O USO DE MAPAS MENTAIS EM TERMOS FRONTEIRIÇOS DE GÊNERO E SEXUALIDADE E SEU REFLEXO NA MEMÓRIA SOCIAL

 

Fabio Assis Pinho[1]

Universidade Federal de Pernambuco

fabio.assis@ufpe.br

Evelyn Goyannes Dill Orrico[2]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

evelynorrico@unirio.br

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Resumo

O tema deste artigo é sobre o uso de mapas mentais, cujo objetivo geral foi explorar a contribuição dos mapas mentais na normalização de termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade e seu reflexo na memória social. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória, utilizando 26 termos considerados fronteiriços em relação a gênero e sexualidade, cujas características epistêmicas foram transformadas em mapas mentais. Os resultados demonstraram que o uso dos mapas mentais foi relevante para compreender as fronteiras desses termos, bem como compreender sua contribuição para a memória social, por intermédio de suas principais características, quais sejam: rejeição da binariedade de gênero, fluididade e mutabilidade da identidade de gênero, conexões parciais e interseções, culturalidade e identidade e, por fim, desconstrução de estereótipos.

Palavras-chave: mapas mentais; gênero; sexualidade; memória social.

THE USE OF COGNITIVE MAPS IN BOUNDARY TERMS OF GENDER AND SEXUALITY AND THEIR REFLECTION IN SOCIAL MEMORY

Abstract

The theme of this article is the use of cognitive maps, whose general objective was to explore the contribution of cognitive maps in the normalization of border terms related to gender and sexuality and their reflection in social memory. To this end, exploratory research was carried out, using 26 terms considered borderline about gender and sexuality, whose epistemic characteristics were transformed into mental maps. The results demonstrated that the use of cognitive maps was relevant to understanding the boundaries of these terms, as well as understanding their contribution to social memory, through their main characteristics, namely: rejection of gender binarity, fluidity, and mutability of identity. gender, partial connections and intersections, culturality and identity, and, finally, deconstruction of stereotypes.

Keywords: cognitive maps; gender; sexuality; social memory.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EL USO DE MAPAS MENTALES EN TÉRMINOS DE LÍMITES DE GÉNERO Y SEXUALIDAD Y SU REFLEJO EN LA MEMORIA SOCIAL

Resumen

La temática de este artículo versa sobre el uso de mapas mentales, cuyo objetivo general fue explorar la contribución de los mapas mentales en la normalización de términos fronterizos relacionados con el género y la sexualidad y su reflejo en la memoria social. Para ello, se realizó una investigación exploratoria, utilizando 26 términos considerados límite en relación al género y la sexualidad, cuyas características epistémicas fueron transformadas en mapas mentales. Los resultados demostraron que el uso de mapas mentales fue relevante para comprender los límites de estos términos, así como su contribución a la memoria social, a través de sus principales características, a saber: rechazo de la binaridad de género, fluidez y mutabilidad de la identidad, género parcial. conexiones e intersecciones, culturalidad e identidad y, finalmente, deconstrucción de estereotipos.

Palabras clave: mapas mentales; género; sexualidad; memoria social.

1  INTRODUÇÃO

Os mapas mentais são representações visuais de ideias, conceitos e informações, organizadas de forma a refletir a maneira como a mente humana associa e conecta diferentes elementos. Eles são uma ferramenta eficaz para a organização e visualização do conhecimento, facilitando a compreensão de relações complexas entre diversos assuntos (Buzan, 2005).

Na Ciência da Informação, particularmente na Organização do Conhecimento, os mapas mentais são aplicados como uma ferramenta para representar estruturas de conhecimento, tanto para indivíduos quanto para grupos. Eles são utilizados em uma variedade de contextos, desde a organização de informações em bibliotecas e sistemas de recuperação de informação até a análise de redes de conceitos em pesquisas acadêmicas.

O mapa mental poderá ser útil para tomada de decisão em determinação de classes e relações (lógicas ou ontológicas) na elaboração de sistemas de organização do conhecimento.

Nesse sentido, os mapas mentais oferecem uma abordagem intuitiva e flexível para explorar a interconexão de conceitos, permitindo que os pesquisadores visualizem padrões e relações que podem não ser evidentes em uma análise textual tradicional. Eles podem ser empregados em estudos de categorização, análise de redes de conceitos, mapeamento de áreas de conhecimento entre outros.

