ENTRE NOTÍCIAS E LEMBRANÇAS
o Diário da Borborema como memória viva de Campina Grande (PB)
Irenilda Santos da Silva Medeiros[1]
Universidade Federal da Paraíba
Edna Gomes Pinheiro[2]
Universidade Federal da Paraíba
ednagomespi2@gmail.com
Resumo
Traz como objeto de estudo o Diário da Borborema, periódico campinense com 54 anos de existência, que deixou de circular em 1º de fevereiro de 2012. Atualmente, está incorporado à coleção da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida (BORAA), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Aponta como questão norteadora da pesquisa: De que forma o Jornal Diário da Borborema (JDBO) contribui para a preservação e ressignificação da memória social de Campina Grande e da Paraíba? Tem como objetivo geral: analisar de que forma o JDBO. E, como objetivos específicos a) identificar as razões que levaram o encerramento do JDBO; b) investigar os motivos que levaram os Diários Associados a escolherem a UEPB e a BORAA para recepção da coleção do JDBO; c) reunir as características do JDB, enquanto espaço de memória, com vistas a ressignificação do JDBO para a Cidade de Campina Grande, por meio da oralidade. O percurso metodológico foi construído a partir da: abordagem qualitativa, pesquisa exploratória, descritiva, bibliográfica e documental. As técnicas de coleta de dados são inerentes a entrevistas semiestruturadas com funcionários da UEPB e por observação participante para captar nuances que possam não ser evidentes em entrevistas ou documentos escritos. A análise e interpretação dos dados segue os princípios da análise de conteúdo. Quanto aos resultados estes não apenas comprovam o potencial da pesquisa em relação à preservação da memória coletiva e da identidade cultural de Campina Grande, também fortalecem ideias e práticas entre pesquisadores da Ciência da Informação e áreas afins.
Palavras-chave: jornal Diário da Borborema; memória institucional e social; Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida.
BETWEEN NEWS AND MEMORIES
the Diário da Borborema as a Living Memory of Campina Grande (PB)
Abstract
The study focuses on the Diário da Borborema, a newspaper from Campina Grande that existed for 54 years and ceased circulation on February 1, 2012. Currently, it is part of the Rare Works Collection at the Átila Almeida Library (BORAA) of the State University of Paraíba (UEPB). The research is guided by the central question: How does the Diário da Borborema (JDBO) contribute to the preservation and re-signification of the social memory of Campina Grande and Paraíba? The main objective is to analyze how the JDBO plays this role. Specific objectives include: a) Identifying the reasons behind the closure of the JDBO; b) Investigating why the Diários Associados chose UEPB and BORAA to house the JDBO collection; c) Compiling the characteristics of the JDBO as a memory space, aiming at re-signifying its value for the city of Campina Grande through oral history. The research methodology follows a qualitative approach, with exploratory, descriptive, bibliographic, and documentary research. Data collection techniques include semi-structured interviews with UEPB staff and participant observation to capture subtle details that might not be evident in interviews or written documents. Data analysis and interpretation follow content analysis principles. The results demonstrate not only the research's potential in preserving the collective memory and cultural identity of Campina Grande but also strengthen ideas and practices among researchers in Information Science and related fields.
Keywords: newspaper Diário da Borborema; institutional and social memory; Biblioteca de Obras Raras Átila
ENTRE NOTICIAS Y RECUERDOS
el Diário da Borborema como memoria viva de Campina Grande (PB)
Resumen
El objeto de estudio es el Diário da Borborema, un periódico de Campina Grande con 54 años de existencia, que dejó de circular el 1º de febrero de 2012. Actualmente, está incorporado a la colección de la Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida (BORAA) de la Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). La pregunta que guía la investigación es: ¿De qué manera el Jornal Diário da Borborema (JDBO) contribuye a la preservación y resignificación de la memoria social de Campina Grande y de Paraíba? El objetivo general es analizar cómo el JDBO cumple este papel. Los objetivos específicos incluyen: a) identificar las razones que llevaron al cierre del JDBO; b) investigar los motivos por los cuales los Diários Associados eligieron la UEPB y la BORAA para recibir la colección del JDBO; c) reunir las características del JDB como un espacio de memoria, con el propósito de resignificar el JDBO para la ciudad de Campina Grande a través de la oralidad. El enfoque metodológico fue construido a partir de una abordaje cualitativa e incluye investigación exploratoria, descriptiva, bibliográfica y documental. Las técnicas de recolección de datos incluyen entrevistas semiestructuradas con empleados de la UEPB y observación participante, para captar matices que no siempre son evidentes en entrevistas o documentos escritos. El análisis e interpretación de los datos sigue los principios del análisis de contenido. En cuanto a los resultados, estos no solo demuestran el potencial de la investigación en relación con la preservación de la memoria colectiva y la identidad cultural de Campina Grande, sino que también fortalecen ideas y prácticas entre investigadores de la Ciencia de la Información y áreas afines.
Palabras clave: periódico Diário da Borborema; memoria institucional y social; Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo é um recorte de pesquisa de mestrado, que afirma que a Ciência da Informação (CI), como uma ciência interdisciplinar, concentra-se na compreensão e gestão da informação em diversos contextos. Nos últimos anos a CI tem direcionado seu olhar para a relação entre informação e memória. Esse enfoque visa contribuir para o avanço dos estudos e pesquisas sobre a memória, especialmente no contexto dos cientistas da informação no Brasil. Todavia, é importante notar que nesse campo, ainda, há muito a ser explorado. Corroborando nesse sentido, Oliveira e Rodrigues (2011) destacam essa lacuna e apontam para a necessidade de reflexões mais profundas sobre a memória nos debates da área. Essas reflexões abrangem tanto a memória social quanto a institucional, ampliando o escopo das discussões.
Em síntese, a Ciência da informação busca se apropriar do conceito de memória como uma ferramenta para compreender melhor os processos informacionais e suas implicações na produção científica dos profissionais da área, sobretudo no que refere à memória social e institucional, haja vista a memória (do latim memoría) ser considerada a faculdade psíquica por meio da qual se consegue reter e (re) lembrar o passado, a lembrança e/ou recordação que se tem de algo que já tenha ocorrido, e à exposição de fatos, dados ou motivos que dizem respeito a um determinado assunto.
Na Grécia antiga os gregos já se debruçaram para refletir acerca da memória, nesse sentido, Sócrates ao passar do tempo e de suas reflexões passou a chamar a memória de salvaguarda da alma. Sócrates (Filebo, 36c)[3] refletindo a fim de esclarecer o que é a memória, afirma, “Quanto à segunda espécie de prazeres, aquela da qual dizíamos que pertence unicamente à alma, ela deve toda sua existência à memória”, porém vemos Sócrates achar necessário antes de conceituar a memória, esclarecer sobre o que seria a sensação.
Ainda entre os gregos Platão (Filebo, 39a) escreveu: “A memória, que a respeito de
um mesmo objeto coincide com as sensações, e as impressões que essa coincidência provoca, eu as figuro, quanto a mim, aproximadamente como um discurso que se escreveria em nossas almas”. Mais uma vez é observada aqui a ligação entre a memória e as sensações e impressões.
Mais recentemente, advindo da Antropologia, temos as definições acerca da memória provenientes de Candau (2012, p. 9) que afirma: “a memória é, acima de tudo, uma reconstrução continuamente atualizada do passado”. Igualmente, Candau (2012, p. 15), afirma
acerca do re(lembrar) como “[...] o que passou não está definitivamente inacessível, pois é possível fazê-lo reviver graças a lembrança.”. É importante ressaltar que a destruição da memória cultural e das tradições, separa o ser humano de sua procedência, chega a aliená-lo da realidade, bloqueando o conhecimento, a compreensão de porquê, de como as transformações aconteceram e acontecem, pois não há ligações dos acontecimentos que dão sentido a essas transformações. Em um cenário assim o homem torna-se espólio fácil para ser dominado e influenciado.
Assim sendo, é necessário estudos e operações investigativas, uma vez que na década 60 ainda não havia leis sobre a salvaguarda de arquivos privados e públicos, bem como das opções de acesso e uso da informação por parte de pesquisadores e público em geral.
Nesse viés, a preocupação dessa pesquisa é fundamentada pela percepção do demérito de que o Brasil é um país sem ou quase sem memória, pois por muitas vezes observamos acervos públicos não terem o devido cuidado e políticas de gestão no que tange a preservação e conservação de acervos. Portanto uma lacuna é algo nocivo a preservação de nossa história, para Martín-Barbero (2000) não há um futuro sem memória. Ciente de que uma das preocupações da sociedade da informação é a preservação da memória social e institucional, foi pensada essa pesquisa, pautada no objeto – jornal impresso – como fonte histórica capaz de promover a preservação da memória.
A realização da pesquisa justifica-se, pela necessidade resgatar a memória da cidade de Campina Grande, por meio do acesso e uso do Jornal Diário da Borborema (JDBO), veículo plural antenado às necessidades do povo campinense e regiões circunvizinhas, que se tornou uma vanguarda dos principais movimentos locais e regionais e, em muitos momentos, um dos principais atores para a consolidação dos avanços da comunidade em todas as áreas.
Diante do exposto, entra em cena o jornal como fonte documental e suporte emblemático do patrimônio informacional e cultural “preservado se tem significação para a comunidade em que está inserido e se essa preservação contribui [...] contribui para a construção de sua identidade cultural e o exercício da cidadania” (Oriá, 2001, p. 138). E ao entrar em cena como fonte documental e suporte emblemático do patrimônio informacional, surge a questão norteadora da pesquisa: De que forma o Jornal Diário da Borborema contribui para a preservação e ressignificação da memória social de Campina Grande e da Paraíba? a partir de sua história e da memória intrínseca que permeia.
Face à questão apresentada, a pesquisa direciona o seu objetivo geral no intento de analisar a relação entre o Jornal Diário da Borborema, a ressignificação e a preservação da memória coletiva de Campina Grande (PB). Como objetivos específicos se propõe: a) identificar os profissionais que trabalharam com a chegada do JDBO a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e que ajudaram no acondicionamento e preservação material do jornal; b) investigar a oralidade no intuito da preservação da memória individual e social dos servidores que trabalharam na Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida (BORAA).
Vale ressaltar que se trata de uma pesquisa descritiva, documental, bibliográfica, de abordagem qualitativa, que tem como objetivo unir a descrição e interpretação de informações de caráter empírico (baseada em entrevistas, fenômenos, etc.) à análise de estatísticas e dados numéricos. onde busca responder a questões muito particulares. O instrumento de coleta adotado foi a entrevista aberta apoiada na escuta sensível, com os servidores e ex-servidores da UEPB, com a intenção de captar as experiências e vivências dos servidores, enquanto trabalhavam na BORAA e o processo de aquisição do acervo JDBO pela UEPB.
Posto isso, as os resultados e as considerações parciais, se configuram como pontos de reflexões, cujos comentários refletem os aspectos relevantes da temática abordada, no que tange às contribuições da temática para a Ciência da Informação, sobretudo das possibilidades de atravessar os discursos sobre o JDBO.
2 DIÁRIO DA BORBOREMA: A TRAJETÓRIA, O PERCURSO REVELADO NA LINHA DO TEMPO
Os jornais O Norte e o Diário da Borborema foram líderes de mercado por décadas, o jornal O Norte se originou em 1907 e em 1954 ele foi incorporado ao domínio de Assis Chateaubriand. Já o JDBO originado em 1957, é comumente conhecido como o “jornal campinense”, foi líder em vendas até meados da década de 1990, isso significa que ele representava e exibia o cotidiano de fatos, notícias e informações que retratam mais de meio século da cidade de Campina Grande, além de fragmentos noticiários e informativos da Paraíba e do Brasil.
De acordo com a Universidade Estadual da Paraíba (2015), atualmente o JDBO está sob comodato por 30 anos na UEPB desde 2015, o acervo conta com mais de 500 livros e contabiliza mais de 17 mil edições. Coincidentemente, a última edição do JDBO, teve como manchete o tema da autonomia da UEPB. Desde então a UEPB vem disponibilizando o acesso do referido acervo do jornal através da BORAA aos mais diferentes usuários e pesquisadores.
Segundo a Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida, o JDBO, foi fundado em 2 de outubro de 1957, pertence aos Diários Associados. O mesmo circulava na cidade de Campina Grande e teve sua última edição em janeiro de 2012, após 54 anos de existência, quando deu seu encerramento. Coincidentemente, a última edição do Diário da Borborema, teve como manchete o tema da Autonomia da UEPB. O jornal foi fundado pelo magnata das comunicações Assis Chateaubriand ou Chatô como era comumente conhecido, Chatô que era natural da cidade de Umbuzeiro-PB e viveu sua juventude em Campina Grande.
De acordo com Lima (2011, p. 6), o JDBO tinha como slogan “O grande Jornal de Campina”:
O Jornal Diário da Borborema tem como slogan a seguinte frase: “O Grande Jornal de Campina”. Sem abandonar os fatos relevantes em âmbito nacional, o seu conteúdo é voltado principalmente para as questões que envolvem a cidade, privilegiando a informação local e fazendo um jornalismo de proximidade. Através de cadernos como Cotidiano e Cidade, os acontecimentos da Borborema são retratados de forma mais abrangente. No início do século XXI, os fatos ligados ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico ganharam grandes proporções nas pautas do Diário da Borborema (Lima, 2011, p. 6).
Em 2001, aconteceu o ataque às Torres Gêmeas nos Estados Unidos e a toda a imprensa brasileira corria contra o tempo para cobrir os acontecimentos e os jornais impressos procuravam uma foto excelente para estampar a primeira página, ao mesmo tempo que a imprensa em Campina Grande também trabalhava para dar a notícia do fato. Foi então que neste ínterim saiu a foto de capa da primeira página do JDBO. Dessa forma, a capa do jornal ganhou o Prêmio ExxonMobil de Jornalismo ou simplesmente Prêmio Esso, conforme está escrito no Prêmio Esso de Jornalismo (2001). A referida premiação foi conferida como Especial de Primeira Página, foi concedida ao Jornalista Cícero Félix, devido a reportagem “Terroristas Atacam os Estados Unidos”, como consta na figura 1, a seguir:
Figura 1 - Capa vencedora do prêmio Esso de Jornalismo -2001
Fonte: Elaborada pela autora (2024)
Na página do Diário Associados podemos ver a imagem 7, onde consta a premiação ExxonMobil de Jornalismo:
Figura 2 - Prêmio Esso especial de primeira página
Fonte: Diários Associados (2001)
Um preâmbulo é necessário acerca da cidade de Campina Grande, a fim de entender o que está cidade significou na década de 20 para o estado da Paraíba, O apogeu do algodão, conhecido como o ouro branco, aconteceu ainda nas primeiras décadas do século XX e seguiu-se até os anos 1950. Campina Grande passou a ser ponto de parada e repouso para os tropeiros da Borborema. Esses tropeiros são figuras icônicas e emblemáticas acerca da memória do desenvolvimento econômico e social de Campina Grande. O devido apogeu do algodão foi possível também devido a facilidade do escoamento do algodão pelas linhas ferroviárias, chegando também até a Recife, Campina Grande foi grande exportadora de algodão, tendo sido considerada pela história como a Liverpool do Brasil no que tange a exportação de algodão, porém devido a praga do bicudo vemos ao longo da história o declínio do algodão e concomitantemente o declínio das exportações de algodão advindos de Campina Grande.
Diante do cenário exposto, após o auge do algodão, já em 02 de novembro de 1957, é fundado em Campina Grande no estado da Paraíba, o jornal Diário da Borborema. Quando falamos em comunicação e em objeto de estudo para as áreas correlatas vemos descrito por Lima (2011, p. 9), que o Diário da Borborema foi um dos jornais que mais prezavam por vincular as informações locais de Campina Grande e da Paraíba em sua época, devido a essa característica até hoje o mesmo é tido como fonte de estudo e de informações para pesquisadores:
Levando em consideração os outros veículos de informação da cidade, não obstante, o Diário da Borborema é um dos que mais prezam a informação local, sem deixar de relatar os acontecimentos em nível nacional e global. Daí vem a importância de tê-lo como objeto de estudo quando se fala em desenvolvimento do Estado da Paraíba (Lima, 2011, p. 9).
Ao nos referimos à memória, os jornais impressos são importantes evocadores da memória, são fontes de recursos de pesquisa, na medida em que mais do que simplesmente comprovam e atestam um fato, um acontecimento, torna-se o próprio objeto histórico, pois são repletos de marcas do tempo em suas folhas, encontradas muitas das vezes craqueladas, mas assim que são inquiridas e tensionadas, através dos pesquisadores, com outros documentos, deixam visíveis a história escrita nelas, mesmo que por muitas vezes não estejam tão nítidas. Ou por muitas vezes se descortinam novas indagações ou refutações quanto aos fatos e informações ali encontradas.
O JDBO como mencionado, era o informativo local para os campinenses e, portanto, um dos mais destacados, nesse rastro de informações, mesmo após o seu fechamento 2012, ele continua a informar até nas sutis entrelinhas, respostas para várias pesquisas e pesquisadores, Salientamos uma pesquisa interessante na área de História temos Ramos (2020, p. 10), apresentando o artigo intitulado: Uma relação de poder: a mídia e o movimento estudantil em Campina Grande - PB, a qual traz em suas páginas a seguinte asseveração,
[…] adotando como ponto de análise as questões abordadas acima, procuramos problematizar alguns discursos do Jornal Diário da Borborema, com relação ao movimento estudantil campinense, todavia, ainda temos muito para analisar, visto que, discutir esta relação envolvendo o Jornal Diário da Borborema, e os movimentos estudantis campinenses, é um campo bastante amplo, e nos exige um estudo mais aprofundado sobre as forças simbólicas, por meio de recursos que disfarçam, a força bruta e repressiva, que castigam o corpo, perpassando pela desmoralização e destruição do homem na sua vida social (Ramos, 2020, p. 10).
Dessa forma, a pesquisa está apoiada nessa fonte jornalística, a fim de traçar os caminhos a serem percorridos, compreendendo que o jornal, mesmo sendo um documento histórico, não pode ser considerado o reflexo da realidade, mas o lugar onde há a representação do real.
3 DESENHO METODOLÓGICOS: OS MISTÉRIOS DO JDBO DESVENDADOS
Pesquisa descritiva, bibliográfica (fonte secundária), documental (fonte primária), de abordagem qualitativa, que tem como objetivo unir a descrição e interpretação de informações de caráter empírico (baseada em entrevistas, fenômenos, etc.) à análise de estatísticas e dados numéricos. onde busca responder a questões muito particulares. É preciso esforço e cuidado para traçar os limites de um objeto de pesquisa. A totalidade de um objeto, físico, biológico ou social, é uma construção intelectual (Gil, 2008).
Entende-se que a pesquisa qualitativa na perspectiva de Minayo (2014) dará subsídios para entender melhor os fenômenos humanos que pode ser entendido como parte de uma realidade social, de forma que o ser humano se distingue nas suas ações, na forma de pensar e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. E a coleta de dados advindos dos agendamentos de pesquisadores em planilhas eletrônicas da BORAA que nos apontará qual objeto informacional é o mais acessado na biblioteca pelos usuários. Mais um aspecto da pesquisa qualitativa nessa presente pesquisa é a necessidade da coleta de textos que suscitam dados e/ou informação acerca do contexto da preservação da memória do Jornal. Ainda, se fez mister recolher a oralidade de profissionais antigos que conheciam mais a respeito do processo de comodato do JDBO e outras histórias que permeiam o referido jornal, e que não constavam em nenhum registro físico ou digital.
O instrumento de coleta adotado foi a entrevista aberta com os servidores e ex-servidores da UEPB, onde a intenção foi captar as experiências e vivências dos servidores, enquanto trabalhavam na Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida e o processo de aquisição do acervo JDBO pela UEPB.
Face ao exposto, a pesquisa foi estruturada, metodologicamente, em duas fases. Na primeira, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, baseada na análise da literatura publicada em livros, revistas, imprensa escrita e eletrônica, disponibilizada na internet, sobre a memória institucional do jornal em pauta. Entretanto, foi constatado o estado embrionário de informações inerentes à origem/desenvolvimento do Diário da Borborema, ao longo dos anos, isto é, quase nada publicado a respeito. Na segunda fase foi a pesquisa documental, baseada na análise de informações e dados de usuários da BORAA, a fim de entender o fenômeno de maior acesso ao suporte informacional impresso, o JDBO.
Diante das constatações e lacunas nas duas primeiras fases da pesquisa, foi necessário recorrer ao instrumento de coleta de dados, seguindo o que ressalta Gil (2008), que o processo de coleta de dados no estudo de caso é mais complexo que o de outras modalidades de pesquisa. Sendo assim, optou-se por uma entrevista não estruturada aos servidores e ex-servidores da BORAA, a fim de coletar informações inerentes a história do JDBO, tendo em vista as experiências e vivências desses servidores, na guarda, evolução e preservação da memória do jornal em destaque. Assim sendo, com o propósito de resguardar a identidade dos servidores entrevistados e mantê-los no anonimato, convencionou-se denominá-los ao longo da pesquisa de “SE1 e SE2”, sugestão aceita por unanimidade, por eles. Neste recorte foi selecionado o servidor mais antigo e o mais recente do setor.
4 VOZES DOS DADOS DA PESQUISA: O QUE ELES REVELAM
Halbwachs (2003), nos interpela e nos move a reflexão acerca da memória coletiva, quando nos afirma que a memória individual, faz parte de uma memória coletiva e esse foi o caso da memória levantada pelas servidoras entrevistadas.
Ainda a fim de consolidar a necessidade do arcabouço oral que a presente pesquisa traz, cito BRIET (1951, p. 7) que redefine documento como “todo índice concreto ou simbólico, conservado ou registrado com os fins de representar, reconstituir ou provar um fenômeno físico ou intelectual”, e acrescenta:
Uma estrela é um documento? Um seixo levado pela torrente é um documento? Um animal vivo é um documento? Não. Mas são documentos as fotografias e os catálogos de estrelas, as pedras em um museu de mineralogia, os animais catalogados e expostos em um Zôo (Briet, 1951, p. 7).
Com base nos conteúdos obtidos nas entrevistas com os servidores da Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida (BORAA), foram condensados os dados em quadros, como podemos observar no desenrolar das análises. Uma vez coletadas as informações, estas foram transcritas e registradas, posteriormente, tabuladas e analisadas, sob a ótica da abordagem quantiqualitativa. E, os informantes aparecem no anonimato, devido a questões éticas. As Figuras 3 e 4 apresentam os dados inerentes às memórias dos entrevistados da pesquisa. Nessa linhagem seguem as narrativas dos servidores:
Figura 3 - Informações meritórias da servidora SE1 da BORAA, sobre o JDBO
Fonte: Elaborada pela autora (2024)
Figura 4 - Informações meritórias da servidora SE1 da BORAA, sobre o JDBO
Fonte: Elaborada pela autora (2024)
As análises inerentes às Figuras 3 e 4, revelam que as narrativas das práticas biblioteconômicas exercidas no cotidiano na BORAA, pelos seus servidores, abriram um leque de informações acerca do diário da Borborema.
Nesse viés, foram entrevistados e ouvidos, haja vista, terem informações meritórias para a pesquisa. Eram dados marcantes sobre o ciclo vital do jornal (início e fim), incluindo desde o fechamento, o processo de comodato até a chegada do acervo jornalístico à biblioteca da UEPB. Dados que que estavam adormecidos na história campinense, porém mereciam ser revelados à sociedade paraibana.
Apresentados o cenário e os interlocutores da pesquisa, as entrevistas despontaram expressivas, no que permeia a história do JDBO, em razão de não estarem escritas ou descritas em nenhum documento oficial. Dessa forma, as entrevistas seguiram o processo da oralidade, conforme a cadência da linha do tempo e dos acontecimentos aferidos na memória dos entrevistados.
4.1 SEGREDOS DO JDBO: REVELANDO A HISTÓRIA OCULTA DA PARAÍBA
Em relação às informações históricas contidas nos documentos da biblioteca acerca do jornal pesquisado, foi necessário atentar para um dos fundamentos no estudo de caso que é a " delimitação da unidade-caso", segundo Gil (apud Boaventura, 2007, p. 124):
O conceito de caso, no entanto, ampliou-se, a ponto de poder ser entendido como uma família ou qualquer outro grupo social, um pequeno grupo, uma organização, um conjunto de relações, um papel social, um processo social, uma comunidade, uma nação ou mesmo uma cultura (Gil (apud Boaventura, 2007, p. 124).
No tocante ao processo da pesquisa documental (fontes primárias) e de dados que foi a segunda parte da metodologia aplicada à pesquisa, conseguimos ter acesso aos dados dos agendamentos eletrônicos por pesquisas no tocante aos de 2015 e 2016. O ano de 2015 foi emblemático, pois foi ano em que a coleção JDBO foi incorporada ao acervo do BORAA. Eis conforme a Figura 5, os dados estatísticos da época:
Figura 5 - Gráfico do acervo do BORAA - estatísticas dos anos 2016 e 2015
Fonte: Elaborada pela BORAA
Nessa direção nos deparamos com a Figura 6, referente aos agendamentos para pesquisa sobre o JDBO nos anos de 2018 a 2020:
Figura 6 - Materiais agendados para pesquisa – 2018 a 2020
Fonte: Elaborada pela autora (2024)
Analisando a figura 6, identifica-se que o acervo do JDBO começou a ser contabilizado, estatisticamente, no ano de 2018. Os registros comprovam que, nos primeiros anos, o Diário da Borborema se apresenta em desuso, por parte dos pesquisadores. Entretanto, em 2019, a busca e o uso dessa fonte de informação, acusou um crescimento, todavia em 2020, devido a Pandemia causada pelo SARS COVID 19, esse acréscimo caiu drasticamente. A partir de 2021 até os dias atuais, os dados revelam um aumento significativo, representando uma forte tendência de busca pelo JDBO, pelos pesquisadores. Fato que leva a crer que o Jornal Diário da Borborema é o material bibliográfico mais pesquisado dentre os demais existentes na biblioteca.
Vale ressaltar, que em época de fake news, o jornal JDBO, tem sido um elucidador de dúvidas ao longo dos anos. O acervo do BORAA, amplamente, pesquisado por todos os públicos vem obtendo um aumento considerável. Sem dúvida, justificado, pela divulgação do da coleção jornalística do JDBO, no site da biblioteca.
Em relação ao Jornal Diário da Borborema, no formato impresso, as consultas são mediadas por auxiliares de biblioteca e bibliotecários, da biblioteca de obras raras. No entanto, cabe ressaltar, o acesso restrito a alguns exemplares do jornal, devido ao avançado estado de deterioração, em que se encontram, alguns exemplares da coleção. No que tange à reprodução de imagens dos cadernos, faz-se necessário portar um termo de autorização concedido pelo Diários Associados.
Os dados revelaram, ainda, que o acervo jornalístico como fonte documental tem sido o material bibliográfico mais acessado desde sua disponibilização à população, na BORAA. Isso mostra que o jornal guarda memórias e histórias, contribuindo para a preservação e ressignificação da memória e da história do jornalismo paraibano e da cidade de Campina Grande.
O acervo de cordeis é o segundo material mais pesquisado, obtendo um aumento ao longo dos anos, porém o Diário da Borborema obteve um crescimento notável. A análise dessa fonte de informação, foi necessária e nos orientou na adoção da análise documental durante a busca pelas informações norteadoras da pesquisa em tela, que nos permitiu a confiança e a explicação desse processo de memória e historicidade que o JDBO, ainda, pungência mesmo após o encerramento do jornal na forma imprensa.
5 O DESFECHO REVELADOR: IMPACTOS E REFLEXÕES
A memória deve ser entendida, sobretudo, como um fenômeno coletivo ou social. A memória individual também contém seus aspectos de memória do grupo social ao qual o indivíduo pertence e interage constantemente com a sociedade na perspectiva jornalística. Para Halbwachs (2006, p. 11), “[...] podemos perfeitamente dizer que o indivíduo recorda quando assume o ponto de vista do grupo e que a memória do grupo se manifesta e se realiza nas memórias individuais”.
Nesse sentido a memória do Jornal do Diário da Borborema vem sendo construída e ressignificada institucionalmente, socialmente, oralmente e na memória de si, haja vista os relatos oriundos das falas dos participantes dessa pesquisa.
A criação de políticas, produtos e serviços que colaborem para satisfazer as do fazer as necessidades informacionais dos usuários que buscam informação nas unidades universitárias de pesquisa, deve ser considerada uma iniciativa salutar, pois enriquece /fortalece as atividades de ensino, pesquisas e extensão. Nessa direção, observa-se que a Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida da UEPB acompanha as mudanças de disponibilização e acondicionamento do acervo físico do JDBO, no intuito de cumprir o objetivo de promover o acesso, mediar e disseminar a informação a todos os usuários, que buscam o JDBO, como fonte de pesquisa.
Assim, esse artigo esclareceu a relevância histórica do jornal Diário da Borborema, entendendo que não é suficiente apenas a disponibilização dos documentos para consulta e apreciação da comunidade acadêmica e da população em geral. É necessária a ampliação destes recursos em favor dos usuários, adicionando dados para suportes favoráveis de acondicionamento das obras deterioradas e preservação das obras que ainda não estão em estado de degradação, devido o tempo e o uso.
Percebemos ao transitar pelos documentos, obras, arquivos e oralidades em relação ao JDBO, narrativas amarguradas, ao mesmo tempo desoladas, contra a negligência e o descaso, em que se encontrava o acervo jornalístico do Diário da Borborema, mesmo diante da procura e do relevante uso da coleção pelos usuários, que buscam essa fonte de informação para realizar suas pesquisas. Outro fato, não menos importante, diz respeito às narrativas meritórias emitidas pelos servidores ex-servidores da BORAA, em relação a relevância da coleção jornalística incorporada ao acervo das obras raras da biblioteca, fato que demonstra comprometimento e profissionalismo, diante dos desafios institucionais que estão apresentados. É necessário ressignificar a memória do JDBO com parcerias e empenho pessoal e institucional em prol da preservação desse acervo jornalístico. Para tal, é necessário desenvolver mais pesquisas e estudos que tratem do assunto, a fim de que essa memória ressurja cada vez mais completa e direcionada a outros ângulos.
REFERÊNCIAS
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[1] Mestranda em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduada em Biblioteconomia/UFPB. Bibliotecária da Universidade Estadual da Paraíba, atuando na Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida. https://orcid.org/0009-0006-6841-7138.
[2] Doutora em Ciência da Informação/UFMG. Mestre em Ciência da Informação/UFPB. Graduada em Biblioteconomia/UFC. Profª. Dra. do Departamento de Ciências da Informação (DCI/UFPB) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. PPGCI/UFPB. https://orcid.org/0000-0001-7536-4245.
[3] Obra de Platão traduzida por Luiz Paulo Rouanet