Panorama da adoção de incentivos fiscais para promover desenvolvimento de setores econômicos com foco na inovação

 uma revisão da literatura internacional especializada[1]

Marcos Aurélio Pereira Valadão[2]

Fundação Getúlio Vargas

profvaladao@yahoo.com.br

Bruno Ferreira da Paixão[3]

Fundação Getúlio Vargas

ferreirabruno7@gmail.com

Benjamin Miranda Tabak[4]

Fundação Getúlio Vargas

benjamin.tabak@fgv.br

Liziane Angelotti Meira[5]

Fundação Getúlio Vargas

liziane.meira@fgv.br

Jeferson Teodorovicz[6]

Fundação Getúlio Vargas

jeferson.teodorovicz@fgv.br

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Resumo

Este artigo investiga a revisão da literatura relativa ao uso de incentivos ficais para promover o desenvolvimento de setores econômicos com foco na inovação.  Por meio de pesquisas estruturadas em bases de dados,aplicando-se análise bibliométrica com abordagem qualitativa e quantitativa, foi possível coletar artigos que tratam do tema identificando os principais autores, como abordam o tema e as principais aplicações nos casos estudados. Além disso, com ao auxílio de técnicas de processamento de textos, foi possível identificar as relações entre os temas de incentivos ficais e seu impacto na inovação. Dessa forma, o presente trabalho se insere em um projeto de pesquisa que tem por objetivo analisar os benefícios fiscais e os incentivos que possam fomentar a inovação.

Palavras-chave: Incentivos fiscais. Inovação. Desenvolvimento

 

OVERVIEW OF THE ADOPTION OF TAX INCENTIVES TO PROMOTE THE DEVELOPMENT OF ECONOMIC SECTORS WITH A FOCUS ON INNOVATION

a review of specialized international literature

Abstract

This article investigates a review of the literature on the use of tax incentives to promote the development of economic sectors focused on innovation. Through structured research in databases, applying bibliometric analysis with a qualitative and quantitative approach, it was possible to collect articles that deal with the theme, identifying the main authors, how they approach the theme and the main applications in the cases studied. In addition, with the help of text processing techniques, it was possible to identify the relationships between the themes of tax incentives and their impact on innovation. Thus, the present work is part of a research project that aims to analyze the tax benefits and incentives that can foster innovation.

Keywords: Tax incentives. Innovation. Develioment.

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1 INTRODUÇÃO

Os incentivos fiscais são amplamente utilizados em muitos países como forma de promover o investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento (P & D). De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),48 países adotaram essas políticas, incluindo: EUA, Austrália, China, Chile, quase todos os estados membros da UE, Coréia do Sul, Rússia, Reino Unido, México, Canadá, Nova Zelândia e Brasil (OECD, 2022).

Este trabalho se insere em um projeto de pesquisa que visa a identificar e analisar os diferentes tipos de programas de benefícios fiscais e incentivos que possam fomentar a inovação.Assim, o objetivo deste levantamento foi analisar a bibliografia produzida para o tema de benefícios fiscais e os impactos nas atividades de inovação.

Este artigo visa identificar a literatura relevante que trata do tema dos benefícios fiscais à inovação. O objetivo é fazer uma análise bibliométrica das publicações de em sequência verificar as principais conclusões dos 15 principais artigos da área considerando as duas bases pesquisadas (Scopus e Web of Science).

 

2 METODOLOGIA

O objetivo é fazer uma análise bibliométrica, com foco quantitativo para pesquisa científica e também uma análise qualitativa a partir das principais publicações. Os dados elaborados por meio dos estudos bibliométricos têm por objetivo mensurar a contribuição do conhecimento científico derivado das publicações em determinadas áreas. Para essa finalidade foram selecionadas as plataformas Scopus, https://www.scopus.com/standard/marketing.uri, e Web of Science, https://www.webofscience.com/wos/woscc/basic-search.

Para esse fim será utilizado o método de Ward para analisar, a forma como são agrupados os termos (palavras e expressões) mais relacionadas ao objeto da pesquisa, a partir de critérios de clusterização, que permitem uma visualização da estrutura hierárquica dos termos associados à pesquisa.

