Deixadas para morrer: sobre búfalas, desinformação e especismo estrutural

Autores

  • Fabio Alves Gomes de Oliveira Departamento de Ciências Humanas, Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior, Universidade Federal Fluminense, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil. Membro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil e do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Universidade Federal Fluminense, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-0275-6595
  • Érica Quadros do Amaral Sistema de Bibliotecas e Informação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil https://orcid.org/0000-0002-1595-1242

DOI:

https://doi.org/10.18617/liinc.v18i1.5939

Palavras-chave:

Produção de ignorância, Búfalas de Brotas, Paradoxo da opressão, Agronegócio, Instrumentos de poder

Resumo

Neste artigo, analisamos o caso que ficou conhecido como “Búfalas de Brotas” para introduzir a discussão sobre o conceito de especismo estrutural, situando o especismo como um dos componentes do sistema de opressões. Abordamos o aspecto informacional que envolve o caso por meio das narrativas identificadas na cobertura midiática do acontecimento. Ampliamos o debate para o viés informacional, ressaltando a necessidade da inserção de elementos políticos. Contextualizamos o especismo estrutural como estratégia de elevação do agronegócio que conta com outras instituições de poder como auxiliares no enviesamento da opinião pública, favorecendo a manutenção dos interesses deste setor e sua contínua expansão em detrimento da qualidade de vida de animais não humanos e humanos. Como metodologia, adotamos a revisão bibliográfica, correlacionando o arcabouço teórico dos saberes da Ciência da Informação, Estudos Críticos Animalistas, Ecofeminismos e análise do mencionado caso paradigmático por meio de relatos divulgados pela mídia para apuração da complexa trama que chamamos de “paradoxo da opressão”, envolvendo o movimento de ativismo em defesa da causa animal, a mídia e o agronegócio. Nossas considerações finais nos direcionam ao entendimento do especismo estrutural como um problema de ordem informacional por ser produto de estratégias de desinformação e desempenhar o papel de provimento do senso comum, produção de ignorância e manutenção de estruturas de poder que asseguram sua própria existência como um modo de opressão que impacta animais não humanos e humanos

Biografia do autor

Fabio Alves Gomes de Oliveira, Departamento de Ciências Humanas, Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior, Universidade Federal Fluminense, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil. Membro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil e do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Universidade Federal Fluminense, Santo Antônio de Pádua, RJ, Brasil.

Professor Adjunto de Filosofia da Educação junto ao Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal Fluminense; membro permanente do Programa de Pós-Graduacao em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS) da Universidade Federal Fluminense, atuando na linha de pesquisa Bioética e Ética Aplicada; membro permanente do Programa de Pós-Graduacao em Ensino (PPGEn) da Universidade Federal Fluminense, atuando na linha de pesquisa Epistemologias do Cotidiano e Práticas Instituintes. Possui doutorado em Filosofia pela UFRJ (período como pesquisador visitante no Center for Moral, Social and Political Theory da Australian National University - ANU), mestrado em Filosofia e graduações em Administração e Filosofia. Seus temas de interesse e pesquisa giram em torno do debate da Educação, Bioética e Ética Aplicada. É coordenador da Coleção Bordas, junto à Editora Ape´Ku e Editor Adjunto da Revista Diversitates (UFF). Coordena o Laboratório de Ética Ambiental e Animal (LEA). Enquanto colaborador integra o Antígona: Laboratório de Filosofia e Gênero (UFRJ); o Núcleo de Ética Aplicada (NEA) da UFRJ, DEGENERA: Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros da UERJ; o Grupo de Pesquisa Descoloniais Carolina Maria de Jesus, da UFRJ; e Núcleo de Estudos Interseccionais em Psicologia e Educação (NEIPE) da UFF. É coordenador dos Projetos de Extensão 1) Cinema em Cores: Diversidade na Tela; 2) Cartlhas do LEA; e 3) Oficinas sem Crueldade. 

Érica Quadros do Amaral, Sistema de Bibliotecas e Informação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Doutoranda em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva - PPGBIOS/UFF. Mestra em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação e Ciência em Tecnologia/Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBICT/ UFRJ) (2019) . Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal Fluminense (2010). Especialista em Gestão da Informação (2015). Integrante no grupo CNPq de pesquisa Informação, conhecimento, inovação e sustentabilidade ambiental (ECOInfo) e no grupo CNPq Laboratório de Ética Ambiental e Animal (LEA). Bibliotecária na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também é membro da Comissão de Sustentabilidade (SiBI -UFRJ).

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Publicado

27/04/2022

Como citar

OLIVEIRA, F. A. G. de; AMARAL, Érica Q. do. Deixadas para morrer: sobre búfalas, desinformação e especismo estrutural. Liinc em Revista, [S. l.], v. 18, n. 1, p. e5939, 2022. DOI: 10.18617/liinc.v18i1.5939. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5939. Acesso em: 16 abr. 2024.

Edição

Seção

Desafios das Ciências sociais no Antropoceno