MANUAIS DE NORMALIZAÇÃO PARA TRABALHOS ACADÊMICOS

difusão das normas brasileiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT em instituições de ensino superior de João Pessoa/PB

Antonia Lucineide Francisco de Lima[1]

UNIESP

professoraluhlima@gmail.com

Marcus Vinicius de Oliveira Brasil[2]

UFCA

marcus.brasil@ufca.edu.br

 

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Resumo

Introdução: A publicização de dados acadêmicos e científicos tem sido considerável nos últimos anos, de modo que quem tem acesso pode analisar e refletir sobre a forma como são divulgados, incluindo os conhecimentos técnicos, em especial na área da normalização. Em contraponto, há imprecisão nos instrumentos organizacionais, a exemplo da elaboração e publicação de manuais institucionais que levam a reflexão de como algumas orientações disseminam esse processo conduzindo a erros. Objetivo: Analisar a precisão do conteúdo dos manuais de normalização de instituições de ensino superior na cidade de João Pessoa/PB em conformidade com as normas da ABNT para trabalhos acadêmicos. Metodologia: Metodologicamente se caracteriza como uma pesquisa exploratória e descritiva de cunho bibliográfico, documental, com análise qualitativa. Resultados: Os resultados trazem como evidência problemas de imprecisão nos documentos organizacionais aos quais se teve acesso. Os erros percebidos dizem respeito a instruções básicas, trazendo sugestões gerais dos organismos normalizadores mais amplos. Conclusão: conclui-se que existe imprecisão nos documentos organizacionais analisados, cujos equívocos dizem respeito às instruções básicas, desde a elaboração da capa para trabalhos acadêmicos, até aspectos normativos trazendo sugestões gerais dos organismos normalizadores mais amplos. Essas informações equivocadas, além de trazerem prejuízos aos pesquisadores e alunos, podem induzir ao erro, até mesmo a usuários mais especializados.

Palavras-chave: associação brasileira de normas técnicas; manual de normalização;  universidades.

 

 

 

 

 

 

 

STANDARDIZATION MANUALS FOR ACADEMIC WORKS

dissemination of the Brazilian standards of the Brazilian Association of Technical Standards - ABNT in higher education institutions in João Pessoa/PB

 

Abstract

Introduction: The publicization of academic and scientific data has been considerable in recent years, so that those who have access can analyze and reflect on the way it is disseminated, including technical knowledge, especially in the area of standardization. On the other hand, there is imprecision in organizational instruments, such as the preparation and publication of institutional manuals, which leads us to reflect on how some guidelines disseminate this process in the wrong way. Objective: To analyze the accuracy of the content of the standardization manuals of higher education institutions in the city of João Pessoa/PB in accordance with ABNT standards for academic work. Methodology: Methodologically, this is characterized as an exploratory and descriptive bibliographic and documentary study, with a qualitative analysis. Results: The results show problems of inaccuracy in the organizational documents to which we had access. The perceived errors relate to basic instructions, providing general suggestions from broader standardizing bodies. Conclusion: It can be concluded that there is imprecision in the organizational documents analyzed, whose mistakes concern basic instructions, from the preparation of the cover for academic papers, to normative aspects that include general suggestions from broader standardizing bodies. This misinformation not only harms researchers and students, but can also mislead even more specialized users.

Keywords: brazilian association of technical standards; standardization manual; normalization manual; universities.

 

MANUALES DE NORMALIZACIÓN PARA EL TRABAJO ACADÉMICO

difusión de las normas brasileñas de la Asociación Brasileña de Normas Técnicas - ABNT en las instituciones de enseñanza superior de João Pessoa/PB

 

Resumen

Introducción: La publicación de datos académicos y científicos ha sido considerable en los últimos años, de modo que quienes tienen acceso a ellos pueden analizar y reflexionar sobre la forma en que se difunden, incluidos los conocimientos técnicos, especialmente en el ámbito de la normalización. Por otro lado, existe imprecisión en los instrumentos organizativos, como la redacción y publicación de manuales institucionales, lo que nos lleva a reflexionar sobre cómo algunas directrices difunden este proceso, dando lugar a errores. Objetivo: Analizar la precisión del contenido de los manuales de normalización de las instituciones de enseñanza superior de la ciudad de João Pessoa/PB de acuerdo con las normas de la ABNT para el trabajo académico. Metodología: Metodológicamente, se caracteriza como un estudio exploratorio y descriptivo bibliográfico y documental con análisis cualitativo. Resultados: Los resultados muestran problemas de inexactitud en los documentos organizacionales a los que se tuvo acceso. Los errores percibidos se refieren a instrucciones básicas, con sugerencias generales de los organismos de normalización más amplios. Conclusión: Se puede concluir que existe imprecisión en los documentos organizativos analizados, cuyos errores se refieren a instrucciones básicas, desde el diseño de la portada de los trabajos académicos, hasta aspectos normativos que contienen sugerencias generales de los organismos de normalización más amplios. Esta desinformación no sólo perjudica a investigadores y estudiantes, sino que también puede inducir a error a usuarios aún más especializados.

Palabras clave: asociación brasileña de normas técnicas; manual de normalización; universidades.

