A re-volta ecológica

a transformação digital dos modos de produção e a economia circular

Autores

  • Guilherme de Figueiredo Preger

DOI:

https://doi.org/10.21721/p2p.2022v8n2.p35-56

Palavras-chave:

Ecologia política, Transformação digital, Modo de produção, Reprodutibilidade técnica, Economia circular.

Resumo

Este artigo observa a transformação digital em curso como uma transformação do modo de produção dominante capitalista. Esta transformação foi acelerada (intensificada) pelo evento pandêmico do coronavírus. No entanto, pelo caráter parasitário do sistema capitalista, a pandemia foi representada frequentemente como uma “re-volta da natureza”. O artigo interpreta esta representação enquanto reveladora do modo recursivo da economia, isto é, como retorno, feedback, reentrada ou circularidade do ambiente (natureza) sobre o sistema (sociedade). Este modo recursivo, embora sempre presente, se tornou crítico justamente com a transformação do modo de produção. O artigo descreve essa transformação como decorrente de alterações profundas na reprodutibilidade técnica. Elas acarretam uma indistinção entre produção e reprodução do sistema e a criação de um novo valor, dito de exposição (Walter Benjamin). A transformação do modo de produção é também epistêmica, o que permite reconhecer as circularidades da economia (economia circular). Este corte epistemológico obriga a considerar a passagem da economia à ecologia política, dentro de uma perspectiva holonômica do sistema social que é transversal aos sistemas funcionais. Essa perspectiva permite resolver mais satisfatoriamente os paradoxos gerados pela circularidade dos retornos da natureza, transpondo a distinção acumulação/degradação para a distinção excedente/distribuição. Neste caso, é observado como toda mais-valia (excedente) apropriada pelo sistema capitalista corresponde a uma menos-valia ecológica.

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Publicado

29/03/2022

Como citar

PREGER, G. de F. A re-volta ecológica: a transformação digital dos modos de produção e a economia circular. P2P E INOVAÇÃO, Rio de Janeiro, RJ, v. 8, n. 2, p. 35–56, 2022. DOI: 10.21721/p2p.2022v8n2.p35-56. Disponível em: https://revista.ibict.br/p2p/article/view/5899. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos