APRESENTAÇÃO
v.8 n. 2 Mar./Ago. 2022
A revista P2P&Inovação tem a grande satisfação de publicar o segundo número do seu oitavo volume. São oito anos trabalhando para criar e manter um espaço comum para autores e leitores se encontrarem livremente. Temos conseguido cultivar pesquisadores e estudantes para publicar seus trabalhos na revista, ao mesmo tempo que estamos formando público de leitores para uma área temática em construção.
A Revista P2P & INOVAÇÃO é uma publicação semestral, vinculada ao Grupo de Pesquisa Economias Colaborativas e Produção P2P no Brasil do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT. Nossa revista tem como missão oferecer espaço de reflexão e debate sobre as diversas experiências de economia solidária e de produção colaborativa entre pares, tendo em vista especialmente seu caráter de inovação nos âmbitos ambiental, social, político, econômico e cultural.
Quer-se especialmente divulgar experiências e investigações sobre a emergência da produção P2P e a promoção do bem comum pela e na sociedade civil. Além disto, a revista está aberta a temáticas conexas e abordagens inovadoras.
Entre os temas de interesse para publicação estão: políticas de ciência e tecnologia; ciência aberta; desenvolvimento sustentável; políticas e práticas de inovação; tecnologias de informação e comunicação; tecnologias digitais, vigilância e privacidade; regulação pública da comunicação, do acesso a informação e do uso de dados; inteligência artificial; propriedade intelectual e licenças especiais de uso; cultura e economia criativa; estudos organizacionais e gestão da informação; desafios e inovação na comunicação científica; controvérsias dos direitos humanos na ciência, tecnologia e inovação; crítica da economia política da Informação e comunicação.
É importante reafirmar nosso compromisso da nossa revista com a construção de um outro mundo, solidário e colaborativo. Nossa caminhada se iniciou há oito anos publicando os trabalhos escritos a partir de um curso livre sobre peer production ministrado por Michel Bauwens na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Estamos vivendo tempos muito difíceis, em que nossa capacidade de resistir e sonhar está sendo testada a cada dia. Há uma convergência de ameaças a vida em equilíbrio. Em primeiro lugar, há uma devastação ambiental e uma economia baseada no uso de combustíveis fosseis que estão resultando em aquecimento global e em mudanças climáticas. Os sinais e os sintomas destas mudanças estão por toda parte no globo. Sim, a terra é redonda.
A emergência da pandemia global de Covid-19 no inicio de 2020 é mais um sintoma das mudanças globais. O alerta sanitário global decretada pela Organização Mundial de Saúde não foi capaz de impedir 480 milhões de casos e 6 milhões de mortes de pessoas. A tragédia sanitária tem rostos, famílias e endereços. Não são apenas números de uma contabilidade mórbida.
Por outro lado, a tragédia abriu questões importantes para a vida em sociedade na contemporaneidade. A ideia uma ordem econômica monolítica que nos conduzia a naturalização da desigualdade e da pobreza parece ter fraturado de modo irreversível. As mãos do capitalismo são incapazes de responder as mais simples necessidades. Ao contrário, parece concorrer para a escassez e a exclusão cada vez maior de grupos sociais.
Outro aspecto importante para nós, brasileiros, foi a afirmação do Estado como agente de promoção de bem-estar. Foi e tem sido o Sistema Único de Saúde que assumiu o protagonismo de proteção da nossa saúde. Deve-se mencionar que, quando a pandemia emergiu, havia forte retórica de privatização dos serviços públicos. O próprio governo federal tinha iniciativas neste sentido. Bem, os resultados obtidos pelo SUS tornaram esta destruição em algo impensável.
Outra questão importante foi o uso de fundamento racional, especialmente científico, para a construção e execução das políticas públicas. Houve a negação da gravidade da pandemia e das medidas necessárias para enfrentá-la, incluindo a negação da utilidade e da eficácia das vacinas. Contudo, o conhecimento racional prevaleceu e, mesmo com dificuldade e atrasos, as medidas foram tomadas. Isso impediu uma tragédia humanitária ainda maior.
Quando o avanço da vacinação cobriu metade da população global, e parecia que a pandemia caminhava para um nível de controle razoável, a espécie humana mostrou que a estupidez tem dificuldade de definir seus limites. A Rússia invadiu a Ucrânia, na fronteira leste da Europa, desencadeamento mais destruição e mortes. Naturalmente, mais uma vez, são o poder e o dinheiro que mostram suas garras.
A humanidade está precisando de recursos para ampliar as medidas de controle da pandemia da Covid-19, para proteger os mais vulneráveis e para recuperar as atividades sociais, como as escolas. A consequência direta da guerra na Ucrânia é que a maioria dos países ricos está duplicando os seus orçamentos militares. A bilionária indústria de armamentos agradece o investimento destrutivo.
É neste cenário que o foco e o escopo da revista P2P&Inovação são afirmados. Não será o individualismo egocêntrico e a mão invisível das grandes corporações que vão construir uma vida melhor e menos ameaçada. O mundo precisa mudar, urge. Só a solidariedade e a mediação do direito podem proteger o ambiente e a sociedade, e nela promover a saúde e o bem-estar. Só as políticas públicas em bases racionais podem ser efetivas na construção de outro mundo. É possível.
Rio de Janeiro, 25 de março de 2022
Clovis Ricardo Montenegro de Lima
Editor