GESTÃO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
revisão sistemática da produção científica recente
Isabella Villanueva de Castro Ramos[1]
Fundação Parque Tecnológico Itaipu
Rejane Sartori[2]
Universidade Estadual de Maringá
______________________________
Resumo
A transferência de tecnologia busca transferir conhecimentos e inovações de uma organização para outra, e é considerada um importante instrumento para a promoção de competitividade no setor produtivo, bem como para o desenvolvimento industrial e econômico das nações. Para que alcance o objetivo a que se propõe, são necessárias estruturas de apoio e práticas de gestão de transferência de tecnologia. Desse modo, o presente estudo tem como objetivo analisar como o tema gestão de transferência de tecnologia vem sendo explorado recentemente em pesquisas nacionais e internacionais. Trata-se de um estudo de caráter exploratório, com abordagem qualitativa, realizado por meio de uma revisão sistemática da literatura. Os resultados evidenciam estudos que se relacionam com o tema, permitindo classificá-los em três grupos: modelos de transferência de tecnologia, processos de transferência de tecnologia colaborativos e análise da gestão de transferência de tecnologia. Os estudos revelam que, atualmente, o processo de transferência de tecnologia não atende as necessidades e complexidades das relações que se estabelecem com esse propósito, sendo preciso maior interação entre as partes interessadas, assim como considerar os diferentes aspectos que permeiam esse processo. Os escritórios de transferência de tecnologia são estruturas para a gestão da transferência de tecnologia, contudo, precisam ter atuação fortalecida para garantir o sucesso da transferência de tecnologia. Para estudos futuros, sugere-se a realização de novas pesquisas em diferentes bases de dados, bem como a realização de análises e comparações do processo de transferência de tecnologia em países em desenvolvimento.
Palavras-chave: Gestão de transferência de tecnologia. Escritórios de transferência de tecnologia. Processos de transferência de tecnologia.
TECHNOLOGY TRANSFER MANAGEMENT
systematic review of recent scientific production
Abstract
Technology transfer seeks to transfer knowledge and innovations from one organization to another, and is considered an important instrument for promoting competitiveness in the productive sector, as well as for the industrial and economic development of nations. To achieve the proposed objective, support structures and technology transfer management practices are necessary. Thus, the present study aims to analyze how the technology transfer management theme has been explored recently in national and international research. This is an exploratory study, with a qualitative approach, carried out through a systematic review of the literature. The results present studies that are related to the theme and allow classifying them into three groups: technology transfer models, collaborative technology transfer processes and analysis of technology transfer management. The studies reveal that, currently, the technology transfer process does not meet the needs and complexities of the relationships that are established for this purpose, requiring greater interaction between the interested parties, as well as considering the different aspects that permeate this process. Technology transfer offices are structures for the management of technology transfer, however, they need to be strengthened to ensure the success of technology transfer. For future studies, it is suggested to carry out further research in different databases, as well as to carry out analyzes and comparisons of the technology transfer process in developing countries.
Keywords:Technology transfer management. Technology transfer offices. Technology transfer processes.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a transferência de tecnologia vem sendo reconhecida como um recurso de importante papel no desenvolvimento industrial e econômico de regiões e países (PERKMANN et al., 2013; SARAF, 2014; DE MOORTEL; CRISPEELS, 2018; ROTIMI, 2018). É uma das formas que o setor produtivo possui de adquirir novos conhecimentos, construir capacidades, aumentar seu potencial inovador e melhorar o desempenho dos seus negócios (ABDURAZZAKOVet al., 2020).
Na literatura, são diversas as definições encontradas para transferência de tecnologia, variando de acordo com a perspectiva a que se relaciona (PAGANIet al., 2016). Em linhas gerais, trata-se do processo que permite o fluxo de transferir descobertas científicas, conhecimentos, processos e tecnologias, de uma organização para outra, com o propósito de desenvolvimento e comercialização (RANIet al., 2018). Esse processo reflete o resultado de transações ou colaborações entre interessados em adquirir e responsáveis por desenvolver novas tecnologias (DE MOORTEL; CRISPEELS, 2018).
Nesse contexto, os escritórios de transferência de tecnologia (ETT) são estruturas que facilitam e intermediam as relações entre universidades e instituições de pesquisa e o setor produtivo, e ao promover a transferência de tecnologia entre essas duas esferas, contribuem para o aumento da competitividade do setor produtivo a nível regional e nacional (LOPESet al., 2018). Não obstante, os resultados obtidos com a transferência de tecnologia são diretamente influenciados pelo conjunto de práticas organizacionais dos atores envolvidos no processo (BATTAGLIA; LANDONI; RIZZITELI, 2017).
Diante disso, deve-se considerar, dentre outros aspectos, a complexidade e interdependência de fatores técnicos, culturais e organizacionais na gestão da transferência de tecnologia (HENSENGERTH, 2018). Por esse motivo, entende-se que para a transferência de tecnologia atender ao objetivo a que se propõe, qual seja, transmitir conhecimento e/ou tecnologia de uma organização a outra, é importante que os ETT definam e organizem os seus processos. Contudo, ainda são escassos os estudos que tratam sobre a implementação de mecanismos de gestão da transferência de tecnologia (ALEXANDER; MARTIN, 2013; OLEGÁRIO-DA-SILVA; SEGATTO, 2017; CAVALCANTE; RENAULT, 2019; SPIROSKA; BIMBILOVSKI, 2019).
