O QUE SE DISCUTE SOBRE A APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL EM BIBLIOTECAS?
análise da produção do campo informacional
Gabriela Mendes Rodriguez[1]
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
rodriguezgm97@gmail.com
Dayanne da Silva Prudencio[2]
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
dayanne.prudencio@unirio.br
______________________________
Resumo
O estudo apresenta o mapeamento de estudos nacionais e internacionais que discutem sobre possíveis a aplicação de Inteligência Artificial em bibliotecas. As fundamentações teóricas foram estabelecidas por meio de uma pesquisa exploratória de materiais bibliográficos, indexados na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação, Library Information Science & Technology Abstracts e Web of Science. A cobertura de trabalhos foi de 2010 a 2023. Trata-se de pesquisa exploratória, utiliza pesquisa bibliográfica como método, análise de conteúdo como técnica e abordagem qualitativa. Em cada um dos trabalhos aplica três unidades de análise a saber: o impacto da Inteligência Artificial no trabalho bibliotecário, os desafios da aplicação da Inteligência Artificial em bibliotecas e dilemas éticos envolvidos com tal implementação. Conclui que a literatura do campo é superficial nas discussões, com maior ênfase na indicação de tecnologias, porém com pouco debate sobre os desafios inerentes à integração da Inteligência Artificial nas unidades de informação, incluindo questões éticas, treinamento de profissionais, custos associados e automação de funções. Conclui-se com reflexões sobre as perspectivas futuras para o campo da Inteligência Artificial na Biblioteconomia. Finaliza com reflexões sobre as perspectivas futuras para o debate do tema no contexto brasileiro.
Palavras-chave: biblioteconomia; inteligência artificial; tecnologias emergentes em bibliotecas; inovação em serviços bibliotecários.
WHAT IS DISCUSSED ABOUT THE APPLICATION OF ARTIFICIAL INTELLIGENCE IN LIBRARIES?
analysis of the information field production
Abstract
The study presents the mapping of national and international studies discussing the potential application of Artificial Intelligence in libraries. The theoretical foundations were established through an exploratory search of bibliographic materials indexed in Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação, Library Information Science & Technology Abstracts and Web of Science. The coverage of works spanned from 2010 to 2023. It is an exploratory research utilizing bibliographic research as the method, content analysis as the technique, and a qualitative approach. Each of the works applies three units of analysis, namely: the impact of Artificial Intelligence on library work, the challenges of applying Artificial Intelligence in libraries, and the ethical dilemmas involved in such implementation. The study concludes that the literature in the field is superficial in discussions, with a greater emphasis on technology recommendations, but with little debate on the inherent challenges of integrating Artificial Intelligence into information units, including ethical issues, professional training, associated costs, and function automation. It ends with reflections on future prospects for Artificial Intelligence in Librarianship and concludes with reflections on future prospects for discussing the topic in the Brazilian context.
Keywords: library science; artificial intelligence; emerging technologies in libraries; innovation in library services.
¿QUÉ SE DISCUTA SOBRE LA APLICACIÓN DE LA INTELIGENCIA ARTIFICIAL EN BIBLIOTECAS?
análisis de la producción del campo informacional
Resumen
El estudio presenta un mapeo de estudios nacionales e internacionales que discuten la posible aplicación de la Inteligencia Artificial en bibliotecas. Los fundamentos teóricos se establecieron mediante una búsqueda exploratoria de materiales bibliográficos, indexados en Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação, Library Information Science & Technology Abstracts e Web of Science. La cobertura de trabajos fue del año 2010 al 2023. Se trata de una investigación exploratoria, utilizando como método la investigación bibliográfica, como técnica el análisis de contenido y un enfoque cualitativo. En cada uno de los trabajos se aplican tres unidades de análisis, a saber: el impacto de la Inteligencia Artificial en el trabajo bibliotecario, los desafíos de la aplicación de la Inteligencia Artificial en las bibliotecas y los dilemas éticos que conlleva dicha implementación. Se concluye que la literatura en el campo es superficial en sus discusiones, con mayor énfasis en la indicación de tecnologías, pero con poco debate sobre los desafíos inherentes a la integración de la Inteligencia Artificial en las unidades de información, incluyendo cuestiones éticas, formación profesional, costos asociados. y automatización de funciones. Concluye con reflexiones sobre las perspectivas futuras para el campo de la Inteligencia Artificial en la Biblioteconomía. Finaliza con reflexiones sobre las perspectivas futuras del debate sobre el tema en el contexto brasileño.
Palabras clave: biblioteconomía; inteligencia artificial; tecnologías emergentes en bibliotecas; innovación en los servicios bibliotecarios.
1 INTRODUÇÃO
Em 2011, na Hannover Fair[3], Alemanha, foi criado o termo Industrie 4.0, em português Indústria 4.0[4], comparação semelhante ao que representaria a Quarta Revolução Industrial. Oztemel e Gursev (2020) propõem a seguinte definição para o termo I4.0:
A Indústria 4.0 é uma filosofia de produção que inclui sistemas de automação modernos com níveis de autonomia, trocas de dados flexíveis e efetivas que encobrem a implementação da próxima geração de tecnologias de produção, inovação em design e produção mais pessoal e mais ágil. Assim como produtos personalizados frutos do output de dados (Oztemel; Gursev, 2020, p. 129, tradução nossa).
Neste contexto, as bibliotecas atuam como um ponto focal para o acesso a recursos de informação essenciais para o avanço de inovações e soluções. Adicionalmente, têm a função de manter seus usuários informados sobre as novas tecnologias e sua aplicabilidade para otimizar a eficiência e produtividade (Oztemel; Gursev, 2020).
Para Hussain (2020), no âmbito da Biblioteconomia, as práticas informacionais na era da I4.0 serão predominantemente moldadas pela utilização da Inteligência Artificial (IA) para aprimorar os produtos e serviços de informação, implementação de Internet das Coisas nos ambientes informacionais e a gestão de dados.
Antes de avançarmos, é importante contextualizar que a IA é um campo de conhecimento que surgiu na década de 1950 e que já teve diferentes fases de desenvolvimento. Na visão de Taulli (2020), com o crescimento de IA do tipo generativa, há uma possibilidade de se tornar uma “tecnologia de uso geral”.
Portanto, explorar e refletir sobre as aplicações, os desafios, oportunidades e responsabilidades associados aos usos de IA é uma necessidade colocada a diferentes campos de conhecimento e espaços de prática.
No contexto das bibliotecas, a aplicação da IA pode representar uma mudança significativa na forma como estas lidam com a organização e a disseminação da informação, além de trazer impactos em outros processos biblioteconômicos (Prudencio; Rodriguez, 2023).
Desta forma, questionamo-nos: quais as discussões sobre IA no contexto das bibliotecas apresentadas na literatura?
Destarte, o estudo de natureza exploratória e abordagem qualitativa examina à luz de um corpus definido de trabalhos as discussões estabelecidas sobre IA no contexto das bibliotecas.
Subsequente, delinearam-se os seguintes objetivos específicos: caracterizar o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) segundo o diagrama das quatro ondas; apresentar possíveis usos de inteligência artificial nas bibliotecas; discutir os desafios de implementação e adoção da inteligência artificial nas bibliotecas.
O trabalho inicia-se com a contextualização do tema. Em seguida, apresentamos nossos procedimentos metodológicos. Posteriormente, delineamos nossa abordagem teórica para contextualizar a temática investigada e a análise realizada. Subsequentemente, relacionamos os resultados de pesquisa e considerações finais.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo bibliográfico, de natureza exploratória (quanto ao seu objetivo), e que analisa e demonstra os resultados com abordagem qualitativa.
A partir da revisão buscamos identificar trabalhos majoritariamente focados no tema do uso da IA em bibliotecas e unidades de informação.
Iniciamos realizando um levantamento bibliográfico para selecionar estudos que pudessem nortear e embasar o referencial teórico e as discussões apresentadas na seção 4. As fontes consultadas para a pesquisa em tela [5]foram: BRAPCI, LISTA e Web of Science. A cobertura de trabalhos foi de 2010 a 2023, em inglês e português, sendo feita pesquisa em título e palavras-chave.
Os termos pesquisados foram: “Artificial intelligence and library”; “Artificial intelligence and library services innovative”; “Artificial intelligence and libraries”; “Artificial Intelligence and impacts libraries” e “Inteligência artificial and bibliotecas”.
Quadro 1 – Seleção inicial de materiais por fonte de informação
BASE DE DADOS |
NÚMERO DE RESULTADOS ANTES DA SELEÇÃO |
BRAPCI |
3 |
LISTA |
19 |
Web of Science |
8 |
Total de trabalhos selecionados |
30 |
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
Para analisar os documentos com abordagem qualitativa, adotamos a metodologia de análise de conteúdo, seguindo orientação de Zanella (2012, p.125).
Quadro 2 – Procedimentos de análise
ETAPA |
O QUE FOI REALIZADO |
DESFECHO |
pré análise |
leitura do resumo e introdução |
seleção do trabalho ou não |
análise do material |
leitura do trabalho na íntegra |
seleção do trabalho ou não |
tratamento dos dados |
leitura do trabalho na íntegra |
criação de categorias de análise |
inferência |
leitura do trabalho na íntegra |
fichar o trabalho na análise de resultados |
interpretação |
síntese do trabalho |
redação |
Fonte: Dados da pesquisa (2024) a partir de Zanella (2012).
Desta forma, eliminamos os trabalhos que se repetiram ou fora de escopo, restando aqueles que efetivamente tratassem da aplicação da IA a bibliotecas. Ao fim e a cabo, a amostra final é representada no quadro 3.
Quadro 3 – Amostra de materiais por fonte de informação
BASE DE DADOS |
NÚMERO FINAL |
BRAPCI |
2 |
LISTA |
8 |
Web of Science |
6 |
Total de trabalhos selecionados |
16 |
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
Na etapa de tratamento dos dados foram constituídas algumas categorias, a saber: aplicação da IA a bibliotecas; impacto da IA no trabalho; desafios da aplicação da IA em bibliotecas; ética da IA. Portanto, cumprindo a etapa de inferência.
Portanto, categorias foram do tipo misto de construção, segundo construção de Laville; Dionne (1999, p. 219) “O modelo misto situa-se entre os dois, servindo-se dos dois modelos precedentes: categorias são selecionadas no início, mas o pesquisador se permite modificá-las em função do que a análise aportará”.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Qualquer estudo que se debruçar a avaliar quantitativamente o número de publicações relacionadas ao tema da IA, verificará um grande aumento de publicações nos últimos três anos. O incremento do número de resultados sugere que a IA deixou de ser apenas um campo de estudo restrito a nichos especializados como o da Computação e vem tornando-se uma área de interesse interdisciplinar.
Para Legg e Hutter (2007 apud Sousa, 2021, p. 21), IA são “sistemas computacionais que podem aprender de forma adaptativa a resolver tarefas, buscando se autoajustar para atingir um dado objetivo”.
Nesta linha, verificam-se diferentes subcampos, que em sua especialização focam em tópicos específicos e técnicas particulares, desenvolvendo assim, seus objetivos, métodos e aplicações.
O primeiro e um campos dos mais notáveis é o Aprendizado de Máquina (Machine Learning), que envolve o desenvolvimento de algoritmos e modelos que permitem que os sistemas aprendam a partir de dados e experiências prévias.
Para El Naqa e Murphy (2015, p. 4, tradução nossa), algoritmos de aprendizado de máquina são “[...] um processo computacional que usa dados de entrada para realizar uma tarefa desejada sem ser literalmente programado [...] para produzir um resultado específico”.
Outro subcampo é o chamado Aprendizado Profundo (Deep Learning). Segundo Kumar (2021, p. 1554, tradução nossa), trata-se de “uma forma avançada de aprendizado de máquina que usa uma rede neural para prever o próximo valor com base nos valores anteriores”. O termo "profundo" refere-se à profundidade das camadas em uma rede neural. Ele aplica “modelos com um grande número de camadas de processamento de dados” (Sousa, 2021, p. 22).
Temos ainda, os Sistemas Especialistas (Expert Systems). Tais simulam o processo de tomada de decisão humano (Asemi; Ko; Nowkarizi, 2021). Assim, foram criados para simular a especialização humana de algum domínio específico (Gomes, 2010). São capazes de “apresentar conclusões sobre um determinado tema, desde que devidamente orientado e alimentado” (Gomes, 2010, p. 239-240).
Avançando, temo o Processamento de Linguagem Natural (Natural Language Processing).
Trata-se de um subcampo da Ciência da Computação que se concentra em permitir que os computadores entendam a linguagem de uma forma ‘natural’, como os humanos fazem” (Beysolow II, 2018, p. 1, tradução nossa). O objetivo principal do PLN é permitir que as máquinas compreendam, interpretem e gerem linguagem natural de maneira semelhante à forma como os seres humanos a usam.
O próximo é a Visão Computacional (Computer Vision), centrada em capacitar os computadores a interpretarem e entender informações visuais do mundo real, como imagens e vídeos. O objetivo é permitir que as máquinas processem, analisem e compreendam o conteúdo visual, de maneira semelhante à maneira como os seres humanos fazem. Ela engloba princípios, métodos e conceitos provenientes do processamento digital de imagens, reconhecimento de padrões, IA e computação gráfica (Wiley; Lucas, 2018, p. 28).
Por último, temos a Robótica; subcampo dedicado a criação e programação de robôs inteligentes que podem executar tarefas físicas de forma autônoma. “Os robôs são agentes físicos que executam tarefas manipulando o mundo físico. Para isso, eles são equipados com efetuadores como pernas, rodas articulações e garras” (Russell; Norvig, 2004 apud Gomes, 2010, p. 240).
Na robótica, a IA desempenha um papel crucial na capacidade dos sistemas robóticos de realizar tarefas autônomas. Isso é alcançado através da aplicação de técnicas de processamento de imagem e aprendizado de máquina em sistemas de IA avançados (Hodson, 2018; Mogali, 2014 apud Godinho, 2019).
Tendo apresentado, ainda que brevemente, a fundamentação teórica sobre IA, constructo basilar para a tecitura de ideias presentes neste estudo, a seguir apresentamos mediante as unidades de análise selecionadas, isto é, a cartografia da aplicação de IA em bibliotecas à luz do corpus de estudo selecionado.
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Nesta seção traçamos a interpretação que fizemos para os 16 trabalhos selecionados para o nosso corpus de análise, sempre com a orientação de análise prioritária das seguintes categorias: aplicação da IA a bibliotecas; impacto da IA no trabalho; desafios da aplicação da IA em bibliotecas; ética da IA.
Quadro 4 – Artigos analisados
REFERÊNCIA |
SEDGWICK, Martha. Librarian Futures in a Time of Transformational Tech. Against the Grain, [s. l.], v. 35, n. 3, p. 12, 2023. Disponível em: https://issuu.com/against-the-grain/docs/june_2023_v35-3. Acesso em: 15 jul. 2023 |
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Fonte: dados da pesquisa
Iniciamos nossa análise com a discussão de Sedgwick (2023). A autora reforça que apesar da IA não ser algo novo, o lançamento do ChatGPT é um grande avanço no quadro social e de usos, devendo impactar profundamente a forma como os bibliotecários trabalham. Como exemplo, cita a possibilidade de uso do ChatGPT na criação de registros MARC.
Todavia para Sedgwick (2023), a tecnologia não apresenta um risco de perda de postos de trabalho, mas uma oportunidade de ampliar o talento dos profissionais da informação, que se dedicariam a atividades de monitoramento informacional e gestão estratégica da informação.
Cox (2022) portanto, apresenta em sua produção os possíveis impactos que a IA pode ter nas bibliotecas e possíveis aplicações da IA em bibliotecas universitárias. No estudo o autor discute as ideias de Frey e Osborne (2017), que acreditam que algumas ocupações do contexto biblioteconômico, cuja centralidade das ações envolve processos rotineiros e burocráticos têm mais probabilidade de automação, como exemplo, citam o trabalho do “técnico de biblioteca”.
Na visão de Cox (2022, p. 367-368, tradução nossa) a IA poderia “[...] automatizar a rotina, libertando os trabalhadores para se concentrarem nos aspectos mais criativos e sociais do trabalho que estão além da automação”.
Assim enfatiza a interação entre a tecnologia e a natureza evolutiva da prática profissional. Destacando ainda a necessidade de os profissionais adquirirem novas competências e reconhecerem o potencial disruptivo da tecnologia.
Para contextualizar esse potencial, Cox (2022) discute a aplicação de IA em bibliotecas universitárias[6]. Nessa linha, algumas aplicações previstas pelo autor são: chatbots; análise de aprendizagem e de mídias sociais; automação robótica de processos de catalogação, classificação e o uso de sensores.
Por fim, Cox (2022) apresenta o uso da IA para “knowledge discovery” (em português “descoberta de conhecimento”). Sob tal ênfase as bibliotecas usariam IA para: licenciamento de produto proprietário a partir de mineração de texto; oferta de coleções de dados para análises; e apoio na construção de uma comunidade institucional de IA.
Destarte, o artigo examinado oferece muitas perspectivas diferentes quando se trata do uso de IA em bibliotecas universitárias. Embora entusiasmado com o tema, o autor mantém uma visão realista sobre a aplicação prática da IA destacando os elevados custos de implementação e a necessidade de treinamento profissional. Nessa linha, afiança que os potenciais aplicações examinadas levem um tempo considerável para ocorrer na prática.
Na pesquisa de Yoon, Andrews e Ward (2022) foram selecionadas seis tecnologias emergentes comumente consideradas parte da era da I4.0 e examinada as percepções de bibliotecários públicos e universitários da América do Norte sobre essas. Ao mesmo tempo, ocorreu a verificação da posição atual da adoção destas tecnologias.
Nesta linha, as tecnologias selecionadas foram: IA; internet das coisas; big data; robôs; computação em nuvem; realidade aumentada/virtual.
Os autores iniciam seu debate explicando que há pelo menos 10 anos, há tecnologias de IA integradas ao cotidiano das bibliotecas, citam como exemplo: as aplicações de elaboração online de referências, os chatbots e os robôs de guarda de acervo.
Segundo Yoon, Andrews e Ward (2022), a utilização de robôs capazes de executar tarefas perceptivo-motoras, sob supervisão direta ou por instruções pré-programadas, oferece um meio econômico de ampliar o horário de serviço da biblioteca e atender a uma base maior de usuários. Citam ainda o suporte por chat e assistência baseada em localização, contribuindo para uma melhor otimização dos motores de busca e, consequentemente, melhorando os resultados de aprendizagem dos alunos.
Outro exemplo é a prática de desenvolvimento de coleções baseada em dados, o autocheckout/devolução e serviços de avisos ao leitor sobre novos itens incorporados ao acervo.
Yoon, Andrews e Ward (2022) são taxativos ao mencionar a necessidade de treinamento ou educação para bibliotecários em IA e tecnologias relacionadas. Os autores afirmam que, com o devido preparo, os bibliotecários podem desempenhar um papel crucial na aplicação da IA.
Pence (2022) inicia seu artigo contextualizando o que é IA e em perspectiva mais modesta, descreve que a forma mais comum e de entrada para a adoção de IA pelas bibliotecas é a partir das Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicação) de busca. Nessa monta, recomenda primeiro a experimentação de tecnologias gratuitas de busca avançadas baseadas em IA, como a API do ChatGPT. Havendo índices de satisfação adequados, os investimentos financeiros poderão ser considerados.
Pence (2022) argumenta que na atualidade a maioria do orçamento de uma biblioteca é empregado na assinatura de revistas digitais, bancos de dados e compra de livros digitais, aplicando menos de 10% na compra de livros impressos. Explica, porém, que a mensuração do uso deste conteúdo digital é complexa, especialmente quando os dados vêm de sistemas diversos e incompatíveis.
Desta forma, argumenta que a IA pode oferecer uma solução para organizar e apresentar essas informações de maneira mais eficaz. Permitindo que a biblioteca identifique as mudanças nas necessidades de informação e responda eficazmente a essas mudanças (Pence, 2022).
Continua sua discussão sobre Inteligência Artificial em bibliotecas, mencionando o uso de Big Data para "analisar diversos fluxos de informação e estabelecer fluxos de dados inteligentes e confiáveis de alta qualidade (Pence, 2022, p. 136, tradução nossa).
Para ilustrar, as bibliotecas podem proporcionar aos usuários acesso a diversos bancos de dados, seja proprietários ou de acesso livre, destacando os mais relevantes para um projeto específico e guiando-os através das peculiaridades de cada um (Pence, 2022).
Outro possível uso da IA em bibliotecas, segundo Pence (2022), é o uso de assistentes pessoais virtuais alimentados por IA. Assistentes de voz podem ser alocados para complementar a equipe. Liberando bibliotecários humanos para lidar com situações mais complicadas e diferenciadas.
Apresenta ainda, a utilização de robôs para ajudar no arquivamento adequado de itens nas estantes e indexação mais eficiente de itens e bases de dados (Pence, 2022).
A última instância de uso de IA em bibliotecas citada pelo autor diz respeito a elaboração de citações. Apesar do potencial valioso desse uso, Pence (2022) acredita que estamos tratando do menos provável de se tornar realidade, pois necessitaria da mudança de comportamento de um número enorme de indivíduos. Além disso, o acesso do agente de IA à maioria da literatura é limitado devido aos paywalls. Ainda, a IA pode gerar tantas referências que o autor teria que filtrar a lista manualmente, o que comprometeria a eficácia da ideia (Pence, 2022). Outro problema apresentado é a questão da relevância de um artigo em um sistema de busca.
Pence (2022) identifica desafios para a aplicação de seus insights, incluindo regras de licenciamento e direitos autorais para materiais digitais, limitações orçamentárias e a competição das bibliotecas com empresas comerciais por especialistas em IA.
Luca, Narayan e Cox (2022) iniciam destacando a onda de entusiasmo em torno da IA, mas que apesar disso existem preocupações éticas e o design e uso responsável da automação.
A IA tem vários usos em bibliotecas, incluindo aprendizado de máquina para tarefas como clustering automatizado e classificação de recursos. Adicionalmente, é usada para descobrir, vincular e desbastar coleções, além de empregar robôs para recuperação de livros. Outros usos incluem chatbot, assistente de voz e treinamentos de usuários.
Luca, Narayan e Cox (2022) realçam as “preocupações sociais mais amplas sobre a ética da IA e dos robôs em torno de seu impacto potencial na privacidade do usuário, na liberdade de expressão, no risco de preconceito e na perda de transparência na tomada de decisões” (Cordell, 2020; Padilla, 2019 apud Luca; Narayan; Cox, 2022, p. 185, tradução nossa).
Para Luca; Narayan; Cox (2022), se desenvolvida de forma responsável, a IA tem o potencial de ampliar iniciativas educativas que as bibliotecas costumam desenvolver e permitir que esses espaços se transformem em hubs de treinamento sobre usos coloquiais das ferramentas, sempre pautados por perspectivas éticas.
Zhang (2022) inicia seu artigo discutindo o potencial impacto da IA na automatização de processos biblioteconômicos como a recuperação de informação e a classificação.
De acordo com Zhang (2022), a IA também pode ser aplicada no processo de seleção e de aquisição de recursos informacionais e na prestação de serviços de assinatura mais precisos e personalizados aos usuários.
Segundo o autor, a falta de profissionais capacitados para lidar com a IA e de outros recursos são alguns dos motivos pelo qual o processo de gerenciamento de automação de bibliotecas é lento. Desta forma, para evitar estes problemas, a chave é garantir um apoio substancial em termos de dados. Um banco de dados de qualidade é indispensável para aproveitar os dados no avanço e implementação da automação de bibliotecas (Zhang, 2022).
Por mineração de dados, é possível descobrir informações implícitas e valiosas para a avaliação do serviço aos usuários da biblioteca. Há uma gama de redes neurais com capacidade de autoaprendizagem e autoadaptação e boa memória associativa como meios de métodos de mineração de dados (Zhang, 2022).
Zhang (2022) acredita no desenvolvimento de bibliotecas inteligentes, combinando tecnologia de IA com métodos de gerenciamento. A implementação de uma biblioteca inteligente, facilitada pela tecnologia de IA, não só diversifica as interações dos usuários, mas também aprimora os métodos de gestão e a relevância do conteúdo.
O objetivo final da biblioteca inteligente é “[...] fornecer um sistema de serviço interativo e inteligente aos usuários [...] e oferecer serviços diferentes de acordo com as preferências e necessidades de diferentes leitores” (Zhang, 2022, p. 2, tradução nossa).
Okunlaya, Abdullah e Alias (2022) focam sua investigação em bibliotecas universitárias e discutem o conceito de transformação digital nesses ambientes.
A IA pode utilizar uma vasta quantidade de dados, permitindo que “cada usuário da biblioteca tenha a oportunidade de receber uma abordagem educacional totalmente nova e exclusiva, projetada para satisfazer as necessidades específicas do aluno” (Okunlaya; Abdullah; Alias, 2022, p. 1870, tradução nossa).
O uso da IA em e por bibliotecas é endereçado pela ampliação do acesso à informação, de formas novas, por qualquer um, em qualquer lugar (Okunlaya; Abdullah; Alias, 2022).
Todavia, na visão dos autores, as bibliotecas ainda não têm um planejamento estratégico de adoção de IA em seus espaços. Desta forma, apresentam o que chamam de “Estrutura Conceitual de Serviços de Biblioteca Inovadores de Inteligência Artificial”, como forma de motivar os bibliotecários a adotar a IA em suas unidades de informação, preparando-as para os possíveis cenários disruptivos que a transformação digital traz.
Na ótica de Okunlaya; Abdullah; Alias (2022), as aplicações de IA em bibliotecas englobam: identificação por radiofrequência e etiquetas eletrônicas para auxiliar na localização de materiais de biblioteca, para facilitar a comunicação de dados em tempo real, o acesso inteligente aos serviços, o empréstimo de ativos físicos, o monitoramento dos usuários e detecção de roubo; acesso contínuo a um domínio crescente de textos completos de ativos online; robôs de referência; anexar itens de informação; sistemas especialistas que imitam o comportamento do bibliotecário para auxiliar na tomada de decisões e no controle; visão artificial e tecnologia biométrica no sistema de guarda de entrada da biblioteca; algoritmos de IA para influenciar os usuários a emprestar registros para aprimorar e agregar valor aos serviços da UI; sistemas inteligentes para conhecer as estatísticas das atividades dos usuários na biblioteca; sistemas especialistas para auxiliar os usuários a decidir sobre sua consulta de pesquisa; chatbots como interface como agentes virtuais.
Trazendo diversas oportunidades para a implementação de IA em bibliotecas, Okunlaya, Abdullah e Alias e (2022) concentram a investigação apenas na dimensão otimista do uso, sem mencionar qualquer tipo de desvantagem ou desafios.
Nessa linha, a pesquisa em tela justifica que a adoção da IA não é algo tão simples quanto o artigo faz parecer, exige recursos financeiros, treinamento e competências específicas, que podem não estar disponíveis para muitos profissionais bibliotecários e unidades de informação, especialmente no Brasil.
Gomes (2022) inicia sua discussão sobre IA em serviços de informação, citando aplicações já implementadas nas bibliotecas, tais como: resumos de publicações e indexação; interfaces de voz e chatbots; classificação de conteúdo com recurso a ontologias; criação automatizada de metadados; bases de dados digitais de livros em que o deep learning foi usado na digitalização, na optical character recognition no PLN; dados socioculturais extraídos de arquivos e bibliotecas através de machine learning; machine learning para transcrever e pesquisar em documentos históricos; resumos de artigos científicos, gerados com base no conhecimento de especialistas e em técnicas de PLN.
De acordo com Gomes (2022, p.159), “destaca-se, a utilização da IA ao nível do tratamento, organização e disponibilização de informação”. Outrossim, cita as recomendações da International Federation of Library Associations and Institutions sobre o papel das bibliotecas na literacia sobre IA e sobre questões de privacidade e ética são destacadas pela autora.
Na síntese de seu estudo, Gomes (2022) cita o estudo de Garcia-Febo (2019) e apresenta que qualquer uso de IA em bibliotecas, deve pautar-se por preocupações sobre privacidade, liberdade intelectual, autoridade e acesso.
“[...] a importância das aplicações de inteligência artificial no apoio aos processos técnicos e administrativos disponibilizados pelas bibliotecas acadêmicas estão relacionadas à Gestão do Conhecimento” (Al-Aamri; Osman, 2022, p. 567, tradução nossa).
Desta forma, os autores afirmam que a IA pode oferecer benefícios no fornecimento de informações aos usuários, usando machine learning, sistemas especialistas e robôs para apoiar a recuperação da informação (Al-Aamri; Osman, 2022). Também é citado o uso de IA em: serviço de referência; identificação por radiofrequência de dados e registros bibliográficos; robôs para acompanhar a movimentação dos itens nas prateleiras; acompanhar o status dos itens (empréstimos, devoluções, operações técnicas); calcular o número de visitantes e suas movimentações e direcioná-los para os recursos que necessitam.
Aamri e Osman (2022) listam desafios na aplicação de IA em bibliotecas, incluindo a inaptidão dos funcionários com tais tecnologias e o pouco interesse dos gerentes em motivar seus colaboradores a entenderem o assunto. Nesta linha, recomendam que todos os envolvidos sejam submetidos a oficinas de capacitação.
Segundo Bi et al. (2022), as aplicações de IA em bibliotecas se concentram a partir de alguns subcampos de domínio, a saber: Aprendizado Profundo (Deep Learning), Processamento de Linguagem Natural (Natural Language Processing) e Sistemas Especialistas (Expert Systems).
Para os autores é nos processos de recuperação de informação, utilizando-se de PLN que a IA desponta tecnologia útil para as bibliotecas. Sob esta perspectiva são listadas algumas aplicações de tecnologias de IA em bibliotecas: PLN em motores de busca, sistemas automáticos de resposta a perguntas; aprendizagem profunda aplicada em domínios com dados estatísticos; sistemas de recomendação de livros e artigos; serviço de ocupação de espaços envolvendo reconhecimento facial, sensor ultrassônico e etapas de autorização; arquivamento, inventário e localização de livros na estante usando código de barras e reconhecimento óptico de caracteres baseado em aprendizagem profunda.
Os autores chamam a atenção para as potencialidades, mas alertam que os altos custos de implementação destas tecnologias podem ser um obstáculo a tal desenvolvimento.
Bradley (2022) afirma que “a profissão bibliotecária terá de se envolver com uma série de definições e enquadramentos ao implementar tecnologias de IA na prática e influenciar a regulamentação da IA” (Bradley, 2022, p. 190, tradução nossa).
A autora expressa preocupação com os dilemas éticos da IA destacando algoritmos tendenciosos e a falta de clareza na origem e reutilização de dados.
No que tange aos usos de IA em bibliotecas, (Bradley, 2022) menciona a API de resumos de evidências; PLN auxiliando no processamento de texto e análise de discurso; reconhecimento óptico de caracteres de textos históricos e recomendações por algoritmos.
Em linhas gerais, o estudo fornece uma visão positiva, mas também cautelosa da IA em bibliotecas. Se por um lado destaca os usos potenciais, por outro apresenta possíveis conotações negativas da implementação da IA.
Asemi, Ko e Nowkarizi (2021) afirmam que a IA é mais utilizada em bancos de dados científicos e sistemas de bibliotecas (Asemi; Ko; Nowkarizi, 2021).
Para os autores algumas aplicações de IA incluem: catalogação, desenvolvimento de coleções, indexação de assuntos, serviço de referência, controle e circulação de documentos.
Assim como Cox (2022), os autores acreditam que a automação não finda a utilidade dos serviços bibliotecários humanos. Pelo contrário, o ser humano fica dispensado das tarefas rotineiras, dando-lhe mais tempo para tarefas que exigem a sua inteligência” (Asemi; Ko; Nowkarizi, 2021, p. 414, tradução nossa).
Também fazem menção ao uso de robôs em bibliotecas, especialmente na localização de materiais e arquivamento (Asemi; Ko; Nowkarizi, 2021).
Embora, expliquem cada um desses possíveis usos, o estudo não promove uma discussão sobre os desafios inerentes ou possíveis desvantagens associadas à implementação destas tecnologias. Deixando uma lacuna na compreensão abrangente do impacto e das considerações críticas relacionadas a esse avanço tecnológico no contexto bibliotecário.
Cox e Mazumdar (2022) argumentam que o uso de IA em bibliotecas está em seu estágio inicial e que existem diversas possibilidades para seu uso no acesso mais eficiente ao conhecimento.
Os autores detalham aplicações de IA em bibliotecas, incluindo: treinamento de modelos para previsão de resultados; segmentação automática de visitantes; sistema de recomendação em tempo real; análise de grandes volumes de texto com PLN; identificação de palavras-chave significativas para explicar a evolução de tópicos; conversão de gravações de história oral em texto com PLN; digitalização de manuscritos via reconhecimento óptico de caracteres; exame de imagens para identificação de objetos; classificação de livros com PLN; gerenciamento de repositórios e análise de uso de recursos; serviços de metadados e apreciação de citações com mineração de dados; preservação de bancos de dados de imagens e vídeos com processamento; assistentes digitais que interagem com os usuários, unindo reconhecimento de fala, sistemas de recomendação e PLN; IA para mecanismos de pesquisa, extração de metadados, desambiguação de autores e extração de tabelas; robôs para automatização de tarefas administrativas; IA para descrição de coleções de bibliotecas; criação de revisões sistemáticas da literatura com IA; chatbots para responder às perguntas dos usuários e crítica de aprendizagem.
Se por um lado, os autores trazem um amplo rol de aplicações, por outro, dedicam boa parte do escrito as preocupações sobre essas, incluindo prioritariamente éticos e como a IA impactará o emprego e a igualdade, a diversidade e a inclusão nas bibliotecas (Cox; Mazumdar , 2022).
Apesar destes desafios, Cox; Mazumdar (2022) concluem que as desigualdades não são pré-determinadas e podem ser combatidas através de iniciativas que promovam a expansão de competências e a inclusão.
Ao fim e ao cabo, a obra merece destaque em suas discussões sobre as aplicações específicas de IA em bibliotecas e por, de maneira realista, debater os possíveis desafios e desvantagens que essas aplicações podem trazer.
Tait (2022) acredita que a Biblioteconomia sempre foi uma área que se interessa por inovações tecnológicas “para envolvimento do usuário e prática profissional mais ampla” (Tait, 2022, p. 256, tradução nossa).
Segundo a autora, as bibliotecas já apresentam um progresso notável na utilização de aprendizado de máquina para chatbot. Agora o que desponta é o uso de robôs, como uma nova forma de tecnologia autônoma. Todavia, por envolver grandes volumes de dados, suscita preocupações éticas. Para que os bibliotecários estejam preparados para entender e orientar conscientemente o impacto dessas tecnologias, é crucial compreender a base educacional necessária para avaliar essas oportunidades, contribuindo assim para discussões relevantes sobre IA e robôs alinhadas aos valores profissionais bibliotecários fundamentais (Tait, 2022).
A autora cita um obstáculo significativo da implementação de robôs em bibliotecas: treinamento de pessoal, especialmente em áreas rurais distantes dos centros urbanos. Embora os robôs tenham o potencial de melhorar as experiências de aprendizagem, as suas funções devem basear-se numa pedagogia sólida e em considerações éticas.
Tait (2022) discute que o desenvolvimento curricular é pressionado pelas mudanças sociais e o ensino da Biblioteconomia e da CI precisam se adaptar às novas exigências, particularmente em termos de governança e ética. Para a autora, as áreas poderiam contribuir com conhecimentos especializados em temas como governança e preservação de dados.
A autora segue afirmando que embora a Biblioteconomia geralmente aceite as tecnologias, a plena integração destes avanços na prática profissional tende a ser um processo mais lento. Sendo necessário que a profissão não apenas acompanhe as transformações tecnológicas, mas seja líder em influenciar seu desenvolvimento. Algumas áreas que serão significativamente impactadas pelo desenvolvimento tecnológico incluem serviços virtuais ou online, serviço de referência, digitalização e processamento e aprendizagem de dados (Tait, 2022).
A autora cita que as aplicações futuras da IA na pesquisa e prática da Biblioteconomia e da Ciência da Informação "provavelmente dependerão da catalogação e dos metadados para executar tarefas como coleções e análise de assuntos, entre outras" (Tait, 2022, p. 266, tradução nossa).
Fernandez (2020) debruça-se a discutir a adoção de tecnologias de IA no contexto pandêmico de COVID-19 e como as bibliotecas se apropriaram.
O estudo menciona algumas aplicações, mas não as discute e por fim, sugere aprofundamentos nas possibilidades trazidas pela IA para analisar informações em tempo real e busca de padrões (Fernandez, 2020).
Finalizando nossa análise de trabalhos, temos o estudo de Neves (2020). A autora inicia seu artigo discutindo os avanços tecnológicos na I4.0 e as concepções culturais equivocadas sobre o que é IA e do que ela é capaz.
A autora foca na chamada computação cognitiva[7] “[...] uma disciplina que integra conceitos de neurobiologia, de psicologia cognitiva, de ciência da informação e de inteligência artificial, [...] com isso permite realizar análises de dados apurados, gerando informações com alto nível de complexidade do ponto de vista da linguagem, aprendizado e interações com os sujeitos integrantes” (Neves, 2020, p. 187-189).
A autora argumenta que o uso de recursos tecnológicos é essencial para facilitar o acesso à informação e melhorar a vida acadêmica. Como exemplo, cita: assistentes pessoais, chatbot e APIs apoiadas em machine learning. Segue destacando a potencialidade de uso do learning analytics [8]no campo informacional (Neves, 2020).
Neves se aprofunda na questão da curadoria digital. Fundamental para a computação cognitiva, ela se destaca como uma disciplina interdisciplinar que aprimora conjuntos de dados e processos operacionais e estratégicos. O Digital Curation Center (DCC) a define como a prática de manter e agregar as informações digitais, envolvendo a gestão ativa e a preservação desses recursos. A preservação digital destaca a importância da curadoria digital para garantir a acessibilidade contínua e recuperação eficiente dos recursos. A Biblioteconomia se relaciona com a curadoria digital na questão de acessibilidade e recuperação de informações.
Com base em sua pesquisa, Neves (2020) menciona como possibilidades de aplicação de computação cognitiva em unidades de informação: aprimoramento do processamento de informações; suporte à análise; técnicas de aprendizagem de máquinas incorporadas aos sistemas de automação; atuação dos profissionais como especialistas capazes de intermediar os usuários com a IA; identificação de cabeçalhos de livros eletrônicos com PLN; interação e assistência à investigação dos usuários com chatbots; bibliotecas como espaços makers; categorização automática de conteúdos; mineração de traços digitais, por meio de IA, na melhoria de tomada de decisões com traços digitais em grande escala.
Tal como alguns dos outros trabalhos discutidos e apresentados na pesquisa em tela, Neves (2020) destaca aplicações interessantes de IA em bibliotecas, mas não aborda muito os possíveis desafios e complicações que estas aplicações podem trazer para a profissão bibliotecária. Por fim, também destaca a importância dos bibliotecários adquirirem habilidades e tornarem-se capazes de fazer uso das novas tecnologias de IA.
O exame destes trabalhos, permitiram-nos observar possíveis usos de IA nas bibliotecas. Nesta monta, é possível concluir que a aplicação dessas tecnologias nas bibliotecas já é uma realidade, ainda que não ampla. As preocupações éticas despontam como principal insegurança e os altos custos como possível barreira.
Há um consenso entre os autores sobre a necessidade de ampliar os processos de aprendizagem sobre essas tecnologias e sobre possíveis impactos de sua operação no mundo do trabalho informacional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diversas aplicações da IA, desde sistemas de recomendação, até a automação de processos bibliotecários, têm o potencial de transformar significativamente a Biblioteconomia, proporcionando maior eficiência, personalização de serviços e acessibilidade aos usuários.
No entanto, a jornada em direção a bibliotecas inteligentes não está isenta de desafios. A implementação das tecnologias de IA demanda considerações éticas, abordagens cuidadosas na coleta e uso de dados, a necessidade de capacitar profissionais da informação para interagir e colaborar com essas tecnologias avançadas e limitações financeiras, já bem conhecidas por muitos profissionais da informação.
A relação entre a I4.0 e as bibliotecas evidencia a importância de compreendermos as implicações da revolução tecnológica em andamento. A conexão de processos bibliotecários com a implementação de tecnologias emergentes como a Internet das Coisas e Big Data, e a adoção de abordagens inovadoras são aspectos cruciais para posicionar as bibliotecas como agentes significativos na era da transformação digital.
É imprescindível que os profissionais da informação mantenham seus olhares focados no futuro da profissão. A evolução constante da IA aumenta o potencial para bibliotecas mais acessíveis e serviços personalizados aos usuários.
O foco da Biblioteconomia não deve ser apenas sobreviver na era digital, ela deve prosperar, fazendo uso efetivo das novas tecnologias. Os bibliotecários não devem temer as transformações tecnológicas, mas sim se adaptar e se capacitar para estarem preparados para o futuro da profissão. Existe a necessidade de programas de treinamento e desenvolvimento que capacitem a compreensão e implementação eficaz da IA nas bibliotecas, e os currículos educacionais devem evoluir para suprir essa demanda.
É urgente o debate da implementação dessas tecnologias nas bibliotecas brasileiras pelo viés político, econômico, social e educacional. Sugere-se que as escolas de Biblioteconomia e o movimento associativo pensem em programas de treinamento formal conjuntos, bem como, que se reflita sobre uma agenda nacional no contexto regulatório.
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[1] Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
[2] Doutora em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ); Professora permanente do programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia da UNIRIO; Professora colaboradora do programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFF.
[3] Uma das maiores e mais importantes feiras industriais do mundo. Ela acontece anualmente na cidade de Hannover, na Alemanha.
[4] Doravante representado no texto como I4.0
[5] A pesquisa é recorte de um Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido em 2023 na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
[6] Mais de um autor analisado utiliza o termo “academic libraries”, um conceito não existente no Brasil. Para fins didáticos, utilizaremos o termo “bibliotecas universitárias”.
[7] Ancorada em aprendizado de máquina e PLN.
[8]análise de dados em larga escala e de maneira sistematizada (Neves, 2020, p. 193).