AS REDES SOCIAIS COMO ESPAÇO DE MEMÓRIA

o Facebook como potencial instrumento na construção de memórias escolares

Ione dos Santos Pereira [1]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

ione.pereira@edu.unirio.br

Priscila Ribeiro Gomes[2]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

priscila.gomes@unirio.br

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Resumo

O presente artigo é fruto do trabalho de conclusão de curso em Arquivologia. A pesquisa observou grupos de comunidades escolares formados no Facebook, que postam registros particulares e individuais voltados ao universo das instituições de ensino pelas quais os integrantes dos grupos passaram. Verificou-se que tais registros ao serem compartilhados atingem uma memória coletiva por parte dos sujeitos que frequentaram em determinado período, o espaço escolar, evidenciando o quanto o Facebook se constitui como um lugar de memória, justificada, inclusive, em alguns casos, pela ausência desse tipo de acervo sob posse da instituição de ensino. Para tanto, tal estudo se concentrou em pesquisar dois grupos do Facebook, com ênfase nas postagens e interação de seus usuários diante de um documento escolar, sendo feito um recorte nos anos em que foram feitas as postagens. De cada grupo, foi analisada uma postagem anual compreendendo os períodos de 2019 à 2022.

Palavras-chave: Memória. Escola. Redes sociais on-line. Facebook (Rede social on-line).

SOCIAL NETWORKS AS A MEMORY SPACE

Facebook as a potential instrument in the construction of school memories

 

Abstract

This article is the result of the Final Paper of the Archivology Course. The research observed groups of school communities formed on Facebook, which post private and individual records aimed at the universe of educational institutions through which the members of the groups passed. It was found that such records, when shared, reach a collective memory on the part of the subjects who attended the school space in a certain period, showing how Facebook is constituted as a place of memory, justified, even, in some cases, by the absence of this type of collection held by the educational institution. To this end, this study focused on researching two Facebook groups, with emphasis on the posts and interaction of its users in front of a school document, with a cut in the years in which the posts were made. From each group, an annual post comprising the periods of 2019 to 2022 was analyzed.

Keywords: Memory. School. Electronic social networks. Facebook (Electronic social network).

1  INTRODUÇÃO

            Uma instituição escolar possui diversos artefatos que podem ser resgatados com o intuito de restaurar a memória e a história de uma instituição de ensino. Esses artefatos vão desde a arquitetura do imóvel, o mobiliário, um documento administrativo, um documento pedagógico, o uniforme de determinada época, trabalhos realizados nas práticas do ensino-aprendizagem em sala de aula, entre outros. Os documentos de arquivo estão entre os artefatos de maior relevância por possibilitarem a reconstrução dos caminhos percorridos pela educação, indagando acerca das transformações, insistindo no entendimento das práticas escolares e dos aspectos diferenciados do cotidiano, nas múltiplas apropriações do espaço e do tempo escolar (PAULILO et al, 2004). Os documentos que compõem o acervo escolar, em sua grande maioria, são produzidos no exercício referentes à rotina administrativa e às práticas pedagógicas, permitindo, dessa forma, conhecer o passado, entender o presente e projetar o futuro das instituições de ensino e do próprio sistema educacional no Brasil. Mais do que a relevante função do arquivo escolar citada no parágrafo anterior, Rodrigues e Gomes (2021) nos explica que devemos pensar os arquivos para além da sua razão primária de criação, alargando o seu valor social, incentivando assim, a sua importância junto aos cidadãos, que é primordial para a formação dos valores patrimoniais, culturais, de memória e de identidade. À vista disso, os registros presentes nos arquivos escolares, como por exemplo, a prova, o teste, a maquete, a apresentação de trabalhos (às vezes filmagens em fitas de videocassete), o registro fotográfico de um passeio, a medalha recebida em alguma competição estudantil, etc., são produzidos com a participação conjunta de professores, alunos, funcionários e comunidades no entorno dessas escolas, que é parte significativa, pois integram os arquivos pessoais desses atores. Quanto a isso, MOGARRO (2006) diz que:

  No registo mais íntimo da vida privada, os arquivos particulares de antigos alunos e professores guardam espólios constituídos por materiais muito variados, geralmente produzidos pelos próprios proprietários do arquivo. A conservação desses documentos ao longo de uma vida e a emoção com que são revisitados pelos seus detentores/produtores evidencia a importância que as pessoas atribuem aos processos escolares e formativos nas suas histórias de vida, assim como aos percursos profissionais, no caso dos professores. Esses espólios integram materiais e trabalhos escolares, fotografias, publicações, produtos decorrentes da actividade docente, que são documentos que normalmente não se encontram nos arquivos das instituições escolares (MOGARRO, 2006. p, 78).

A falta de incentivo no que se refere aos cuidados com a conservação e a preservação, bem como a carência de um arquivo escolar que guarde para além dos seus documentos administrativos e pedagógicos, motivaram a referida pesquisa que analisou o ambiente da rede social “Facebook” como um espaço onde os seus usuários se empenham no propósito de “guardar” essas memórias e revisitar esses vestígios que, em algum momento, irão contribuir para a história da educação, e que é possível, por meio do compartilhamento desses registros dos tempos de escola, reviver e reconstruir o espaço escolar.

Para este estudo optamos por uma metodologia bibliográfica de cunho investigativo nas redes sociais, a partir da análise de dois grupos do Facebook - Escola Ceará e Histórias de Inhaúma, que se dizem respeito à preservação de memórias escolares, compreendendo postagens publicadas entre 2019 a 2022.

 

2 AS MEMÓRIAS ESCOLARES

            Nora (1993) considera que “a memória é a vida, sempre carregada de grupos vivos, em constante evolução, dialogando com as lembranças e o esquecimento. Um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente, de natureza múltipla e desacelerada, coletiva, plural e individualizada, enraizada no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto”.  Incluindo a realidade virtual, CUNHA (2011) nos diz que:

A memória está ligada aos sentidos humanos em todas as suas possibilidades e também aos muitos papéis que o sujeito é capaz de exercer na sociedade, seja presencial ou virtual, dimensões cujas fronteiras desaparecem. [...] Lembrança ou esquecimento estão associados também a estratégias cerebrais e estímulos que têm origem nas próprias lembranças e vivências (CUNHA, p. 113, 2011).

            Com isso, é possível refletir em como o ambiente escolar tem um papel fundamental na construção das memórias individuais e coletivas. Nora (1993) ressalta que a escola é um lugar onde existem grupos que se socializam e acumulam fragmentos de vivências e acontecimentos que resultam nas mais variadas experiências que contribuirão para reconhecimento desses sujeitos inseridos numa sociedade e o sentimento de pertencimento e identidade social.  O ambiente escolar produz nos indivíduos memórias diversificadas e complexas, começando desde a infância, com a imersão na aprendizagem e o acompanhando por boa parte de sua vida.

            Os sujeitos que frequentam o ambiente escolar certamente lembrarão o local onde a escola está instalada, do prédio, do mobiliário, dos equipamentos e instrumentos utilizados, do plano de ensino-aprendizagem, do uniforme e do material escolar, dos livros didáticos, das atividades em sala de aula, das datas comemorativas e além de tudo, certamente lembrarão das relações sociais e das amizades que se fizeram ao longo dos anos. Dessa forma, todo esse conjunto de coisas, está intrinsecamente ligado à constituição das práticas escolares antigas e atuais, tecendo, juntamente aos documentos textuais e fotográficos, múltiplas histórias da escola e da educação. Esses artefatos têm levado pesquisadores a problematizar as balizas que tradicionalmente distinguem documentos arquivísticos e museológicos e a advogar o não desmembramento dos acervos escolares (VIDAL, 2005).    

  

3 OS “DESAFIOS” RELACIONADOS À PRESERVAÇÃO E À CONSERVAÇÃO DOS DOCUMENTOS DE ARQUIVOS ESCOLARES

O interesse em investigar a história da educação, provocou uma mudança de olhar dos pesquisadores em direção aos arquivos escolares devido a grande relevância desse tipo de documentação para o processo de reconstrução da cultura material da instituição escolar. Dessa forma, os investigadores viram nos registros escolares, importantes fontes de pesquisa e produção de conhecimento. No entanto, apesar disso, tais registros não recebem a atenção necessária, tornando-se constantes os relatos de dificuldades enfrentadas por esses pesquisadores ao se trabalhar nesses espaços, em razão das precárias condições em que estão acondicionados. Dentre os muitos fatores que comprometem a preservação e a conservação desses documentos, MOGARRO (2005) destaca as constantes mudanças de localização em que são submetidos ao longo da história da instituição escolar e que acabam contribuindo para a perda da ordem original desses acervos.