Assim, tendo em vista a relevância da transferência de tecnologia, tanto a nível nacional como internacional, seu papel estratégico na aproximação e interação entre universidade-empresa, bem como a importância de mecanismos eficazes para garantir seu sucesso em entidades cujo propósito é garantir êxito nesse processo, a questão que norteia este trabalho é: como se apresenta a produção científica sobre a gestão de transferência de tecnologia? A partir disso, esta pesquisa tem como objetivo analisar como o tema gestão de transferência de tecnologia vem sendo explorado recentemente em pesquisas nacionais e internacionais.
Portanto, o presente artigo está estruturado em cinco seções. A primeira seção é esta introdução, seguida do referencial teórico sobre o tema. A terceira seção apresenta a metodologia utilizada na construção do estudo e a quarta os resultados e discussão. Por fim, a quinta seção contém a conclusão do estudo, seguida das referências.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE GESTÃO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
A transferência de tecnologia se refere a um conjunto de atividades realizadas com vistas a disseminar e reter tecnologias (SILVA; KOVALESKI; PAGANI, 2018). É considerada como importante recurso para estimular o desenvolvimento de capacidades tecnológicas (ABDURAZZAKOV et al., 2020). Trata-se do processo de compartilhar competências, conhecimentos, tecnologias, métodos e processos entre instituições de pesquisa e setor produtivo, visando assegurar que desenvolvimentos científicos e tecnológicos sejam acessíveis a uma maior variedade de usuários, que podem então aprimorá-los e explorá-los no formato de novos produtos, processos, aplicações, materiais ou serviços (DAVENPORT, 2013; WANIet al., 2017; AHMEDOVA, 2020).
A transferência de tecnologia tem o propósito de gerar impactos econômicos, sociais e ambientais positivos a níveis locais, regionais, nacionais e internacionais (SILVA; KOVALESKI; PAGANI, 2022). Independentemente de onde tenha sido desenvolvida, o acesso às novas tecnologias por intermédio de sua transferência se constitui em importante instrumento para o crescimento econômico de organizações e países, pois promove mudanças na sociedade (AHMEDOVA, 2020).
Não obstante, a relação entre transferência de tecnologia e desenvolvimento econômico de um país é influenciada pela forma como seus recursos são utilizados e geridos, pelas políticas governamentais e seus processos inovativos (NAMAZI; MOHAMMADI, 2018). Nesse sentido, para ser possível alcançar o desenvolvimento amparado em práticas inovadoras, faz-se necessário identificar e compreender o papel de todos os envolvidos no processo (DOS REIS; VACCARO, 2016).
As universidades e instituições de pesquisa têm papel fundamental na promoção da transferência de tecnologia, uma vez que é onde se concentram pesquisadores com alto potencial científico e tecnológico (TOMAN; KLÍMOVA, 2020). Para apoiar a gestão da transferência de tecnologia e facilitar a transformação desse potencial inovador em benefício para a sociedade, essas instituições contam com os ETTs (SPIROSKA; BIMBILOVSKI, 2019), entidades criadas em sua maioria por Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), responsáveis pela conexão entre estas organizações e o setor produtivo.
No Brasil, os ETTs são conhecidos como Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), e se tornaram estruturas obrigatórias para as ICTs públicas, com competências mínimas definidas em lei, sendo uma delas a promoção e gestão da transferência de tecnologia (BRASIL, 2004).São essas estruturas que catalisam os processos de transferência de tecnologia da universidade à indústria, com o propósito de gerar riqueza e potencializar o desenvolvimento econômico (TAHVANAINEN; HERMANS, 2011).
Para tanto, os ETTs devem possuir capacidades de atuar de forma equilibrada e eficiente na proteção dos ativos intangíveis e na transferência destes para o mercado (JORIO; CREPALDE, 2019). Essas capacidades, quando bem desenvolvidas, influenciam a forma como os pesquisadores se relacionam com os ETTs, pois fazem com que passem a perceber o valor econômico e financeiro dos resultados de suas pesquisas (SPIROSKA; BIMBILOVSKI, 2019).
É possível afirmar, portanto, que os ETTs atuam como ponte entre as ICT e o setor produtivo na promoção e gestão de transferência de tecnologia, sendo considerados estruturas fundamentais para apoiar esse processo dentro das ICT e das universidades (DIAS; PORTO, 2014). No entanto, para alcançar essa finalidade, é fundamental que essas estruturas possuam uma série de processos estruturados e competências especialmente relacionados à implementação e gestão da transferência de tecnologia, tema esse ainda pouco explorado na literatura (ALEXANDER; MARTIN, 2013; OLEGÁRIO-DA-SILVA; SEGATTO, 2017; CAVALCANTE; RENAULT, 2019; SPIROSKA; BIMBILOVSKI, 2019).
Enquanto processo, Silva, Kovaleskie Pagani (2020) definem a gestão da transferência de tecnologia como área de aplicação direcionada a processos diversos e específicos, correlacionados a um fator principal – tecnologia e/ou conhecimento –, em seus diferentes formatos, que necessita ser criada, configurada, aperfeiçoada e/ou movimentada, e, portanto, carece de gerenciamento. O processo de transferência de tecnologiaé fundamental, pois é ele que torna possível gerenciar recursos tecnológicos, financeiros e humanos, gerenciar operações complexas e tomar decisões relacionadas à transferência de tecnologia (DAVENPORT, 2013). Não obstante, esse processo é considerado complexo, e são diversos os elementos que influenciam no resultado bem-sucedido da transferência de tecnologia (PICININ et al., 2011).
