A DISCRIMINAÇÃO DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS NO TRABALHO: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA

Autores

  • Carla Rocha Pereira Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP. https://orcid.org/0000-0003-4692-0665
  • Célia Landmann Szwarcwald Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT. https://orcid.org/0000-0002-7059-3353
  • Giseli Nogueira Damacena Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT. https://orcid.org/0000-0002-7798-2095

DOI:

https://doi.org/10.21721/p2p.2019v6n1.p60-82

Resumo

A discriminação de pessoas vivendo com HIV/aids está presente desde o começo da epidemia, interferindo negativamente na vida dessa população. Este trabalho analisa distintos aspectos relacionados à discriminação de soropositivos no Brasil no acesso e/ou ambiente de trabalho. Foi realizada uma análise quantitativa (pesquisa nacional) e qualitativa, entrevistas em profundidade (Assessoria Jurídica de ONG/aids) e grupo focal (Policlínica no município do Rio de Janeiro). Os resultados quantitativos indicaram que quanto mais baixa a escolaridade e renda do entrevistado, maior a percepção de discriminação. A pesquisa qualitativa relatou discriminação direta e indireta, sendo que aqueles com renda mais baixa possuíam emprego informal e não processaram seus perpetradores, distinguindo-se daqueles que procuraram a Assessoria Jurídica, que possuíam uma renda e escolaridade mais alta e que processaram seus empregadores. O estigma foi articulado com outros existentes na sociedade, sendo necessário programas de invenção para conscientizar a população sobre as diversas questões da epidemia.

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Biografia do autor

Carla Rocha Pereira, Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP.

Possui Pós-Doutorado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IESC/UFRJ (2019) e título de Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde/PPGICS (2017) da Fundação Oswaldo Cruz/Fiocuz. Na UFRJ, concluiu o Mestrado em Sociologia (com concentração em Antropologia) pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia/PPGSA (2005) e o Bacharelado em Ciências Sociais (2001). Vem trabalhando na Fiocruz, desde 2007, em pesquisas ligadas ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde/ICICT, Instituto Oswaldo Cruz/IOC, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ENSP e no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/INI. Tem experiência na área de Antropologia e Saúde Pública com foco em temas ligados à discriminação, estigma, trabalho e diretos humanos no campo de HIV/Aids.

Célia Landmann Szwarcwald, Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT.

Possui graduação em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1973), mestrado em Estatística e Matemática - University of Rochester (1975) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1993). Atualmente é pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: HIV/aids, mortalidade infantil e atenção básica.

Giseli Nogueira Damacena, Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT.

Possui graduação em Estatística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (2004), mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ENCE/IBGE), subárea Estatística Social (2006) e doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ) (2012). Atua na interseção entre as áreas de Saúde Pública e de Estatística, em particular com Métodos Quantitativos em Saúde e Epidemiologia, principalmente nos seguintes temas: Inquéritos em saúde: planejamento, amostragem e análise de dados; Indicadores em saúde; Sistemas de Informações em Saúde; HIV/aids; Mortalidade Infantil; Informações em Saúde; Amostras Complexas em Saúde e Metodologias Estatísticas para Estimação de Populações de Difícil Acesso.

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Publicado

10/10/2019

Como citar

PEREIRA, C. R.; SZWARCWALD, C. L.; DAMACENA, G. N. A DISCRIMINAÇÃO DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS NO TRABALHO: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA. P2P E INOVAÇÃO, Rio de Janeiro, RJ, v. 6, n. 1, p. 60–82, 2019. DOI: 10.21721/p2p.2019v6n1.p60-82. Disponível em: https://revista.ibict.br/p2p/article/view/4832. Acesso em: 20 abr. 2024.