 “Vítimas” constantes do descaso, tais acervos, ainda hoje, são recorrentemente chamados de “arquivo morto”. Acondicionados nos lugares mais inusitados, quase sempre são encontrados em salas inutilizadas, porões, vãos de escadas e outros. A falta de um plano de organização, o manuseio incorreto por parte de seus usuários, a escassez de recursos humanos, dispondo de pessoas dotadas de conhecimento técnico, bem como a ausência de políticas públicas, são os exemplos de relatos mais comuns no que diz respeito às condições desses acervos. Documentações de professores e alunos, personagens principais na construção do cotidiano dessas escolas, acabam sendo eliminadas, e junto, também são eliminadas as possibilidades de uma profunda investigação sobre o itinerário histórico dessas escolas.

De acordo com Souza (2013):

As justificativas para se preservar o patrimônio escolar tendem a reiterar a importância da conservação da memória da escola, remetendo a seus vínculos com a formação da infância e da juventude e a espaço de transmissão de cultura e processos de construção de subjetividades e de identidades. Outra argumentação frequentemente ressaltada é a importância da salvaguarda das fontes de pesquisa para as investigações em história da educação (SOUZA, p. 212).

Diante de tais cenários e desafios, as redes sociais podem ser consideradas espaços de memórias que possibilitam a manutenção de uma “escola viva”? E como os muitos registros escolares evidenciados por meio de fotografias, narrativas de experiências, eventos, culturas, afetos, objetos escolares, aprendizados, podem ser representados pela memória no ciberespaço? Por meio desses questionamentos, lançamos nossos olhares para uma perspectiva que tende a contemplar as redes sociais como uma ferramenta capaz de produzir espaços de memória, fortalecendo os vínculos entre os sujeitos escolares.

 

4 A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA ESCOLAR NA REDE SOCIAL FACEBOOK

Na contemporaneidade, a rede social se estabeleceu como um novo espaço de materialização dos registros, podendo ser considerada como um lugar de memória individual e coletiva que permite aos sujeitos contextualizar narrativas de experiências vividas, compartilhando-as com outros indivíduos que possuem interesse em comum. Essas experiências vividas são cotidianamente renovadas e ressignificadas e, para não ser esquecida pelo tempo, uma memória coletiva é cotidianamente construída por meio dos relatos orais, transmitidos entre as gerações e pelos novos suportes trazidos pela modernização tecnológica, como as redes sociais, conforme ressalta Souza (2013).  A rede social viabilizou a modificação dos espaços físicos de revisitação da memória, colocando-a como um “terreno fértil” para os estudos da história da educação. A internet é uma rede mundial de computadores que se consolidou como meio de comunicação em massa onde é possível a troca de informações por pessoas físicas, instituições públicas e privadas em tempo real e sem limite geográfico. Tal tecnologia revolucionou a forma de se comunicar com o outro, transformando o fluxo da informação que se torna cada dia mais veloz e eficaz. Atualmente, a internet promove uma interação que, como dito acima, mudou o “relacionar-se” das pessoas. As redes se estabeleceram como um espaço onde pessoas comuns exercitam a plena liberdade, publicando pensamentos, opiniões, crenças e culturas. Mariz (2012) menciona que a internet,

Pode ser um espaço virtual de comunicação com os diferentes tipos de usuários da instituição e, se utilizando do potencial e características da internet, pode servir para redefinir as formas de relacionamento com os usuários tradicionais [...] (MARIZ, 2012. p. 30).

Aqueles que têm acesso à internet tem a liberdade de circular pelas redes e se comunicar com pessoas do mundo todo, estando interligadas por interesses em comum, sendo do mesmo grupo de amizades ou não. Instituições públicas, empresas, mídia, além de também produzir conteúdo e divulgá-los para os seus seguidores. É possível, por intermédio das Redes Sociais Online, a partir de um registro, contextualizar momentos que são construídos pelos seus usuários, e por óticas diferentes.

Nas redes sociais online não se tem apenas a perspectiva de uma única pessoa sobre o fato ou assunto, habita nelas uma memória construída por diferentes indivíduos, que lá estão colocando suas crenças, visões e sentimentos sobre determinado conteúdo, tem-se a memória de um único objeto sendo construída pelas mãos de várias pessoas, é nesse sentido que os indivíduos se tornam construtores de uma infinita rede narrativa que passa a construir memória coletiva em rede que vai somando camadas de histórias (DALMASO, 2015, p. 5 apud SANTOS; ALBUQUERQUE, 2017, p. 6).

É necessário pensar e refletir que vivemos em um momento que os registros são acumulados em meio digital, nos celulares, arquivados na nuvem. Não se revelam mais fotografias, não se compram mais “LPs”, “Fitas cassete”, grande parte das memórias estão sendo construídas e compartilhadas em tempo real, de maneira imediata. Momentos são vividos e postados. Nesse sentido, todos são responsáveis pelo conteúdo produzido por eles mesmos.

Trata-se, em sua grande maioria, de arquivos pessoais que são compartilhados nas redes e que se unem a outros registros pessoais que ganham contextualidade e remontam a história da instituição de ensino ou de uma comunidade, resgatando lembranças e acontecimentos, fortalecendo o sentimento de afeto, pertencimento e identidade. Os contextos distintos, a diversidade na oralidade, a partir de uma postagem ou um registro fotográfico. Assim, no ambiente das redes sociais, os grupos contribuem para manter a memória local viva e, dessa forma, resgatam a identidade dos indivíduos de determinada comunidade.

 

5 AS POSTAGENS DOS GRUPOS NA PÁGINA DA REDE SOCIAL FACEBOOK

A intenção desta seção é apresentar algumas postagens dos grupos nas redes sociais de modo que possamos refletir sobre as variedade de registros escolares que são divulgados e compartilhados no Facebook, de modo a preservar memórias e aproximar os sujeitos, inclusive nas suas lembranças afetivas. Começamos, então, pelo primeiro grupo.

Grupo 1 - “Escola Municipal Ceará (RJ) - Eu também fui aluno”.

O grupo foi criado em 2015, por um ex-aluno e conta hoje com um total de três mil, oitocentos e vinte e sete (3.827) usuários. Vale destacar que desde a sua criação, são publicadas enquetes, como por exemplo, “Quem se lembra das gincanas?”. Nesse espaço são postados registros fotográficos de momentos lúdicos vividos por seus frequentadores.

 

Figura 1 – Print da página do grupo no Facebook.

Interface gráfica do usuário, Texto, Site

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook, 2019.

Figura 2 - A carteira escolar.

Texto, Quadro de comunicações

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook, 2019.

Figura 3 – Fotografia com o painel escolar.

Foto preta e branca de jornal

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook, 2020.

Figura 4 – Enquete provocando a interação do grupo para a lembrança do nome da primeira professora.

Texto

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook (2021).

Figura 5 - Um ex-aluno compartilha com os demais usuários do grupo uma lembrança com a professora.

Jornal com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

FONTE: Facebook, 2022.

 

 

Grupo 2 - “Histórias do bairro de Inhaúma”.

O grupo foi criado em 05 de setembro de 2020, com o quantitativo de usuários que ultrapassa a marca dos dezessete mil (17.000). De acordo com as informações contidas na página, o principal objetivo da criação do grupo é se dedicar em contar histórias do bairro e do cotidiano antigo dos moradores de Inhaúma. Lá, são encontradas uma extensa variedade de publicações que vão desde registros fotográficos de momentos vividos, acontecimentos, recortes de jornais, a enquetes, narrativas e outros.

Figura 6 - apresentação da página do grupo no facebook.

Interface gráfica do usuário

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook, 2020.

Figura 7 - Registro fotográfico da professora com a sua classe, no ano de 1980.

Foto em preto e branco de grupo de pessoas lado a lado

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Facebook, 2020.

Figura 8 - Registro fotográfico da professora com a sua classe, no ano de 1921.

Foto em preto e branco de pessoas e texto

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Fonte: Facebook, 2021.

Figura 9 – Material didático da época

Texto

Descrição gerada automaticamente com confiança média

FONTE: Facebook, 2022.

A partir de algumas publicações nas redes podemos perceber o quanto este espaço se apresenta como possibilidade de pesquisa para entendimento da trajetória da instituição escolar e seus sujeitos, incluindo também o entorno, uma vez que a escola é constituída em constante diálogo com a comunidade. As redes tornam-se um “lugar” capaz de contribuir para preencher as lacunas, já que muitas vezes os arquivos escolares encontram-se em condições precárias de acesso. Além disso, chama atenção nas redes o quanto as memórias individuais lançam possibilidades de construções de memórias coletivas, quando compartilhada com outros sujeitos do grupo que vivenciaram o mesmo período.

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão administrativa de uma entidade escolar enfrenta muitas dificuldades com relação ao tratamento dedicado aos documentos produzidos na rotina da vida escolar. Boa parte dessa documentação se perde com o passar dos anos por não terem cuidados básicos voltados a garantir sua preservação e conservação. Dentre os fatores que mais contribuem para a perda do acervo escolar estão as muitas mudanças em que as escolas passam, ao mau acondicionamento, exposição à poeira, a temperaturas ambiente inadequadas, falta de uma equipe qualificada para organizar a documentação respeitando os pré-requisitos estabelecidos pelas normas arquivísticas, a falta de políticas públicas, entre outros. 

Se antes se fazia necessária a presença do profissional de arquivo para organizar o acervo escolar, hoje, com a exigência da Lei de Acesso à informação e as rápidas mudanças tecnológicas nos meios de comunicação, faz-se ainda mais urgente. Esses novos meios de comunicação entre os indivíduos transformou a forma de interação com o outro. Evoluíram-se os suportes onde a informação é registrada e com isso as redes sociais, cada vez mais, vêm se reafirmando como uma ferramenta poderosa. Entre essas redes se encontra o Facebook que possibilita a formação de grupos de sujeitos que compartilham dos mesmos interesses.

Atualmente, todos os nossos momentos, experiências e memórias são registrados e rapidamente vão parar nas redes sociais. Com relação às memórias escolares no Facebook, nota-se o compartilhamento de memórias particulares que, juntando-se a outros registros (em sua grande maioria representações fotográficas de diversos momentos) e relatos (re) constroem a história da comunidade e da escola que está inserida neste contexto social.

Ao analisar os grupos nesta pesquisa percebe-se de forma notória a importância do compartilhamento de memórias individuais, que vão desde uma fotografia, uma enquete, um registro de alguns eventos promovido pela instituição escolar que acaba evocando, no outro, lembranças vividas por determinado grupo. Os sujeitos participantes fazem comentários a respeito de suas próprias experiências a partir do mesmo registro, e assim, contribui para a construção de um contexto do cotidiano escolar. Corroborando com este pensamento, Simões (2018) destaca que quando se adentra e se afronta os depoimentos saudosistas, nostálgicos, dos usuários nas comunidades escolares da internet, as novas redes sociais virtuais, percebe-se nos textos escritos, um tom melancólico dos tempos vividos, as experiências inesquecíveis narradas pelos ex-alunos e as várias histórias contadas do tempo de escola. O conjunto dessas escritas digitais pode oferecer pistas do período passado e permite ao pesquisador encontrar descrições variadas sobre a vida cotidiana escolar, as representações de uma época.

É perceptível ao decorrer dessa pesquisa toda a evolução dos meios de comunicação e armazenamento de fatos do cotidiano, sendo assim indispensável nos dias atuais, o acompanhamento do avanço tecnológico, por parte do arquivista e usar isso a seu favor, com o interesse maior de não apagamento histórico e mantendo vivas as lembranças de toda uma comunidade. Assim, o arquivista deve estar atento às mudanças que acontece na sociedade, e de acordo com Silva (2012),

 [...] encontrar formas para agregar a tecnologia em benefício das suas práticas arquivísticas, transferindo assim seu conhecimento em prol da sociedade. Saber lidar com as novas tecnologias de comunicação e os diferentes suportes de informação é o diferencial que separa o arquivista de tempos anteriores para o arquivista moderno, sem desconsiderar princípios básicos da Arquivologia (SILVA, 2012. p, 29).

Não podemos então deixar de reconhecer a importância da criação desses espaços como possibilidade de não esquecimento da memória, possibilitando o rompimento de fronteiras geográficas e levando a um acesso à informação de maneira mais rápida e igualitária onde todos possam de maneira direta e indireta contribuir para a construção do itinerário escolar.

 

 

REFERÊNCIAS

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VIDAL G. Diana. Dossiê: Arquivos escolares: desafios à prática e à pesquisa em história da educação. Revista Brasileira de História da Educação nº 10.  jul/dez 2005. p. 71.

 



[1] Graduada em Arquivologia pela da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

[2] Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).  Professora Associada do Departamento de Arquivologia (UNIRIO).