Nesse sentido, barreiras como a complexidade da tecnologia, a ausência de planejamento das atividades, falhas de comunicação, localização geográfica e infraestrutura, ausência de incentivos e de investimento, falta de confiança entre as partes, capacidades técnicas limitadas, incertezas sobre a aplicação e resultados da transferência de tecnologia, dentre outras, se não forem bem administradas, podem impedir que a tecnologia seja transferida de forma eficaz e alcance seu propósito (JUNG, 1980; PEREZ; SANCHEZ, 2003; AKHAVAN; BAGHERI; JABBARI, 2008; DUAN; NIE; COAKES, 2010; TOSCANO; MAINARDES; LASSO, 2017; SILVA; KOVALESKI; PAGANI, 2018; PAGANIet al., 2019; SILVA; KOVALESKI; PAGANI, 2022).
Portanto, alguns elementos são determinantes na compreensão da complexidade e nuances da gestão da transferência de tecnologia, como estrutura física e capacidade técnica da organização, sistemas de incentivos, mensuração de performance e capacidades do seu sistema de inovação local, que podem ou não facilitar a transferência de tecnologia (THÉRIN, 2014). Para auxiliar na redução das divergências entre todos envolvidos no processo de transferência de tecnologia, os ETTs geralmente adotam ou propõem modelos de transferência de tecnologia com características próprias de sua organização e do ambiente em que está inserida (PAGANI et al., 2016). Compreender como se dá esse processo dentro dos ETT é fundamental, uma vez que um dos fatores limitantes à adoção, pelo setor produtivo, das tecnologias geradas, é a forma como ela é transferida (BASSI; SILVA; SANTOYO, 2015).
3 aspectos metodológicos
Este é umestudo de caráterexploratório e abordagemqualitativa, elaborado a partir de umarevisão sistemática da literatura, umametodologia que identifica estudos existentes em determinado tema, seleciona e avaliasuascontribuições, analisa e sintetiza seusconteúdos e relata suasevidências (DENYER; TRANFIELD, 2009).
Para a realizaçãodesteestudo, o método utilizado foi o proposto por Denyer e Tranfield (2009), constituído de cinco etapas: (1) definição da pergunta; (2) localização dos estudos; (3) seleção e avaliação dos estudos; (4) análise e síntese; e (5) apresentação e uso dos resultados. Para esses autores, a pergunta que norteia a pesquisa, primeira etapa do método, deve ser precisa, bem formulada e capaz de ser respondida. Nesse sentido, a questão que orienta este estudo é: como se apresenta a produção científica sobre gestão de transferência de tecnologia?
A segunda etapa do método, localização dos estudos, consiste nadefinição dos bancos de dados, das palavras-chave e das estratégias de busca e explicitação dos resultados. Assim, para este estudo, foramselecionadas as bases de dados Science Direct, Scopus e Web ofScience, visto que estãoalinhadas à área de conhecimentodesta pesquisa, qualseja, CiênciasSociais Aplicadas. As palavras-chave utilizadas foram “technology transfer”, “technology transfer management”, “technology transfer office”, “management”, “process” e “triple helix”. A estratégia de busca consistiunacombinaçãodestaspalavras-chave e no uso do operador boleano AND, com pesquisa no campo “título” e/ou “tópico” e recorte temporal compreendendo o período de 2016 a 2020, a fim de evidenciar os estudosrecentes sobre a temática. A busca nas bases de dados, efetuada em setembro de 2021, resultou em 2.876 publicações, como demonstradonaTabela 1.
Tabela 1 – Resultados das buscas por banco de dados |
||||
Palavras-chave e estratégia de busca |
Science Direct |
Scopus |
Web of Science |
Total |
“Technology transfer” |
112 |
832 |
628 |
1.572 |
“Technology transfer management” |
0 |
5 |
4 |
9 |
“Technology transfer office” |
1 |
42 |
11 |
54 |
“Technology transfer” AND “management” |
17 |
193 |
131 |
341 |
“Technology transfer” AND “process” |
38 |
290 |
167 |
495 |
“Technology transfer” AND “technology transfer office” |
19 |
85 |
37 |
141 |
“Technology transfer” AND “triple helix” |
2 |
13 |
27 |
42 |
“Technology transfer” AND “management” AND “technology transfer office” |
5 |
27 |
12 |
44 |
“Technology transfer” AND “process” AND “technology transfer office” |
5 |
37 |
10 |
52 |
“Technology transfer management” AND “technology transfer office” |
0 |
1 |
0 |
1 |
“Technology transfer management” AND “process” |
0 |
5 |
2 |
7 |
“Technology transfer management” AND “triple helix” |
0 |
0 |
0 |
0 |
“Technology transfer office” AND “process” |
8 |
71 |
22 |
101 |
“Technology transfer office” AND “triple helix” |
0 |
8 |
9 |
17 |
Total |
207 |
1.609 |
1.060 |
2.876 |
Fonte: elaborado pela autora (2023). |
Na terceira etapa do método de Denyer e Tranfield (2009), seleção e avaliação dos estudos, os autores indicam que devem ser criados motivadores para a exclusão de publicações. Assimsendo, os motivadores que orientaramessa etapa foram:
a)Artigos duplicados, publicados em anos anteriores ao período estabelecido e cominformações incompletas (sem dados sobre autores, periódico e ano de publicação): os dados obtidos a partir da busca nas bases de dados foram exportados para a plataforma EndNote e, em seguida, ordenados em ordem alfabética e realizada a exclusão dos artigos duplicados, que totalizaram 1.840. Nesseprocesso, identificou-se ainda que 16 publicaçõesestavamfora do recorte temporal estabelecido, bem como duasnãoapresentavam os dados dos autores, as quaistambémforamexcluídas. Como resultado dessasações, restaram 1.018 artigos.
b) Artigossemalinhamentoquantoao título: foram considerados como alinhadosao tema desta pesquisa os artigos que possuíam o termo technology transfer no título. Alémdeste, os artigostambémdeveriamconterum dos seguintes termos no título: management, triple helix, technology transfer office e process. Assim, após a leitura do título dos 1.018 artigosdecorrentes da fase anterior, foramexcluídos 874 artigos, sendoselecionados, portanto, 144 para compor o banco de artigosnão duplicados e com o título alinhadoao tema da pesquisa.
c) Artigos sem alinhamento quant oao resumo do artigo: foiefetuada a leitura dos resumos dos 144 artigosselecionados anteriormente, com o propósito de identificar aqueles que estavam em consonânciacomo objetivo desta pesquisa. Desse modo, 115 artigosforamexcluídospoisnãoabordavam, no resumo, sobre gestão da transferência de tecnologia, resultando assimnaseleção de 29 artigos.
d) Artigos sem alinhamento quanto ao conteúdo integral: realizada a leitura integral dos 29 artigos elegidos precedentemente, identificou-se que apenas 11 tinhamaderênciaao tema desta pesquisa, i.e., debatiam sobre gestão da transferência de tecnologia, sendoentão os demais (18) desconsiderados para este estudo.
No Quadro 1 encontram-se relacionados os títulos, autores, ano de publicação e periódicos dos artigosselecionados para compor o portfólio bibliográfico desta pesquisa.
Quadro 1 – Portfólio Bibliográfico |
|
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Título do artigo |
Autores |
Ano |
|
Technology transfer: from the research bench to commercialization: Part 2: the commercialization process |
Norman e Eisenkot |
2017 |
|
University business models in disequilibrium - engaging industry and end users within university technology transfer processes |
McAdam, Miller e McAdam |
2017 |
|
Peeking beyond the wall: analysing university technology transfer and commercialisation processes |
Lopeset al. |
2018 |
|
Technology transfer management in the context of a developing country: evidence from Brazilian universities |
Dias e Porto |
2018 |
|
Knowledge transfer from universities to industry through technology transfer offices |
Abbaset al. |
2018 |
|
Models, processes, and roles of universities in technology transfer management: a systematic review |
Maresova, Stemberkova e Fadeyi |
2019 |
|
Optimization of the technology transfer process using gantt charts and critical path analysis flow diagrams |
Lee e Shvetsova |
2019 |
|
Analysis of the process of technology transfer in public research institutions: the Embrapa agrobiology case |
Silvaet al. |
2019 |
|
The role of university technology transfer process in digital economy |
Karanikic, Matulja e Tijan |
2019 |
|
Current challenges of the technology transfer process |
Toman e Klímová |
2020 |
|
Technology transfer: an overview of process transfer from development to commercialization |
Pandeyet al. |
2020 |
|
Fonte: elaborado pelas autoras (2023). |
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A quarta etapa do método de Denyer e Tranfield (2009), análise e síntese, consiste em dividir cada um dos artigos em partes constituintes e descrever como eles se relacionam, ouseja, não se trata meramente de retratar a informaçãocontida no artigo, mas em identificar, a partir da análise dos conteúdos, como eles se conectam e então desenvolver conhecimento a partir daquilo que não é evidente em umestudo individual. Desse modo, a partir da análise dos artigos que compõem o portfólio bibliográfico desta pesquisa, foram realizadas associações, reunidas em três grupos distintos: modelos de transferência de tecnologia, processos de transferência de tecnologia colaborativos e análise da gestão da transferência de tecnologia.
A quinta e última etapa do método proposto por Denyer e Tranfield (2009), apresentação e uso dos resultados, é explicitada na próxima seção.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nestaseçãosãoapresentados os resultados da pesquisaorganizados em trêssubseções: modelos de transferência de tecnologia, processos de transferência de tecnologia colaborativos e análise da gestão da transferência de tecnologia. Posteriormente, umadiscussão sobre esses temas é evidenciada.
4.1 MODELOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
Entre os estudos que apresentam propostas de modelos de transferência de tecnologia estão o de McAdam, Miller e McAdam (2017), Maresova, Stemberkova e Fadeyi (2019) e Lee e Shvetsova (2019).
No artigointitulado “University business models in disequilibrium – engaging industry and end users within university technology transfer processes”, McAdam, Miller e McAdam(2017) exploram como um maior envolvimento da indústria e da sociedade no processo de transferência de tecnologia das universidades influencia o modelo de negócios que elas utilizam nesse processo. Para tanto, realizaram dois estudos de casos em universidades por seis anos. Partiram da análise de que nos processos de transferência de tecnologia também devem ser considerados os usuários finais, e apontam que o ambiente complexo, burocrático e dependente das universidades, limitado pela questão cultural da organização, reflete nas normas relacionadas à geração e compartilhamento de conhecimento, o que impacta na sua habilidade de se relacionar com outros atores da quádrupla hélice. Além disso, evidenciam que o desequilíbrio causado nos modelos de negócios resulta do envolvimento com outros atores, uma vez que possuem múltiplos objetivos conflitantes. No entanto, esse desequilíbrio não pode ser visto apenas pelo viés negativo, uma vez que oferece oportunidades para a proposição de um modelo híbrido de transferência de tecnologia. Os autores concluem que as universidades, devido a sua cultura organizacional, enfrentam desafios na inclusão da indústria e dos usuários finais em todas as etapas do processo de transferência de tecnologia (da descoberta à comercialização), o que torna necessário reavaliar o modelo de negócios de transferência de tecnologia utilizado pelas universidades, saindo do modelo linear e caminhando para as transferências colaborativas, que integram capacidades e conhecimentos externos à universidade.
Maresova, Stemberkova e Fadeyi (2019), no estudo intitulado “Models, processes, and roles ofuniversities in technologytransfer management: a systematic review”, analisam, por meio de revisão sistemática, alguns modelos de transferência de tecnologia existentes na literatura com o objetivo de compreender como esse processo progride em diferentes cenários, tendo em vista os papéis desempenhados por universidades e outros atores importantes. Os autores evidenciam que para o processo de transferência de tecnologia ser bem-sucedido, os modelos devem estar vinculados a aspectos-chave, como estratégia interna, investimento e mercado, empreendedorismo, políticas de patentes, dentre outros, e que mesmo oferecendo caminhos para o sucesso da transferência de tecnologia, os modelos podem apresentar falhas quando ocorrem mudanças no seu ambiente. Os resultados obtidos no estudo demonstram que o processo de transferência de tecnologia está gradualmente deixando o modelo convencional para modelos que atendam aos desafios apresentados pelas mudanças que ocorrem no ambiente, com a proposição de novas ideias e implementação de práticas em regiões específicas, por exemplo. E por esse motivo, evidenciam que não há na literatura um modelo descrito como ideal para a realização da transferência de tecnologia. Além disso, identificam também que, na literatura, muito se fala sobre os intensificadores do processo de transferência de tecnologia, que são capazes de melhorar o sucesso da transferência de tecnologia na relação universidade-indústria. Elementos de gestão estratégica, capacidade de absorção, adoção de uma mentalidade empreendedora, capacidades dinâmicas e escolhas estratégicas são citados como aspectos importantes na base da transferência de tecnologia. Os autores concluem que a criação de novos modelos não é necessária, mas sim a proposição de modelos de comercialização do conhecimento que resolvam os desafios colocados pelos processos de gestão.
O último estudo deste grupo, intitulado “Optimization of thetechnology transfer processusing Gantt charts and critical path analysisflowdiagrams: case study of the Korean automobile industry”, foi desenvolvido por Lee e Shvetsova (2019) com o objetivo de propor um modelo de transferência de tecnologia utilizando gráficos de Gantt e fluxogramas de análise de caminho crítico, apresentando a relação entre ferramentas de gestão de projetos com o planejamento sustentável do processo de transferência de tecnologia no ambiente global. Os autores aplicaram o modelo proposto em um caso específico da indústria automobilística coreana. Os resultados evidenciam que a utilização das duas ferramentas de gestão de projetos auxilia no melhor planejamento do processo de transferência de tecnologia, pois permitem monitorar as atividades a serem desempenhadas ao longo do processo, alcançar as metas determinadas em cada etapa e prever fatores críticos na execução de cada uma dessas atividades, proporcionando a realização de ações preventivas para evitar o insucesso do planejado.Além disso, os autores identificam que a utilização dessas ferramentas possibilita reduzir a duração do projeto e mapear possíveis atrasos e dificuldades ao longo de sua execução. Por outro lado, apontam que a aplicação desse novo modelo pode ter resultados distintos do apresentado no estudo, uma vez que foi proposto com base em apenas um caso de transferência de tecnologia, em seu estágio inicial – o de planejamento. Novos resultados sobre a eficácia desse modelo deverão ser apresentados quando da conclusão desse processo.
4.2 PROCESSOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA COLABORATIVOS
As vantagens dos processos de transferência de tecnologia colaborativos estão presentes nos estudos de Abbaset al.(2018), Da Silvaet al. (2019) e Toman e Klímová (2020).
No estudodenominado “Knowledge transfer from university to industry”, Abbas et al. (2018) focam em como é transferido o conhecimento das universidades para as indústrias. Os autores realizaram um estudo de caso nos ETTs de universidades chinesas para obter informações detalhadas sobre o papel desses escritórios na transferência de conhecimento, utilizando o modelo de transferência de conhecimento de Liyanageet al. (2009), baseado em seis fases: conscientização, aquisição, transformação, associação, aplicação e feedback. Os resultados do estudo demonstram que o órgão chinês que regulamenta a propriedade industrial apoia as universidades na compreensão de quais inovações e requisitos a indústria chinesa busca, e também no processo de comercialização. Apontam como papel-chave dos ETTs o envolvimento dos grupos de pesquisa das universidades na geração de novos conhecimentos e na negociação dos direitos de propriedade industrial. Os autores concluem que é evidente a importância do papel dos ETTs na conexão entre fornecedor e receptor de tecnologia, uma vez que para alcançar o sucesso da transferência, tanto a fonte de conhecimento quanto o receptor devem estar dispostos a compartilhar e absorver conhecimento.