1  INTRODUÇÃO

O uso das normas de padronização de trabalhos acadêmicos e científicos são entendidas como um padrão exigido por instituições de ensino e/ou revistas científicas de diferentes países, e instâncias ou órgãos acadêmicos, em especial as normas brasileiras, referem-se às seguintes publicações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (Costa; Gomes, 2018). O uso dessas normas é um requisito fundamental para aqueles que elaboram e apresentam trabalhos acadêmicos e científicos em diferentes instâncias ou órgãos acadêmicos. Essa competência técnica é inerente ao processo de comunicação científica, sendo parte inexorável do conhecimento científico. O principal objetivo da padronização é desenvolver um nível específico de conformidade e padronização que facilite a circulação desses dados no meio científico, nos processos comunicativos. Seja em sua forma verbal, não-verbal e escrita, a comunicação pressupõe que emissor e receptor da informação possuam uma área de comunicação/entendimento em comum (Perumal; Bakar, 2011).

No Brasil, o padrão nacional é orientado por um conjunto de normas de documentação e informação produzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Algumas das normas utilizadas são (NBR 6021); artigo em publicação periódica científica impressa - apresentação (NBR 6022); referência-elaboração (NBR 6023); revisão de originais e provas (NBR 6025); sumário-apresentação (NBR 6027); resumo – apresentação (NBR 6028); trabalhos acadêmicos (NBR 14724); projeto de pesquisa (NBR 15287); Informação e documentação – Pôsteres técnicos e científicos – Apresentação (NBR 15437). Em nível intermediário, há a participação de diversos atores sociais (docentes, discentes, bibliotecárias, instituições, editores, eventos, periódicos) atuando no ensino e na aplicação dos instrumentos normativos.

A comunicação científica, assim como outras formas de comunicação, é social e simbolicamente diferenciada (Nielsen, 2013). Sua aplicação está relacionada à formalização e institucionalização em nível organizacional/local das regras documentárias, as quais geralmente são interpretadas, adaptadas e apresentadas aos membros das comunidades por meio de instrumentos ou manuais específicos.                   

Na contextura prática, contudo, “[...] no âmbito da escrita e comunicação dos pesquisadores estão muito frequentemente em total contradição com as normas e padrões que a comunidade científica estabeleceu” (Roland, 2009, p. 1, tradução nossa). Há, portanto, ameaça à efetividade, qualidade e integridade da comunicação científica. 

As normas gerais, geralmente nacionais, possuem linguagem técnica e, por vezes, resumida, ou seja, não fornecem exemplos para todas as decisões de normalização. A elaboração de manuais institucionais é oportuna, pois traduzem, adaptam e facilitam o entendimento e a aplicação das regras gerais em situações práticas específicas. De fato, as normas gerais têm uma natureza sugestiva e genérica, oferecendo diferentes abordagens para a resolução de um determinado problema, o que dificulta a tomada de decisão para usuários leigos. Em relação ao seu conteúdo, observa-se que existe o problema da precisão dos instrumentos organizacionais que traduzem as normas produzidas pelos organismos nacionais e internacionais. Enquanto algumas instruções variam de acordo com a autonomia institucional para adaptar as sugestões gerais dos organismos normalizadores mais amplos, outras apresentam imprecisões ou erros - intencionais ou não - em relação às diretrizes documentárias. De acordo com Sarnat (2007), a precisão é essencial na comunicação científica, pois reflete o pensamento científico e inspira confiança no leitor, garantindo que sua interpretação seja correta e lógica. Por outro lado, a imprecisão pode levar a erros. Além das diferentes interpretações individuais, a imprecisão também pode ser percebida nos órgãos responsáveis pela disseminação e instrução das diretrizes de padronização de documentos.

É plausível destacar como informações errôneas, além de serem danosas para a padronização em nível local, induzem as pessoas ao erro quando submetem seus trabalhos às outras instâncias acadêmicas que exigem a aplicação do conhecimento sobre as normas estabelecidas. Quando utilizadas em contextos mais amplos, como aqueles que consultam as diretrizes institucionais para concursos públicos, pode-se promover o erro, até mesmo por usuários mais especializados.

Dito isso, é importante ressaltar que informações errôneas não apenas prejudicam a padronização em nível local, mas também levam as pessoas ao erro quando submetem seus trabalhos a outras instâncias acadêmicas que exigem a aplicação do conhecimento sobre as normas estabelecidas. Quando essas informações são utilizadas em contextos mais amplos, como na consulta às diretrizes institucionais para concursos públicos, podem até mesmo induzir ao erro os usuários mais especializados.

Nesse contexto, a pesquisa tem a seguinte questão norteadora: Como as regras estabelecidas nas normas brasileiras da ABNT para trabalhos acadêmicos estão sendo difundidas nos manuais de normalização das instituições de ensino superior de Joao Pessoa/PB?

A elaboração do presente artigo é parte do resultado da Dissertação intitulada MANUAIS DE NORMALIZAÇÃO PARA TRABALHOS ACADÊMICOS: difusão das normas brasileiras da Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT em instituições de ensino superior de João Pessoa/PB, Universidade Federal do Cariri (UFCA), para obtenção do grau de mestra. O trabalho mencionado aborda aspectos do uso correto das normas e as variadas razões da não efetividade ou ruídos da comunicação científica, dedicando-se especificamente, à problemática brasileira inerente ao conteúdo dos instrumentos organizacionais norteadores da padronização de documentos científicos. Para tanto, definiu-se como objetivo geral: analisar a precisão do conteúdo dos manuais de normalização de instituições de ensino superior na cidade de João Pessoa/PB em conformidade com as normas da ABNT para trabalhos acadêmicos. Como objetivos específicos, indicam-se: Descrever o contexto teórico da produção de manuais de normalização para trabalhos acadêmicos em instituições de ensino superior; identificar equívocos dos aspectos normativos da ABNT nos manuais institucionais relacionados aos tipos de trabalhos acadêmicos, seus elementos e regras gerais.

 

2 METODOLOGIA

Entende-se por metodologia o caminho a ser percorrido pelo pesquisador para chegar aos resultados desejados. De acordo com Wazlawick (2009), pesquisas realizadas nas áreas que envolvem as Ciências da Informação precisam definir de maneira clara quais serão os modelos teóricos a serem construídos, quais experimentos eventualmente serão realizados, de quais formas os dados serão organizados e comparados, fazendo com que os resultados obtidos possam servir de base e modelo para a implementação e resolução de problemas em outros ambientes além daquele que serviu como lócus do estudo.

Nesta perspectiva, realizou-se um estudo exploratório-descritivo com 3 etapas: bibliográfica, documental e proposição de um produto acadêmico. Para tal, utilizou-se uma análise qualitativa. Sobre as pesquisas exploratórias Gil (2002, p. 28);

 

Enfatiza que as mesmas [...] têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população, fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Sendo inúmeros os estudos que podem ser classificados como exploratórios, onde uma de suas características mais significativas a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados.

 

A aplicação e uso da pesquisa descritiva teve como objetivo compreender o cenário estudado, coletando informações que foram cruzadas com dados existentes, a fim de trabalhar no desenvolvimento de um produto capaz de preencher lacunas identificadas. Na perspectiva de Prodanov e Freitas (2013, p. 52):

 

Nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador. Incluem-se, entre as pesquisas descritivas, a maioria daquelas desenvolvidas nas ciências humanas e sociais, como as pesquisas de opinião, [...] os levantamentos socioeconômicos e psicossociais.

 

A proposta da tipologia de pesquisa, citada acima, delineia-se desde as primeiras etapas do estudo, que é a busca bibliográfica e documental. Sobre as pesquisas bibliográficas Lakatos e Marconi (2010, p. 57), ressaltam que se caracterizam como toda “[...] bibliografia tornada pública, tais como: jornais, revistas, livros, ou até mesmo gravações em diferentes mídias”. Nesta seara, o direcionamento inicial de dados deste trabalho foi a coleta múltipla de publicações em periódicos científicos, sites institucionais e demais bases de dados. Essas fontes de informação serviram de subsídio para o aprofundamento do conhecimento e entendimento do cenário atual e dos respectivos autores da temática abordada no mundo acadêmico e científico.

A opção pela pesquisa documental deu-se, por sua vez, para verificar a existência de manuais sobre o planejamento, elaboração e normalização de trabalhos acadêmicos nas IES de João Pessoa, permitindo a posterior análise das particularidades de tais documentos.  A importância desta etapa para o estudo pode ser evidenciada na fala de Chizzotti (2006, p.19) ao enfatizar que:

 

A busca documental é uma etapa importante para se reunir os conhecimentos produzidos e eleger os instrumentos necessários ao estudo de um problema relevante e atual, sem incidir em questões já resolvidas, ou trilhar percursos já realizados. O interessado deve ter ciência de quais e para que servem os documentos que procura, onde encontrá-los, como reuni-los e qual a finalidade.

 

A pesquisa documental utilizou como base os instrumentos institucionais, como os manuais com foco na elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) no nível de graduação, assim como as normas de documentação de trabalhos acadêmicos vigentes da ABNT. Verificou-se que há divergências em muitos documentos publicados entre o que está descrito nos manuais e o modelo exigido pelas normas vigentes. Para a abordagem do problema e sua posterior resolução, utilizou-se a análise qualitativa.

Segundo Ferreira (2015), as pesquisas com abordagem qualitativa envolvem a coleta de dados qualitativos, que são dados ricos e descritivos provenientes de pesquisas teóricas, de campo e experiências. Esses dados proporcionam uma compreensão aprofundada das necessidades da população pesquisada, contribuindo para a eficácia, precisão e padronização dos resultados almejados pelo pesquisador.

As bases de coleta de dados utilizadas na pesquisa incluíram instituições públicas e privadas de Ensino Superior da cidade de João Pessoa - PB, que estão em atividade há pelo menos 10 anos e possuem unidades de informação e bibliotecas em funcionamento. Em relação ao período de coleta, foram considerados os manuais publicados entre 2018 e 2021, levando em conta as atualizações e mudanças nas normas de elaboração de referências, artigos científicos e resumos nos últimos 3 anos.

Ressalta-se que, mesmo se tratando de uma pesquisa bibliográfica e documental, o estudo seguiu todos os pressupostos éticos das pesquisas acadêmicas. Foram respeitadas a originalidade das informações coletadas e a não divulgação do nome das instituições cujas bases de dados foram consultadas, com o objetivo de preservar a confidencialidade das informações utilizadas como subsídio para a elaboração dos resultados da pesquisa. O procedimento supracitado visou resguardar qualquer exposição que possa gerar desconforto ou constrangimentos a curto ou longo prazo para as instituições que tiveram seus dados analisados.

Para análise dos dados qualitativos, utilizou-se o Método da Interpretação de dados coletados (Minayo, 2009). Esse tipo de análise é utilizado, principalmente, nas áreas das ciências sociais e humanas, viabilizando assim os resultados da pesquisa pela dinâmica do círculo que gira em torno da explicação, compreensão e interpretação da realidade.

O método é empregado para a compreensão e interpretação de diferentes fenômenos, envolvendo a análise de conteúdos explicativos que são compreensivos, pois demonstram uma análise e interpretação por parte dos pesquisadores. Além disso, busca-se propor soluções para os problemas encontrados por meio desses resultados (Ghedin, 2004).

As categorias selecionadas para a análise dos manuais de normalização existentes, especificamente de trabalhos acadêmicos e normas correlatas (NBR 6021); artigo em publicação periódica científica impressa -apresentação (NBR 6022); referência-elaboração (NBR 6023); revisão de originais e provas (NBR 6025); sumário-apresentação (NBR 6027); resumo – apresentação (NBR 6028); trabalhos acadêmicos (NBR 14724); projeto de pesquisa (NBR 15287); Informação e documentação – Pôsteres técnicos e científicos – Apresentação (NBR 15437) foram selecionadas a partir de instruções objetivas pré-determinadas, a saber: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 - Elementos analisados nos manuais institucionais

 

 

 

 


Página/folha; tamanho de fonte: Espaçamento entre linhas: orientações gerais e exceções.

 

 

 

 

 

 


Folha de rosto; resumo; sumário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Numeração progressiva; citações.

 

 

 

 

 

 


     

 

 

 

 

 

 

 

Referências.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

 

Dentro do contexto apresentado, a presente pesquisa objetivou, além do levantamento de informações acerca de manuais acadêmicos, apresentar como produto final a estruturação de um produto em formato de um Guia de equívocos a evitar durante a normalização de trabalhos acadêmicos. O intuito foi o de exemplificar os pontos mais divergentes durante a análise dos manuais pesquisados.

Ressalta-se que manuais sejam eles técnicos, institucionais ou com finalidade de elaboração de trabalhos científicos (ou mesmo quando são utilizados em algumas bancas de concursos) são entendidos como materiais que visam informar a maneira correta, à comunidade acadêmica, para a padronização de documentos. Dessa forma, quando são publicados com informações incorretas, acabam gerando diversas confusões no público-alvo. Pensando nisso, os aspectos mencionados foram analisados por meio das seguintes etapas: 

1) busca por manuais institucionais, disponibilizados de forma on-line;

2) leitura na íntegra de tais documentos;

3) comparativo dos manuais existentes com as normas da ABNT para trabalhos acadêmicos vigentes.

Posterior a tal análise elaborou-se os resultados da pesquisa alertando sobre erros recorrentes e auxiliando na disseminação correta das informações no que diz respeito à utilização e apresentação de elementos essenciais em textos acadêmicos e científicos.

 

3 RESULTADOS

A presente seção traz a exposição das categorias selecionadas para a análise do conteúdo dos manuais de normalização existentes, especificamente de trabalhos acadêmicos e normas correlatas (NBR 6022); referência-elaboração (NBR 6023); revisão de originais e provas (NBR 6025); sumário-apresentação (NBR 6027); resumo – apresentação (NBR 6028); trabalhos acadêmicos (NBR 14724); projeto de pesquisa (NBR 15287); Informação e documentação – Pôsteres técnicos e científicos – Apresentação (NBR 15437). É importante destacar que durante a análise dos conteúdos e dos resultados, foram encontrados obstáculos relacionados à falta de manuais e documentos normativos disponíveis em bases de dados on-line.

 

3.1 Análise dos manuais de normalização das IES de João Pessoa/PB

É relevante ressaltar que, das 21 instituições de ensino superior (IES) consultadas, apenas cinco delas disponibilizavam manuais para consulta pública. Após a busca e a leitura, os dados foram compilados para subsidiar este estudo. Os manuais selecionados para a análise foram denominados como MANUAL 1, MANUAL 2, MANUAL 3 e MANUAL 4. O uso do termo documental deu-se para preservar a confidencialidade das informações utilizadas como subsídio para a elaboração da presente dissertação. Ao longo deste estudo, foram abordadas as divergências encontradas entre esses manuais e as normas vigentes, sendo eles expostos da seguinte forma:  

 

3.2 Elementos pré-textuais

A análise dos elementos pré-textuais traz a demonstração de como são abordados os aspectos relacionados à elaboração de elementos a exemplo de capa; folha de rosto; resumo e sumário. Ou seja, os elementos pré-textuais como o próprio nome sugere, são elementos que aparecem em trabalhos acadêmicos antes do desenvolvimento do texto principal. Cada um desses componentes assume funções específicas, que em sua essência contribuem para uma boa apresentação do trabalho, organização e explanação das ideias (Associação Brasileira De Normas Técnicas, 2011). Conforme explicitado no quadro 1, posteriormente, quadro 2, 3 e 4.

 

Quadro 1 - Elementos pré-textuais

 

 

 

 

MANUAL 1

No que diz respeito aos elementos pré-textuais quando indicado às configurações da capa e folha de rosto não é constatado divergência no que diz respeito à relação do manual com a ABNT NBR 14724:2011.

 

No que se refere ao item Resumo encontra-se divergência no que diz respeito ao tamanho da fonte, sendo indicado no manual a fonte em tamanho menor que 12.

 

Contudo as recomendações da NBR 6028:2021 - Informação e documentação - Resumo, resenha e recensão - Apresentação, a norma não apresenta tal indicação.

Ao ser analisado o sumário não foram encontradas divergências. 

 

 

 

 

 

 

MANUAL 2

Quando indicada a especificação da capa e folha de rosto encontra-se divergência no que diz a descrição de natureza: tipo do trabalho, tratando-o como Nota Explicativa; erros no que diz respeito ao tamanho da fonte a ser utilizada sendo indicado para Nome da instituição, Nome do curso e Título tamanho da fonte 16 para a capa e 18 para a folha de rosto. Já para o Nome completo do autor indica-se tamanho 14 em ambos os elementos, entretanto a norma ABNT NBR 14724:2011 de Trabalhos Acadêmicos indica “fonte tamanho 12 para todo o trabalho, inclusive capa” (NBR 14724: 2011, p. 10).

 

No que se refere ao resumo, apesar da norma de ter sua publicação em 2021 o manual ainda cita a NBR 6028:2003, induzindo ao erro de que as palavras-chave devem ser ainda separadas por ponto. Porém na sua última atualização em 2021 indica-se que as mesmas devem ser “[...] separadas entre si por ponto e vírgula e finalizadas por ponto [...]” (NBR 6023:2021, p. 2).

 

No elemento sumário encontra-se divergência no que diz respeito ao espaçamento entre o indicativo sumário e os títulos das seções recomendando-se o uso de dois espaços de 1,5 cm separando a palavra sumário do título das seções, porém, tal aspecto não é mencionado na norma atual NBR 6027:2012.

 

 

 

 

MANUAL 3

Quando indicado a formatação da capa encontra-se divergências no que diz respeito ao espaçamento dos elementos da mesma, sendo indicado espaçamento simples, indo contrário a ABNT (NBR 14724:2011, p. 10) que indica espaçamento “1,5 entre as linhas para todo o trabalho com exceção para citações de mais de três linhas, notas de rodapé, referências, legendas das ilustrações e das tabelas, natureza (tipo do trabalho, objetivo, nome da instituição a que é submetido e área de concentração), que devem ser digitados ou datilografados em espaço simples”.

 

No item folha de rosto não foram encontradas divergências. 

Os elementos resumo e sumário não apresentaram divergências com as normas atuais.

 

 

MANUAL 4

No manual desta IES não foram encontradas divergências no que diz respeito à elaboração da Capa e folha de rosto.

O resumo não foi considerado, uma vez que o manual tem sua publicação no ano de 2018, ano anterior a atualização da NBR 6028:2021.

Já no item sumário não foi encontrada divergência.

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

 

O Quadro 1 faz menção aos erros e divergências encontradas nos manuais analisados. Percebe-se que praticamente todos os documentos trazem divergências no que se refere ao uso do tamanho das fontes orientadas pelas NBR’s vigentes, além de citá-las como referência, o que confunde o aluno e o professor. Assim ambos devem consultar o manual e norma vigente.

 

3.3 Regras gerais

A análise de tais elementos inclui a verificação da forma como é abordado nos manuais levando em consideração os principais elementos: “formato, espaçamento, notas de rodapé, indicativos de seção, títulos sem indicativo numérico, paginação, configuração de página; tamanho de fonte” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2011, p. 9-10).

Quadro 2 - Regras gerais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MANUAL 1

No que se refere ao Formato, o manual contempla a observação de utilização de cor preta para todo o texto, exceto para ilustrações.

 

Sobre o   Espaçamento é contemplado de forma assertiva de 1,5 entre as linhas, inclusive a capa, trazendo a ressalva referente a citações com mais de três linhas, notas de rodapé, paginação, dados internacionais de catalogação-na-publicação (ficha catalográfica), legendas e fontes das ilustrações e das tabelas, que devem ser fonte menor, trazendo uma recomendação para uso do tamanho da fonte 10.

 

Já para os Indicativos de seção. O manual não contempla a formatação completa.

 

Elementos sem indicativo numérico é enfatizado que os títulos devem ser centralizados, utilizando      a mesma grafia das seções primárias do documento.

 

Sobre a Paginação. Diz-se que a primeira      página onde aparece a paginação é a introdução.

 

Sobre a configuração das margens de página, o manual      segue exatamente o que a NBR 14724:2011 mencionaesquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm; para o verso, direita e superior de 3 cm e esquerda e inferior de 2 cm.” (NBR 14724:2011, p. 10).

 

Indica-se no manual tamanho de fonte 12, inclusive a capa, com exceção das citações com mais de três linhas, trazendo uma recomendação de fonte tamanho 10.

 

 

 

 

 

MANUAL 2

No que se refere ao Formato o manual não contempla a observação de utilização de cor para todo o texto, o Espaçamento também não é contemplado de forma assertiva trazendo apenas a ressalva referente a citações com mais de três linhas, trazendo uma recomendação para uso do tamanho da fonte 11.

 

Já para os Indicativos de seção e Elementos sem indicativo numérico e Paginação o manual não contempla a formatação, para a configuração das margens de páginas o manual segue o que a NBR 14724:2011.

 

Sobre o tamanho de fonte 12, inclusive a capa, com exceção das citações com mais de três linhas, traz também a recomendação de fonte tamanho 10.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MANUAL 3

No que se refere ao Formato, o manual contempla a observação de utilização de cor preta para todo o texto, exceto para ilustrações. Sobre o Espaçamento é contemplado de forma assertiva de 1,5 entre as linhas, inclusive a capa, porém, traz como regra tamanho 11 para citações com mais de três linhas, notas de rodapé tamanho 10, deixando livre o uso de tamanho de fonte menor para legendas e fontes das ilustrações e das tabelas, assim como o manual da IES 2 o referido documento não contempla um formato.

 

Para os Indicativos de seção e Elementos sem indicativo numérico.

 

Sobre a Paginação diz-se que a primeira      página onde aparece a paginação é a introdução.

 

Para a configuração das margens de página o manual segue exatamente o que a NBR 14724:2011 mencionaesquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm; para o verso, direita e superior de 3 cm e esquerda e inferior de 2 cm.” (NBR 14724:2011, p. 10).

 

Indica-se no manual tamanho de fonte 12, inclusive a capa, com exceção das citações com mais de três linhas, trazendo uma recomendação de fonte tamanho 11.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MANUAL 4

No que se refere ao Formato, o manual contempla a observação de utilização de cor preta para todo o texto, exceto para ilustrações. 

 

Sobre o   Espaçamento é contemplado de forma assertiva de 1,5 entre as linhas, inclusive a capa, trazendo a ressalva referente a citações com mais de três linhas, notas de rodapé, paginação, dados internacionais de catalogação-na-publicação (ficha catalográfica), legendas e fontes das ilustrações e das tabelas, que devem ser fonte menor, trazendo uma recomendação para uso do tamanho da fonte 10.

 

Para os Indicativos de seção o manual não contempla a formatação completa, no que se refere aos Elementos sem indicativo numérico é enfatizado que os títulos devem ser centralizados, utilizando a mesma grafia das seções primárias do documento.

 

Sobre a Paginação diz-se que a primeira      página onde aparece a paginação é a introdução, no canto superior direito em algarismo arábico, conforme exigido pela NBR 14724 (2011, p.10).

 

Sobre a configuração das margens de página, o manual      segue o que a NBR 14724:2011 mencionaesquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm; para o verso, direita e superior de 3 cm e esquerda e inferior de 2 cm.” (NBR 14724:2011, p. 10).

 

Indica-se no manual tamanho de fonte 12, inclusive a capa, com exceção das citações com mais de três linhas, trazendo uma recomendação de fonte tamanho 10.

Fonte: Dados da pesquisa 2023.

 

Ao serem analisados os aspectos referentes à orientação geral e exceções, incluindo formato, espaçamento, notas de rodapé, indicativos de seção, títulos sem indicativo numérico, paginação, configuração de página; tamanho de fonte, percebe-se que existe uma consonância na maioria dos manuais com a norma vigente. Porém, há divergências entre si, quando se trata do tamanho da fonte a ser usada em citações diretas longas, e a percepção da colocação de alguns elementos como obrigatório, ao invés de opcionais, indo em discordância à norma da ABNT NBR 10520:2002, na qual se utiliza muito a expressão “recomenda-se” e não “deve-se”, o que impõe certa obrigatoriedade. 

 

3.4 Elementos textuais

A análise dos elementos textuais inclui a numeração progressiva e a forma como esses manuais estão orientando a apresentação dessa numeração, assim como o uso e exposição de citações diretas e indiretas, citação de citação (apud) incluindo todos os aspectos relacionados à padronização      e apresentação.

Outrossim, destaca-se que, conforme a NBR 14724:2011, a “nomenclatura dos títulos dos elementos textuais fica a critério do autor” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2011, p. 5). Entretanto, a apresentação de forma ordenada e clara destes elementos inclui: introdução, desenvolvimento e conclusão. Estando dentro das referidas seções o uso de citações e numeração ordenada, representada pela numeração progressiva.

 

Quadro 3 - Elementos textuais

 

 

 

 

 

MANUAL 1

No que se refere aos aspectos relacionados à Numeração progressiva, o manual da IES 1 menciona corretamente os aspectos relacionados ao alinhamento, limitações das seções até a quinária. Porém, traz divergências ao mencionar que o texto começa na 3ª linha, em espaço um e meio, entretanto, a NBR 6024:2012 não menciona tal aspecto.

 

Já sobre a apresentação dos textos, a norma      diz que o texto deve iniciar em outra linha, logo após a descrição da seção, obedecendo espaçamento de 1,5.

Sobre a norma de citações a NBR 10520:2002 o manual não traz divergências. No que concerne às citações diretas e citações indiretas.

 

Já para as citações de citações encontra-se divergência na apresentação do apud, no manual da IES 1 o termo se apresenta em itálico, já na NBR vigente, não se encontra recomendação para tal expressão.

 

 

 

 

 

MANUAL 2

No que se refere aos aspectos relacionados à Numeração progressiva, o manual da IES 2 não traz as informações de apresentação do texto dividido em seções e subseções.

 

Sobre a norma de citações a NBR 10520:2002 o manual não traz divergências no que concerne às citações diretas.

 

Sobre as citações indiretas encontra-se divergência no formato de apresentação das mesmas.

 

Já para as citações de citações encontra-se divergência no formato de apresentação, sendo enfatizado no manual que quando trata-se de citação de citação, além de trazer erros no que diz respeito a inserção da obra consultada na respectiva lista de referências. Usa-se a expressão em português citado por, ou a expressão latina apud, após a indicação da fonte consultada. A obra consultada deve ser indicada na lista das referências e a outra a qual não se teve acesso (ao original), em nota de rodapé ou em forma de explicação. No entanto, a norma vigente não traz tal orientação.

 

 

 

 

MANUAL 3

Ao analisar o manual da IES 3 fora percebido que o documento não traz orientações no que diz respeito a apresentação a Numeração progressiva, não contempla a maneira como o texto deverá ser organizado e como a numeração deve ser utilizada de maneira assertiva.

 

Sobre a norma de citações, o manual traz divergências no que concerne a citações diretas longas ao mencionar como regra tamanho de fonte 11 para as mesmas. Porém, a norma estabelece que      a fonte deve ser apenas menor, ficando a critério do autor o tamanho a ser utilizado.

 

Sobre as citações indiretas não são encontradas divergências.

 

Já para as citações de citações encontra-se divergência na forma de apresentação dos autores das mesmas.

 

MANUAL 4

O manual da IES 4 traz uma explanação completa no que se refere a apresentação das seções e subseções do texto, recomendando sempre que o aluno consulte a NBR 6024:2012; no que se refere ao uso e apresentação de citações diretas, indiretas e citações de citações o manual contempla de forma assertiva todos os elementos. 

Fonte: Dados da pesquisa 2023.

                                                                                                                            

Ao serem analisados os dados expostos no Quadro 3, percebe-se que a maioria dos manuais não incluem informações básicas da apresentação de trabalhos acadêmicos a exemplo das especificidades da numeração progressiva, sua finalidade e como ela deve ser utilizada na produção acadêmica.  Outro aspecto a ser percebido é sobre a norma de citação, em especial a citação de citação e seus elementos, como devem ser apresentados a não confundir estudantes e/ou pesquisadores.

4.5 Elementos pós-textuais

A presente seção expõe os aspectos relacionados aos elementos pós-textuais, “parte que sucede o texto e complementa o trabalho” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2011, p. 2) em especial as referências, incluindo: espaçamento, alinhamento, elementos essenciais e complementares.

Quadro 4 - Elementos pós-textuais

 

MANUAL 1

No manual da IES 1, no que se refere ao espaçamento, alinhamento, elementos essenciais e complementares das referências o mesmo é assertivo e contempla todos os aspectos conforme a NBR  6023:2018. Porém, ao expor os formatos das referências encontram-se divergências no que se refere à exposição      da edição de capítulos de livros.

 

 

 

MANUAL 2

Ao analisar o manual da IES 2 a descrição da apresentação das referências o mesmo deixa de informar aspectos relacionados a apresentação correta de tais informações     , não contemplando aspectos como, alinhamento, elementos essenciais e complementares. Já nos exemplos expostos no manual, estão      erros no que diz respeito ao uso do et al., capítulo de livro, além de trazer a apresentação das referências justificadas, divergências também em espaçamento simples e espaçamento 1,5.

 

 

 

MANUAL 3

No manual da IES 3, no que se refere a descrição do espaçamento, alinhamento, elementos essenciais e complementares das referências o mesmo é assertivo e contempla todos os aspectos conforme a NBR  6023:2018. Entretanto, ao expor exemplos que possam servir como exemplo apresenta divergências no que se refere, ao alinhamento, informações dos documentos a exemplo da edição, capítulo de livro, material em meio eletrônico, mesmo tendo sua atualização em 2018, mesmo ano de atualização da norma ainda utiliza o sinal de brackets para links de documentos on-line.

 

 

MANUAL 4

No manual da IES 4, ao trazerem orientações sobre o espaçamento, alinhamento, elementos essenciais e complementares das referências por ele é assertivo e contempla todos os aspectos conforme a NBR  6023:2018. Porém, ao expor os formatos das referências encontram-se divergências no que se refere ao alinhamento das referências, e divergência na apresentação de documentos publicados em Anais de congressos.  

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

 

A análise das informações apresentadas no Quadro 4 revela importantes aspectos sobre a disseminação da norma de referências NBR 6023:2018 nas instituições de ensino superior IES que utilizam os manuais selecionados para este estudo. Durante a leitura, um aspecto que chamou atenção diz respeito às divergências de dados e informações encontradas.

Embora esses manuais forneçam orientações corretas, os exemplos apresentados muitas vezes contêm informações incorretas. Além disso, observou-se a ausência de dados essenciais para o acesso a documentos citados, o que pode gerar confusão. Sendo assim, destaca-se as maiores divergências encontradas nos manuais consultados.

Quadro 5 -  Divergências encontradas - Elementos pré-textuais

  Fonte: Dados da pesquisa 2023.

 

Quadro 6 - Divergências encontradas – Regras gerais

Fonte: Dados da pesquisa 2023.

 

Quadro 7 - Divergências encontradas - Elementos textuais

 Fonte: Dados da pesquisa 2023.

 

Existe uma consonância na maioria dos manuais com a norma vigente. Há divergências com relação ao tamanho da fonte para citações diretas longas. Alguns elementos foram mencionados como obrigatórios, ao invés de opcionais, indo em discordância à norma atual. A ABNT utiliza a expressão “recomenda-se” e não “deve-se” como encontrado em alguns manuais, o que impõe certa obrigatoriedade.

 

Quadro 8 - Divergências encontradas - Elementos pós-textuais

Fonte: Dados da pesquisa 2023.

 

Embora os manuais forneçam orientações corretas, os exemplos apresentados muitas vezes contêm informações incorretas. Ausência de dados essenciais para o acesso aos documentos citados, o que pode gerar confusão. A maioria dos manuais não incluem informações básicas da apresentação de trabalhos acadêmicos, a exemplo das especificidades da numeração progressiva.

Os resultados deste estudo corroboram com a análise realizada por Oliveira e Vidal (2020), que também investigaram a orientação de uso da linguagem normativa nos trabalhos acadêmicos. Os autores analisaram 11 manuais disponibilizados por instituições localizadas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Os manuais foram avaliados em relação às normas NBR 14724 (2011) para trabalhos acadêmicos e regras de formatação, NBR 10520 (2002) para citação, NBR 6023 (2018) para referências, NBR 6027 (2012) para sumário e NBR 6028 (2003) para resumo.

Os autores constataram diversas divergências entre o conteúdo de orientação apresentado nos manuais e as normas vigentes. Além disso, observaram que muitos manuais simplesmente reproduzem as normas, sem fornecer uma linguagem clara e assertiva para a comunidade acadêmica. Essas descobertas ressaltam a necessidade de aprimoramento na elaboração dos manuais, de forma a oferecer orientações mais precisas e acessíveis aos estudantes.

Durante a realização de um estudo que se dedicou à reflexão sobre a padronização de textos acadêmicos, com ênfase nas orientações relacionadas ao uso de citações, aspas e itálico, Rodrigues (2015) constatou uma série de erros no que diz respeito ao cumprimento das normas acadêmicas e às questões relacionadas à metodologia científica.

O autor ressaltou que esse tipo de material inadequado não apenas pode levar a informações incorretas, mas também pode confundir até mesmo profissionais mais experientes, como revisores de texto e especialistas em normalização. Isso ocorre porque a normalização e a produção dos textos estão intrinsecamente ligadas, buscando produzir trabalhos que atendam aos requisitos técnicos, científicos e acadêmicos necessários.

Sendo assim, as reflexões do autor mencionado estão em consonância com os achados dessa pesquisa e com a reflexão em torno de uma preocupação contínua no que se refere à forma como o processo de normalização está sendo tratado no âmbito acadêmico e as orientações disponibilizadas por meio de manuais acadêmicos. 

De acordo com Costa (2015), é válido ressaltar que a escrita acadêmica pode ser considerada como um exemplo do discurso acadêmico, no qual as informações e textos, ao se tornarem públicos, refletem as influências dos membros de grupos sociais que, por meio da linguagem, expressam determinadas formas de abordar um determinado fenômeno. Nesse sentido, é crucial destacar que a propagação de informações incorretas tem um impacto extremamente prejudicial na elaboração de trabalhos acadêmicos e científicos. Lubisco, (2008) acrescenta que na área acadêmica, um trabalho bem normalizado oferece condições altamente favoráveis à sua indexação e recuperação, o que facilita a comunicação científica. Ademais, isso interessa duplamente ao pesquisador: pela certeza de que seu (s) trabalho (s) apresenta (m) condições de figurar em fontes científicas de informação e pelo que isso pode representar para o enriquecimento do seu currículo. O contrário desse processo induz ao erro, e prejudica consequentemente o aluno      ou pesquisador.

Diante da reflexão proposta, exposição dos resultados e discussão incluindo os autores mencionados no estudo, se faz plausível destacar que, para a existência de um bom discurso acadêmico, ou seja, planejamento, elaboração e normalização de documentos de maneira assertiva, faz-se necessário a promoção de uma rede de trabalho contínuo, envolvendo docentes, discentes, teóricos e pesquisadores empenhados em discutir os conhecimentos acerca das normativas vigentes para a elaboração de trabalhos acadêmicos, trabalhando em prol de culturas disciplinares e do espaço universitário que apresenta importante relevância em todas as áreas do conhecimento.

 

6 CONCLUSÃO

O entendimento e a aplicação das normas de trabalhos acadêmicos e científicos são considerados como requisitos padronizados por instituições de ensino e por diversas publicações científicas em vários países. No contexto brasileiro, é comum seguir os parâmetros estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para a maioria dessas publicações.

Esse estudo viabilizou uma exposição do contexto teórico da produção de manuais de normalização para trabalhos acadêmicos em instituições de ensino superior de João Pessoa - PB, identificando os equívocos dos aspectos normativos da ABNT nos referidos documentos analisados, seus elementos e regras gerais. Por fim, elaborou-se um Guia que tem por objetivo trazer aspectos relacionados ao uso de boas práticas de aplicação no que se refere à normalização de documentos acadêmicos e de erros a evitar ao padronizar tais elementos.

A busca e análise do material trazem como evidência problemas de imprecisão nos documentos organizacionais aos quais se teve acesso. Os erros percebidos dizem respeito a instruções básicas, trazendo sugestões gerais dos organismos normalizadores mais amplos. Essas informações equivocadas, além de trazerem prejuízos aos pesquisadores e alunos que, por exigência institucional, utilizam esses manuais para padronização e apresentação destes trabalhos para obtenção de títulos. Ao serem utilizadas em contextos mais amplos, por exemplo, quando acessados por indivíduos externos que podem consultar tais diretrizes institucionais para estudos, tirar dúvidas básicas, pode-se promover ações equivocadas, até mesmo em usuários mais especializados. Sendo assim, considera-se que os objetivos propostos pelo estudo foram alcançados.

Após realizar esta pesquisa e apresentar os resultados, espera-se que a exposição dos equívocos encontrados nos manuais institucionais relacionados aos tipos de trabalhos acadêmicos, seus elementos e regras gerais da ABNT, juntamente com a apresentação da forma correta de elaboração e apresentação desses elementos, contribua para evitar erros na normalização de trabalhos acadêmicos.

Durante o estudo, um dos obstáculos identificados foi a falta de manuais institucionais e/ou documentos normativos disponíveis em bases de dados on-line. Das 21 instituições de ensino superior consultadas, apenas quatro disponibilizaram manuais para consulta pública. É importante ressaltar que, ao entrar em contato com os profissionais      de biblioteconomia dessas instituições, foi observada uma resistência em fornecer qualquer material com as informações solicitadas. Sendo ainda uma das reflexões e pautas sugeridas para novos estudos, manuais de outras instituições a nível nacional, verificando se essas divergências são comumente em outras IES.

REFERÊNCIAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6024:2012: Informação e documentação — Numeração progressiva das seções de um documento — Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6027:2012: Informação e documentação — Sumário — Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6027:2021: Informação e documentação — Resumo, resenha e recensão — Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.

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[1] Professora de Metodologia do Trabalho Científico no Programa de Pós-Graduação - UNIFIP -RL. Mestra em Biblioteconomia - UFCA, Especialista em Planejamento e Gestão de Ensino Aprendizagem UNIPÊ, Graduada em Biblioteconomia

[2] Professor dos Mestrados PPGB e PRODER da UFCA. Coordenador do Núcleo de Empreendedorismo, Responsabilidade e Marketing Social (NERMS) da UFCA.