Além disso, os mapas mentais são relevantes não apenas como ferramentas de análise, mas também como instrumentos de comunicação. Eles ajudam a sintetizar informações complexas de forma acessível e a comunicar visualmente ideias e insights para uma ampla variedade de públicos, porque compõem um universo de significados, facilmente recuperáveis pelos usuários da comunidade que dele compartilham.

Os mapas mentais, no âmbito da Ciência da Informação, oferecem uma maneira poderosa de explorar, organizar e comunicar conhecimento em uma disciplina dedicada ao estudo e gestão da informação em suas múltiplas formas e contextos.

Os termos fronteiriços, também conhecidos como termos limítrofes, são assim denominados por referirem-se a conceitos que estão localizados nas margens ou limites entre duas ou mais áreas de estudo, campos disciplinares ou categorias conceituais. Esses termos são frequentemente caracterizados pela sua natureza transdisciplinar e pela sua capacidade de transcender fronteiras convencionais (Bowker et al., 2016).

Star e Griesemer (1989) discutem o conceito de boundary objects (objetos fronteiriços), que são artefatos, conceitos ou entidades que existem em múltiplos contextos e são utilizados por diferentes comunidades para facilitar a comunicação e a colaboração interdisciplinares. Além disso, eles exploram como esses objetos fronteiriços podem atravessar fronteiras disciplinares e facilitar a cooperação entre diferentes grupos de pesquisa. Embora não seja uma referência direta ao termo composto "termos fronteiriços", a discussão sobre boundary objects pode oferecer insights relevantes sobre a natureza e o papel dos conceitos que estão situados nas margens entre diferentes áreas de estudo.

No contexto da pesquisa acadêmica, os termos fronteiriços desafiam as definições tradicionais e as categorizações disciplinares estabelecidas, porque muitas vezes incorporam elementos de múltiplas áreas de conhecimento. Eles podem surgir quando os limites entre disciplinas se tornam permeáveis, resultando em conceitos que não se encaixam facilmente em uma única categoria ou campo de estudo.

Por isso, os termos fronteiriços são especialmente relevantes em áreas de estudo interdisciplinares, onde a convergência de diferentes disciplinas e perspectivas são valorizadas. Eles podem surgir em campos como estudos culturais, estudos de gênero, estudos de fronteiras, entre outros.

Aliando mapas mentais e termos fronteiriços, a justificativa que se postulou foi a de que este estudo busca não apenas desvelar as nuances e interconexões desses termos, mas também destacar o potencial dos mapas mentais como uma abordagem metodológica inovadora na investigação científica da informação. Assim, ao fazê-lo, espera-se contribuir para uma compreensão mais adequada e reflexiva desses temas. Nessa perspectiva, a questão de pesquisa foi: os mapas mentais podem contribuir para a investigação de termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade e seu reflexo na memória social?

Os mapas mentais, fundamentados na teoria da Organização do Conhecimento, oferecem uma maneira intuitiva e visual de mapear as associações entre conceitos e examinar suas relações subjacentes. Nesse contexto, eles se tornam uma ferramenta para explorar a dinâmica fluida de termos fronteiriços, que muitas vezes desafiam categorizações rígidas e convidam a uma compreensão mais holística.

Portanto, o objetivo geral deste estudo foi explorar a contribuição dos mapas mentais na normalização de termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade e seu reflexo na memória social.

 

2  TERMINOLOGIA E MEMÓRIA SOCIAL

A terminologia é um elemento-chave para representar e acessar tematicamente os documentos. Nesse caso, o uso de uma linguagem normalizada (produto documentário) proporciona uma ponte temática entre o documento e o usuário, facilitando a busca e recuperação da informação realizada e também permitirá uma maior precisão em seu resultado (Cabré, 1993).

No que se refere aos universos temáticos do gênero e da sexualidade, podemos notar que estudos relativos ao tema vêm sofrendo maior atenção dos pesquisadores. Em contraponto, essa produção científica ainda padece de representação documentária adequada, assim como uma normalização vocabular que proporcione uma satisfatória indexação de documentos relativos ao tema.

A ausência desses produtos documentários acaba reduzindo a preservação específica do seu conteúdo por dificuldades na recuperação, pois, nesse caso, tende-se a utilizar termo(s) genérico(s) no ato da indexação dos conteúdos dos documentos.

