APRESENTAÇÃO
v.9 n. 1 Set.2022/Fev.2023
Esse número da revista P2P&Inovação está sendo publicado em uma hora de grandes expectativas na sociedade brasileira, em função das eleições gerais que incluem a escolha do presidente da República. Após dois anos de pandemia da Covid-19, com mais 600 mil mortos, o Brasil está imerso em uma profunda crise social e econômica, com desemprego e fome. Há muita dor e sofrimento disseminados numa somatória de tragédias.
Nossa revista tem a proposta de fazer discussões em torno da democracia e do bem-estar, da produção colaborativa, da inovação, da economia solidária, da sustentabilidade ambiental. As Ciências da Informação estão num território transdisciplinar, principalmente entre as ciências sociais e humanas, onde emergem suas questões próprias, como a gestão da informação, a organização do conhecimento e a comunicação científica.
Nessa apresentação da revista gostaríamos de destacar os centros de gravidade da maioria dos artigos aqui publicados: a economia solidária, a inovação e a sustentabilidade ambiental. Esta publicação abre com um artigo sobre os desafios do empreendedorismo feminino rural, com um estudo de caso sobre a associação das colônias. Em seguida é apresentado um estudo exploratório de questões de gestão em empreendimentos de economia solidária. Finalmente discute-se o cooperativismo como modo de fortalecimento do pequeno agricultor nos centros urbanos e nas suas periferias.
O segundo aglomerado de artigos está construído sobre a inovação, especialmente a inovação científica e tecnológica. O primeiro artigo neste grupo aborda a inovação no contexto das universidades públicas federais, que são parte importante e protagonista na rede de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. O segundo artigo trata do papel da comunicação na inovação. É mais uma discussão sobre a interação pela linguagem entre pesquisadores como elementos facilitadores e indutores para a inovação.
O terceiro grupo de artigos aborda questões de sustentabilidade, particularmente da sustentabilidade ambiental. Esse grupo abre com a proposição da avaliação da sustentabilidade das organizações. Segue com uma a discussão sobre as águas da região Amazônia, discutindo as outorgas de uso. As questões de sustentabilidade da vida e do trabalho na Amazônia são de interesse global, e interferem fortemente na posição do Brasil no mundo.
A revista conclui com dois artigos sobre sistemas de informação. Um dos artigos aborda os sistemas de apoio a decisão, vinculando o seu uso com a melhoria de uma organização do setor elétrico. O outro artigo discute a questão relevante e emergente da gestão da segurança da informação. São apresentadas e discutidas políticas de defesa cibernética e estratégias para proteção de dados e informações na administração pública brasileira.
No dia seguinte à escolha do próximo presidente se inicia a discussão sobre condições possíveis da agir para a reconstrução racional da vida em sociedade. A pandemia de Covid-19 nos deixou feridas profundas. A crise econômica internacional só dificultou a vida dos brasileiros. O desgoverno nacional facilitou o desmanche da indústria, o desemprego de dezenas de milhões de pessoas, a volta da inflação monetária e a insegurança alimentar de 35 milhões de brasileiros, ao lado de níveis estarrecedores de devastação ambiental e da invasão criminosa das terras indígenas. A dívida social com trabalhadores, pobres, mulheres, negros e índios é enorme.
Uma das características sociais importantes dos últimos anos no Brasil tem sido a negação da ciência. O auge deste surto de negacionismo foi a recusa a vacinação em geral, particularmente das vacinas contra a Covid-19. Estima-se que o retardo desta vacinação em 2021 tenha facilitado 400 mil mortes. Esta negação extrema da ciência inclui a recusa da evolução, com o mito do design inteligente, e a teimosia sobre o Terra ser plana. Na época da Internet as informações falsas se disseminam rapidamente.
Assim, uma das mais importantes tarefas políticas para o próximo período é o resgate da ciência como fundamento das políticas públicas em sociedades democráticas e pluralistas. É deste modo que vamos equacionar a criação de dezenas de milhões de empregos, a estabilidade monetária, a garantia de comida no prato, com a proteção das riquezas naturais e a preservação do meio ambiente. É neste processo que queremos nos inserir, contribuindo para a discussão com nossa agenda critica e propositiva.
Todas as sociedades foram fundadas sobre o conhecimento, assim como a modernidade se funda sobre o conhecimento racional e a ciência. Contudo, só a sociedade contemporânea tem a informação como centro das suas dinâmicas. O nosso modo de agir, interagir e criar vínculos estão associados não apenas ao uso da linguagem, mas também a produção da informação, bem como a sua disseminação, circulação e uso. A nossa sociedade é uma sociedade da informação.
A tarefa de construção racional de uma sociedade democrática e pluralista no Brasil tem muitas dificuldades. A pandemia da Covid-19 escancarou as nossas desigualdades, velhas e novas. O Jeca não é assim, ele está assim!, dizia Monteiro Lobato. Apesar da popularização dos celulares, há a exclusão de dezenas de milhões de brasileiros do acesso a Internet, ou com acesso precário e limitado.
Nós estaremos juntos nesta construção, solidária e generosa. Não temos medo de ser felizes.
Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2022
Clovis Ricardo Montenegro de Lima
Editor