Contramuseologia

o museu como dispositivo contra a gentrificação da memória

Autores

  • Bruno Brulon Soares University of St Andrews

DOI:

https://doi.org/10.18225/inc.soc.v16i2.6486

Palavras-chave:

museu das remoções., memória, gentrificação, musealização, contramuseologia

Resumo

A partir do caso do Museu das Remoções, um museu de território na periferia urbana do Rio de Janeiro, o artigo analisa a luta contra a gentrificação da memória por meio da musealização. A observação da agência político-cultural dos moradores da Vila Autódromo, na Zona Oeste da cidade, permite conceber a noção do museu como dispositivo de ativismo para, a partir dos fragmentos de uma destruição enraizada no território, fazer do luto um recurso de resistência e de luta contra o poder público. O artigo introduz a noção de contramuseologia para se referir às práticas de ativismo memorial que promovem a apropriação insubordinada dos restos materiais que, no caso da Vila Autódromo, permite à comunidade disputar uma alternativa de cidade e a uma alternativa de museu.

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Entrevistas:

DA SILVA, Luiz Claudio & MACENA, Maria da Penha. Entrevista concedida a Bruno Brulon e Lia Peixinho no dia 7 de junho de 2021 em modo remoto, Rio de Janeiro, 2021.

DA SILVA, Luiz Claudio & MACENA, Maria da Penha. Entrevista concedida a Bruno Brulon e Lia Peixinho no dia 29 de março de 2021 em modo remoto, Rio de Janeiro, 2021.

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Publicado

20/12/2024

Como Citar

Contramuseologia: o museu como dispositivo contra a gentrificação da memória. (2024). Inclusão Social, 16(2). https://doi.org/10.18225/inc.soc.v16i2.6486