As contribuições advindas da Linguística, Terminologia e das Teorias críticas reforçam que a neutralidade não existe na organização do conhecimento e que, para abrigar as diferenças, é necessário explorar os limites desses sistemas com decisões justificáveis.

Nesse sentido, estudos aplicados sobre as estruturas e orientações para tomada de decisão ética na organização do conhecimento são esperados.

Por essa razão, uma reflexão necessária no interior do próprio domínio da organização do conhecimento também se faz necessária, isto é, repensar sobre as presunções que vêm sendo tomadas como verdades no contexto da organização do conhecimento, afinal as atitudes dos profissionais no tocante à organização do conhecimento promoverão instrumentos adequados à realidade da produção do conhecimento (Guimarães; Milani; Pinho, 2008).

É nesse escopo que se encontra a contribuição da terminologia para a memória social, pois a terminologia desempenha um papel relevante na preservação e transmissão da memória social. Quando nos referimos à memória social, estamos falando do conjunto de conhecimentos, experiências e tradições compartilhadas por um determinado grupo de indivíduos ao longo do tempo (Gondar, 2008). Por meio da terminologia, essas memórias são codificadas em termos e expressões específicas, que ajudam a manter a identidade coletiva.

A terminologia é a linguagem especializada utilizada em diversas áreas do conhecimento, como ciência, tecnologia, artes, entre outros. Por exemplo, na área da medicina, termos como "DNA", "genes" e "células-tronco" são essenciais para a compreensão e avanço dos estudos nesse campo. Esses termos não contêm meras definições; elas carregam consigo um legado de descobertas, debates e progresso científico ao longo dos anos. A terminologia médica contribui para a construção da memória do conhecimento médico, sua preservação e transmissão às gerações futuras.

Além disso, a terminologia também desempenha um papel importante na construção de memórias culturais e históricas. Um exemplo disso por ser visto pelos termos usados para descrever eventos históricos, tais como "Revolução Francesa", "Guerra Civil" ou "Apartheid". Esses termos são carregados de significado e evocam imagens e emoções relacionadas aos eventos em questão. Eles ajudam a entender, contextualizar e refletir sobre a memória desses períodos importantes da história humana.

A conexão entre terminologia e memória vai além da preservação do conhecimento. Por meio da linguagem especializada, as pessoas podem se identificar com determinados grupos sociais e compartilhar experiências em comum. Por exemplo, termos como "fandom", "cosplay" e "shipper" são amplamente utilizados entre os fãs de cultura pop, criando uma conexão e senso de pertencimento entre eles. Essa terminologia específica contribui para a memória coletiva dos fãs e fortalece sua comunidade.

Nessa perspectiva, a terminologia não apenas preserva e transmite o conhecimento em diferentes áreas, mas também enriquece a memória coletiva de grupos culturais e históricos. Por esse motivo, é necessário também estudar a terminologia como uma forma de compreender e fortalecer a identidade e história compartilhadas, permitindo a elaboração de uma organização do conhecimento em uma cultura de fronteira, de acordo com García Gutiérrez (2002). Ao dominar essa terminologia, as pessoas se identificam como membros do grupo e se sentem parte de uma comunidade que compartilha experiências e desafios semelhantes, servindo, inclusive, para a construção do campo, conforme Bourdieu (2007).

Nesse sentido, outra relação possível entre terminologia e os conceitos relativos à memória reside na preservação do conhecimento. A terminologia contribui para preservar o conhecimento acumulado ao longo do tempo em diferentes áreas do conhecimento. Por exemplo, na ciência, termos como "gravidade", "átomo" e "teoria da evolução" têm significados específicos que representam descobertas e teorias fundamentais. Esses termos ajudam a consolidar e transmitir a memória dos avanços científicos, permitindo que os futuros pesquisadores se baseiem nesse conhecimento estabelecido.

Dessa forma, verifica-se que as conexões entre terminologia e memória residem: no intuito de compreender e contextualizar momentos históricos, na expressão de identidade e pertencimento, na evocação de emoções e imagens e na facilitação da comunicação e transmissão de conhecimento.