A análise qualitativa é feita com base nas dez principais publicações sobre o tema, considerando os artigos publicados de 2015 em diante, dentre aqueles que foram mais citados, como parâmetro de relevância e importância. A partir dessas dez publicações serão elencadas as principais conclusões a que chegaram os autores dos trabalhos selecionados.

 

2.1 MÉTODO DE WARD

O método aplicado no processamento de texto será a técnica Ward. Essa importante técnica é uma forma de conjunto hierárquico, expresso como um agrupamento realizado por etapas na transformação dos textos. Em suma, são criados "n" grupos de textos, onde "n" é igual ao número de observações, posteriormente os grupos são fundidos e eventualmente tornam-se um (WARD, 1963). Esse método de blending é baseado nos títulos dos artigos criando tópicos e similaridades nos textos. Os resultados dos métodos de agrupamento hierárquico podem ser visualizados por uma nuvem de palavras, no caso do método de Ward.

Para visualização das principais citações será utilizado a visualização de Word Clouds. Uma das formas que se pode usar para destacar a incidência de determinada expressão ou termo (frequência) é por meio de um resumo de texto, a fim de gerar uma visão geral, mais simplificada e intuitiva do texto, destacando-se as palavras com maior frequência.(Isso geralmente é conseguido com o uso de recursos gráficos, como alterar o tamanho da fonte de um texto que tenha maior projeção ou tenha um número maior de repetições presentes. (HEIMERL et. al., 2014).

O uso de nuvens de palavras muitas vezes pode superar os desafios de apresentar informações textuais de maneira clara e intuitiva. Para resumir, uma nuvem de palavras é uma representação gráfica de informações textuais, geralmente palavras-chave, onde as palavras principais estão no centro e são maiores que as palavras menos importantes. O uso de nuvens de palavras como forma de resumir informações textuais tornou-se popular após ser implementado em sites que utilizam nuvens de palavras para representar tags[7].

Figura 1– Cluster Inovação

Interface gráfica do usuário, Texto

Descrição gerada automaticamente

 

 

Figura 2 – Cluster Subsídios e Políticas de Subsídios

Interface gráfica do usuário, Texto

Descrição gerada automaticamente

 

 

Ao analisar os grupos, é possível observar, em seu primeiro cluster, palavras associadas à inovação e evidências. Já o segundo cluster tem como palavras chaves a política implementada, o impacto do governo e o ambiente de regulação.

Os resultados dos métodos de agrupamento hierárquico podem ser visualizados por um dendrograma, no caso do método de Ward, uma extremidade do dendrograma é o menor número de agrupamentos - geralmente apenas um - e no outro extremo, o maior número de agrupamentos, pressionando "n” agrupamentos.

 

 

 

 

 


Figura 3 – Dendograma de textos e cluster

Tabela

Descrição gerada automaticamente com confiança média


Figura 4 – Cluster 1 de Textos e Títulos

 

Figura 5 – Cluster 2 de Textos e Títulos

 

 

3 INFORMAÇÕES E DADOS

Para parametrizar as buscas nas plataformas foram definidas variáveis para análise bibliométricas nas plataformas Scopus e Web of Science foram: Ano, título, linguagem da publicação. Para parametrizar os resultados nas plataformas foram utilizados os termos para título: “innovation”, “fiscal expenditures”, “taxexpenditure”, “tax incentives” e “subsidies”, com espaço temporal entre anos de 2003 e 2022 e subárea de pesquisa relacionada a economia.

A pesquisa na base da Scopusresultou em 758resultados e na base Web of Scienceem 261. Utilizando o softwareOrange[8] foi possível analisar o resultado de pesquisa de ambas as bases de dados, pelo que se obteve uma base total de 1.019 resultados.Disso resultaram 999 artigos científicos e 20 artigos de conferência.

Os termos indicados acima foram buscados no título, resumo e palavras-chave dos artigos em Scopus e no Web of Science, trabalhando-se com o intervalo temporal de inicial no ano 2003 até 2022. Pesquisou-se apenas os artigos que estão publicados em língua inglesa em revistas, artigos de conferência e revisões de literatura. A partir dessa escolha metodológica foi possível focar nos artigos mais relevantes da literatura n área, de forma que se possa pesquisar a relevância dos incentivos para a inovação. Para fins metodológicos foram geradas duas buscase, posteriormente os resultados foram unificados em uma única base de dados de pesquisa.[9]

4 RESULTADOS

Destaque-se que em um resultado do tipo wordcloud, cada vocábulo tem seu tamanho determinado pela importância nocorpus de texto. Trata-se, de forma geral, de decorrência dasimples contagem das ocorrências do vocábulo no texto verificado.

Para geração das wordclouds são criadas as "bag of words”. Bag of words são formas de representar o texto de acordo com a ocorrência das palavras nele. Traduzindo para o português, o “saco de palavras” recebe esse nome porque não leva em conta a ordem ou a estrutura das palavras no texto, apenas se ela aparece ou a frequência com que aparece nele.

No resultado apresentado, podemos observar que a palavra “innovation” apareceu 245 vezes, “subsidies” 131 vezes, “policy” 107 vezes, “evidence” 89, “growth” 89 vezes, “china” 74 e “tax” 72. Isso demonstra os principais termos que foram encontrados nos títulos dos artigos.

Texto, Linha do tempo

Descrição gerada automaticamenteFigura 6 – Nuvem de Palavras dos títulos das publicações

 

 

 

 

 

 

 

 

Pode ser identificada também, com a metodologia usada, a distribuição geográfica mundial da produção científica considerando os termos e a área de conhecimento pesquisada, conforme representado abaixo:

Figura 7 - Países das Publicações

Mapa

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Elaborado pelos autores (2022)

O gráfico ilustra claramente a distribuição da produção científica sobre o tema da política de incentivos fiscais e inovação. A liderança incontestável da China, seguido por Estados Unidos como líderes em produção científica sobre o assunto, o que confirma os achados de dados anteriores. Em conjunto, esses fatores determinam o papel de liderança do país no cenário global, o que permite vincular sua liderança indiscutível a uma estrutura que favorece a continuidade da pesquisa, como é nas discussões sobre benefícios fiscais e inovação.

O Quadro 1 abaixo fornece informação mais pormenorizada da produção científica sobre o tema dos benefícios fiscais com impacto na inovação:

Quadro 1 -   Países de origem das publicações

Tabela

Descrição gerada automaticamente

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Por fim, foram selecionadas as obras mais relevantes das pesquisas realizadas, considerando ainda que essa seleção é essencial para fundamentação do tema e como são retratadas nas referidas publicações. No momento da seleção, foram observados os artigosque guardampertinência com o tema a ser estudado, sendo eliminados os exógenos em termos de conteúdo não relacionado à pesquisa. Nesse sentido, foram selecionados os seguintes artigos, em ordem decrescente de citação (listados por título):

1 - Financing innovation: Evidence from R&D grants.Howell, S. T. (2017). Financing innovation: Evidence from R&D grants. American Economic Review, 107(4), 1136-1164. doi:10.1257/aer.20150808 - 225 .citações.

2 - Patent statistics: A good indicator for innovation in china? patent subsidy program impacts on patent quality.Dang, J., &Motohashi, K. (2015). Patent statistics: A good indicator for innovation in china? patent subsidy program impacts on patent quality. China Economic Review, 35, 137-155. doi:10.1016/j.chieco.2015.03.012 - 207 citações.

3 - Public R&D policies and private R&D investment: A survey of the empirical evidence. Becker, B. (2015). Public R&D policies and private R&D investment: A survey of the empirical evidence. Journal of Economic Surveys, 29(5), 917-942. doi:10.1111/joes.12074 - 185 citações.

4 - Innovation, reallocation, and growth.Acemoglu, D., Akcigit, U., Alp, H., Bloom, N., & Kerr, W. (2018). Innovation, reallocation, and growth. American Economic Review, 108(11), 3450-3491. doi:10.1257/aer.20130470–121 citações

5 - Picking ‘winners' in China: Do subsidies matter for indigenous innovation and firm productivity?Howell, A. (2017). Picking ‘winners' in china: Do subsidies matter for indigenous innovation and firm productivity? China Economic Review, 44, 154-165. doi:10.1016/j.chieco.2017.04.005 -  66- citações.

6- What promotes R&D? Comparative evidence from around the world. Research Policy.Brown, J. R., Martinsson, G., & Petersen, B. C. (2017). What promotes R&D? Comparative evidence from around the world. Research Policy, 46(2), 447-462. - 60 citações.

7 - Do more subsidies promote greater innovation? Evidence from the Chinese electronic manufacturing industry.Liu, D., Chen, T., Liu, X., & Yu, Y. (2019). Do more subsidies promote greater innovation? evidence from the chinese electronic manufacturing industry. Economic Modelling, 80, 441-452. doi:10.1016/j.econmod.2018.11.027 - 45 citações.

8 - Subsidies, financial constraints and firm innovative activities in emerging economies. Mateut, S. (2018). Subsidies, financial constraints and firm innovative activities in emerging economies. Small Business Economics, 50(1), 131-162. doi:10.1007/s11187-017-9877-3 - 43 citações.

9- The effectiveness of tax incentives for R&D plus i in developing countries: The case of Argentina. Crespi, G., Giuliodori, D., Giuliodori, R., & Rodriguez, A. (2016). The effectiveness of tax incentives for R&D+ i in developing countries: The case of Argentina. Research Policy, 45(10), 2023-2035 - 39 citações.

10 - Public R&D subsidies: collaborative versus individual place-based programs for SMEs.Bellucci, A., Pennacchio, L., &Zazzaro, A. (2019). Public R&D subsidies: Collaborative versus individual place-based programs for SMEs. Small Business Economics, 52(1), 213-240. doi:10.1007/s11187-018-0017-5 - 36 citações.

11 - Input and output additionality of R&D subsidies. Czarnitzki, D., &Hussinger, K. (2018). Input and output additionality of R&D subsidies. Applied Economics, 50(12), 1324-1341. doi:10.1080/00036846.2017.1361010 - 34 – citações

12 - Participation inertia in R&D tax incentive and subsidy programs. Busom, I., Corchuelo, B., & Martínez-Ros, E. (2017). Participation inertia in R&D tax incentive and subsidy programs. Small Business Economics, 48(1), 153-177 - 28 citações.

13 - Impacts of government R&D subsidies on venture capital and renewable energy investment - an empirical study in China. Wu, T., Yang, S., & Tan, J. (2020). Impacts of government R&D subsidies on venture capital and renewable energy investment -- an empirical study in china. Resources Policy, 68 doi:10.1016/j.resourpol.2020.101715 - 25 – citações.

14 - Government R&D subsidies, intellectual property rights protection and innovation. Deng, P., Lu, H., Hong, J., Chen, Q., & Yang, Y. (2018). Government R&D subsidies, intellectual property rights protection and innovation. Chinese Management Studies, 13(2), 363-378. -17 citações.

15 - The incentive effects of R&D tax credits: An empirical examination in an emerging economy. Chen, M. C., & Gupta, S. (2017). The incentive effects of R&D tax credits: An empirical examination in an emerging economy. JournalofContemporaryAccounting&Economics, 13(1), 52-68 - 14 – citações.

 

5 ANÁLISE

Segue uma descrição dos principais achados dos artigos, por ordem decrescente de citações, conectando as temáticas abordadas.

Dentre os artigos mais citados, Howell (2017) e Becker (2014) afirmam que subsídios em P&D têm impactos positivos em registros de novas patentes e de receitas, sendo os efeitos mais fortes em empresas com mais restrição de capital.

Contudo, em outro artigo, Anthony Howell (2017) sustenta que os subsídios só têm efeito real em empresas de alta tecnologia, pelo menos no curto prazo, sendo que DaronAcemoglu, UfukAkcigit, HarunAlp, Nicholas Bloom, eWilliam Kerr (2018) concluíram que a tributação do setor pode resultar uma migração positiva para empresas mais eficientes e com melhores resultados de inovação, sendo os subsídios ineficientes.

Outro ponto destacado na literatura é que o registro de patentes é eficazcomo mecanismo de verificação da efetividade das políticas de P&D, especialmente subsídios (Dang, Motohashi, 2015).

James R. Browna, Gustav Martinssonb, Bruce C. Petersen (2016), analisando somente os países da OCDE, concluíram por políticas de crédito e financiamento mais assertivas e maior proteção à propriedade intelectual, e, ao contrário, direitos dos credores mais fortes, funcionam positivamente para promoção de investimentos inovadores de alta tecnologia, melhor até que subsídios fiscais, os quais funcionam mais adequadamente em setores em indústrias que não são de alta tecnologia.

A pesquisa de Dayong Liu, Tong Chen, Xiaoyang Liu, Yongze Yu (2018) confirma a controvérsia sobre o efeito dos subsídios governamentais na inovação tecnológica. Descobriram também, a partir de dados da indústria eletrônica chinesa, que os subsídios podem promover a inovação tecnológica, mas, em excesso, podem inibir a inovação, sendo que os subsídios são mais impactantes em empresas não estatais que nas estatais.

Em contraste aos estudos de Browna et. al. (2016), Simona Mateut (2017), em pesquisa que considerou30 países em desenvolvimento da Europa Oriental e Ásia Central, concluiu haver uma relação positiva entre os subsídios públicos e as atividades inovadoras. Nesse aspecto, verificou-se que essa correlação é mais forte para empresas mais propensas a serem financeiramente restritas (entendimento alinhado aos estudos de Browna et. al. (2106)).

Os resultados de Simona Mateut são também corroborados por um estudo específico sobre a Argentina e conduzido por Crepi et. al. (2014), mas que, por outro lado, concluíram também que os resultados variam dependendo do tipo de investimento em inovação subsidiado, do setor industrial e do tamanho da empresa.

Crepi et al (2014) encontraram resultados inversos aos de Brown et al. (2016), no que diz respeito ao nível de tecnologia da empresa e aos efeitos dos subsídios tributários (para o segundo a correlação é negativa, enquanto para o primeiro é positiva), talvez porque Brown et. al. pesquisaram países desenvolvidos enquanto o outro estudo é sobre um país em desenvolvimento.

Andrea Bellucci, Luca Pennacchio e Alberto Zazzaro (2018) chegaram a conclusões de correlação positiva entre subsídios (via subvenção) e P&D para pequenas e médias empresas em determinada região da Itália, embora encontre efeitos diferentes entre empreendimento individuais (estes mais eficiente) e colaborativos. Dirk Czarnitzk e KatrinHussinger (2017), por sua vez, usando a produção de patentes como medida, concluíram que há efeito positivo na concessão de subsídios públicos para P&D.

Já as autoras Isabel Busom. Beatriz Corchuelo, e EssterMartıínez-Ros (2016), em estudo referente à indústria espanhola, concluíram que há diferenças entre concessão de créditos tributários (renúncia de receita) e de subsídios (subvenções) à P&D, sendo mais eficientes um ou outro dependendo do tipo de indústria e da inovação buscada.

Em outras palavras, os benefícios genéricos podem levar a falhas na alocação de recursos, sem necessariamente corrigir as falhas de mercado.

Ting Wu, Shuwang Yang e Jingjing Tan (2020), em outro estudo sobre a China, mas com foco no setor de energia renovável,  eque, em geral, é setor dependente de subsídios governamentais, concluíram que os investimentos governamentais em P&D na área acabam manifestando efeito positivo, especialmente nas empresas estatais. Também compararam com mercado de venture capital, que poderia ser beneficiado com essa política.

Em outrapesquisa sobre a China, Ping Deng, Hao Lu, Jin Hong, Qiong Chen e Yang Yang (2019), por sua vez voltada à indústria farmacêutica, segregando a análise também por região, com foco na interação entre subsídios a P&D e o tema da proteção de direitos à propriedade intelectual, concluíramque existe um efeito complementar entre esses dois aspectos no sentido de efeito positivo à inovação, embora restrito a duas regiões (leste e oeste), mas o efeito dos incentivos governamentais foi positivo somente em relação à região central, sendo negativo em relação à região leste, no que diz respeito à inovação.

Ming-Chin Chen, Sanjay Gupta Ming-Chin Chen e Sanjay Gupta (2016), em artigo que analisa Taiwan, que tem grande centro de desenvolvimento tecnológico, com foco sobre o efeito de benefícios de créditos tributários sobre P&D, concluíram queo aumento do crédito fiscal para uso em P&D apresentaum efeito positivo sobre os gastos em P&D das empresas de alta tecnologia, e, portanto, de inovação, mas não sobre os gastos com P&D das empresas que não são de alta tecnologia. Porém, os incentivos fiscais abundantes por si só podem não ser suficientes para atingir a meta política declarada de estimular o investimento adicional em P&D, porque as empresas podem se amoldar utilizando os recursos públicos, sem aumentar os investimentos próprios e as oportunidades de inovação na indústria podem desempenhar um papel mais importante para as empresas responderem aos incentivos fiscais.

 

6 CONCLUSÕES

De forma geral, pode-se extrair a conclusão de que, a depender da forma da abordagem levada a efeito nos artigos analisados, os resultados gerais podem ser inconclusivos, já que há controvérsia entre os resultados de alguns trabalhos analisados. Porém, de forma geral, para países em desenvolvimento, especialmente no caso da China, os resultados tendem a apontar para efeitos positivos de subsídios tributários para o setor de inovação (P&D).

Todavia, há indicações de que o setor de alta tecnologia depende também de outros fatores, como a facilidade de garantir os direitos de propriedade intelectual, enquanto os setores de tecnologia mais comum respondem melhor aos incentivos tributários, os quais, porém, contém certos limites.

A revisão da literatura realizada nesse trabalho, de acordo com as metodologias eleitas,ademais, aponta que o tema “uso de incentivos fiscais para promover desenvolvimento de setores econômicos com foco na inovação”, é amplamente abordado pela comunidade acadêmica nas plataformas de pesquisa e em veículos depublicação de obras acadêmicas.

Os estudos indicam também haver diferenças de impacto em se tratando renúncias fiscais e subsídios diretos (subvenções), além do que as empresas podem se aproveitar dos benefíciosse amoldando aos resultados esperados, utilizando os recursos públicos, sem necessariamente aumentar os investimentos próprios. Além desses aspectos a literatura também indica que há diferenças em relação aos efeitos da intervenção governamental em relação às indústrias de alta e de baixa tecnologia, o que indica que políticas gerais, sem os recortes específicos do setor, tendem a ser maisineficientes.

A revisão da literatura sobre ao uso de incentivos fiscais para promover desenvolvimento de setores econômicos com foco na inovação reflete essa tendência, conforme os resultados obtidos pelas técnicas de revisão bibliográficautilizadasno trabalho.

Pode se afirmar que há uma vasta literatura sobre o tema dos benefíciosfiscais e subsídios à inovação. Porém, há muitas áreas a serem exploradas a partir de pesquisa sobre diversos formatos da intervenção governamental em busca de acelerar a inovação, e também em como medir os efeitos dessa intervenção, devendo ser considerados não só a forma da intervenção, mas também os setores de tecnologia envolvidos e seus respectivosgrausde desenvolvimento, bem como os objetivos a serem atingidos, além da inovação, como sustentabilidade e bem-estar social.

REFERÊNCIAS

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 WARD, Joe H.. Hierarchical Grouping to Optimize an Objective Function. Journal Of The American Statistical Association, v. 58, n. 301, p. 236-244, mar. 1963. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/01621459.1963.10500845. Acesso em: 31 maio 2023.

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[1]  Trabalho desenvolvido no âmbito de Projeto de Pesquisa financiado pela FAPDF (Edital 04/2021).

[2]Doutor em Direito (SMU-EUA). Professor da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (EPPG/FGV). Professor do Programa de Mestrado em Políticas Públicas e Governo da EPPG/FGV.  E-mail: marcos.valadao@fgv

[3] Mestre em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas. Doutorando em Economia pela Unviersidade Católica de Brasília.

[4]Doutor em Economia (UnB). Professor da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (EPPG/FGV). Professor do Programa de Mestrado em Políticas Públicas e Governo da EPPG/FGV. E-mail: benjamin.tabak@fgv. br

[5]Doutora em Direito (PUC-SP). Professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (EPPG/FGV). Professora do Programa de Mestrado em Políticas Públicas e Governo da EPPG/FGV. E-mail: liziane.meira@fgv.br .

[6]Doutor em Direito (USP). Professor da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (EPPG/FGV). Professor do Programa de Mestrado em Políticas Públicas e Governo da EPPG/FGV.E-mail: jeferson.teodorovicz@fgv.br 

[7]Rótulo que ajuda a identificar o conteúdo do artigo em uma base de dados ou sistema de busca. As tags geralmente consistem em palavras-chave relevantes ao tema do artigo e são usadas para facilitar a busca e organização de artigos por assunto.

[8]Orange é um kit de ferramentas de visualização de dados, aprendizado de máquina e mineração de dados de código aberto. Ele apresenta um front-end de programação visual para análise exploratória de dados qualitativos rápida e visualização interativa de dados.

[9]Parâmetros Scopus:

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