Da Silva et al. (2019), no estudo intitulado “Analysis of the process of technology transfer in public research institutions: the Embrapa agrobiology case”, analisam como o processo de transferência de tecnologia ocorre dentro da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Partindo de dois elementos fundamentais – transferência de tecnologia e troca de conhecimento –, na visão dos autores, diálogo e interação são elementos chave no processo de transferência de tecnologia, pois possibilitam a construção coletiva do conhecimento, trazendo mais credibilidade à inovação gerada, o que para eles assegura a implementação da nova tecnologia e proporciona uma maior efetividade à transferência. O estudo de caso evidencia que a Embrapa se compromete em envolver os produtores no processo de troca e construção coletiva do conhecimento, tornando-os foco do processo, o que garante a redução do desenvolvimento de tecnologias de prateleira e aumenta a participação social no desenvolvimento de soluções tecnológicas e inovadoras baseadas em problemas reais.
O artigo de Toman e Klímová (2020), intitulado “Current challenges of the technology transfer process”, examina as questões atuais que desafiam o processo de transferência de tecnologia, sob a perspectiva da gestão do conhecimento. A partir de uma revisão de literatura, os autores identificaram três problemas persistentes que afetam o processo de transferência de tecnologia em países desenvolvidos: a habilidade da universidade em identificar empresas-alvo para determinada tecnologia; a habilidade dos cientistas em identificar e, subsequentemente, localizar tecnologias que alguém esteja interessado; e a lentidão e inflexibilidade das universidades em formular convênios e parcerias. A mudança de um processo linear para um processo não linear de transferência de tecnologia é apresentada pelos autores como a alternativa mais apropriada para mitigar esses três problemas, especialmente por intermédio da troca de conhecimento. É essa interação que proporciona a identificação de oportunidades e necessidades dos atores externos e o desenvolvimento de soluções tecnológicas que são capazes de solucionar os reais problemas do mercado. Os autores concluem que o modelo não linear de transferência de tecnologia possibilita que o fornecedor e o receptor da tecnologia interajam informalmente em repetidos ciclos que iniciam muito antes da execução da transferência. Além disso, esse ciclo repetitivo de interação entre vários membros, tanto da academia quanto da indústria, torna possível explorar diferentes níveis de proximidade, o que provou gerar um impacto significativo no desenvolvimento sustentável da tecnologia.
4.3análise da gestão da transferência de tecnologia
Em relaçãoaosestudos que analisam a gestão da transferência de tecnologiaencontram-se os de Van Norman e Eisenkot (2017), Lopeset al. (2018), Dias e Porto (2018), Karanikic, Matulja e Tijan (2019) e Pandeyet al. (2020).
O estudo denominado “Technology transfer: from the research bench to commercialization – part 2: thecommercializationprocess”, proposto por Van Norman e Eisenkot (2017), tem como objetivo descrever o processo de comercialização das tecnologias e o papel dos ETTs. Para os autores, os ETTs têm o papel de conectar as competências das universidades com o setorprodutivo, divulgar as atividades científicas em desenvolvimento, apoiarnaescolha do potencial receptor, negociar e licenciar as tecnologias. Consideram primordial que, nesseprocesso, ponderemalguns fatores como tipo de tecnologia, estágio de desenvolvimento, risco envolvido, custos de desenvolvimento e retorno que poderão proporcionar à universidade (royalties). O artigo apresentaaindapossibilidades de ocorrência de conflitos de interesse no processo de comercialização das tecnologias, como o comprometimentoacadêmico, onde os pesquisadores, por mais que tenham o dever de despender tempo e energia nos achadosacadêmicos, acabam por exerceroutrasatividadesempreendedoras que sãocapazes de atrapalhar os resultados que poderiam ser encontrados na academia. Os autores concluem que as universidades possuem diversas motivações para levarsuas pesquisas ao mercado, e os ETTssãoestruturas-chave para fazeressaconexão.
Lopeset al. (2018), no artigo intitulado “Peeking beyond the wall: analysing university technology transfer and commercialisation processes”, tratam de analisar as dinâmicas do processo de transferência de tecnologia e comercialização no ambiente universitário. Para tanto, realizam três estudos de caso com incubadoras de empresas. Os autores partem do pressuposto de que as universidades são consideradas atores-chave no sistema regional de inovação por intermédio de suaterceiramissão, qualseja, a transferência de tecnologia para empresas e sociedade, e que a intensidade da suacolaboraçãocom empresas é determinada a partir da qualidade das pesquisas em andamento vinculadas aosetorprodutivo, desempenhandopapeis críticos no sistema de inovação. Evidenciam o importante papel das incubadoras nadisseminação de práticas de transferência de tecnologia, uma vez que possuemfortes redes de colaboraçãocom o mercado e podem auxiliar naspráticas de transferência de tecnologia entre universidades e empresas. A partir da análise dos estudos de caso, revelamque algumas incubadoras nãopossuem mecanismos para subsidiar a transferência de tecnologia, e apontam a necessidade de as incubadoras investiremnessa área eoferecerconsultoria em transferência de tecnologia como forma de estímulo, uma vez que o apoionesse campo pode potencializar o surgimento de novas empresas. Por fim, os autores concluem que para fomentar novosprojetosempreendedores, os processos de transferência de tecnologiaprecisam ir além do tradicional, com a inclusão de diferentes processosinterativos.
