um olhar de inovação para a avaliação da aprendizagem das novas gerações
Vivian Lely Fasolo Marxreiter[1]
Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC)
Graziela Grando Bresolin[2]
Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC)
Patricia de Sá Freire[3]
Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC)
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Resumo
Um dos grandes desafios da atualidade para o sistema educacional, consiste em considerar a participação o aluno durante o processo avaliativo respeitando sua autonomia e controle sobre sua aprendizagem, de modo a tornarem-se agentes da construção de seu próprio conhecimento. Diante deste contexto, chega-se à seguinte pergunta de pesquisa que deu origem a este artigo: Como inovar no proceso de avaliação da aprendizagem das novas gerações utilizando-se da autoavaliação? A partir de uma pesquisa teórica bibliográfica, o objetivo é analisar a autoavaliação como instrumento de inovação no proceso de avaliação da aprendizagem das novas gerações. Os resultados demonstram que a autoavaliação favorece a autonomia e inovação no processo de avaliação, além de atender as necessidades e expectativas de aprendizagem das novas gerações, visto que proporciona autonomia e responsabilidade no processo de aprendizagem e autoanálise de seu desempenho. Proporcionando também subsídio para aplicação da autoavaliação em aula para motivar o aluno jovem durante o processo de ensino, aprendizagem e avaliação. Auxilia tanto no planejamento, acompanhamento, avaliação dos resultados de ensino e aprendizagem. Conclui-se que se faz necessário repensar as concepções e os princípios avaliativos, tendo em vista que a avaliação é peça-chave no acompanhamento dos processos de aprendizagem e autonomia tornando-se uma tarefa didática necessária, permanente para acompanhar o progresso da aprendizagem e na autogestão da prática educacional, para a tomada de decisão e no planejamento didático.
Palavras-chave: Autoavaliação. Inovação na educação. Metodologias ativas. Avaliação. Nativos digitais.
an innovative look at learning assessment for new generations
Abstract
One of the biggest challenges for the educational system today is to consider the student's participation during the evaluation process, respecting their autonomy and control over their learning, so that they become agents in the construction of their own knowledge. In this context, we come to the following research question that gave rise to this article: How to innovate in the process of learning assessment for new generations using self-assessment?. From a theoretical bibliographical research, the objective is to analyze self-assessment as an instrument of innovation in the process of learning assessment of new generations. The results show that self-assessment favors autonomy and innovation in the assessment process, besides attending the learning needs and expectations of the new generations, since it provides autonomy and responsibility in the learning process and self-analysis of their performance. It also provides a subsidy for the application of self-assessment in class to motivate the young student during the teaching, learning, and assessment process. It helps in planning, monitoring, and evaluating the teaching and learning results. It is concluded that it is necessary to rethink the conceptions and assessment principles, considering that assessment is a key part in monitoring the learning and autonomy processes, becoming a necessary and permanent didactic task to monitor the progress of learning and in the self-management of educational practice, for decision making and didactic planning.
Keywords: Self-evaluation. Innovation in education. Active methodologies. Assessment. Digital natives.
1 INTRODUÇÃO
Os impactos causados pela pandemia nas instituições de ensino e nos processos de ensino e aprendizagem resultaram em novas alternativas para a continuidade das ações educativas, além da transposição, de forma emergencial, para modalidades remotas e híbridas, mediada pelo uso das tecnologias digitais (COUTO; COUTO; CRUZ, 2020; MARTINS; ALMEIDA, 2020). Com isso, as aulas precisaram ser readequadas para dar conta de abranger este novo contexto, assim como as metodologias, recursos e tecnologias sofrerem alterações, até mesmo o processo avaliativo precisou ser repensado para este novo formato.
