O PAPEL INFORMATIVO DO GRIÔ NOS EQUIPAMENTOS INFORMACIONAIS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

 

Júlia Raquel Farias da Costa [1]

Universidade Federal de Pernambuco

julia.fariascosta@ufpe.br

Daniela Eugênia Moura de Albuquerque [2]

Universidade Federal de Pernambuco

daniela.eugenia@ufpe.br

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Resumo

As estruturas coloniais que determinaram os referenciais de conhecimento da sociedade brasileira se atrelam às relações de poder que privilegiam a tradição escrita nos equipamentos informacionais. Quando a prioridade desses espaços não é a salvaguarda das tradições orais, os griôs, tradicionalistas brasileiros, cumprem esse papel social para com sua comunidade. Sabendo disso, essa pesquisa tem como objetivo identificar como os equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro estão se relacionando com os griôs de sua região. Ela se trata de uma pesquisa com fins exploratórios e descritivos e meios bibliográficos, com aplicação de natureza quantitativa, composta por doze equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro, e a realização da coleta dos dados foi mediante a aplicação de questionários. Os resultados demonstraram que uma parte considerável dos respondentes se relacionam com as tradições orais dos povos tradicionais de sua região, que utilizam elas como fontes de informação e que as têm manifestadas de diferentes formas em seu interior, a principal delas na contação de histórias. Além disso, nos contou que metade dos equipamentos informacionais possuem medidas para preservar as tradições orais dos griôs de sua região, as principais delas sendo as apresentações de dança com os griôs, rodas de conversa, apresentações musicais, contação de histórias e oficinas. Conclui-se que as tradições orais estão se manifestando nos equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro como fontes de informação, que a presença de griôs mediando informação nesses locais é uma realidade e que medidas para a preservação da tradição oral Griô é uma responsabilidade emergente para os equipamentos informacionais.

Palavras-chave: fontes de informação; mediação da informação; oralidade; tradição oral; tradicionalistas.

THE INFORMATIVE ROLE OF THE GRIÔ IN INFORMATION FACILITIES IN THE NORTHEAST OF BRAZIL

Abstract

The colonial structures that have determined Brazilian society's knowledge references are linked to power relations that privilege the written tradition in information systems. When the priority of these spaces is not to safeguard oral traditions, the griôs, Brazilian traditionalists, fulfill this social role for their community. With this in mind, the aim of this research is to identify how information systems in the Northeast of Brazil are relating to the griôs of their region. It is an exploratory, descriptive and bibliographic study, with a quantitative approach, made up of twelve information centers in the Northeast of Brazil, and the data was collected using questionnaires. The results showed that a considerable proportion of the respondents have a relationship with the oral traditions of the traditional peoples of their region, that they use them as sources of information and that they manifest them in different ways within their facilities, the main one being in storytelling. He also told us that half of the information facilities have measures in place to preserve the oral traditions of the griôs in their region, the main ones being dance performances with the griôs, conversation circles, musical performances, storytelling and workshops. The conclusion is that oral traditions are manifesting themselves in the information facilities of the Brazilian Northeast as sources of information, that the presence of griôs mediating information in these places is a reality and that measures for the preservation of the Griô oral tradition is an emerging responsibility for information facilities.

Keywords: sources of information; information mediation; orality; oral tradition; traditionalists.

LA FUNCIÓN INFORMATIVA DEL GRIÔ EN LOS CENTROS DE INFORMACIÓN DE LA REGIÓN NORDESTE DE BRASIL

Resumen

Las estructuras coloniales que han determinado las referencias de conocimiento de la sociedad brasileña están vinculadas a relaciones de poder que favorecen la tradición escrita en los sistemas de información. Cuando la prioridad de estos espacios no es salvaguardar las tradiciones orales, los griôs, tradicionalistas brasileños, cumplen este papel social para su comunidad. Teniendo esto en cuenta, esta investigación pretende identificar cómo los centros de información del nordeste de Brasil se relacionan con los griôs de su región. Se trata de un estudio exploratorio, descriptivo y bibliográfico, con enfoque cuantitativo, compuesto por doce centros de información del nordeste de Brasil, y los datos se recogieron mediante cuestionarios. Los resultados mostraron que una proporción considerable de los encuestados se relaciona con las tradiciones orales de los pueblos tradicionales de su región, que las utilizan como fuentes de información y que las manifiestan de diferentes formas dentro de su organización, siendo la principal la narración de cuentos. También nos dijo que la mitad de los centros de información cuentan con medidas para preservar las tradiciones orales de los griôs de su región, siendo las principales los espectáculos de danza con los griôs, los círculos de conversación, las actuaciones musicales, la narración de cuentos y los talleres. La conclusión es que las tradiciones orales se manifiestan en los centros de información del Nordeste de Brasil como fuentes de información, que la presencia de griôs mediadores de información en estos lugares es una realidad y que las medidas para preservar la tradición oral griô son una responsabilidad emergente de los centros de información.

Palabras clave: fuentes de información; mediación informativa; oralidad; tradición oral; tradicionalistas.


 

1 A REINVENÇÃO DA INFORMAÇÃO

Cada grupo social tem um passado que o define, desenhado por experiências que coletivizam os indivíduos. Para tal, as pessoas necessitam de um transmitente que permita a interpretação e reinvenção de suas vivências. A oralidade é a mediadora natural dos seres humanos, nascida com eles nos primórdios de sua humanização, quando a linguagem se tornou o elemento que os diferenciou dos outros transeuntes terrestres. Com a palavra, o que antes era algo se tornou alguém, capaz de tecer fontes de informação manifestadas, a priori, nas tradições orais, vivenciadas nos contos, canções, danças e outras expressões culturais que deram continuidade a nossa existência.