Destaca-se, nessa ambiência, a atuação do grupo de pesquisa MIDisC-Memória, Informação, Discurso e Ciência da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) onde são desenvolvidas pesquisas sobre a Análise do Discurso (AD) de linha francesa baseada em Michel Pêcheux (2011), trazendo várias contribuições significativas para a ampliação teórica no desenvolvimento desta pesquisa. A abordagem de Pêcheux na Análise do Discurso (AD) propõe uma perspectiva crítica e interdisciplinar para o estudo das práticas discursivas, considerando a relação entre linguagem, ideologia e poder.

Os próprios estudos sobre terminologia permitem aprofundar os conhecimentos sobre os conceitos-chave da AD, como interdiscurso, intradiscurso, formação discursiva, condições de produção e efeitos de sentido. Esses conceitos são fundamentais para compreender como as práticas discursivas são moldadas por relações de poder e como os discursos contribuem para a construção de sentidos e significados, especialmente quando termos específicos são usados por determinados sujeitos, especialmente em relação ao papel social que ocupam no momento da formulação discursiva.

Outro aspecto importante é a possibilidade de explorar os diálogos entre a AD de Pêcheux (2011) e outras correntes teóricas, como a teoria do discurso de Foucault (1996) e os estudos pós-estruturalistas. Essa interlocução enriquece a compreensão da complexidade das práticas discursivas, considerando diferentes perspectivas teóricas e metodológicas.

 

3  PERCURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa é caracterizada como exploratória, pois permite uma familiaridade com o objeto/fenômeno estudado, neste caso, os termos fronteiriços, permitindo mapear e explorar caminhos e conhecer as características desses termos (Babbie, 1986).

Nesse sentido, foram elaborados mapas mentais de 26 termos considerados fronteiriços em relação à gênero e sexualidade, coletados de artigos científicos, como palavras-chave.

O percurso metodológico adotado para alcançar o objetivo geral foi traçado a partir de Rodrigues e Cervantes (2016) ao indicarem seis passos para a elaboração de mapas conceituais. Em que pese a distinção entre mapas conceituais e mapas mentais, esses seis passos foram relevantes para a compreensão das características epistêmicas dos conceitos representados nos termos fronteiriços e, dessa forma, foram considerados. São eles:

 

(1) Identificação do tema ou a pergunta de enfoque que se vai representar;

(2) Verificação dos conceitos;

(3) Ordenação dos conceitos por meio de lista;

(4) Agrupamento e arranjo dos conceitos que serão demonstrados a partir de termos ou símbolos e inserção de exemplos característicos aos conceitos;

(5) Estabelecimento de links ou proposições, ou seja, conexões dos conceitos por meio de linhas e nomeações por meio de palavra de ligação ou pequena frase e, por fim,

(6) Rever a estrutura do mapa conceitual e, se necessário, refazê-lo.

 

Esses seis passos foram adaptados para a elaboração dos mapas mentais, uma vez que os termos fronteiriços possuem características distintas. Nesse sentido, a partir dos seis passos anteriores, foi realizada a adaptação seguindo as orientações de Buzan (2005), a saber:

 

1. Comece com uma ideia, uma tarefa ou um conceito principal;

2. Adicione ramificações ao tópico principal;

3. Adicione ramificações para elaborar o documento;

4. Adicione elementos visuais, caso necessário.

 

Para o desenvolvimento de mapas mentais podem ser utilizadas diferentes maneiras para o mesmo conjunto de termos e/ou conceitos e, além disso, podem mudar à medida que a compreensão dos relacionamentos entre os termos/conceitos for sendo modificada. Destarte, nesta pesquisa, foi utilizada a ferramenta Lucidspark (Lucid Software Inc., 2024).

O Lucidspark é um quadro branco virtual que roda na nuvem. Ele é um componente central da Suíte de colaboração visual da Lucid Software. Essa tela digital reúne equipes para fazer brainstorming, colaborar e consolidar o pensamento coletivo e produzir resoluções práticas, tudo em tempo real. A ferramenta está disponível em lucidspark.com (Lucid Software Inc., 2024).

A seguir, encontram-se os mapas mentais, suas estruturas e a análise realizada.

 

4  ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Foram realizadas a verificação e a adequação das categorizações de 26 termos considerados fronteiriços em relação a gênero e sexualidade. Os 26 termos fronteiriços  em relação a gênero e sexualidade foram extraídos de artigos científicos publicados na Journal of Homosexuality, Sexualities e Journal of Gay & Lesbian Mental Health. Essas revistas foram selecionadas por representarem três grandes áreas do conhecimento que estudam a temática.

Os mapas mentais oferecem uma visão multifacetada da diversidade de identidades de gênero, destacando os aspectos epistêmicos de cada termo. Ao identificar tais aspectos, é possível criar sistemas de organização do conhecimento inclusivos e eticamente aceitáveis.

Os aspectos epistêmicos identificados nos conceitos dos 26 termos permitiram às seguintes estruturas:

1.   Agender - Agênero:

·     Indivíduo

·     Não se identifica com gênero específico

·     Não pertence a gêneros masculino, feminino ou não binário

2.   Aliagender/Aporagender - Entre Gênero:

·     Indivíduo

·     Forte ligação com identidade de gênero

·     Transcende gêneros feminino e masculino

·     Não se identifica com gêneros existentes

3.   Ambigender - Ambigênero:

·     Indivíduo

·     Identifica-se com gêneros feminino e masculino

·     Não flui entre os gêneros

4.   Androgine - Andrógeno:

·     Indivíduo

·     Características físicas de ambos os sexos

·     Possui sexo indeterminado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Mapa mental de termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade.

Fonte: A pesquisa.

 

5.   Bigender Female-Male - Bigênero Feminino-Masculino:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero engloba feminino e masculino

·     Mulher que se identifica com gênero masculino

6.   Butch non-binary - "Sapatão" não binário:

·     Indivíduo

·     Sexo feminino

·     Características masculinas

·     Não se identifica com divisão binária de gêneros e sexualidade

7.   Cristaline - Cristal:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero fragmentada em outros gêneros

·     Um de cada vez ou vários simultaneamente

8.   Demigender - Demigênero:

·     Indivíduo

·     Conexão parcial com identidade de gênero

·     Não se sente completamente representado por um gênero

9.   Denboy/Demiboy - Demimenino:

·     Indivíduo

·     Identifica-se parcialmente com gênero masculino

10.           Demigirl - Demimenina:

·     Indivíduo

·     Identifica-se parcialmente com gênero feminino

 

Figura 2 – Mapa mental de termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade.

Fonte: A pesquisa.

11.           Efemer - Efêmero:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero mutável ao longo do tempo

12.           Femme non-binary - Feminina não binária:

·     Mulher

·     Características e comportamentos femininos

·     Não acredita na divisão binária de gêneros e sexualidade

13.           Genderfluid (famale-male) - Gênero Fluido (feminino-masculino):

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero mutável entre feminino e masculino

14.           Genderflux - Gênero Fluxo:

·     Indivíduo

·     Sentimento de intensidade de gênero flutuante

15.           Genderfuck - Quebra de Gênero:

·     Indivíduo

·     Transgride normas de comportamento e apresentação dos gêneros feminino e masculino

 

Figura 3 – Mapa mental de termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade.

Fonte: A pesquisa.

 

16.           Genderpivot - Gênero Pivot:

·     Indivíduo

·     Identifica-se como bigênero de forma fixa e gênero fluido de forma mutável

17.           Genderqueer non-binary - Gênero Queer Não-Binário:

·     Indivíduo

·     Não se identifica exclusivamente com os gêneros masculino ou feminino

·     Identidade de gênero é queer (fora das normas de gênero tradicionais)

·     Não-binário, não se encaixa na dicotomia de gênero

18.           Graygender - Gênero Cinza:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero é neutra ou sem gênero definido

·     Pode flutuar entre ter uma conexão fraca com algum gênero específico

19.           Intergender - Intergênero:

·     Indivíduo

·     Identifica-se como tendo uma mistura ou combinação de gêneros

·     Pode incluir elementos de masculinidade, feminilidade e outros gêneros

20.           Neutrois - Neutrois:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero é neutra, sem gênero

·     Não se identifica com os gêneros masculino, feminino ou outros gêneros

 

Figura 4 – Mapa mental de termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade.

Fonte: A pesquisa.