Neste novo cenário educacional, faz-se necessário refletir sobre todo o processo de ensino e aprendizagem para que seja possível seguir com modelo de ensino vingente e suas respectivas avaliações, no qual a autoavaliação passa a ser uma ferramenta de aprendizagem e autonomia. Visto que as instituiçoes precisarão respeitar as características de seus alunos e suas necessidades de aprendizagem, pois eles apresentarão no ano subsequente os resultados deste novo formato de ensino. Principalmente, em relação às lacunas de conhecimento que precisam de reforço a partir do momento que as aulas presenciais retornarem, exigindo das instituições ações para que se tenha um ensino mais democrático e equilibrado, possibilitando a continuidade dos estudos em favorecimento da autonomia no processo de aprendizagem e autoanálise do desempenho de seus alunos.
Nesse contexto, a avaliação deixa de ser vista como um instrumento de seleção e fiscalização, e passa ser vista como um processo um instrumento que possibilita a coleta e análise do processo de aprendizagem dos alunos, identificando as necessidades de melhorias, reforço e dificuldades encontradas. Os resultados também são úteis aos aprofesores, pois fornece informações sobre os conteúdos para a adequação das estratégias de ensino e aprendizagem empregadas (GIL, 2018). Assim como possibilita as instituições de ensino terem o feedback sobre os principais elementos que fazem parte do ensino e aprendizagem, como o desempenho dos professores, ambiente fisico e psciologico, métodos, estratégias, recursos e conteúdos, de forma a manter a qualidade e melhoria contínua da instituição, dos profissionais e alunos envolvidos (FREIRE; BRESOLIN, 2020).
Um dos grandes desafios para inovar a avaliação nas instituições de ensino dentro deste novo contexto, principalmente com a implementação do ‘novo normal’, consiste em considerar a participação o aluno jovem durante o processo avaliativo, além de respeitar o seu protagonismo e autonomia. As instituições desejam oferecer um ambiente pedagógico inovador que proporcione novas experiências ou situações de aprendizagem e a implementação de metodologias ativas e novos modelos de avaliação para desenvolvimento da prática da autogestão de sua aprendizagem e conhecimento (LIBÂNIO, 2012; MULIK; VIANI, 2015; PACHECO; PACHECO, 2012; OLIVEIRA, 2010; MURÇÓS, 2014)
Assim, a autoavaliação permite ao aluno maior autonomia e responsabilidades sobre o seu processo de aprendizagem, mensurando o quanto aprendeu, além de obter informações necessárias para o desenvolvimneto de sua aprendizagem. Por isso, é considerado um processo que requer o desenvolvimento de habilidades de observação de si mesmo, identificação de pontos forte e fragilidades, de comparação de seu desempenho com os objetivos propostos pela grade curricular e de atitude, de honestidade em reconher seus sucessos, falhas e em relação ao que precisa ser melhorado (GIL, 2018). Durante este processo, o aluno compreenderá esta experiência de autoanalise como algo significativo para sua vida, pois tem a possibilidade de tentativas de acertos e erros, sem ser classificado por ela pelo sucesso ou fracasso.
Diante deste contexto, chega-se à seguinte pergunta de pesquisa que deu origem a este artigo: Como inovar no proceso de avaliação da aprendizagem das novas gerações utilizando-se da autoavaliação? A partir de uma pesquisa teórica bibliográfica, o objetivo é analisar a autoavaliação como instrumento de inovação no proceso de avaliação da aprendizagem das novas gerações.
2 PERSPECTIVAS SOBRE INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO
Para atender às necessidades de aprendizagem do aluno jovem do século XXI, é preciso que as instituições de ensino empreguem novas estratégias e metologias de ensino a aprendizagem, assim como novos recursos tecnológicos e modelos de aprendizagem para manter a motivação e interesse dos alunos. Além disso, estas intituições, precisam desenvolver situações didáticas pedagógicas que coloquem os alunos como centro do processo educativo e protagonistas de seu proceso de aprendizagem, de forma que suas capacidades, cognitivas e socioemocionais, sejam potencializadas. Com isso, espera-se que esse aluno jovem esteja preparado para mobilizar, articular e aplicar na prática os conhecimentos, valores, atitudes e habilidades de se relacionar consigo e com os outros. Dessa forma, será capaz de fazer escolhas seguras, saudáveis, sustentáveis e éticas, tomar decisões responsáveis, contribuido com a comunidade e sociedade (MORAN, 2012, LUCKESI, 2010; VASCONCELLOS, 2006; VIEIRA, 2013; PUNHAGUI; SOUZA, 2012).
Autores como Bacich e Moran (2018), Teixeira (2018), Camargo e Daros (2018), defendem que através das metodologías ativas de aprendizagem tais como: gamificação, estudo de caso, aprendizagem por pares, aprendizagem baseada em equipes, aprendizagem baseada em problemas, sala de aula invertida, design thinking entre outros, pode-se desenvolver estratégias para mediar à construção do conhecimento. Utilizando-se dos meios disponíveis com vistas à consecução de objetivos educacionais, além da busca da autonomia, criatividade e protagonismo dos alunos. Nesse contexto, os alunos, chamados de nativos digitais “estão cada vez mais envolvidos na criação de informação, conhecimento e entretenimento nos ambientes online” (PALFREY; GASSER, 2011, p.131).
Nesta perpectiva, a aplicação de estratégias e metodologias de ensino e aprendizagem variadas, assim como a aplicação de diferentes modelos e instrumentos de avaliação desta aprendizagem, motiva o envolvimento do aluno, possibilitando-lhe a apropriação dos conhecimentos fundamentados relacionados à experiência de resolução de problemas práticos, garantindo-lhe a aquisição de novas competências (SILVA, 2015). A relação entre a retenção da aprendizagem e a utilizar as metodologias ativas em aula, são apresentadas na figura 1.
Figura 1 - Pirâmide da aprendizagem: performance do aluno. |
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Fonte: Silva (2015) |
As metodologias ativas são apresentadas tomando como base a pirâmide de aprendizagem desenvolvida pelo psiquiatra americano William Glasser (1998). O autor aponta que não se deve trabalhar apenas a memorização dos alunos, uma vez que estes podem esquecer o conteúdos e conceitos estudados. Como ocorre quando são aplicadaos os métodos passivos de aprendizagem, como ler, ouvir, escrever e ver. Em vez disso, os alunos conseguem assimilar e reter melhor os novos conteúdos quando aprendem fazendo e praticando. O que ocorre é que quando são aplicadas as metodologías ativas em sala, propiciam conversas, discussoes, perguntas, trabalhos em grupos e aplicação prática. Essas metodologías ativas desafiam as instituições a subsidiar novos processos de avaliação, promovendo ensino e aprendizagem desafiadores, motivadores e inovadores. Ao mesmo tempo em que atendemàs expectativas deste novo aluno, ampliam as fronteiras do conhecimento.
Convém lembrar que muitas das avaliações empregadas hoje são observatórios e tendem ao modelo tradicional, visam punir o aluno diante do erro. Segundo Pacheco e Pacheco (2012, p. 42), “é preciso dar muitas provas para aprender que não podemos dar provas”, ainda, para os autores, “uma prova para todos não é sinônimo de igualdade” (2012, p. 71). A avaliação na qual o profesor cria uma prova, quantifica as questões e define o valor, buscando resultados baseados em suposições, na qual se entende que o aluno aprendeu determinado assunto devido a uma nota boa na prova, acaba sendo ineficiente.
Na construção desse novo processo em direção à educação do futuro, é válido lembrar que muitos alunos não se encaixam no modelo tradicional de avaliação e que, cada vez mais, se está próximo de utilizar a autoavaliação como um instrumento de avaliação que permite a individualização e personalização do aprendizado. Assim como corresponde a uma educação pautada nas demandas do mercado de trabalho e nas habilidades socioemocionais, na qual o modelo de avaliação tradicional não é mais possível, pode-se reunir os alunos na mesma sala física, mas deve-se aplicar uma avaliação igualitaria. Pois, a individualização do aprendizado é algo primordial para favorecer a autonomia no processo de aprendizagem desta nova geração de alunos (ASBAHR, 2014; DUARTE, 2011; PACHECO; PACHECO, 2012; LIBÂNIO, 2012; MARTINEZ, 2010).
3. autoavaliação COMO INOVAÇÃO NO PROCESSO AVALIATIVO
Ao tratar de inovação no processo avaliativo, Pacheco e Pacheco (2012), defendem a utilização da autoavaliação, pois desenvolve a autonomia dos nativos digitais, despertando a curiosidade, estimulando tomadas de decisões individuais e coletivas advindas de atividades problematizadas. Essas atividades têm por objetivo instigar os alunos nativos digitais mediante problemas, para que eles possam examinar, refletir, posicionar-se de forma crítica e aprender de forma significativa. Para Hoffmann (2014), o conhecimento não segue por um caminho linear, mas por passagens tortuosas repletas de descobertas, dúvidas, retomadas, paradas e saltos qualitativos. O papel do avaliador, neste cenário, consiste em respeitar a diversidade dos ritmos de aprendizagem, valorizar a multiplicidade de caminhos percorridos e investir na heterogeneidade em vez de buscar a homogeneidade.
Para Silva, Bartholomeu e Claus (2007), a autoavaliação é um processo pelo qual um indivíduo, além de avaliar uma produção, uma ação, ou uma conduta da qual ele é o autor, também avalia suas capacidades, seus gostos, seu desempenho, suas competências e habilidades. Faz um julgamento com o objetivo de um melhor conhecimento pessoal, visando ao aperfeiçoamento de suas ações e ao seu desenvolvimento cognitivo.
Segundo o dicionário Dicio (2020), autoavaliação significa “avaliar a si mesmo; refletir sobre o seu próprio desempenho e considerar que estratégias ou medidas devem ser tomadas para melhorar a cada nova etapa; avaliar seus erros como parte do processo deaprendizagem”.
Silva (2007), tambem defende que a autoavaliação deve ser conduzida de forma que os nativos digitais tenham uma visão clara de onde pretendem chegar, expressar-se livremente e centrados na cooperação e colaboração. Visto que buscar a aprendizagem significativa de todo um grupo constitui- se em um instrumento privilegiado para uma avaliação autêntica.
Logo, a autoavaliação de sua própria aprendizagem será um dos fatores influenciadores dos nativos digitais para com seus modos de aprender e dos próprios processos de aprendizagem, pois é um meio de diagnosticar e de verificar em que medida os objetivos propostos estão sendo atingidos. Através dessa análise, o aluno poderá mensurar o que já aprendeu e o que deve ser aprendido dentro da estrutura curricular de várias disciplinas, bem como o valor dessa aprendizagem. Para Libâneo (2012), o senso crítico é a habilidade de voltar-se para si mesmo e descobrir os motivos, desejos e objetivos que se pretende atingir, não aceitando nenhuma afirmação sem interrogar-se, realizando uma crítica interna e externa.
De acordo com Villas Boas (2008, p. 52), “a autoavaliação não visa à atribuição de notas ou menções pelos nativos digitais: tem o sentido emancipatório de possibilitar-lhe refletir continuamente sobre o processo da sua aprendizagem e desenvolver a capacidade de registrar suas percepções”. Seu grande mérito é ajudar o aluno a perceber o próximo passo do seu processo de aprendizagem. Cabe ao professor incentivar a prática da autoavaliação continuamente, e não apenas nos momentos por ele estabelecidos e usar as informações fornecidas para reorganizar o trabalho pedagógico, sem penalizá-lo. É fundamental, portanto, que a autoavaliação seja compreendida como uma etapa integrante do conhecimento, na qual o professor proporciona momentos para que o aluno possa demonstrar o seu aprendizado.
Kenski (1995, p.140-141), ao dissertar sobre os novos olhares sobre a autoavaliação, assegura:
A autoavaliação não vai ser, apenas, aquela baseada em relatórios estruturados onde os alunos são orientados para responderem sobre o seu comportamento durante as aulas, trabalhos individuais e de grupos, ou sobre o seu interesse pelo assunto estudado. A autoavaliação do aluno deve proporcionar uma reflexão mais profunda, um momento de parada e de encontro do aluno como objeto de conhecimento, uma análise das alterações ocorridas durante as interações existentes entre eles, sujeito da aprendizagem, e o novo saber.
Nesta perspectiva, a autoavaliação pode ser utilizada como uma estratégia de aprendizagem, pois a tomada de decisão provoca no aluno nativo digital a organização de seu pensamento, o planejamento de atividades, a execução, a escolha de atitudes e a tomada de decisões com o objetivo de aprender. Para Soares (2013, p. 62-63):
[...] é um proceso ativo e construtor do conhecimentoatravés do qual o aluno, orientado pelos objetivos por si definido para a realização da sua aprendizagem. [...] a autoavaliação permite ao aluno controlar as ações na realização da tarefa, em função dos critérios estabelecidos, referente indispensável para que este possa verificar, no fim da atividade, se o seu resultado foi bem conseguido.
Além disso, para promover a inovação em sala de aula, existem metodologias e estratégias de ensino e aprendizagem que são utilizadas como autoavaliação do processo de aprendizagem, como por exemplo, avaliação através do desenvolvimento de portfólio, elaboração de mapa conceitual, trabalho em grupos, discussões, resoluções de problemas, as metodologias ativas, entre outros (ELLIS, 2001; PACHECO; PACHECO, 2012; CAMARGO; DAROS, 2018; BACICH; MORAN, 2018; TEIXEIRA, 2018).
Nesta perspectiva, o ato de autoavaliar pode ser entendido como uma atividade complexa que necesita de constante prática e, uma vez que é o desfecho de todo o processo de aprendizagem. Exige tanto dos alunos nativos digitais quanto do professor, habilidades e capacidades de identificar o que foi aprendido, quais as dificuldades encontradas e que estratégias podem ser aplicadas para melhorar o desempenho.
Para este artigo adotou-se o conceito de autoavaliação como a avaliação que proporciona aos alunos nativos digitais a reflexão e análise de seus objetivos, o desenvolvimento da autonomia, da autocrítica e o auxílio na construção de instrumentos capazes de avaliar seu processo de aprendizagem e construção de conhecimento (PACHECO; PACHECO, 2012; LUCKESI, 2010; VASCONCELLOS, 2006; VIEIRA, 2013).
Portanto, é imprescindível que o aluno tenha consciência do próprio processo de aprendizagem, para que compreenda os motivos das dúvidas e incertezas, as potencialidades de suas habilidades, partindo para desafios mais complexos e deseje aprender cada vez mais, deixando de só estudar para a prova. Pode-se, assim, entender que a avaliação é um processo, para melhoria contínua da aprendizagem e não um ponto final.
Partindo da concepção de que a avaliação da aprendizagem vai além da nota atribuida, é, também, uma oportunidade para que os nativos digitais compreendam e responsabilizem-se pelo seu conhecimento, para que o professor esteja ciente da necessidade de retomar sua prática pedagógica se for necessário. Pode-se pensar na autoavaliação como ferramenta de avaliação na qual os nativos digitais, se bem orientados, saberão quais são seus pontos fortes, o que construir em sua caminhada de aprendizagem e o que ainda precisam desenvolver e melhorar (PACHECO; PACHECO, 2012; GIL, 2018). Assim, a autoavaliação favorece a autonomia e inovação no processo de avaliação além de atender as necessidades e expectativas de aprendizagem das novas gerações.
4 autoavaliaçãO UM NOVO OLHAR PARA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DOS NATIVOS DIGITAIS
Ao refletir sobre a finalidade das instituições de ensino, a redefinição da função do professor e do aluno, e sobre a ressignificação da importância da aprendizagem, surgem dúvidas, incertezas e reflexões a respeito de como avaliar a capacidade de aprender e como quantificar as habilidades e experiências das gerações Z e Alpha.
Nesta perspectiva, também são necessárias algumas reflexões sobre a relação avaliação e o planejamento, bem como, o repensar sobre práticas avaliativas integradas em todo o processo educativo, garantindo que todos os alunos aprendam de forma contínua e dinâmica. Esse processo, que deve ser iniciado a partir do nascimento e acompanhá-lo por toda a vida, é repleto de descobertas e novidades, sobre aprende a aprender, fazer/refazer e avaliar seus resultados, de forma crítica e reflexiva (PACHECO; PACHECO, 2012; VIEIRA, 2013; VASCONCELLOS, 2006; LUCKESI,2010).
No campo da aprendizagem, é possível encontrar um ponto diferencial entre a geração que migrou para o uso da tecnologia e a geração dos nativos digitais. A forma tradicional de ensinar e desenvolver a aprendizagem não têm sido tão significativa para essa geração, que se comporta como “um aprendiz ativo, que adota uma abordagem não-linear” (VEEN; VRAKKING, 2009, p. 68). Para os nativos digitais, a busca por resoluções de problemas ocorre através de pesquisa pela web, devido às facilidades de busca e de acesso, sem se preocupar com aprendizado programático, reflexão e memorização, como eram as exigências no passado. Para essa geração, a informação está sempre disponível, basta acessá-la (VILARINHO; FERREIRA, 2012).
O alunos Geração Z e Alpha têm como característica o protagonismo de sua aprendizagem. Constrói sua identidade numa cultura moldada pela indústria da informação, do lazer e do consumo, em que tudo é imediato, veloz e ilimitado. Têm dificuldades de concentração em uma única atividade, são criativos, flexíveis, capazes de aprender ativamente, inteligentes, de rápido de raciocínio e agilidade na execução das atividades (FERNANDES, 2015; PALFREY; GASSER, 2011; VILARINHO; FERREIRA, 2012, BRESOLIN, 2020).
Diante dessas características, que apontam para a complexidade do aluno jovem, representante da nova geração de nativo digital, a avaliação deve considerar as demandas da vida atual, como o enfrentamento de problemas, o relacionamento com o outro, o protagonismo, o mundo do trabalho em situações contextualizadas da vida real, dentre outras. Sob essa perspectiva, o instrumento avaliativo deve ter características que promovam, de modo mais efetivo, a mensuração das capacidades do aluno em todos esses aspectos. Sob o olhar de Luckesi (2011), a avaliação é um instrumento da qual o ser humano não prescinde, faz parte de seu modo de agir, por isso é necessário que seja usada da melhor forma possível. A avaliação, para o autor, é um ato amoroso, por isso é preciso trazer o educando para ese processo e oportunizar aprendizagens afetivamente.
É fundamental que os alunos participem do processo de repensar a forma de construção do conhecimento, no qual a mediação e a interação são os pressupostos essenciais para que ocorra a aprendizagem e a motivação de aprender. Visto que, a forma de aprendizagem dessas gerações Z e Alpha causam uma ruptura ao perfil tradicional de ensino focado na reprodução de conteúdo e na aprendizagem passiva (CAVALARI, 2009). Para Silva (2011) os alunos atualmente, buscam uma aprendizagem que rompe com o velha transmissão, disponibilizando aos alunos a participação na construção do conhecimento e da própria comunicação, sintonizada com o nosso tempo.
Dessa forma, para desenvolver no aluno a reflexão sobre seu aprendizado, é preciso oferecer um ambiente propício às mudanças, inovando nas práticas pedagógicas, no currículo, no planejamento e na avaliação, por meio de projetos contextualizadores, pela integração do sujeito com o assunto a ser explorado, bem como a promoção do aprender a aprender (FREIRE; BRESOLIN, 2020; MORAN, 2012; DELORS, 2012). Thurler (2001, p. 10) defende que, “as escolas eficientes são escolas abertas à inovação, em busca contínua de melhores respostas aos problemas recorrentes”.
É necessário que o profesor assuma o papel de mediador, a fim de auxiliar o aluno a compreender as suas próprias necessidades de aprender, através de problematizações desafiadoras, para que o mesmo possa identificar os objetivos a serem alcançados com as práticas educacionais (MORAN, 2012). Como destaca Asbahr (2014, p.271), “[...] a ocorrencia da aprendizagem depende do sentido que esta tenha para o sujeito, o que requer que o profesor estruture a atividade de estudo de modo que os conteúdos a serem aprendidos tenham lugar estrutural na atividade dos estudantes”.
Nesta perspectiva percebe-se que exercitar a prática da autoavaliação é proporcionar as gerações Z e Alpha um momento de voltar-se para si para que o mesmo compreenda-se como sujeito ativo do processo de aprendizagem, através da elaboração de mecanismo que proporcionem o autoconhecimento, à sua autopercepção e autorregulação para favorecer a autonomia no processo de aprendizagem do aluno jovem (PACHECO; PACHECO, 2012).
Neste processo é fundamental identificar a visão do aluno sobre o que é e como aprender, quais os fatores acredita serem relevante no trabalho em sala de aula, quais podem oportunizar uma melhor aprendizagem. Não se pode sanar todas as dificuldades de uma vez, mas é possível focar no essencial e proporcionar um momento de troca de informações a fim de buscar alternativas conjuntas. De acordo com SANTOS (2002, p.2), “a autoavaliação é o proceso por excelencia da regulação, dado ser um processo interno ao próprio sujeito”.
Já Andrade (2001), revela que os alunos apresentam melhor produção quando compreendem e identificam os critérios pelos quais são avaliados. Transforma-se, assim, a autoavaliação em um instrumento de motivação do interesse em aprender, elevando o desejo do aluno de superar seus erros, exercendo uma estratégia motivadora, à medida que serve de incentivo ao estudo.
No ambiente escolar, a autoavaliação tem grande importância, pois estimula o aluno a autoanalisar-se, a tornar-se consciente de seus esforços e desempenho. Porém, muitos profesores sentem-se inseguros, têm dúvida se o aluno vai dar notas proporcionais ao seu desempenho ao proporem uma autoavaliação, pois constitui uma metodologia crítica e dialógica. Crítica porque busca analisar a realidade vivenciada em sala para obter os dados que permitam identificar os fatores limitadores ou facilitadores do alcance dos objetivos da aprendizagem. Dialógica visto que proporciona a negociação entre as partes envolvidas no processo de ensino-aprendizagem sobre o que, para que e como avaliar em busca de qualidade para o desenvolvimento intelectual do aluno e sua inserção social (SEE, 2019).
Em relação a aplicabilidade da autoavaliação, Boud (1995, p. 208-209), estruturou um quadro comparativo demonstrando os pontos positivos e negativos deste instrumento, demonstrando o impacto da aplicação no contexto escolar (quadro1).
Quadro 1 - Práticas positivas e negativas da autoavaliação elaboradas por Boud. |
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Fonte: Adaptado com base em Boud (1995). |
Pacheco e Pacheco (2012), ainda enfatizam que a autoavaliação é um instrumento concebido para possibilitar ao aluno analisar seu próprio desempenho em uma aprendizagem significativa, oportunizando um autoconhecimento sobre comportamentos, pensamentos e sentimentos, uma vez que, propicia avaliar todo o caminho percorrido para o aprender e identificar as etapas a serem melhoradas, promovendo assim o aumento da consciência de suas habilidades, estendendo a motivação para além da sala de aula e da aprendizagem.
Bernardes e Miranda (2003, p. 21), também descrevem que “[...] com a autoavaliação, o aluno conquista a competência de pensar, a capacidade de exercer o controle das suas ações bem como de tomar decisões face às suas aprendizagens”. Já Araújo e Alvarenga (2006, p. 202-203), abordam o papel do aluno durante a autoavaliação como sendo “[...] um status diferente ao estudante, pois é ele quem manipula os saberes, identificando o que ganhou em aprendizagem e o que ainda precisa interiorizar”. Tan (2007, p.114), corrobora dizendo que “[...] a autoavaliação é considerada muito mais conveniente para o desenvolvimento de tais habilidades, opondo-se às formas tradicionais de avaliação que não permitem ao aluno julgar a própria aprendizagem.”
O desejo de tornar o nativo digital autônomo frente ao processo de ensino e de aprendizagem, responsabilizando-o pela construção do seu conhecimento, a partir de uma autoanálise, é preciso, pois o leva a compreender quais são os seus pontos fortes (habilidade, ‘já sei fazer’) e de fraqueza (erros, omissões e distrações), identificando também que mecanismos e atitudes serão necessários para avançar neste processo. De acordo com Punhagui e Souza (2012, p. 201), “aprender a avaliar o próprio desempenho, portanto, possibilita maior foco nos passos efetuados e naqueles que estão por vir, constituindo um dos pilares da autonomia”. Neste processo, o nativo digital compreenderá esta experiência de se autoanalisar como algo significativo para sua vida, pois tem a possibilidade de tentativas de acertos e erros, sem ser classificado por ela pelo sucesso ou fracasso.
Além disso, é fundamentalo envolvimento do nativo digital nas atividades realizadas em sala de aula, no trabalho em grupo, na análise das suas aprendizagens e falhas quando a mesma ocorre, a fim de torná-lo um agente ativo no desenvolvimento e gestão do processo de ensino e de aprendizagem, no registro das aprendizagens adquiridas ou não e no planejamento das atividades que ainda faltam realizar. Tal postura, permite que o mesmo identifique e compreenda as etapas a serem desenvolvidas e analisadas a fim de compreender o porquê de possíveis falhas e os acertos alcançados. Partindo-se do pressuposto de que o conhecimento se constrói não por acumulação, mas por reconstrução dos saberes adquiridos. O exercício da autoavaliação é, antes de tudo, o primeiro passo para o processo de aprendizagem e de transformação.
5 CONCLUSÃO
A autoavaliação é compreendida como um processo de autoanálise, no qual o aluno jovem é um participante ativo na construção do conhecimento e no desenvolvimento de sua autonomia. Por meio dela, desenvolve habilidades para enriquecer sua capacidade de resolver problemas ou potencializar sua aprendizagem, tornando-se um agente de mudança. Cabe ressaltar que a autoavaliação pode proporcionar melhorias na prática do professor em sala de aula e nos processos de avaliação institucional.
Partindo do pressuposto de que o aluno vem de um processo evolutivo de aprendizagem, é fundamental que a autoavaliação seja compreendida como uma etapa integrante da construção do conhecimento. Cabe ao professor proporcionar momentos para que o aluno possa demonstrar seu aprendizado, assim como compreender, valorizar e usar os resultados de uma avaliação em todo processo avaliativo. Dessa forma, o professor passa a assumir o papel de mediador do conhecimento e não de acusador de erros, através de uma única forma avaliativa: a nota.
Proporcionando um novo olhar para as concepções de ensino e de aprendizagem, no qual se respeita o seu tempo de aprendizagem, bem como a participação ativa de todos os envolvidos no processo. Partindo-se da concepção de que aprender é ir além da nota em si, é, antes, uma oportunidade para que aluno compreenda e responsabilize-se pelo seu conhecimento, para que o professor esteja ciente da necessidade de retomar sua prática pedagógica se for necessário. Assim, o aluno jovem, se bem orientado, saberá quais são seus pontos fortes, o que construiu em sua caminhada de aprendizagem e o que ainda precisa desenvolver e melhorar.
E ainda, autoavaliação é vista como um instrumento de aprendizagem e autonomia, proporciona um novo olhar sobre o processo de promoção do ensino e da aprendizagem, refletindo também as práticas avaliativas, diagnosticando as possíveis dificuldades, tanto do aluno como do professor enquanto mediador do conhecimento. Ressaltou-se também a autoavaliação como instrumento a ser utilizado para promover a equidade no processo avaliativo e no fazer pedagógico, pois proporciona momentos de autoanálise que contribuem para avanços no processo da aprendizagem. O que possibilita ao aluno jovem o entendimento como participante ativo do processo, refletir sobre as etapas percorridas, sobre seu processo, avançando, assim, na construção da autonomia e responsabilidade sobre a sua aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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[1]Letróloga, Mestre em Métodos e Gestão em Avaliação pelo Programa de Mestrado Profissional em Métodos e Gestão em Avaliação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
[2]Administradora, Doutoranda e Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
[3]Pedagoga, Doutora e Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).