Dado o surgimento da tradição escrita, a humanidade passou a ter sua existência representada por novas fontes de informação, engatando em uma busca frenética por tornar suas representações cada vez mais tangíveis. Contudo, ao mesmo tempo em que a materialização das nossas ideias se torna parte integral no fluxo informacional humano, é incontestável o poder que foi dado àquele que a domina. A alfabetização no Brasil oitocentista é um exemplo isso, em que as expressões “analfabeto” e “analfabetismo” foram estreitamente associadas aos negros pelo poderio branco, que buscava desvirtuar sua racionalidade, pautada, essencialmente, em tradições orais (Galvão, 2022). A informação objetificada, então, foi integrada às práticas coloniais que se estruturaram na sociedade brasileira, condensando o conhecimento em uma impessoalidade que passa a estigmatizar pessoas que, em estações anteriores, reconheciam-se tão somente na própria voz. 

Na contemporaneidade, vivenciamos a hegemonia da tradição escrita sobre a tradição oral, seja nas instituições de educação formal, nos equipamentos informacionais, nos meios de comunicação ou mesmo na vida cotidiana. Entre os espaços citados, os locais de informação desempenham um papel fundamental nos referenciais de conhecimento da sociedade, ao que ditam suas fontes informacionais. Consequentemente, são as principais casas de subvalorização das tradições orais, quando priorizam a tradição escrita em sua dialógica com a sociedade.

A tensão na coexistência entre as duas formas de construção de sentidos humanos afeta diretamente as culturas populares, que têm as tradições orais como principais manifestações de sua existência. Em um cenário em que o populário é menosprezado, as pessoas são lesionadas pela hierarquização do saber. Nasce a urgência de agentes que deem à razão outras epistemologias.

 Essa pesquisa busca colocar os equipamentos informacionais como um dos agentes de contestação do conhecimento hegemônico legitimado pelo poder colonial, sendo as fontes de informação um dos vestígios da racionalidade humana sob sua égide. Para tal, é preciso que tais espaços atuem em conjunto com demais fomentadores decoloniais. Na cena brasileira, os griôs protagonizam a cultura popular do país, atuando na preservação do seu patrimônio tradicional e representando a luta ativa pela valorização da tradição oral. Estas são, portanto, figuras que devem estar presentes nas práticas cotidianas de bibliotecas, museus, teatros, e outros equipamentos que atuam na reprodução e amplificação da informação.

            Dessa forma, o problema da pesquisa consiste em: como os equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro estão se relacionando com os griôs de sua região?

Em diálogo com o problema da pesquisa, o nosso objetivo geral corresponde em identificar como os equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro estão se relacionando com os griôs de sua região. Dele, se desencadeiam três objetivos específicos:

 

a)     investigar a utilização de tradições orais como fontes de informação nos equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro;

b)    mapear a presença de griôs nos equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro;

c)     identificar se os equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro possuem medidas para preservar as tradições orais dos griôs da sua região.

           

Para fundamentarmos nossa discussão, apresentamos nas seguintes seções uma revisão de literatura abordando os nossos principais objetos de estudo. Em sequência, exibimos os procedimentos metodológicos aplicados na pesquisa e os dados obtidos com eles. Por fim, discutimos as nossas considerações finais sobre essa investigação.

 

2 A MISSÃO GRIÔ NOS CORREDORES DA INFORMAÇÃO

            A cultura e a educação foram usadas como manobras de poder desde a chegada dos portugueses no Brasil, sobretudo com a catequização. Como consequência, o país detém de uma estrutura social autoritária e elitista, pois as políticas educacionais e culturais tardaram a contemplar as raízes dos ex-colonizados, como indígenas e africanos, não integrando a seguridade da diversidade identitária brasileira (Rubim; Barbalho, 2007). Medidas para reverter esse quadro se fizeram cada vez mais necessárias com a cobrança contemporânea de desmarginalização das manifestações tradicionais.

Mesmo no período pós-colonial, a razão do colonizador subalterna a cultura dos povos ex-colonizados, que não conseguem se livrar da dominação cultural enquanto não se libertam dos referenciais teóricos de seus dominadores. Para que haja uma emancipação definitiva do subalterno, com a sua identidade sendo manifestada, preservada e disseminada, eles irão requerer a participação de instituições que contribuam com essa causa (Romã; Gadotti, 2012; Santa Anna, 2017). Na cena das políticas públicas, o Projeto de Lei Nacional Griô (Brasil, 2011) é coadjuvante no processo de libertação identitária da nação, pois tem como finalidade instituir uma política nacional de valorização dos saberes e fazeres da tradição oral, em diálogo com a educação formal, por meio do reconhecimento dos griôs brasileiros.

O griô se manifesta como a ressignificação dos mestres tradicionalistas da tradição africana, cunhados pelos colonizadores franceses de griots. Por salvaguardar a cultura de sua região, tais figuras representavam uma ameaça ao sistema colonizador, tanto o que foi instaurado na África, quanto no Brasil. Trazidos na diáspora africana, os griots, aqui griôs, foram fundamentais para a continuidade das culturas africanas em solo brasileiro, tendo em suas tradições orais a semente identitária afro-brasileira.

A contemporaneidade deu ao griô novas características, em principal com a sua inserção nas políticas públicas. Hoje, segundo Pacheco (2015, p. 64), o título se aplica a:

 

[...] todo(a) cidadão(ã) que se reconheça e seja reconhecido(a) pela sua própria comunidade como herdeiro(a) dos saberes e fazeres da tradição oral e que, através do poder da palavra, da oralidade, da corporeidade e da vivência, dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da tradição oral, transmitindo saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a ancestralidade e identidade do seu povo.

 

Dessa forma, a Política Nacional Griô (Brasil, 2011) se torna coadjuvante no fomento à continuidade das culturas tradicionais brasileiras, quando coloca as tradições orais Griô em diálogo com as instituições de ensino formal. Contudo, não obstante a escolas e universidades, a política de fomento à tradição oral Griô deve ser inserida em outras entidades do país. O próprio Projeto de Lei Nacional Griô (Brasil, 2011, art. 9, parágrafo IV, grifo nosso) ao afirmar que o dever dos griôs e mestres da tradição oral é “[...] atuar em projetos voltados para a transmissão de saberes e fazeres da tradição oral nas instituições de ensino e equipamentos culturais”, busca expandir a missão da Política Nacional Griô aos equipamentos culturais do Brasil. No entanto, o PL não deixa claro quais espaços são esses.

Segundo Coelho (1997), equipamento cultural se trata das edificações destinadas às práticas culturais, tais como teatros, cinemas, bibliotecas, centros de cultura, filmotecas e museus. Esses espaços são caracterizados por abrigar e disseminar as manifestações culturais da sociedade, recepcionando a sua memória e identidade. Ao promover o vínculo entre os cidadãos e as tradições locais, os equipamentos culturais tornam as pessoas protagonistas da cultura emergente, favorecendo o desenvolvimento sociocultural de sua localidade.

De acordo com Gomes (2019), ao se impulsionar o senso de protagonista nas pessoas, sobretudo aquelas que não se enxergavam em tal posição na sociedade, os equipamentos culturais tornam-se casa de um protagonismo social. Este é fundamental para a tardia libertação cultural brasileira. Para articular esse fenômeno, tais moradas de cultura se ancoram em instrumentos de disseminação e apropriação. Entre eles está a mediação da informação, que, para Almeida Júnior (2009, p. 92, grifo nosso), é

 

[...] toda    ação    de    interferência – realizada    pelo    profissional    da informação –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; que   propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional.

 

            A mediação da informação como uma ação dialógica é uma interlocução entre divergentes seres sociais e políticos. O dialogismo envolve os pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos entre o mediador e o receptor, onde ambos se tornam responsáveis por uma transmissão informacional e possível apropriação do conhecimento. É nessa interação onde há a interferência de historicidade e cultura dos sujeitos para com outros sujeitos. 

Em seu estudo sobre o fenômeno protagonismo-cultura-informação, Gomes (2019) defende que as atividades de mediação informacional consciente se conectam ao desenvolvimento do protagonismo social, ao que elas implicam na conscientização da informação e sua missão social, auxiliando, assim, no processo de autoconhecimento. Por isso, as instituições tidas por Coelho (1997) como equipamentos culturais também se inscrevem como equipamentos informacionais, visto que a mediação da informação está intrínseca nas suas atividades de disseminação e apropriação cultural.

Almeida Júnior (2009) defende uma proposta de modificação do objeto de estudo da Ciência da Informação (CI), reconhecido majoritariamente como a informação - para alguns, esta ainda se restringe aos registros. Posto que atividades caracterizadas por sua efemeridade são realizadas nos equipamentos informacionais, o autor sugere que a mediação da informação seja o estudo de reflexão da CI. A título de exemplo, ele cita as ações culturais que cada vez mais se desenvolvem nas bibliotecas, como apresentações de vídeos, peças teatrais, contações de história, espetáculos musicais, palestras e debates. 

Segundo Nascimento (2004), um processo de ação cultural deve ser considerado como uma intervenção, tal como a mediação da informação proposta por Almeida Júnior (2009). Esta deve se estabelecer a partir da compreensão da cultura dentro de um sistema de produção cultural. Nele, observa-se não apenas o todo, como também suas partes e as inter-relações entre estas.

Coelho (1997) estabelece o sistema de produção cultural sobre quatro medidas, sendo elas a produção, distribuição, troca e uso. Para se efetivarem, elas recorrem aos chamados agentes culturais, conceituados por ele como “aquele que, sem ser necessariamente um produtor cultural ele mesmo, envolve-se com a administração das artes e da cultura, criando as condições para que outros criem ou inventem seus próprios fins culturais” (Coelho, 1997, p. 41). Assim, os agentes culturais também devem ser entendidos como mediadores da informação, pois eles desenham processos formativos que ocorrem com o intermédio da mediação informacional, que implica e amplifica uma ação de construção humana, social, política e cultural.

Nos espaços em que as ações culturais estão centralizadas, principalmente se tratando dos equipamentos informacionais, a figura do griô é de extrema importância para a socialização de saberes e de fazeres da cultura tradicional. Por meio da palavra, seu principal instrumento dialógico, tais tradicionalistas provocam a consciência ancestral nos indivíduos, de forma que a tomem para si e assumam em plenitude. Sabendo disso, o papel do griô ditado pela PL 1786/2011 (Brasil, 2011) dentro de equipamentos informacionais é o de um agente cultural.

A dialógica griô coincide com o objetivo final das ações culturais, proposto por  Nascimento (2004) como a construção da identidade cultural fundamentada pela noção de individualidade. Nela, os indivíduos seriam conscientizados a se reconhecer enquanto tempo e espaço, pessoa e coletivo. Dessa forma, eles estabeleceriam vínculos efetivos com o seu passado, presente e futuro.

 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta se trata de uma pesquisa com fins exploratórios, pois desenvolve um aprofundamento sobre fenômenos escassos no seu campo de estudo, a Ciência da Informação (CI), estes sendo a tradição oral e os griôs. Simultaneamente, ela se qualifica como descritiva, visto que teve foco na descrição dos objetos estudados. Isso a faz ser uma pesquisa exploratório-descritiva (Richardson, 2012).

Para contextualizarmos o leitor sobre os temas abordados durante nossas seções e, sobretudo, para aprofundar nossos conhecimentos das temáticas discutidas, realizamos uma pesquisa bibliográfica, estruturada conforme o modelo de construção metodológico proposto por Marconi e Lakatos (2003). Dele, seguimos as oito fases, contudo, ressaltamos que em dados momentos as etapas foram repetidas, chegando a ocorrer simultaneamente.

Seguindo o princípio de Richardson (2012) de que um trabalho de pesquisa deve ser orientado por normas requeridas por um método de investigação, a pesquisa adotou a etapa quantitativa. Essa metodologia é aplicada quando se busca um melhor entendimento sobre fatores que influem sobre um fenômeno, sendo frequentemente aplicada nos estudos descritivos. O emprego da quantificação nas modalidades de coleta de informações e no tratamento delas tenciona a garantia da precisão dos resultados, possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança quanto às inferências (Richardson, 2012).

Buscou-se a partir do método quantitativo a obtenção de dados para o cumprimento dos nossos objetivos específicos. Para isso, foi decidido ser adequada a aplicação de um questionário que, para Marconi e Lakatos (2003), apresenta uma série de vantagens, dentre elas o maior alcance de respondentes e abrangência geográfica mais ampla.

O questionário foi idealizado conforme o processo de elaboração de Marconi e Lakatos (2003), em que sua organização deve se atentar aos tipos, a ordem, os grupos de perguntas e a formulação das mesmas. Desse modo, as perguntas foram extraídas de seis temas estabelecidos para dialogar com os objetivos da pesquisa, a saber: 1) pessoal; 2) fontes de informação; 3) mediação informacional; 4) povos tradicionais; 5) tradição oral; 6) griôs.

 A partir do método temático, quanto à forma do questionário, foram elaboradas perguntas fechadas de múltipla escolha que formaram ao todo quatorze. Levou-se em conta a necessidade do conteúdo, a ordem das perguntas e, especialmente, o vocabulário, pois, segundo Marconi e Lakatos (2003), este deve ser claro, objetivo, preciso e em linguagem acessível ao informante, para que não ocorram ambiguidades. Buscou-se, sobretudo, que não houvessem inferências nas respostas.

 A região Nordeste foi escolhida como parâmetro devido a boa presença de tradicionalistas em sua localidade[3]. Assim, o universo de amostra da etapa quantitativa compreendeu doze equipamentos informacionais nordestinos, porém os questionários foram enviados para cento e três.

A seleção dos equipamentos informacionais foi sistematizada da seguinte forma:

 

a)     pesquisas nos sites da Secretaria de Cultura de cada Estado do Nordeste pelo mapa cultural da região (no caso de alguns Estados a busca ocorreu no site da Secretaria de Educação e Cultura);

b)    buscas no Google Maps com expressões que ligavam a tipologia e região (exemplo: biblioteca, Bahia);

c)     análise dos equipamentos informacionais resgatados nas pesquisas por meio de suas redes sociais, em maioria instagram, visando incluir no questionário locais que demonstrassem afinidade com as práticas de tradição oral griô;

d)     estruturação de tabela no Excel com o nome, local, tipologia, e-mail, número para contato e rede social de cada equipamento informacional selecionado.

 

            Posteriormente, ocorreu o processo de envio do questionário, em que foi feito:

 

a)     aplicação do pré-teste do questionário, por meio do Google Forms, no dia 25 de Novembro de 2023, com um prazo de dez dias;

b)    envio do questionário, por meio do Google Forms, no dia 6 de Dezembro de 2023, para os equipamentos informacionais;

e)     encaminhamento de lembretes, por meio do Google Forms, para os equipamentos selecionados a cada dez dias;

f)     ao final de oitenta e quatro dias de circulação, no dia 27 de Fevereiro de 2024,  o questionário foi encerrado.

 

            É importante pontuar que o período de circulação do questionário, inicialmente de quinze dias, foi estendido para oitenta e quatro dias, devido ao baixo número de respondentes. O recurso de lembretes do Google Forms foi utilizado com o objetivo de reforçar os equipamentos informacionais que ainda não tinham respondido.

            A partir dos dados obtidos com o questionário, pode-se ser feita uma análise descritiva dos resultados a partir de métodos de Estatística Descritiva, aplicados para organizar, resumir e descrever os aspectos importantes das variáveis, estas de cunho qualitativo. A descrição dos dados também teve como objetivo identificar anomalias e dispersões de respostas que não seguem a tendência geral do restante do conjunto (Reis; Reis, 2002).

Os dados foram resumidos de acordo com o método gráfico, escolhido devido ao seu forte apelo visual, que facilita a compreensão e interpretação de resultados. Normalmente, em uma apresentação gráfica é mais fácil para as pessoas entenderem uma informação do que aquela embutida em tabelas ou sumários numéricos (Morettin; Bussab, 2010).

Os gráficos foram utilizados para: a) buscar padrões e relações de respostas; b) confirmar, ou não, expectativas que se tinham sobre os dados; c) confirmar, ou não, suposições feitas sobre os procedimentos estatísticos usados; d) comprovar, ou não, suposições feitas sobre os procedimentos estatísticos usados; e) apresentar os resultados de modo rápido e fácil para o leitor e; f) descobrir novos fenômenos. A representação gráfica dos dados estatísticos foi feita com o gráfico em barras, pois Reis e Reis (2002) sugerem ser esse o ideal para resumir variáveis qualitativas.

Vale ressaltar que o cerne do método quantitativo se relaciona com aspectos teóricos e práticos que não tem por finalidade mencionar dados passíveis da identificação dos sujeitos respondentes e entrevistados, respeitando o tópico sete do Art. 1°, parágrafo único da Resolução 510, de sete de abril de 2016 do Comitê de Ética, quando aborda sobre as exceções que não serão registradas e nem avaliadas pelo sistema CEP/CONEP, “VII – pesquisa que objetiva o aprofundamento teórico de situações que emergem espontânea e contingencialmente na prática profissional, desde que não revelem dados que possam identificar o sujeito” (Conselho Nacional de Saúde, 2016, p. 2).

 

4 MESTRES DA TRADIÇÃO ORAL, AGENTES DA MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Em uma pesquisa quantitativa, muitas vezes o universo a ser investigado possui grandes proporções, sendo praticamente impossível a investigação do todo. Esse é o nosso caso. No entanto, o número baixo de respondentes limitou ainda mais as nossas inferências sobre o cosmo estudado. Por isso, deixamos claro que nossas considerações serão sobre o conjunto formado pelos doze equipamentos informacionais aqui analisados, não inferindo sobre o todo que eles fazem parte.

O princípio da nossa análise quantitativa é resultante da primeira pergunta do questionário, que teve como objetivo a identificação do Estado dos respondentes. Assim, Pernambuco foi o Estado com maior número de respostas, em sequência do Ceará e Maranhão. Bahia, Alagoas e Piauí tiveram o menor percentual. Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe são os Estados que não estarão presentes ao longo dessa etapa de análises, visto que não tivemos nenhum retorno dos equipamentos informacionais desses locais.

É importante destacar que essas variáveis podem ter sido interferidas pela diferença no quantitativo de envios do questionário para cada Estado, visto que eles não tiveram a mesma quantidade de equipamentos informacionais selecionados. Essas nuances podem ser responsáveis pela porcentagem maior de respostas de determinadas localidades, e menores em outras, ou mesmo de sua ausência, como ocorreu com o Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe.

            As próximas variáveis a serem analisadas decorrem da pergunta que buscou identificar as tipologias dos equipamentos informacionais. Os Centros Culturais tiveram o maior retorno de respondentes. Sequencialmente foram as Bibliotecas, Museus e Teatros, que apresentaram a mesma quantidade. Na alternativa “Outros” tivemos “Teatro-Cinema” e “Cineteatro”, o que, afinal de contas, são sinônimos. Por isso, vamos considerar que “Cineteatro” e “Teatro-Cinema” são da mesma tipologia e, no decorrer das análises, serão chamados apenas de Cineteatro. As demais, Arquivo, Complexo Cultural, Fundação Cultural e Ponto Cultural, não foram selecionadas.

A identificação tipológica dos equipamentos informacionais não teve um fim meramente categórico. Precisávamos identificar a tipologia dos nossos respondentes para compreender se essa seria uma variável de interferência para os dados que lhe sucedem. O primeiro deles se refere às fontes de informação utilizadas pelos equipamentos informacionais, que nos foram objetos de interesse pois fazem parte dos recursos e estratégias informacionais desse universo. Os dados obtidos foram resumidos no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Fontes de informação dos equipamentos informacionais

            Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            A fonte de informação mais utilizada pelos equipamentos informacionais respondentes são os Audiovisuais, em sequência os Livros, Fotografias, Textos Teatrais, Gravações Sonoras, Tradição Oral, Instalações, Cartazes, Pinturas, Mapas, Gravuras, Esculturas, Cartões Postais, Slides e “Redes Sociais; Internet; Podcasts”, que foi introduzido na opção “Outros”. Selos foi o único material a não ser selecionado.

Quando a tradição oral foi colocada como uma das opções enfileiradas, não imaginávamos ter um número considerável de pessoas selecionando ela. Esse foi um julgamento prévio a se tornar uma agradável surpresa, e não seria o único.

            Organizamos os dados obtidos na terceira pergunta do questionário em um Quadro de Frequência no Excel. Nele, unimos  as respostas de cada tipologia em dois conjuntos (Tipologia e Fonte de Informação) no que se refere às suas fontes de informação, para fins de comparação. O resultado disso foi o Quadro 1.

Quadro 1 - Frequência das fontes de informação

TIPOLOGIA

FONTE DE INFORMAÇÃO

Biblioteca

Audiovisuais, Cartazes, Fotografias, Gravações sonoras, Livros, Mapas, Partituras

Centro Cultural

Audiovisuais, Cartazes, Gravações sonoras, Fotografias, Instalações, Livros, Mapas, Partituras, Pinturas, Slides, Textos teatrais, Tradição oral, Redes Sociais; Internet; Podcasts

Cineteatro

Audiovisuais, Cartazes, Gravações sonoras

Gravuras, Fotografias, Instalações, Livros, Textos teatrais, Tradição oral

Museu

Audiovisuais, Esculturas, Gravações sonoras, Fotografias, Instalações, Livros, Pinturas, Tradição oral

Teatro

Cartazes, Cartões postais, Gravações sonoras, Textos teatrais

            Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

Os Centros Culturais e Cineteatros foram os equipamentos informacionais que apresentaram a maior diversidade de fontes de informação. Os Museus e as Bibliotecas também demonstram ser espaços que possuem materiais diversos. Em quantitativo, os Teatros foram o de menor pluralidade. É relevante destacar que eles e as Bibliotecas são as tipologias que não têm a Tradição oral como fonte informacional.

Esses são dados que podem derivar, dentre determinados fatores, da tipologia dos equipamentos informacionais, pois cada uma possui sua estrutura, ainda que haja semelhanças. Não poderíamos deixar de levar esse fato em consideração e utilizarmos somente de uma visão geral das respostas.

Em sequência, buscamos identificar como se dá a mediação da informação dos equipamentos informacionais, pois esse é um dos principais fenômenos que ocorrem nesses espaços. Os dados foram apresentados no Gráfico 2.

 

Gráfico 2 - Mediação da informação dos equipamentos informacionais

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

As Palestras, Rodas de conversa e Exposições são os meios mais utilizados pelos equipamentos informacionais respondentes para realizar sua mediação da informação. São sucedidas das Performances de dança, Performances artísticas, Peças teatrais, Oficinas, Contações de história e Apresentações musicais. Das opções fornecidas, os Jogos e os Recitais foram os de menor percentual. “Exibição de curtas e longas metragens” e “Saraus; Exibições fílmicas; Cursos; Reuniões” foram acrescentados na alternativa “Outros”.

            De forma semelhante às fontes de informação, consideramos que a mediação da informação dos respondentes pode ter interferência da tipologia dos equipamentos informacionais. Por isso, também organizamos os seus dados em um Quadro de Frequência no Excel, onde criamos conjuntos para comparar semelhanças e diferenças, resultando no Quadro 2.

Quadro 2 - Frequência de mediação da informação

TIPOLOGIA

MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Biblioteca

Contações de histórias, Exposições, Oficinas, Palestras, Rodas de conversa

Centro Cultural

Apresentações musicais, Contações de histórias, Exposições, Jogos, Oficinas, Palestras, Peças teatrais, Performances artísticas, Performances de dança, Recitais, Rodas de conversa, (Outro:) Saraus; Exibições fílmicas; Cursos; Reuniões

Cineteatro

Apresentações musicais, Contações de histórias, Exposições, Oficinas, Palestras, Peças teatrais, Performances artísticas, Performances de dança, Recitais, Rodas de conversa, (Outro) Exibição de curtas e longas metragens

Museu

Apresentações musicais, Exposições, Jogos, Oficinas, Palestras, Peças teatrais, Performances artísticas, Performances de dança, Rodas de conversa

Teatro

Apresentações musicais, Contações de histórias, Oficinas, Palestras, Peças teatrais, Performances artísticas, Performances de dança, Recitais, Rodas de conversa

            Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            Tal como ocorreu com as fontes de informação, os Centros Culturais e Cineteatros foram os equipamentos informacionais a exibir a maior multiplicidade de ações para mediar informação. Os Museus e Teatros, mesmo com um quantitativo menor que os anteriores, demonstram uma natureza variada de mediações da informação. Em comparação às outras tipologias, as Bibliotecas apresentaram a menor variedade. Esse foi um fato que nos trouxe reflexão, pois a biblioteca é o principal símbolo dos equipamentos informacionais na CI, e foi a tipologia que mostrou ter a menor diversidade de estratégias para mediar informação.

            Para adentrarmos na relação dos respondentes com as tradições orais de sua região, identificamos a priori se os equipamentos informacionais possuem elementos da identidade regional em sua mediação da informação. Todos os Centros Culturais afirmaram que sim, bem como os Museus, Teatros e Cineteatros. Das Bibliotecas, uma falou que não e a outra que sim. Dessa forma, o percentual de respostas foi 92% para “sim” e 8% “não”.

            A priori, precisávamos saber da existência de povos tradicionais na região dos equipamentos informacionais para identificar como eles se relacionam com as tradições orais dessas comunidades tradicionalistas. Essa foi uma pergunta que dependeu do conhecimento dos respondentes sobre a sua localidade, por isso os dados podem ser contestáveis. Eles mostraram que apenas dois dos respondentes não possuem povos tradicionais em sua região, sendo eles uma Biblioteca e um Teatro. A porcentagem foi de 83,3% afirmativas e 16,7% negativas.

Para os respondentes que afirmaram a existência de povos tradicionais em sua região foi solicitado que dissessem quais são esses tradicionalistas. Os dados foram resumidos no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Povos tradicionais da região dos equipamentos informacionais

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            Das opções que fornecemos, os Povos de Terreiro tiveram o maior percentual, com 70%. Quilombolas e Indígenas lhe sucede com 50%, Pescadores Artesanais com 30%, Ribeirinhos, Extrativistas e Ciganos com 20%, e, por fim, Quebradeiras de Coco Babaçu com 10%. “Artistas populares de circo, teatro de rua, dança, etc.” foi acrescentado na opção “Outros”, com 10%.

Com esses dados, nosso próximo objetivo foi saber se os equipamentos informacionais estão se relacionando com as tradições orais dos povos tradicionais de sua região. Quanto aos Centros Culturais, um dos quatro respondeu negativamente; ambas Bibliotecas negaram; os dois Museus responderam com uma afirmativa, assim como os Cineteatros. Já os Teatros, um disse que sim e o outro que não.

Dessa forma, dos 83,3% equipamentos informacionais que possuem povos tradicionais em sua região, 67% se relacionam com as tradições orais deles, enquanto 33% não possuem essa realidade. Ou seja, nem todos que coexistem com comunidades tradicionalistas interagem com a cultura oral delas.

A trajetória das análises até esse momento nos leva a saber que 67% dos equipamentos informacionais respondentes se relacionam com as tradições orais dos povos tradicionais de sua região, e que 41,70% responderam que têm elas como fontes de informação. O caminho que lhe sucede é saber como a tradição oral se manifesta dentro de seus corredores.

Identificar como a tradição oral se manifesta dentro dos equipamentos informacionais foi fundamental para compreendermos como esses espaços podem se relacionar com a cultura oral. O Gráfico 4 foi estruturado para apresentar essa manifestação.

 

Gráfico 4 - Manifestação das tradições orais nos equipamentos informacionais

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            As Contações de história são as manifestações das tradições orais de maior percentual, com 70%, seguida dos Festejos, 60%, as Canções, 50%, o Artesanato, 40%, as Brincadeiras, 20% e os Provérbios, 10%. “Oficinas culturais (na forma de lives) com temas diversos, sendo ministradas por artistas locais. Apresentações artísticas em eventos realizados pelo museu” foi acrescentada na alternativa “Outros”, com 10%.

            Precisávamos afunilar as manifestações da tradição oral em cada tipologia de equipamento informacional para entendermos como cada um se relaciona com a cultura oral. Essa comparação foi feita no Quadro 3.

Quadro 3 - Frequência da manifestação da tradição oral

TIPOLOGIA

MANIFESTAÇÃO DA TRADIÇÃO ORAL

Biblioteca

Festejos

Centro Cultural

Artesanatos, Brincadeiras, Canções, Contações de história, Festejos, Provérbios

Cineteatro

Canções, Contações de história, Festejos

Museu

Artesanatos, Brincadeiras, Festejos, (Outro:) Oficinas culturais(na forma de lives) com temas diversos, sendo ministradas por artistas locais. Apresentações artísticas em eventos realizados pelo museu

Teatro

Canções, Contações de história

            Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            Assim como ocorreu com as fontes e mediação da informação, os Centro Culturais foram os equipamentos informacionais a apresentar a maior diversidade de manifestações da tradição oral. Os Cineteatros e Museus também demonstram uma variedade de vivências da cultura oral. Já os Teatros e as Bibliotecas se mostram as tipologias com menor contato com a pluralidade de tradições orais. Esse fato pode se relacionar com respostas anteriores, como a negativa de terem a tradição oral como fonte de informação. Também é capaz de derivar das Bibliotecas não se relacionarem com a tradição oral dos povos tradicionais de sua região, enquanto um Teatro disse se relacionar, e o outro não.

            A priori, para identificarmos a presença de griôs nos equipamentos informacionais, tínhamos em mente utilizar uma questão aberta que perguntasse o que o respondente entendia por Griô. No entanto, ao ser implementada no pré-teste, recebemos feedbacks que sugeriram a retirada da pergunta, pois induzia as pessoas a pesquisarem o termo, por conseguinte a sair do questionário. Com isso, reformulamos a identificação de griôs nos equipamentos informacionais. Para tal, acabamos por relacionar a presença Griô com a mediação da informação, tema já abordado.

Dessa forma, quanto à mediação da informação feita por griôs nos equipamentos informacionais, os resultados apontam que 75% dos respondentes já tiveram um griô como mediador informacional, enquanto 25% não. As afirmativas partem dos Centros Culturais, Cineteatros, Museus e um dos Teatros. O segundo Teatro negou já ter tido um griô mediando informação, bem como todas as Bibliotecas. Essa foi a nossa segunda surpresa agradável, pois não era esperado termos mais da metade dos equipamentos informacionais afirmando já ter tido griôs mediando informação.

A vista de que 75% dos respondentes já tiveram um griô como mediador informacional, o Gráfico 5 mostra quais categorias de Griô, no que se refere ao PL Nacional Griô (Brasil, 2011), já estiveram nesses equipamentos informacionais.

Gráfico 5 - Categoria de Griô

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            O gráfico aponta que Poeta/poetisa popular e Pajê, zelador, mãe e pai de santo e demais líderes religioso(a)(s) de tradição oral são o de maior percentual, com 72,70%; Cordelista, Contador(a) de histórias, Cantador(a) e Artista de rua possuem 63,60%; Tocador(a), Capoeirista, Brincante, Artista de circo e Artesão(a) tem 54,50%; Maracatuzeiro(a) e Mamulengueiro(a) são 45,50%; Sambista, Repentista, Mestre(a) das artes, da cura e dos ofícios tradicionais e Benzedor(a) percentuam 36,40%; Marcador(a)/gritador(a) de quadrilha e leilão, Coquista, Cirandeiro(a) e Bonequeiro(a) apresentam 27,30% e Folião(ã) dos reis marca 18,20%. As categorias de menor percentual foram Rezador(a), Reiseiro(a), Quebradeiro(a) de coco, Quituteira(o), Pescador(a) artesanal, Marisqueira(o) e Baiana(o) do acarajé, com 9,10%.

É importante ressaltar que na pergunta sobre um griô já ter feito uma mediação da informação no equipamento informacional, uma Biblioteca e um Teatro marcaram a alternativa “não”. No entanto, nessa questão sobre as categorias de Griô, ambos indicaram quais griôs já haviam sido mediadores informacionais em seus espaços. Esse fato nos levou a possibilidade de que os respondentes não sabiam o que é um griô, ainda que houvesse sua descrição na pergunta, podendo eles não terem a lido.

            Identificando a presença de griôs nos equipamentos informacionais como mediadores da informação, buscamos compreender como se deu essa mediação. O Gráfico 6 apresenta os dados que resultaram dessa busca.

Gráfico 6 - Mediações da informação feitas por um griô nos equipamentos informacionais

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            A Apresentação de dança, Apresentação musical, Contação de histórias e Oficina são as mediações da informação Griô de maior percentual, com 81,80%. Em sequência vem a Roda de conversa, com 72%, Palestra, 63,60% e Exposição, 54,50%. Das opções fornecidas, o Recital é a mediação de menor porcentagem, com 18,20%. “Participação em produções audiovisuais/documentários” foi incluída na alternativa “Outros”, tendo 9,10%.

            Também buscamos saber se os equipamentos informacionais possuem medidas para preservar as tradições orais dos griôs da sua região. Dos quatro Centros Culturais, apenas um negou. Ambos os Museus afirmaram ter, e um dos Cineteatros disse não haver. Enquanto isso, todas as Bibliotecas e Teatros disseram não possuir providências para a preservação das tradições orais dos griôs da sua região. A porcentagem então ficou 50% para sim e 50% para não.

            Além de saber se os equipamentos informacionais possuem medidas para preservar as tradições orais dos griôs da sua região, buscamos identificar quais são essas providências. Os dados com as respostas foram representados no Gráfico 7.

Gráfico 7 - Medidas para preservar as tradições orais dos griôs da região

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

            Respectivamente, o percentual de medidas para a preservação das tradições orais Griô tidas pelos equipamentos informacionais são: Apresentações de dança com os griôs, Rodas de conversa com os griôs, Apresentações musicais com os griôs, Contação de histórias com os griôs e Oficinas com os griôs, com 71,40%; Documentários sobre os griôs, com 42,90% e, das opções disponíveis, a de menor índice foi as Produções textuais sobre os griôs, com apenas 14,3%. “Com apresentações de artistas nestas linguagens” foi inserida por meio da opção “Outros”, com 14,30%.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise quantitativa nos possibilitou um parâmetro de como os equipamentos informacionais nordestinos estão se relacionando com as tradições orais e os griôs de sua localidade. O princípio dessa relação se deu com um número considerável de respondentes nos contando ter as tradições orais como fontes de informação em seu cotidiano, e que elas se manifestam em suas vivências de diversas formas, principalmente nas contações de histórias, festejos e canções. Acreditamos ser importante pontuar que as bibliotecas e teatros negaram ter a tradição oral como fonte informacional, o que nos possibilita questionamentos sobre tal negativa.

O que inicialmente foi pensado como o mapeamento da presença Griô nos equipamentos informacionais nordestinos ganhou novas camadas quando relacionamentos os tradicionalistas como mediadores de informação. As respostas que sucedem essa nova faceta mostraram que mais da metade dos respondentes já tiveram griôs realizando apresentações musicais e de danças, contações de histórias, oficinas e outras formas de dialógica informacional.

Quanto a identificar se os equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro possuem medidas para preservar as tradições orais dos griôs da sua região, a metade dos respondentes afirmou ter diretrizes para tal, tendo teatros e bibliotecas negando possuir tais providências. A ausência das tipologias já havia ocorrido anteriormente, quando ambas não indicaram utilizar as tradições orais como fontes de informação. Esse pode ser um fator de relevância, pois demonstra um maior afastamento dos teatros e bibliotecas com as tradições orais e os griôs, em comparação com as outras entidades presentes na pesquisa.

Ao que os equipamentos informacionais nos contaram quais medidas utilizam para a preservação das tradições orais Griô, passamos a considerar que a mediação da informação, seja ela nas apresentações musicais, seja em contações de história, é o principal ato de empoderamento da tradição oral Griô nos equipamentos informacionais do Nordeste brasileiro.

Procedendo disso, indicamos a trabalhos futuros que discutam a tradição oral e os griôs nos equipamentos informacionais que os relacionem com a mediação da informação, pois esta demonstra se associar intimamente com tais objetos.

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procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os

participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que

os existentes na vida cotidiana, na forma definida nesta Resolução. Brasil: Conselho Nacional

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[1] Graduanda em Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pesquisadora na área da Memória Oral.

[2] Bibliotecária formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutoranda e Mestra no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (PPGCI-UFPE).

[3]  A Plataforma de Territórios Tradicionais indica que dos 125 territórios tradicionais com registro, 35 deles são nordestinos (Plataforma de Territórios Tradicionais, c2019). Além disso, o infográfico sobre a concentração de famílias tradicionais no Brasil, elaborado pelo MPF (Paulo, 2019) em 2022, aponta que a Bahia está entre os líderes de concentração de quilombolas, ciganos, pescadores, povos de terreiro (juntamente do Ceará e Piauí) e ribeirinhos. Enquanto isso, o Maranhão está no ranking de maior território de quilombolas, extrativistas e pescadores.