 

21.           Non-binary - Não-Binário:

·     Indivíduo

·     Não se identifica exclusivamente com os gêneros masculino ou feminino

·     Identidade de gênero está fora da binariedade de gênero

22.           Pangender - Pangênero:

·     Indivíduo

·     Identifica-se com todos ou a maioria dos gêneros

·     Não se limita a uma única identidade de gênero

23.           Transmasculine - Transmasculino:

·     Indivíduo

·     Designação para pessoas que foram designadas como mulheres ao nascer

·     Identifica-se como masculino

24.           Transfeminine - Transfeminino:

·     Indivíduo

·     Designação para pessoas que foram designadas como homens ao nascer

·     Identifica-se como feminino

25.           Two-spirit - Duas Espíritos:

·     Indivíduo Indígena

·     Identidade de gênero específica para algumas culturas indígenas

·     Combinação de masculino e feminino ou terceiro gênero

26.           Xenogender - Xenogênero:

·     Indivíduo

·     Identidade de gênero que não se encaixa nas categorias tradicionais

·     Pode ser relacionada a conceitos não humanos ou não existentes no binarismo de gênero

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 5 – Mapa mental de termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade.

Fonte: A pesquisa.

A compreensão e aceitação da diversidade de identidades de gênero são aspectos cruciais para a construção de uma sociedade inclusiva e respeitosa. Os mapas mentais apresentados oferecem uma visão abrangente das diversas formas pelas quais as pessoas podem experienciar e expressar sua identidade de gênero, indo além das tradicionais categorias binárias de masculino e feminino.

Dessa forma, os mapas mentais demonstram:

a) Rejeição da Binariedade de Gênero: Um tema recorrente nos mapas é a rejeição da dicotomia de gênero. Indivíduos agêneros, por exemplo, não se identificam com nenhum gênero específico, desafiando a ideia de que todos devem se enquadrar em categorias estritamente definidas. Da mesma forma, aqueles que se identificam como não binários ou genderqueer estão fora da binariedade de gênero, optando por identidades que transcendem as noções tradicionais de masculino e feminino.

b) Fluididade e Mutabilidade da Identidade de Gênero: Outro aspecto essencial é a fluididade e mutabilidade da identidade de gênero. Indivíduos genderfluid ou efêmeros experimentam mudanças em sua identidade ao longo do tempo, desafiando a ideia de que a identidade de gênero é fixa e imutável. Essa fluidez permite uma maior liberdade na expressão de si mesmo e na navegação das complexidades da identidade de gênero.

c) Conexões Parciais e Interseções: Os mapas também destacam a existência de identidades de gênero que envolvem conexões parciais ou interseções com diferentes gêneros. Por exemplo, indivíduos demigênero têm uma conexão parcial com uma identidade de gênero específica, enquanto os bigêneros feminino-masculino identificam-se com ambos os gêneros. Essas interseções desafiam a ideia de que a identidade de gênero deve ser singular e unidimensional, reconhecendo a complexidade e a diversidade das experiências individuais.

d) Culturalidade e Identidade: Além disso, os mapas incluem identidades de gênero que são culturalmente específicas, como duas espíritos, uma identidade indígena que combina elementos masculinos e femininos. Isso destaca a importância de reconhecer e respeitar as diversas culturas e suas compreensões únicas de gênero, desafiando a hegemonia das normas de gênero ocidentais.

e) Desconstrução de Estereótipos: Por fim, os mapas desafiam e desconstroem estereótipos de gênero ao abraçar uma ampla variedade de expressões de gênero. Identidades como butch non-binary e transmasculine desafiam a associação tradicional entre identidade de gênero e características físicas ou comportamentais, demonstrando que a expressão de gênero é multifacetada e individual.

Figura 6 – Mapa mental a partir da análise dos termos fronteiriços e seus mapas.

Fonte: A pesquisa.

À medida que os termos apresentados foram traduzidos, conceituados e contextualizados foi-se confirmando a noção da extensão e complexidade dos assuntos tratados, bem como as incertezas que ainda cercam esse campo por conta de todo o tempo em que foi negligenciado. Mais pesquisas são necessárias para conceituar e contextualizar, de acordo com a literatura científica.

Observa-se que as questões que dizem respeito aos termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade são pontuadas especialmente nos aspectos epistêmicos oriundos de seus conceitos.

 

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão dos termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade é para a elaboração de sistemas de organização do conhecimento eticamente aceitáveis e para estudos sociais da memória. Os conceitos de identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual, por exemplo, são multifacetados e interconectados, muitas vezes desafiando definições simplistas. Para investigar essas fronteiras complexas, os mapas mentais emergem como uma ferramenta que permite uma abordagem visual e conceitual para mapear os seus contornos e/ou fronteiras.

Os mapas mentais fornecem uma estrutura flexível para explorar a interseção de diferentes conceitos e suas relações. Ao analisar os 26 termos fronteiriços em relação a gênero e sexualidade, identificou-se uma série de insights e considerações necessária para serviços informacionais. Primeiramente, os mapas revelam a natureza fluida e dinâmica desses conceitos, destacando como as percepções individuais e culturais moldam sua compreensão. Por exemplo, termos como "identidade de gênero" e "expressão de gênero" são frequentemente influenciados por contextos sociais e históricos específicos, evidenciando a necessidade de uma abordagem sensível e contextualizada, levando em conta as condições de produção dos discursos em que tais termos estão sendo construídos.

Além disso, os mapas mentais destacam a interconexão entre diferentes aspectos da identidade de gênero e sexualidade, mostrando como esses termos não existem isoladamente, mas sim em um espectro complexo e interdependente. Por exemplo, a noção de "identidade de gênero" está intrinsecamente ligada à "orientação sexual" e à "expressão de gênero", formando um tecido interligado de experiências e significados.

Outra contribuição significativa dos mapas mentais é sua capacidade de evidenciar lacunas e áreas de ambiguidade na compreensão contemporânea de gênero e sexualidade. Ao visualizar esses termos em um contexto amplo, podemos identificar áreas onde mais pesquisa e diálogo são necessários para aprofundar nossa compreensão. Por exemplo, conceitos como "pansexualidade" e "assexualidade" podem não ser totalmente compreendidos ou representados em certos contextos culturais, destacando a importância de uma investigação verticalizada.

Em última análise, os mapas mentais oferecem uma ferramenta relevante para explorar e investigar os termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade. Ao fornecer uma representação visual e conceitual desses conceitos, os mapas não apenas enriquecem a compreensão, mas também abrem espaço para diálogos inclusivos e informados sobre questões de identidade e diversidade. Ao utilizar essa abordagem dinâmica e exploratória, é possível avançar na compreensão coletiva e na promoção de sociedades igualitárias.

Várias pesquisas futuras podem ser conduzidas com os resultados aqui identificados. Aqui estão algumas sugestões:

Análise Comparativa Cultural: Uma pesquisa comparativa entre diferentes culturas pode ser conduzida para examinar como os conceitos de gênero e sexualidade são entendidos e representados em contextos diversos.

Estudos Longitudinais: Pesquisas longitudinais poderiam ser realizadas para examinar como as percepções e entendimentos de termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade mudam ao longo do tempo, tanto em nível individual quanto social. Isso ajudaria a capturar as tendências e evoluções na compreensão desses conceitos.

Investigação sobre Experiências Subrepresentadas: Pesquisas futuras poderiam se concentrar em explorar e dar voz a experiências subrepresentadas dentro do espectro de gênero e sexualidade, como identidades não binárias, orientações sexuais menos conhecidas e vivências de pessoas intersexo. Isso ajudaria a ampliar a compreensão e inclusão de uma variedade de experiências.

Pesquisa sobre Impacto Social: Uma análise mais aprofundada do impacto social e político dos termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade poderia ser conduzida. Isso incluiria examinar como a compreensão e a utilização desses termos influenciam políticas públicas, direitos humanos, discriminação e acesso a serviços de saúde e suporte.

Abordagens Interdisciplinares: Pesquisas futuras podem explorar abordagens interdisciplinares para entender termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade, integrando perspectivas da psicologia, sociologia, antropologia, estudos culturais, direitos humanos e outras áreas relevantes. Isso poderia enriquecer a compreensão desses conceitos complexos e sua interação com diferentes aspectos da sociedade.

Essas são apenas algumas sugestões de pesquisas futuras que podem surgir das considerações sobre os mapas mentais e sua aplicação na investigação de termos fronteiriços relacionados a gênero e sexualidade.

 

AGRADECIMENTOS

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

 

 

REFERÊNCIAS

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[1] Doutor em Ciência da Informação pela UNESP. Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPE.

[2] Doutora em Ciência da Informação pelo IBICT/UFRJ. Professora no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO.