Hoje, nós fomos rebocados pela ganância, pelo capitalismo e nós somos obrigados a sobreviver. Por isso é que eu estou aqui: para sobreviver.

Inclusão Social – Qual é o lugar do povo Yepá Mahsã?

Álvaro Tukano – O planeta terra é o nosso mundo, como o é para todos. Nós temos muitas lembranças dos nossos antepassados que saíram do outro lado da terra. Eles, sem dúvida, vieram do Japão, do oriente. Esse mundo de hoje é considerado por nós como sen-do o wami diá4 – o outro lado da terra.

Nós temos uma história sobre o percurso que nós fizemos ao longo de muitos anos, um percurso antigo que terminou no rio que nós chamamos de Ohpekõ diró5. A nossa vida narra a história da transformação da humanidade do mundo das águas, depois de nos adaptarmos aqui, saídos das águas para a terra. 6

4 wami dia – rio Umari

5 Ohpekõ diró – terra de leite, atribuído ao estado do Rio de Janeiro.

6 O povo Yepã Mahsa é também conhecido como gente-peixe, e sua existência na terra é conseqüência de uma transição do estado de peixe para seres humanos.

Nossos primeiros contatos com a terra, aqui no novo mundo, deram-se no que hoje é o atual Rio de Janeiro. E a nossa trajetória veio se expandindo no sentido norte, conhecendo os lugares bonitos, como é a terra dos camarões, que hoje é a atual Bahia, terra do sal. Nós ficamos na terra do açaí, onde se situa a metade do mundo, por onde passa a linha imaginária do Equador, e fomos pesquisando e avançando até chegarmos à cachoeira de Ipanoré, o que, na nossa história, corresponde ao segundo capítulo da nossa evolução.

Os que conhecem essa história somos nós e outros tantos povos, por ser esta a nossa verdadeira história. Então, estas coisas nós não devemos esquecer porque fazem parte da nossa civilização. O nosso grande desejo hoje é mostrar como a nossa história de geógrafos antigos funciona atualmente.

Nós também tínhamos o conhecimento astronômico, e os nossos antepassados observaram qual seria o modo mais fácil de estabelecer-se no local, que seria a metade do mundo, vendo o nascer e o pôr-do-sol. Os nossos antepassados acertaram, muito embora não soubessem escrever. Atualmente, nós estamos conscientes de que é necessário registrar os nossos co-nhecimentos, pois a história muda quando nós mesmos a escrevemos. E assim é que o Brasil deve nos representar.

Antigamente, o Brasil era habitado pelos povos que não sabiam escrever, esses povos éramos nós, que éramos ágrafos, repassando a tradição oral de pai para filho, de pai para mãe, tomando auásca e outras coisas7. Esta era a nossa universidade, que sempre funcionou melhor, dia e noite ouvindo os conselhos dos mais velhos.

Hoje, eu posso falar por meio de um microfone com pessoas que eu nunca pensei poder me comunicar, em uma sociedade não-indígena. Embora sejamos nós os estranhos a esta sociedade, é ela que demanda de nós um comportamento que seja considerado “direito” no mundo.

Inclusão Social – A tecnologia é uma realidade estranha ou um invasor para os Yepá Mahsã?

Álvaro Tukano – O que vivenciamos hoje, na verdade, é uma realidade que já aconteceu anos atrás. Por exemplo, quando chegamos à cachoeira de Ipanoré naquele barco8 que parecia ser misterioso. Os nossos homens antigos deviam ter uma tecnologia diferente para se esconder dos animais perigosos – fazendo cerimônia, ou, às vezes, enfrentando mesmo estes animais e estudando o meio ambiente. E onde nós ficamos hoje, que é o Alto Rio Negro, deve ter sido um dos melhores lugares descoberto por eles.

Contudo, ocorreram mudanças com o tempo. Chegaram os espanhóis, os portugueses e, posteriormente, os comerciantes e os religiosos. Hoje, nós estamos inseridos como brasileiros. Nós dependemos mais da direção de outras pessoas que aqui chegaram, como os governantes, as escolas, os métodos. Como nós não dispomos de uma igualdade de força para falar o que que nós somos, vemo-nos obrigados a seguir a cartilha de São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Roma, ou dos Estados Unidos. Não é porque sejamos inferiores, mas, sim, porque sempre nos faltou uma maneira de contrapor toda a verdade, ou cer-teza, que parte do pensamento deles.

Tudo isso nos faz lembrar a chegada da tecnologia. Naquela época, assim como o nosso barco chegou, também levou consigo toda uma tecnologia de volta. Mais tarde nós ouvimos falar do Kamaueni9, que foi um grande sábio.

O sábio Kamaueni, que foi punido por sua transgressão ao ritual, fez de seu sofrimento um conhecimento físico para se comunicar a distância 10. Kamaueni dupua11, para nós, é um bicho de onda magnética que se comunica em qualquer parte do mundo e que desapareceu, não existe no mundo do branco. Mas existe na nossa cabeça. Então, todas as vezes que nós ouvimos no Rio Negro a Voz do Brasil, ou a Voz das Américas, ou a voz das emissoras de Bogotá, éKamaueni que se comunica conosco. Kamaueni quer dizer sábio, dupua quer dizer cabeça. As ondas são as comunicações. E estas ondas têm exercido uma influência perigosa para a nossa resistência.

Daí a importância de não disputarmos por uma definição de mundo hoje, porque, quando não havia branco algum, o mundo era um, ou, quando não havia índio algum, o mundo era outro. Agora o mundo já sofreu suas transformações durante o primeiro e o segundo ciclo. Esta é a nossa grande visão: sem dúvida nós somos a terceira geração aqui na face da terra com capacidade de conservar ou acabar com o mundo, visto que as grandes civilizações sempre foram derrubadas por sua própria natureza. E nós fizemos parte desses eventos antigos, sem, contudo, nunca poder registrá-los. A nossa intenção hoje é saber como nós vamos sobreviver, registrar o que será de nós diante de outras transformações.

7 Auásca – bebida fermentada à base de cipós e raízes. Assim como a auásca existem outras bebidas, como, por exemplo, o caxiri.

8 O barco misterioso mencionado faz alusão a uma grande embarcação no formato de uma cobra, conhecida como Cobra-Grande, que abrigou os diversos segmentos da humanidade indígena quando de sua transição das águas para a terra. O local de chegada desta Cobra-Grande foi a cachoeira de Ipanoré.

9 Kamaueni – Sábio cuja iniciação é desvirtuada por uma transgressão às regras do jejum e da abstinência. O desrespeito à primeira restrição importante, jejum, tem por indutor a figura de uma mulher. A mulher causadora deste desvio não é do grupo local, nem do grupo de descendência do sábio em iniciação, sendo, portanto, uma forasteira. Como punição o sábio sofre uma desintegração social representada por sua progressiva fragmentação física e corporal. Ainda que esta punição faça com que lhe reste só a cabeça, ele continua a atuar anti-socialmente, sendo guloso e comendo sozinho. Todas as partes de Kamaueni, quando de sua desintegração física, tornam-se peixes (alimento) nocivos.

10 Versão que para nós tem um cunho metafórico para o fenômeno das ondas magnéticas e que explica os princípios da comunicação radiofônica.

Inclusão Social – A interferência da nossa tecnologia lhes poderia ser útil?

Álvaro Tukano – Antigamente, no Rio Negro, quando chegaram os primeiros fotógrafos, o nosso povo tinha muito medo de se deixar registrar, porque eles, os fotógrafos, estariam “tirando a alma do índio”12, que seria reduzida a uma fotografia, contando a história dos índios a partir de uma versão que não lhes era própria. Isto causou muito medo nos velhos.

Hoje, quando vemos essas fotografias, sentimos saudades de pessoas que nos foram muito importantes, ao mesmo tempo que constatamos a importância de termos mais registros sobre aquela época – isso faria com que não tivéssemos necessidade de ouvir coisas que não nos interessam.

Tão importante quanto a fotografia é a maneira de aprendermos a escrever as nossas coisas na língua Tukano ou em português, o uso do gravador para registro de nossas vozes e o cinema, pois a imagem e os sons que nós fazemos podem ser colocados em uma máquina e projetados em uma tela.

Os recursos para conservar a nossa história, se comparada a dos nossos antepassados, fazem desta uma grande civilização. Durante os últimos 20 anos ou mais, isto não nos foi acessível porque a nossa identidade foi apropriada e confundida com uma visão padronizada do que vem a ser “ser brasileiro”, “ser cristão”, ou qualquer outro cidadão, gerando uma noção de igualdade que não corresponde à nossa realidade. E nós continuamos vivendo como “diferentes”, resistindo para defender as nossas instruções, o nosso modo de vida.

Fomos considerados como pessoas ignorantes, atrasadas, sendo que poucas pessoas conseguiram entender que o “mundo do índio” era diferente. À exceção de algumas pessoas, muitas outras só conseguiam se interessar e dar valor às coisas dos grandes centros urbanos.

E, portanto, nós permanecemos assim ignorados.

Hoje as pessoas começam a entender a importância da história dos povos indígenas, a história das florestas, das plantas medicinais, a história do Brasil. É, portanto, necessário que o índio não permaneça no escanteio, eu penso que ele tem de participar. As pessoas que conheceram o índio só o farão quando entenderem nossos conhecimentos, tratarem deles com a alta tecnologia que o Brasil tem e precisa para conhecer os seus povos indígenas. O Brasil, ou seja, nós, os povos brasileiros, só seremos respeitados quando falarmos de igual para igual.

É desta tecnologia que nós precisamos e não daquela tecnologia voltada para a construção dos grandes prédios, que visa a demonstrar que nós estamos muito bem, quando, na verdade, nós não participamos desta grandeza brasileira. Nós queremos participar como cidadãos brasileiros, falando das nossas grandezas antigas, utilizando esses instrumentos novos para nos comunicarmos com as pessoas que nos interessam e fazer delas nossas grandes aliadas.

11 Kamaueni dupua é a representação de Kamaueni, que, por meio de sua força xamânica, reaparece como sendo apenas uma cabeça .

12 Alma no sentido de força, autenticidade, verossimilhança para com a sua própria história em detrimento da imagem construída pelo outro.

Inclusão Social – De que maneira as tecnologias de comunicação e informação se inserem no futuro indígena?

Álvaro Tukano – As contribuições das tecnologias são simples e difíceis ao mesmo tempo. Elas devem ser construídas por meio de um programa brasileiro para o povo brasileiro ou desenvolvido por pessoas realmente comprometidas com a realidade brasileira. Nós vivemos hoje no Parque Nacional do Pico da Neblina, na região do Morro dos Seis Lagos, que é totalmente diferente de Brasília. Lá nós necessitamos de informações a respeito do Brasil, assim como precisamos dar nossas informações ao país – o que nós não temos conseguido. Um boletim chega por lá com um mês de atraso. O jornal A Crítica , de Manaus, que chega hoje com uma semana de atraso, antigamente atrasava um mês. Notícias que eram antigas, para nós, eram novidades.

Com a velocidade da tecnologia atual, por exemplo, a televisão faz chegar as notícias a qualquer parte do mundo que esteja preparada para recebê-las, e nós somos invadidos. O mesmo ocorre com os nossos filhos, que, embora se sintam bem atendidos de notícias externas, não conseguem expressar o que se passa dentro deles.

Quando tivermos acesso às informações detalhadas de cada aldeia, evidenciando as nossas diferenças, os povos indígenas se tornarão mais resistentes para preservar a sua identidade das invasões. Estaremos conversando, por meio de sistemas de comunicação mais atualizados, sobre os nossos negócios, nossas cerimônias, nossos cânticos, nosso povo e sempre reali-zando estudos comparativos, para que não sejamos confundidos ou direcionados pelos sistemas externos. Está é a importância de ter as tecnologias nas comunidades indígenas.

Inclusão Social– Existe a ciência indígena no Brasil?

Álvaro Tukano – Embora não tenhamos aparelhos sofisticados, de alta tecnologia, que nos tornem “cientistas” ou que nos possibilite discutir, por exemplo, o germoplasma, nós o conhecemos de outra forma, que, para nós, é a forma tradicional. Nós sabemos como a criança se desenvolve desde a condição de feto e como ela deve ser tratada. Quando uma pessoa sonha, nós interpretamos o que acontecerá, os tipos de cerimônias necessárias para lidar com os problemas revelados no sonho. Ou, ainda, quando vai chover, que tipo de problema nós iremos enfrentar durante a chuva. Então, os nossos cientistas são pessoas que dependem muito das águas, das florestas, do movimento físico da lua e do sol. Essa é a nossa ciência.

Hoje, o homem branco tem explorado o Brasil ao seu modo e realizado grandes transformações – construindo usinas, trazendo muito gado, tudo isto é importante. Por outro lado, para o mundo indígena, não é necessário criar gado, devastar tanto, para se viver bem. Da mesma forma, não é necessário abrir constantemente grandes indústrias siderúrgicas para o Brasil ser forte, porque, no mundo do índio, para o Brasil ser forte, é preciso que haja muitas frutas no mato, tem de haver qualidade de vida para as pessoas que vão viver na floresta, evitando-se que elas venham para a capital pedir esmolas nos mercados ou aos legisladores.

O que, de fato, o Brasil precisa é cuidar de seu povo. Uma tecnologia voltada para biodiversidade – biotecnologia. Patauá, açaí, cunuri, vacu dão muito óleo, e outras plantas da minha região que também dão muito óleo, como a pupunha. Então, além de cana-de-açúcar, a Amazônia, de modo geral, tem muito óleo, petróleo para sustentar o mundo sem precisar fazer guerras para defender a tecnologia ou o progresso do Brasil.

Neste sentido, o índio deve estar inserido para mostrar suas qualidades, como pesquisador ou não, ou então as tecnologias devem estar acopladas aos índios para defender as sabedorias antigas. Por estas razões, a tecnologia é importante.

Inclusão Social – E como a ciência indígena atua no cenário nacional?

Álvaro Tukano – O Brasil não pode ser bom somente para alguns. As pessoas que nos agridem são aquelas que não têm qualidade de vida advindas dos recursos como os que possuímos. A água, por exemplo, que não existe na maior parte do mundo e inclusive dentro do próprio Brasil, não pode ser reduzida a um bem para poucos e muito menos monopólio estrangeiro. A água não é propriedade de alguém ou de algum país estrangeiro, porque os que pensam que podem ser donos do mundo se esquecem de que são apenas parte da sociedade.

O Brasil deve enfrentar a pressão internacional, buscando a sua própria tecnologia junto às pessoas que, de fato, conhecem a realidade deste país. A realidade do Brasil é conhecida pelos brasileiros. Nós, os índios, sabemos quando os peixes, ao fazerem a piracema, vão desovar – o que vai acontecer e quando acontece. Nós sabemos como funciona o nosso calendário das frutas, de revoada das tanajuras e do ciclo de reprodução dos animais. Estes calendários existem no meio dos povos indígenas do Brasil. Saberes que devem ser conservados pelos brasileiros para evitar a devastação total e a dependência externa. Para evitar a dependência de matérias-primas importadas, visto que aqui existe abundância destes recursos, nós devemos desenvolver a nossa própria tecnologia. Esse meu discurso destina-se às pessoas que pensam na importância do que é ser brasileiro. Ser brasileiro não é somente importante para o Brasil, mas também para aqueles que não são brasileiros e dependem do Brasil – toda a humanidade. Os que não são brasileiros investem apenas em resultados quando se trata do Brasil. Por exemplo, em relação ao meio ambiente, eles querem nos ensinar como devemos ser ambientalistas. Isso não é necessário, principalmente quando essa proposta parte, por exemplo, de alguns ambientalistas ou antropólogos que nunca saem de seus apartamentos ou departamentos, apenas obtendo lucros, em contraste com os outros profissionais que se dispõem até a viver no mato.

Tanto os europeus, os japoneses e outros têm de cuidar do seu próprio meio ambiente. Eles precisam entender que nós temos o nosso mundo, que não é necessário doutrinar os brasileiros para que sejam ambientalistas. Eles tanto precisam de nós quanto vice-versa. O que nós precisamos é de respeito e mais investimentos na área de educação, pois essa educação tem de chegar às comunidades indígenas para que possamos compartilhar saberes. É esse o nosso pensamento.

Inclusão Social – De que maneira a tecnologia em-pregada no Brasil pode ser mais eficiente?

Álvaro Tukano – Segundo a história do Brasil, quando os portugueses aqui chegaram encontraram bonitos papagaios. Eles registraram suas impressões acerca dessa beleza e do seu encontro com os índios na primeira carta enviada ao rei de Portugal por Pero Vaz de Caminha. Impressões que prevalecem até hoje para muitas pessoas, ou seja, a de que o Brasil é um país cheio de papagaios. Isto não corresponde à realidade brasileira atual, pois, apesar de ainda haver papagaios, o Brasil está cheio de problemas. E, tal como os papagaios, os índios estão precisando é de vida, que são as florestas.

Poucos índios identificam uma invasão tecnológica, por ainda estarem isolados. Eles não se preocupam com carnaval, campeonato mundial, copa do mundo ou eleições, pois uma parte deles ainda está vivendo em 1500. Outra parcela desses índios, como nós, os Tukano, está muito preocupada com o direcionamento que outras pessoas dão o tempo todo ao nosso destino, pois o Brasil é um país sempre direcionado pelas pessoas de fora. Os brasileiros, de modo geral, são sempre governados por interesses e pessoas de fora. E nós achamos que os brasileiros têm de governar o Brasil e que os índios também têm de estar incluídos. Quem deve mandar no Brasil são os brasileiros. Nós não podemos entregar nossa soberania às comissões internacionais para que elas nos digam o que fazer. Nós já sabemos o que nós temos e queremos. É uma ofensa alguém vir mandar na nossa casa; quem manda na minha casa sou eu, e quem manda na sua casa é você. O Brasil deve ter o orgulho de se governar.

Os povos indígenas, apesar de serem confundidos com os que não trabalham e possuem muita terra, são aqueles que têm preservado muito a soberania do país. As terras indígenas são bens da União e não sofrem a devastação tal como outras propriedades particulares, como nós temos visto. A Amazônia continua, com toda a sua riqueza do solo e subsolo, fazendo parte do Brasil, e nós, os brasileiros, é que devemos defendê-la. Nós não temos de defender os interesses externos.

A tecnologia deve ser utilizada para defendê-la, para ajudar aos índios, que não podem continuar a viver isolados ou em um mostruário de vitrine o tempo todo para que os outros venham lhes dar uma salvação. Os índios que vivem em cima das grandes riquezas florestais, minerais e de água não podem viver em um país rico, como o Brasil, como pobres e escravos. Este é um problema que o próprio Brasil tem de resolver. O Brasil precisa ter a dignidade de cuidar do seu povo.

Inclusão Social – Como a ciência brasileira participa na vida dos povos indígenas da Amazônia?

Álvaro Tukano – Nós temos recebido em nossa região, Alto Rio Negro, cientistas estrangeiros – norteamericanos, europeus e, de vez em quando, os asiáticos. Os países estrangeiros têm programas para os cientistas deles, e nós temos participado desses programas, apenas como meros informantes. Nós já fizemos muitos, muitos doutores, principalmente antropólogos, etnólogos, além de missionários, e não tivemos qualquer retorno de suas pesquisas, não ganhamos nada com elas. Quem lucra com o retorno dessas pesquisas no mundo da ciência são as universidades francesas, italianas, alemães, norteamericanos, inglesas. Elas lucram com as pesquisas, porém não contribuem para resolver o nosso problema. Os cientistas brasileiros, se comparados aos estrangeiros, não ganham quase nada com as suas pesquisas, e são explorados, faltam recursos para pesquisa. E nós continuamos com a mesma malária, bicho-de-pé, tomando o nosso caxiri13 e cantando as histórias antigas.

Se hoje, como um dia eu vi em uma reportagem do fantástico, alguns cientistas descobriram tal espécie de passarinho, essa mesma espécie de passarinho, no entanto, foi descoberta por nós há mais de 100 mil anos.

O quê nós pensamos é que a Universidade de Brasília e as demais Universidades Brasileiras têm de coletar as informações que existem nas comunidades indígenas sobre o comportamento dos peixes, das aves, da reprodução das plantas e da humanidade. Enfim, pesquisar sobre o que está acontecendo na realidade brasileira de hoje, por exemplo, quais são os problemas que a população não-indígena está sofrendo por causa de sua dieta alimentar.

O Brasil tem de cuidar da sua saúde nas universidades e desfrutar de uma saúde construída por cientistas brasileiros para que não se pense que os cientistas estrangeiros são melhores do que nós – os cientistas brasileiros e os cientistas indígenas. Nós somos iguais a tantos outros. Nós precisamos deixar claro que o Brasil é diferente de tantos outros países, que estamos cientes de que somos fortes dentro de nossas diferenças, das nossas riquezas e novas experiências.

Inclusão Social – Como a inclusão digital se relaciona com a tradição de transmissão dos conhecimentos indígenas?

Álvaro Tukano – Para nós a inclusão digital vai operar uma verdadeira revolução em termos de grandes distâncias, por exemplo, de Balaio para São Gabriel ou Taraquá ou Pari Cachoeira, que precisamos para nos comunicar. Nós vamos nos reunir de onde estivermos e nos comunicaremos diretamente. Isso nunca existiu antes. Nós vamos ficar sabendo o que nossos parentes distantes estão pensando e vice-versa, bem como combinaremos o que fazer conjuntamente. E, quando for necessário, por exemplo, reivindicaremos algo à sociedade daqui em sintonia e dentro de nossos interesses, realizando uma melhor participação. O computador é importante para nós contra a manipulação da igreja ou dos partidos políticos, visto que nós teremos nossas próprias opções de diálogo e comunicação.

A tecnologia nos dará muita liberdade de expressão, e muitos não gostarão de nossa autonomia. Para nós, ela representa uma possibilidade de salvar os programas e as culturas que nunca estiveram nesse mundo dinâmico de comunicação. Agora que, para nós, o mundo ficou pequeno e grande ao mesmo tempo, estamos dispostos e curiosos para dialogar com ele.

Atualmente, os índios estão submetidos às músicas de boibumbá, de Parintins, ou de outros lugares como da Bahia, ou de carnaval, porque elas foram feitas pelas pessoas que dominam a grande mídia. Nós ficamos muito tristes com isto. Mas, quando nós tivermos os nossos próprios meios de produção, poderemos saborear a nossa cultura, oferecendo uma outra opção às pessoas que estiverem cansadas de viver nos grandes centros urbanos. Loiros, amarelos, negros ou não, nós percebemos que, na sua maioria, as pessoas hoje estão querendo ser índio, então o Brasil opta por uma identidade mestiça.

13 Caxiri é uma bebiba fermentada a base de mandioca usada em rituais, celebrações e festas.

A tecnologia é importante para facilitar a comunicação entre nós e apresentar a identidade atual do Brasil. E, não apenas para rezar o tempo todo ou para mostrar sacrifícios como fazem algumas seitas. Outro dia, por exemplo, soube de um sacrifício que consiste em bater nas costas até sangrar. Isto não e necessário. Para se viver bem basta ter água, mata, peixes e diálogo – é disto que nós precisamos.

Inclusão Social – Os benefícios e avanços proporcionados pela tecnologia na área de saúde têm chegado até vocês?

Álvaro Tukano – Atualmente, dentro da Funasa, por exemplo, existe um bom programa de saúde, que se chama programa de vacinação. Antes disso, os nossos antepassados sempre pensaram, adivinharam ou sonharam com os micróbios ou vírus, mas nunca tiveram uma alta tecnologia para lidar com eles.

Hoje, o Ministério da Saúde produz um programa especial de vacinação para as crianças indígenas. E, nós, além de realizarmos as nossas cerimônias para a cura, vamos sempre ao médico para vacinar, e isso é positivo.

Antigamente, nós, os índios, morríamos de malária, mas agora alguns de nós já fazem a coleta de sangue, a lâmina, a leitura, e é possível identificar o tipo de malária que nós temos. E isso é de grande ajuda para os índios.

A mesma leitura nós aplicamos para a colonização portuguesa que, sem dúvida, ofereceu algumas vantagens para o país, como a escrita, a sua maneira de escrever um pensamento no papel. E essa tecnologia, que nós estamos recebendo, tal como ocorreu um dia na história, vai nos permitir ter os nossos próprios dados, onde os nossos filhos poderão também registrar e pesquisar no campo da humanidade.

Inclusão Social – Na sua opinião, a entrada da tecnologia nas aldeias pode trazer prejuízos ao invés de benefícios?

Álvaro Tukano – Entre os índios não há resistência para com a chegada da tecnologia, pois a maioria quer a comunicação que os computadores possibilitam. Mas os segmentos que parecem não estar muito satisfeitos com a inserção da tecnologia em nossas aldeias são, principalmente, os religiosos – alguns evangélicos e católicos – e algumas pessoas das organizações governamentais, acadêmicas e não-governamentais, porque, ao longo desses 500 anos, eles tiveram o monopólio de poder sobre os índios, e com a chegada da tecnologia isso vai acabar.

Por exemplo, se quisermos nos comunicar com o Papa, ou com os governantes, mandaremos uma mensagem felicitando-os, sem depender ou precisar de licença de alguém para isto. Antigamente, quando chegava uma carta trazida por um avião, um padre tinha primeiramente de lê-la e, por último, nós a líamos. Hoje isso acabou.

A maneira de comunicação a distância que os computadores possibilitam é importante. Hoje, se um padre quiser aprender coisa de índio, que venha a nós, senão, que vá embora.

Inclusão Social – Como os conhecimentos produzidos pelos cientistas indígenas alcançam a sociedade brasileira?

Álvaro Tukano – Bem ou mal, apesar de sermos minorias, somos eleitores também. Nós vivemos em um país regido por leis. No mês de março de 2006, ocorrerá uma conferência sobre biodiversidade, e nós praticamente não participaremos, porque os índios não podem definir nada ou mesmo encontrar soluções com os seus saberes. Apenas os doutores não-índios é que vão participar. É isto o que está acontecendo conosco.

O Brasil é possuidor da megabiodiversidade e tem esse cacife para dialogar com outros países. No entanto, os povos indígenas, geralmente minorias, embora não tendo registros nos banco de dados, têm sabedoria para classificar seus solos, suas águas e florestas e, evidentemente, têm a sua medicina.

A tecnologia se tornará importante quando ela for utilizada para nós falarmos de nossa diversidade biológica para o país e às nossas futuras gerações. Fazendo isto, com certeza, as grandes empresas multinacionais que vendem remédios hoje para nós não terão mais força, como até então.

Saberemos socializar bem esses conhecimentos, saberemos contribuir quase que gratuitamente para com a humanidade. Não é necessário explorar pobres ou ricos.

Para nós, a pobreza no país é ocasionada pelo desconhecimento de nossos valores culturais, e nós temos de apresentá-los. Nós temos de saber respeitar o pensamento, a cultura, os remédios e a alimentação que os outros têm e nos beneficiarmos deles, ao invés de ficarmos privados. Nós não podemos sempre ver os outros desfrutando dos conhecimentos, e nós não participarmos, assim como os índios não podem ficar contribuindo com as suas informações – tão importantes – para alimentar os bancos de dados do país e continuar sempre na miséria. Os conhecimentos e os recursos que os índios têm devem ser usufruídos, mas os índios também devem usufruir e participar dessa ação, fazendo o manejo de sustentabilidade de suas florestas e águas. Assim, para nós, é possível contribuir para diminuir a pobreza no país.

O Brasil tem de se orgulhar de ser um país diferente. Não precisamos viver em outro lugar, nós precisamos do país – de suas florestas, das águas, dos remédios, dos povos e das culturas.

Nós, índios, estamos preparados para sobreviver como povos distintos, mantendo a nossa identidade diferente, distinta, independentemente de sermos numerosos ou não.

Nós precisamos de espaço próprio, seja na mídia, ou em nossos territórios demarcados.

Inclusão Social – Quais são os anseios do povo indígena diante de uma proposta de inclusão na sociedade da informação?

Álvaro Tukano – Ser excluído é assim: você se diz meu amigo, mas, na hora de falar e decidir sobre algo importante para o país, você não me convida. A participação fica restrita a um certo grupinho, do qual estou excluído.

Nós nos sentimos excluídos, por exemplo, diante do Senado ou do Congresso, onde falam de nós, sabem que nós existimos e, no entanto, não há nenhum representante nosso lá que fale por nós. Há sempre alguém, que não é do nosso povo, que fala por nós – a Funai, a igreja, a universidade ou as organizações não-governamentais. Essa intermediação tem de acabar. Nós queremos ser ouvidos pelos nossos representantes e nós temos de procurar esse espaço por meio dessa mídia, pois nós precisamos dele. Dessa forma, nós não precisaremos de intermediários, senadores ou deputados para falar e resolver os nossos problemas. Nós falaremos diretamente com quem poderá resolvê-los ou com quem nos interessa. Desta maneira, daqui para frente a história muda e o Brasil muda por isso.

Inclusão Social – O que a ascensão política do Evo Morales significa para vocês ?

Álvaro Tukano – O Evo Morales é um Aymaro, de um estado que tem a maior população indígena na Colômbia. Isso é muito bom.

Aqui no Brasil, nós também somos, 220 povos distintos, ou mais. Até 314, segundo outros dados. Nós somos tanto o Evo Morales de lá, quanto somos lideranças aqui, agora também representadas por um índio.

Todos que gostariam de um Brasil diferente são como Che Guevara, ou outros revolucionários anteriores.

Manter a nossa identidade própria não diminui em nada a nossa capacidade, muito pelo contrário. Há muito interesse por parte dos índios de comandar a sua casa, mantendo as suas tradições fortes.

Nós sempre insistimos em falar Tukano, falar Tukano correto, manter as nossas tradições, mas sempre deixando as nossas portas abertas aos nossos amigos e para o mundo dos outros, sempre trabalhando para nivelar essa questão. Tempos atrás, isto era difícil para os índios. Como nós dissemos anteriormente, há muita gente falando pelos índios. Quando nós colocarmos essa tecnologia nas comunidades indígenas, esse desnivelamento acabará, nós teremos um horizonte comum e poderemos caminhar até mais rápido, livres da burocracia que tanto atrapalha a vida dos índios – o que não é bom. Nós não precisaremos mais de burocratas que controlem as nossas vidas no futuro. A tecnologia é importante e deve ser bem aplicada.

Inclusão Social – O que os cientistas indígenas gostariam de dizer aos outros cientistas?

Álvaro Tukano – Uma vez, quando estive em uma conferência indígena em Paris, ouvi uma antropóloga dizer que ela era especialista em índios, essa frase não me soou bem, porque nós, índios, não somos objetos de especialistas, e, sim, seres humanos, pensadores. A maneira de sermos pensadores e de sermos humanos deve ser mais humanizada entre os pesquisadores.

Os pensadores devem pensar melhor a respeito das minorias do país e dos programas que eles vão fazer.

Nós não estamos aqui para agradar aos poderosos de sempre. Nós estamos aqui para cuidar das nossas famílias e da nossa humanidade. Nós estamos aqui para fazer o que deve ser feito para minimizar a pobreza.

Quando nós falarmos sobre as coisas de índios para aqueles que nunca viram índios, nós faremos uma grande redescoberta, ou grandes descobertas, e isso será muito bom para a nossa humanidade. Nós precisamos desse diálogo para contar novamente a nossa história.

Entrevista concedida no dia 15 de março de 2006 a Dora Thereza Duarte Galesso e Ludmila dos Santos Guimarães (Ibict).