O artigo de Dias e Porto (2018), intitulado de “Technology transfer management in the contextof a developing country: evidencefromBrazilianuniversities”, tem o propósito de analisar aspectos da gestão do processo de transferência de tecnologia em doisETTs brasileiros. Os autores partem da análise das atividadessubjacentes à transferência de tecnologia que os ETTsrealizam, como gestão de propriedade intelectual e licenciamentos, apoio à criação e incubação de empresas, negociaçãocompotenciaisinteressados, desenvolvimento de acordos de cooperação estratégicos comoutrosparceiros externos,entre outras. Definem como obstáculo para as atividades de transferência de tecnologia o fato de que, no Brasil, a cultura de transferir tecnologiaainda é limitada. Navisão dos autores, o processo de interação entre universidade-indústria é burocrático e lento, e issoatrapalha a transferência de tecnologia, poisinovações de sucessodependem de agilidade. A cultura empreendedoranas universidades brasileiras também é ausente. A taxa de rotatividade de mão de obra nos ETTs é altae essesescritóriossão normalmente gerenciados por pesquisadores que tambémestãoenvolvidos em atividades de pesquisa e tendem a ter umavisãoacadêmica do processo de transferência de tecnologia. Usualmente, os ETTssofremdificuldades em determinar os investimentos realizados nastecnologiasdesenvolvidas e em definir e monitorar o valor dos royalties negociados. A identificação e o desenvolvimento de parcerias para licenciamento e a condução de projetos de transferência de tecnologiasãooutrasadversidades encontradas nos ETTs. A falta de atividades de marketing é evidenciada como um impasse, assim como a falta de recursos para proteção internacional de propriedade intelectual.
Os resultados alcançados no estudorealizado por Dias e Porto (2018) evidenciam que é necessárioagir para fortalecer os ETTs, e estabelecercondiçõesinstitucionais e jurídicas para estimular e capacitar acadêmicos a setornaremempreendedoresinovadores. No mesmo sentido, sãonecessáriasações para o estabelecimento de políticas de propriedade intelectual de modo a priorizar a proteção das invençõescom potencial de mercado a nível nacional e internacional. Os ETTsprecisam procurar novas formas de navegar os mares de gestão e comercialização de tecnologias. O desenvolvimento de determinadas capacidades pode contribuir para aumentar o nível de maturidade dos ETT, bem como fortalecer a interação entre universidades e empresas. Por fim, os autores tambémapontam que os ETTs que atuamcommais foco em relacionamento do que em transaçõesdemonstram ter maiorcrescimento no número de licenciamentos do que aqueles que focammais em práticas de comercialização.
No artigo intitulado “The role of university technology transfer process in Digital Economy”, Karanikic, Matulja e Tijan (2019) discutem os diferentes modelos de transferência de tecnologia e os principais fatores a serem considerados para sistemas eficientes de transferência de tecnologia frente aosavançosdigitais da atualidade. Os autores apontam que, na era do desenvolvimentoeconômico digital, as limitações do modelo tradicional de transferência de tecnologiaaparecem como potenciais obstáculos para o processo, uma vez que as tecnologiasdigitaisrequeremconceitosnovosou adaptados de transferência de tecnologia. Os autores tambémcriticam os indicadores utilizados para medir o sucesso da transferência de tecnologia, como o número de patentes, uma vez que nãoconsideramoutras formas, como o knowhow e a criação de novosempreendimentos. Ainda, afirmam que as novas tecnologiasestão transformando a forma de realizar a gestão da propriedade intelectual e transferência de tecnologia, sendo o modelo tradicional desteprocesso considerado ultrapassado para as relaçõesdesta nova economia. Os autores elencam como desafios para a proteção e gestão da propriedade intelectual, naeconomia digital, os seguintes fatores: proteção e exploração de dados; desenvolvimento de portfólio estratégico de propriedade intelectual comacesso a conhecimento complementar; compreensão e gestão do valor dos segredosindustriais como alternativa aopatenteamento; e titularidade sobre direitos de propriedade intelectual na era digital. Concluem que a estrutura de propriedade intelectual deverá ser flexível o suficiente para facilitar a capacidade da tecnologia digital gerarcrescimento, e que sãonecessárias novas definições de estratégias para propriedade intelectual. Nesse sentido, os ETTsterão que adaptar novosconceitos e métodos de comercialização de seus resultados para além dos modelos tradicionais, em virtude do desenvolvimento da economia digital.
O estudo denominado “Technology transfer: an overview of process transfer from development tocommercialization”, proposto por Pandey et al. (2020), busca esclarecer os diversos problemas associados à transferência de tecnologia no campo farmacêutico. Apesar do estudo estar direcionadoespecificamente à área farmacêutica, os autores apresentamtrêsfatores considerados barreiras para o proceso de transferência de tecnologiae que sãocomunsàsdemais áreas: econômicos (má administração, ausência de gestão de riscos, falta de acordoscomerciais), técnicos (diferenças na infraestrutura do fornecedor e receptor, ausência de cooperação) e diversos (financiamento inadequado, possíveis ameaças, questões legais e trabalhistas). Já os fatores que influenciam o sucesso da transferência de tecnología são: suporte governamental, realização de acordos justos e transparentes entre fornecedores e receptores e aceitação dos riscos do processo. Os autores concluem que para alcançarumatransferência de tecnologia de sucesso os pontos mais importantes que devem ser levados em consideração pelas partes é o trabalho em equipe e o emprego de esforçosna boa compreensão e comunicação entre as partes, que proporcionará ummovimento de inovação frutífero, bem como o detalhamento em documentação sobre a tecnologia, para facilitar o processo de absorção.
4.4DISCUSSÃO
Diante dos resultados coletadosnesteestudo, alguns temas e práticas sobre gestãoficam evidentes. Quando se trata de transferência de tecnologia, a questão da interferência e colaboração de atores externos no processoé fator fundamental para a eficácia do processo. Isso porque, muitasvezes, quem está na esfera acadêmicanãotem a visão de mercado e de negóciosnecessária para melhoraproveitamento da tecnologiadesenvolvida. Por outro lado, aqueles que se encontram no setorprodutivo, por vezes, carecem de entendimento sobre a viabilidade do que se é necessário. Portanto, umcenário onde as duas partes podem dialogar, construir e colaborar, faz com que a tecnologiadesenvolvida, e a ponto de ser absorbida, alcance realmente seu propósito, de contribuir para o aumento da competitividade de determinado setor, bem como para o desenvolvimento tecnológico e econômico de determinada região.
Outro ponto em comum nos artigosselecionados é a burocracia nasinstituições de ciência e tecnologia, o que dificulta o processo e a gestão da transferência de tecnologia. Devem ser pensadas estratégias para otimizar o tempo dos processosnessasinstituições, bem como a previsão de incentivos institucionais para fomentar essasrelações, a fim de contribuir de forma maisassertivacom a melhoria dos processosprodutivos das indústrias.
Em consonância a este ponto, observa-se também a necessidade de planejamento no processo e nagestão da transferência de tecnologia. A transferência de tecnologianão é uma simples receita, e cada caso deve ser pensado e planejado, considerando as especificidades de cada uma das partes bem como da tecnologia a ser transferida. Fatores como infraestrutura, capacidade técnica e estudos de mercado devem ser monitorados constantemente ao longo do processo para garantir que haja sucesso ao final. Nesse sentido, reforça-se o papel e a importância dos ETTs na gestão da transferência de tecnologia, uma vez que essesórgãos têm, por natureza, o propósito de intermediar as relações entre instituições de pesquisa e indústria, analisando as nuances que permeiam as duaspontas, e prever e garantir eventuais lacunas que possam interferir no bomsucesso da transferência de tecnologia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a relevância do tema de transferência de tecnologia, especialmente suafunção estratégica e operacional para ampliação e fortalecimento das relaçõesna tríplice hélice, o presente artigo teve como objetivo analisar como o tema gestão de transferência de tecnologiavemsendo explorado recentemente em pesquisas nacionais e internacionais.
Utilizando o método proposto por Denyer e Tranfield (2009), foram selecionados 11 artigos para compor o portfólio bibliográfico desta pesquisa. A partir da análise desses documentos, foipossívelreuni-los em três grupos distintos - modelos de transferência de tecnologia, vantagens dos processos de transferência de tecnologia colaborativos e análise da gestão da transferência de tecnologia - e apresentar uma breve contextualização de cada estudo.
As revisões sistemáticas tendem a fornecer evidências sólidas acerca do foco do estudo (DENYER; TRANFIELD, 2009), e neste caso, os resultados demonstram que atualmente o processo de transferência de tecnologia linear tradicional não atende as necessidades e complexidades das relações que se estabelecemcomesse propósito. É necessário considerar maiorinteração entre as partes interessadas e aspectos distintos, como a maturidade da tecnologia a ser transferida, o mercado a ser explorado, os atores envolvidos, o ambiente onde é proposta a transferência de tecnologia, dentreoutros, a fim de que o resultado sejamaisefetivo e gere desenvolvimento tecnológico e econômico a que se propõe inicialmente.
Alémdisso, restou evidente que os ETTs são estruturas fundamentais para a gestão da transferência de tecnologia, uma vez que possuem as competênciasnecessárias para conectar universidades e centros de pesquisa com o setorprodutivo. Não obstante, precisam ter suaatuação fortalecida e maior envolvimento nas etapas do processo para garantir o sucesso da transferência de tecnologia.
Mesmo diante dos achados, o presente estudoapresenta como limitações o fato de o levantamento bibliográfico ter sido realizado em três bases de dados, e os artigosselecionados para o portfólio bibliográfico apresentarem perspectivas e características globais. Para estudos futuros, sugere-se a realização de buscas em outras bases de dados, bem como análise e comparação do processo de transferência de tecnologia em países em desenvolvimento.
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[1]Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (PROFNIT) na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Bacharel em Direito pela UDC (2015).
[2]Professora do Mestrado Profissional em Rede Nacional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação - Ponto Focal Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Programa de Pós-Graduação em Gestão do Conhecimento nas Organizações do Centro Universitário de Maringá (UniCesumar). Doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina.