GESTÃO DO CONHECIMENTO E INOVAÇÃO NA EDITORAÇÃO CIENTÍFICA:
sustentabilidade e agilidade na formação de novos editores
Patrícia Nascimento Silva[1]
Universidade Federal de Minas Gerais
patricians.prof@gmail.com
Josiane Santos Lima[2]
Universidade Federal de Minas Gerais
josiane_slima@outlook.com
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Resumo
A Gestão do Conhecimento (GC) envolve o desenvolvimento de métodos, ferramentas, técnicas que facilitam o fluxo de conhecimento, bem como a recuperação e aplicação desse conhecimento para melhorias e inovações contínuas. Na editoração científica, a implementação eficaz de GC pode desempenhar um papel importante para a melhoria da qualidade e eficiência do processo editorial. O objetivo deste estudo foi documentar os registros de conhecimento e inovações realizadas nos procedimentos administrativos e no fluxo editorial da Revista, para sustentabilidade e agilidade na editoração científica. Buscou-se, especificamente, realizar um diagnóstico dos processos existentes no periódico, identificando lacunas e possíveis melhorias, para então implementar estratégias que facilitassem a transmissão de conhecimento e a inovação para formação contínua de editores entre setembro de 2023 e outubro de 2024. O estudo utilizou a pesquisa documental, em fontes sobre editoração científica, critérios de indexadores, boas práticas adotadas por outros periódicos da área e critérios da avaliação do último Quali Capes, além de analisar estatísticas e manuais do sistema Open Journal Systems para monitorar, atualizar e adequar o ambiente da Revista. Como resultados foram implementadas alterações no fluxo editorial, novas exigências para garantir a qualidade das submissões e a criação de artefatos e documentos, mantidos de forma online e armazenados em nuvem, para gestão e controle de todos os procedimentos do periódico. Todas essas ações resultaram em um maior controle de qualidade dos manuscritos, diminuindo o tempo médio de avaliação e otimizando todos os processos editoriais, contribuindo para a formação contínua e a capacitação de novos editores.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento; inovação; editoração científica; periódico científico; Ciência da Informação.
KNOWLEDGE MANAGEMENT AND INNOVATION IN SCIENTIFIC PUBLISHING
sustainability and agility in training new editors
Abstract
Knowledge Management (KM) involves the development of methods, tools and techniques that facilitate the flow of knowledge, as well as the retrieval and application of this knowledge for continuous improvement and innovation. In scientific publishing, the effective implementation of KM can play an important role in improving the quality and efficiency of the publishing process. The aim of this study was to document the records of knowledge and innovations made in the Journal's administrative procedures and editorial flow, for sustainability and agility in scientific publishing. Specifically, it sought to carry out a diagnosis of the journal's existing processes, identifying gaps and possible improvements, in order to implement strategies that would facilitate the transmission of knowledge and innovation for the ongoing training of editors between September 2023 and October 2024. The study used documentary research in sources on scientific publishing, indexing criteria, good practices adopted by other journals in the area and evaluation criteria from the latest Quali Capes, as well as analyzing statistics and manuals from the Open Journal Systems system to monitor, update and adapt the journal's environment. The results were changes to the editorial flow, new requirements to guarantee the quality of submissions and the creation of artifacts and documents, kept online and stored in the cloud, to manage and control all the journal's procedures. All these actions have resulted in greater quality control of manuscripts, reducing the average evaluation time and optimizing all editorial processes, contributing to the ongoing training and qualification of new editors.
Keywords: Knowledge management; innovation; scientific publishing; scientific journal; Information Science.
GESTIÓN DEL CONOCIMIENTO E INNOVACIÓN EN LA EDICIÓN CIENTÍFICA:
sostenibilidad y agilidadenlaformación de nuevos editores
Resumen
La gestióndelconocimiento (GC) implica eldesarrollo de métodos, herramientas y técnicas que facilitenelflujo de conocimiento, así como larecuperación y aplicación de este conocimiento para lamejora continua y lainnovación. Enlaedición científica, laaplicación eficaz de la GC puededesempeñarun papel importante enlamejora de lacalidad y laeficienciadelproceso editorial. El objetivo de este estudiofue documentar los registros de conocimiento y lasinnovaciones realizadas enlosprocedimientos administrativos y elflujo editorial de la Revista, para lasostenibilidad y laagilidadenlapublicación científica. Específicamente, se buscó realizar un diagnóstico de losprocesos existentes enla revista, identificando brechas y posiblesmejoras, conelfin de implementar estrategias que facilitenlatransmisión de conocimiento e innovación para laformacióncontinua de los editores entre septiembre de 2023 y octubre de 2024. El estudioutilizólainvestigación documental enfuentes sobre edición científica, criterios de indexación, buenasprácticas adoptadas por otras revistas del área y criterios de evaluación de los últimos Quali Capes, así como elanálisis de estadísticas y manualesdel sistema Open Journal Systems para monitorizar, actualizar y adaptar el entorno de la revista. Los resultados fueroncambiosenelflujo editorial, nuevos requisitos para garantizarlacalidad de losenvíos y lacreación de artefactos y documentos, mantenidosen línea y almacenadosenlanube, para gestionar y controlar todos losprocedimientos de la revista. Todas estas acciones se hantraducidoenunmayorcontrol de lacalidad de los manuscritos, lareduccióndeltiempomedio de evaluación y laoptimización de todos losprocesoseditoriales, contribuyendo a laformación continua y lacualificación de losnuevos editores.
Palabras clave: Gestión delconocimiento; innovación; publicación científica; revista científica; Ciencias de laInformación.
1 INTRODUÇÃO
A editoração científica desempenha um papel essencial na disseminação e validação do conhecimento, atuando como um mediador entre pesquisadores e a comunidade acadêmica. No contexto atual, marcado por um crescente volume de produção científica, o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e a criação do formato digital, novos recursos e plataformas têm sido incorporadas no fluxo editorial, exigindo que os editores se adaptem continuamente às inovações tecnológicas e às rápidas transformações desse ambiente (Araujo, 2015). Além disso, a indexação de periódicos em bases e portais institucionais está condicionada ao cumprimento de critérios específicos, o que requer a aplicação de boas práticas e políticas editoriais consistentes para assegurar uma avaliação positiva dos periódicos (ICMJE, 2023). Neste cenário, a Gestão do Conhecimento (GC) emerge como uma abordagem fundamental para aprimorar os processos editoriais e garantir a eficiência na comunicação científica.
A Gestão do Conhecimento refere-se a um conjunto de práticas e processos organizacionais que visam a criação, captura, compartilhamento e aplicação do conhecimento para melhorar a performance institucional. Segundo Cruz (2020), a GC é um processo contínuo que envolve não apenas a gestão de informações e dados, mas também a valorização do conhecimento tácito que reside nas experiências e habilidades dos indivíduos. Através da implementação de sistemas e ferramentas que facilitam o fluxo de informações, a GC promove uma cultura de aprendizagem e inovação dentro das organizações. Nos processos de gestão editorial, observa-se a necessidade de dialogar com a GC uma vez que este trabalho contribui significativamente para a elaboração de processos de gestão de informação e conhecimento para que os Editores possam elaborar estratégias tanto na editoração quanto no armazenamento e na administração das publicações científicas, nos processos de indexação, de internacionalização, gestão da equipe editorial e dos autores, bem como no acesso a fim de estabelecer devida comunicação e divulgação científica.
O objetivo deste relato de experiência foi documentar os registros de conhecimento e inovações realizadas nos procedimentos administrativos e no fluxo editorial da Revista XXX, para sustentabilidade e agilidade na editoração científica. Assim, buscou-se, especificamente, realizar um diagnóstico dos processos existentes no periódico, para identificar lacunas e possíveis melhorias, para então implementar estratégias que facilitassem a transmissão de conhecimento e a formação contínua de editores.
Este artigo é um registro do projeto XXX, desenvolvido na Universidade XXX, entre setembro de 2023 e outubro de 2024 e justifica-se para compartilhar práticas de GC e inovações possíveis para editoração científica, visando sua reprodutibilidade em outros periódicos científicos brasileiros que enfrentam diversos desafios, como a escassez de recursos humanos e orçamento.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,1998) considera os periódicos como um tipo de publicação seriada, definindo-os como uma publicação em fascículo ou volume, geralmente numerado, cronológica e/ou sequencialmente, sem umperíodo determinado paradeixarem de ser publicadas, no formato impresso ou não.
Com o surgimento do periódico científico eletrônico, o periódico científico se modificou na sua forma de produção, disseminação e armazenamento, com isso, os gestores dos periódicos e os agentes envolvidos no processo de publicação precisaram buscar formas de responder às demandas e necessidades das envolvidas no âmbito do mercado editorial e da comunicação científica (Santana; Francelin, 2016). Para Porto Junior e Oliveira (2016), essas modificações atingem a todos os envolvidos no processo de editoração: autores, editores, por consequência, atingem também os fluxos de produção, disseminação, utilização e gestão das informações. No periódico científico, as tecnologias da informação provocam alterações tanto nos processos como nos produtos.
Uma das alterações causadas pelo uso das tecnologias na produção dos periódicos e na disseminação da informação foi o aumento significativo na quantidade de informação disponível. Em meio à grande massa de informação, é preciso fazer uso de mecanismos que permitam avaliar e classificar essa produção. No Brasil, uma das formas mais utilizadas para a identificação de periódicos científicos de qualidade foi a avaliação Qualis Periódico, realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Recentemente foi anunciado o fim do Qualis, fechando com a avaliação 2021-2024 a ser publicada em 2025, mas ainda há várias incógnitas e indefinições.
Além disso, a presença dos periódicos em bases indexadoras também éutilizada como critério para que os periódicos sejam considerados de qualidade, considerando que os periódicos científicos precisam atender a um número mínimo de critérios e passam por uma equipe de avaliadores rigorosa antes de fazer parte dos seus acervos (Rios, 2017). Alguns dos critérios são: periodicidade, política de acesso aberto, revisão por pares, publicações em outros idiomas, entre outros.
De acordo com o Manual do Laboratório de Periódicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) os indexadores têm importante função, conforme descrito a seguir:
Os indexadores reúnem um conjunto de títulos de periódicos que passaram por um processo de seleção. Impulsionados pela internet, eles levam os dados sobre os artigos de periódicos indexados, ou ainda, seus resumos aos leitores. Os indexadores fornecem informações de artigos originais ao leitor para facilitar a localização do material de interesse sem que seja necessário procurar minuciosamente todos os periódicos da área em questão. Essas informações incluem, usualmente: autor; título do artigo; título do periódico; ano, volume e/ou número do fascículo; número de páginas; entre outros. (UFSC, 2015, p. 06).
Nesse sentido, a Gestão do Conhecimento surge como um elemento essencial para enfrentar os desafios impostos pelo ambiente digital e otimizar os processos editoriais. Nonaka eTakeuchi (1997) entendem a GC como um processo interativo de criação do conhecimento organizacional, definindo-o como a capacidade que uma empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas. Para Silva (2018), a gestão do conhecimento pode ser compreendida como um conjunto de ferramentas e técnicas que auxiliam na identificação, na utilização e no gerenciamento do conhecimento para que as organizações alcancem seus objetivos. Pode ainda favorecer a absorção de informações pelas organizações e sua transformação em conhecimento, com base numa combinação desse conhecimento com suas experiências, valores e regras internas.
Essa abordagem destaca a importância de uma gestão ativa e integrada do conhecimento, que não apenas organiza a informação disponível, mas também promove uma cultura de aprendizagem contínua dentro da organização. A partir desse entendimento, é fundamental considerar a classificação do conhecimento em suas dimensões explícita e tácita, conforme proposta por Polanyi (1967). O conhecimento explícito refere-se àquele que é formalizado, sistematizado e documentado. Ele é facilmente articulável e pode ser compartilhado de forma objetiva. Exemplos desse tipo de conhecimento incluem manuais, relatórios, procedimentos, dados e informações que podem ser facilmente comunicadas e transferidas. Por outro lado, o conhecimento tácito é mais subjetivo e pessoal, relacionado a experiências individuais e habilidades específicas. É um conhecimento que não pode ser facilmente codificado ou documentado; inclui intuições, percepções e habilidades práticas que uma pessoa desenvolve ao longo do tempo. Esse tipo de conhecimento é muitas vezes considerado um diferencial competitivo, pois está profundamente enraizado na experiência e no contexto dos indivíduos.
Integrando esses dois tipos de conhecimento, a GC cria um ambiente onde a informação não é apenas gerida, mas transformada em sabedoria organizacional, essencial para a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo. Assim, no contexto da editoração científica, a GC vem justamente para auxiliar os processos envolvidos nesse campo, favorecendo o pesquisar, planejar e aplicar da força-tarefa editorial (Cruz, 2020).
Adicionalmente, o conceito de Ciência Aberta ganha destaque no âmbito dos periódicos científicos, promovendo uma nova filosofia de transparência e acessibilidade na pesquisa. A Ciência Aberta refere-se a um movimento que busca democratizar o acesso ao conhecimento científico, permitindo que dados, métodos e resultados sejam compartilhados amplamente. Segundo Nascimento e Albagli (2019), a Ciência Aberta é um movimento colaborativo e aberto, com foco no uso da tecnologia para o compartilhamento e acesso à pesquisa” (Nascimento; Albagli, 2019, p. 7).Essa prática não apenas favorece a colaboração entre pesquisadores, mas também estimula a inovação e a reprodutibilidade dos estudos, características essenciais para o avanço da ciência. Ao integrar práticas de Ciência Aberta, os periódicos podem atender às crescentes demandas por maior transparência e responsabilidade na comunicação científica, contribuindo assim para um ecossistema de pesquisa mais robusto e colaborativo.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi caracterizada como exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa, e utilizou a pesquisa documental, em fontes sobre editoração científica, buscando atender os critérios de indexadores e requisitos das atividades editoriais, boas práticas adotadas por outros periódicos da área e critérios da avaliação do último Quali Capes, além de analisar estatísticas e manuais publicados no site do sistema Open Journal Systems (OJS) para monitorar, atualizar e adequar o ambiente da Revista.
Para a formatação do novo template da revista, foi realizada uma pesquisa exploratória em outros periódicos da área de comunicação e informação com o objetivo de identificar referências e boas práticas adotadas. Além disso, foi realizado um estudo das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para garantir a conformidade com os padrões editoriais nacionais. Essa mesma coleta de dados foi utilizada para a criação do formulário Notas da Obra e Conformidade com a Ciência Aberta, bem como na identificação de temáticas em destaque no campo da Ciência da Informação para a elaboração de seções especiais. No processo da criação das Notas da Obra, foram analisados os periódicos da área que já utilizam esse instrumento. Assim, o formulário foi desenvolvido a partir das boas práticas sugeridas pela SciELO no seu formulário de conformidade com a ciência aberta e pelo formulário de Notas da Obra do periódico científico Ato Z e do periódico Encontros Bibli.
Todos os processos do fluxo editorial foram mapeados e revisados. Para organizar e monitorar os processos editoriais, foram desenvolvidos novos instrumentos como checklists e revisados os já existentes, como as planilhas compartilhadas que refletem todas as etapas do fluxo editorial, com apoio ao sistema OJS, e foram adaptadas para melhor controle.
Foi desenvolvida uma estratégia para ampliar a presença digital da Revista, com a criação de perfis nas redes sociais Instagram e LinkedIn, escolhidas por sua relevância para a interação com profissionais e pesquisadores da área. As peças de divulgação científica com o próprio acervo da Revista XXX foram criadas na plataforma Canva. As mudanças e inovações foram implementadas entre setembro de 2023 e outubro de 2024.
4 RESULTADOS
Nesta seção serão apresentadas as mudanças e inovações realizadas para sustentabilidade do periódico, bem como para formação de novos editores científicos.
4.1 FLUXO EDITORIAL
No que se refere à gestão do fluxo editorial, foram implementadas novas validações e exigências para garantir a qualidade das submissões. O checklist de artigos foi reformulado, incluindo agora a exigência do preenchimento do formulário de Notas da Obra e Conformidade com a Ciência Aberta e a aplicação de ferramentas de detecção de plágio. Essas mudanças foram essenciais para fortalecer o controle de qualidade e assegurar a conformidade com as novas diretrizes adotadas pela revista. O novo fluxo é apresentado na Figura 1.
Figura 1 - Fluxo editorial da Revista XXX
Fonte: os autores.
O fluxo editorial da Revista XXX é composto por cinco etapas, a saber:
● Etapa 1: Aceite da submissão do texto pelos editores, onde é avaliado a pertinência no que se refere à aderência à política editorial, ao escopo da revista e às normas para submissão. Nesta etapa ocorre o rastreamento de similaridades, por meio da utilização de software para detecção de plágios;
● Etapa 2: Encaminhamento aos pareceristas, onde o artigo é avaliado quanto à originalidade, coerência, qualidade teórico-metodológica e contribuição para a pesquisa em Ciência da Informação, entre outros aspectos contidos no Formulário de Avaliação;
● Etapa 3: Revisão do manuscrito, os autores devem adequar o texto com base nos pareceres, caso necessário, e encaminhar no prazo estabelecido;
● Etapa 4: Aceite para publicação, envio do texto revisto pelos autores aos editores para confirmação de que as mudanças sugeridas pelos pareceristas foram adequadamente incorporadas no texto, bem como a revisão ortográfica, gramatical e estilística, autorizando sua inserção em um próximo número da revista.
● Etapa 5: Publicação do manuscrito, que inclui a diagramação final do texto, publicação nos formatos PDF e HTML, publicação dos pareceres e a elaboração de peças para divulgação científica.
Para melhor gestão e o controle dos processos editoriais, foram criados artefatos e documentos, mantidos online e armazenados em nuvem. Para isso, utilizou-se o Google Drive, plataforma de armazenamento em nuvem que oferece recursos versáteis de organização e compartilhamento de arquivos. A escolha dessa ferramenta foi motivada por seu fácil acesso e gratuidade, fatores que permitiram à equipe editorial gerenciar os documentos de maneira eficiente sem incorrer em custos adicionais, além de garantir que os membros pudessem acessar os materiais necessários de qualquer lugar. Na prática, o Google Drive foi estruturado para armazenar todos os artefatos necessários à gestão do conhecimento da revista, como manuais de procedimentos, checklists, modelos de documentos e outros materiais fundamentais para o processo editorial. Esses documentos não apenas documentam as práticas atuais, mas também servem como referência para novos editores, permitindo que o conhecimento acumulado seja preservado e facilmente acessível por todos.
As Diretrizes para Autores no site da revista foram revisadas e atualizadas para refletir as mudanças tanto no fluxo editorial quanto no template do periódico. Essa revisão incluiu uma atualização dos tipos de trabalhos aceitos, além da inserção da exigência relacionada à declaração de Notas da Obra, garantindo que os autores estejam cientes das novas normas e práticas exigidas pelo periódico.
4.2 ARTEFATOS E INSTRUMENTOS
Nos últimos cinco anos, o template da Revista não havia passado por reformulações significativas, o que gerou a necessidade de adequação em função de atualizações nas normas da ABNT, como a NBR 10520 - Citações em documentos, e a NBR 6023 - Referências, além de atender às exigências de indexadores. Para essa reformulação, foram consultadas várias normas, incluindo NBR 6021 - Publicação periódica técnica e/ou científica, NBR 6028 - Resumo, Resenha e Recensão, NBR 6024 - Numeração progressiva das seções de um documento, NBR 6032 - Abreviação de títulos de periódicos e publicações seriadas, e NBR 10525 - ISSN, entre outras. Como resultado, a nova formatação do template inclui elementos essenciais como o Digital ObjectIdentifier (DOI)[3], a vinculação dos autores e o resumo disponível em uma terceira língua, conforme os critérios dos principais indexadores, como Latindex, DOAJ, Portal de Periódicos da Universidade XXX, dentre outros que eram almejados pela Revista.
O processo editorial agora começa com um checklist de submissão (Figura 2), no qual os manuscritos são avaliados em relação a critérios como aderência ao escopo da revista, preenchimento correto de metadados em português e inglês, anonimização dos autores no texto, cumprimento do limite de palavras, registro do ORCID, adequação ao template, envio do documento Notas da Obra, verificação de plágio e titulação de mestre ou doutor. Após essa triagem, os manuscritos seguem para uma planilha de controle da etapa de avaliação (Figura 3). Esse documento registra informações como a liberação para avaliação, convites enviados aos pareceristas, aceites e prazos de entrega dos pareceres, além de etapas posteriores, como revisão e diagramação. Essa mesma planilha também é utilizada para a elaboração do documento Expediente, que registra e comprova a participação dos pareceristas em cada volume publicado.
Figura 2 - Checklist de submissão
Fonte: os autores.
Figura 3:- Planilha de controle
Fonte: os autores.
(Obs.: Foram suprimidas algumas partes da imagem para avaliação às cegas.)
Além disso, com o intuito de promover a transparência e a reprodutibilidade científica, a Revista implementou uma Política de Conformidade com a Ciência Aberta, a qual recomenda que todos os artigos publicados no periódico utilizem servidores de Preprint, depositem dados em repositórios e sejam submetidos a um processo de revisão aberta, em que tanto autores quanto revisores conhecem as respectivas identidades. A política também recomenda que os autores disponibilizem dados subjacentes ao manuscrito, como dados de pesquisa e códigos de programas, tornando os resultados mais acessíveis e verificáveis. Ademais, a contribuição de editores passou a ser devidamente creditada, e a revista adotou a Contributor Roles Taxonomy (CRediT)[4] para indicar com precisão o papel de cada autor nos textos com múltipla autoria. Para atender a essas exigências, o formulário de Notas da Obra e Conformidade com a Ciência Aberta foi incorporado ao momento da submissão.
Foi criada uma seção dedicada à divulgação de resumos de teses e dissertações, com o objetivo de informar profissionais e pesquisadores sobre os resultados de investigações científicas recentes na área de Ciência da Informação. Para publicação, o trabalho deve atender aos seguintes critérios: ter sido concluído nos últimos dois anos, ser submetido pelo próprio autor, já estar disponível no repositório institucional da instituição de defesa e incluir a referência completa formatada conforme as normas da ABNT, seguindo o Template para Resumo. Os resumos serão disponibilizados em português, inglês e espanhol, acompanhados de um link para o acesso ao texto completo.
Paralelamente, a busca por novos avaliadores foi intensificada por meio de pesquisas em bancos de dados acadêmicos, como a plataforma Sucupira, de onde foram coletadas informações sobre docentes vinculados a programas de pós-graduação na área de Ciência da Informação. Esses dados foram organizados em planilhas para facilitar o envio de convites a potenciais revisores. Além disso, foi desenvolvido um formulário para cadastro de novos pareceristas, cujo link foi amplamente divulgado nas redes sociais Instagram e LinkedIn. As informações coletadas por meio desses cadastros foram sistematizadas em uma planilha de controle, que registra dados como titulação, formação, vinculação atual, áreas de interesse, mini currículo, datas de envio de convites, disponibilidade e histórico de pareceres, aprimorando a gestão e o acompanhamento do processo.
Com o objetivo de garantir a transparência e a credibilidade do periódico, foi elaborado o documento do Expediente, que reúne informações sobre revisores, diagramadores e membros da comissão editorial. Este documento serve como referência para autores, revisores e leitores, fortalecendo a confiança nos procedimentos e políticas do periódico.
Por fim, visando a criação de seções especiais, foram realizadas pesquisas sobre eventos recentes na área de Ciência da Informação e temas abordados por outros periódicos. Essas informações foram sistematizadas em uma planilha, proporcionando uma base sólida para a escolha de temas futuros para seções especiais. Resultado disso foi o dossiê do volume 14 de 2024 XXX, que reuniu pesquisas sobre as intersecções entre dados, informação e conhecimento no contexto digital, refletindo o armazenamento e a recuperação na atual “Era dos Dados”.
4.3 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Novas práticas de divulgação científica envolveram o planejamento de conteúdos específicos voltados à divulgação científica, ao engajamento com autores e leitores e à promoção de chamadas para novos pareceristas. Além disso, foram adotadas práticas para aumentar o número de seguidores e o alcance das postagens, como a interação com perfis relacionados à área e a criação de um quadro semanal. As ações também incluíram a divulgação de informações institucionais e notícias do periódico, acompanhadas por análise de métricas, permitindo ajustes e melhorias nas estratégias para maximizar o engajamento, a visibilidade e a interação com o público-alvo.
Alinhada às diretrizes de prática científica colaborativa, compartilhada e pública, a XX também passou a adotar o uso de redes sociais (Instagram e LinkedIn) para divulgação de trabalhos publicados, compartilhamento de informações e conteúdos referentes ao periódico, a fim de construir presença e interagir com seus seguidores. Para isso, foram implementadas estratégias como seguir perfis relacionados para aumentar o número de seguidores, e a criação de um quadro semanal intitulado #TBT_XXX (Figura 4). A sigla TBT, que significa "ThrowbackThursday" (traduzido para o português como "Quinta-feira do Retorno"), é frequentemente usada como hashtag pelos usuários para destacar publicações do passado. Assim, esse quadro promove, às quintas-feiras, o compartilhamento de artigos já publicados na revista ou informações relevantes sobre o periódico, visando maximizar o alcance e o envolvimento do público todas as semanas. Tais ações resultaram no aumento de seguidores, ampliação do alcance e visibilidade da revista.
Figura 4 - publicações no Instagram, parte do quadro semanal #TBTXX
Fonte: @XX.XX.XX
(Obs.: Foram suprimidas algumas partes da imagem para avaliação às cegas.)
É importante destacar que todasmudanças foram acompanhadas por uma bolsista vinculada ao projeto, estudante de Biblioteconomia, em seu último ano de formação, e seu feedback durante a sua trajetória no periódico foi fundamental. Ela destacou a contribuição significativa que a experiência como editora de um periódico teve para sua formação como bibliotecária. Embora o curso de Biblioteconomia forneça uma sólida base técnica, com habilidades importantes para a atuação em diversas áreas da informação, muitas vezes ele não aborda de maneira específica a formação voltada para a edição científica. A experiência adquirida na editoração de um periódico proporcionou a estudante uma visão prática e aprofundada sobre os processos editoriais, desde a revisão de artigos até a organização de fluxos de publicação. Essa vivência, portanto, complementou sua formação, oferecendo habilidades importantes para atuar tanto na área da biblioteconomia quanto na editoração científica, áreas que, embora conectadas, exigem uma abordagem distinta para alcançar a sua excelência.
A editoração científica ocupa um lugar central no ecossistema acadêmico, sendo responsável por garantir a disseminação do conhecimento de forma sistematizada, organizada e acessível. Além de zelar pela qualidade das publicações, os periódicos enfrentam desafios crescentes impostos pelos novos contextos informacionais e tecnológicos. Nesse cenário, como bem pontua Cruz (2020):
Desafios estão postos ao Editor de revista científica: qualificar seu veículo para circular na aldeia global; mantê-lo em alto estrato de avaliação, a exemplo do Qualis; promover espaço editorial aberto à inovação e ao conhecimento sedimentado em sua área de atuação; alcançar fator de impacto (FI) equilibrando-se em meio a mudanças do mercado internacionalizado que cada vez mais exige padrão de gestão elevado com orçamento enxuto.
Assim, para enfrentar todas essas demandas, a Gestão do Conhecimento emerge como uma estratégia importante na editoração científica. Por meio dela, torna-se possível mapear, sistematizar e compartilhar informações relevantes para a tomada de decisão e a padronização de processos editoriais. Essa abordagem permite que os periódicos alinhem suas práticas às exigências das bases indexadoras, promovam o controle de qualidade e garantam a continuidade do conhecimento organizacional, mesmo diante da rotatividade de editores e colaboradores.
A aplicação de práticas de GC no contexto da Revista XXX resultou em melhorias significativas na gestão do periódico, fortalecendo diversas áreas estratégicas. Por meio dos registros de conhecimento realizados nos procedimentos administrativos e no fluxo editorial da revista, foi possível organizar e otimizar os processos editoriais, garantindo maior eficiência e clareza na execução das atividades. No campo do marketing, por exemplo, as ações implementadas ampliaram a visibilidade da revista, com estratégias voltadas para redes sociais e a divulgação científica. Também foi possível a implementação e promoção de práticas de Ciência Aberta, onde a revista passou a recomendar o compartilhamento dos dados científicos da pesquisa, a revisão por pares aberta e, ainda, implementou a prática de publicar junto com o manuscrito dados complementares, como, por exemplo, o nome dos pareceristas e editores envolvidos no processo editorial do artigo. Outro avanço significativo foi o desenvolvimento de um novo template para os artigos, que não era atualizado há mais de cinco anos e precisava de ajustes para atender às novas exigências das normas da ABNT.
No âmbito da formação de novos editores, a aplicabilidade da GC é ainda mais evidente. A sistematização dos processos e a documentação dos registros de conhecimento criaram um ambiente propício para capacitar profissionais, reduzindo a curva de aprendizado e assegurando a continuidade do conhecimento organizacional. Assim, o trabalho desenvolvido não apenas responde às demandas imediatas do periódico, mas também promove sua sustentabilidade ao preparar futuros editores para os desafios de um cenário editorial dinâmico e exigente.
É possível concluir que todas essas ações resultaram em um maior controle de qualidade dos manuscritos, diminuindo o tempo médio de avaliação e otimizando todos os processos editoriais, contribuindo para a formação contínua e a capacitação de novos editores. Investir na gestão do conhecimento é, portanto, investir no futuro da editoração científica, assegurando que ela continue desempenhando seu papel crucial na disseminação do saber e na promoção da inovação científica.
AGRADECIMENTO
Agradecemos à Fundação XXX pelo financiamento do projeto.
REFERÊNCIAS
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[1] Professora Adjunta no Departamento de Organização e Tratamento da Informação na Escola de Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora e Pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Gestão & Organização do Conhecimento (PPGGOC) ECI/UFMG. Doutora em Gestão e Organização do Conhecimento (Ciência da Informação) pelo PPGGOC ECI UFMG, Mestre e Bacharel em Sistemas de Informação.
[2] Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Integra a equipe da Revista Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, atuando como aluna bolsista de iniciação científica.
[3] “O Digital Object Identifier (DOI) tem sido adotado mundialmente como o identificador único para objetos digitais na internet. Com isso, editores de periódicos científicos e outros responsáveis por publicar documentos na internet no Brasil tem adotado o DOI como forma de se adequar a um padrão internacional, criando uma demanda por esse serviço de identificação digital. Outro ponto que corrobora é a adoção desse identificador pela Plataforma Lattes, mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, para registro da produção acadêmica dos estudiosos.” (ABEC, 2019 [web]).
[4] CRediT (Contributor Roles Taxonomy / Taxonomia das Funções do Colaborador) é uma taxonomia de alto nível, incluindo 14 funções, que podem ser usadas para representar os papeis tipicamente desempenhados pelos contribuintes para a produção científica acadêmica. As funções descrevem a contribuição específica de cada contribuinte para a produção acadêmica. (CRediT, 2021) - http://credit.niso.org/