EMPREENDEDORISMO SOCIAL
uma análise sistêmica atual por meio de uma revisão sistemática da literatura
Tatiane Balbinot Lamberti[1]
Universidade Federal de Santa Maria
Lucas Veiga Ávila[2]
Universidade Federal de Santa Maria
lucas.avila@ufsm.br
Carmen Brum Rosa[3]
Universidade Federal de Santa Maria
______________________________
Resumo
Em vista do crescimento de pesquisas sobre empreendedorismo social e assuntos relacionados, notou-se a necessidade de analisar as principais características, tendências e desafios sobre o estudo do empreendedorismo social dos últimos anos, a fim de sintetizar os principais avanços e trilhar um caminho para pesquisas futuras. Para isso, realizou-se uma Revisão Sistemática da Literatura, utilizando a base de dados Web of Science. O período estabelecido foi de 01/01/2018 a 30/06/2023 e, para a coleta de dados, foram utilizados o conjunto de palavras-chaves e operadores booleanos: “inovação social” & “negócios” & “empreendedorismo social”. Foi utilizado filtro para selecionar “Artigos” e “Artigos de Revisão”. Foram encontrados 321 artigos que, após a aplicação da pergunta filtro, somaram 186 artigos. Para auxiliar na organização e análise dos estudos, foram utilizados os softwares Mendeley e VOSviewer Como resultado, observou-se que os países desenvolvidos tiveram predominância na quantidade de publicações, com destaque para os Estados Unidos da América e a Inglaterra. Entretanto, quando se analisa a quantidade de publicações por instituição e por autores, países em desenvolvimento lideram esse ranking, representados por instituições como a Tecnológico de Monterrey (México) e a Thapar Institute of Engineering Technology (Índia), sendo esta a instituição com maior número de citações. A principal área de pesquisa é a de “Economia de Negócios”, contida em 62,9% dos estudos. Novas vertentes de pesquisa são identificadas nos temas de “Relacionamentos em Rede” e “Capacidade de Escala das Inovações”, apresentando as principais lacunas atuais.
Palavras-chave: empreendedorismo social; inovação social; negócios.
SOCIAL ENTREPRENEURSHIP
a current systemic analysis through a systematic review of the literature
Abstract
In view of the growth of research on social entrepreneurship and related subjects, there was a need to analyze the main characteristics, trends and challenges regarding the study of social entrepreneurship in recent years, in order to synthesize the main advances and pave a path for research future ones. To this end, a Systematic Literature Review was carried out, using the Web of Science database. The established period was from 01/01/2018 to 06/30/2023 and, for data collection, the set of keywords and Boolean operators were used: “social innovation” & “business” & “social entrepreneurship”. A filter was used to select “Articles” and “Review Articles”. 321 articles were found which, after applying the filter question, totaled 186 articles. To assist in the organization and analysis of studies, Mendeley and VOSviewer software were used. As a result, it was observed that developed countries predominated in the number of publications, with emphasis on the United States of America and England. However, when analyzing the number of publications per institution and authors, developing countries lead this ranking, represented by institutions such as Tecnológico de Monterrey (Mexico) and Thapar Institute of Engineering Technology (India), this being the institution with the highest number of citations. The main area of research is “Business Economics”, contained in 62.9% of the studies. New research strands are identified in the themes of “Network Relationships” and “Scaling Capacity of Innovations”, presenting the main current gaps.
Keywords: social entrepreneurship; social innovation; business.
EMPRENDIMIENTO SOCIAL
un análisis sistémico actual a través de una revisión sistemática de la literatura
Resumen
Ante el crecimiento de la investigación sobre emprendimiento social y temas afines, surgió la necesidad de analizar las principales características, tendencias y desafíos en torno al estudio del emprendimiento social en los últimos años, con el fin de sintetizar los principales avances y allanar un camino para la investigación. los futuros. Para ello se realizó una Revisión Sistemática de la Literatura, utilizando la base de datos Web of Science. El período establecido fue del 01/01/2018 al 30/06/2023 y, para la recolección de datos, se utilizó el conjunto de palabras clave y operadores booleanos: “innovación social” & “negocios” & “emprendimiento social”. Se utilizó un filtro para seleccionar “Artículos” y “Revisar artículos”. Se encontraron 321 artículos que, tras aplicar la pregunta filtro, totalizaron 186 artículos. Para ayudar en la organización y análisis de los estudios se utilizó el software Mendeley y VOSviewer. Como resultado se observó que los países desarrollados predominaron en el número de publicaciones, con énfasis en Estados Unidos e Inglaterra. Sin embargo, al analizar el número de publicaciones por institución y autores, los países en desarrollo lideran este ranking, representados por instituciones como el Tecnológico de Monterrey (México) y Thapar Institute of Engineering Technology (India), siendo esta la institución con mayor número de citaciones. El principal área de investigación es la “Economía de la Empresa”, contenida en el 62,9% de los estudios. Se identifican nuevas líneas de investigación en los temas “Relaciones de red” y “Escalamiento de la capacidad de las innovaciones”, presentando las principales lagunas actuales.
Palabras clave: el emprendimiento social; innovación social; negocio.
1 INTRODUÇÃO
Sociedades ao redor do mundo todo estão sendo impactadas negativamente por crises ambientais, sociais e econômicas (Husain, 2022; Kamran et al., 2022; Kumari; Eguruze, 2022; Mishra, 2021; Portuguez Castro; Gomez Zermeno, 2021; Ratten; Braga; Marque, 2021). Tais crises, como desastres ambientais, alterações extremas do clima, instabilidade econômica e desigualdade social, são advindas de uma forma de desenvolvimento que preza exclusivamente o lucro e ignora os impactos negativos causados no ser humano e na natureza, resultando em mazelas na sociedade e afetando principalmente a parcela da população menos favorecida em termos econômicos (Canestrino et al., 2023; Del Giudice et al., 2023; Do, 2022; Ruiz Palomino; Linuesa Langreo; Kelly, 2019).
Essa situação evidencia que a maneira tradicional de como os seres humanos organizam-se em um tipo “puro” de organização se tornou inviável, pois seguindo a visão de desenvolvimento sustentável, as organizações devem responder de forma adaptativa às restrições ambientais e sociais impostas ao longo do tempo (Ran; Weller, 2021).
Diante deste contexto, faz-se necessário o surgimento de abordagens de mecanismos econômicos que sejam capazes de promover tanto o prisma capitalista, quanto o social (Justen; Teixeira; Segatto, 2018; Ruiz Palomino; Linuesa Langreo; Kelly, 2019). Com o objetivo de seguir esses ideais é que surge o empreendedorismo social, uma forma de empreender que possui como propósito de sua existência gerar valor social impactando positivamente o ecossistema em que se está inserido.
Diferentemente do empreendedorismo tradicional, que tem foco em iniciativas que valorizam o potencial criativo visando o lucro, o empreendedorismo social surge da combinação de negócios com demandas sociais, com o objetivo de criar estratégias para solucionar problemas coletivos, de forma a transformar a realidade de comunidades que sofrem com problemas sociais (Justen; Teixeira; Segatto, 2018; Oliveira et al., 2020). Além de criar valor social e gerar resultado econômico, os resultados do empreendedorismo social geralmente são oriundos de inovações sociais, novas ideias criadas e aplicadas para mitigar problemas negligenciados por outros atores institucionais (Justen; Teixeira; Segatto, 2018; Massad; Fossari; Lapolli, 2017).
Nesse sentido, pode-se definir como empreendimento social o modelo de negócio que realiza a conexão dos princípios da economia, ao gerar empregos e movimentar o mercado, com as demandas sociais atuais, visto que possui como principal resultado sanar problemas sociais existentes (Arejiogbe et al., 2023). Os autores Justen, Teixeira e Segatto (2018) enfatizam que: “O empreendedorismo social surge da combinação de negócios com demandas sociais, uma vez que preconiza pelo engajamento dos objetivos sociais nos empreendimentos”.
O empreendedorismo social tem despertado o interesse e tem sido discutido tanto no meio empresarial, quanto no meio acadêmico, principalmente após a década de 1980 (Chaves Avila; Monzon Campos, 2018; Hallinger, 2021; Justen; Teixeira; Segatto, 2018; Najmaei; Sadeghinejad, 2023). Justen, Teixeira e Segatto (2018) enfatizam que o campo do empreendedorismo social ainda está trilhando o caminho para se consolidar, uma vez que é considerado um subcampo de discussões acerca do empreendedorismo tradicional. Sendo assim, as pesquisas sobre esse assunto ainda carecem de aprofundamento teórico (Lorenzo-Afable; Lips-Wiersma; Singh, 2023; Nascimento; Salazar, 2020; Ran; Weller, 2021), sendo válida a investigação do cenário da pesquisa acadêmica sobre o empreendedorismo social, analisando seus conceitos, vertentes, tipologias e desafios futuros (Macke et al., 2018).
Por se tratar de um campo de pesquisa relativamente novo, citado como tema central de diversos estudos nos últimos anos (Bhardwaj; Weerawardena; Srivastava, 2023; Chaves Avila; Monzon Campos, 2018; Wagner; Kabalska, 2023), torna-se necessário realizar uma avaliação panorâmica das pesquisas existentes, bem como identificar as principais lacunas sobre o tema. Tais constatações fundamentam as questões de investigação deste estudo, a seguir: (1) Quais são os aspectos dominantes da literatura do empreendedorismo social em termos de tendências de publicação, países, autores, instituições, periódicos e áreas de pesquisa?; (2) Quais são as principais abordagens e motivadores para as pesquisas nesse campo?; (3) Quais são as novas áreas emergentes de pesquisa acerca deste tema que carecem de aprofundamento de estudos?
Para solucionar a estas questões foi realizada uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL), por meio da análise de estudos dos últimos cinco anos (2018-2023), utilizando como apoio a metodologia PRISMA. Com isso, objetiva-se proporcionar ao leitor uma visão concreta sobre o panorama atual das pesquisas sobre o empreendedorismo social, bem como definir um direcionamento para as necessidades de esclarecimento ainda existentes.
Por conseguinte, o presente artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 trará uma revisão sobre as definições de empreendedorismo social, os principais termos relacionados e estudos relevantes sobre o tema; a seção 3 explicará as definições da Revisão Sistemática da Literatura e demais metodologias utilizadas para o presente estudo; a seção 4 apresenta os resultados obtidos e as discussões sobre a análise realizada; e, por fim, a seção 5 apresentará as conclusões da pesquisa, juntamente com as propostas para novos estudos.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Este artigo visa contribuir com os estudos sobre empreendedorismo social ao passo que realiza uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL), auxiliando a mapear e investigar a literatura existente sobre o assunto, especificando, dessa forma, as questões de investigação da pesquisa e contribuindo para o desenvolvimento do corpo de conhecimento existente sobre o assunto (Tranfield; Denyer; Smart, 2003). Para auxiliar na elaboração e no relato das revisões sistemáticas da literatura, é indicado a utilização do método PRISMA (Moher et al., 2015).
Por se caracterizarem por serem os métodos mais viáveis para fazer avaliações precisas sobre pesquisas já existentes (Meho; Yang, 2007), o banco de pesquisa escolhido para a busca de produções científicas deste estudo foi a Web of Science (WoS). Além de ser a única ferramenta para análise de citações até o ano de 2004, a WoS inclui todos os tipos de artigos, indexa todas as suas informações (autores, instituições, referências) e é considerada uma das principais fontes de dados de citações atuais (Mongeon; Paul-Hus, 2016).
Após a escolha da base de dados, foi definido o protocolo de investigação. Buscou-se estudos que possuíam em seu título, palavras-chaves ou resumo as seguintes strings: social innovation AND business AND “social entrepreneurship”. Por se tratar de uma pesquisa que busca compreender o panorama do empreendedorismo social, foram utilizadas as aspas neste último conjunto de strings, justamente para dar ênfase ao objetivo da pesquisa. O período utilizado na pesquisa foi do dia 01 de janeiro de 2018 até o dia 30 de junho de 2023, ano da realização da pesquisa. Além disso, foram incluídos no estudo somente os documentos referentes a artigos e revisões de artigos. Nesta etapa foram encontrados 321 estudos. Vale ressaltar que a última pesquisa para a extração dos artigos foi realizada no mês de setembro de 2023.
Como critério de inclusão dos artigos nas próximas etapas da pesquisa, foi determinada a seguinte pergunta filtro: “o presente artigo estuda de forma direta o empreendedorismo social ou fatores que o influenciam?”. Com isso, foram incluídos no estudo artigos que falavam sobre abordagens teóricas, abordagens práticas ou sobre fatores que influenciavam o empreendedorismo social. Para realizar essa etapa foi realizada a leitura do título e resumo dos 321 artigos encontrados. Aplicando a pergunta filtro como base para a inclusão ou não dos estudos, foram selecionados 186 artigos.
Para extrair os dados das pesquisas selecionadas e identificar os aspectos mais influentes, será utilizado o programa VOSviewer (Ahmad; Bajwa, 2023; Kumar; Agrawal, 2023; Pereira et al., 2023; Talukder; Lakner, 2023). A partir dele, será possível encontrar os principais clusters de pesquisas no que diz respeito a países, autores, instituições, periódicos e tipos de estudo. Já para encontrar as principais abordagens, motivadores e áreas emergentes, será realizada a leitura dos 10 artigos mais citados, dentre os 186 artigos selecionados. Com isso, será possível ter uma análise fundamentada em pesquisas qualificadas para compreender os principais vieses destes estudos.
2.2 RESULTADOS E ANÁLISES
Os resultados descritos nas próximas seções fazem referência a uma análise quantitativa dos estudos que, através do método utilizado, foram selecionados para a análise desta pesquisa. Por meio do uso do critério da pergunta chave utilizada para a seleção dos arquivos, a análise bibliométrica foi realizada com os 186 artigos selecionados. As características aqui analisadas pretendem cumprir com o objetivo da pesquisa, ao trazer um panorama sobre o contexto geral dos estudos aqui encontrados e obter sobre conhecimento não só sobre os temas mais relevantes da atualidade, bem como as lacunas que ainda visam serem preenchidas.
2.2.1 Publicações por ano
A Tabela 1 demonstra a tendência de publicações do ano de 2018 até o primeiro semestre de 2023, período especificado na metodologia deste estudo.
Tabela 1 – Publicações por ano
|
Ano |
Quantidade |
% |
% acumulada |
|
2018 |
17 |
9,1% |
9,1% |
|
2019 |
26 |
14,0% |
23,1% |
|
2020 |
42 |
22,6% |
45,7% |
|
2021 |
41 |
22,0% |
67,7% |
|
2022 |
36 |
19,4% |
87,1% |
|
2023 |
24 |
12,9% |
100,0% |
|
Total |
186 |
100,0% |
|
Fonte: Autores, 2023.
Observou-se a tendência de crescimento das publicações acerca do empreendedorismo social até o ano de 2020. Em contrapartida, no ano de 2021 houve um pequeno decréscimo na quantidade de produções, sendo esta diferença ainda maior no ano de 2022. Ao compararmos a produção destes dois anos com o ano de maior produção (2020), tem-se um decréscimo de 2,4% e 14,3%, respectivamente. Estes resultados corroboram com as conclusões de Abramo, D’Angelo e Mele (2022), que, ao enfatizar o impacto que as atividades de pesquisa sofreram com a pandemia da COVID-19, encontraram em seu estudo uma diminuição da quantidade de produções científicas a partir da segunda metade do ano de 2020.
Para o ano de 2023 foram consideradas as publicações do primeiro semestre, ou seja, até o último dia de junho. Caso a produção científica do segundo semestre seja igual a quantidade do primeiro, a tendência é que o total de publicações no ano de 2023 supere o ano de 2020, iniciando novamente o crescimento dessa tendência.
2.2.2 Distribuição de publicações por país
Na análise da participação dos países nas publicações sobre empreendedorismo social, a Tabela 2 traz a lista com os 20 países com maior publicação. Nota-se que os cinco primeiros países com maior produção somam mais de 50% do total das produções analisadas nesta pesquisa: Estudos Unidos (16,7%), Inglaterra (15,1%), Itália (9,7%), Índia (7,0%) e México (5,9%).
Tabela 2 – Publicações por país
|
Ordem |
País |
Quantidade |
% de publicações |
|
1 |
Estados Unidos |
31 |
16,7% |
|
2 |
Inglaterra |
28 |
15,1% |
|
3 |
Itália |
18 |
9,7% |
|
4 |
Índia |
13 |
7,0% |
|
5 |
México |
11 |
5,9% |
|
6 |
China |
11 |
5,9% |
|
7 |
Espanha |
11 |
5,9% |
|
8 |
Austrália |
9 |
4,8% |
|
9 |
Alemanha |
9 |
4,8% |
|
10 |
Canadá |
8 |
4,3% |
|
11 |
Holanda |
7 |
3,8% |
|
12 |
França |
6 |
3,2% |
|
13 |
Malásia |
6 |
3,2% |
|
14 |
Polônia |
6 |
3,2% |
|
15 |
Suíça |
6 |
3,2% |
|
16 |
Nova Zelândia |
5 |
2,7% |
|
17 |
Noruega |
5 |
2,7% |
|
18 |
Portugal |
5 |
2,7% |
|
19 |
Rússia |
5 |
2,7% |
|
20 |
Escócia |
5 |
2,7% |
Fonte: Autores, 2023.
Destaca-se que os países Estados Unidos e Inglaterra possuem a maior quantidade de publicações. Resultado similar é encontrado no estudo de Cardella et al. (2021), que analisaram a produção científica sobre “Empreendedorismo Social” dos anos de 1978 a 2020, e encontraram como países mais produtivos os Estados Unidos, seguido do Reino Unido (do qual a Inglaterra faz parte).
Ao analisar a categoria dos 20 países da Tabela 2, a grande maioria, 14 deles, são países já desenvolvidos, e apenas 6 são países em desenvolvimento: Índia, México, China, Malásia, Polônia e Rússia. Destes, a Índia, México e China estão entre os 10 países com maior número de produções científicas, contrapondo o estudo de Cardella et al. (2021), que encontrou somente 1 país em desenvolvimento na lista dos países com maiores publicações. Isso significa que, apesar de ainda haver uma grande lacuna de produção científica sobre o empreendedorismo social em países em desenvolvimento, este cenário está mudando com o passar dos anos. Vale salientar que o objetivo dos empreendimentos sociais é promover o desenvolvimento social, e, por isso, o avanço das pesquisas sobre este tema em países em desenvolvimento é de suma importância para auxiliar no progresso dessas nações.
Na Figura 2 é possível verificar a relação entre a quantidade de países de acordo com o número de publicações sobre o tema.
Figura 2 – Quantidade de países por nº de publicações
Fonte: Autores, 2023.
A análise realizada nesta pesquisa incluiu publicações de 61 países. Destes, verifica-se que 41 países tiveram menos que cinco publicações, corroborando as ideias de Bhardwaj, Weerawardena e Srivastava (2023a), Wagner e Kabalska (2023) e Chaves Avila e Monzon Campos (2018), que consideram relativamente novo a temática do empreendedorismo social.
2.2.3 Principais periódicos
O presente estudo envolveu pesquisas de 45 periódicos. A Tabela 3 traz a relação dos periódicos mais influentes neste estudo, sendo estes os responsáveis por mais de 25% do total de pesquisas envolvidas nas análises. Os demais periódicos possuem três publicações ou menos.
Tabela 3 – Publicações por periódicos
|
Ordem |
Periódico |
Quantidade |
% |
|
1 |
Sustainability |
16 |
8,6% |
|
2 |
Journal of Social Entrepreneurship |
10 |
5,4% |
|
3 |
Social Enterprise Journal |
7 |
3,8% |
|
4 |
Journal of Business Research |
6 |
3,2% |
|
5 |
Technological Forecasting and Social Change |
6 |
3,2% |
|
6 |
Journal of Cleaner Production |
5 |
2,7% |
Fonte: Autores, 2023.
Lideram essa pesquisa os periódicos Sustainability e Journal Of Social Entrepreneurship, com 16 e 10 publicações envolvidas, respectivamente. Destaca-se que a grande maioria dos periódicos são voltados para as áreas de pesquisa envolvendo sustentabilidade, empreendedorismo social e pesquisas sobre negócios.
2.2.4 Instituições com maiores contribuições
Foram analisadas as instituições com maiores contribuições na área do empreendedorismo social, as quais trazem este tema como o centro de suas pesquisas. Fazendo um recorte das 358 instituições citadas nos artigos desta pesquisa, a Tabela 4 cita as 6 instituições que se destacaram em relação a quantidade de publicações.
Tabela 3 – Quantidade de publicações por instituição
|
Ordem |
Instituição |
Quantidade |
% |
Citações |
|
1 |
Tecnológico de Monterrey (México) |
7 |
3,8% |
364 |
|
2 |
Harvard University (Estados Unidos) |
3 |
1,6% |
243 |
|
3 |
Thapar Institute of Engineering Technology (Índia) |
3 |
1,6% |
381 |
|
4 |
Universidad Del Desarrollo (Chile) |
3 |
1,6% |
314 |
|
5 |
University of Birmingham (Inglaterra) |
3 |
1,6% |
355 |
|
6 |
University of Essex (Inglaterra) |
3 |
1,6% |
370 |
Fonte: Autores, 2023.
Um destaque especial é dado para a Tecnológico de Monterrey (México), por ser a instituição com maior quantidade de pesquisas neste estudo. Este fato se deve aos grandes esforços da instituição em lançar um modelo inovador de empreendedorismo social, o Tec21, o novo modelo educativo que visa desenvolver novos empreendedores sociais através de experiências acadêmicas baseadas em desafios, do uso de tecnologias para projetos e de alianças estratégicas com outras instituições – nacionais e internacionais.
As demais instituições da Tabela 4 pertencem aos países dos Estados Unidos, Índia, Chile e Inglaterra. Não sendo viável trazer todas as instituições incluídas na pesquisa, é necessário salientar que àquelas que não foram citadas na Tabela 4 apresentam uma quantidade de 2 ou 1 publicação sobre o tema.
Destaca-se também que, dentre as instituições com maior número de publicações, àquela que possui o maior número de citações é a Thapar Institue of Engineering Technology, pertencente ao país da Índia, possuindo 381 citações. Isso indica que não necessariamente a quantidade de publicações vai ser proporcional a quantidade de citações das pesquisas.
2.2.5 Áreas de pesquisa mais relevantes
O empreendedorismo social, além de possuir distintas vertentes (Fischer; Comini, 2012), também engloba diferentes setores e cenários da sociedade (Bhardwaj; Weerawardena; Srivastava, 2023). Com o objetivo de obter um melhor direcionamento acerca dos atuais assuntos que envolvem o empreendedorismo social, a Tabela 5 demonstra as áreas de pesquisa que foram abordadas nas publicações incluídas na pesquisa.
Tabela 5 – Publicações por área de pesquisa
|
Ordem |
Áreas de Pesquisa |
Quantidade |
% |
|
1 |
Economia de Negócios |
117 |
62,9% |
|
2 |
Ecologia Ciências Ambientais |
32 |
17,2% |
|
3 |
Ciência Tecnologia Outros Tópicos |
22 |
11,8% |
|
4 |
Ciências Sociais Outros Tópicos |
13 |
7,0% |
|
5 |
Educação Pesquisa Educacional |
8 |
4,3% |
|
6 |
Engenharia |
8 |
4,3% |
|
7 |
Administração pública |
8 |
4,3% |
|
8 |
Problemas sociais |
7 |
3,8% |
|
9 |
Saúde Ocupacional Ambiental Pública |
4 |
2,2% |
|
10 |
Estudos Urbanos |
4 |
2,2% |
|
11 |
Outros |
28 |
14,8% |
Fonte: Autores, 2023.
Ao analisar as 27 áreas de pesquisa mencionadas, nota-se a diversidade de assuntos abordados: área da tecnologia, negócios, engenharia, saúde, meio ambiente, urbanização, agropecuária, religião, entre outras. As temáticas que se destacam por serem as mais mencionadas são: Economia de Negócios (117); Ecologia e Ciências Ambientais (32); Ciências da Tecnologia e outros tópicos (22); e Ciências Sociais e outros tópicos (13).
A área de pesquisa de Economia de Negócios merece destaque por estar presente em 62,9% das pesquisas realizadas. Esse resultado corrobora os autores Teasdale et al. (2023) simbolizando que, nos últimos anos, o empreendedorismo social está se desenvolvendo a partir de uma aliança entre as causas sociais e o desenvolvimento econômico do negócio.
2.3.6 Principais autores
Os 10 acadêmicos mais produtivos em pesquisas que envolvem como tema central o empreendedorismo social está contido na Tabela 6. Lideram essa lista os autores Vazquez-Parra JC (México), com 5 publicações, e o autor Ramirez-Montoya MS (México), com 4 publicações. Posteriormente, tem-se quatro autores que publicaram 3 estudos, e os demais autores da lista publicaram 2 estudos.
. Tabela 6 – Quantidade de publicações por autores
|
Ordem |
Autores |
País |
Instituição |
Quantidade |
H-Index WOS |
|
1 |
Jose Carlos Vazquez-Parra |
México |
Tecnológico de Monterrey |
5 |
6 |
|
2 |
Maria Soledad; Ramirez-Montoya |
México |
Tecnológico de Monterrey |
4 |
20 |
|
3 |
Rohit Bhardwaj |
Índia |
Shri Mata Vaishno Devi University |
3 |
3 |
|
4 |
Abel Garcia-Gonzalez |
México |
Tecnológico de Monterrey |
3 |
6 |
|
5 |
Saurabh Srivastava |
Índia |
Shri Mata Vaishno Devi University |
3 |
6 |
|
6 |
Misagh Tasavori |
Irã |
Sharif University of Technology |
3 |
9 |
|
7 |
Patricia Esther; Alonso-galicia |
México |
Tecnológico de Monterrey |
2 |
6 |
|
8 |
Charan Raj Bhattarai |
Irã |
University of Essex |
2 |
3 |
|
9 |
Alexander Brem |
Alemanha/Dinamarca |
University of Southern Denmark |
2 |
32 |
|
10 |
Mariavittoria Cicellin |
Itália |
University of Naples Federico II |
2 |
3 |
Fonte: Autores, 2023.
Fazendo uma análise de coautoria é possível verificar a colaboração entre os países que possuem envolvimento nas pesquisas e as redes que foram formadas. Com o auxílio da ferramenta VOSviewer foi gerada a Figura 3.
Figura 3 – Mapa de visualização da rede de coautoria em relação aos países
Fonte: Autores, 2023.
Na Figura 3 é possível visualizar o destaque dos países da Inglaterra e dos Estados Unidos, sendo os países com o maior nível de colaboração com outras nações. Outra observação a ser feita é que, ao comparar a quantidade de publicações com a quantidade de relacionamentos, não necessariamente os países com maior quantidade de publicações possuem um maior número de relacionamentos. Essa conclusão é obtida ao analisar os países da Índia e da Alemanha. Na Tabela 2 desta pesquisa consta que a Índia possui um total de 13 publicações e a Alemanha possui 9. Entretanto, ao analisar a rede de coautoria desses dois países, a Índia possui colaboração com 4 países, já a Alemanha possui colaboração com outros 8 países.
2.2.7 Análise das citações
Uma das formas de medir a qualidade das publicações é de acordo com a quantidade de citações que a pesquisa possui. Na Tabela 7 estão os 20 artigos com o maior número de citações. O artigo que lidera a lista é de autoria de Hota (2023), da Holanda, com um total de 197 citações.
Tabela 7 – Pesquisas mais citadas
|
Ordem |
Título |
Citações |
Autores |
País |
|
1 |
Tracing the Intellectual Evolution of Social Entrepreneurship Research: Past Advances, Current Trends, and Future Directions |
197 |
Hota |
Holanda |
|
2 |
A Review and Analysis of the Thematic Structure of Social Entrepreneurship Research: 1990-2018 |
179 |
Persaud; Bayon |
Irlanda |
|
3 |
Market orientation, market disruptiveness capability and social enterprise performance: An empirical study from the United Kingdom |
176 |
Bhattarai; Kwong; Tasavori |
Estados Unidos |
|
4 |
Winds of change due to global lockdowns: Refreshing digital social entrepreneurship research paradigm |
174 |
Yanez-Valdes; Guerrero; Barros-Celume; Ibanez |
Estados Unidos |
|
5 |
Align or perish: Social enterprise network orchestration in Sub-Saharan Africa |
173 |
Busch; Barkema |
Holanda |
|
6 |
Pathways to social value and social change: An integrative review of the social entrepreneurship literature |
172 |
Hietschold; Voegtlin; Scherer; Gehman |
Estados Unidos |
|
7 |
Advancing Social Entrepreneurship Research: A Morphological Analysis and Future Research Agenda |
171 |
Bhardwaj; Weerawardena; Srivastava |
Inglaterra |
|
8 |
Transformative service research, service design, and social entrepreneurship: An interdisciplinary framework advancing wellbeing and social impact |
159 |
Alkire; Mooney; Gur; Kabadayi; Renko; Vink |
Inglaterra |
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9 |
Research on Social Enterprises from an Emerging Economy-Systematic Literature Review and Future Research Directions |
152 |
Gupta; Srivastava |
Inglaterra |
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10 |
SHEstainability: how relationship networks influence the idea generation in opportunity recognition process by female social entrepreneurs |
149 |
Spiegler; Halberstadt |
Suíça |
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11 |
When the business is circular and social: A dynamic grounded analysis in the clothing recycle |
146 |
Costanza |
Inglaterra |
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12 |
Social Entrepreneurship Opportunities via Distant Socialization and Social Value Creation |
146 |
Kamran; Khaskhely; Nassani; Haffar; Abro |
Suíça |
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13 |
An ecosystem view of social entrepreneurship through the perspective of systems thinking |
145 |
Bhardwaj, R; Srivastava, S; Bindra, S; Sangwan, S |
Estados Unidos |
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14 |
Social Entrepreneurship Orientation and Enterprise Fortune: An Intermediary Role of Social Performance |
142 |
Zafar; Wenyuan; Sulaiman; Siddiqui; Qalati |
Suíça |
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15 |
Deconstructing the Way in which Value Is Created in the Context of Social Entrepreneurship |
141 |
Hlady-Rispal; Servantie |
Estados Unidos |
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16 |
Social impact scaling strategies in social enterprises: A systematic review and research agenda |
138 |
Islam |
Inglaterra |
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17 |
Entrepreneurship Education and Social Entrepreneurial Intentions: The Mediating Effects of Entrepreneurial Social Network |
138 |
Hassan; Igel Shamsuddoha |
Suíça |
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18 |
A Quest for a Sustainable Social Enterprise Model: The Case of Amphawa Chaipattananurak, the Kingdom of Thailand |
136 |
Petison; Kantabutra |
Suíça |
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19 |
Starting up, not slowing down: Social entrepreneurial intentions in later working-life |
135 |
Djebali; Di Domenico; Saunders |
Inglaterra |
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20 |
Dynamic Capabilities of Social Enterprises: A Qualitative Meta-Synthesis and Future Agenda |
134 |
Bhardwaj; Srivastava |
Inglaterra |
Fonte: Autores, 2023.
Fazendo uma análise de origem, verifica-se que os 20 artigos com o maior número de citações são provenientes de apenas 5 países diferentes: Inglaterra (7), Estados Unidos (5), Suíça (5), Holanda (2) e Irlanda (1). Analisando esta classificação com a Tabela 2, verificamos que Estados Unidos e Inglaterra, nesta ordem, são os países com maior número de publicações. Entretanto, os demais países possuem uma classificação mais baixa, como a Holanda, que está na 11ª colocação, e a Suíça, no 15º lugar. Já a Irlanda, que na Tabela 7 possui o 2º artigo mais citado, não faz parte da tabela dos países com a maior quantidade de publicações.
2.2.8 Análise das palavras-chaves
Com o intuito de reforçar os principais temas encontrados nos estudos sobre o empreendedorismo social, uma análise sobre as palavras-chaves dos estudos foi realizada. Com o auxílio do software VOSviewer foi gerada a Figura 4, na qual consta as palavras-chaves mais encontradas nas publicações da presente análise. Por terem sido encontradas 933 palavras-chaves diferentes em todos os estudos, optou-se por analisar somente aquelas que possuem 15 ocorrências ou mais.
Figura 4 – Mapa de visualização da rede de coautoria em relação aos países
Fonte: Autores, 2023.
O filtro resultou num total de 17 palavras-chaves, separadas em 3 diferentes clusters:
- Cluster 1: as palavras destacadas nos indicadores verdes são “empreendedorismo social”, “empreendimento”, “gerenciamento”, “futuro”, “inovação social”, “negócios” e “empreendimentos”;
- Cluster 2: englobam as palavras destacadas nos indicadores azuis, que são “performance”, “impacto” e “sustentabilidade”;
- Cluster 3: são as palavras destacadas na cor vermelha, que são “inovação”, “empresa social”, “criação de valor”, “modelos de negócios”, “bricolagem”, “empreendedorismo” e “criação”.
Um destaque especial é feito para as palavras “empreendedorismo social” e “inovação”, reforçando, mais uma vez, a ideia de conexão entre essas duas ações.
É válido realizar uma análise das palavras-chaves que aparecem na Figura 4 mas que não foram incluídas nas strings de busca da pesquisa. Retirando as palavras “inovação social”, “empreendedorismo social” e “negócios” (e palavras derivadas destas), nota-se o surgimento de palavras que podem indicar alguns vieses de pesquisas, como: criação de valor, performance, gerenciamento, bricolagem, sustentabilidade, impacto e futuro. Tais palavras possuem uma estreita ligação com o tema do empreendedorismo social, indicando que estas são as principais abordagens utilizadas nas pesquisas atualmente.
3 CONCLUSÃO
O objetivo deste estudo foi compreender o panorama atual das pesquisas acerca do tema do empreendedorismo social, com o intuito de obter uma visão global sobre o desenvolvimento dos estudos, suas principais correntes e as lacunas que estão sendo notadas na atualidade (Massad; Fossari; Lapolli, 2017). ). Além da análise bibliográfica, ao estudar os dez artigos mais citados dentre os selecionados, foi possível obter as respostas para o objetivo citado.
A fim de solucionar o primeiro problema de pesquisa, Hota (2023) e Teasdale et al. (2023) destacam que houve um grande avanço nos estudos acerca do empreendedorismo social ao longo do tempo. Entretanto, a pandemia da Covid-19 impactou negativamente a produção científica, principalmente nos anos de 2021 e 2022 (Abramo; D’angelo; Mele, 2022). Ao analisar o progresso das pesquisas sobre o empreendedorismo social da década de 1990 até 2020, nota-se a transformação do foco de pesquisa, iniciando a nível individual e local, e avançando para uma visão organizacional, focado na inovação e na criação de valor de forma escalável (Persaud; Chandra Bayon, 2019).
De acordo com os resultados dessa pesquisa, em consonância com Cardella et al. (2021), os países mais produtivos da presente pesquisa são os Estados Unidos e a Inglaterra, sendo possível verificar a predominância das pesquisas em países desenvolvidos. Por mais promissoras que possam ser as pesquisas em tais países, é oportuno salientar que as empresas sociais são consideradas organizações primordiais no combate à pobreza, no empoderamento de mulheres e no crescimento inclusivo de mercados desfavorecidos (Bhardwaj; Weerawardena; Srivastava, 2023), realidade que é presente em maior peso nos países em desenvolvimento.
Colaborando com a discussão acima, ressalta-se a notável contribuição das instituições de países em desenvolvimento: a Tecnologico de Monterrey (México) foi a instituição com maior quantidade de pesquisas aqui selecionadas e a Thapar Institute of Engineering Technology (Índia), que dentre as 6 instituições mais produtivas, é a que possui o melhor resultado em citações. Tais constatações revelam o potencial produtivo que os países em desenvolvimento possuem na área da pesquisa, os quais se caracterizam também como ambientes que carecem de maior apoio de empresas que tenham como objetivo principal o desenvolvimento social das comunidades.
Ao abordar o segundo objetivo desta pesquisa através da análise das principais áreas correlacionadas, é perceptível o destaque da área de “Economia de Negócios”, presente em 62,9% das pesquisas. Isso se deve ao fato de que, diferentemente do que foi encontrado pelos autores Teasdale et al. (2023) na década de 90, na qual os empreendimentos sociais eram, em sua maioria, pertencentes a setores sem fins lucrativos, nos últimos anos os empreendedores desse ramo estão estudando maneiras de tornar a organização autossustentável financeiramente, de forma a contribuir para o desenvolvimento econômico da empresa e da sociedade ao seu entorno (Ahmad; Bajwa, 2023; Massad; Fossari; Lapolli, 2017; Teasdale et al., 2023).
É importante destacar também a presença, em muitos estudos, de pesquisas relacionadas ao impacto da rede de relacionamentos no desenvolvimento de um empreendimento social (Bhardwaj; Srivastava, 2021; Busch; Barkema, 2022; Yanez-Valdes et al., 2023). Os autores Busch e Barkema (2022) enfatizam que as redes são de extrema importância não só para ampliar o impacto das empresas sociais, mas também para garantir o seu sucesso ao longo do tempo, especialmente em países em desenvolvimento. Colaborando com essa visão, Yanez-Valdes et al. (2023) constataram que a inovação social não se encontra prioritariamente em pessoas com grande conhecimento, mas sim na interação comunitária do cotidiano, no qual são identificadas as principais necessidades e oportunidades de atuação.
Por fim, resultados citados acima corroboram com o terceiro objetivo desta pesquisa, que busca encontrar as novas áreas emergentes no campo do empreendedorismo social. Ao analisar os 10 artigos mais citados com o objetivo de entender as novas vertentes, foi notório, novamente, o destaque da área de “Economia de Negócios”, com ênfase na prática de gestão. Além disso, tiveram destaque estudos que buscam compreender como as redes de relacionamentos podem contribuir com o desenvolvimento dos empreendimentos sociais e auxiliar na alavancagem das soluções de impacto a larga escala. Tais estudos possuem como objetivo proporcionar soluções sociais ao maior número de pessoas possíveis.
Em relação às lacunas que se mostram presentes nos estudos sobre o empreendedorismo social, uma ênfase é dada para a escassez de pesquisas sobre a capacidade de escala das inovações, ou seja, como as políticas públicas, parcerias público-privadas e redes sociais podem criar modelos de negócios que permitam a disseminação em larga escala de inovações sociais bem-sucedidas (Persaud; Chandra Bayon, 2019; Yanez-Valdes et al., 2023). Contribuindo com esta pauta, faz-se necessário o desenvolvimento de um maior número de pesquisas teóricas e empíricas sobre o impacto dos fatores institucionais e capitais em relação a diferentes tipos de localização do empreendimento social (Persaud; Chandra Bayon, 2019).
Podem ser encontradas limitações na metodologia desta pesquisa, que optou por incluir somente Artigos e Artigos de Revisão, haja vista que estudos contidos em livros podem contribuir com os resultados aqui encontrados. Além disso, na análise das principais palavras-chaves, foram selecionadas somente aquelas que possuíam 15 ocorrências ou mais. Com isso, temas importantes que estão emergindo podem ter sido deixados de fora deste estudo.
Para concluir, destaca-se novamente a importância do desenvolvimento de pesquisas de qualidade nos países em desenvolvimento, pois neles é possível vivenciar e compreender as mazelas existentes na sociedade e buscar alternativas reais e aplicáveis para gerar um impacto social positivo. Essa é uma linha de investigação interessante para pesquisas futuras. Além disso, um campo de investigação emergente e que necessita de aprofundamento diz respeito a como alavancar as soluções dos empreendimentos sociais de forma que ele possa ser replicável em diversas localidades e países. Para finalizar, pesquisas práticas sobre redes de relacionamento entre empreendimentos sociais, órgãos públicos e empresas privadas é um campo de pesquisa ainda pouco explorado, com potencial para trazer importantes resultados.
REFERÊNCIAS
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